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tributario 1 - aula 1

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CAPÍTULO 1 - O DIREITO TRIBUTÁRIO
1. Considerações gerais
Para satisfação completa de suas necessidades, ainda que num plano ideal, o homem (indivíduo) reclama a existência de um ente coletivo (político) e impessoal, nascido, por assim dizer, como imperativo do viver em sociedade. Este ente político – representação política da coletividade – a que designamos por Estado, adquire personalidade e representa o poder superior a quem incumbe estipular as regras de convívio social e o cumprimento de diversas atividades de interesse coletivo. Em razão da sua natureza, o Estado passa a ser dotado de soberania em relação aos indivíduos, impondo-se a regra de que “o interesse coletivo deve prevalecer sobre o interesse individual”.
Modernamente, o Estado tem assumido diversas funções, somente justificadas e compreendidas historicamente, quais sejam as garantias sociais de segurança, educação, previdência e assistência social, etc. A esse respeito merece citação o ilustre tributarista Aliomar Baleeiro, quando diz que “com o progresso da civilização acentua-se no Estado, além da função de órgão político monopolizador do poder, o caráter de sistema orgânico de serviços públicos para satisfazer as necessidades gerais da população”.[1: 	 Uma Introdução à ciência das finanças, 6ª Edição, Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1969, p. 16]
Naturalmente, para consecução de seus objetivos sociais, pelos quais o Estado se justifica, são necessários recursos materiais, notadamente monetários, em quantidade suficiente. Estes recursos, como veremos, o Estado pode obtê-los, ora oferecendo determinados serviços ou produtos, em condições idênticas aos particulares, ora exigindo destes, na sua qualidade de poder soberano, determinadas somas pecuniárias.
Assim, a ação estatal que dá suporte financeiro para que o Estado cumpra as suas finalidades, se desenvolve em três campos: o da Receita Pública, o da Gestão e o da Despesa Pública. Esta ação estatal denomina-se Atividade Financeira do Estado.
A Atividade Financeira do Estado compreende:
Receita Pública  obtenção dos recursos financeiros junto aos particulares
Gestão  administração dos recursos obtidos
Despesa Pública  o emprego ou aplicação dos recursos obtidos
Walter Paldes Valério nos trás o seguinte conceito de atividade financeira do Estado: “o conjunto de atos que o Ente Público pratica visando à obtenção, à administração e à aplicação dos recursos monetários indispensáveis à consecução de seus fins”. (sublinhamos)[2: 	 Programa de Direito Tributário – Parte Geral , 11ª Edição, Porto Alegre, Ed. Sulina, 1993]
1.1 As receitas públicas e sua classificação
Obviamente, dos três campos em que se desenvolve a atividade financeira do Estado, apenas o da Receita Pública assume relevância para o estudo do Direito Tributário.
Para Aliomar Baleeiro, receita pública é a entrada de recursos que, “integrando-se no patrimônio público sem reservas, condições ou correspondência no passivo, vem acrescer seu vulto, como elemento novo e positivo”. Logo, é importante salientar que receita pública não se confunde com entrada de recursos. Esta seria gênero, aquela seria espécie, uma vez que existem entradas ou ingressos de recursos que correspondem a meros “créditos de caixa”, como cauções, fianças, depósitos judiciais, empréstimos contraídos, que são representativos de entradas provisórias que devem ser, oportunamente, devolvidas.[3: 	 Obra citada, p. 130.]
Portanto, os ingressos públicos constituem a generalidade das quantias recebidas pelo órgão estatal, mesmo que tenham caráter transitório, ao passo que as receita públicas são recebidas em caráter definitivo, significando um acréscimo ao patrimônio público.
A Receita Pública classifica-se em originária e derivada. (Classificação Alemã)
Receita Pública originária  é a decorrente da exploração de bens pertencentes ao patrimônio do Estado ou de empreendimentos por ele realizados. Para obtenção destas receitas, o Estado se utiliza do jus gestiones (Direito de Gestão).
Receita Pública derivada  é obtida pelo Estado por meio de sua soberania, a qual o autoriza a exigir parte do patrimônio dos particulares como forma de manter as suas finalidade sociais. Para obtenção destas receitas o Estado manifesta o seu jus imperii (Poder de império).
Como forma de se distinguir a receita originária da derivada, podemos observar que a primeira decorre de um acordo de vontades entre o Estado e o particular, ao passo que na segunda prevalece única e exclusivamente a vontade do Estado, este autorizado pelo mandamento legislativo, independentemente da vontade do particular.
Outra característica distintiva é o fato de que na obtenção da receita originária o Estado abre mão do seu jus imperii e se iguala aos particulares, enquanto que na obtenção da receita derivada ele efetivamente exerce sua soberania e se coloca acima dos particulares, como poder soberano que é.
E ainda, semanticamente: originária, a receita parte daquilo que já pertence ao Estado (seu próprio patrimônio - bens ou recursos); derivada, a receita parte daquilo que não pertence ao Estado (patrimônio dos particulares).
A Receita Pública originária pode ser ainda subclassificada em patrimonial ou empresarial. A primeira, quando o Estado vende bens de seu patrimônio ou em razão de contrato percebe seus frutos, tais como aluguéis e arrendamentos de bens imóveis, e ainda, quando recebe juros de aplicações financeiras de seus capitais. A segunda, quando proveniente dos lucros obtidos por empresas públicas, em razão da venda de produtos ou serviços aos particulares.
A Receita Pública derivada se divide em:
tributos
reparações de guerras
penas pecuniáriaS (multas)
Naturalmente, para a finalidade do nosso estudo, interessam-nos os tributos, cujo conceito conheceremos mais adiante.
2. Conceito
As receitas públicas se classificam em originárias e derivadas e que, dentro do grupo das receitas derivadas, se encontram os tributos, as multas e as reparações de guerra. Entendendo também que, para a obtenção das receitas tributárias, surge um vinculo jurídico entre o Estado (sujeito ativo) e o particular (sujeito passivo) com vistas ao cumprimento da prestação pecuniária decorrente desta relação, fica fácil compreender o conceito de DIREITO TRIBUTÁRIO. Vejamos:
“Direito Tributário é ramo do Direito que tem por objeto regular as relações jurídicas entre o Estado e os particulares no que diz respeito à obtenção das receitas derivadas classificadas como tributos”.
Veja a seguir algumas definições oferecidas por ilustres doutrinadores pátrios:
Direito Tributário é o ramo do direito público que rege as relações jurídicas entre o Estado e os particulares, decorrentes da atividade financeira do Estado, no que se refere à obtenção de receitas que correspondam ao conceito de tributos. (Rubens Gomes de Souza)
Direito Tributário é o sub-ramo do direito público que fixa os princípios e normas que regem as relações entre o Estado e os particulares, no que toca à atividade financeira daquele, tendo em vista a arrecadação de tributos. (Geraldo Ataliba)
Direito Tributário é a disciplina da relação entre o Fisco e o Contribuinte, resultante da imposição, arrecadação e fiscalização dos impostos, taxas e contribuições. (Ruy Barbosa Nogueira)
3. Objeto do direito tributário
Do conceito dado de Direito Tributário, temos que é ele o ramo do Direito que tem por objeto regular as relações jurídicas entre o Estado e os particulares no que diz respeito à obtenção das receitas derivadas classificadas como tributos. Logo, constitui o seu objeto a relação jurídica tributária que se estabelece entre o Fisco (Estado) e o sujeito passivo (particular), pela qual se torna possível a exigência do tributo.

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