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RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL AULA 5 Profª Cora Catalina 2 CONVERSA INICIAL Nesta quinta aula, abordaremos como foco principal questões relacionadas à sociedade e à gestão. No primeiro tema, sobre a sociedade moderna, trataremos a respeito da importância da cultura organizacional para o desenvolvimento da sustentabilidade e quais os procedimentos de implementação. No segundo tema, falaremos sobre a qualidade ética do terceiro setor e as quatro dimensões para as decisões éticas propostas por Hugo F. Alroe. O terceiro tema estará centrado na gestão social e no investimento social privado. No quarto tema, abordaremos o empreendedorismo social e a inovação, quando conheceremos estudos de caso de empreendedorismo social. E, finalizando a aula, no quinto tema, apresentamos os principais desafios do terceiro setor e o papel do gestor quanto à responsabilidade social. CONTEXTUALIZANDO A sociedade moderna é o reflexo de conquistas fantásticas e avanços alcançados com o desenvolvimento do capital humano. As transformações nos sistemas de produção e trabalho desafiam os gestores, analistas e pesquisadores da escola de administração acerca dos rumos que as organizações vêm tomando e para onde vão. O que é uma certeza indiscutível é que, cada vez mais, as organizações privadas, públicas e o terceiro setor precisam trabalhar em conjunto. Nesse aspecto, esta aula nos possibilita aprofundar o conhecimento sobre as responsabilidades do terceiro setor, os desafios e conhecer instrumentos de gestão disponíveis para profissionais de responsabilidade social. TEMA 1 – SOCIEDADE MODERNA, CULTURA ORGANIZACIONAL E SUSTENTABILIDADE Para compreender como a gestão da sustentabilidade empresarial e responsabilidade social (RS) vêm se inserindo nas organizações, sob a ótica da sociologia e antropologia, analisaremos como acontecem os processos de mudança cultural na sociedade moderna. 3 Vejamos o exemplo apresentado pela professora da PUC-SP, Dra. Maria da Conceição Golobovante (2010): “Antes, o argumento principal de uma empresa dirigida ao seu público era do tipo ‘compre de mim porque sou a sua melhor opção’, agora argumenta-se: ’perceba como sou bom porque sou sustentável e realizamos diversos projetos sociais e ambientais, portanto, fale bem de mim por aí’”. Esse exemplo certamente não representa a totalidade, entretanto é uma forma de possibilitar análises de pensamento de gestores que têm uma visão crítica sobre o assunto. Segundo a mesma autora: Para os céticos de plantão, que remetem a questão da sustentabilidade e a RS a um signo de perfumaria das empresas para sua lucratividade, por acreditarem que não haverá mudanças estruturais enquanto os fundamentos do modo de produção capitalista não forem revistos,achamos por bem inverter essa equação e propor que,por ser também plástico, múltiplo e dinâmico, o sistema capitalista comportaria uma nova lógica de consumo e produção capaz de promover prosperidade nos limites que o ambiente impõe. (Golobovante, 2010, grifo do original) Essa proposta de uma “nova lógica de consumo e produção” é o ponto- chave na sociedade moderna. E requer, na sua essência, a mudança de cultura. Nas ciências da antropologia e da sociologia, a cultura consiste no que se entende por sociedade, uma vez que na cultura se insere a vida social. Por meio da cultura se expressam as maneiras de viver, os hábitos, crenças, o trabalho, o lazer, as aspirações de liberdade e esperança. Nas sociedades tradicionais, a cultura se fundamenta basicamente em valores reguladores, normas e dogmas. Para Fernandes (1989), na sociedade da modernidade, a vida passa a ser atraída por múltiplas dimensões culturais e uma das mais relevantes é a difusão da ciência e da tecnologia, a qual vem alterando toda a cultura global e a forma de convivência humana. Segundo Fernandes (1989, p. 131), A cultura da modernidade deve ser concebida como um sistema que tende para um novo equilíbrio, onde a visão científica e o poder tecnológico formam esta nova sociedade, providas de um caráter dinâmico e integradores de novas mentalidades”. E onde, além do poder das novas tecnologias, a vida social se forma também de um vasto simbolismo, de imaginação, criatividade e inovação. Para Golobovante (2013), a cultura, tal como entendem os antropólogos, não é algo que se produz numa empresa ou se leva para dentro dela. É um sistema de símbolos e significado de domínio público, em cujo contexto as 4 tarefas e práticas de determinado grupo podem ser descritas de forma inteligível para as pessoas que dela participam ou não. Pode-se compreender assim que, na busca pelo equilíbrio entre razão e emoção, provocado pela necessidade de cuidar dos recursos naturais do planeta e das pessoas, o desenvolvimento da cultura da sustentabilidade tenha encontrado o ambiente nas organizações. Para Golobovante (2013, p. 2): a sustentabilidade evocaria nas empresas uma espécie de “ética de perpetuação da humanidade e da vida”, claramente traduzida pelo uso mais responsável dos recursos ambientais. Ao assumir esse nível de compromisso, os empresários fazem um movimento inédito enquanto classe patronal que é tornar público, se expor e assumir responsabilidades que implicam mais do que discursos, investimentos ou boa vontade das altas administrações, implica mudanças profundas na própria cultura das organizações. Sendo a cultura a essência e onde se encontra o cerne da sociedade, estudiosos em gestão organizacional consideram que a cultura deve ser uma das dimensões da sustentabilidade e não pode ser dissociada das três dimensões: social, ambiental e econômica. Para o economista Ignacy Sachs, criador do conceito ecodesenvolvimento, dentre as dimensões do desenvolvimento sustentável está a dimensão cultural: que significa as mudanças no interior da continuidade (equilíbrio entre respeito à tradição e inovação), capacidade de autonomia para elaboração de um projeto nacional integrado e endógeno (em oposição às cópias servis dos modelos alienígenas) e autoconfiança, combinada com abertura para o mundo” (Sachs, 2009). É importante fomentar a criação de um grupo de trabalho (GT) para planejar o desenvolvimento de uma cultura organizacional para a RS e a sustentabilidade. Veja como fazer: 5 Figura 1 – Grupo trabalho (GT) para o desenvolvimento da cultura organizacional em responsabilidade social O gestor de responsabilidade social tem a importante atribuição de promover e incentivar o processo de desenvolvimento da cultura organizacional voltada para o conhecimento, fortalecimento dos relacionamentos positivos, ética, transparência, motivação e comprometimento dos stakeholders, objetivando que projetos de RS sejam implementados e que os resultados sejam monitorados e avaliados com sucesso. TEMA 2 – SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE ÉTICA DO TERCEIRO SETOR As organizações da sociedade civil (OSCs) já totalizam mais de 820 mil no Brasil, segundo estudo lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em abril de 2018. A publicação, que se intitula “Perfil das organizações da sociedade civil do Brasil” (Lopez, 2018) revela que um dos aspectos identificados é que as OSCs são formadas majoritariamente por organizações sem vínculos de trabalho formal: 83% não apresentam vínculos formais de emprego; outros 7% delas têm até dois vínculos de trabalho, totalizando 90% de OSCs que possuem até dois vínculos. Outro ponto levantado pelo estudo é área de atuação das OSC que são “desenvolvimento edefesa de direitos e interesses” e “religião”, são as principais finalidades das organizações (Nova..., 2018) De acordo com Félix Garcia Lopez, coordenador do Mapa das OSCs e técnico de planejamento e pesquisa do IPEA, 6 Sabemos que as OSCs têm atuação decisiva nas discussões da esfera pública e na execução de ações de interesse público, mas não temos ainda dados sistemáticos que possibilitem compreender melhor o setor, em diferentes aspectos. Com informações detalhadas sobre as OSCs, os gestores públicos, por exemplo, terão mais facilidade para definir políticas em parceria com as organizações. É extremamente relevante para a gestão municipal, por exemplo, saber a disponibilidade de organizações, por finalidades, no território (Nova..., 2018) Essas informações nos possibilitam analisar aspectos importantes sobre o terceiro setor no Brasil, principalmente sob três aspectos essenciais para a área de responsabilidade social: 1. o crescente aumento de OSCs, uma vez que em 2010 eram aproximadamente 300 mil, segundo pesquisa realizada pelo IBGE e fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil (FASFIL); 2. elevada taxa de porcentagem de pessoas que não apresentam índices formais de emprego (83%); 3. a relevância do trabalho realizado pelas OSCs para o desenvolvimento de políticas públicas. Sob a ótica da responsabilidade compartilhada, Jonas (citado por Alencastro, 2015, p. 119), afirma que “as imensas mudanças advindas do poder tecnológico alteraram completamente as dimensões espaço-temporais do agir humano, projetando as consequências e as necessidades de uma radical responsabilidade”. Uma resposta possível pode estar na perspectiva sistêmica para as decisões éticas, proposta por Alroe (citado por Alencastro, 2015, p. 120), segundo o qual, “As decisões éticas se dão a partir de quatro dimensões fundamentais: responsabilidade, preocupação, capacidade de ação e consciência”. Na visão de Alroe (citado por Alencastro, 2015), “a responsabilidade é considerada uma questão moral, geralmente restrita à pessoa, no seu entendimento individual, mas que pode ser ampliada, como geralmente ocorre em grupos que se organizam” e, nesse caso, em OSCs ao trabalhar em torno de uma causa comum e para um bem coletivo. “A preocupação diz respeito a quem está submetido às consequências da ação” (Alroe, citado por Alencastro, 2015). Tomemos, por exemplo, uma OSC que atue no apoio ao desenvolvimento da saúde pública da comunidade local: sua preocupação está 7 voltada para a melhoria das condições de saneamento básico, erradicação da mortalidade infantil, aspectos de melhores condições de alimentação e moradia, entre outros. A capacidade de ação está no potencial de geração de danos ambientais que se têm em mãos e que se relacionam com as consequências das ações. Ainda considerando a OSC que atua em saúde pública, questões como a qualidade da água, alimentação saudável e serviços médicos e infraestrutura adequados são prioridade. O autor (Alroe, citado por Alencastro, 2015) relaciona a consciência às consequências das ações realizadas, podendo ser intencionais ou não. É possível correlacionar isso com o exemplo sobre o feedback recebido pela comunidade em relação às atividades realizadas pela OSC em benefício da saúde. E também pelas ações que deixou de realizar. Estariam sob a responsabilidade da consciência o que foi feito e o que deixou de ser feito. As responsabilidades de uma organização, seja do governo, das empresas ou do terceiro setor, envolvem lidar com a transformação. Daí a importância de perceber que a sustentabilidade significa desenvolver um sistema de responsabilidades éticas, tanto na esfera individual quanto na esfera coletiva. Em um plano, como pessoas inseridas na sociedade; em outro, como profissionais que fazem parte de uma organização. Saiba mais Assista ao filme Quanto vale ou é por quilo, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fZhaZdCqrHg>. Baseado na obra de Machado de Assis, trata-se de uma analogia entre o antigo comércio de escravos no Brasil e a atual exploração da miséria por meio de uma ONG de ética duvidosa, que pratica a solidariedade de fachada. A ONG implanta o projeto Informática na periferia em uma comunidade carente. Arminda, que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram superfaturados e, por causa disso, precisa agora ser eliminada. Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel para conseguir dinheiro para sobreviver. O filme é uma crítica ao funcionamento de ONGs de fachada. 8 TEMA 3 – GESTÃO SOCIAL E INVESTIMENTO SOCIAL PRIVADO A história do terceiro setor no processo de participação e engajamento social leva a compreender sua relevância enquanto agentes de mudança para a responsabilidade cidadã, inclusive por novas formas de empregabilidade. Seu desenvolvimento trouxe consigo uma avalanche de questionamentos tanto para os governantes quanto para empresários e a sociedade como um todo, devido à mobilização global e local, denúncias, manifestos, passeatas, que fortaleceram a liberdade de expressão em relação aos sistemas de produção vigentes, a governabilidade e a gestão de políticas públicas estabelecidas durante décadas. Na primeira aula desta disciplina, apresentamos os tipos de entidades do terceiro setor (OSCs, ONGs, OSCIPs, OS, Associações, Institutos, Fundações, entre outras) e o papel do investimento social privado, oriundo de empresas privadas. Trazemos aqui o exemplo de gestão de investidores sociais, formado por institutos, fundações e empresas se institucionalizaram, criando a Rede GIFE: A Rede Gife é formada pela diversidade de seus associados, tanto na origem – podendo ser empresarial, familiar, independente ou uma organização comunitária. São atualmente 137 associados que investem por volta de R$ 2,9 bilhões por ano na área social, operando projetos próprios ou viabilizando os de terceiros (Gife, S.d.) A Gife disponibiliza instrumentos de gestão, dentre os quais destacamos dois deles: Mapa das OSCs [...]: oferece uma série de funcionalidades voltadas tanto para as organizações, como para gestores públicos, investidores sociais, pesquisadores do setor que queiram conhecer mais esse universo. Há, por exemplo, uma página especial com editais de seleção de projetos abertos por setores público e privado que preveem a contratação ou atuação de OSCs em projetos. [...] Indicadores Gife de governança: instrumento de autodiagnóstico online que permite a associações e fundações avaliar o grau de desenvolvimento de sua governança e é elaborado em parceria com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). (Mapa..., 2018) Segundo o Gife (Gife..., 2016), o Mapa das OSCs foi criado a partir do Decreto n. 8.726/2016, que regulamenta a Lei n. 13.019/2014 conhecida como Marco Regulatório das OSCs e é gerido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). É uma plataforma virtual colaborativa com dados de todo o 9 Brasil visando à transparência da atuação, principalmente, sobre os projetos em parceria com a administração pública. O objetivo é disponibilizar dados, fomentar pesquisas sobre OSCs e apoiar os gestores públicos a tomarem decisões sobre políticas públicas que já têm ou possam ter interface com OSCs. Saiba mais Assista ao vídeo “Em movimento – 20 anos de investimento social no Brasil”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=596&v =PP8M830ZZx8>. TEMA 4 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL O novo cenário de mudanças na empregabilidade e formas de trabalhoestá nas rodas de debate atual. Ao mesmo tempo, observa-se a necessidade de contribuição para realizar impactos sociais positivos com um negócio. São negócios sociais realizados por organizações ainda sem legislação específica no Brasil e que visam ser autossustentáveis do ponto de vista financeiro, reinvestindo seus lucros em si mesmas e gerando impacto positivo na sociedade, num ciclo virtuoso. Existem diversos formatos, alguns mais próximos do terceiro setor e outros com “mais cara de empresa”. O setor de serviços é o dominante: desde um tradutor simultâneo gratuito de linguagem de sinais a reformas habitacionais em comunidades carentes, passando por oferta de microsseguros e turismo sustentável, todos estão desbravando novas fronteiras legais, tecnológicas, econômicas e sociais. É uma escolha de vida que frequentemente envolve salários pouco (ou nada) astronômicos, agendas cheias e constantes alertas financeiros e comportamentais. (Força..., 2018) Empreendedorismo social, uma expressão que significa um negócio lucrativo e que ao mesmo tempo traz desenvolvimento para a sociedade, vem sendo desenvolvido por uma nova geração de empreendedores que pautam sua estratégia em valores sustentáveis. Ao criarem as chamadas empresas sociais, diferentes das ONGs ou de empresas comuns, os empreendedores encontram soluções para problemas sociais. Os negócios sociais oferecem produtos e serviços de qualidade à população excluída do mercado tradicional, ajudando a combater a pobreza e diminuir a desigualdade. 10 O foco está nas áreas de inclusão social, geração de renda e melhoria da qualidade de vida. São exemplos a organização internacional Artemisia, a Ashoka, pioneira no campo da inovação social, e a Fundação Schwab, responsável pelo prêmio Empreendedor Social no Brasil. (Empreendedorismo..., 2012). 5.1 Caso Programa Vivenda O Programa Vivenda é inédito no Brasil por ter aplicado uma forma de captação de recursos que vai permitir que cerca de 8 mil famílias de baixa renda de São Paulo tenham a possibilidade de reformar suas moradias de forma parcelada e com juros baixíssimos. A captação foi de 5 milhões, que serão aplicados para dar crédito com juros baixos a famílias de classe D, moradores das periferias, no período de cinco anos. A Vivenda é uma empresa de pequeno porte especializada em reformas para baixa renda, identificada como uma startup que busca o impacto socioambiental. Esses empréstimos serão a garantia para ajudar a compor a remuneração que os investidores profissionais do programa receberão, que será de 7% ao ano (Pamplona; Brant, 2018). Inovação social é uma expressão utilizada para descrever uma nova abordagem às parcerias público-privadas que visam incentivar descobertas de técnicas e metodologias que propiciem verdadeiramente a transformação social: Podem ser desenvolvidas com a participação da população e, quando aplicadas no seu cotidiano, vão gerar soluções simples para a transformação social e melhoria das condições de vida. A Inovação Social funciona como uma estratégia para o desenvolvimento sustentável. (Gonçalves, 2010) Segundo Gonçalves (2010), “um número crescente de empreendedores sociais já deixou sua marca na inovação social”. Muhammad Yunus, fundador do Grameen de Bangladesh, um banco de microcrédito e ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2006, é um exemplo global de empreendedor social. Yunus diz: O Banco Grameen possui hoje nove milhões de mutuários, 97% deles mulheres. É um banco de propriedade de mulheres pobres, diz ele. “A taxa de pagamento é de 99,6% e nunca caiu abaixo disso em nossos oito anos de experiência.” Parte de sua expansão para países ricos 11 inclui um programa nos EUA: 19 agências em 11 cidades, incluindo oito em Nova York. “Temos quase 100.000 clientes e 100% mulheres. (Cosic, 2017) “Promover o empreendedorismo social é a solução”, diz Yunus (Cosic, 2017). E seu conceito de negócios sociais – criado para objetivos pró-sociais, não lucro – é a solução para problemas sociais e ambientais causados pela intensa competição capitalista. Ele cita o exemplo de algumas empresas pioneiras que estão adotando isso: “A Danone, empresa francesa de laticínios, foi uma das primeiras a concordar em formar a Danone Grameen, em 2007, para produzir iogurte fortificado para crianças desnutridas em Bangladesh” (Cosic, 2017) e destaca: A maior parte do investimento nessas parcerias vem das empresas, que não esperam lucro: só recuperam o valor do investimento durante um período de tempo. “Nós participamos de maneira simbólica”, diz Yunus. "Mil euros ou algo parecido, mas permitimos que o nome seja anexado à empresa para mostrar que esse é um negócio social genuíno”. (Cosic, 2017) Dessa maneira, podemos observar que gestores em responsabilidade social têm a oportunidade de realizar importantes transformações socioambientais, contribuindo para o desenvolvimento do empreendedorismo social e o investimento social privado. TEMA 5 – DESAFIOS DO TERCEIRO SETOR De acordo com Toro (2000), Uma sociedade vai-se convertendo em nação à medida em que é capaz de responder proativamente aos desafios que lhe apresenta a história. A construção de uma nação segue o processo similar ao da construção da personalidade humana: vai sendo configurada de acordo com a capacidade que a pessoa tem em dar respostas aos desafios que lhe apresenta a vida. José Bernardo Toro, filósofo e educador colombiano e um dos mais importantes pensadores da educação e democracia na América Latina, apresenta a ideia inicial sobre o papel do terceiro setor em sociedades de baixa participação e aponta para a necessidade de encontrar um ponto orientador em relação ao conjunto das múltiplas ações institucionais que o terceiro setor executa, que vão desde os processos de autodesenvolvimento por intermédio de formas associativas de base, tais como organizações comunitárias e 12 empresas de autogestão e também; pela diversidade de ações de acompanhamento e serviços que disponibiliza o terceiro setor por meio da assistência social, atendimentos emergenciais, assessoria, treinamento, apoio financeiro, entre outros. (Toro, 2000, p. 35) Antes de dar continuidade ao pensamento de Toro, vamos compreender o significado de nação, utilizando o conceito atribuído por Anderson, autor do livro Comunidades imaginadas (2008): Nação é o valor de maior legitimidade universal na vida política moderna [...] Nações são comunidades imaginadas na medida em que, independentemente das hierarquias e desigualdades existentes, sempre se concebem como estruturas de camaradagem horizontal, onde a ideia do “nós” coletivo se estabelece, irmanando relações em tudo distintas. Pode-se compreender, assim, que o termo nação está intrinsecamente ligado ao desejo de viver em conjunto e perpetuar a identidade e simbolismos comuns às comunidades. Assim sendo, vamos ao retomar ao argumento apresentado por Toro (2000, p. 35), que dá ênfase à baixa participação da sociedade: “o terceiro setor precisa enfrentar dois grandes desafios: constituir uma ordem de convivência democrática e converter o país para que não haja pobreza interna”. As teses desse autor se baseiam em três funções do terceiro setor: Figura 2 – Funções do terceiro setor nos países de baixa participação Fonte: Toro, 2000, p. 36-39. 1. Contribuir para a formação e fortalecimento de atitudes cidadãs. 2. Contribuir para reinstitucionalizar a esfera pública visando aumentar a igualdade e fortalecer a governabilidade. 3. Criar condições para tornar possível a democracia cultural. 13 A formação e o fortalecimento de atitudescidadãs podem ser fomentadas com incentivos para projetos de autogestão, deliberações coletivas e métodos de planificação participativa e protagonismo colaborativo. Por governabilidade entende-se a capacidade que uma sociedade tem de resolver seus conflitos sem recorrer à violência. A separação e o distanciamento entre governantes e sociedade facilitam a corrupção administrativa e política. Para Toro (2000, p. 39) “o terceiro setor deve evitar o corporativismo do setor público”. Uma das características da pobreza é a exclusão simbólica nos sistemas de comunicação. É preciso conseguir que as formas de ver, contar, trabalhar e expressar-se sejam possíveis para os grupos minoritários, considerados “excluídos” ou “invisíveis”, para que se tornem protagonistas do universo simbólico que circula na sociedade, por exemplo, dando voz a eles nas mídias tradicionais, comunitárias, digitais, literatura, cinema e artes em geral. Assim, ao formular projetos de responsabilidade social, os gestores precisam levar em consideração esses aspectos. TROCANDO IDEIAS Esperamos que os assuntos tratados nesta aula tenham despertado interesse em áreas específicas e motivem você para ampliar o conhecimento, cada vez mais. A Wikipédia, um projeto de enciclopédia na web, possibilita a elaboração de textos colaborativos e vem sendo consultada cada vez mais e com mais intensidade. Sugerimos que você observe se, no link disponível na Wikipédia sobre o que é responsabilidade social, é feita alguma referência aos temas mais polêmicos de nossa aula. Após a leitura, solicitamos que apresente qual é seu posicionamento sobre o assunto. NA PRÁTICA O conhecimento sobre o terceiro setor é cada vez mais relevante para a gestão de Responsabilidade Social. A atividade proposta é assistir ao filme brasileiro sugerido no tema 2 desta aula, intitulado Quanto vale ou é por quilo, 14 Passos para resolver: 1. Observe se no filme são contempladas as quatro dimensões das decisões éticas propostas por Alroe: responsabilidade, preocupação, capacidade de ação e consciência; 2. Descreva as situações, relacionando-as com cada uma das dimensões. FINALIZANDO Nesta aula, nosso tema central foi sociedade e gestão, sob a ótica do terceiro setor. O primeiro tema tratou sobre sociedade moderna, e nele tratamos da importância da cultura para o desenvolvimento da cultura da sustentabilidade e quais os procedimentos de implementação. No segundo tema, falamos sobre a qualidade ética do terceiro setor e as 4 dimensões para as decisões éticas propostas por Alroe. O terceiro tema esteve centrado na gestão social e investimento social privado. No quarto tema, falamos sobre empreendedorismo social e inovação e conhecemos estudos de caso sobre empreendedorismo social. Finalizando a aula, no quinto tema, apresentamos os principais desafios do terceiro setor e o papel do gestor em relação à responsabilidade social. 15 REFERÊNCIAS ALENCASTRO, M. Ética e meio ambiente: construindo as bases para um futuro sustentável. Curitiba: InterSaberes, 2015. ANDERSON, B. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. COSIC, M. 'Somos todos empresários': Muhammad Yunus em mudar o mundo, um microcrédito de cada vez. The Guardian, 28 mar. 2017. Disponível em: <https://translate.google.com.br/translate?hl=pt- BR&sl=en&u=https://www.theguardian.com/world/muhammad- yunus&prev=search>. Acesso em: 13 jun. 2018. EMPREENDEDORISMO social gera lucro e desenvolvimento. Portal Brasil, 1 fev. 2012. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e- justica/2012/02/empreendedorismo-social-gera-lucro-e-desenvolvimento>. Acesso em: 13 jun. 2018. FERNANDES, A. T. A mudança cultural na sociedade moderna. Revista da Faculdade de Letras e Filosofia, II série, vol. 5-6, 1989, p. 125-142. Disponível em: <https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/8060>. Acesso em: 13 jun. 2018. FORÇA TAREFA DE FINANÇAS SOCIAIS. Disponível em: <https://forcatarefafinancassociais.org.br/publicacoes/>. Acesso em: 13 jun. 2018. GIFE apresenta projeto sobre sustentabilidade econômica das organizações da sociedade civil. Gife, 26 jun. 2016. Disponível em: <https://gife.org.br/gife- apresenta-projeto-sobre-sustentabilidade-economica-das-organizacoes-da- sociedade-civil/>. Acesso em; 13 jun. 2018. GOLOBOVANTE, M. C. Sustentabilidade, cultura e comunicação: triplo desafio para as organizações. Revista Famecos. Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 98–107, maio/agosto 2010. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/revistapsico/ojs/index.php/revistafamecos/se arch/authors/view?firstName=Maria%20da%20Concei%C3%A7%C3%A3o&mid dleName=&lastName=Golobovante&affiliation=Pontif%C3%ADcia%20Universid 16 ade%20Cat%C3%B3lica%20de%20S%C3%A3o%20Paulo&country=BR>. Acesso em: 13 jun. 2018. GONÇALVES, A. Inovação social – transformando comunidades através da inovação. IG, 13 set. 2010. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/inovacao/inovacao-social-transformando- comunidades-atraves-da-inovacao/a1237774635175.html>. Acesso em: 13 jun. 2018. LOPEZ, F. G. (Org.). Perfil das organizações da sociedade civil do Brasil. Brasília: IPEA, 2018. 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Acesso em: 13 jun. 2018. QUEM somos. Gife. Disponível em: <https://gife.org.br/quem-somos-gife/>. Acesso em: 13 jun. 2018. SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2009. STADLER, A. Organizações e desenvolvimento sustentável. Curitiba: InterSaberes, 2012. 17 TORO, J. B. O papel do terceiro setor em sociedades de baixa participação. In: IOSCHPE, E. B. (Org.). Terceiro Setor – desenvolvimento social sustentado. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
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