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Gestão de empreendimentos sustentáveis MARIANA DE CASTRO MOREIRA PATRÍCIA NASSIF 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autores Mariana de Castro Moreira Patrícia Nassif Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 Introdução à Gestão Ambiental Pública ............................................................................................................... 7 Capítulo 2 Política, Compromisso e Conflito...........................................................................................................................16 Capítulo 3 Responsabilidade Social e Marketing Social: Aspectos Gerais ....................................................................25 Capítulo 4 Terceiro Setor: Fundamentos, Tipos de Organização e Voluntariado .......................................................39 Capítulo 5 Empreendedorismo Social e Desenvolvimento Sustentável .....................................................................57 Capítulo 6 Plano de Negócios para Organizações do Terceiro Setor .............................................................................79 Referências ..........................................................................................................................................................................94 Apêndices e Anexos .........................................................................................................................................................97 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGANIzAçãO DO LIVRO DIDáTICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução Quando deparamos com a discussão sobre sustentabilidade e responsabilidade social, é bastante frequente encontrarmos abordagens que priorizam a atuação privada. No entanto, frente à complexidade dos cenários contemporâneos, é imprescindível que a Gestão Pública se aproxime e se aproprie adequadamente desse debate. É nessa perspectiva que esta disciplina propõe-se a contribuir com a formação do futuro gestor público: fornecendo ferramentas teóricas, conceituais e metodológicas para que sua atuação leve, efetivamente, em consideração, as dimensões sociais e ambientais nos processos de gestão pública. Para isso, nos aproximaremos dos debates sobre a Gestão Ambiental Pública. Desse modo, este Livro Didático está baseado no art. 225 da Constituição Federal, que dispõe que a garantia ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é compromisso de todos: Poder Público e coletividade. Torna-se, assim, pertinente a problematização sobre as noções de gestão, de meio ambiente e de público, inserindo o compromisso e a politização da questão socioambiental como caminhos para uma práxis transformadora ao romper com o viés puramente tecnicista. Objetivos » Situar a Gestão Ambiental Pública em sua complexidade, de forma sistêmica e interdisciplinar. » Correlacionar e debater as possibilidades de interface entre a Gestão Ambiental Pública e Privada. » Apresentar as diretrizes e estratégias trazidas pelas chamadas Agenda Verde e Marrom, discutindo a gestão ambiental na estrutura estatal. » Debater a noção de conflito ambiental, problematizando os mecanismos de controle social, gestão participativa e educação ambiental. » Oferecer uma fundamentação teórica e metodológica das várias correntes socioambientais. » Instrumentalizar a construção de projetos de intervenção nas diferentes áreas sociais a partir de atividades contextualizadas e transformadoras da realidade socioeconômica brasileira. » Analisar as estratégias de gestão e oportunidades de divulgação de causa e captação de recursos para entidades sociais e ambientais de representatividade nacional. 7 Apresentação Neste capítulo, pretendemos introduzir o estudo da Gestão de Empreendimentos Sociais Sustentáveis, estimulando o debate sobre as possíveis articulações entre o Estado, a sociedade e o meio ambiente. Para isso, em primeiro lugar, procuraremos aprofundar a discussão sobre a Gestão Ambiental Pública, refletindo sobre as noções de meio ambiente, de público e de gestão. Em seguida, buscaremos situar algumas atribuições específicas e responsabilidades do Poder Público nesse contexto. Objetivos » Ampliar e aprofundar a reflexão e entendimento sobre a problemática ambiental, a partir da imbricada relação entre meio natural e meio social, em uma perspectiva interdisciplinar. » Refletir sobre o significado do “público” para a problemática ambiental, inserindo-a como direito difuso. » Reforçar a importância da Gestão Ambiental Pública. 1 CAPÍTULO INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA 8 CAPÍTULO 1 • INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA Quem Vai Cuidar da Questão Ambiental? Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, Constituição da República Federativa, 1988, art. 225). O art. 225 de nossa Constituição já é bastante conhecido junto aos fóruns, organizações e pessoas que trabalham com a questão ambiental. O capítulo VI é dedicado ao “Meio Ambiente” e determina sete incumbências para que o Poder Público efetive a garantia a esse direito, quais sejam: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidadesdedicadas à pesquisa e manipulação de material genético III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade (BRASIL, Constituição da República Federativa, 1988, art. 225). Figura 1. Constituição da República Federativa do Brasil 1988 Fonte: <http://www.cee.fiocruz.br/?q=node/63>. http://www.cee.fiocruz.br/?q=node/63 9 INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA • CAPÍTULO 1 Provocação Costumamos falar bastante em cidadania, nos dias de hoje, não é mesmo? No entanto, muitas vezes vale lembrar que ser cidadão não significa somente votar a cada dois anos... Precisamos aprender a ser cidadãos em nosso cotidiano. Precisamos aprender a participar. Ainda lidamos com uma noção de democracia representativa, na qual o povo é representado por um grupo eleito. Ocorre que a mesma Constituição Federal de 1988 determina mecanismos de participação popular e controle social para que possamos consolidar a noção de democracia participativa. Aqui está evocada a efetiva participação da sociedade na formulação e fiscalização de políticas públicas, a partir do reconhecimento dos princípios de liberdade, igualdade, justiça social, dentre outros. Assim, é fundamental que o gestor conheça, exerça e incentive junto a seus pares o direito de participar! Um primeiro passo pode ser conhecer a nossa Constituição... Você já leu? Acesse: http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao1988.html/ ConstituicaoTextoAtualizado_EC92.pdf. Bem, nunca é demais enfatizar que ao mesmo tempo em que temos direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, temos, também, o dever de protegê-lo e preservá-lo. Cada segmento – Poder Público, iniciativa privada e sociedade civil – deve exercer seu papel nessa empreitada. Figura 2. Cuidar do meio ambiente Fonte: <https://pixabay.com/pt/banner-cabe%C3%A7alho-plano-de-fundo-902583/>. De forma geral, quando falamos em gestão ambiental, é comum pensarmos em ações e procedimentos da iniciativa privada. No entanto, com este Livro Didático, queremos ampliar esse entendimento, reforçando que a questão ambiental diz respeito a todos nós, de forma sistêmica, mas traz, também, especificidades de atuação que cabem exclusivamente ao Poder Público. Toda essa discussão inicial parece simples, mas, na verdade, aponta para desdobramentos complexos que incluem as próprias noções do que é meio ambiente, público, assim como para o papel do Estado e a relação entre setores públicos, privados e a sociedade civil. http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao1988.html/ConstituicaoTextoAtualizado_EC92.pdf http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao1988.html/ConstituicaoTextoAtualizado_EC92.pdf https://pixabay.com/pt/banner-cabe%C3%A7alho-plano-de-fundo-902583/ 10 CAPÍTULO 1 • INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA Saiba mais Entenda melhor quem é quem... Alguns teóricos defendem um modelo de organização da sociedade que poderia ser dividida em três grandes setores, quais sejam: O primeiro setor, no qual se situa o Estado como instância de regulação e de universalização de políticas públicas Þ recursos públicos para fins públicos; O segundo setor, caracterizado pela iniciativa privada como geradora de riquezas Þ recursos privados para fins privados, e O terceiro setor, caracterizado pela sociedade civil organizada Þ recursos privados para fins públicos. “Os três setores”: quadro sintético SETOR CARACTERIZAÇÃO RECURSOS FINS 1º Setor Estado Públicos Públicos 2º Setor Empresas Privados Privados 3º Setor Sociedade Civil Organizada Privados e Públicos Públicos Fonte: baseado em Rubem César Fernandes (1996). Problematizando a Questão Ambiental... Você deve se recordar dos conteúdos estudados em outros Livros, mas acreditamos que nunca é demais insistir no entendimento da questão ambiental na e a partir da imbricada relação entre sociedade e natureza. Ou seja, aqui tomamos a problemática ambiental como um processo histórico de construção resultante da relação entre o “meio social” e o “meio natural”. É preciso reconhecer que não há um modo de vida único. As formas como as diferentes sociedades se organizam e o modo pelo qual se relacionam com a natureza são múltiplos. Diferentes grupos apropriam-se e utilizam-se dos recursos naturais de formas distintas. É nessa relação que deve ser entendida a questão ambiental. Ao reconhecermos a complexidade dessa abordagem sobre o meio ambiente, necessariamente abraçaremos a multirreferencialidade na e a partir da inter-relação entre os vários fatores que compõem a vida em sociedade: o econômico, o político, o psíquico, o social, o cultural, o afetivo, o biológico, etc. Saiba mais Entenda melhor! A perspectiva proposta pela multirreferencialidade possibilita a visão de múltiplos olhares e pontos de vista, geralmente distintos, sobre um mesmo fenômeno. 11 INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA • CAPÍTULO 1 Em consequência, também reconheceremos a necessidade de um olhar multi, inter ou transdisciplinar que ultrapasse o enfoque disciplinar único. Em comum, essas abordagens colocam-se a partir de certa crítica sobre a fragmentação do conhecimento científico. A noção de multidisciplinaridade reconhece a possibilidade de diferentes olhares sobre a mesma situação sem que, necessariamente, haja troca entre eles. Um desastre ambiental, por exemplo, poderá ser analisado sociologicamente por um sociólogo; ecologicamente, por um ecólogo ou biólogo; psicologicamente por um psicólogo. Na perspectiva multidisciplinar, cada um trará sua contribuição para compreender aquele acontecimento. Trata- se tão simplesmente da justaposição de diferentes disciplinas. Um trabalho interdisciplinar, por sua vez, procura identificar possíveis pontos de intersecção entre diferentes campos do saber. Aqui, duas ou mais disciplinas “conversam” ou “interagem” entre si, a partir do que trazem em comum na análise de uma situação. Poderíamos, então, lançar um olhar biopsicossocial para o mesmo exemplo do desastre ambiental. A perspectiva transdisciplinar vai além e de certa forma se contrapõe às duas anteriores, ao propor uma radical superação de toda e qualquer cisão disciplinar. Não se parte das separações ou dos pontos de vista específicos de cada área para analisar um fenômeno. Ao contrário, o movimento é de um olhar sistêmico, global e complexo. Figura 3: Multi, inter e transdisciplinaridade. Multidisciplinaridade Interdisciplinaridade Transdisciplinaridade Fonte: do próprio autor. Problematizando a Noção de Público... Ao procurarmos definir o que é público, é bastante provável que lancemos mão de uma contraposição: público é tudo aquilo que não é privado... Um olhar em perspectiva histórica nos auxilia nesse sentido, mostrando-nos que na Grécia Antiga a noção de público remetia aos espaços ocupados pelos cidadãos. Era ali, na polis, que se exercia o poder junto à coletividade. 12 CAPÍTULO 1 • INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA O exercíciopolítico era público por excelência. Como sabemos, essas noções ganham diferentes configurações em tempos e espaços distintos. A Professora Ligia Baptista (2011) lembra-nos que Aristóteles é o filósofo que define e distingue a esfera privada e a esfera pública. Se a esfera privada é a esfera da economia doméstica, a esfera pública, é definida pelo filósofo como o âmbito da política, da cidadania e da promoção do bem comum, a coisa pública. Pode-se dizer que os conceitos modernos de Estado e República derivam do equivalente latino civitas e do grego polis, que pode ser traduzido por cidade-estado, ou seja, o âmbito do poder público. Uma análise específica da sociedade brasileira mostra-nos dada constituição a partir de uma suposta oposição entre o público e o privado. A obra de Roberto Da Matta (2000, 2001) é um importante referencial para compreendermos que quando falamos em espaços públicos e privados, somos lançados bem além de uma mera localização geográfica. Ao contrário, essas noções implicam, sobretudo, um mundo de relações: como nos relacionamos com os outros e com as cidades. Em nossa sociedade, o chamado “mundo da casa” (espaço privado) está associado a um lugar protegido e harmonioso, em que, pretensamente, temos nossa individualidade protegida e garantida. Por outro lado, o “mundo da rua” (espaço público) é o cenário da disputa e do conflito no qual devemos nos submeter ao que vale para todos, ao que é universal. Haveria, no entanto, no Brasil, a tendência a privatizar o que é público, tratando o “mundo da rua” como se fosse a “minha casa”. No lugar das leis universais, a particularização de direitos e deveres. E mais: contraditoriamente, o espaço público é entendido e tratado como o “espaço de ninguém”, em que tudo é possível. Historicamente, e de forma geral, o que percebemos é o sentimento de não pertencimento do povo brasileiro ao que é público. A escola pública é de graça, ninguém paga, é de todos e não é de ninguém... O telefone público na praça pública, onde ficam aqueles brinquedos públicos que não são de ninguém... tudo pode ser destruído, apedrejado, pichado porque não é de ninguém. O entendimento da questão ambiental como direito difuso talvez nos auxilie a ampliar a própria noção do que é público, contribuindo, ainda, para que tenhamos uma compreensão mais clara sobre essa discussão. Saiba mais Para saber mais sobre direitos difusos, visite o portal do Ministério da Justiça: <http://portal.mj.gov.br/cfdd/data/Pages/MJ038B8D53ITEMID14E4BE4972B647A4BD0ACD82E8C978C0PTBRIE.htm> http://portal.mj.gov.br/cfdd/data/Pages/MJ038B8D53ITEMID14E4BE4972B647A4BD0ACD82E8C978C0PTBRIE.htm 13 INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA • CAPÍTULO 1 Os direitos difusos ultrapassam a esfera privada ou individual, sendo difícil predeterminar, com exatidão, quem são as partes interessadas em sua garantia. Um vazamento de determinada substância poluente, por exemplo, em uma região, diz respeito a toda a sociedade, que, direta ou indiretamente, sofre o impacto desse acidente. Um bem cultural como uma igreja ou um casarão de relevância histórica, da mesma forma, diz respeito a toda a sociedade e não um ou outro proprietário. Sua demolição ou depredação impacta a nossa história. Assim, ao entendermos a noção de direito difuso, compreenderemos que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito a toda a sociedade e não a determinados grupos de pessoas. Por isso, ele é chamado de transindividual. Problematizando a Noção de Gestão... Assim, revisitamos a noção de meio ambiente e de público. Vamos, agora, a fim de afinar nosso entendimento, problematizar a noção de gestão? Gerir determinada organização, programa ou processo é distinto de administrar. Vai além da mera aplicação de ferramentas ou técnicas, sendo imprescindível uma visão ampla sobre determinada área de atuação. A ideia de gestão ambiental inclui processos de planejamento, direção, controle, acompanhamento, avaliação e alocação de recursos de forma a evitar ou minimizar os impactos negativos ao meio ambiente, revertê-los ou eliminá-los. Produtos, processos e serviços aí relacionados são pensados e geridos tendo a questão ambiental e seu equilíbrio ecológico como critério inegociável. Na definição do local onde será implantado determinado empreendimento, na escolha e compra da matéria-prima, na utilização dos recursos naturais ou na destinação dos resíduos perceberemos que há escolhas e desdobramentos a serem pensados e encaminhados de forma sustentável. A noção de gestão aponta, assim, para as inúmeras possibilidades de diálogos e negociações que devem ser conduzidas no manejo responsável do meio ambiente. 14 CAPÍTULO 1 • INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA Juntando as Partes... Conforme indicamos anteriormente, é preciso, contudo, entender que a Gestão Ambiental Pública encerra uma especificidade pelas próprias atribuições e responsabilidades do Poder Público. Cabe a ele a garantia de aplicação e execução da legislação vigente na área por meio da definição de padrões e critérios ambientais para todos. Não se trata de algo simples, pela própria complexidade aí circunscrita. Vejamos que Gestão ambiental pública, aqui entendida como processo de mediação de interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre atores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído, objetivando garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme determina a Constituição Federal. Este processo de mediação define e redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e também, os custos e benefícios decorrentes da ação destes agentes (Price Waterhouse-Geotécnica, 1992). No Brasil, o Poder Público, como principal mediador deste processo, é detentor de poderes estabelecidos na legislação que lhe permitem promover desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais, inclusive articulando instrumentos de comando e controle com instrumentos econômicos, até a reparação e mesmo a prisão de indivíduos responsabilizados pela prática de danos ambientais. Neste sentido, o Poder Público estabelece padrões de qualidade ambiental, avalia impactos ambientais, licencia e revisa atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplina a ocupação do território e o uso de recursos naturais, cria e gerencia áreas protegidas, obriga a recuperação do dano ambiental pelo agente causador, e promove o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora. (QUINTAS, s/d.) Por enquanto, neste capítulo, nos contentaremos com essa discussão parcial a respeito da complexidade dessa perspectiva. Mais à frente, buscaremos aprofundar a reflexão sobre o papel do Estado como mediador de conflitos na gestão ambiental. 15 INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA • CAPÍTULO 1 Sintetizando » Neste capítulo, iniciamos o estudo da Gestão de Empreendimentos Sociais Sustentáveis estimulando o debate sobre as possíveis articulações entre o Estado, a sociedade e o meio ambiente; » Para isso, em primeiro lugar, procuramos aprofundar a discussão sobre a Gestão Ambiental Pública, refletindo sobre as noções de meio ambiente, de público e de gestão; » Em seguida, buscamos situar algumas atribuições específicas e responsabilidades do Poder Público nesse contexto. O direito ao meio Ambiente ecologicamente equilibrado é dever de todos, mas ao Poder Público competem determinadas atribuições específicas; » Discutimos que a questão ambiental só se torna possível a partir da relação entre meio natural e meio social e, por esse motivo, é preciso contextualizá-la no tempo e espaço; » Reforçamos a perspectiva interdisciplinar como meio de abordar a complexidade da problemática ambiental; » Discutimos sobre a noção de público e privado, inserindo o meio ambiente como direito difuso; »Reunindo todas essas reflexões, consolidamos – introdutoriamente – a importância da noção de Gestão Ambiental Pública. 16 Apresentação Este capítulo apresenta a importância de politizarmos a reflexão sobre as questões socioambientais, distanciando-nos de tendências extremistas que esvaziam um trabalho crítico e reflexivo, tais como: o puro tecnicismo ou o apelo ético-moral. Apresenta, assim, algumas perspectivas da Ecologia Política e da Educação Ambiental Emancipatória no processo de Gestão Ambiental. Situa, para isso, a noção de conflito ambiental como inerente ao campo de atuação do gestor. Objetivos » Problematizar a noção de meio ambiente na e a partir da relação entre meio natural e social, de forma complexa. » Compreender a importância da discussão política no campo socioambiental. » Compreender a noção de conflito ambiental. » Articular as noções de Gestão Ambiental e Educação Ambiental no processo de gestão ambiental emancipatória. 2 CAPÍTULO POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO 17 POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO • CAPÍTULO 2 Politizar a Questão Ambiental Em nosso primeiro capítulo, buscamos situar uma forma particular de abordar a Gestão Ambiental Pública, desnaturalizando alguns entendimentos acríticos e situando-a como resultante de um processo de construção histórica. É preciso entender que a legislação ambiental e a vigente proposição do direito ao meio ambiente equilibrado como dever de todos é fruto de um longo trajeto de lutas, conflitos, avanços e retrocessos vividos pelos movimentos sociais em nosso país. Assim, nos afastamos de uma suposta visão “neutra” de Estado, de direito e de meio ambiente, reconhecendo, também, o marco legal ambiental e as atribuições do Poder Público em sua constituição histórica. Historicizar a questão ambiental implica, assim, assumir uma postura política, impondo a explicitação de escolhas e a reflexão sobre conflitos. É com essa noção que gostaríamos de iniciar nosso segundo capítulo: contextualizando sócio-historicamente e inserindo o conflito como inerente à problemática ambiental. Antes de esclarecer a que estamos nos referindo ao falar em conflito, é importante lançarmos novamente nosso olhar para a constituição desse campo multifacetado, inserindo-o no campo político. Para isso, valemo-nos de Loureiro (2009) para nos acompanhar nessa argumentação... Com o autor, refletiremos que a necessidade de se politizar a discussão ambiental aponta para a possibilidade de escaparmos de radicalismos extremistas que vão do puro tecnicismo à égide economicista ou, ainda, às limitações de um suposto apelo ético-moral-filosófico. Sem pretender, neste capítulo, tecer uma perspectiva histórica sobre o movimento ambientalista, é preciso lembrar a heterogeneidade desse campo, marcado por uma significativa diversidade de concepções, visões de mundo e abordagens teórico-clássicas nem sempre tão claras ou explícitas quanto necessário para um debate aprofundado. Sugestão de estudo Para aprofundar a reflexão sobre essa discussão, sugerimos as seguintes leituras iniciais: Sobre o assunto, ver LOUREIRO, C. F. B., BARBOSA, G. L., ZBOROWSKI, M. B. Os vários “ecologismos dos pobres” e as relações de dominação no campo ambiental. In: LOUREIRO, C. F. B., LAYRARGUES, P. P., CASTRO, R. S. de (orgs.). Repensar a educação ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009. Por um lado, certas correntes conservacionistas dão primazia ao discurso técnico-científico esvaziando qualquer diálogo político. Aqui, noções de impacto ambiental, por exemplo, são reduzidas ao manejo e controle de externalidades e condicionantes. Os argumentos técnicos são 18 CAPÍTULO 2 • POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO evocados para legitimar a lógica da produção e do mercado. Em consequência, os profissionais aí envolvidos – sejam gestores e/ou educadores ambientais – inserem-se como experts ou especialistas que detêm o poder e a autoridade de ver, traduzir e falar em nome da natureza. Nessa imagem, os fatos estão dados, naturalizados e sem nenhuma historicidade, à espera da visão dos técnicos e cientistas. Esses são detentores de saberes que os separam dos outros humanos e legitimam sua atuação-apropriação. Ascelrad e Mello (2002, p. 296-297), utilizando-se da Teoria da Sociedade de Risco, de Ulrich Beck, apontam: A reflexividade política da sociedade de risco teria substituído o sujeito revolucionário na medida em que os cidadãos percebem que os guardiães da ordem legalizam as ameaça (...) A eficácia dessa reflexividade repousaria na crença na soberania dos sentidos – os olhos tornam-se instituições de pesquisa, e os ouvidos, autoridades de saúde, afirma Beck. Para ele, portanto, na Sociedade de Risco, a plena politização da tecnologia faria dos cientistas e técnicos sujeitos diretos do poder. Para ele, o poder da tecnologia ultrapassaria o poder das decisões políticas, pelo comando da prática. A tecnologia seria a política do fato realizado, e o monopólio da tecnologia se tornaria o monopólio da mudança social (BECK, 1992, p. 109) (...) Vemos aqui um certo número de assertivas resultantes de uma reificação das técnicas: a destruição material é vista como “revolução”, e o poder destrutivo material, como força revolucionária (Beck, 1995:8). No entanto, as conseqüências ampliadas da capacidade destrutiva das técnicas não as tornam necessariamente políticas em si. Político seria o uso do poder tecnológico para impor os rumos e projetos à sociedade, pois há uma relação de subordinação do poder técnico sobre as coisas ao poder político sobre a sociedade. Em outro extremo, e tão ou mais frequente quanto essa primeira posição tecnicista supracitada, encontramos um discurso ambientalista eivado de apelos a valores ditos universais que busca ou mesmo promete um mundo “harmônico e sem conflitos”, em que os problemas sociais e ambientais serão resolvidos. Aqui, toda e qualquer iniciativa é válida somente por sua intenção, independente de suas bases ou estrutura. Práticas que igualmente correm o risco de trazer soluções descontextualizadas e esvaziadas, sem nenhuma visão crítica ou problematizadora do trabalho socioambiental, situando nas esferas individuais (e pontuais) – por consenso – as causas e soluções dos problemas ambientais. Loureiro (2009a, p. 47), referindo-se especificamente às iniciativas de Educação Ambiental, por exemplo, sinaliza a tendência a se retomar: Aspectos conservadores da educação há muito levantados e questionados por pesquisadores desta área, estabelecendo as dicotomias: supremacia do saber científico sobre o popular; solução técnica descolada das relações de poder e 19 POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO • CAPÍTULO 2 da política; e “caminho para a salvação planetária” associado exclusivamente ao plano da ética e da consciência como se estas estivessem fora da organização social e da dinâmica que define mutuamente as dimensões que formam o todo em que vivem Em outro ponto de sua obra (LOUREIRO; BARBOSA; ZBOROWSKI, 2009b), o autor retoma as proposições de Allier em seu Ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração (2007) ajudando-nos a compreender que embora nem sempre essas posições estejam didaticamente situadas de modo distinto, é possível identificar bases comuns para cada racionalidade ou modo de se pensar-agir no campo ambiental. Nessa obra, Allier (2007) aponta três correntes ambientalistas principais: o conservacionismo ou culto ao silvestre que exaltaria a proteção da vida e da natureza acima de todas as coisas, excluindo o humano em todas as suas dimensões; o evangelho da ecoeficiência focado na questão econômica e tecnológica como estratégias-meio de dominação utilitarista da natureza e finalmente o ecologismo dos pobres ou movimento de justiça ambiental que ressalta as desigualdades e injustiças sociais características do modo de produção capitalista, situando as condições materiais de sobrevivência na raiz dos conflitos ambientais.. Em suma, na base da Ecologia Política encontraremos as contribuições da Economia Política – que nos ajuda a compreender como uma sociedade se organiza a partir de suas bases materiais – e da Economia Ecológica – que inclui a dimensão ecológica nessa discussão, ressaltando os antagonismos entre os ciclos e dinâmicas da própria natureza e da sociedade. Desse modo, a Ecologia Política traz como pauta a premência de se aprofundar a discussão ambiental de forma crítica e reflexiva, inserindo-a em um contexto mais amplo que considere as bases da organização societária para se compreender, por exemplo, os conflitos de interesses públicos e privados pelo acesso aos recursos naturais. Traz, assim, o questionamento sobre que sociedade queremos construir e, ao mesmo tempo, a possibilidade de compreendermos como somos determinados na e pela materialidade sociopolítico-econômica. O Materialismo Histórico é trazido aqui por sua atualidade ajudando-nos tanto a compreender o contexto no qual atuamos como também por sua potencialidade como instrumento político. A expressão materialismo histórico aparece em 1889, utilizada por Engels para dizer que a concepção materialista da história se baseia na ideia de que a produção constitui a base da ordem social e que, portanto, a política não deve ser procurada nas cabeças dos homens, mas nas transformações dos modos de produção. Marx também expõe esse ponto de vista quando diz que as relações jurídicas e as formas de governo não podem ser compreendidas por si mesmas nem pela evolução de pensamento humano, pois estão enraizadas nas condições materiais da vida (DICIONÁRIO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 1987, p. 728). 20 CAPÍTULO 2 • POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO A esta altura, é possível que você esteja se perguntando se não estaríamos nos afastando demais de nosso foco de formação em Gestão Pública. Acreditamos que não e apostamos que uma formação sólida, na área, hoje, implica bem mais que o ensino-aprendizagem de um conjunto de técnicas e procedimentos de gestão. As ditas “ferramentas de trabalho” estão aí disponíveis... o diferencial está nas escolhas que fazemos, na forma como as utilizamos. Nesse sentido, é fundamental refletirmos sobre o atual contexto da contemporaneidade, explicitando nossas visões de mundo, os parceiros e pares com os quais dialogaremos, nossas opções de negociação e intervenção. Pense nisso! Reconhecer o conflito na/da problemática ambiental Nesse âmbito, vale retomarmos o ponto inicial de nosso nosso primeiro capítulo: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, Constituição da República Federativa, 1988, art. 225). Se a garantia ao meio ambiente equilibrado é direito e dever de todos, torna-se necessário refletirmos sobre quem somos nessa coletividade. É pertinente ainda insistir que só podemos falar em meio ambiente na relação entre meio natural e social. E sabemos que as formas de acesso, uso e relacionamento do homem/mulher com os recursos naturais transformam-se no tempo-espaço, variando de cultura para cultura, região para região, classe para classe... Ao admitirmos essas múltiplas relações, enfatizamos a heterogeneidade desse coletivo que supostamente deve garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado. O acesso e uso da água não tem o mesmo significado para uma população ribeirinha, um empresário em uma grande metrópole e uma indústria alimentícia, por exemplo. Vejamos as colocações de Quintas (2009, p. 13-14) nesse sentido: esta coletividade não é homogênea; ao contrário, sua principal característica é a heterogeneidade. Nela convivem interesses, necessidades, valores e projetos de futuro, diversificados e contraditórios, classes sociais, etnias, religiões e outras diferenciações. No caso do Brasil, o poder de decidir e intervir para transformar o ambiente, seja ele físico, natural ou construído, e os benefícios e custos decorrentes estão distribuídos social e geograficamente na sociedade de modo assimétrico. Por serem detentores de poder econômico ou de poderes outorgados pela sociedade, determinados atores sociais possuem, por meio de suas ações, capacidade variada de influenciar direta ou indiretamente a transformação (de modo positivo ou negativo) da qualidade do meio ambiente. É o caso do setor empresarial 21 POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO • CAPÍTULO 2 (poder do capital); dos legislativos (poder de legislar); do Judiciário (poder de condenar e absolver); do Ministério Público (o poder de investigar e acusar); dos órgãos ambientais (poder de definir padrões de qualidade ambiental, embargar, licenciar, multar); dos jornalistas (poder de influenciar na formação da opinião pública); das agências estatais de desenvolvimento (poder de financiamento, de criação de infraestrutura) e de outros atores sociais, cujos atos podem ter grande repercussão na qualidade ambiental e, consequentemente, na qualidade de vida das populações. Entretanto, estes atores, ao tomarem suas decisões, nem sempre levam em conta os interesses e necessidades dos diferentes grupos sociais, direta ou indiretamente afetados. As decisões tomadas podem representar benefícios para uns e prejuízos para outros. Um determinado empreendimento pode representar lucro para empresários, emprego para trabalhadores, conforto pessoal para moradores de certas áreas, votos para políticos, aumento de arrecadação para governos, oportunidade de emprego para um segmento da população e, ao mesmo tempo, implicar prejuízo para outros empresários, desemprego para outros trabalhadores, perda de propriedade, empobrecimento dos habitantes da região, ameaça à biodiversidade, erosão, poluição atmosférica e hídrica, violência, prostituição, doenças, desagregação social e outros problemas que caracterizam a degradação ambiental. Assim, na vida prática, o processo de apropriação e uso dos recursos ambientais não acontece de forma tranquila. Há interesses, necessidades, racionalidades, poder, custos e benefícios em jogo e, consequentemente, conflitos (potenciais e explícitos) entre atores sociais que atuam de alguma forma sobre estes recursos, visando seu uso, controle e/ou sua defesa. Processo que em última instância determina a qualidade ambiental e a distribuição espacial, temporal e social de custos e benefícios. Todavia, um mesmo dano ou risco ambiental decorrente de alguma ação sobre o meio que, a partir de determinada racionalidade, é tido como inaceitável por um ator social, pode ser considerado desprezível ou inexistente por outro, se avaliado sob o ponto de outra racionalidade. Ao reconhecermos essas múltiplas racionalidades que coexistem, compreendemos o que afirmamos acima: o conflito é inerente à problemática ambiental. Muitas vezes, torna-se difícil trabalharmos com essa dimensão do conflito, uma vez que fomos educados socioculturalmente, para acreditarmos em uma pretensa visão de sociedade harmônica e homogênea, pautada pela possibilidade do consenso. Nessa, somos treinados a eliminar e anular – não reconhecendo ou desconhecendo – o conflito. Uma atuação crítica e reflexiva em Gestão Ambiental implica, ao contrário, o reconhecimento de que o acesso e utilização dos recursos naturais são assimétricos e, por assim ser, devem ser problematizados. Dessa forma, o gestor público deve incluir em seu trabalho a identificação das contradições, possíveis posicionamentos distintos, divergentes ou convergentes, formas de ação e atuação adotadas por cada um para defender e garantir os próprios interesses. 22 CAPÍTULO 2 • POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO A noção de conflito ambiental distingue-se, nessa abordagem, da tradicional definição de problema ambiental. Nesse, existem situações de risco ou dano socioambiental, mas os atores sociais aí envolvidos não explicitam reaçãofrente ao mesmo. O conflito instaura-se no confronto de interesses entre as partes afetadas (ASCERALD e MELLO, 2002). “Portanto, podemos dizer que todos os conflitos ambientais envolvem um problema ambiental ou a disputa em torno da defesa e/ou controle de determinada potencialidade ambiental, mas nem todo problema ambiental envolve um conflito.” (QUINTAS, 2006, p. 73). Essa perspectiva desdobra-se, também, para a assunção de que não há neutralidade na intervenção do gestor público: estamos sempre comprometidos, de forma explícita ou não, fazendo escolhas, definindo prioridades, alocando ou manejando recursos, contabilizando custos e benefícios das ações socioambientais que gerimos. Um trabalho de Educação Continuada desses gestores encontra-se com uma “proposta de Educação Ambiental emancipatória e comprometida com o exercício da cidadania” (QUINTAS, 2006). Finalizamos assim, com alguns importantes apontamentos de Quintas (2006, p. 16 e segs.) nesta perspectiva: 1. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é: › direito de todos; › bem de uso comum; › essencial à sadia qualidade de vida. 2. Preservar e defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado para presentes e futuras gerações é dever: › do Poder Público; › da coletividade. 3. Preservar e defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado antes de ser um dever é um compromisso ético com as presentes e futuras gerações. Sugestão de estudo Quintas é um autor central para a discussão sobre a Gestão Ambiental Pública. Ele foi Coordenador-Geral de Educação Ambiental do Ibama. Como fruto de seu trabalho e de sua equipe, há inúmeros títulos disponíveis sobre o assunto voltados à capacitação e atualização profissional nessa área. Pesquise! Leia! Estas são apenas algumas sugestões: IBAMA. Como o Ibama exerce a educação ambiental. Coordenação-Geral de Educação Ambiental. Brasília. Edições Ibama, 2002. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/educacaoambiental/divs/como_ exerce.pdf. QUINTAS, J. S. (org.) Introdução à gestão ambiental pública. Brasília: Ibama, 2006. QUINTAS, J. S. (org.). Pensando e praticando a educação ambiental na gestão do meio ambiente. Brasília: Ibama, 2000. http://www.ibama.gov.br/educacaoambiental/divs/como_exerce.pdf http://www.ibama.gov.br/educacaoambiental/divs/como_exerce.pdf 23 POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO • CAPÍTULO 2 4. No caso do Brasil, o compromisso ético de preservar e defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações implica: › construir um estilo de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente seguro, num contexto de dependência econômica e exclusão social; › praticar uma Gestão Ambiental democrática, fundada no princípio de que todas as espécies têm direito a viver no planeta, enfrentando os desafios de um contexto de privilégios para poucos e obrigações para muitos. 5. A gestão ambiental é um processo de mediação de interesses e conflitos entre atores sociais que disputam acesso e uso dos recursos ambientais. 6. A gestão ambiental não é neutra. O Estado, ao assumir determinada postura diante de um problema ambiental, está de fato definindo quem ficará, na sociedade e no país, com os custos, e quem ficará com os benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio, seja ele físico-natural ou construído. 7. Ao praticar a gestão ambiental, o Estado distribui custos e benefícios de modo assimétrico na sociedade. (no tempo e no espaço) 8. A sociedade não é o lugar da harmonia, mas, sobretudo, de conflitos e dos confrontos que ocorrem em suas diferentes esferas (da política, da economia, das relações sociais, dos valores etc.). 9. Apesar de sermos todos seres humanos, quando se trata de transformar, decidir ou influenciar sobre a transformação do meio ambiente, há na sociedade uns que podem mais do que outros. 10. O modo de perceber determinado problema ambiental, ou mesmo a aceitação de sua existência, não é meramente uma questão cognitiva, mas é mediado por interesses econômicos, políticos, posição ideológica e ocorre em determinado contexto social, político, espacial e temporal. 11. A Educação no Processo de Gestão Ambiental deve proporcionar condições para produção e aquisição de conhecimentos e habilidades, e o desenvolvimento de atitudes visando à participação individual e coletiva: › na gestão do uso dos recursos ambientais; › na concepção e aplicação das decisões que afetam a qualidade dos meios físico, natural e sociocultural. 12. Os sujeitos da ação educativa devem ser, prioritariamente, segmentos sociais que são afetados e onerados, de forma direta, pelo ato de gestão ambiental e dispõem de menos condições para intervirem no processo decisório. 24 CAPÍTULO 2 • POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO 13. O processo educativo deve ser estruturado no sentido de: › superar a visão fragmentada da realidade através da construção e reconstrução do conhecimento sobre ela, num processo de ação e reflexão, de modo dialógico com os sujeitos envolvidos; › respeitar a pluralidade e diversidade cultural, fortalecer a ação coletiva e organizada, articular os aportes de diferentes saberes e fazeres e proporcionar a compreensão da problemática ambiental em toda a sua complexidade; › possibilitar a ação em conjunto com a sociedade civil organizada e sobretudo com os movimentos sociais, numa visão de educação ambiental como processo instituinte de novas relações dos seres humanos entre si deles com a natureza; › proporcionar condições para o diálogo com as áreas disciplinares e com os diferentes atores sociais envolvidos com a gestão ambiental. Sintetizando Vimos até agora: » A importância de politizarmos a reflexão sobre as questões socioambientais. » A existência de duas tendências na atuação do gestor ambiental: o puro tecnicismo e o apelo ético-moral. » A diferença entre as noções de conflito e problema ambiental. » A atuação do gestor ambiental não é neutra, estando sempre comprometida e implicando escolhas. » A importância de articularmos a Gestão Ambiental à Educação Ambiental Emancipatória. 25 Apresentação Neste capítulo, vamos avançar um pouco mais no estudo sobre a Gestão de Empreendimentos Sociais Sustentáveis. Para isso, discutiremos como a questão da responsabilidade social tornou-se o ponto de partida para o estabelecimento do compromisso das organizações com o ambiente em que se inserem, atualmente. Espera-se que essa disciplina não seja apenas uma matéria a ser “estudada”, mas uma disciplina transformadora. Ou seja, que você possa desenvolver sua postura cidadã, sendo crítico(a) em relação à sua responsabilidade pessoal e profissional, diante da sociedade e do ambiente em que vive. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Compreender o panorama histórico da Responsabilidade Social das Empresas (RSE) no Brasil. » Distinguir a diferença entre marketing comercial, marketing social e responsabilidade social. » Fazer uma reflexão crítica sobre a importância do papel da RSE para a sociedade. » Refletir sobre o impacto das ações socialmente responsáveis das empresas no mercado, no meio ambiente, na comunidade e relacionar com a gestão da organização. » Relacionar os impactos e ações na gestão socialmente responsável com o governo e a sociedade. 3 CAPÍTULO RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARKETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS 26 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS Como Está a Responsabilidade Social Hoje? A responsabilidade social é um tema atual e, nos últimos anos, vem sendo consolidada a crença de que as organizações devem assumir um papel mais amplo perante a sociedade, que não somente o de maximização de lucro. O crescente aumento da complexidade dos negócios, o avanço de novas tecnologias e o incremento da produtividade levaram a um aumento significativo da competitividade entre as organizações e, dessa maneira, elastendem a investir mais em processos de gestão de forma a obter diferenciais competitivos. Para as empresas, a responsabilidade social pode ser vista como uma estratégia a mais para manter ou aumentar sua rentabilidade e potencializar o seu desenvolvimento. Isso é explicado ao se constatar maior conscientização do consumidor, o qual procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente e a comunidade. As organizações que se preocupam em criar valor à sociedade tendem a criar seu espaço no mercado naturalmente e não condiz com as empresas buscarem o lucro a qualquer custo. É preciso respeitar conceitos como sustentabilidade global e ter preocupação com valores universais. Desse modo, a responsabilidade social tem se apresentado como um tema, cada vez mais importante, no comportamento das organizações e exercido impactos nos objetivos e nas estratégias das empresas. O que Pretendem as Empresas com a Responsabilidade Social? Para Cimbalista (2001), a responsabilidade social é uma iniciativa das empresas que realizam atividades para atender às comunidades em suas diversas formas, como: » Conselhos comunitários. » Organizações não governamentais. » Associações comunitárias, entre outras. Em que áreas atuam essas instituições? Essas associações atuam em áreas de assistência social, alimentação, saúde, educação, cultura, meio ambiente e desenvolvimento comunitário. Atendem a determinada população com ações estruturadas, por meio do planejamento e monitoramento de recursos, seja pela própria empresa, por fundações e institutos de origem empresarial, ou por indivíduos especialmente contratados para a atividade. Mas, afinal, o que vem a ser responsabilidade social? 27 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 Vamos recordar... O conceito de responsabilidade social pode ser entendido como: Responsabilidade Social é um comportamento que as empresas adotam voluntariamente e para além das prescrições legais, porque consideram ser esse o seu interesse a longo prazo. (Comissão das Comunidades Europeias, 2001) Responsabilidade social corporativa é o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comprometimento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, simultaneamente, à qualidade de vida de seus empregados e de seus familiares, da comunidade local e da sociedade como um todo. (ASHLEY, 2005) Por que responsabilizar socialmente a empresa? » A empresa consome recursos naturais, renováveis ou não, direta ou indiretamente, que são patrimônio gratuito da humanidade. » A empresa utiliza capitais financeiros e tecnológicos que, no fim da cadeia, pertencem a pessoas físicas. » Utiliza capacidade de trabalho da sociedade. » Subsiste em função da organização do Estado que a sociedade lhe viabiliza como parte das condições de sobrevivência. » Ao usufruir, em benefício próprio, desses recursos, a empresa contrai uma dívida social para com a sociedade e para com a humanidade. Provocação Você concorda com esses argumentos da “responsabilização social” das empresas? Falta algum argumento importante? 28 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS Vamos Entender como Surgiu a Responsabilidade Social no Brasil Origem da responsabilidade social O que aconteceu na década de 1970? De acordo com Cunha (s/d), no Brasil, o reconhecimento da função social das empresas culminou com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE) na década de 1970 aliado ao enfraquecimento do Estado do Bem-Estar Social (em inglês: Welfare State), também conhecido como Estado-providência, é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. Nessa orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes, de acordo com o país em questão. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e proteção à população. O modelo de Estado do Bem-estar que emergiu na segunda metade do século XX, na Europa Ocidental, se estendeu para outras regiões e países e chegou ao auge na década de 1960. No transcurso dos anos 1970, porém, esse modelo de Estado entrou em crise. E o Brasil? O Brasil nunca chegou a estruturar um Estado de Bem-estar semelhante aos dos países de primeiro mundo. Não obstante, o grau de intervenção estatal na economia nacional teve início na Era Vargas (1930-1945) e chegou ao auge durante o período da ditadura militar (1964-1985). Paradoxalmente, os mais beneficiados com os gastos públicos em infraestrutura (nas áreas de telecomunicações, energia elétrica, autoestradas) e construção de grandes empresas públicas foram, justamente, os empresários brasileiros e estrangeiros. Na década de 1970, porém, setores mais influentes da classe empresarial começaram a dirigir críticas ao intervencionismo estatal. Na época, a palavra mais usada pelos empresários paulistas em sua campanha contra o intervencionismo estatal na economia era “desestatização”. Quando ocorreu a transição para a democracia, os partidos políticos de esquerda e os movimentos populares acreditavam que tinha chegado o momento e o Estado brasileiro saldar a imensa dívida social diante das profundas desigualdades sociais e pobreza extrema reinantes no País. Não obstante, todos esses anseios foram frustrados. Os governos democráticos que se sucederam a partir de 1985 adotaram inúmeras políticas, chamadas de neoliberais, cujos desdobramentos mais evidentes foram as privatizações de inúmeras empresas estatais. 29 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 E no final da década de 1980 e anos posteriores? Sobretudo a partir dos anos 80, as empresas passaram a se preocupar mais com os problemas que envolviam a sociedade e o meio ambiente, nos quais estariam inseridos se responsabilizando por áreas em que o Estado não consegue suprir, eficientemente, as necessidades dessa população, rompendo um paradigma de que as empresas só visavam aos lucros. No entanto, a concepção do conceito de responsabilidade social teve um espaço maior no final da década de 1980, consolidando-se nos últimos anos, de 1990 a 2003. Entre os fatores relevantes, destacam-se: » A reorganização do capital, que transformou o cenário econômico, tendo como pilar a competitividade mundial, regional e local, exigindo um perfil para a indústria e para os trabalhadores. » A campanha contra a fome, de Herbert de Souza (Betinho). » O fortalecimento dos movimentos sociais. » As profundas transformações do mundo contemporâneo provocaram incertezas e instabilidade como fatores ameaçadores à sobrevivência das organizações empresariais, ao mesmo tempo em que fortaleceu a valorização do conhecimento e do progresso. » A insuficiência do papel do Estado implicou graves críticas às políticas públicas, marcadas pelo assistencialismo, pelas insuficiências dos recursos, pela privatização dos serviços sociais. » O crescimento da violência urbana gerou a necessidade coletiva de se repensar e criar novas iniciativas de Responsabilidade Social (CUNHA, s/d.). Nesse cenário... Surgem as entidades empresariais, como: » Grupo de Institutos. » Fundações e empresas (Gife). » Institutos Ethos de empresas e Responsabilidade Social (Ethos). » Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE). » Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). » Gazeta Mercantil, além de outras, tendo como foco um novo pensar e agir no âmbito empresarial, dando uma conotação cidadã na arte dos negócios. 30 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS Nessa perspectiva... Os investimentos sociais privados ganham forma no Brasil, cujo olhar se centraliza na alocação voluntária de recursos privados, para buscar retorno alternativode inclusão social e influenciar nas políticas públicas, organização, universidades. Nesse contexto, o Grupo de Institutos e Fundações Empresárias (Gife) é considerado protagonista. (CUNHA, s/d).. A responsabilidade social não representa apenas investimento social privado, aquele realizado por meio de projetos sociais na comunidade, mas uma nova postura da organização frente aos stakeholders, ou seja, aos seus diversos públicos, interno e externo, incluindo empregados, fornecedores, acionistas, clientes e consumidores, meio ambiente, comunidade e, até, concorrentes. E as vantagens das organizações serem socialmente responsáveis? Melo Neto (2001) mostra quais são as vantagens de as empresas serem socialmente responsáveis, tais como: » prestígio; » credibilidade; » comprometimento dos empregados para com a organização; » ganho de imagem institucional; » aumento da produção; » aumento das vendas; » incentivos fiscais. A Importância do Papel da Responsabilidade Social A enorme carência e desigualdades sociais existentes no Brasil conduzem as ações de responsabilidade social a terem relevância ainda maior, reforçando a importância dos papéis das instituições no processo de desenvolvimento do país (CIMBALISTA, 2001) A responsabilidade social é entendida como um relacionamento ético das empresas e como esta está inserida na sociedade. É importante que ambas tenham uma relação de interdependência. Essa relação gera ações concretas trazendo benefícios à sociedade e criam ou recriam as condições necessárias para o desenvolvimento crescente da cidadania (BENEDICTO, 2002). 31 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 Ao adotar estratégias voltadas à gestão da responsabilidade social, as empresas assumem uma função de relevante interesse social, pois não se trata apenas de doar dinheiro a determinada população, mas, sim, de mobilizar a empresa e a comunidade em prol de uma causa. É importante que esta tenha uma convivência com as comunidades próximas a sua localidade, pois é nela que, muitas vezes, encontram seus empregados, clientes e fornecedores. Esse exercício da responsabilidade social não só contribui para o bem-estar da sociedade, mas, também, para o crescimento da própria organização. Com essa prática, tanto a empresa quanto a sociedade obtêm benefícios, ou seja, todos ganham mais credibilidade e evidência e a população pode usufruir dessas atividades, contribuindo para a cidadania da sociedade. Apesar de o Estado ser o principal responsável no que diz respeito às questões sociais, ele não possui condições para elaborar e/ou implementar sozinho essas políticas. Devido a essas limitações das ações do Estado, somente com uma mobilização da sociedade será possível reunir recursos suficientes para enfrentar esses problemas. Sendo indispensável a busca de parcerias fora do Estado, mais especificamente, nas empresas privadas e no terceiro setor – próximo capítulo (STEFANO; NEVES; BUENO, 2003). O próprio Estado, ao se deparar com sua incapacidade de atender à enorme demanda de serviços sociais, iniciou um processo no sentido de elaboração de políticas sociais que pudessem atuar em parceria com organizações não governamentais. Dessa forma, os recursos necessários para a ação social efetiva foram repassados para que essas organizações com sua agilidade garantissem maior eficácia às soluções emergentes. Como se trata de um investimento, tanto as pessoas físicas como as jurídicas, que financiam projetos de cunho social, têm o intuito de aferir os resultados alcançados pela sociedade e pela própria organização. Iniciativas como essas também contribuem para que as organizações tenham maior visibilidade no mercado. Desse modo, pode-se definir, por meio desse contexto, a responsabilidade social como um papel das instituições com os agentes sociais no desenvolvimento do ser humano e da comunidade na qual estão inseridos (STEFANO, NEVES; BUENO, 2003). Ao se falar em responsabilidade social, não há como escapar à dúvida: Responsabilidade Social é uma forma de filantropia? Portanto, faz-se importante não confundir a responsabilidade social como uma forma de filantropia; pelo contrário, seu conceito refere-se a uma sustentabilidade, em longo prazo, numa lógica de desempenho e lucro. Passa-se a contemplar a preocupação com os efeitos sociais e ambientais de suas atividades, com o objetivo de contribuir com a qualidade de vida da população. Dessa forma, a responsabilidade social contribui para o compromisso de questões que vão além das suas obrigações trabalhistas previstas em leis, mas, principalmente, para a adoção de valores, condutas e procedimentos éticos, ambientais e sociais. Por meio dessas ações, as organizações 32 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS também aumentam seus lucros, pois o consumidor prefere cada vez mais instituições que se integram à sociedade (STEFANO; NEVES; BUENO, 2003). A responsabilidade social é um conjunto de conceitos e ações que contribui para fazer um mundo melhor com a participação de todos e isso inclui toda e qualquer atitude que tomemos para que esse fim seja alcançado. Conforme Stefano, Neves e Bueno (2003), o certificado de padrão de qualidade e adequação ambiental dá-se com a International Organization for Standardization (ISO), que é uma organização não governamental fundada em 1947, em Genebra, e hoje presente em cerca de 157 países. A sua função é a de promover a normatização de produtos e serviços, para que a qualidade destes seja permanentemente melhorada. A norma que atende, especificamente, à responsabilidade social é a SA 8000. Essa foi feita se baseando nas normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Universal dos Direitos da Criança da ONU. A norma segue o modelo das Normas ISO 9000 e 14000, o que facilita a sua implantação por empresas que já conhecem esse sistema, normalmente as maiores e melhores empresas do mundo. Por meio da implantação da SA 8000, a empresa demonstra que está preocupada com a responsabilidade social em relação a seus empregados e ao ambiente externo. A Norma Internacional SA8000, sobre “Responsabilidade Social”, valoriza os seguintes “requisitos de Responsabilidade Social”: » Trabalho Infantil. » Trabalho Forçado. » Saúde e Segurança. » Liberdade de Associação e Direito à Negociação Coletiva. » Discriminação. » Práticas Disciplinares. » Horário de Trabalho. » Remuneração. » Sistemas de Gestão. Para refletir Quantas vezes nos contradizemos, julgamos o outro, nossos políticos, as autoridades pelo que fazem e pelo que não fazem e nos esquecemos de olhar no espelho, de agir no dia a dia? Esquecemos que quando apontamos o dedo para o outro, há mais três nos apontando. Reclamamos de Lava-Jato, mensalões, sanguessugas, de malas e cuecas, mas esquecemos de perguntar: O que estamos fazendo de efetivo para compor uma sociedade melhor? Qual a norma e regulamentos da responsabilidade social das empresas? Você conhece a norma que regulamenta a responsabilidade social e os seus requisitos? 33 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 A busca de certificação social também tem contribuído como diferencial competitivo para as empresas. A Fundação Abrinq vem certificando algumas empresas que não trabalham com mão de obra infantil, incluindo seus fornecedores. Dados da pesquisa Ethos/Valor mostram que 53% dos entrevistados boicotaram os produtos de uma empresa que utiliza mão de obra infantil. Um exemplo é o que ocorreu com a empresa americana Nike, acusada de empregar mão de obra infantil em suas fábricas no território asiático, tendo que realizar um grande planejamento estratégico para que essa imagem negativa fosse eliminada do mercado. Paralelamente à certificação do cumprimento da Norma Internacional SA800 (ou outra equivalente, de naturezasimilar), muitas organizações produtivas adiantaram-se na publicação do Balanço Social da Empresa, como já é obrigatório em muitos outros países, e tende a ser em nosso país. O que vem a ser Balanço Social? O Balanço Social é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa, reunindo um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa. (Ibase) Para refletir A empresa para a qual você trabalha ou recentemente trabalhou publica seu Balanço Social anualmente? Do “Balanço Social” fazem parte os seguintes “Indicadores Sociais Internos”: » Alimentação. » Previdência privada. » Saúde. » Segurança e Medicina no Trabalho. » Educação. » Cultura. Para refletir A empresa para a qual você trabalha ou recentemente trabalhou já foi certificada para a norma internacional de “Responsabilidade Social” (SA8000)? 34 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS » Capacitação e desenvolvimento profissional. » Creches ou auxílio-creche. » Participação nos lucros ou resultados. São considerados Indicadores Sociais Externos: » Educação. » Cultura. » Saúde e Saneamento. » Esporte. » Combate à Fome e Segurança Alimentar. Fazem parte do Balanço Social da Empresa, os seguintes Indicadores Ambientais: » Investimentos relacionados com a produção/operação da empresa. » Investimentos em programas e/ou projetos externos. » Quanto ao estabelecimento de “metas anuais” para minimizar resíduos, o consumo geral na produção/operação e aumentar a eficácia na utilização de recursos naturais, a empresa: ( ) não possui metas; ( ) cumpre de 0% a 50%; ( ) cumpre de 51% a 75%; ( ) cumpre de 76% a 100%. O “modelo do Ibase” inclui no Balanço Social da Empresa os seguintes Indicadores do Corpo Funcional: » Número de empregados(as) ao final do período. » Número de admissões durante o período. » Número de empregados(as) terceirizados(as). » Número de estagiários(as). » Número de empregados(as) acima de 45 anos. » Número de mulheres que trabalham na empresa. » % de cargos de chefia ocupados por mulheres. » Número de negros(as) que trabalham na empresa. 35 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 » % de cargos de chefia ocupados por negros(as). » Número de portadores(as) de deficiência ou necessidades especiais. Por último, fazem parte do Balanço Social da Empresa as seguintes Informações relevantes quanto ao exercício da Cidadania Empresarial: » Relação entre a maior e a menor remuneração na empresa. » Número total de acidentes de trabalho. » Os projetos sociais ambientais desenvolvidos pela empresa foram definidos por: ( )Direção; ( )Direção e Gerências; ( )Todos(as) os(as) Empregados(as). Para refletir Qual a diferença entre Marketing Comercial e Marketing Social? Será que o conceito de Marketing social se parece com o de Marketing? Para entender o Marketing Social Primeiro, vamos definir o que seja Marketing: Segundo Kotler (2000), O marketing é um processo social e gerencial por meio do qual os indivíduos e os grupos obtêm aquilo de que precisam e também o que desejam, em razão da criação e da troca de produtos/serviços de valor com outra pessoa. Para McCathy (2000), O marketing é a ação de antever as necessidades do cliente, direcionando os esforços da organização ao atendimento de tais necessidades, por meio da oferta de produtos e serviços. Conceito de marketing social Segundo Kotler e Zaltman (1971), o design, implementação e controle de programas que buscam aumentar a aceitabilidade das ideias sociais e que envolve considerações acerca do design 36 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS do produto, estabelecimento de preço, comunicação, distribuição e pesquisa de marketing. Andreasen (2002) afirma, Nos termos mais simples, o marketing social é a aplicação das tecnologias de marketing desenvolvidas no setor comercial à solução de problemas sociais, onde o resultado almejado é a mudança de comportamento. Segundo Kotler (2000), É uma tecnologia de administração de mudança social associada ao projeto de implementação e controle de programas destinados a aumentar a disposição das pessoas para a aceitação de uma ideia, um comportamento e/ou prática social. Enfim, o marketing social se distingue do marketing comercial por beneficiar em primeira instância o indivíduo ou a sociedade. O objetivo do marketing social é modificar atitudes ou comportamento atendendo a interesses do mercado ou sociedade, que se dá pela concretização de ideias e serviços. E afinal, qual é a diferença entre marketing social e responsabilidade social? O marketing social tem como objetivo a mudança de comportamento da sociedade para com o bem social, utilizando ferramentas mercadológicas e técnicas de marketing. A responsabilidade social, como vimos anteriormente, é a preocupação que as empresas, pessoas e governo têm pelo social. Alguns tipos de marketing social: » Marketing da filantropia. » Marketing das campanhas sociais. Saiba mais No Brasil, as 500 maiores empresas gastam anualmente US$ 2,8 bilhões em segurança e US$ 18 milhões/mês em filantropia. Nos EUA, o exercício da filantropia corporativa por doações é o segmento que mais cresce, empresas norte-americanas doam US$ 150 bilhões a mais de 600 mil instituições sem fins lucrativos. Um exemplo de filantropia foi a doação de US$ 200 milhões pela Microsoft abastecendo bibliotecas públicas americanas com softwares educacionais. 37 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 Marketing da filantropia Conceito surgido nos EUA, com a doação de milionários americanos de parte de suas fortunas, para ações sociais do governo e sociedade civil. Em 1982, Jerry Welch, executivo da American Express, criou o conceito de marketing de causa (cause-related marketing). A doação de parte das despesas dos clientes do cartão Amex para entidades sem fins lucrativos, na região de São Francisco (Califórnia), aumentou o uso do cartão em 28%. No período de 1989 a 1992, as despesas com o marketing para causas sociais cresceram de US$ 100 milhões para US$ 250 milhões. Características do marketing da filantropia » Promover a imagem do empresário como benfeitor, destacando sua sensibilidade a problemas sociais. » Reforça e divulga a imagem benfeitora da empresa e o espírito de filantropia. » Buscam no governo, na comunidade, nos clientes e nos funcionários o respeito e preferência por seus produtos. » Não estão direcionadas para o marketing da empresa. » Atenuam o estereótipo social de empresa que obtém lucro final. Marketing das campanhas sociais Somente em 1997, as empresas americanas investiram cerca de meio bilhão de dólares, apenas pelo direito de patrocínio de campanhas como a da AIDS e unidades do Corpo de Bombeiros. Movimento surgido no Brasil na década de 1980, com o Movimento Nacional em Defesa das Crianças Desaparecidas e Campanha pela Cidadania e contra a Miséria e a Fome de Betinho. A novela Explode Coração, da TV Globo, iniciou uma grande campanha social abordando o desaparecimento de crianças, apresentando fotos de desaparecidos, sensibilizando os empresários que abraçaram a questão. Mais exemplos: » Campanhas para explicar o trabalho de órgãos governamentais voltados à saúde pública. » Campanhas para chamar a atenção aos problemas sociais como pobreza, intolerância, ou a poluição. » Campanhas para atrair doadores de sangue ou doação de órgãos, entre outros. 38 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS Características: » Forte apelo emocional. » Movimento sério, com adesão de empresas, governo e sociedade civil com rapidez.» Apoio da mídia, especialmente. » Significativo retorno publicitário aos participantes. » Valoriza o produto agregando valor social À embalagem. » Aumenta a visibilidade do produto nas prateleiras. » Forte indutor ao endomarketing, mobilizando funcionários. Registre o que tem observado sobre esse tema, como também suas dúvidas e ideias e apresente a sua tutora. Agora é hora de exercitar o que aprendeu. Prepare-se! Sintetizando Vimos até agora: » Que a responsabilidade social se apresenta como um tema cada vez mais importante no comportamento das organizações, exercendo impactos nos objetivos, estratégias e no próprio significado da empresa. » A importância da responsabilidade social e dos benefícios que ela pode trazer para a corporação, quando aplicada corretamente. » Uma reflexão acerca do conceito e da importância da responsabilidade social Empresarial e desses em relação ao Estado e à sociedade civil. » Que o conceito de filantropia é diferente do de responsabilidade social. » A diferença entre marketing comercial, marketing social e responsabilidade social. » O conceito de balanço social e as normas que regulamentam a empresa socialmente responsável. 39 Apresentação A terminologia terceiro setor é relativamente nova, surgiu no Brasil no final dos anos 1980 e é utilizada para definir um setor que se situa entre o público e o privado. Este capítulo fornecerá uma visão global sobre o terceiro setor, estabelecendo um diálogo sobre: o que é o terceiro setor? O terceiro setor no Brasil e suas tendências. Sua origem, causas do crescimento e importância. A relação de parceria entre Estado, Mercado e Terceiro Setor. Os tipos de organização e, por fim, o trabalho voluntário. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Compreender o desenvolvimento do terceiro setor e o seu relacionamento com os setores governamental e empresarial. » Assimilar o conceito, a origem, a importância do terceiro setor. » Saber diferenciar os tipos de organizações em termos conceituais, de objetivos, formas de atuação e jurídicos, bem como o papel de cada uma. » Conhecer o que é um trabalho voluntário, a lei que o regulamenta e o termo de adesão. 4 CAPÍTULO TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO 40 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO Definindo Terceiro Setor A expressão foi traduzida do inglês third sector, dada a sua origem norte-americana, a exemplo de outra expressão comumente por eles utilizada – non profit organizations, que significa organizações sem fins lucrativos. A influência da expressão serviu para balizar no Brasil o enquadramento de uma atividade não desenvolvida pelo Estado (primeiro setor) e tampouco pela iniciativa privada ora representante do mercado (segundo setor), mas, sim, por uma sociedade organizada (entidades sem fins lucrativos) que substituiu as ações singulares, para a prática conjunta e desinteressada do bem, que formam o terceiro setor. O setor público é o governo, representando o uso de bens públicos para fins públicos. O segundo setor refere-se ao mercado e é ocupado pelas empresas privadas com fins lucrativos. O terceiro é formado por organizações privadas, sem fins lucrativos, desempenhando ações de caráter público. Geralmente, o termo terceiro setor é utilizado para identificar que o espaço dessas organizações na vida econômica não se confunde nem com o Estado nem com o mercado; trata-se de um setor que se identifica com uma terceira forma de redistribuição de riqueza, diferente da do Estado e da do mercado. Fernandes (1994) considera o terceiro setor como uma das possibilidades lógicas do universo de quatro combinações possíveis da conjunção público e privado: Quadro 1. O terceiro setor. AGENTES FINS SETOR Privados PARA Privados IGUAL A: Mercado Públicos Públicos Estado Privados Públicos Terceiro Setor Públicos Privados (corrupção) Fonte: Fernandes, 1994. Para fixação do conceito: Segundo Melo Neto (1999), A expressão Terceiro Setor nasceu da ideia de que a atividade humana é dividida em três setores: um primeiro setor (Estado), em que agentes públicos executam ações de caráter público; um segundo setor (mercado), no qual agentes privados Saiba mais Você sabia que no Brasil o terceiro setor possui aproximadamente 12 milhões de pessoas, entre gestores, voluntários, doadores e beneficiados de entidades beneficentes, além dos 45 milhões de jovens que veem como sua missão ajudar o terceiro setor. 41 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 agem visando a fins particulares; e um terceiro setor relacionado às atividades que são simultaneamente não governamentais e não lucrativas. Quadro 2. Definidores do Terceiro Setor. ELEMENTOS DEFINIDORES DESCRIÇÃO Foco Bem-estar público Interesse comum. Questões centrais Pobreza, desigualdade e exclusão social. Entidades participantes Empresas privadas, Estado, ONGs e sociedade civil. Nível de atuação Comunitário e de base. Tipos de ações Ações de caráter público e privado, associativas e voluntárias. Fonte: Melo Neto, 1994. Mais... é o conjunto de iniciativas privadas, de caráter público, sem fins lucrativos como associações e fundações, dentre outras, marcadamente solidárias e destinadas ao interesse público. (MCKINSEY & COMPANY, 2001). Uma tentativa de definição para o conjunto do terceiro setor é apresentada por Coelho (2000), sendo a mais amplamente utilizada e aceita, é denominada estrutural/operacional. Segundo essa definição, as organizações que fazem parte desse setor apresentam as cinco seguintes características: » Estruturadas: possuem certo nível de formalização de regras e procedimentos, ou algum grau de organização permanente. São, portanto, excluídas as organizações sociais que não apresentem uma estrutura interna formal; » Privadas: essas organizações não têm nenhuma relação institucional com governos, embora possam dele receber recursos; » Não distribuidoras de lucros: nenhum lucro gerado pode ser distribuído entre seus proprietários ou dirigentes. Portanto, o que distingue essas organizações não é o fato de não possuírem “fins lucrativos”, e, sim, o destino que é dado a estes, quando existem. Eles devem ser dirigidos à realização da missão da instituição; » Autônomas: possuem os meios para controlar sua própria gestão, não sendo controladas por entidades externas; » Voluntárias: envolvem um grau significativo de participação voluntária (trabalho não remunerado). A participação de voluntários pode variar entre organizações e de acordo com a natureza da atividade por ela desenvolvida. 42 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO No que diz respeito ao terceiro setor, é importante considerar também que seu crescimento provém da iniciativa e da responsabilidade social de grupos sociais organizados, e da iniciativa privada em parcerias a essas instituições sociais. E quais são as causas do crescimento do terceiro setor? Principais Causas do Crescimento do Terceiro Setor » Crescimento das necessidades socioeconômicas. » Crise do setor público. » Fracasso das políticas públicas tradicionais. » Crescimento dos serviços voluntários. » Degradação ambiental que ameaça a saúde humana. » Crescente onda de violência que ameaça a segurança das populações. » Incremento das organizações religiosas. » Maior disponibilidade de recursos a serem aplicados em ações sociais. » Maior adesão das classes alta e média a iniciativas sociais. » Maior apoio da mídia. » Maior participação das empresas que buscam a cidadania empresarial. Entendendo algumas causas: A primeira – o crescimento das necessidades socioeconômicas – é decorrente do crescimento populacional e das mazelas do capitalismo de mercado, que têm gerado má distribuição de renda, desemprego, fome, violência, sobretudo nos países periféricos.
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