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Antropologia Cultural 
 
Antropologia Cultural 
Maria José Soares 
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Antropologia Cultural 
 
 
DIREÇÃO SUPERIOR 
Chanceler Joaquim de Oliveira 
Reitora Marlene Salgado de Oliveira 
Presidente da Mantenedora Jefferson Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira 
Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira 
Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira 
Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves 
Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Marcio Barros Dutra 
 
DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA 
Diretora Claudia Antunes Ruas Guimarães 
Assessora Andrea Jardim 
 
FICHA TÉCNICA 
Texto: Maria José Soares 
Revisão: Lívia Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior 
Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos 
Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus 
Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos 
Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos 
 
COORDENAÇÃO GERAL: 
Departamento de Ensino a Distância 
Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br 
 
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói 
 
S676a Soares, Maria José. 
Antropologia cultural / Maria José Soares ; revisão de Lívia 
Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Junior. 2. ed. – Niterói, RJ: 
UNIVERSO, 2011. 
254 p. ; il. 
1. Antropologia cultural. 2. Cultura. I. Maria, Lívia Antunes Faria. 
II. Valverde Junior, Walter P. III. Título. 
 
CDD 306 
 
Bibliotecária: ELIZABETH FRANCO MARTINS – CRB 7/4990 
 
© Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma 
ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora 
da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). 
Antropologia Cultural 
 
 
 
Informações sobre a disciplina 
 
CARGA HORÁRIA: 60 
CRÉDITOS: 04 
OBJETIVOS 
Proporcionar condições para que o aluno construa o conceito de cultura e o 
apreenda de forma polissêmica; estimular a reflexão teórica e metodológica sobre 
os conceitos fundamentais das escolas evolucionistas, difusionista, funcionalista e 
estruturalista; conhecer algumas temáticas da antropologia nas sociedades 
complexas. 
 
EMENTA 
Dinamicidade e polissemia do conceito de cultura. Antecedentes históricos da 
cultura. Cultura e diversidade. Cultura: aquisição ou inatismo? As duas concepções 
básicas de cultura e as relações entre elas. Significado de social e de cultura. 
Abordagens culturalistas: limitações e contribuições. Antropologia e política. 
Algumas temáticas da chamada antropologia das sociedades complexas. 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
UNIDADE I – CULTURA: UM CONCEITO POLISSÊMICO E DINÂMICO 
I.1 - Cultura e Diversidade: uma temática antropológica e contemporânea. 
I.2 - Cultura: dos sentidos comuns à concepção antropológica. 
I.3 - Duas concepções básicas de cultura e as relações entre elas. 
I.4 - Antecedentes históricos do conceito de cultura. 
I.5 - As Noções de “kultur” e “Civilization”. 
I.6 - O conceito de cultura de Tylor: a reunião de todas as possibilidades de 
realização humana. 
Antropologia Cultural 
 
 
I.7 - A Gênese da Antropologia como campo de saber. 
I.8 - Cultura: aquisição ou inatismo? 
 
UNIDADE II – ANTROPOLOGIA CULTURAL: CONCEITOS, MÉTODOS, TEORIAS E 
ESCOLAS 
II.1 - O Campo Antropológico e a Dinâmica Cultural. 
II.2 - A Escola Evolucionista do Século XIX: contexto histórico de formação. 
II.3 - O Evolucionismo Social e a abordagem da diversidade cultural: História, 
Evolução e Progresso. 
II.4 - As Críticas Antropológicas ao Evolucionismo Social. 
II.5 - A Escola Cultural Americana (Difusionismo) e o Particularismo Histórico. 
II.6 - O Etnocentrismo e os problemas colocados através de sua prática. 
 
UNIDADE III – ANTROPOLOGIA CULTURAL: MUDANÇA DE PARADIGMA 
III.1 - A transformação teórico-intelectual do campo antropológico. 
III.2 - A Escola Funcionalista em Perspectiva: pressupostos conceituais. 
III.3 - A Etnografia como forma de pesquisa de campo detalhada: A superação do 
etnocentrismo e o esforço de relativização. 
III.4 - A Escola Estruturalista em Perspectiva: pressupostos conceituais. 
III.5 - O Modelo Clássico de Etnografia e as Críticas da abordagem. Interpretativista 
da Cultura em Perspectiva. 
 
UNIDADE IV – A ANTROPOLOGIA CULTURAL APLICADA AO ESTUDO DAS 
SOCIEDADES COMPLEXAS: ALGUNS OBJETOS DE ANÁLISE 
IV.1 - Indivíduo, pessoa e a sociedade brasileira. 
IV.2 - Identidade e sincretismo religioso na cultura brasileira. 
Antropologia Cultural 
 
 
IV.3 - Racismo à brasileira: cor e raça na intimidade. 
IV.4 - Cultura e identidade nacional: Brasil, o país do “jeitinho”? 
IV.5 - Corpo: suporte de signos e lugar de inscrição da sociedade. 
 
BIBLIOGRAFIA BÁSICA 
HOEBEL, Everett Frost. Antropologia Cultural e Social. Editora Cultrix. 
CASSIER, Ernest. Ensaio sobre o homem. Ed. Zahar. 
DAMATTA, Roberto. Relativizando. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1987. 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ed. Ática. 
LAPLANTINI, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1981. 
LEVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Ed. Tempo 
Brasileiro, 1975. 
TITIEV, Mischa. Introdução à Antropologia. Editora Calouste Gubenkian. 
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar. 
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Ed. Martins Fontes. 
Antropologia Cultural 
 
Antropologia Cultural 
 
 
Palavra da Reitora 
 
Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, 
exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de 
Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes 
segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi 
desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero 
bem-sucedidas mundialmente. 
São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio 
dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço 
presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio 
tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se 
responsável pela própria aprendizagem. 
O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que 
permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo 
momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de 
nossa plataforma. 
Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores 
especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são 
fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. 
A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a 
distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem-
sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo 
de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, 
graduação ou pós-graduação. 
Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando 
as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o 
programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. 
 
Seja bem-vindoà UNIVERSO Virtual! 
Professora Marlene Salgado de Oliveira 
Antropologia Cultural 
 
Reitora 
Antropologia Cultural 
 
 
 
 
Sumário 
 
 
1. Apresentação da disciplina ....................................................................................................... 11 
2. Plano da disciplina ........................................................................................................................ 13 
3. Unidade 1 – Cultura: um conceito polissêmico e dinâmico....................................... 17 
4. Unidade 2 – Antropologia cultural: conceitos, métodos, teorias e escolas......... 59 
5. Unidade 3 – Antropologia cultural: redefinição do campo de 
 abordagem e mudança de paradigma ................................................................................ 99 
6. Unidade 4 – Antropologia cultural aplicada ao estudo das sociedades 
 complexas: alguns objetos de análise.................................................................................. 187 
7. Considerações finais..................................................................................................................... 245 
8. Conhecendo o autor .................................................................................................................... 247 
9. Referências ....................................................................................................................................... 248 
10. Anexos ................................................................................................................................................ 249 
 
 
Antropologia Cultural 
 
Antropologia Cultural 
 
 
Apresentação da Disciplina 
 
Caro(a) aluno(a), 
É um prazer receber você como estudante da disciplina Antropologia Cultural. 
Para que você possa desenvolver sua aprendizagem de forma consistente e 
enriquecer sua formação acadêmica de modo a contribuir para o exercício e 
efetividade de sua prática profissional, entendemos que, antes de iniciarmos os 
nossos estudos, é importante falarmos um pouco a respeito do que vem a ser essa 
disciplina, caracterizando seu campo de abordagem e a especificidade do seu 
objeto de análise. Feito isso, temos certeza de que você perceberá a relevância 
desta disciplina para a compreensão do mundo que nos envolve em suas várias 
dimensões e significados. 
Campo de conhecimento que se estruturou na passagem do século XIX para o 
século XX, a Antropologia compartilhará, com as demais disciplinas inseridas no 
âmbito das chamadas Ciências Sociais, um mesmo foco de preocupação temática: 
o estudo do homem e de suas relações sociais. Entretanto, à diferença dessas, os 
fatores e as condições políticas e sociais envolvidas com o contexto histórico, que 
viabilizou a sua formação, contribuíram de maneira decisiva para a demarcação e a 
delimitação do seu objeto de análise, conferindo-lhe uma identidade teórica 
específica. 
Como subproduto do processo de expansão colonial europeu, a Antropologia 
tomará a diversidade das manifestações culturais encontradas em todas as 
sociedades humanas em diferentes épocas, tempos e lugares como sua área 
legítima de investigação e abrangerá uma enorme multiplicidade de temas, como 
os sistemas de crenças religiosas, a mitologia, a linguagem, as relações de 
parentesco, as práticas corporais e rituais, além da arte, das relações de poder, 
modos de produção e consumo, dentre outros. 
A despeito desta abrangência temática que caracteriza o espectro de sua 
abordagem, a Antropologia é a única ciência social que busca conciliar ambos os 
lados da natureza humana. De um lado, a sua condição biológica e de outro, a sua 
capacidade infinita de criar modos de vida extremamente diversos. Ou seja, seu 
esforço analítico básico consiste em explicar como o homem pôde, a partir de uma 
mesma origem biológica, responder de forma tão diversificada a limites 
existenciais comuns. 
11 
Antropologia Cultural 
 
 
Dentro deste contexto, o estudo desta disciplina oferece uma especial 
contribuição para todo e qualquer profissional cuja área de atuação envolva as 
relações humanas, em especial, a área da educação, na medida em que ela coloca 
em discussão a capacidade humana de conviver com a diferença. Entendida assim, o 
seu estudo nos possibilita o questionamento a respeito dos nossos próprios 
comportamentos, dos nossos condicionamentos fisiológicos, das formas de 
pensamento que sustentam nossos quadros mentais e simbólicos, enfim, das 
nossas maneiras de conceber a vida e de nos posicionarmos diante do mundo e da 
realidade social. 
Este questionamento provoca uma espécie de descentramento da nossa 
própria subjetividade que nos permite problematizar os limites das nossas atitudes, 
colocando em discussão os critérios que lhes servem de base e que, muitas vezes, 
marcados pela rigidez e pela intolerância, conduzem-nos a posturas 
preconceituosas que nos impedem de reconhecer com igualdade a humanidade 
dos outros coletivos sociais com os quais interagimos de forma permanente e 
contínua. 
Assim, muito mais do que o estudo de um objeto empírico que podemos 
pegar, tocar, manusear, pesar, medir e quantificar, tal como ocorre nas disciplinas 
das chamadas Ciências Naturais, o convite que a Antropologia nos faz move-se em 
um outro sentido. Ele diz respeito a um certo deslocamento do nosso olhar cuja 
direção busca reconhecer no outro à medida que nos constrói. É na relação com o 
outro que nos tornamos seres únicos e singulares ao mesmo tempo em que 
tomamos consciência e nos percebemos como parte de uma humanidade 
plural. 
É com este olhar e desejo que recebemos você no estudo da disciplina 
Antropologia Cultural. Esperamos sinceramente que, através dele, você possa 
descobrir novas formas de relacionamento com a difícil, mas também fascinante 
possibilidade que a vida nos oferece de conviver e aprender com a diferença. 
Procure seguir todas as orientações acadêmicas que lhe serão fornecidas para que 
você possa garantir que sua aprendizagem ocorra de forma efetiva e contribua de 
fato para o enriquecimento de sua formação profissional. 
Desejamos a você sucesso na trajetória que se inicia, lembrando que sempre 
estaremos presentes como parceiros para auxiliá-lo no que for necessário. 
 
12 
Antropologia Cultural 
 
 
Plano da Disciplina 
 
A disciplina Antropologia Cultural tem como objetivo principal possibilitar ao 
aluno de graduação a compreensão da variabilidade cultural como dado 
constitutivo do homem. No desenvolvimento da história da humanidade, esta 
variabilidade nunca deixou de se evidenciar com permanência e continuidade 
funcionando, portanto, como o mecanismo diferenciador básico da espécie 
humana quando comparada aos demais seres vivos. 
Partindo, portanto, deste pressuposto básico sob o qual se funda o 
conhecimento antropológico, qual seja o esforço de conciliação da dualidade entre 
a unidade biológica do homem e a diversidade cultural, há a intenção de 
familiarizar os alunos com alguns conceitos que dão sustentação teórica a este 
campo do saber fornecendo-lhes uma visão ampla e geral sobre o mesmo a partir 
da tematização da cultura. 
Algumas temáticas antropológicas presentes no estudo das sociedades 
contemporâneas, tais como o etnocentrismo, a produção social do corpo, o 
sincretismo religioso e as relações entre indivíduo, hierarquia e igualdade serão 
discutidas, visando instrumentalizar os alunos para o diálogo com a diversidade 
cultural e promover a articulação com outras áreas do saber. 
O conteúdo programático da disciplina foi dividido em quatro unidades que 
estão subdivididas em tópicos, atendendo a um duplo objetivo: de um lado, 
facilitar o entendimento dos conceitos e categorias teóricas que servem de base desustentação para a delimitação e legitimação da cientificidade do conhecimento 
antropológico e de outro lado, permitir a apreensão das formas de sistematização 
do conhecimento antropológico através de esquemas conceituais explicativos. 
Neste sentido, faremos uma síntese de cada unidade, ressaltando seus 
objetivos específicos para que você possa ter uma visão ampla e geral do conteúdo 
que irá estudar. 
 
Unidade 1 - Cultura: um conceito polissêmico e dinâmico. 
As culturas humanas desenvolveram-se no tempo e no espaço em ritmos e 
modalidades variáveis. Esta variabilidade conduziu os grupos e as sociedades 
humanas a processos extremamente diferenciados de elaboração de suas próprias 
formas de conceber o mundo, de se posicionar e de expressar a realidade social. 
13 
Antropologia Cultural 
 
 
Objetivos 
 Reconhecer a variação cultural como dado constitutivo das diferentes 
sociedades humanas. 
 Perceber que as culturas humanas variam em ritmos e modalidades 
diversas no tempo e no espaço. 
 Compreender o caráter polissêmico e dinâmico do conceito de cultura. 
 Correlacionar o conceito de cultura e diversidade no contexto das 
sociedades contemporâneas. 
 Conhecer os antecedentes históricos do conceito de cultura e sua 
importância para o campo antropológico. 
 Compreender a posição antropológica diante das teorias 
deterministas. 
 
Unidade 2 - Antropologia Cultural: conceitos, métodos, teorias e escolas. 
A sistematização do campo de abordagem antropológico encontra-se 
profundamente correlacionada ao processo de expansão colonial das sociedades 
europeias, trazendo as marcas desta influência na percepção e abordagem da 
diversidade cultural. 
 
Objetivos 
 Conhecer o contexto histórico que possibilitou a legitimação da 
Antropologia enquanto campo de conhecimento. 
 Identificar as formas de sistematização do conhecimento 
antropológico através de esquemas conceituais explicativos. 
 Problematizar os conceitos de história, evolução e progresso na 
abordagem da diversidade cultural. 
 Compreender o conceito de etnocentrismo e os problemas 
colocados através de sua prática no estudo da dinâmica cultural. 
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Antropologia Cultural 
 
 
Unidade 3 - Antropologia Cultural: redefinição do campo de abordagem e 
mudança de paradigma. 
Ao longo de sua sistematização teórica, o campo antropológico pôde superar 
o etnocentrismo inicial, consolidar seu método de trabalho e abrir-se através de 
diferentes abordagens conceituais para uma perspectiva relativizadora na 
abordagem da diversidade cultural e no diálogo com a diferença. 
 
Objetivos 
 Compreender os fatores que permitiram a transformação teórico-
intelectual do campo antropológico. 
 Identificar os principais postulados conceituais da Escola 
Funcionalista na abordagem da diversidade cultural. 
 Conhecer a Etnografia como método sistemático do trabalho 
antropológico no estudo da diversidade cultural. 
 Reconhecer o conceito de relativização como condição fundamental 
da prática e do fazer antropológico. 
 Identificar as contribuições da Escola Estruturalista para o estudo das 
chamadas sociedades complexas. 
 Problematizar os conceitos de história, estrutura e acontecimento. 
 Compreender o conceito de cultura como um código simbólico. 
 
Unidade 4 - A Antropologia Cultural aplicada ao estudo das chamadas 
sociedades complexas: alguns objetos de análise. 
Através da prática etnográfica, a Antropologia vem contribuindo de modo 
significativo para a problematização e compreensão da diversidade cultural no 
contexto das sociedades complexas. 
15 
Antropologia Cultural 
 
 
Objetivos 
 Compreender o conceito de sociedades complexas e suas relações 
com o campo antropológico. 
 Reconhecer a importância do campo antropológico para a 
problematização de algumas temáticas contemporâneas. 
 Correlacionar os conceitos antropológicos com processos de 
construção de identidades sociais. 
 Correlacionar os conceitos antropológicos com processos de 
construção de identidades nacionais. 
 
 
16 
Antropologia Cultural 
 
Cultura: um conceito 
polissêmico e dinâmico 
Cultura e Diversidade: uma temática antropológica e contemporânea 
Cultura: dos sentidos comuns à concepção antropológica. 
Duas concepções básicas de cultura e as relações entre elas. 
Antecedentes históricos do conceito de cultura. 
As noções de “Kultur” e “Civilization”. 
O conceito de cultura de Tylor: a reunião de todas as possibilidades de 
realização humana. 
A gênese da Antropologia como campo de saber 
Cultura: aquisição ou inatismo? 
1 
Antropologia Cultural 
 
18 
 
Caro(a) Aluno(a), 
É com enorme satisfação que recebemos você para cursar a disciplina 
Antropologia Cultural. 
Nessa unidade, iniciaremos nossos estudos abordando o problema da 
variabilidade das culturas humanas no tempo e no espaço. Em seguida, 
buscaremos mapear os diversos sentidos associados ao conceito de cultura, 
mostrando seus antecedentes históricos e suas correlações com o 
desenvolvimento da concepção antropológica. 
Estamos certos de que a partir de agora e no decorrer das outras unidades, 
você desenvolverá uma nova perspectiva para perceber e analisar a intensa 
diversidade das formas de comportamentos, crenças, valores e estilos de vida que 
marcam as relações humanas em contextos sociais historicamente configurados. 
 
OBJETIVOS DA UNIDADE: 
 Reconhecer a variação cultural como dado constitutivo das 
diferentes sociedades humanas; 
 Perceber que as culturas humanas variam em ritmos e modalidades 
diversas no tempo e no espaço; 
 Compreender o caráter polissêmico e dinâmico do conceito de 
cultura; 
 Correlacionar o conceito de cultura e diversidade no contexto das 
sociedades contemporâneas; 
 Conhecer os antecedentes históricos do conceito de cultura e sua 
importância para a gênese do campo antropológico; 
 Compreender a posição antropológica diante das teorias 
deterministas. 
Antropologia Cultural 
 
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Plano da Unidade: 
 Cultura e Diversidade: uma temática antropológica e 
contemporânea 
 Cultura: dos sentidos comuns à concepção antropológica. 
 Duas concepções básicas de cultura e as relações entre elas. 
 Antecedentes históricos do conceito de cultura. 
 As noções de “Kultur” e “Civilization”. 
 O conceito de cultura de Tylor: a reunião de todas as possibilidades 
de realização humana. 
 A gênese da Antropologia como campo de saber 
 Cultura: aquisição ou inatismo? 
 
 
Seja bem-vindo à primeira unidade de estudo! 
Desejamos a você sucesso em sua aprendizagem! 
Antropologia Cultural 
 
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Cultura e Diversidade: uma temática antropológica e 
contemporânea 
 
A variedade das manifestações culturais é um dado que parece acompanhar o 
desenvolvimento da história da humanidade. Em diferentes épocas, tempos e 
lugares o homem nunca deixou de se questionar sobre o mundo que o envolve e 
de organizar, de formas diversas, a vida em sociedade. 
Esta diversidade de formas não se restringe apenas ao plano das relações 
sociais que os homens mantém entre si quando em interação. Ela possui um 
espectro bem mais amplo, englobando diferentes modos de ocupar o espaço 
geográfico e territorial; de explorar e de transformar os recursos naturais; de 
organizar o plano de suas ações presentes e de criar 
visões projetivas do futuro; de conceber a vida e de 
expressar a realidade. 
Se lançarmos o olhar para cada uma destas 
formas, perceberemos com facilidade a multiplicidade 
de exemplos que a história registra. De uma 
perspectiva que considere uma temporalidade mais 
distante e remota, é significativo à curiosidade que os 
antigossítios arqueológicos de civilizações passadas 
ainda exercem sobre nós. Olhamos com espanto e 
admiração criações como as pirâmides do Egito, os 
hieróglifos encontrados nas tumbas dos faraós, a 
fabricação de utensílios domésticos, de instrumentos 
de caça e pesca, a confecção de esculturas, objetos de 
adornos e a arte rupestre desenvolvida por povos que 
habitaram diferentes partes do mundo como a 
Península Ibérica e o continente sul-americano. Em 
todos esses casos, trata-se de testemunhos estéticos 
que revelam como estes povos utilizaram a forma e o 
grafismo como um instrumento de linguagem capaz de representar seu 
pensamento, suas crenças e seus modos de vida traduzindo uma relação direta 
entre o homem, a natureza e o universo. 
Arte Rupestre: rupestre – 
termo que se origina do latim 
rupes, - “rocha”, tendo entrado 
no vernáculo através do francês, 
com a significação de “gravado 
na rocha”. A arte rupestre 
representada nas pinturas 
gravadas em rocha, nas paredes 
das cavernas, constitui assim, 
um testemunho vivo que atesta 
ao mundo contemporâneo, não 
apenas, a existência de várias 
civilizações desaparecidas, 
como também, ilustra a 
existência do passado 
longínquo do homem no 
tempo. 
Antropologia Cultural 
 
21 
 
 
De uma perspectiva que leve em conta uma temporalidade mais próxima e 
presente, a constatação desta diversidade de manifestações culturais nas formas 
de organização da vida social não se coloca como um dado excludente. Pelo 
contrário, ela se impõe com força e sugere uma enorme riqueza de traços, formas e 
nuances em suas variações. Se tomarmos como foco de observação à família 
brasileira verificaremos, sem muitas dificuldades, mudanças pontuais quanto ao 
padrão de atitudes que informam as maneiras de pensar e agir dos nossos 
antepassados quando confrontado com àquelas que adotamos no cenário da vida 
contemporânea. 
O ingresso da mulher no mundo do trabalho é exemplo ilustrativo dessa 
mudança, na medida em que alterou a posição que ela tradicionalmente ocupou 
no seio de uma sociedade que, durante muito tempo, esteve marcada pelo regime 
patriarcal como foi o caso da oligarquia rural brasileira. Atualmente, convivendo 
lado a lado, com a posição de mãe e esposa que tradicionalmente ocupou, a 
inserção da mulher no mundo do trabalho, ampliou sua esfera de atuação na 
sociedade, diversificando não apenas os papéis sociais a serem desempenhados, 
mas também, sua rede de relações sociais. 
Correlativamente, alteraram-se também as normas e os critérios utilizados 
para a escolha e a definição do cônjuge visando o estabelecimento das relações 
matrimoniais. No mundo contemporâneo, esta escolha deixou de ser uma 
prerrogativa dos pais, alicerçada à época em relações de compadrio que 
determinavam um conjunto de obrigações recíprocas e trocas mútuas entre redes 
familiares diversas, como também, em esforços conjugados visando à manutenção 
de interesses econômicos e políticos; e, passou a constituir um atributo que 
embora sujeito à interferência de inúmeros fatores, funda-se prioritariamente no 
desejo pessoal e na vontade individual de cada parceiro. 
Antropologia Cultural 
 
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A variedade das manifestações culturais não se reduz apenas a uma questão 
de temporalidade como procuramos mostrar até aqui. É preciso que ampliemos o 
foco da nossa visão no sentido de perceber que a diversidade das formas culturais 
se estende também no espaço. Assim, quando lançamos nosso olhar para povos e 
grupos humanos situados em outros continentes ou em regiões do mundo 
afastadas e distantes da nossa própria sociedade, uma enorme multiplicidade de 
práticas, hábitos, comportamentos, crenças e costumes entram em cena 
provocando, muitas vezes, em nós, um sentimento de estranhamento e 
perplexidade. 
Se esta diversidade é, por um lado, facilmente constatada por nós quando 
observamos, por exemplo, as variedades linguísticas que caracterizam os 
diferentes povos do mundo, por outro lado; não podemos deixar de considerar que 
de modo semelhante, o mesmo ocorre quanto às formas pelas quais estes mesmos 
povos expressam suas visões de mundo e seus valores culturais. É no centro desta 
perspectiva, que podemos situar algumas variações de atitudes diante de fatos 
existenciais aparentemente comuns. 
As práticas e as interdições alimentares das diferentes sociedades humanas 
demonstram bem esta colocação. Assim, enquanto rãs e escargots são 
considerados iguarias preciosas na culinária francesa, para os hindus o consumo da 
carne de vaca constitui uma proibição, o mesmo se dando entre os muçulmanos 
no que diz respeito à ingestão da carne de porco. Ritos e práticas corporais 
constituem outro conjunto de dados que, quando comparados, reforçam esta 
diferenciação. Se em algumas praias de países europeus o nudismo é uma prática 
socialmente aceita e tolerada entre banhistas, o mesmo não acontece em países 
islâmicos, nos quais, muitas vezes, é vedado à mulher a liberdade de expor o 
próprio rosto em locais públicos. 
Antropologia Cultural 
 
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Como você pode notar, poderíamos estender 
nossa lista elencando uma imensa quantidade de 
exemplos que não nos deixam negar, mas que pelo 
contrário, corroboram a constatação quanto à 
permanência da diversidade cultural quando 
olhamos comparativamente para diferentes povos, 
grupos e sociedades humanas situadas em espaços 
geográficos e territoriais distintos. Entretanto, é necessário que, novamente, 
redirecionemos o nosso olhar em busca de um outro tipo de percepção. 
Neste sentido, o convite que fazemos é para que possamos, conjuntamente, 
ajustar o foco da nossa visão para um campo de observação mais estreito e mais 
próximo que leve em conta uma única e mesma sociedade. Feito isso, a questão 
fundamental que nos motiva e que tentaremos responder consiste em saber se a 
diversidade das formas culturais é um dado que se mantém no interior de uma 
mesma sociedade quando vista a partir de sua singularidade. Ou seja, se olharmos 
para o interior de uma determinada sociedade qualquer, é possível perceber e 
detectar formas diferenciadas no seu modo de organizar internamente as relações 
entre os homens e o mundo ou estão as mesmas pautadas em um todo 
homogêneo e uniforme? 
Para discutirmos esta questão e facilitarmos a sua compreensão, tomemos 
como ponto de observação a nossa própria sociedade, isto é, a sociedade brasileira 
vista em sua totalidade. Considerando o caráter estreito e íntimo que marca a 
relação que mantemos com a mesma, procuremos mapear os sentidos das nossas 
percepções. 
De um ponto de vista mais abrangente, nos salta aos olhos sem grandes 
dificuldades, diferenças significativas que envolvem, por exemplo, o estilo de vida 
de um homem que mora e trabalha no meio rural, em contraposição com aquele 
adotado por um habitante que vive nas grandes metrópoles dos centros urbanos 
brasileiros. Vistos assim, campo e cidade parecem constituir pelo menos 
aparentemente, polos opostos de uma mesma realidade quando se trata de 
comparar as relações que os homens estabelecessem entre si e o contexto que os 
envolvem conforme habitem um ou outro destes espaços sociais tão distintos. 
Antropologia Cultural 
 
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Embora compartilhem de algumas características em comum, como a língua, 
uma complexa e diferenciada rede de significados pode ser percebida demarcando 
limites fronteiriços nos padrões identitários constituídos. Estes limites apontam 
para formas extremamente diferenciadas de se conceber e exprimir trajetórias e 
biografias pessoais, de desenvolver as atividades de produção e lazer, de se 
relacionar com as tradições religiosas, com os fenômenos da natureza e com o 
desconhecido. 
 
 
 
Desta forma, háum estilo de vida marcado por um ritmo de trabalho 
acelerado, regulado por uma intensa diversificação de tarefas e por pressões 
econômicas que estabelecem para o indivíduo, metas rígidas a serem cumpridas 
como critério base de avaliação do desempenho profissional em um mercado de 
trabalho altamente concorrido e competitivo, no qual as relações de produção 
parecem constituir o eixo que sustenta e define os padrões de consumo, as 
expectativas de crescimento e os projetos para o futuro, se contrapõe um outro 
estilo, fundado em critérios bastante diferentes. 
Assim, contrariamente ao que ocorre nas grandes metrópoles onde a vida, na 
maioria das vezes, se desenrola de forma distanciada do contato direto com a 
natureza, a vida no campo parece eleger justamente a natureza, como sua âncora e 
referência básica. É em torno dela que se estruturam, não apenas as relações de 
produção, mas todo um outro conjunto de práticas e ações por meio das quais a 
sociedade simbolicamente expressa sua visão de mundo e externaliza seus valores 
culturais. 
Antropologia Cultural 
 
25 
 
Da relação com a terra deriva uma nova maneira do grupo perceber e se 
relacionar com o tempo e com o espaço. As estações do ano são marcadores 
temporais fundamentais para a definição do ritmo das atividades laborais, na 
medida em que estabelecem a época propícia para o 
plantio, para a procriação do gado e para a colheita, 
como contribuem também, para a criação de um outro 
calendário que reorganiza a vida social estabelecendo 
os períodos de festa e celebração aos santos 
padroeiros, a temporada das chuvas, a chegada da 
estiagem, ao fim da seca e a fartura da colheita, cada 
um deles envolvendo musicalidades, oralidades, práticas corporais e gestualidades 
diferenciadas. Ao tempo cronológico une-se, assim, um outro tempo: um tempo 
cósmico, religioso e humano que carrega o espaço de outras dimensões de 
significado. 
Se ao prosseguir em nosso esforço comparativo, reduzirmos o espectro da 
nossa abordagem para um ponto de vista mais localizado que considere somente 
os centros urbanos brasileiros como foco de observação, ainda assim, a 
diferenciação das formas culturais no interior de uma 
mesma sociedade parece se evidenciar. Assim, quando 
observamos a geografia urbana das grandes 
metrópoles brasileiras, como é o caso das cidades do 
Rio de Janeiro e São Paulo, a divisão do espaço 
habitável em “centro” e “periferia” se apresenta como 
um dado representativo para se pensar esta 
diferenciação. 
Traduzidas pelo senso comum englobante através de pares de oposição como 
“morro” versus “asfalto” ou “moradores de cima” versus “moradores de baixo” esta 
divisão, muito mais do que uma mera distribuição diferenciada da população no 
espaço geográfico e arquitetônico da cidade, indica um outro tipo de separação. Se 
nos questionarmos a respeito dos critérios utilizados para classificar e dividir os 
moradores que habitam estas duas áreas distintas não é difícil constatar que por 
detrás dos mesmos, reside toda uma outra série de marcadores sociais que em 
conjunto concorrem para legitimar esta separação entre ambos. Eles sinalizam, na 
Antropologia Cultural 
 
26 
 
verdade, para a profunda desigualdade social existente em um país cingido pela 
divisão de classes sociais cuja ordem econômica vigente impõe limites estruturais, 
ao posicionamento das mesmas no interior do sistema capitalista, constituindo 
assim, um campo de forças no qual o conflito de interesses parece ser a regra e não 
a exceção. 
Em outras palavras, a oposição “morro” versus “asfalto” indica não apenas a 
forma pela qual a população está geograficamente distribuída no cenário urbano 
das cidades contemporâneas. Ela também revela as desigualdades sociais que 
subjazem a esta distribuição no que diz respeito ao poder econômico dos 
diferentes grupos sociais que, a depender da renda familiar, da condição financeira, 
do capital político e cultural que cada um detém, definirão formas mais ou menos 
diretas de acesso às políticas públicas e institucionais destinadas às áreas da saúde, 
educação, habitação, transporte, segurança, cultura e lazer, dentre outras. 
Como, no exemplo anterior, é importante que você observe que também 
neste caso, a distribuição diferenciada dos grupos sociais no interior do espaço 
urbano não ocorre sem que, simultaneamente, as práticas e as ações humanas 
sejam revestidas de novas significações e dimensões de 
sentido que demarcam os sinais distintivos de suas 
identidades específicas e dos estilos de vida que a partir 
delas se configuram. Fato ilustrativo desta colocação 
refere-se à importância dos bailes “funks”, que em sua 
organização e efetividade, mobilizam todo um repertório 
simbólico no qual música, ritmos, compassos, melodias, 
letras, danças e oralidades compõem um todo unificado que parece traduzir a 
oposição “morro” versus “asfalto” de que falávamos anteriormente. 
Por meio deles, os “moradores de cima” ritualizam a experiência subjetiva da 
desigualdade estrutural vivenciada face aos “moradores de baixo” e fortalecem em 
ritmo de festa e celebração, os vínculos que dão unidade aos fragmentos 
existenciais. Neste processo, no qual o figurativo funciona mais do que o 
conceitual, parece haver uma estreita e íntima correlação entre o deslocamento 
geográfico a que são compelidos a exercitar cotidianamente ao descer o “morro” e, 
um outro tipo de deslocamento social em torno do qual associam a ideia de 
ascensão e projeção social ao chegar no “asfalto” que inverte estas oposições, 
resignificando a aparente contradição entre “pobreza material” versus “riqueza 
simbólica”.
Antropologia Cultural 
 
27 
 
Diante do exposto e independentemente do espaço social considerado – 
campo ou cidade – a resposta a nossa pergunta inicial parece caminhar, portanto, 
no sentido de uma posição que toma como legítima a seguinte afirmativa: as 
culturas humanas não constituem totalidades homogêneas e nem realidades 
estanques e isoladas. Muito pelo contrário, relações marcadas por diferenças 
sociais fundadas em critérios como classe social, faixa etária, grau de escolaridade, 
relações de gênero e parentesco entre outros, situam os homens de forma desigual 
no tecido social e contribuem para tornar as culturas humanas um mecanismo 
simbólico que expressa tais diferenciações, ao mesmo tempo em que constitui, o 
terreno firme sob o qual estas mesmas diferenciações se apoiam e ganham força. 
Deste modo é importante que você fique atento ao caráter dinâmico que 
envolve as diferentes formas pelas quais as culturas humanas se manifestam no 
tempo e no espaço, seja no que tange a abordagem analítica de uma sociedade 
particular, seja no que toca o estudo comparativo de várias sociedades. Aliás, é 
sempre bom lembrar que só nos é possível falar em diferenciação exatamente por 
que os grupos humanos estão em permanente contato e interação. Por outro lado, 
isto não significa postular que estas interações tenham sempre conduzido as 
sociedades humanas a relações pacíficas e harmônicas. Como vimos em exemplos 
anteriores, aqui também uma série de fatores entram em pauta conduzindo muitas 
vezes a relações marcadas por tensões e conflitos entre interesses econômicos e 
políticos diversos, cujas consequências, na maioria dos casos, resultaram como a 
própria historiografia demonstra na subjugação de uma cultura aos critérios de 
uma outra considerada dominante, como teremos a oportunidade de abordar de 
forma mais detalhada ao longo dos nossos estudos. 
No entanto, para que você possa visualizar melhor as colocações acima, 
tomemos para efeito de uma breve ilustração: a situação dos grupos indígenas 
brasileiros. Por mais isolados e distanciados que estejam e tenham suas próprias 
particularidadesquanto às formas de perceber a realidade e de organizar a vida 
social, estes grupos não puderam, ao longo da história, evitar o contato com a 
sociedade nacional cujas políticas de expansão produziu não só impactos 
significativos no modo de utilização e apropriação dos recursos naturais, como 
introduziu também novas crenças, valores e concepções de mundo que 
desagregaram a estrutura social destes grupos, colocando muitas vezes sob 
ameaça a própria sobrevivência, e, consequentemente, a possibilidade de 
continuidade de suas existências concretas. 
Antropologia Cultural 
 
28 
 
 
No conjunto, as diferentes constatações que tivemos a oportunidade de 
observar a partir de todos os exemplos aqui discutidos, nos permite definir alguns 
pressupostos básicos que devem nortear daqui para frente a nossa reflexão teórica 
a respeito da variabilidade das culturas humanas. Procure ficar bem atento e vamos 
a eles: 
1. As culturas humanas se desenvolveram no tempo e no espaço em 
ritmos e modalidades extremamente variáveis, embora seja possível 
identificar entre as mesmas, pontos de convergência que sinalizam 
para tendências globais, já que constituem produtos de uma mesma 
espécie viva, o homo sapiens. 
2. A variedade das culturas humanas é um dado constitutivo das 
diferentes sociedades, seja quando consideradas de uma forma 
particularizada, seja quando situadas em uma perspectiva 
comparativa que as coloca em relação. 
3. As culturas humanas são resultantes de processos históricos 
específicos que possibilitaram o seu desenvolvimento. Deste modo, 
os elementos que compõem internamente seu repertório de valores 
devem ser analisados de forma situada e relacionalmente aos 
contextos históricos particulares nos quais se configuraram. 
4. As culturas humanas não constituem totalidades homogêneas e 
nem realidades estanques. Há uma enorme multiplicidade de 
critérios de diferenciação dos grupos sociais no interior das 
sociedades humanas que as tornam extremamente heterogêneas e 
diversificadas. 
Antropologia Cultural 
 
29 
 
5. As culturas humanas se desenvolveram de modo dinâmico e variável 
em decorrência do permanente contato e interação que puderam 
estabelecer ao longo da história. Destas interações resultaram 
relações nem sempre pacíficas entre as diferentes sociedades 
humanas cujas consequências merecem estudos mais sistemáticos e 
detalhados. 
A partir destes pressupostos, é importante que você perceba como o estudo 
da variabilidade cultural constitui um aspecto de fundamental relevância para a 
compreensão das sociedades contemporâneas. Se tomarmos como base das 
nossas reflexões, a consideração de que as culturas humanas constituem 
mecanismos simbólicos e de significação, através dos quais as diferentes 
sociedades externalizam e expressam seus próprios valores e visões de mundo, 
diversas razões podem ser apontadas para justificar esta relevância. Sugerimos a 
você que pense, cuidadosamente, a respeito de algumas destas razões a partir das 
considerações que apresentamos a seguir. 
Em primeiro lugar, o estudo da variação cultural nos permite compreender um 
pouco mais a respeito de nós mesmos e da nossa própria sociedade, na medida em 
que através dele, podemos colocar em discussão os limites das nossas próprias 
atitudes, posições e valores nos diferentes espaços sociais em que estamos 
inseridos e com os quais interagimos de forma permanente e contínua. 
Em segundo lugar, e correlativamente, esta discussão abre espaço para o 
diálogo com a diferença – uma problemática central da abordagem antropológica 
– contribuindo para a superação de atitudes preconceituosas que, na maioria das 
vezes, nos conduzem a posturas marcadas pela rigidez e pela intolerância que nos 
impedem de reconhecer a humanidade dos outros coletivos sociais com os quais 
nos relacionamos. 
Finalmente, esta discussão nos possibilita articular o pensamento através de 
um duplo movimento. De um lado, ela nos permite identificar as diferentes formas 
de interação da nossa própria sociedade com outras sociedades que lhe são 
distintas e, de outro; problematizar contextualmente nossas próprias diferenças 
internas, contribuindo assim, para a percepção e o conhecimento da nossa própria 
identidade enquanto nação. 
Antropologia Cultural 
 
30 
 
Diante destes parâmetros, é fundamental que procuremos não apenas 
entender ao longo da história do desenvolvimento das sociedades humanas, os 
vários significados que foram atribuídos ao termo cultura, como também que 
busquemos identificar as razões e os sentidos de tanta variabilidade. Este é o 
conteúdo que abordaremos a seguir, no próximo tópico dessa nossa primeira 
unidade de estudos. 
 
Cultura: dos sentidos comuns à concepção antropológica 
 
No domínio do senso comum onde prevalece o 
uso da linguagem coloquial, a palavra cultura constitui 
um termo difuso que engloba uma imensa variedade 
de situações e fatos sociais e remete a uma enorme 
multiplicidade de sentidos e significados, o que nos 
permite afirmar, por conseguinte, que ela possui um 
caráter polissêmico e dinâmico. 
Vejamos então, alguns dos significados atribuídos ao termo e os diferentes 
usos que dele são feitos, enquanto instrumento discursivo informalmente utilizado, 
nos diferentes espaços sociais que compõem as sociedades humanas, tentando 
localizar nestes usos as situações e/ou fatos que são por ele designados. 
Cultura pode ser um termo cujo significado remete para a esfera da educação 
estando, portanto, correlacionado ao estudo, ao conhecimento, ao processo de 
escolarização e formação acadêmica. Neste sentido, o termo pode ser usado para 
diferenciar os grupos sociais conforme o grau de instrução e de acesso à formação 
educacional institucionalizada. Fala-se assim, que “Fulano é muito culto” como uma 
forma de se referir a alguém que estudou muito, cuja escolaridade o diferencia do 
indivíduo leigo, destituído desta formação. O termo parece assim, envolver 
gradações entre os indivíduos. Ou seja, a depender do grau de instrução, do 
conhecimento formal adquirido através do processo de escolarização, o indivíduo 
é classificado como “mais” ou “menos” culto. 
Polissemia: Fenômeno 
que consiste em reunir, 
em atribuir vários sentidos 
a uma mesma palavra. 
Antropologia Cultural 
 
31 
 
Por cultura pode-se também designar uma certa dimensão ou domínio da vida 
social que comporta formas de expressão artísticas diferenciadas tais como as artes 
plásticas, a música, a dança, as artes cênicas e a literatura em suas mais diversas 
modalidades, gêneros e estilos. Neste caso, o termo cultura parece estar associado 
à ideia de “erudição”, refinamento e sofisticação no gosto. É importante que você 
observe que aqui também, o termo pode ser utilizado como um instrumento de 
diferenciação e classificação de indivíduos ou grupos no interior do sistema social 
conforme ocorra ou não, a possibilidade de acesso a estas formas de expressão 
artísticas. 
Pode-se também falar de cultura tomando como referência o conjunto de 
elementos e manifestações que expressam a tradição coletivamente 
compartilhada por um determinado grupo social. O termo englobaria assim, todo o 
repertório de crenças, lendas, hábitos culinários, interdições alimentares, cantigas 
folclóricas, festas e cerimônias típicas, atitudes religiosas, variedades linguísticas, 
formas de vestuário, adotadas e incorporadas no imaginário simbólico e cognitivo 
de um povo. Neste sentido, o termo cultura parece estar correlacionado à ideia de 
“popular”, de tudo aquilo que é usual e corriqueiramente percebido e 
compreendido facilmente por qualquer membro da sociedade. 
O termo cultura pode ainda relacionar-se ao conjuntode objetos, 
instrumentos e utensílios que sobreviveram ao longo do tempo e que constituem 
vestígios que nos fazem saber a respeito da existência e dos modos de vida de 
civilizações passadas. Neste caso, cultura refere-se ao conjunto das realizações 
materiais de sociedades extintas e que compõe atualmente, o acervo dos sítios 
arqueológicos. 
Finalmente, pode-se ainda utilizar o termo cultura para definir e caracterizar 
uma determinada época da história de uma sociedade. Desta forma, fala-se, por 
exemplo, em “cultura pop”, “cultura hippie”, “cultura de massa”, etc. Neste caso, para 
cada época considerada, um conjunto de elementos diferenciados é utilizado 
visando demarcar as concepções e os estilos de vida então adotados pelos grupos 
sociais. 
Antropologia Cultural 
 
32 
 
No que diz respeito a esta última, por exemplo, os meios de comunicação 
englobando desde o rádio, o cinema, até a mídia impressa e televisiva são 
instrumentos fundamentais não apenas, de divulgação e transmissão de 
informações, como também, de difusão de valores que estimulam e prescrevem 
determinados estilos e modos de vida (maneiras de se divertir, de se vestir, de se 
comunicar, de escrever, de sentir, de morar, de alimentar, etc) que uma vez 
reproduzidos e compartilhados por um grande contingente populacional parecem 
legitimar a ideia de uma homogeneidade e padronização da vida e dos modos de 
conceber o mundo e se posicionar diante da realidade. É neste contexto que 
falamos com frequência na “cultura da nossa época”, na “cultura contemporânea” 
para nos referirmos ao nosso modo atual de viver. 
 
Diante de tanta variação é previsível, que num primeiro momento, sejamos 
tomados por uma sensação de dispersão que mais parece contribuir para 
confundir o pensamento do que propriamente para esclarecer acerca da 
especificidade do termo cultura. Assim, para que possamos resolver este impasse 
inicial e criar condições que possibilitem a continuidade das nossas discussões é 
preciso que adotemos uma estratégia metodológica capaz de direcionar nossas 
reflexões no estudo da cultura. 
Desta forma, propomos que, ao invés de nos determos na análise das 
variações do termo propriamente dito, concentremos o foco da nossa atenção, 
primeiramente, no esforço de compreender as razões que motivaram esta 
variabilidade buscando identificar em seu fluxo e dinamicidade, algumas pistas 
que possam indicar pontos de aproximação que lhes forneça um certo tipo de 
unidade. 
Antropologia Cultural 
 
33 
 
Duas concepções de cultura e a relações entre elas 
 
Se observarmos atentamente as situações antes descritas, veremos que, a 
despeito dos diferentes significados atribuídos ao termo cultura, todos parecem 
convergir para um terreno comum alicerçado em torno de dois pressupostos 
básicos. O primeiro deles, ancora-se no entendimento da cultura como um dado 
constitutivo da humanidade como um todo. Um dado que acompanhou a história 
do seu desenvolvimento no tempo e no espaço compondo seu repertório e que, 
portanto, lhe confere sua marca permanente e distintiva. 
Deste primeiro postulado deriva uma concepção de cultura que engloba 
indiscriminadamente todos os aspectos e elementos que compõem uma 
determinada realidade social. Ou seja, cultura diz respeito a todas as manifestações 
e realizações materiais que atestam a existência social de diferentes povos e 
grupos inseridos no interior de uma determinada sociedade, incorporando, 
inclusive, as diferentes formas de conceber o mundo e de expressar a realidade 
social. Assim, podemos nos referir às culturas americana, chinesa, italiana, do 
mesmo modo que, nos referimos às culturas yanomami, apinayé, ou então, a 
cultura dos antigos maias, incas e astecas. Tanto em um caso como no outro, o que 
está em jogo é a referência ao conjunto de características que particularizam cada 
um destes grupos humanos no tempo e no espaço, sejam elas materiais ou não. 
O segundo postulado, apoia-se na compreensão de que cultura refere-se às 
particularidades e às singularidades que dão forma e expressão a diferentes 
realidades sociais. Deste postulado, decorrer uma outra concepção de cultura cuja 
ênfase pauta-se nas formas abstratas, representacionais e simbólicas que 
expressam as diferentes maneiras de conceber a realidade social no interior de 
uma determinada sociedade. Cultura assim, diz respeito a uma esfera, a uma 
dimensão ou domínio específico da vida social. Nesta acepção, podemos falar da 
cultura brasileira nos referindo, por exemplo, às particularidades da sua literatura, 
da sua língua, da sua música, enfim, das formas de expressão que dão para os 
grupos sociais, que nela vivem, significação e sentido à concretude do mundo. 
Antropologia Cultural 
 
34 
 
Em torno destes dois postulados básicos, a preocupação com o entendimento 
da variabilidade das formas culturais foi se intensificando, à medida em que, 
paralelamente, o contato e a interação entre os grupos, povos e sociedades 
humanas avançaram ao longo da história indicando uma tendência à formação de 
uma civilização mundial. Para que possamos compreender como se desencadeou 
este processo, que forças e tensões impulsionaram sua ocorrência, propomos 
como segundo critério da nossa orientação metodológica que procuremos mapear 
as ideias e os contextos históricos que lhe forneceram suporte e que contribuíram 
para tornar a problemática da cultura, objeto privilegiado de um campo específico 
do saber, qual seja, a Antropologia. 
A análise destes contextos constituirá a partir de agora, a pauta das nossas 
discussões ao longo do terceiro tópico desta unidade de estudos. Procure manter-
se concentrado para que você possa compreender, de forma clara e consistente, 
os conceitos e os elementos em torno dos quais esta discussão se estruturou. 
 
Antecedentes históricos do conceito de cultura: as noções 
de “Kultur”, “Civilization” e o conceito de Tylor 
 
Como temos procurado mostrar a você, a constatação da variabilidade cultural 
é um dado constitutivo da humanidade. Ela esteve presente de forma permanente 
e contínua no decorrer do processo de desenvolvimento da história das sociedades 
humanas representando, portanto, um mecanismo fundamental para a 
compreensão das suas diferentes formas de expressão tanto no tempo, como 
também, no espaço. 
A despeito desta constatação, o termo cultura atravessou uma longa trajetória 
até que pudesse se tornar objeto de estudos mais sistemáticos e detalhados, que 
lhe conferissem status teórico dentro de um campo do saber voltado para a análise 
de sua especificidade, do seu alcance e da sua importância para a compreensão da 
dinâmica envolvida com o processo de diferenciação das sociedades humanas. 
Como você pôde perceber no tópico anterior, a polissemia que reveste o uso 
do termo cultura, não indica apenas a dificuldade de sua apreensão em um sentido 
Antropologia Cultural 
 
35 
 
único e absoluto. Ela vai além e se coloca como um aspecto que atesta a trajetória 
polêmica que o termo enfrentou até ocupar um lugar de destaque no âmbito das 
chamadas Ciências Sociais como um todo, e, especialmente, na Antropologia. Até 
que este processo se configurasse, o termo cultura esteve marcado pela amplitude 
conceitual e foi alvo de preocupações diversas estando intimamente 
correlacionado ao problema das descontinuidades sociais e nacionais que ao longo 
dos séculos XVII e XVIII assolaram o continente europeu. 
Dentro deste contexto, sua origem remonta aos esforços dispendidos por 
intelectuais alemães no sentido de compreender o desenvolvimento da história 
das sociedades humanas a partir do repertório de crenças, costumes e valoresque 
demarcam suas particularidades e definem suas identidades específicas, 
considerando-se para tanto, as condições materiais que deram suporte e 
viabilizaram a sua ocorrência. Trata-se de uma preocupação que vai ao encontro e 
reflete a situação política da Alemanha à época: uma nação dividida em várias 
unidades políticas e que carecia, portanto, de uma expressão que pudesse traduzir 
o “espírito”, a identidade do povo alemão na ausência de uma organização política 
comum. 
Desta forma, em fins do século XVIII e no início do século seguinte, o termo 
germânico “Kultur” foi amplamente utilizado para expressar todos os aspectos 
espirituais de uma comunidade. Em contraposição, o termo francês “Civilization” 
era então utilizado para expressar principalmente todas as realizações materiais de 
uma sociedade. Nesta segunda acepção, o termo ganha um duplo contorno. 
De um lado, servia para designar uma cultura dominante no processo de 
desenvolvimento da história da humanidade como um todo, opondo-se assim, à 
selvageria e à barbárie, traduzindo, portanto, a própria marca da civilização então 
representada pelas conquistas e avanços tecnológicos do mundo ocidental. Nesta 
perspectiva, a discussão sobre cultura se insere no contexto do expansionismo 
colonial europeu e aponta para a ideia de progresso. 
De outro lado, o termo servia para demarcar e diferenciar o estilo de vida das 
camadas dominantes de uma sociedade expressando polidez, refinamento e 
sofisticação nos modos de conduta adotados por elas – a corte francesa, mais 
especificamente – em oposição ao restante da população então excluída do acesso 
Antropologia Cultural 
 
36 
 
à educação formal, à arte, à religião e à ciência. Neste caso, a discussão sobre 
cultura refere-se a uma espécie de “civilização dos costumes” (Elias, 1994) e sinaliza 
para a ideia de tradição como forma de expressão que dá singularidade e 
particulariza os diferentes povos. 
 
 
Na passagem do século XIX para o século XX, estes dois termos – “Kultur” e 
“Civilization” – foram sintetizados por Edward Tylor (1832-1917) em uma obra 
clássica da Antropologia intitulada “Primitive Culture” (1871) a partir da seguinte 
definição: 
 
 “Cultura ou civilização tomado em seu amplo 
sentido etnográfico é este todo complexo que inclui 
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou 
quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo 
homem enquanto membro da sociedade” (Tylor, 
1871:1). 
 
Com esta definição, Tylor englobava simultaneamente todas as possibilidades 
de realização humana – materiais e não-materiais – abrindo assim, uma nova 
perspectiva para se pensar a problemática da cultura, cujas consequências serão 
decisivas para a delimitação do campo antropológico. Vejamos a seguir como 
historicamente esta situação se configurou. 
Antropologia Cultural 
 
37 
 
A gênese da Antropologia como campo de saber 
 
Do ponto de vista histórico, a passagem do século XIX para o XX, retrata um 
momento em que, como decorrência do expansionismo colonial europeu, o 
contato entre diferentes povos, grupos e sociedades humanas se intensifica, ao 
mesmo tempo, em que ainda sob a tutela do primeiro, reforça-se o poderio das 
nações industrializadas da Europa sobre sociedades antes isoladas e que foram, 
gradativamente, subjugadas e incorporadas ao âmbito de influência da visão de 
mundo europeia. 
Trata-se, portanto, de um momento em que o expansionismo colonial 
europeu muda de sentido. Ou seja, passado o período inicial da descoberta dos 
chamados “povos exóticos” um novo desafio se impõe: adequar estes povos não 
mais como mão de obra escrava a serviço do sistema capitalista, mas como 
consumidores em potencial de um grande mercado internacional em expansão. 
Como decorrência das dificuldades impostas por este desafio, a preocupação 
com o problema da variabilidade cultural ganha novos impulsos e passa a ser 
tratado como uma questão científica. É neste contexto que a cultura emerge como 
categoria teórica e passa a ser sistematicamente estudada pelas recém criadas 
Ciências Sociais e, mais diretamente, pela Antropologia. Diversos fatores 
contribuíram para que isto se tornasse possível. 
O primeiro deles, diz respeito à ruptura com a visão religiosa que, fortemente 
alicerçada no Cristianismo, constituía a fonte de 
explicação do mundo e fornecia à Europa o 
modelo básico para a interpretação da 
realidade e para a compreensão das relações 
sociais. O rompimento com esta visão a favor da 
adoção de uma atitude laica se deu em 
associação com um outro conjunto de 
preocupações, que podem ser sintetizadas pelo 
esforço de compreensão da origem da 
sociedade e de suas transformações. 
Antropologia Cultural 
 
38 
 
A tentativa de entender o homem não mais como produto da criação divina, 
aproximou as Ciências Sociais, e tambéma Antropologia, do campo de estudos 
desenvolvidos pelas Ciências Naturais, em especial, a Biologia. Em consequência, o 
estudo do mundo social se aliou às teorias biológicas de cunho evolucionista – 
Teoria da Evolução das Espécies – culminando com o predomínio de uma visão 
sobre a humanidade, na qual a mesma é considerada como uma espécie animal 
que se originou a partir de outras formas de vida e que se encontra, portanto, 
imersa em um processo de evolução passível de ser estudado tal qual o mundo 
natural desde que em observância às condições materiais sob os quais se assenta. 
Nesta perspectiva, a cultura passa a ser concebida como o mecanismo 
diferenciador básico do homem face às outras espécies vivas e, também, como o 
instrumento que permite distinguir as populações do mundo entre si. Apesar de 
em ambos os casos, o termo cultura ainda permanecer marcado pela amplitude 
conceitual, é importante ressaltar a sua vinculação com a produção científica do 
conhecimento no século XIX em função de duas razões correlatas. 
Embora a percepção da variedade das formas de vida seja um dado antigo na 
história da humanidade, será no século XIX que esta questão vai ser tomada como 
objeto de análise de um campo específico do saber – a Antropologia – e que se 
pretendeu fundado em bases científicas. Trata-se 
assim, de um período no qual se discute, pela primeira 
vez, a possibilidade de se aplicar ao estudo do homem 
os mesmos métodos até então empregados nas 
ciências da natureza. 
Esta situação provocará uma profunda alteração 
epistemológica nos modelos que serviam de base 
para se pensar o homem e a sociedade. De sujeito do 
conhecimento o homem passa ao status de objeto da 
ciência, o que implicará em uma mudança de olhar 
que abre a possibilidade de se questionar sobre os 
limites e os fundamentos de suas atitudes e valores 
diante do mundo no plano de sua existência empírica 
e concreta e, não mais, em uma ordem divina e 
transcendente, na qual parece mover-se através de forças e determinações sobre 
as quais não possui nenhum controle. 
Epistemologia: Do grego, 
epistéme, ciência. Estudo 
crítico dos princípios, 
hipóteses e resultados das 
ciências já constituídas, e que 
visa a determinar os 
fundamentos lógicos, o valor 
e o alcance delas; teoria da 
ciência, estudo do grau de 
certeza do conhecimento 
científico em seus diversos 
ramos. 
Antropologia Cultural 
 
39 
 
O segundo fator que merece destaque na consolidação da moderna 
concepção de cultura refere-se, como já assinalamos anteriormente, ao avanço do 
Ocidente em direção aos outros povos do mundo. Desta forma, se de um lado, o 
expansionismo colonial propiciou ao mundo ocidental a ampliação de seu poderio 
político e econômico através da conquista de novos territórios colocados sob o seu 
julgo; de outro lado,ele impôs uma problemática central para o estudo das 
sociedades humanas: o acirramento do contato com a diferença. 
Da perplexidade inicial diante daqueles que acabavam de ser descobertos 
forja-se assim, uma questão fundamental: como explicar o “nativo”? Como se 
relacionar com ele e garantir, a um só tempo, a sua incorporação e sua adequação 
aos novos mercados econômicos em expansão? A resposta que o Ocidente deu a 
esta questão, embora tenha inicialmente, legitimado sua posição dominante nas 
relações internacionais de poder, através da imposição de suas concepções de 
mundo aos povos então subjugados ao seu controle, traz em si o germe daquilo 
que posteriormente, já no século XX, possibilitará o desenvolvimento de sua 
autoconsciência em face da finitude e da relatividade de sua própria existência. 
No conjunto, estas duas questões explicam, em parte, o porquê do termo 
cultura e não civilização ter sido tomado pela Antropologia como objeto 
privilegiado de investigação. Enquanto a ideia de civilização parece pressupor, 
aprioristicamente, uma continuidade territorial e espacial dada; a noção de cultura 
caminha em uma direção que parece sugerir a existência de uma espécie de 
ligação “espiritual” entre os homens que independe de limites territoriais e de 
fronteiras geográficas previamente estabelecidas. 
Esta ligação parece unir a condição particular que singulariza e individualiza a 
existência de cada ser humano no plano de suas vidas concretas a um mundo 
coletivo que se funda em um universo social cingido por valores que podem ser 
compartilhados. Ou seja, através desta ligação, o homem extrapola os limites 
impostos pelo plano de sua condição natural, biologicamente herdada enquanto 
espécie viva, e se insere em um universo artificial pautado em regras de conduta e 
valores abstratos por ele mesmo construído “enquanto membro da sociedade” como 
nos coloca Tylor. 
Antropologia Cultural 
 
40 
 
Diante do exposto, podemos agora, explicitar os postulados básicos que irão 
compor o projeto antropológico que se esboçou na passagem do século XIX para o 
século XX, e que, ainda hoje se faz presente, permeando com diferentes ênfases 
teóricas a discussão em torno da problemática da cultura. Qual seja, um projeto 
marcado pelo esforço permanente de conciliar a dualidade existente entre a 
unidade biológica do homem enquanto espécie viva e a diversidade cultural. Um 
projeto que busca, a partir de diferentes matrizes teóricas, articular a pretensão de 
construir uma teoria universal das sociedades humanas e que, ao mesmo tempo, 
possa descrever o que elas possuem de particular. 
A compreensão deste esforço de articulação, além de se colocar como um 
dado fundamental para o entendimento do contexto histórico que possibilitou a 
gênese da Antropologia como campo de saber, se apresenta também, como um 
aspecto que esclarece e informa sobre o estado atual de sua prática no estudo e 
abordagem das sociedades contemporâneas, como teremos a oportunidade de ver 
um pouco mais adiante. 
Por agora, considerando estes dois postulados e novamente retomando a 
famosa definição de Tylor exposta nas páginas anteriores, cabe-nos finalmente 
uma pergunta: deriva a cultura de aptidões inatas transmitidas ao homem por 
mecanismos biológicos geneticamente herdados ou a cultura refere-se a um 
atributo adquirido socialmente pelo homem através da aprendizagem? É a esta 
questão que tentaremos responder no próximo tópico de nossos estudos tomando 
como referencial básico às perspectivas teóricas construídas pela Antropologia. 
Entretanto, antes de iniciarmos mais esta etapa, sugerimos a você que procure 
ler o conteúdo até aqui apresentado com bastante atenção de forma a não deixar 
nenhuma dúvida pendente. Assim, releia-o quantas vezes julgar necessário, recorra 
às sugestões de leitura complementar, faça uso de fichamentos e resumos, e, 
principalmente, interaja conosco através do ambiente virtual de aprendizagem. O 
importante é que você faça uso de todos os recursos didáticos disponíveis, de 
forma a garantir que sua compreensão analítica do conteúdo apresentado, e, 
consequentemente, sua aprendizagem, efetivamente se concretize. 
Antropologia Cultural 
 
41 
 
Cultura: aquisição ou inatismo? 
 
Desde que a problemática da cultura se legitimou no final do século XIX e no 
princípio do século XX, como objeto de análise privilegiado da Antropologia, muito 
já se discutiu e se produziu em termos da literatura especializada, no sentido de 
explicar a sua origem e de demonstrar a sua forma de atuação na vida social e, em 
especial, nas atitudes e nos modos de comportamento desenvolvidos pelo 
homem. 
Resguardando-se às especificidades próprias que envolvem as diversas 
posições analíticas erigidas em torno desta temática, todas parecem ter como 
ponto de partida a questão que mencionamos anteriormente. Qual seja: deriva a 
cultura de aptidões inatas transmitidas ao homem por mecanismos geneticamente 
herdados ou constitui a cultura um atributo adquirido pelo homem através da 
aprendizagem no decurso de sua socialização em um determinado grupo ou 
sociedade? 
Acompanhando a história das sociedades humanas desde a Antiguidade, a 
busca de uma resposta para esta questão é um dado que pode ser confirmado a 
partir de um rápido exame dos exemplos registrados pela historiografia. Para efeito 
de uma breve ilustração observemos a afirmação do arquiteto romano Marcus V. 
Pollio: 
“Os povos do sul têm uma inteligência aguda, 
devido à raridade da atmosfera e do calor; enquanto os 
das nações do Norte, tendo se desenvolvido em uma 
atmosfera densa e esfriados pelos vapores dos ares 
carregados têm uma inteligência preguiçosa” (Citado 
por Laraia, 1989:14). 
Se não quisermos recuar tanto no tempo, o mesmo esforço de diálogo com 
esta questão pode ser facilmente constatado se consideramos o processo de 
formação da nossa própria sociedade, isto é, a sociedade brasileira quando vista 
em sua totalidade. Na tentativa de explicar os elementos que contribuíram para a 
formação sócio-histórica da nossa identidade nacional, são antigas as 
pressuposições que alegam termos herdados a “preguiça” dos índios, a 
“lascividade” dos negros e a “estupidez” dos portugueses. 
Antropologia Cultural 
 
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Nesta mesma linha de raciocínio, são velhas também um conjunto de imagens 
que circulam no nosso senso comum e que atribuem capacidades ou 
características inatas a diferentes grupos humanos sejam eles, parte integrante da 
nossa própria sociedade, sejam eles, oriundos de outros lugares do mundo. Desta 
forma, fala-se com frequência que os mineiros são por natureza “desconfiados”, os 
baianos “lentos” e “preguiçosos”, enquanto que os paulistas são “sérios” e 
“trabalhadores” ao passo que os cariocas são “brincalhões” e “espertos”. Do mesmo 
modo, afirma-se com recorrência que os judeus são “negociantes” e “avarentos”, 
que os americanos são “empreendedores” e “interesseiros”, que os japoneses são 
“traiçoeiros”, “cruéis” e “disciplinados”, que a raça branca é mais “inteligente” e 
“desenvolvida” do que a raça negra. 
 
Esta mesma lógica de raciocínio parece se fazer presente até mesmo quando 
procuramos explicar diferenças pontuais em termos das atitudes, comportamentos 
e escolhas individuais. Com muita regularidade, afirma-se, por exemplo, que 
“Fulano nasceu com a matemática nas veias” para justificar e explicar as habilidades 
de um indivíduo em operar com o raciocínio lógico. De modo semelhante, diz-se 
que “Beltrano tem um dom natural para a pintura, pois herdou esta qualidade do pai” 
ou que “Cicrano tem sangue azul nas veias” para distinguir a posição social de um 
indivíduo diante de outro a partir da condição econômicaou cultural, por exemplo. 
Além disto, frases como “a raça caça”, “tal pai, tal filho”, “graveto não caí longe 
do pau”, “filho feio não tem pai” são metáforas populares que também ilustram o 
mesmo modo de se proceder quando se trata de explicar modos de conduta, 
temperamentos e personalidades individuais à luz de características supostamente 
derivadas da transmissão genética. Nesta direção, são comuns frases do tipo “Meu 
filho tem este temperamento difícil, pois, herdou a teimosia do avô” ou “Por mais que 
se tente mudar, fulano continua agindo com a mesma agressividade herdada do pai”. 
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De um modo ou de outro, em todos estes exemplos, o comportamento 
humano, apesar de sua enorme variedade de formas, parece estar sempre 
condicionado e determinado, seja por fatores internos a ele impostos por sua 
própria natureza genética – o chamado determinismo biológico – seja por fatores 
externos derivados da sua relação com o meio ambiente – o chamado 
determinismo geográfico. 
Quando inserida dentro deste contexto, a resposta a nossa questão inicial 
parece reforçar a perspectiva que tende a conceber a cultura como um produto 
derivado de aptidões inatas transmitidas ao homem por mecanismos 
geneticamente herdados, ou então, e correlativamente, como um produto 
decorrente das respostas dadas pelo homem aos vários desafios colocados pelas 
intempéries da natureza (vendavais, tempestades, terremotos, secas, glaciações, 
maremotos, vulcões, etc) à sua sobrevivência. 
Decorre desta perspectiva uma “visão instrumentalista ou utilitarista da cultura” 
(Da Matta, 1987:41) segundo a qual o homem teria sido feito aos poucos a partir de 
uma série de “estratos” que foram se sobrepondo um ao outro, até que finalmente, 
ele atingisse sua forma definitiva. Assim, num primeiro momento, há o predomínio 
do plano físico e biológico, onde o homem embora sendo parte da natureza, com 
ela precisa solitariamente lutar para garantir a sua sobrevivência em um ambiente 
hostil e ameaçador. 
Em seguida, há o predomínio do plano social e cultural, no qual o homem 
enquanto espécie viva aparece como um ser gregário que, dotado de uma 
inteligência superior em relação aos demais animais consegue, através do exercício 
de suas capacidades mentais biologicamente herdadas, aprender pela experiência 
a dominar a natureza se adaptando assim, ao conjunto de desafios que lhe são por 
ela impostos no meio em que vive. 
Antropologia Cultural 
 
44 
 
O problema de explicar a diversidade do comportamento humano a partir 
deste tipo de visão fortemente ancorada em um viéis determinista é que quase 
sempre ela desemboca em uma espécie de reducionismo naturalista que tende a 
conceber o homem como um ser meramente instrumental que se fez em oposição 
à natureza, tendo como único e exclusivo propósito a intenção de dominá-la 
através do desenvolvimento de recursos tecnológicos, que se supõe conduzi-lo a 
evolução e ao progresso. 
Calcado neste tipo de perspectiva, nosso olhar fica obscurecido e deixa de 
enxergar a diferença como um dado que constitui, inexoravelmente, o humano. 
Trabalha-se com universalidades e generalidades que, uma vez, focalizando 
exclusivamente o homem em detrimento das sociedades e das culturas, nos 
impedem de perceber as particularidades sob as quais se fundam as relações 
humanas e o caráter singular que define as maneiras pelas quais elas se inscrevem 
no mundo social em sua totalidade. 
Assim, desconsidera-se o aspecto dialético que 
constitui e envolve a dinamicidade destas relações, o 
que nos possibilitaria perceber como o homem 
atuando sobre a natureza, transformou também a si 
mesmo, criando formas diversas de organização social, 
reelaborando seus esquemas cognitivos e emocionais 
e resignificando com novos sentidos sua experiência 
vivida ao se colocar no mundo. 
Apesar de todos estes equívocos é importante ressaltar que, durante um longo 
período da história das sociedades humanas, as teorias de cunho deterministas se 
firmaram como fonte legítima de explicação para a diversidade das formas de 
comportamento e modos de conduta adotados pelo homem na vida social. Isto 
conduziu não apenas a atitudes marcadas pela intolerância e pela intransigência 
no convívio com a diferença, como serviu também, como um instrumento político 
de dominação cultural de uma sociedade em face de outra. 
Dialética: Arte do diálogo, da 
discussão e da argumentação. 
Refere-se também ao 
desenvolvimento de processos 
gerados por oposições que 
provisoriamente se resolvem 
em unidades. 
Antropologia Cultural 
 
45 
 
Além disto, por meio delas, as teorias racistas ganharam um forte impulso e 
por muito tempo, contribuíram para justificar a dominação colonial e legitimar a 
crença na supremacia de uma raça e/ou cultura tida como superior sobre outra 
considerada como inferior. Em alguns momentos da história, esta justificativa foi 
inclusive respaldada pelo próprio campo intelectual como bem ilustra, a teoria 
desenvolvida pelo criminalista italiano, Cesare Lombroso (1853-1909), ao propor 
uma correlação de sentido entre a tendência para comportamentos criminosos e 
desviantes e a aparência física dos indivíduos. 
Nesta mesma linha de raciocínio, tanto a escravização negra, como a 
pacificação indígena, quanto o extermínio judeu pelo nazismo, dentre tantos 
outros fatos da história, constituem exemplos, que nos servem como balizadores 
deste uso político das teorias deterministas e apontam para as consequências 
trágicas geradas sobre a vida social em decorrência da sua plena propagação e 
aceitação como fonte de explicação para o problema da diversidade cultural. 
 
A partir do século XIX as teorias deterministas e todo o tipo de racismo dela 
decorrente começaram a ser alvo de uma série de críticas que lhe foram dirigidas 
pelas então recém estabelecidas Ciências Sociais. Estas críticas entraram na pauta 
de discussão das várias disciplinas inseridas no âmbito destas ciências, e 
conduziram a uma nova forma de se conceber a cultura contribuindo para que a 
mesma efetivamente se legitimasse do ponto de vista teórico como um campo de 
investigação especialmente tratado pela Antropologia. 
Relatos etnográficos produzidos pela Antropologia a partir deste período a 
respeito dos diferentes povos do mundo nos dão conta da inconsistência destas 
teorias para a explicação do comportamento humano quando se leva em 
consideração, a dualidade que mencionamos anteriormente entre a unidade 
biológica da espécie humana e a diversidade cultural. 
Antropologia Cultural 
 
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Desta forma, diferentemente de uma perspectiva 
ancorada no predomínio das teorias deterministas, a 
posição da moderna Antropologia tem se estruturado 
em outras bases de reflexão. O seu esforço tem sido no 
sentido de mostrar que diferenças mesológicas ou 
somatológicas não explicam por si só a diversidade 
do comportamento humano. Se assim o fosse, não 
poderíamos explicar, por exemplo, como a divisão 
social do trabalho pôde se diferenciar tanto de uma 
sociedade para outra, como também, no interior de 
uma mesma sociedade a depender da época histórica considerada. 
Neste ponto, o que se observa é que o disformismo sexual que caracteriza 
fisiologicamente a espécie humana, não foi capaz de, por si mesmo, estabelecer 
critérios rígidos e homogêneos para a divisão das tarefas a serem desempenhadas 
por homens e mulheres na vida social. Muito pelo contrário, a despeito das 
diferenças de gênero, o homem distribuiu de forma extremamente heterogênea o 
conjunto destas tarefas como nos indica, por exemplo, a atual incorporação e 
participação

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