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AULA 5 - Responsabilidade Social e Empresarial

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RESPONSABILIDADE SOCIAL 
EMPRESARIAL 
AULA 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Cora Catalina 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta quinta aula, abordaremos como foco principal questões 
relacionadas à sociedade e à gestão. No primeiro tema, sobre a sociedade 
moderna, trataremos a respeito da importância da cultura organizacional para o 
desenvolvimento da sustentabilidade e quais os procedimentos de 
implementação. No segundo tema, falaremos sobre a qualidade ética do 
terceiro setor e as quatro dimensões para as decisões éticas propostas por 
Hugo F. Alroe. O terceiro tema estará centrado na gestão social e no 
investimento social privado. No quarto tema, abordaremos o 
empreendedorismo social e a inovação, quando conheceremos estudos de 
caso de empreendedorismo social. E, finalizando a aula, no quinto tema, 
apresentamos os principais desafios do terceiro setor e o papel do gestor 
quanto à responsabilidade social. 
CONTEXTUALIZANDO 
A sociedade moderna é o reflexo de conquistas fantásticas e avanços 
alcançados com o desenvolvimento do capital humano. As transformações nos 
sistemas de produção e trabalho desafiam os gestores, analistas e 
pesquisadores da escola de administração acerca dos rumos que as 
organizações vêm tomando e para onde vão. O que é uma certeza indiscutível 
é que, cada vez mais, as organizações privadas, públicas e o terceiro setor 
precisam trabalhar em conjunto. Nesse aspecto, esta aula nos possibilita 
aprofundar o conhecimento sobre as responsabilidades do terceiro setor, os 
desafios e conhecer instrumentos de gestão disponíveis para profissionais de 
responsabilidade social. 
TEMA 1 – SOCIEDADE MODERNA, CULTURA ORGANIZACIONAL E 
SUSTENTABILIDADE 
Para compreender como a gestão da sustentabilidade empresarial e 
responsabilidade social (RS) vêm se inserindo nas organizações, sob a ótica 
da sociologia e antropologia, analisaremos como acontecem os processos de 
mudança cultural na sociedade moderna. 
 
 
3 
Vejamos o exemplo apresentado pela professora da PUC-SP, Dra. Maria 
da Conceição Golobovante (2010): “Antes, o argumento principal de uma 
empresa dirigida ao seu público era do tipo ‘compre de mim porque sou a sua 
melhor opção’, agora argumenta-se: ’perceba como sou bom porque sou 
sustentável e realizamos diversos projetos sociais e ambientais, portanto, fale 
bem de mim por aí’”. Esse exemplo certamente não representa a totalidade, 
entretanto é uma forma de possibilitar análises de pensamento de gestores que 
têm uma visão crítica sobre o assunto. Segundo a mesma autora: 
Para os céticos de plantão, que remetem a questão da 
sustentabilidade e a RS a um signo de perfumaria das empresas para 
sua lucratividade, por acreditarem que não haverá mudanças 
estruturais enquanto os fundamentos do modo de produção 
capitalista não forem revistos,achamos por bem inverter essa 
equação e propor que,por ser também plástico, múltiplo e dinâmico, o 
sistema capitalista comportaria uma nova lógica de consumo e 
produção capaz de promover prosperidade nos limites que o 
ambiente impõe. (Golobovante, 2010, grifo do original) 
Essa proposta de uma “nova lógica de consumo e produção” é o ponto-
chave na sociedade moderna. E requer, na sua essência, a mudança de 
cultura. Nas ciências da antropologia e da sociologia, a cultura consiste no que 
se entende por sociedade, uma vez que na cultura se insere a vida social. Por 
meio da cultura se expressam as maneiras de viver, os hábitos, crenças, o 
trabalho, o lazer, as aspirações de liberdade e esperança. 
Nas sociedades tradicionais, a cultura se fundamenta basicamente em 
valores reguladores, normas e dogmas. Para Fernandes (1989), na sociedade 
da modernidade, a vida passa a ser atraída por múltiplas dimensões culturais e 
uma das mais relevantes é a difusão da ciência e da tecnologia, a qual vem 
alterando toda a cultura global e a forma de convivência humana. 
Segundo Fernandes (1989, p. 131), 
A cultura da modernidade deve ser concebida como um sistema que 
tende para um novo equilíbrio, onde a visão científica e o poder 
tecnológico formam esta nova sociedade, providas de um caráter 
dinâmico e integradores de novas mentalidades”. E onde, além do 
poder das novas tecnologias, a vida social se forma também de um 
vasto simbolismo, de imaginação, criatividade e inovação. 
Para Golobovante (2013), 
a cultura, tal como entendem os antropólogos, não é algo que se 
produz numa empresa ou se leva para dentro dela. É um sistema de 
símbolos e significado de domínio público, em cujo contexto as 
 
 
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tarefas e práticas de determinado grupo podem ser descritas de 
forma inteligível para as pessoas que dela participam ou não. 
Pode-se compreender assim que, na busca pelo equilíbrio entre razão e 
emoção, provocado pela necessidade de cuidar dos recursos naturais do 
planeta e das pessoas, o desenvolvimento da cultura da sustentabilidade tenha 
encontrado o ambiente nas organizações. Para Golobovante (2013, p. 2): 
a sustentabilidade evocaria nas empresas uma espécie de “ética de 
perpetuação da humanidade e da vida”, claramente traduzida pelo 
uso mais responsável dos recursos ambientais. Ao assumir esse nível 
de compromisso, os empresários fazem um movimento inédito 
enquanto classe patronal que é tornar público, se expor e assumir 
responsabilidades que implicam mais do que discursos, investimentos 
ou boa vontade das altas administrações, implica mudanças 
profundas na própria cultura das organizações. 
Sendo a cultura a essência e onde se encontra o cerne da sociedade, 
estudiosos em gestão organizacional consideram que a cultura deve ser uma 
das dimensões da sustentabilidade e não pode ser dissociada das três 
dimensões: social, ambiental e econômica. Para o economista Ignacy Sachs, 
criador do conceito ecodesenvolvimento, dentre as dimensões do 
desenvolvimento sustentável está a dimensão cultural: 
que significa as mudanças no interior da continuidade (equilíbrio entre 
respeito à tradição e inovação), capacidade de autonomia para 
elaboração de um projeto nacional integrado e endógeno (em 
oposição às cópias servis dos modelos alienígenas) e autoconfiança, 
combinada com abertura para o mundo” (Sachs, 2009). 
É importante fomentar a criação de um grupo de trabalho (GT) para 
planejar o desenvolvimento de uma cultura organizacional para a RS e a 
sustentabilidade. Veja como fazer: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 1 – Grupo trabalho (GT) para o desenvolvimento da cultura 
organizacional em responsabilidade social 
 
O gestor de responsabilidade social tem a importante atribuição de 
promover e incentivar o processo de desenvolvimento da cultura organizacional 
voltada para o conhecimento, fortalecimento dos relacionamentos positivos, 
ética, transparência, motivação e comprometimento dos stakeholders, 
objetivando que projetos de RS sejam implementados e que os resultados 
sejam monitorados e avaliados com sucesso. 
TEMA 2 – SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE ÉTICA DO TERCEIRO SETOR 
As organizações da sociedade civil (OSCs) já totalizam mais de 820 mil 
no Brasil, segundo estudo lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica 
Aplicada (IPEA), em abril de 2018. A publicação, que se intitula “Perfil das 
organizações da sociedade civil do Brasil” (Lopez, 2018) revela que um dos 
aspectos identificados é que as OSCs são formadas majoritariamente por 
organizações sem vínculos de trabalho formal: 
83% não apresentam vínculos formais de emprego; outros 7% delas 
têm até dois vínculos de trabalho, totalizando 90% de OSCs que 
possuem até dois vínculos. Outro ponto levantado pelo estudo é área 
de atuação das OSC que são “desenvolvimento edefesa de direitos e 
interesses” e “religião”, são as principais finalidades das organizações 
(Nova..., 2018) 
De acordo com Félix Garcia Lopez, coordenador do Mapa das OSCs e 
técnico de planejamento e pesquisa do IPEA, 
 
 
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Sabemos que as OSCs têm atuação decisiva nas discussões da 
esfera pública e na execução de ações de interesse público, mas não 
temos ainda dados sistemáticos que possibilitem compreender 
melhor o setor, em diferentes aspectos. Com informações detalhadas 
sobre as OSCs, os gestores públicos, por exemplo, terão mais 
facilidade para definir políticas em parceria com as organizações. É 
extremamente relevante para a gestão municipal, por exemplo, saber 
a disponibilidade de organizações, por finalidades, no território 
(Nova..., 2018) 
Essas informações nos possibilitam analisar aspectos importantes sobre 
o terceiro setor no Brasil, principalmente sob três aspectos essenciais para a 
área de responsabilidade social: 
1. o crescente aumento de OSCs, uma vez que em 2010 eram 
aproximadamente 300 mil, segundo pesquisa realizada pelo IBGE e 
fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil 
(FASFIL); 
2. elevada taxa de porcentagem de pessoas que não apresentam índices 
formais de emprego (83%); 
3. a relevância do trabalho realizado pelas OSCs para o desenvolvimento 
de políticas públicas. 
Sob a ótica da responsabilidade compartilhada, Jonas (citado por 
Alencastro, 2015, p. 119), afirma que “as imensas mudanças advindas do 
poder tecnológico alteraram completamente as dimensões espaço-temporais 
do agir humano, projetando as consequências e as necessidades de uma 
radical responsabilidade”. Uma resposta possível pode estar na perspectiva 
sistêmica para as decisões éticas, proposta por Alroe (citado por Alencastro, 
2015, p. 120), segundo o qual, “As decisões éticas se dão a partir de quatro 
dimensões fundamentais: responsabilidade, preocupação, capacidade de ação 
e consciência”. 
Na visão de Alroe (citado por Alencastro, 2015), “a responsabilidade é 
considerada uma questão moral, geralmente restrita à pessoa, no seu 
entendimento individual, mas que pode ser ampliada, como geralmente ocorre 
em grupos que se organizam” e, nesse caso, em OSCs ao trabalhar em torno 
de uma causa comum e para um bem coletivo. “A preocupação diz respeito a 
quem está submetido às consequências da ação” (Alroe, citado por Alencastro, 
2015). Tomemos, por exemplo, uma OSC que atue no apoio ao 
desenvolvimento da saúde pública da comunidade local: sua preocupação está 
 
 
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voltada para a melhoria das condições de saneamento básico, erradicação da 
mortalidade infantil, aspectos de melhores condições de alimentação e 
moradia, entre outros. A capacidade de ação está no potencial de geração de 
danos ambientais que se têm em mãos e que se relacionam com as 
consequências das ações. 
Ainda considerando a OSC que atua em saúde pública, questões como 
a qualidade da água, alimentação saudável e serviços médicos e infraestrutura 
adequados são prioridade. O autor (Alroe, citado por Alencastro, 2015) 
relaciona a consciência às consequências das ações realizadas, podendo ser 
intencionais ou não. É possível correlacionar isso com o exemplo sobre o 
feedback recebido pela comunidade em relação às atividades realizadas pela 
OSC em benefício da saúde. E também pelas ações que deixou de realizar. 
Estariam sob a responsabilidade da consciência o que foi feito e o que deixou 
de ser feito. 
As responsabilidades de uma organização, seja do governo, das 
empresas ou do terceiro setor, envolvem lidar com a transformação. Daí a 
importância de perceber que a sustentabilidade significa desenvolver um 
sistema de responsabilidades éticas, tanto na esfera individual quanto na 
esfera coletiva. Em um plano, como pessoas inseridas na sociedade; em outro, 
como profissionais que fazem parte de uma organização. 
Saiba mais 
Assista ao filme Quanto vale ou é por quilo, disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=fZhaZdCqrHg>. 
Baseado na obra de Machado de Assis, trata-se de uma analogia entre o 
antigo comércio de escravos no Brasil e a atual exploração da miséria por meio 
de uma ONG de ética duvidosa, que pratica a solidariedade de fachada. A ONG 
implanta o projeto Informática na periferia em uma comunidade carente. 
Arminda, que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados 
foram superfaturados e, por causa disso, precisa agora ser eliminada. Candinho, 
um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel 
para conseguir dinheiro para sobreviver. O filme é uma crítica ao funcionamento 
de ONGs de fachada. 
 
 
 
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TEMA 3 – GESTÃO SOCIAL E INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO 
A história do terceiro setor no processo de participação e engajamento 
social leva a compreender sua relevância enquanto agentes de mudança para 
a responsabilidade cidadã, inclusive por novas formas de empregabilidade. Seu 
desenvolvimento trouxe consigo uma avalanche de questionamentos tanto para 
os governantes quanto para empresários e a sociedade como um todo, devido 
à mobilização global e local, denúncias, manifestos, passeatas, que 
fortaleceram a liberdade de expressão em relação aos sistemas de produção 
vigentes, a governabilidade e a gestão de políticas públicas estabelecidas 
durante décadas. 
Na primeira aula desta disciplina, apresentamos os tipos de entidades do 
terceiro setor (OSCs, ONGs, OSCIPs, OS, Associações, Institutos, Fundações, 
entre outras) e o papel do investimento social privado, oriundo de empresas 
privadas. Trazemos aqui o exemplo de gestão de investidores sociais, formado 
por institutos, fundações e empresas se institucionalizaram, criando a Rede 
GIFE: 
A Rede Gife é formada pela diversidade de seus associados, tanto na 
origem – podendo ser empresarial, familiar, independente ou uma 
organização comunitária. São atualmente 137 associados que 
investem por volta de R$ 2,9 bilhões por ano na área social, operando 
projetos próprios ou viabilizando os de terceiros (Gife, S.d.) 
A Gife disponibiliza instrumentos de gestão, dentre os quais destacamos 
dois deles: 
Mapa das OSCs [...]: oferece uma série de funcionalidades voltadas 
tanto para as organizações, como para gestores públicos, 
investidores sociais, pesquisadores do setor que queiram conhecer 
mais esse universo. Há, por exemplo, uma página especial com 
editais de seleção de projetos abertos por setores público e privado 
que preveem a contratação ou atuação de OSCs em projetos. 
[...] 
Indicadores Gife de governança: instrumento de autodiagnóstico 
online que permite a associações e fundações avaliar o grau de 
desenvolvimento de sua governança e é elaborado em parceria com 
o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). (Mapa..., 
2018) 
Segundo o Gife (Gife..., 2016), o Mapa das OSCs foi criado a partir do 
Decreto n. 8.726/2016, que regulamenta a Lei n. 13.019/2014 conhecida como 
Marco Regulatório das OSCs e é gerido pelo Instituto de Pesquisa Econômica 
Aplicada (IPEA). É uma plataforma virtual colaborativa com dados de todo o 
 
 
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Brasil visando à transparência da atuação, principalmente, sobre os projetos 
em parceria com a administração pública. O objetivo é disponibilizar dados, 
fomentar pesquisas sobre OSCs e apoiar os gestores públicos a tomarem 
decisões sobre políticas públicas que já têm ou possam ter interface com 
OSCs. 
Saiba mais 
Assista ao vídeo “Em movimento – 20 anos de investimento social no 
Brasil”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=596&v
=PP8M830ZZx8>. 
TEMA 4 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL 
O novo cenário de mudanças na empregabilidade e formas de trabalhoestá nas rodas de debate atual. Ao mesmo tempo, observa-se a necessidade 
de contribuição para realizar impactos sociais positivos com um negócio. São 
negócios sociais realizados por organizações ainda sem legislação específica 
no Brasil e que visam ser autossustentáveis do ponto de vista financeiro, 
reinvestindo seus lucros em si mesmas e gerando impacto positivo na 
sociedade, num ciclo virtuoso. Existem diversos formatos, alguns mais 
próximos do terceiro setor e outros com “mais cara de empresa”. O setor de 
serviços é o dominante: 
desde um tradutor simultâneo gratuito de linguagem de sinais a 
reformas habitacionais em comunidades carentes, passando por 
oferta de microsseguros e turismo sustentável, todos estão 
desbravando novas fronteiras legais, tecnológicas, econômicas e 
sociais. É uma escolha de vida que frequentemente envolve salários 
pouco (ou nada) astronômicos, agendas cheias e constantes alertas 
financeiros e comportamentais. (Força..., 2018) 
Empreendedorismo social, uma expressão que significa um negócio 
lucrativo e que ao mesmo tempo traz desenvolvimento para a sociedade, vem 
sendo desenvolvido por uma nova geração de empreendedores que pautam 
sua estratégia em valores sustentáveis. Ao criarem as chamadas empresas 
sociais, diferentes das ONGs ou de empresas comuns, os empreendedores 
encontram soluções para problemas sociais. Os negócios sociais oferecem 
produtos e serviços de qualidade à população excluída do mercado tradicional, 
ajudando a combater a pobreza e diminuir a desigualdade. 
 
 
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O foco está nas áreas de inclusão social, geração de renda e melhoria 
da qualidade de vida. São exemplos a organização internacional Artemisia, a 
Ashoka, pioneira no campo da inovação social, e a Fundação Schwab, 
responsável pelo prêmio Empreendedor Social no Brasil. 
(Empreendedorismo..., 2012). 
5.1 Caso Programa Vivenda 
 O Programa Vivenda é inédito no Brasil por ter aplicado uma forma de 
captação de recursos que vai permitir que cerca de 8 mil famílias de baixa 
renda de São Paulo tenham a possibilidade de reformar suas moradias de 
forma parcelada e com juros baixíssimos. A captação foi de 5 milhões, que 
serão aplicados para dar crédito com juros baixos a famílias de classe D, 
moradores das periferias, no período de cinco anos. 
A Vivenda é uma empresa de pequeno porte especializada em reformas 
para baixa renda, identificada como uma startup que busca o impacto 
socioambiental. Esses empréstimos serão a garantia para ajudar a compor a 
remuneração que os investidores profissionais do programa receberão, que 
será de 7% ao ano (Pamplona; Brant, 2018). 
Inovação social é uma expressão utilizada para descrever uma nova 
abordagem às parcerias público-privadas que visam incentivar descobertas de 
técnicas e metodologias que propiciem verdadeiramente a transformação 
social: 
Podem ser desenvolvidas com a participação da população e, quando 
aplicadas no seu cotidiano, vão gerar soluções simples para a 
transformação social e melhoria das condições de vida. A Inovação 
Social funciona como uma estratégia para o desenvolvimento 
sustentável. (Gonçalves, 2010) 
Segundo Gonçalves (2010), “um número crescente de empreendedores 
sociais já deixou sua marca na inovação social”. Muhammad Yunus, fundador 
do Grameen de Bangladesh, um banco de microcrédito e ganhador do prêmio 
Nobel da Paz em 2006, é um exemplo global de empreendedor social. Yunus 
diz: 
O Banco Grameen possui hoje nove milhões de mutuários, 97% deles 
mulheres. É um banco de propriedade de mulheres pobres, diz ele. “A 
taxa de pagamento é de 99,6% e nunca caiu abaixo disso em nossos 
oito anos de experiência.” Parte de sua expansão para países ricos 
 
 
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inclui um programa nos EUA: 19 agências em 11 cidades, incluindo 
oito em Nova York. “Temos quase 100.000 clientes e 100% mulheres. 
(Cosic, 2017) 
 “Promover o empreendedorismo social é a solução”, diz Yunus (Cosic, 
2017). E seu conceito de negócios sociais – criado para objetivos pró-sociais, 
não lucro – é a solução para problemas sociais e ambientais causados pela 
intensa competição capitalista. Ele cita o exemplo de algumas empresas 
pioneiras que estão adotando isso: “A Danone, empresa francesa de laticínios, 
foi uma das primeiras a concordar em formar a Danone Grameen, em 2007, 
para produzir iogurte fortificado para crianças desnutridas em Bangladesh” 
(Cosic, 2017) e destaca: 
A maior parte do investimento nessas parcerias vem das empresas, 
que não esperam lucro: só recuperam o valor do investimento durante 
um período de tempo. “Nós participamos de maneira simbólica”, diz 
Yunus. "Mil euros ou algo parecido, mas permitimos que o nome seja 
anexado à empresa para mostrar que esse é um negócio social 
genuíno”. (Cosic, 2017) 
 Dessa maneira, podemos observar que gestores em responsabilidade 
social têm a oportunidade de realizar importantes transformações 
socioambientais, contribuindo para o desenvolvimento do empreendedorismo 
social e o investimento social privado. 
TEMA 5 – DESAFIOS DO TERCEIRO SETOR 
 De acordo com Toro (2000), 
Uma sociedade vai-se convertendo em nação à medida em que é 
capaz de responder proativamente aos desafios que lhe apresenta a 
história. A construção de uma nação segue o processo similar ao da 
construção da personalidade humana: vai sendo configurada de 
acordo com a capacidade que a pessoa tem em dar respostas aos 
desafios que lhe apresenta a vida. 
José Bernardo Toro, filósofo e educador colombiano e um dos mais 
importantes pensadores da educação e democracia na América Latina, 
apresenta a ideia inicial sobre o papel do terceiro setor em sociedades de baixa 
participação e aponta para a necessidade de encontrar um ponto orientador em 
relação ao conjunto das múltiplas ações institucionais que o terceiro setor 
executa, que vão desde 
os processos de autodesenvolvimento por intermédio de formas 
associativas de base, tais como organizações comunitárias e 
 
 
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empresas de autogestão e também; pela diversidade de ações de 
acompanhamento e serviços que disponibiliza o terceiro setor por 
meio da assistência social, atendimentos emergenciais, assessoria, 
treinamento, apoio financeiro, entre outros. (Toro, 2000, p. 35) 
Antes de dar continuidade ao pensamento de Toro, vamos compreender 
o significado de nação, utilizando o conceito atribuído por Anderson, autor do 
livro Comunidades imaginadas (2008): 
Nação é o valor de maior legitimidade universal na vida política 
moderna [...] Nações são comunidades imaginadas na medida em 
que, independentemente das hierarquias e desigualdades existentes, 
sempre se concebem como estruturas de camaradagem horizontal, 
onde a ideia do “nós” coletivo se estabelece, irmanando relações em 
tudo distintas. 
Pode-se compreender, assim, que o termo nação está intrinsecamente 
ligado ao desejo de viver em conjunto e perpetuar a identidade e simbolismos 
comuns às comunidades. Assim sendo, vamos ao retomar ao argumento 
apresentado por Toro (2000, p. 35), que dá ênfase à baixa participação da 
sociedade: “o terceiro setor precisa enfrentar dois grandes desafios: constituir 
uma ordem de convivência democrática e converter o país para que não haja 
pobreza interna”. As teses desse autor se baseiam em três funções do terceiro 
setor: 
Figura 2 – Funções do terceiro setor nos países de baixa participação 
 
Fonte: Toro, 2000, p. 36-39. 
1. Contribuir para a formação e fortalecimento de atitudes 
cidadãs.
2. Contribuir para reinstitucionalizar a esfera pública visando 
aumentar a igualdade e fortalecer a governabilidade.
3. Criar condições para tornar possível a democracia cultural.
 
 
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A formação e o fortalecimento de atitudescidadãs podem ser 
fomentadas com incentivos para projetos de autogestão, deliberações coletivas 
e métodos de planificação participativa e protagonismo colaborativo. Por 
governabilidade entende-se a capacidade que uma sociedade tem de resolver 
seus conflitos sem recorrer à violência. A separação e o distanciamento entre 
governantes e sociedade facilitam a corrupção administrativa e política. Para 
Toro (2000, p. 39) “o terceiro setor deve evitar o corporativismo do setor 
público”. Uma das características da pobreza é a exclusão simbólica nos 
sistemas de comunicação. É preciso conseguir que as formas de ver, contar, 
trabalhar e expressar-se sejam possíveis para os grupos minoritários, 
considerados “excluídos” ou “invisíveis”, para que se tornem protagonistas do 
universo simbólico que circula na sociedade, por exemplo, dando voz a eles 
nas mídias tradicionais, comunitárias, digitais, literatura, cinema e artes em 
geral. Assim, ao formular projetos de responsabilidade social, os gestores 
precisam levar em consideração esses aspectos. 
TROCANDO IDEIAS 
Esperamos que os assuntos tratados nesta aula tenham despertado 
interesse em áreas específicas e motivem você para ampliar o conhecimento, 
cada vez mais. A Wikipédia, um projeto de enciclopédia na web, possibilita a 
elaboração de textos colaborativos e vem sendo consultada cada vez mais e 
com mais intensidade. 
Sugerimos que você observe se, no link disponível na Wikipédia sobre o 
que é responsabilidade social, é feita alguma referência aos temas mais 
polêmicos de nossa aula. Após a leitura, solicitamos que apresente qual é 
seu posicionamento sobre o assunto. 
NA PRÁTICA 
O conhecimento sobre o terceiro setor é cada vez mais relevante para a 
gestão de Responsabilidade Social. A atividade proposta é assistir ao filme 
brasileiro sugerido no tema 2 desta aula, intitulado Quanto vale ou é por quilo, 
 
 
 
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Passos para resolver: 
1. Observe se no filme são contempladas as quatro dimensões das 
decisões éticas propostas por Alroe: responsabilidade, preocupação, 
capacidade de ação e consciência; 
2. Descreva as situações, relacionando-as com cada uma das dimensões. 
FINALIZANDO 
Nesta aula, nosso tema central foi sociedade e gestão, sob a ótica do 
terceiro setor. O primeiro tema tratou sobre sociedade moderna, e nele 
tratamos da importância da cultura para o desenvolvimento da cultura da 
sustentabilidade e quais os procedimentos de implementação. No segundo 
tema, falamos sobre a qualidade ética do terceiro setor e as 4 dimensões para 
as decisões éticas propostas por Alroe. O terceiro tema esteve centrado na 
gestão social e investimento social privado. No quarto tema, falamos sobre 
empreendedorismo social e inovação e conhecemos estudos de caso sobre 
empreendedorismo social. Finalizando a aula, no quinto tema, apresentamos 
os principais desafios do terceiro setor e o papel do gestor em relação à 
responsabilidade social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
ALENCASTRO, M. Ética e meio ambiente: construindo as bases para um 
futuro sustentável. Curitiba: InterSaberes, 2015. 
ANDERSON, B. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2008. 
COSIC, M. 'Somos todos empresários': Muhammad Yunus em mudar o mundo, 
um microcrédito de cada vez. The Guardian, 28 mar. 2017. Disponível em: 
<https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-
BR&sl=en&u=https://www.theguardian.com/world/muhammad-
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EMPREENDEDORISMO social gera lucro e desenvolvimento. Portal Brasil, 1 
fev. 2012. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-
justica/2012/02/empreendedorismo-social-gera-lucro-e-desenvolvimento>. 
Acesso em: 13 jun. 2018. 
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Faculdade de Letras e Filosofia, II série, vol. 5-6, 1989, p. 125-142. 
Disponível em: <https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/8060>. Acesso 
em: 13 jun. 2018. 
FORÇA TAREFA DE FINANÇAS SOCIAIS. Disponível em: 
<https://forcatarefafinancassociais.org.br/publicacoes/>. Acesso em: 13 jun. 
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GIFE apresenta projeto sobre sustentabilidade econômica das organizações da 
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apresenta-projeto-sobre-sustentabilidade-economica-das-organizacoes-da-
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GOLOBOVANTE, M. C. Sustentabilidade, cultura e comunicação: triplo desafio 
para as organizações. Revista Famecos. Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 98–107, 
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<http://revistaseletronicas.pucrs.br/revistapsico/ojs/index.php/revistafamecos/se
arch/authors/view?firstName=Maria%20da%20Concei%C3%A7%C3%A3o&mid
dleName=&lastName=Golobovante&affiliation=Pontif%C3%ADcia%20Universid
 
 
16 
ade%20Cat%C3%B3lica%20de%20S%C3%A3o%20Paulo&country=BR>. 
Acesso em: 13 jun. 2018. 
GONÇALVES, A. Inovação social – transformando comunidades através da 
inovação. IG, 13 set. 2010. Disponível em: 
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LOPEZ, F. G. (Org.). Perfil das organizações da sociedade civil do Brasil. 
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MAPA das organizações da sociedade civil traz diversas novidades e amplia 
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<https://gife.org.br/pesquisa-traz-dados-ineditos-sobre-o-perfil-das-osc-do-
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