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ANTICONCEPÇÃO EM PESSOAS VIVENDO COM HIV

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ANTICONCEPÇÃO EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS
MARIA SOUZA
0.6 ANTICONCEPÇÃO EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS
 A orientação em planejamento reprodutivo para pessoas vivendo com o HIV/ Aids deve acontecer num contexto de respeito aos direitos sexuais e aos direitos reprodutivos dessas pessoas e a escolha deve ser livre e informada.
 Além disso, essa orientação deve ser sempre acompanhada de informações adequadas sobre a dupla proteção, que é dada pelo uso combinado da camisinha masculina ou feminina com outro método anticoncepcional, com a finalidade de promover, ao mesmo tempo, a prevenção de gravidez e a prevenção da transmissão do HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis.
A reflexão sobre os direitos sexuais e os direitos reprodutivos do portador do HIV, ou mesmo a disposição e capacitação de profissionais de saúde para promover a saúde sexual.
E SAÚDE REPRODUTIVA de portadores do HIV/Aids, que se pressupõe indissociável da discussão de direitos, precisa ser discutida nos serviços de saúde (PAIVA et al., 2003). Tanto para as mulheres quanto para os homens que vivem com HIV há o risco de 
As pessoas que vivem com HIV/Aids não precisam deixar de amar e de se relacionar sexualmente.
 A relação é de responsabilidade de ambos(as) os(as) parceiros(as), no que se refere à prevenção e transmissão do HIV e das demais DST. Viver a soropositividade de forma integral e com qualidade de vida tem sido uma conquista conjunta da mobilização das pessoas vivendo com HIV/Aids e de muitos profissionais de saúde dedicados aos direitos humanos e à saúde
No início da epidemia de Aids, o risco de transmissão vertical do HIV elevado impediu que profissionais de saúde e a sociedade aceitassem o direito reprodutivo das mulheres infectadas pelo HIV.
 Sabe-se que a maternidade é uma experiência importante do ponto de vista social e psicológico para a maioria das mulheres (FERNANDEZ, 1994; SZEJER; STEWART, 1997) e que o desejo reprodutivo das mulheres HIV-positivas foi desvalorizado e reprimido no contexto dessa epidemia (ROSSI, 2003)
Entretanto, muitas mudanças ocorreram desde a descoberta do vírus HIV até agora e entre elas a diminuição significativa do risco de transmissão vertical (ROSSI, 2003).
 A taxa de transmissão vertical do HIV, sem qualquer intervenção, situa-se em torno de 25,5%.
 No entanto, diversos estudos publicados na literatura médica demonstram a redução da transmissão vertical do HIV para níveis entre zero e 2%, por meio de intervenções preventivas, tais como:
 o uso de antirretrovirais (ARV) combinados na gestação, o parto por cirurgia cesariana eletiva, o uso de quimioprofilaxia com o AZT na parturiente e no recém-nascido, e a não amamentação (BRASIL, 2006e).
Os avanços verificados, principalmente em relação ao tratamento, têm possibilitado a diminuição da mortalidade, da morbidade, a redução da taxa de transmissão vertical e a melhoria da qualidade e perspectiva de vida das pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana. A vontade de ter filhos está surgindo como uma escolha legítima, exigindo preparo das equipes de saúde para o aconselhamento reprodutivo voltado às pessoas que vivem com o HIV (ROSSI, 2003).
Segundo dados do relatório do VI Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e Aids, realizado em 2006, de acordo com estudos apresentados, ainda é preocupante o despreparo dos profissionais de saúde para lidar com o desejo da mulher soropositiva em engravidar.
 Por sua vez, há medo acentuado das gestantes soropositivas sobre a reação dos profissionais, aumentando a angústia, ansiedade e a própria culpa de terem engravidado e saberem do risco de transmissão do vírus, o que evidencia mais ainda o despreparo dos profissionais da assistência.
Diante desse cenário, faz-se necessário incrementar discussão sobre os direitos sexuais e os direitos reprodutivos e as questões de gênero e que a divulgação de informações sobre a transmissão vertical seja mais aprimorada, como acontece com as medidas de prevenção.
 É imprescindível também que se implementem estratégias de assistência para diminuir os riscos da transmissão vertical, nos casos de mulheres soropositivas para o HIV, privilegiando práticas de aconselhamento e planejamento reprodutivo
Entre as inúmeras orientações a respeito da infecção pelo HIV dadas pela equipe de saúde, deve-se incluir o aconselhamento reprodutivo.
 Cabe ao profissional de saúde discutir e oferecer reflexão, em parceria com a mulher HIV+, a respeito da sua condição clínica e de tratamento, meios de transmissão da doença (inclusive a transmissão vertical), explorando também sua expectativa e interesse de engravidar e as condições psicológicas e socioeconômicas da mulher (KASS, 1994; ANDERSON, 2000).
O respeito a uma decisão informada faz parte dessa nova realidade. Não se pode encarar da mesma forma uma mulher que faz uso das medicações antirretrovirais adequadamente, que tem sua carga viral sob controle e sistema imune razoavelmente preservado, com outra que manifesta complicações clínicas graves e não responde mais às terapias antirretrovirais. 
Faz-se necessário que os profissionais de saúde, ao realizarem o aconselhamento reprodutivo, levem em consideração a vida da mulher que vive com HIV como um todo, e não apenas a doença como uma entidade única (MINKHOFF; SANTORO, 2000; WESLEY et al., 2000; ROSSI, 2003
O aconselhamento reprodutivo deve levar em consideração o melhor momento clínico da pessoa infectada para uma gravidez, preferencialmente aquele em que a carga viral de HIV circulante esteja indetectável e a pessoa esteja com boa condição de imunidade (recuperação dos níveis de linfócitos T-CD4+)
. É importante o encaminhamento para o serviço de atenção especializada (SAE) e, dessa forma, a pessoa será acompanhada conjuntamente pelo SAE e pela equipe da Atenção Básica. 
Com relação à anticoncepção, existem muitos métodos anticoncepcionais que são efetivos para prevenir a gravidez, mas não previnem a infecção ou (re)infecção pelo HIV e outras DST
A seguir, alguns pontos a serem considerados em relação à anticoncepção para pessoas vivendo com HIV/Aids: 
• A escolha do método anticoncepcional deve ser livre e informada, respeitando-se os critérios de elegibilidade clínica. 
• Estimular sempre o uso da camisinha masculina ou feminina em todas as relações sexuais, por ser o único método que protege contra as DST/HIV/Aids. 
• Com relação aos anticoncepcionais hormonais, as mulheres com HIV, com Aids, em uso ou não de terapia antirretroviral (ARV), podem usar os anticoncepcionais hormonais. É importante observar que os medicamentos antirretrovirais (ARV) tanto podem diminuir quanto aumentar a biodisponibilidade dos hormônios esteroides dos anticoncepcionais hormonais. 
dos critérios médicos de elegibilidade para métodos anticoncepcionais da OMS 2, estão enquadradas situações nas quais as vantagens de usar o método geralmente superam os riscos comprovados ou teóricos que seu uso poderia acarretar).
Sugere-se ainda que, em caso de opção por um anticoncepcional oral combinado, deve-se usar formulação que contenha um mínimo de 0,03 mg de etinilestradiol
• O DIU de cobre, no que se refere aos critérios médicos de elegibilidade para métodos anticoncepcionais da OMS, a Aids enquanto condição é classificada como (os riscos comprovados e teóricos decorrentes do uso do método, em geral, superam os benefícios do uso do método) para inserção e para continuação de uso a menos que a mulher esteja clinicamente bem em terapia ARV. 
O diafragma é um ótimo método para mulheres motivadas a usá-lo e bem orientadas. Assim como todos os métodos de barreira, tem a vantagem de não ocasionar alterações sistêmicas. Entretanto, o diafragma não protege contra a transmissão das DST/HIV, daí ser imprescindível associar o seu uso com o uso adequado e consistente do preservativo masculino. Em mulheres HIV-positivas, não deve ser utilizado associado ao espermaticida.
 • Os espermaticidas à base de nonoxinol-9 (N-9) a 2% não devem ser usados por mulheres HIV-positivasou por parceiras de homens HIV-positivos, porque podem provocar irritação e/ou microfissuras na mucosa vaginal e cervical quando usados várias vezes ao dia, aumentando o risco de infecção e transmissibilidade de DST/HIV
• Os métodos comportamentais (tabela, muco cervical, temperatura basal, sintotérmico, entre outros) não protegem contra a transmissão do HIV e outras DST, devendo a usuária do método ser sempre orientada para o uso adequado e consistente do preservativo, masculino ou feminino, fazendo abstinência de relações sexuais vaginais no período fértil.
 • A anticoncepção oral de emergência é um método muito importante para evitar gravidez indesejada após relação sexual desprotegida. Deve ser usada somente como método de emergência, e não de forma regular, substituindo outro método anticoncepcional.
• A laqueadura tubária não confere proteção à transmissão do HIV e outras DST, devendo, nessa condição, a mulher ser orientada para o uso adequado e consistente do preservativo, masculino ou feminino. Para escolher a laqueadura tubária como método anticoncepcional, é preciso que a mulher esteja realmente segura de que não deseja mais ter filhos, pois este é um método considerado permanente ou irreversível.
• A vasectomia é um procedimento mais fácil e seguro, em relação à laqueadura tubária. É ótima alternativa de dividir a responsabilidade sexual e reprodutiva com o parceiro. Não confere proteção à transmissão do HIV e outras DST, devendo, nessa condição, o homem ser orientado para o uso adequado e consistente do preservativo masculino. Para escolher a vasectomia como método anticoncepcional, é preciso que o homem esteja realmente seguro de que não deseja mais ter filhos, pois este é um método considerado permanente ou irreversível.

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