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Gestão de empreendimentos sustentáveis MARIANA DE CASTRO MOREIRA PATRÍCIA NASSIF 1ª Edição Brasília/DF - 2018 Autores Mariana de Castro Moreira Patrícia Nassif Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Capítulo 1 Introdução à Gestão Ambiental Pública ............................................................................................................... 7 Capítulo 2 Política, Compromisso e Conflito...........................................................................................................................16 Capítulo 3 Responsabilidade Social e Marketing Social: Aspectos Gerais ....................................................................25 Capítulo 4 Terceiro Setor: Fundamentos, Tipos de Organização e Voluntariado .......................................................39 Capítulo 5 Empreendedorismo Social e Desenvolvimento Sustentável .....................................................................57 Capítulo 6 Plano de Negócios para Organizações do Terceiro Setor .............................................................................79 Referências ..........................................................................................................................................................................94 Apêndices e Anexos .........................................................................................................................................................97 4 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 5 ORGANIzAçãO DO LIVRO DIDáTICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 6 Introdução Quando deparamos com a discussão sobre sustentabilidade e responsabilidade social, é bastante frequente encontrarmos abordagens que priorizam a atuação privada. No entanto, frente à complexidade dos cenários contemporâneos, é imprescindível que a Gestão Pública se aproxime e se aproprie adequadamente desse debate. É nessa perspectiva que esta disciplina propõe-se a contribuir com a formação do futuro gestor público: fornecendo ferramentas teóricas, conceituais e metodológicas para que sua atuação leve, efetivamente, em consideração, as dimensões sociais e ambientais nos processos de gestão pública. Para isso, nos aproximaremos dos debates sobre a Gestão Ambiental Pública. Desse modo, este Livro Didático está baseado no art. 225 da Constituição Federal, que dispõe que a garantia ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é compromisso de todos: Poder Público e coletividade. Torna-se, assim, pertinente a problematização sobre as noções de gestão, de meio ambiente e de público, inserindo o compromisso e a politização da questão socioambiental como caminhos para uma práxis transformadora ao romper com o viés puramente tecnicista. Objetivos » Situar a Gestão Ambiental Pública em sua complexidade, de forma sistêmica e interdisciplinar. » Correlacionar e debater as possibilidades de interface entre a Gestão Ambiental Pública e Privada. » Apresentar as diretrizes e estratégias trazidas pelas chamadas Agenda Verde e Marrom, discutindo a gestão ambiental na estrutura estatal. » Debater a noção de conflito ambiental, problematizando os mecanismos de controle social, gestão participativa e educação ambiental. » Oferecer uma fundamentação teórica e metodológica das várias correntes socioambientais. » Instrumentalizar a construção de projetos de intervenção nas diferentes áreas sociais a partir de atividades contextualizadas e transformadoras da realidade socioeconômica brasileira. » Analisar as estratégias de gestão e oportunidades de divulgação de causa e captação de recursos para entidades sociais e ambientais de representatividade nacional. 7 Apresentação Neste capítulo, pretendemos introduzir o estudo da Gestão de Empreendimentos Sociais Sustentáveis, estimulando o debate sobre as possíveis articulações entre o Estado, a sociedade e o meio ambiente. Para isso, em primeiro lugar, procuraremos aprofundar a discussão sobre a Gestão Ambiental Pública, refletindo sobre as noções de meio ambiente, de público e de gestão. Em seguida, buscaremos situar algumas atribuições específicas e responsabilidades do Poder Público nesse contexto. Objetivos » Ampliar e aprofundar a reflexão e entendimento sobre a problemática ambiental, a partir da imbricada relação entre meio natural e meio social, em uma perspectiva interdisciplinar. » Refletir sobre o significado do “público” para a problemática ambiental, inserindo-a como direito difuso. » Reforçar a importância da Gestão Ambiental Pública. 1 CAPÍTULO INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA 8 CAPÍTULO 1 • INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA Quem Vai Cuidar da Questão Ambiental? Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, Constituição da República Federativa, 1988, art. 225). O art. 225 de nossa Constituição já é bastante conhecido junto aos fóruns, organizações e pessoas que trabalham com a questão ambiental. O capítulo VI é dedicado ao “Meio Ambiente” e determina sete incumbências para que o Poder Público efetive a garantia a esse direito, quais sejam: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidadesdedicadas à pesquisa e manipulação de material genético III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade (BRASIL, Constituição da República Federativa, 1988, art. 225). Figura 1. Constituição da República Federativa do Brasil 1988 Fonte: <http://www.cee.fiocruz.br/?q=node/63>. http://www.cee.fiocruz.br/?q=node/63 9 INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA • CAPÍTULO 1 Provocação Costumamos falar bastante em cidadania, nos dias de hoje, não é mesmo? No entanto, muitas vezes vale lembrar que ser cidadão não significa somente votar a cada dois anos... Precisamos aprender a ser cidadãos em nosso cotidiano. Precisamos aprender a participar. Ainda lidamos com uma noção de democracia representativa, na qual o povo é representado por um grupo eleito. Ocorre que a mesma Constituição Federal de 1988 determina mecanismos de participação popular e controle social para que possamos consolidar a noção de democracia participativa. Aqui está evocada a efetiva participação da sociedade na formulação e fiscalização de políticas públicas, a partir do reconhecimento dos princípios de liberdade, igualdade, justiça social, dentre outros. Assim, é fundamental que o gestor conheça, exerça e incentive junto a seus pares o direito de participar! Um primeiro passo pode ser conhecer a nossa Constituição... Você já leu? Acesse: http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao1988.html/ ConstituicaoTextoAtualizado_EC92.pdf. Bem, nunca é demais enfatizar que ao mesmo tempo em que temos direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, temos, também, o dever de protegê-lo e preservá-lo. Cada segmento – Poder Público, iniciativa privada e sociedade civil – deve exercer seu papel nessa empreitada. Figura 2. Cuidar do meio ambiente Fonte: <https://pixabay.com/pt/banner-cabe%C3%A7alho-plano-de-fundo-902583/>. De forma geral, quando falamos em gestão ambiental, é comum pensarmos em ações e procedimentos da iniciativa privada. No entanto, com este Livro Didático, queremos ampliar esse entendimento, reforçando que a questão ambiental diz respeito a todos nós, de forma sistêmica, mas traz, também, especificidades de atuação que cabem exclusivamente ao Poder Público. Toda essa discussão inicial parece simples, mas, na verdade, aponta para desdobramentos complexos que incluem as próprias noções do que é meio ambiente, público, assim como para o papel do Estado e a relação entre setores públicos, privados e a sociedade civil. http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao1988.html/ConstituicaoTextoAtualizado_EC92.pdf http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao1988.html/ConstituicaoTextoAtualizado_EC92.pdf https://pixabay.com/pt/banner-cabe%C3%A7alho-plano-de-fundo-902583/ 10 CAPÍTULO 1 • INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA Saiba mais Entenda melhor quem é quem... Alguns teóricos defendem um modelo de organização da sociedade que poderia ser dividida em três grandes setores, quais sejam: O primeiro setor, no qual se situa o Estado como instância de regulação e de universalização de políticas públicas Þ recursos públicos para fins públicos; O segundo setor, caracterizado pela iniciativa privada como geradora de riquezas Þ recursos privados para fins privados, e O terceiro setor, caracterizado pela sociedade civil organizada Þ recursos privados para fins públicos. “Os três setores”: quadro sintético SETOR CARACTERIZAÇÃO RECURSOS FINS 1º Setor Estado Públicos Públicos 2º Setor Empresas Privados Privados 3º Setor Sociedade Civil Organizada Privados e Públicos Públicos Fonte: baseado em Rubem César Fernandes (1996). Problematizando a Questão Ambiental... Você deve se recordar dos conteúdos estudados em outros Livros, mas acreditamos que nunca é demais insistir no entendimento da questão ambiental na e a partir da imbricada relação entre sociedade e natureza. Ou seja, aqui tomamos a problemática ambiental como um processo histórico de construção resultante da relação entre o “meio social” e o “meio natural”. É preciso reconhecer que não há um modo de vida único. As formas como as diferentes sociedades se organizam e o modo pelo qual se relacionam com a natureza são múltiplos. Diferentes grupos apropriam-se e utilizam-se dos recursos naturais de formas distintas. É nessa relação que deve ser entendida a questão ambiental. Ao reconhecermos a complexidade dessa abordagem sobre o meio ambiente, necessariamente abraçaremos a multirreferencialidade na e a partir da inter-relação entre os vários fatores que compõem a vida em sociedade: o econômico, o político, o psíquico, o social, o cultural, o afetivo, o biológico, etc. Saiba mais Entenda melhor! A perspectiva proposta pela multirreferencialidade possibilita a visão de múltiplos olhares e pontos de vista, geralmente distintos, sobre um mesmo fenômeno. 11 INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA • CAPÍTULO 1 Em consequência, também reconheceremos a necessidade de um olhar multi, inter ou transdisciplinar que ultrapasse o enfoque disciplinar único. Em comum, essas abordagens colocam-se a partir de certa crítica sobre a fragmentação do conhecimento científico. A noção de multidisciplinaridade reconhece a possibilidade de diferentes olhares sobre a mesma situação sem que, necessariamente, haja troca entre eles. Um desastre ambiental, por exemplo, poderá ser analisado sociologicamente por um sociólogo; ecologicamente, por um ecólogo ou biólogo; psicologicamente por um psicólogo. Na perspectiva multidisciplinar, cada um trará sua contribuição para compreender aquele acontecimento. Trata- se tão simplesmente da justaposição de diferentes disciplinas. Um trabalho interdisciplinar, por sua vez, procura identificar possíveis pontos de intersecção entre diferentes campos do saber. Aqui, duas ou mais disciplinas “conversam” ou “interagem” entre si, a partir do que trazem em comum na análise de uma situação. Poderíamos, então, lançar um olhar biopsicossocial para o mesmo exemplo do desastre ambiental. A perspectiva transdisciplinar vai além e de certa forma se contrapõe às duas anteriores, ao propor uma radical superação de toda e qualquer cisão disciplinar. Não se parte das separações ou dos pontos de vista específicos de cada área para analisar um fenômeno. Ao contrário, o movimento é de um olhar sistêmico, global e complexo. Figura 3: Multi, inter e transdisciplinaridade. Multidisciplinaridade Interdisciplinaridade Transdisciplinaridade Fonte: do próprio autor. Problematizando a Noção de Público... Ao procurarmos definir o que é público, é bastante provável que lancemos mão de uma contraposição: público é tudo aquilo que não é privado... Um olhar em perspectiva histórica nos auxilia nesse sentido, mostrando-nos que na Grécia Antiga a noção de público remetia aos espaços ocupados pelos cidadãos. Era ali, na polis, que se exercia o poder junto à coletividade. 12 CAPÍTULO 1 • INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA O exercíciopolítico era público por excelência. Como sabemos, essas noções ganham diferentes configurações em tempos e espaços distintos. A Professora Ligia Baptista (2011) lembra-nos que Aristóteles é o filósofo que define e distingue a esfera privada e a esfera pública. Se a esfera privada é a esfera da economia doméstica, a esfera pública, é definida pelo filósofo como o âmbito da política, da cidadania e da promoção do bem comum, a coisa pública. Pode-se dizer que os conceitos modernos de Estado e República derivam do equivalente latino civitas e do grego polis, que pode ser traduzido por cidade-estado, ou seja, o âmbito do poder público. Uma análise específica da sociedade brasileira mostra-nos dada constituição a partir de uma suposta oposição entre o público e o privado. A obra de Roberto Da Matta (2000, 2001) é um importante referencial para compreendermos que quando falamos em espaços públicos e privados, somos lançados bem além de uma mera localização geográfica. Ao contrário, essas noções implicam, sobretudo, um mundo de relações: como nos relacionamos com os outros e com as cidades. Em nossa sociedade, o chamado “mundo da casa” (espaço privado) está associado a um lugar protegido e harmonioso, em que, pretensamente, temos nossa individualidade protegida e garantida. Por outro lado, o “mundo da rua” (espaço público) é o cenário da disputa e do conflito no qual devemos nos submeter ao que vale para todos, ao que é universal. Haveria, no entanto, no Brasil, a tendência a privatizar o que é público, tratando o “mundo da rua” como se fosse a “minha casa”. No lugar das leis universais, a particularização de direitos e deveres. E mais: contraditoriamente, o espaço público é entendido e tratado como o “espaço de ninguém”, em que tudo é possível. Historicamente, e de forma geral, o que percebemos é o sentimento de não pertencimento do povo brasileiro ao que é público. A escola pública é de graça, ninguém paga, é de todos e não é de ninguém... O telefone público na praça pública, onde ficam aqueles brinquedos públicos que não são de ninguém... tudo pode ser destruído, apedrejado, pichado porque não é de ninguém. O entendimento da questão ambiental como direito difuso talvez nos auxilie a ampliar a própria noção do que é público, contribuindo, ainda, para que tenhamos uma compreensão mais clara sobre essa discussão. Saiba mais Para saber mais sobre direitos difusos, visite o portal do Ministério da Justiça: <http://portal.mj.gov.br/cfdd/data/Pages/MJ038B8D53ITEMID14E4BE4972B647A4BD0ACD82E8C978C0PTBRIE.htm> http://portal.mj.gov.br/cfdd/data/Pages/MJ038B8D53ITEMID14E4BE4972B647A4BD0ACD82E8C978C0PTBRIE.htm 13 INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA • CAPÍTULO 1 Os direitos difusos ultrapassam a esfera privada ou individual, sendo difícil predeterminar, com exatidão, quem são as partes interessadas em sua garantia. Um vazamento de determinada substância poluente, por exemplo, em uma região, diz respeito a toda a sociedade, que, direta ou indiretamente, sofre o impacto desse acidente. Um bem cultural como uma igreja ou um casarão de relevância histórica, da mesma forma, diz respeito a toda a sociedade e não um ou outro proprietário. Sua demolição ou depredação impacta a nossa história. Assim, ao entendermos a noção de direito difuso, compreenderemos que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito a toda a sociedade e não a determinados grupos de pessoas. Por isso, ele é chamado de transindividual. Problematizando a Noção de Gestão... Assim, revisitamos a noção de meio ambiente e de público. Vamos, agora, a fim de afinar nosso entendimento, problematizar a noção de gestão? Gerir determinada organização, programa ou processo é distinto de administrar. Vai além da mera aplicação de ferramentas ou técnicas, sendo imprescindível uma visão ampla sobre determinada área de atuação. A ideia de gestão ambiental inclui processos de planejamento, direção, controle, acompanhamento, avaliação e alocação de recursos de forma a evitar ou minimizar os impactos negativos ao meio ambiente, revertê-los ou eliminá-los. Produtos, processos e serviços aí relacionados são pensados e geridos tendo a questão ambiental e seu equilíbrio ecológico como critério inegociável. Na definição do local onde será implantado determinado empreendimento, na escolha e compra da matéria-prima, na utilização dos recursos naturais ou na destinação dos resíduos perceberemos que há escolhas e desdobramentos a serem pensados e encaminhados de forma sustentável. A noção de gestão aponta, assim, para as inúmeras possibilidades de diálogos e negociações que devem ser conduzidas no manejo responsável do meio ambiente. 14 CAPÍTULO 1 • INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA Juntando as Partes... Conforme indicamos anteriormente, é preciso, contudo, entender que a Gestão Ambiental Pública encerra uma especificidade pelas próprias atribuições e responsabilidades do Poder Público. Cabe a ele a garantia de aplicação e execução da legislação vigente na área por meio da definição de padrões e critérios ambientais para todos. Não se trata de algo simples, pela própria complexidade aí circunscrita. Vejamos que Gestão ambiental pública, aqui entendida como processo de mediação de interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre atores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído, objetivando garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, conforme determina a Constituição Federal. Este processo de mediação define e redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e também, os custos e benefícios decorrentes da ação destes agentes (Price Waterhouse-Geotécnica, 1992). No Brasil, o Poder Público, como principal mediador deste processo, é detentor de poderes estabelecidos na legislação que lhe permitem promover desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais, inclusive articulando instrumentos de comando e controle com instrumentos econômicos, até a reparação e mesmo a prisão de indivíduos responsabilizados pela prática de danos ambientais. Neste sentido, o Poder Público estabelece padrões de qualidade ambiental, avalia impactos ambientais, licencia e revisa atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplina a ocupação do território e o uso de recursos naturais, cria e gerencia áreas protegidas, obriga a recuperação do dano ambiental pelo agente causador, e promove o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora. (QUINTAS, s/d.) Por enquanto, neste capítulo, nos contentaremos com essa discussão parcial a respeito da complexidade dessa perspectiva. Mais à frente, buscaremos aprofundar a reflexão sobre o papel do Estado como mediador de conflitos na gestão ambiental. 15 INTRODUçãO À GESTãO AMBIENTAL PÚBLICA • CAPÍTULO 1 Sintetizando » Neste capítulo, iniciamos o estudo da Gestão de Empreendimentos Sociais Sustentáveis estimulando o debate sobre as possíveis articulações entre o Estado, a sociedade e o meio ambiente; » Para isso, em primeiro lugar, procuramos aprofundar a discussão sobre a Gestão Ambiental Pública, refletindo sobre as noções de meio ambiente, de público e de gestão; » Em seguida, buscamos situar algumas atribuições específicas e responsabilidades do Poder Público nesse contexto. O direito ao meio Ambiente ecologicamente equilibrado é dever de todos, mas ao Poder Público competem determinadas atribuições específicas; » Discutimos que a questão ambiental só se torna possível a partir da relação entre meio natural e meio social e, por esse motivo, é preciso contextualizá-la no tempo e espaço; » Reforçamos a perspectiva interdisciplinar como meio de abordar a complexidade da problemática ambiental; » Discutimos sobre a noção de público e privado, inserindo o meio ambiente como direito difuso; »Reunindo todas essas reflexões, consolidamos – introdutoriamente – a importância da noção de Gestão Ambiental Pública. 16 Apresentação Este capítulo apresenta a importância de politizarmos a reflexão sobre as questões socioambientais, distanciando-nos de tendências extremistas que esvaziam um trabalho crítico e reflexivo, tais como: o puro tecnicismo ou o apelo ético-moral. Apresenta, assim, algumas perspectivas da Ecologia Política e da Educação Ambiental Emancipatória no processo de Gestão Ambiental. Situa, para isso, a noção de conflito ambiental como inerente ao campo de atuação do gestor. Objetivos » Problematizar a noção de meio ambiente na e a partir da relação entre meio natural e social, de forma complexa. » Compreender a importância da discussão política no campo socioambiental. » Compreender a noção de conflito ambiental. » Articular as noções de Gestão Ambiental e Educação Ambiental no processo de gestão ambiental emancipatória. 2 CAPÍTULO POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO 17 POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO • CAPÍTULO 2 Politizar a Questão Ambiental Em nosso primeiro capítulo, buscamos situar uma forma particular de abordar a Gestão Ambiental Pública, desnaturalizando alguns entendimentos acríticos e situando-a como resultante de um processo de construção histórica. É preciso entender que a legislação ambiental e a vigente proposição do direito ao meio ambiente equilibrado como dever de todos é fruto de um longo trajeto de lutas, conflitos, avanços e retrocessos vividos pelos movimentos sociais em nosso país. Assim, nos afastamos de uma suposta visão “neutra” de Estado, de direito e de meio ambiente, reconhecendo, também, o marco legal ambiental e as atribuições do Poder Público em sua constituição histórica. Historicizar a questão ambiental implica, assim, assumir uma postura política, impondo a explicitação de escolhas e a reflexão sobre conflitos. É com essa noção que gostaríamos de iniciar nosso segundo capítulo: contextualizando sócio-historicamente e inserindo o conflito como inerente à problemática ambiental. Antes de esclarecer a que estamos nos referindo ao falar em conflito, é importante lançarmos novamente nosso olhar para a constituição desse campo multifacetado, inserindo-o no campo político. Para isso, valemo-nos de Loureiro (2009) para nos acompanhar nessa argumentação... Com o autor, refletiremos que a necessidade de se politizar a discussão ambiental aponta para a possibilidade de escaparmos de radicalismos extremistas que vão do puro tecnicismo à égide economicista ou, ainda, às limitações de um suposto apelo ético-moral-filosófico. Sem pretender, neste capítulo, tecer uma perspectiva histórica sobre o movimento ambientalista, é preciso lembrar a heterogeneidade desse campo, marcado por uma significativa diversidade de concepções, visões de mundo e abordagens teórico-clássicas nem sempre tão claras ou explícitas quanto necessário para um debate aprofundado. Sugestão de estudo Para aprofundar a reflexão sobre essa discussão, sugerimos as seguintes leituras iniciais: Sobre o assunto, ver LOUREIRO, C. F. B., BARBOSA, G. L., ZBOROWSKI, M. B. Os vários “ecologismos dos pobres” e as relações de dominação no campo ambiental. In: LOUREIRO, C. F. B., LAYRARGUES, P. P., CASTRO, R. S. de (orgs.). Repensar a educação ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009. Por um lado, certas correntes conservacionistas dão primazia ao discurso técnico-científico esvaziando qualquer diálogo político. Aqui, noções de impacto ambiental, por exemplo, são reduzidas ao manejo e controle de externalidades e condicionantes. Os argumentos técnicos são 18 CAPÍTULO 2 • POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO evocados para legitimar a lógica da produção e do mercado. Em consequência, os profissionais aí envolvidos – sejam gestores e/ou educadores ambientais – inserem-se como experts ou especialistas que detêm o poder e a autoridade de ver, traduzir e falar em nome da natureza. Nessa imagem, os fatos estão dados, naturalizados e sem nenhuma historicidade, à espera da visão dos técnicos e cientistas. Esses são detentores de saberes que os separam dos outros humanos e legitimam sua atuação-apropriação. Ascelrad e Mello (2002, p. 296-297), utilizando-se da Teoria da Sociedade de Risco, de Ulrich Beck, apontam: A reflexividade política da sociedade de risco teria substituído o sujeito revolucionário na medida em que os cidadãos percebem que os guardiães da ordem legalizam as ameaça (...) A eficácia dessa reflexividade repousaria na crença na soberania dos sentidos – os olhos tornam-se instituições de pesquisa, e os ouvidos, autoridades de saúde, afirma Beck. Para ele, portanto, na Sociedade de Risco, a plena politização da tecnologia faria dos cientistas e técnicos sujeitos diretos do poder. Para ele, o poder da tecnologia ultrapassaria o poder das decisões políticas, pelo comando da prática. A tecnologia seria a política do fato realizado, e o monopólio da tecnologia se tornaria o monopólio da mudança social (BECK, 1992, p. 109) (...) Vemos aqui um certo número de assertivas resultantes de uma reificação das técnicas: a destruição material é vista como “revolução”, e o poder destrutivo material, como força revolucionária (Beck, 1995:8). No entanto, as conseqüências ampliadas da capacidade destrutiva das técnicas não as tornam necessariamente políticas em si. Político seria o uso do poder tecnológico para impor os rumos e projetos à sociedade, pois há uma relação de subordinação do poder técnico sobre as coisas ao poder político sobre a sociedade. Em outro extremo, e tão ou mais frequente quanto essa primeira posição tecnicista supracitada, encontramos um discurso ambientalista eivado de apelos a valores ditos universais que busca ou mesmo promete um mundo “harmônico e sem conflitos”, em que os problemas sociais e ambientais serão resolvidos. Aqui, toda e qualquer iniciativa é válida somente por sua intenção, independente de suas bases ou estrutura. Práticas que igualmente correm o risco de trazer soluções descontextualizadas e esvaziadas, sem nenhuma visão crítica ou problematizadora do trabalho socioambiental, situando nas esferas individuais (e pontuais) – por consenso – as causas e soluções dos problemas ambientais. Loureiro (2009a, p. 47), referindo-se especificamente às iniciativas de Educação Ambiental, por exemplo, sinaliza a tendência a se retomar: Aspectos conservadores da educação há muito levantados e questionados por pesquisadores desta área, estabelecendo as dicotomias: supremacia do saber científico sobre o popular; solução técnica descolada das relações de poder e 19 POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO • CAPÍTULO 2 da política; e “caminho para a salvação planetária” associado exclusivamente ao plano da ética e da consciência como se estas estivessem fora da organização social e da dinâmica que define mutuamente as dimensões que formam o todo em que vivem Em outro ponto de sua obra (LOUREIRO; BARBOSA; ZBOROWSKI, 2009b), o autor retoma as proposições de Allier em seu Ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração (2007) ajudando-nos a compreender que embora nem sempre essas posições estejam didaticamente situadas de modo distinto, é possível identificar bases comuns para cada racionalidade ou modo de se pensar-agir no campo ambiental. Nessa obra, Allier (2007) aponta três correntes ambientalistas principais: o conservacionismo ou culto ao silvestre que exaltaria a proteção da vida e da natureza acima de todas as coisas, excluindo o humano em todas as suas dimensões; o evangelho da ecoeficiência focado na questão econômica e tecnológica como estratégias-meio de dominação utilitarista da natureza e finalmente o ecologismo dos pobres ou movimento de justiça ambiental que ressalta as desigualdades e injustiças sociais características do modo de produção capitalista, situando as condições materiais de sobrevivência na raiz dos conflitos ambientais.. Em suma, na base da Ecologia Política encontraremos as contribuições da Economia Política – que nos ajuda a compreender como uma sociedade se organiza a partir de suas bases materiais – e da Economia Ecológica – que inclui a dimensão ecológica nessa discussão, ressaltando os antagonismos entre os ciclos e dinâmicas da própria natureza e da sociedade. Desse modo, a Ecologia Política traz como pauta a premência de se aprofundar a discussão ambiental de forma crítica e reflexiva, inserindo-a em um contexto mais amplo que considere as bases da organização societária para se compreender, por exemplo, os conflitos de interesses públicos e privados pelo acesso aos recursos naturais. Traz, assim, o questionamento sobre que sociedade queremos construir e, ao mesmo tempo, a possibilidade de compreendermos como somos determinados na e pela materialidade sociopolítico-econômica. O Materialismo Histórico é trazido aqui por sua atualidade ajudando-nos tanto a compreender o contexto no qual atuamos como também por sua potencialidade como instrumento político. A expressão materialismo histórico aparece em 1889, utilizada por Engels para dizer que a concepção materialista da história se baseia na ideia de que a produção constitui a base da ordem social e que, portanto, a política não deve ser procurada nas cabeças dos homens, mas nas transformações dos modos de produção. Marx também expõe esse ponto de vista quando diz que as relações jurídicas e as formas de governo não podem ser compreendidas por si mesmas nem pela evolução de pensamento humano, pois estão enraizadas nas condições materiais da vida (DICIONÁRIO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 1987, p. 728). 20 CAPÍTULO 2 • POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO A esta altura, é possível que você esteja se perguntando se não estaríamos nos afastando demais de nosso foco de formação em Gestão Pública. Acreditamos que não e apostamos que uma formação sólida, na área, hoje, implica bem mais que o ensino-aprendizagem de um conjunto de técnicas e procedimentos de gestão. As ditas “ferramentas de trabalho” estão aí disponíveis... o diferencial está nas escolhas que fazemos, na forma como as utilizamos. Nesse sentido, é fundamental refletirmos sobre o atual contexto da contemporaneidade, explicitando nossas visões de mundo, os parceiros e pares com os quais dialogaremos, nossas opções de negociação e intervenção. Pense nisso! Reconhecer o conflito na/da problemática ambiental Nesse âmbito, vale retomarmos o ponto inicial de nosso nosso primeiro capítulo: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, Constituição da República Federativa, 1988, art. 225). Se a garantia ao meio ambiente equilibrado é direito e dever de todos, torna-se necessário refletirmos sobre quem somos nessa coletividade. É pertinente ainda insistir que só podemos falar em meio ambiente na relação entre meio natural e social. E sabemos que as formas de acesso, uso e relacionamento do homem/mulher com os recursos naturais transformam-se no tempo-espaço, variando de cultura para cultura, região para região, classe para classe... Ao admitirmos essas múltiplas relações, enfatizamos a heterogeneidade desse coletivo que supostamente deve garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado. O acesso e uso da água não tem o mesmo significado para uma população ribeirinha, um empresário em uma grande metrópole e uma indústria alimentícia, por exemplo. Vejamos as colocações de Quintas (2009, p. 13-14) nesse sentido: esta coletividade não é homogênea; ao contrário, sua principal característica é a heterogeneidade. Nela convivem interesses, necessidades, valores e projetos de futuro, diversificados e contraditórios, classes sociais, etnias, religiões e outras diferenciações. No caso do Brasil, o poder de decidir e intervir para transformar o ambiente, seja ele físico, natural ou construído, e os benefícios e custos decorrentes estão distribuídos social e geograficamente na sociedade de modo assimétrico. Por serem detentores de poder econômico ou de poderes outorgados pela sociedade, determinados atores sociais possuem, por meio de suas ações, capacidade variada de influenciar direta ou indiretamente a transformação (de modo positivo ou negativo) da qualidade do meio ambiente. É o caso do setor empresarial 21 POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO • CAPÍTULO 2 (poder do capital); dos legislativos (poder de legislar); do Judiciário (poder de condenar e absolver); do Ministério Público (o poder de investigar e acusar); dos órgãos ambientais (poder de definir padrões de qualidade ambiental, embargar, licenciar, multar); dos jornalistas (poder de influenciar na formação da opinião pública); das agências estatais de desenvolvimento (poder de financiamento, de criação de infraestrutura) e de outros atores sociais, cujos atos podem ter grande repercussão na qualidade ambiental e, consequentemente, na qualidade de vida das populações. Entretanto, estes atores, ao tomarem suas decisões, nem sempre levam em conta os interesses e necessidades dos diferentes grupos sociais, direta ou indiretamente afetados. As decisões tomadas podem representar benefícios para uns e prejuízos para outros. Um determinado empreendimento pode representar lucro para empresários, emprego para trabalhadores, conforto pessoal para moradores de certas áreas, votos para políticos, aumento de arrecadação para governos, oportunidade de emprego para um segmento da população e, ao mesmo tempo, implicar prejuízo para outros empresários, desemprego para outros trabalhadores, perda de propriedade, empobrecimento dos habitantes da região, ameaça à biodiversidade, erosão, poluição atmosférica e hídrica, violência, prostituição, doenças, desagregação social e outros problemas que caracterizam a degradação ambiental. Assim, na vida prática, o processo de apropriação e uso dos recursos ambientais não acontece de forma tranquila. Há interesses, necessidades, racionalidades, poder, custos e benefícios em jogo e, consequentemente, conflitos (potenciais e explícitos) entre atores sociais que atuam de alguma forma sobre estes recursos, visando seu uso, controle e/ou sua defesa. Processo que em última instância determina a qualidade ambiental e a distribuição espacial, temporal e social de custos e benefícios. Todavia, um mesmo dano ou risco ambiental decorrente de alguma ação sobre o meio que, a partir de determinada racionalidade, é tido como inaceitável por um ator social, pode ser considerado desprezível ou inexistente por outro, se avaliado sob o ponto de outra racionalidade. Ao reconhecermos essas múltiplas racionalidades que coexistem, compreendemos o que afirmamos acima: o conflito é inerente à problemática ambiental. Muitas vezes, torna-se difícil trabalharmos com essa dimensão do conflito, uma vez que fomos educados socioculturalmente, para acreditarmos em uma pretensa visão de sociedade harmônica e homogênea, pautada pela possibilidade do consenso. Nessa, somos treinados a eliminar e anular – não reconhecendo ou desconhecendo – o conflito. Uma atuação crítica e reflexiva em Gestão Ambiental implica, ao contrário, o reconhecimento de que o acesso e utilização dos recursos naturais são assimétricos e, por assim ser, devem ser problematizados. Dessa forma, o gestor público deve incluir em seu trabalho a identificação das contradições, possíveis posicionamentos distintos, divergentes ou convergentes, formas de ação e atuação adotadas por cada um para defender e garantir os próprios interesses. 22 CAPÍTULO 2 • POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO A noção de conflito ambiental distingue-se, nessa abordagem, da tradicional definição de problema ambiental. Nesse, existem situações de risco ou dano socioambiental, mas os atores sociais aí envolvidos não explicitam reaçãofrente ao mesmo. O conflito instaura-se no confronto de interesses entre as partes afetadas (ASCERALD e MELLO, 2002). “Portanto, podemos dizer que todos os conflitos ambientais envolvem um problema ambiental ou a disputa em torno da defesa e/ou controle de determinada potencialidade ambiental, mas nem todo problema ambiental envolve um conflito.” (QUINTAS, 2006, p. 73). Essa perspectiva desdobra-se, também, para a assunção de que não há neutralidade na intervenção do gestor público: estamos sempre comprometidos, de forma explícita ou não, fazendo escolhas, definindo prioridades, alocando ou manejando recursos, contabilizando custos e benefícios das ações socioambientais que gerimos. Um trabalho de Educação Continuada desses gestores encontra-se com uma “proposta de Educação Ambiental emancipatória e comprometida com o exercício da cidadania” (QUINTAS, 2006). Finalizamos assim, com alguns importantes apontamentos de Quintas (2006, p. 16 e segs.) nesta perspectiva: 1. O meio ambiente ecologicamente equilibrado é: › direito de todos; › bem de uso comum; › essencial à sadia qualidade de vida. 2. Preservar e defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado para presentes e futuras gerações é dever: › do Poder Público; › da coletividade. 3. Preservar e defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado antes de ser um dever é um compromisso ético com as presentes e futuras gerações. Sugestão de estudo Quintas é um autor central para a discussão sobre a Gestão Ambiental Pública. Ele foi Coordenador-Geral de Educação Ambiental do Ibama. Como fruto de seu trabalho e de sua equipe, há inúmeros títulos disponíveis sobre o assunto voltados à capacitação e atualização profissional nessa área. Pesquise! Leia! Estas são apenas algumas sugestões: IBAMA. Como o Ibama exerce a educação ambiental. Coordenação-Geral de Educação Ambiental. Brasília. Edições Ibama, 2002. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/educacaoambiental/divs/como_ exerce.pdf. QUINTAS, J. S. (org.) Introdução à gestão ambiental pública. Brasília: Ibama, 2006. QUINTAS, J. S. (org.). Pensando e praticando a educação ambiental na gestão do meio ambiente. Brasília: Ibama, 2000. http://www.ibama.gov.br/educacaoambiental/divs/como_exerce.pdf http://www.ibama.gov.br/educacaoambiental/divs/como_exerce.pdf 23 POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO • CAPÍTULO 2 4. No caso do Brasil, o compromisso ético de preservar e defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações implica: › construir um estilo de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente seguro, num contexto de dependência econômica e exclusão social; › praticar uma Gestão Ambiental democrática, fundada no princípio de que todas as espécies têm direito a viver no planeta, enfrentando os desafios de um contexto de privilégios para poucos e obrigações para muitos. 5. A gestão ambiental é um processo de mediação de interesses e conflitos entre atores sociais que disputam acesso e uso dos recursos ambientais. 6. A gestão ambiental não é neutra. O Estado, ao assumir determinada postura diante de um problema ambiental, está de fato definindo quem ficará, na sociedade e no país, com os custos, e quem ficará com os benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio, seja ele físico-natural ou construído. 7. Ao praticar a gestão ambiental, o Estado distribui custos e benefícios de modo assimétrico na sociedade. (no tempo e no espaço) 8. A sociedade não é o lugar da harmonia, mas, sobretudo, de conflitos e dos confrontos que ocorrem em suas diferentes esferas (da política, da economia, das relações sociais, dos valores etc.). 9. Apesar de sermos todos seres humanos, quando se trata de transformar, decidir ou influenciar sobre a transformação do meio ambiente, há na sociedade uns que podem mais do que outros. 10. O modo de perceber determinado problema ambiental, ou mesmo a aceitação de sua existência, não é meramente uma questão cognitiva, mas é mediado por interesses econômicos, políticos, posição ideológica e ocorre em determinado contexto social, político, espacial e temporal. 11. A Educação no Processo de Gestão Ambiental deve proporcionar condições para produção e aquisição de conhecimentos e habilidades, e o desenvolvimento de atitudes visando à participação individual e coletiva: › na gestão do uso dos recursos ambientais; › na concepção e aplicação das decisões que afetam a qualidade dos meios físico, natural e sociocultural. 12. Os sujeitos da ação educativa devem ser, prioritariamente, segmentos sociais que são afetados e onerados, de forma direta, pelo ato de gestão ambiental e dispõem de menos condições para intervirem no processo decisório. 24 CAPÍTULO 2 • POLÍTICA, COMPROMISSO E CONFLITO 13. O processo educativo deve ser estruturado no sentido de: › superar a visão fragmentada da realidade através da construção e reconstrução do conhecimento sobre ela, num processo de ação e reflexão, de modo dialógico com os sujeitos envolvidos; › respeitar a pluralidade e diversidade cultural, fortalecer a ação coletiva e organizada, articular os aportes de diferentes saberes e fazeres e proporcionar a compreensão da problemática ambiental em toda a sua complexidade; › possibilitar a ação em conjunto com a sociedade civil organizada e sobretudo com os movimentos sociais, numa visão de educação ambiental como processo instituinte de novas relações dos seres humanos entre si deles com a natureza; › proporcionar condições para o diálogo com as áreas disciplinares e com os diferentes atores sociais envolvidos com a gestão ambiental. Sintetizando Vimos até agora: » A importância de politizarmos a reflexão sobre as questões socioambientais. » A existência de duas tendências na atuação do gestor ambiental: o puro tecnicismo e o apelo ético-moral. » A diferença entre as noções de conflito e problema ambiental. » A atuação do gestor ambiental não é neutra, estando sempre comprometida e implicando escolhas. » A importância de articularmos a Gestão Ambiental à Educação Ambiental Emancipatória. 25 Apresentação Neste capítulo, vamos avançar um pouco mais no estudo sobre a Gestão de Empreendimentos Sociais Sustentáveis. Para isso, discutiremos como a questão da responsabilidade social tornou-se o ponto de partida para o estabelecimento do compromisso das organizações com o ambiente em que se inserem, atualmente. Espera-se que essa disciplina não seja apenas uma matéria a ser “estudada”, mas uma disciplina transformadora. Ou seja, que você possa desenvolver sua postura cidadã, sendo crítico(a) em relação à sua responsabilidade pessoal e profissional, diante da sociedade e do ambiente em que vive. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Compreender o panorama histórico da Responsabilidade Social das Empresas (RSE) no Brasil. » Distinguir a diferença entre marketing comercial, marketing social e responsabilidade social. » Fazer uma reflexão crítica sobre a importância do papel da RSE para a sociedade. » Refletir sobre o impacto das ações socialmente responsáveis das empresas no mercado, no meio ambiente, na comunidade e relacionar com a gestão da organização. » Relacionar os impactos e ações na gestão socialmente responsável com o governo e a sociedade. 3 CAPÍTULO RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARKETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS 26 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS Como Está a Responsabilidade Social Hoje? A responsabilidade social é um tema atual e, nos últimos anos, vem sendo consolidada a crença de que as organizações devem assumir um papel mais amplo perante a sociedade, que não somente o de maximização de lucro. O crescente aumento da complexidade dos negócios, o avanço de novas tecnologias e o incremento da produtividade levaram a um aumento significativo da competitividade entre as organizações e, dessa maneira, elastendem a investir mais em processos de gestão de forma a obter diferenciais competitivos. Para as empresas, a responsabilidade social pode ser vista como uma estratégia a mais para manter ou aumentar sua rentabilidade e potencializar o seu desenvolvimento. Isso é explicado ao se constatar maior conscientização do consumidor, o qual procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente e a comunidade. As organizações que se preocupam em criar valor à sociedade tendem a criar seu espaço no mercado naturalmente e não condiz com as empresas buscarem o lucro a qualquer custo. É preciso respeitar conceitos como sustentabilidade global e ter preocupação com valores universais. Desse modo, a responsabilidade social tem se apresentado como um tema, cada vez mais importante, no comportamento das organizações e exercido impactos nos objetivos e nas estratégias das empresas. O que Pretendem as Empresas com a Responsabilidade Social? Para Cimbalista (2001), a responsabilidade social é uma iniciativa das empresas que realizam atividades para atender às comunidades em suas diversas formas, como: » Conselhos comunitários. » Organizações não governamentais. » Associações comunitárias, entre outras. Em que áreas atuam essas instituições? Essas associações atuam em áreas de assistência social, alimentação, saúde, educação, cultura, meio ambiente e desenvolvimento comunitário. Atendem a determinada população com ações estruturadas, por meio do planejamento e monitoramento de recursos, seja pela própria empresa, por fundações e institutos de origem empresarial, ou por indivíduos especialmente contratados para a atividade. Mas, afinal, o que vem a ser responsabilidade social? 27 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 Vamos recordar... O conceito de responsabilidade social pode ser entendido como: Responsabilidade Social é um comportamento que as empresas adotam voluntariamente e para além das prescrições legais, porque consideram ser esse o seu interesse a longo prazo. (Comissão das Comunidades Europeias, 2001) Responsabilidade social corporativa é o comprometimento permanente dos empresários de adotar um comprometimento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, simultaneamente, à qualidade de vida de seus empregados e de seus familiares, da comunidade local e da sociedade como um todo. (ASHLEY, 2005) Por que responsabilizar socialmente a empresa? » A empresa consome recursos naturais, renováveis ou não, direta ou indiretamente, que são patrimônio gratuito da humanidade. » A empresa utiliza capitais financeiros e tecnológicos que, no fim da cadeia, pertencem a pessoas físicas. » Utiliza capacidade de trabalho da sociedade. » Subsiste em função da organização do Estado que a sociedade lhe viabiliza como parte das condições de sobrevivência. » Ao usufruir, em benefício próprio, desses recursos, a empresa contrai uma dívida social para com a sociedade e para com a humanidade. Provocação Você concorda com esses argumentos da “responsabilização social” das empresas? Falta algum argumento importante? 28 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS Vamos Entender como Surgiu a Responsabilidade Social no Brasil Origem da responsabilidade social O que aconteceu na década de 1970? De acordo com Cunha (s/d), no Brasil, o reconhecimento da função social das empresas culminou com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE) na década de 1970 aliado ao enfraquecimento do Estado do Bem-Estar Social (em inglês: Welfare State), também conhecido como Estado-providência, é um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. Nessa orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes, de acordo com o país em questão. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e proteção à população. O modelo de Estado do Bem-estar que emergiu na segunda metade do século XX, na Europa Ocidental, se estendeu para outras regiões e países e chegou ao auge na década de 1960. No transcurso dos anos 1970, porém, esse modelo de Estado entrou em crise. E o Brasil? O Brasil nunca chegou a estruturar um Estado de Bem-estar semelhante aos dos países de primeiro mundo. Não obstante, o grau de intervenção estatal na economia nacional teve início na Era Vargas (1930-1945) e chegou ao auge durante o período da ditadura militar (1964-1985). Paradoxalmente, os mais beneficiados com os gastos públicos em infraestrutura (nas áreas de telecomunicações, energia elétrica, autoestradas) e construção de grandes empresas públicas foram, justamente, os empresários brasileiros e estrangeiros. Na década de 1970, porém, setores mais influentes da classe empresarial começaram a dirigir críticas ao intervencionismo estatal. Na época, a palavra mais usada pelos empresários paulistas em sua campanha contra o intervencionismo estatal na economia era “desestatização”. Quando ocorreu a transição para a democracia, os partidos políticos de esquerda e os movimentos populares acreditavam que tinha chegado o momento e o Estado brasileiro saldar a imensa dívida social diante das profundas desigualdades sociais e pobreza extrema reinantes no País. Não obstante, todos esses anseios foram frustrados. Os governos democráticos que se sucederam a partir de 1985 adotaram inúmeras políticas, chamadas de neoliberais, cujos desdobramentos mais evidentes foram as privatizações de inúmeras empresas estatais. 29 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 E no final da década de 1980 e anos posteriores? Sobretudo a partir dos anos 80, as empresas passaram a se preocupar mais com os problemas que envolviam a sociedade e o meio ambiente, nos quais estariam inseridos se responsabilizando por áreas em que o Estado não consegue suprir, eficientemente, as necessidades dessa população, rompendo um paradigma de que as empresas só visavam aos lucros. No entanto, a concepção do conceito de responsabilidade social teve um espaço maior no final da década de 1980, consolidando-se nos últimos anos, de 1990 a 2003. Entre os fatores relevantes, destacam-se: » A reorganização do capital, que transformou o cenário econômico, tendo como pilar a competitividade mundial, regional e local, exigindo um perfil para a indústria e para os trabalhadores. » A campanha contra a fome, de Herbert de Souza (Betinho). » O fortalecimento dos movimentos sociais. » As profundas transformações do mundo contemporâneo provocaram incertezas e instabilidade como fatores ameaçadores à sobrevivência das organizações empresariais, ao mesmo tempo em que fortaleceu a valorização do conhecimento e do progresso. » A insuficiência do papel do Estado implicou graves críticas às políticas públicas, marcadas pelo assistencialismo, pelas insuficiências dos recursos, pela privatização dos serviços sociais. » O crescimento da violência urbana gerou a necessidade coletiva de se repensar e criar novas iniciativas de Responsabilidade Social (CUNHA, s/d.). Nesse cenário... Surgem as entidades empresariais, como: » Grupo de Institutos. » Fundações e empresas (Gife). » Institutos Ethos de empresas e Responsabilidade Social (Ethos). » Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE). » Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). » Gazeta Mercantil, além de outras, tendo como foco um novo pensar e agir no âmbito empresarial, dando uma conotação cidadã na arte dos negócios. 30 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS Nessa perspectiva... Os investimentos sociais privados ganham forma no Brasil, cujo olhar se centraliza na alocação voluntária de recursos privados, para buscar retorno alternativode inclusão social e influenciar nas políticas públicas, organização, universidades. Nesse contexto, o Grupo de Institutos e Fundações Empresárias (Gife) é considerado protagonista. (CUNHA, s/d).. A responsabilidade social não representa apenas investimento social privado, aquele realizado por meio de projetos sociais na comunidade, mas uma nova postura da organização frente aos stakeholders, ou seja, aos seus diversos públicos, interno e externo, incluindo empregados, fornecedores, acionistas, clientes e consumidores, meio ambiente, comunidade e, até, concorrentes. E as vantagens das organizações serem socialmente responsáveis? Melo Neto (2001) mostra quais são as vantagens de as empresas serem socialmente responsáveis, tais como: » prestígio; » credibilidade; » comprometimento dos empregados para com a organização; » ganho de imagem institucional; » aumento da produção; » aumento das vendas; » incentivos fiscais. A Importância do Papel da Responsabilidade Social A enorme carência e desigualdades sociais existentes no Brasil conduzem as ações de responsabilidade social a terem relevância ainda maior, reforçando a importância dos papéis das instituições no processo de desenvolvimento do país (CIMBALISTA, 2001) A responsabilidade social é entendida como um relacionamento ético das empresas e como esta está inserida na sociedade. É importante que ambas tenham uma relação de interdependência. Essa relação gera ações concretas trazendo benefícios à sociedade e criam ou recriam as condições necessárias para o desenvolvimento crescente da cidadania (BENEDICTO, 2002). 31 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 Ao adotar estratégias voltadas à gestão da responsabilidade social, as empresas assumem uma função de relevante interesse social, pois não se trata apenas de doar dinheiro a determinada população, mas, sim, de mobilizar a empresa e a comunidade em prol de uma causa. É importante que esta tenha uma convivência com as comunidades próximas a sua localidade, pois é nela que, muitas vezes, encontram seus empregados, clientes e fornecedores. Esse exercício da responsabilidade social não só contribui para o bem-estar da sociedade, mas, também, para o crescimento da própria organização. Com essa prática, tanto a empresa quanto a sociedade obtêm benefícios, ou seja, todos ganham mais credibilidade e evidência e a população pode usufruir dessas atividades, contribuindo para a cidadania da sociedade. Apesar de o Estado ser o principal responsável no que diz respeito às questões sociais, ele não possui condições para elaborar e/ou implementar sozinho essas políticas. Devido a essas limitações das ações do Estado, somente com uma mobilização da sociedade será possível reunir recursos suficientes para enfrentar esses problemas. Sendo indispensável a busca de parcerias fora do Estado, mais especificamente, nas empresas privadas e no terceiro setor – próximo capítulo (STEFANO; NEVES; BUENO, 2003). O próprio Estado, ao se deparar com sua incapacidade de atender à enorme demanda de serviços sociais, iniciou um processo no sentido de elaboração de políticas sociais que pudessem atuar em parceria com organizações não governamentais. Dessa forma, os recursos necessários para a ação social efetiva foram repassados para que essas organizações com sua agilidade garantissem maior eficácia às soluções emergentes. Como se trata de um investimento, tanto as pessoas físicas como as jurídicas, que financiam projetos de cunho social, têm o intuito de aferir os resultados alcançados pela sociedade e pela própria organização. Iniciativas como essas também contribuem para que as organizações tenham maior visibilidade no mercado. Desse modo, pode-se definir, por meio desse contexto, a responsabilidade social como um papel das instituições com os agentes sociais no desenvolvimento do ser humano e da comunidade na qual estão inseridos (STEFANO, NEVES; BUENO, 2003). Ao se falar em responsabilidade social, não há como escapar à dúvida: Responsabilidade Social é uma forma de filantropia? Portanto, faz-se importante não confundir a responsabilidade social como uma forma de filantropia; pelo contrário, seu conceito refere-se a uma sustentabilidade, em longo prazo, numa lógica de desempenho e lucro. Passa-se a contemplar a preocupação com os efeitos sociais e ambientais de suas atividades, com o objetivo de contribuir com a qualidade de vida da população. Dessa forma, a responsabilidade social contribui para o compromisso de questões que vão além das suas obrigações trabalhistas previstas em leis, mas, principalmente, para a adoção de valores, condutas e procedimentos éticos, ambientais e sociais. Por meio dessas ações, as organizações 32 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS também aumentam seus lucros, pois o consumidor prefere cada vez mais instituições que se integram à sociedade (STEFANO; NEVES; BUENO, 2003). A responsabilidade social é um conjunto de conceitos e ações que contribui para fazer um mundo melhor com a participação de todos e isso inclui toda e qualquer atitude que tomemos para que esse fim seja alcançado. Conforme Stefano, Neves e Bueno (2003), o certificado de padrão de qualidade e adequação ambiental dá-se com a International Organization for Standardization (ISO), que é uma organização não governamental fundada em 1947, em Genebra, e hoje presente em cerca de 157 países. A sua função é a de promover a normatização de produtos e serviços, para que a qualidade destes seja permanentemente melhorada. A norma que atende, especificamente, à responsabilidade social é a SA 8000. Essa foi feita se baseando nas normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração Universal dos Direitos da Criança da ONU. A norma segue o modelo das Normas ISO 9000 e 14000, o que facilita a sua implantação por empresas que já conhecem esse sistema, normalmente as maiores e melhores empresas do mundo. Por meio da implantação da SA 8000, a empresa demonstra que está preocupada com a responsabilidade social em relação a seus empregados e ao ambiente externo. A Norma Internacional SA8000, sobre “Responsabilidade Social”, valoriza os seguintes “requisitos de Responsabilidade Social”: » Trabalho Infantil. » Trabalho Forçado. » Saúde e Segurança. » Liberdade de Associação e Direito à Negociação Coletiva. » Discriminação. » Práticas Disciplinares. » Horário de Trabalho. » Remuneração. » Sistemas de Gestão. Para refletir Quantas vezes nos contradizemos, julgamos o outro, nossos políticos, as autoridades pelo que fazem e pelo que não fazem e nos esquecemos de olhar no espelho, de agir no dia a dia? Esquecemos que quando apontamos o dedo para o outro, há mais três nos apontando. Reclamamos de Lava-Jato, mensalões, sanguessugas, de malas e cuecas, mas esquecemos de perguntar: O que estamos fazendo de efetivo para compor uma sociedade melhor? Qual a norma e regulamentos da responsabilidade social das empresas? Você conhece a norma que regulamenta a responsabilidade social e os seus requisitos? 33 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 A busca de certificação social também tem contribuído como diferencial competitivo para as empresas. A Fundação Abrinq vem certificando algumas empresas que não trabalham com mão de obra infantil, incluindo seus fornecedores. Dados da pesquisa Ethos/Valor mostram que 53% dos entrevistados boicotaram os produtos de uma empresa que utiliza mão de obra infantil. Um exemplo é o que ocorreu com a empresa americana Nike, acusada de empregar mão de obra infantil em suas fábricas no território asiático, tendo que realizar um grande planejamento estratégico para que essa imagem negativa fosse eliminada do mercado. Paralelamente à certificação do cumprimento da Norma Internacional SA800 (ou outra equivalente, de naturezasimilar), muitas organizações produtivas adiantaram-se na publicação do Balanço Social da Empresa, como já é obrigatório em muitos outros países, e tende a ser em nosso país. O que vem a ser Balanço Social? O Balanço Social é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa, reunindo um conjunto de informações sobre os projetos, benefícios e ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado, acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar e multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa. (Ibase) Para refletir A empresa para a qual você trabalha ou recentemente trabalhou publica seu Balanço Social anualmente? Do “Balanço Social” fazem parte os seguintes “Indicadores Sociais Internos”: » Alimentação. » Previdência privada. » Saúde. » Segurança e Medicina no Trabalho. » Educação. » Cultura. Para refletir A empresa para a qual você trabalha ou recentemente trabalhou já foi certificada para a norma internacional de “Responsabilidade Social” (SA8000)? 34 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS » Capacitação e desenvolvimento profissional. » Creches ou auxílio-creche. » Participação nos lucros ou resultados. São considerados Indicadores Sociais Externos: » Educação. » Cultura. » Saúde e Saneamento. » Esporte. » Combate à Fome e Segurança Alimentar. Fazem parte do Balanço Social da Empresa, os seguintes Indicadores Ambientais: » Investimentos relacionados com a produção/operação da empresa. » Investimentos em programas e/ou projetos externos. » Quanto ao estabelecimento de “metas anuais” para minimizar resíduos, o consumo geral na produção/operação e aumentar a eficácia na utilização de recursos naturais, a empresa: ( ) não possui metas; ( ) cumpre de 0% a 50%; ( ) cumpre de 51% a 75%; ( ) cumpre de 76% a 100%. O “modelo do Ibase” inclui no Balanço Social da Empresa os seguintes Indicadores do Corpo Funcional: » Número de empregados(as) ao final do período. » Número de admissões durante o período. » Número de empregados(as) terceirizados(as). » Número de estagiários(as). » Número de empregados(as) acima de 45 anos. » Número de mulheres que trabalham na empresa. » % de cargos de chefia ocupados por mulheres. » Número de negros(as) que trabalham na empresa. 35 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 » % de cargos de chefia ocupados por negros(as). » Número de portadores(as) de deficiência ou necessidades especiais. Por último, fazem parte do Balanço Social da Empresa as seguintes Informações relevantes quanto ao exercício da Cidadania Empresarial: » Relação entre a maior e a menor remuneração na empresa. » Número total de acidentes de trabalho. » Os projetos sociais ambientais desenvolvidos pela empresa foram definidos por: ( )Direção; ( )Direção e Gerências; ( )Todos(as) os(as) Empregados(as). Para refletir Qual a diferença entre Marketing Comercial e Marketing Social? Será que o conceito de Marketing social se parece com o de Marketing? Para entender o Marketing Social Primeiro, vamos definir o que seja Marketing: Segundo Kotler (2000), O marketing é um processo social e gerencial por meio do qual os indivíduos e os grupos obtêm aquilo de que precisam e também o que desejam, em razão da criação e da troca de produtos/serviços de valor com outra pessoa. Para McCathy (2000), O marketing é a ação de antever as necessidades do cliente, direcionando os esforços da organização ao atendimento de tais necessidades, por meio da oferta de produtos e serviços. Conceito de marketing social Segundo Kotler e Zaltman (1971), o design, implementação e controle de programas que buscam aumentar a aceitabilidade das ideias sociais e que envolve considerações acerca do design 36 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS do produto, estabelecimento de preço, comunicação, distribuição e pesquisa de marketing. Andreasen (2002) afirma, Nos termos mais simples, o marketing social é a aplicação das tecnologias de marketing desenvolvidas no setor comercial à solução de problemas sociais, onde o resultado almejado é a mudança de comportamento. Segundo Kotler (2000), É uma tecnologia de administração de mudança social associada ao projeto de implementação e controle de programas destinados a aumentar a disposição das pessoas para a aceitação de uma ideia, um comportamento e/ou prática social. Enfim, o marketing social se distingue do marketing comercial por beneficiar em primeira instância o indivíduo ou a sociedade. O objetivo do marketing social é modificar atitudes ou comportamento atendendo a interesses do mercado ou sociedade, que se dá pela concretização de ideias e serviços. E afinal, qual é a diferença entre marketing social e responsabilidade social? O marketing social tem como objetivo a mudança de comportamento da sociedade para com o bem social, utilizando ferramentas mercadológicas e técnicas de marketing. A responsabilidade social, como vimos anteriormente, é a preocupação que as empresas, pessoas e governo têm pelo social. Alguns tipos de marketing social: » Marketing da filantropia. » Marketing das campanhas sociais. Saiba mais No Brasil, as 500 maiores empresas gastam anualmente US$ 2,8 bilhões em segurança e US$ 18 milhões/mês em filantropia. Nos EUA, o exercício da filantropia corporativa por doações é o segmento que mais cresce, empresas norte-americanas doam US$ 150 bilhões a mais de 600 mil instituições sem fins lucrativos. Um exemplo de filantropia foi a doação de US$ 200 milhões pela Microsoft abastecendo bibliotecas públicas americanas com softwares educacionais. 37 RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS • CAPÍTULO 3 Marketing da filantropia Conceito surgido nos EUA, com a doação de milionários americanos de parte de suas fortunas, para ações sociais do governo e sociedade civil. Em 1982, Jerry Welch, executivo da American Express, criou o conceito de marketing de causa (cause-related marketing). A doação de parte das despesas dos clientes do cartão Amex para entidades sem fins lucrativos, na região de São Francisco (Califórnia), aumentou o uso do cartão em 28%. No período de 1989 a 1992, as despesas com o marketing para causas sociais cresceram de US$ 100 milhões para US$ 250 milhões. Características do marketing da filantropia » Promover a imagem do empresário como benfeitor, destacando sua sensibilidade a problemas sociais. » Reforça e divulga a imagem benfeitora da empresa e o espírito de filantropia. » Buscam no governo, na comunidade, nos clientes e nos funcionários o respeito e preferência por seus produtos. » Não estão direcionadas para o marketing da empresa. » Atenuam o estereótipo social de empresa que obtém lucro final. Marketing das campanhas sociais Somente em 1997, as empresas americanas investiram cerca de meio bilhão de dólares, apenas pelo direito de patrocínio de campanhas como a da AIDS e unidades do Corpo de Bombeiros. Movimento surgido no Brasil na década de 1980, com o Movimento Nacional em Defesa das Crianças Desaparecidas e Campanha pela Cidadania e contra a Miséria e a Fome de Betinho. A novela Explode Coração, da TV Globo, iniciou uma grande campanha social abordando o desaparecimento de crianças, apresentando fotos de desaparecidos, sensibilizando os empresários que abraçaram a questão. Mais exemplos: » Campanhas para explicar o trabalho de órgãos governamentais voltados à saúde pública. » Campanhas para chamar a atenção aos problemas sociais como pobreza, intolerância, ou a poluição. » Campanhas para atrair doadores de sangue ou doação de órgãos, entre outros. 38 CAPÍTULO 3 • RESPONSABILIDADE SOCIAL E MARkETING SOCIAL: ASPECTOS GERAIS Características: » Forte apelo emocional. » Movimento sério, com adesão de empresas, governo e sociedade civil com rapidez.» Apoio da mídia, especialmente. » Significativo retorno publicitário aos participantes. » Valoriza o produto agregando valor social À embalagem. » Aumenta a visibilidade do produto nas prateleiras. » Forte indutor ao endomarketing, mobilizando funcionários. Registre o que tem observado sobre esse tema, como também suas dúvidas e ideias e apresente a sua tutora. Agora é hora de exercitar o que aprendeu. Prepare-se! Sintetizando Vimos até agora: » Que a responsabilidade social se apresenta como um tema cada vez mais importante no comportamento das organizações, exercendo impactos nos objetivos, estratégias e no próprio significado da empresa. » A importância da responsabilidade social e dos benefícios que ela pode trazer para a corporação, quando aplicada corretamente. » Uma reflexão acerca do conceito e da importância da responsabilidade social Empresarial e desses em relação ao Estado e à sociedade civil. » Que o conceito de filantropia é diferente do de responsabilidade social. » A diferença entre marketing comercial, marketing social e responsabilidade social. » O conceito de balanço social e as normas que regulamentam a empresa socialmente responsável. 39 Apresentação A terminologia terceiro setor é relativamente nova, surgiu no Brasil no final dos anos 1980 e é utilizada para definir um setor que se situa entre o público e o privado. Este capítulo fornecerá uma visão global sobre o terceiro setor, estabelecendo um diálogo sobre: o que é o terceiro setor? O terceiro setor no Brasil e suas tendências. Sua origem, causas do crescimento e importância. A relação de parceria entre Estado, Mercado e Terceiro Setor. Os tipos de organização e, por fim, o trabalho voluntário. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Compreender o desenvolvimento do terceiro setor e o seu relacionamento com os setores governamental e empresarial. » Assimilar o conceito, a origem, a importância do terceiro setor. » Saber diferenciar os tipos de organizações em termos conceituais, de objetivos, formas de atuação e jurídicos, bem como o papel de cada uma. » Conhecer o que é um trabalho voluntário, a lei que o regulamenta e o termo de adesão. 4 CAPÍTULO TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO 40 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO Definindo Terceiro Setor A expressão foi traduzida do inglês third sector, dada a sua origem norte-americana, a exemplo de outra expressão comumente por eles utilizada – non profit organizations, que significa organizações sem fins lucrativos. A influência da expressão serviu para balizar no Brasil o enquadramento de uma atividade não desenvolvida pelo Estado (primeiro setor) e tampouco pela iniciativa privada ora representante do mercado (segundo setor), mas, sim, por uma sociedade organizada (entidades sem fins lucrativos) que substituiu as ações singulares, para a prática conjunta e desinteressada do bem, que formam o terceiro setor. O setor público é o governo, representando o uso de bens públicos para fins públicos. O segundo setor refere-se ao mercado e é ocupado pelas empresas privadas com fins lucrativos. O terceiro é formado por organizações privadas, sem fins lucrativos, desempenhando ações de caráter público. Geralmente, o termo terceiro setor é utilizado para identificar que o espaço dessas organizações na vida econômica não se confunde nem com o Estado nem com o mercado; trata-se de um setor que se identifica com uma terceira forma de redistribuição de riqueza, diferente da do Estado e da do mercado. Fernandes (1994) considera o terceiro setor como uma das possibilidades lógicas do universo de quatro combinações possíveis da conjunção público e privado: Quadro 1. O terceiro setor. AGENTES FINS SETOR Privados PARA Privados IGUAL A: Mercado Públicos Públicos Estado Privados Públicos Terceiro Setor Públicos Privados (corrupção) Fonte: Fernandes, 1994. Para fixação do conceito: Segundo Melo Neto (1999), A expressão Terceiro Setor nasceu da ideia de que a atividade humana é dividida em três setores: um primeiro setor (Estado), em que agentes públicos executam ações de caráter público; um segundo setor (mercado), no qual agentes privados Saiba mais Você sabia que no Brasil o terceiro setor possui aproximadamente 12 milhões de pessoas, entre gestores, voluntários, doadores e beneficiados de entidades beneficentes, além dos 45 milhões de jovens que veem como sua missão ajudar o terceiro setor. 41 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 agem visando a fins particulares; e um terceiro setor relacionado às atividades que são simultaneamente não governamentais e não lucrativas. Quadro 2. Definidores do Terceiro Setor. ELEMENTOS DEFINIDORES DESCRIÇÃO Foco Bem-estar público Interesse comum. Questões centrais Pobreza, desigualdade e exclusão social. Entidades participantes Empresas privadas, Estado, ONGs e sociedade civil. Nível de atuação Comunitário e de base. Tipos de ações Ações de caráter público e privado, associativas e voluntárias. Fonte: Melo Neto, 1994. Mais... é o conjunto de iniciativas privadas, de caráter público, sem fins lucrativos como associações e fundações, dentre outras, marcadamente solidárias e destinadas ao interesse público. (MCKINSEY & COMPANY, 2001). Uma tentativa de definição para o conjunto do terceiro setor é apresentada por Coelho (2000), sendo a mais amplamente utilizada e aceita, é denominada estrutural/operacional. Segundo essa definição, as organizações que fazem parte desse setor apresentam as cinco seguintes características: » Estruturadas: possuem certo nível de formalização de regras e procedimentos, ou algum grau de organização permanente. São, portanto, excluídas as organizações sociais que não apresentem uma estrutura interna formal; » Privadas: essas organizações não têm nenhuma relação institucional com governos, embora possam dele receber recursos; » Não distribuidoras de lucros: nenhum lucro gerado pode ser distribuído entre seus proprietários ou dirigentes. Portanto, o que distingue essas organizações não é o fato de não possuírem “fins lucrativos”, e, sim, o destino que é dado a estes, quando existem. Eles devem ser dirigidos à realização da missão da instituição; » Autônomas: possuem os meios para controlar sua própria gestão, não sendo controladas por entidades externas; » Voluntárias: envolvem um grau significativo de participação voluntária (trabalho não remunerado). A participação de voluntários pode variar entre organizações e de acordo com a natureza da atividade por ela desenvolvida. 42 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO No que diz respeito ao terceiro setor, é importante considerar também que seu crescimento provém da iniciativa e da responsabilidade social de grupos sociais organizados, e da iniciativa privada em parcerias a essas instituições sociais. E quais são as causas do crescimento do terceiro setor? Principais Causas do Crescimento do Terceiro Setor » Crescimento das necessidades socioeconômicas. » Crise do setor público. » Fracasso das políticas públicas tradicionais. » Crescimento dos serviços voluntários. » Degradação ambiental que ameaça a saúde humana. » Crescente onda de violência que ameaça a segurança das populações. » Incremento das organizações religiosas. » Maior disponibilidade de recursos a serem aplicados em ações sociais. » Maior adesão das classes alta e média a iniciativas sociais. » Maior apoio da mídia. » Maior participação das empresas que buscam a cidadania empresarial. Entendendo algumas causas: A primeira – o crescimento das necessidades socioeconômicas – é decorrente do crescimento populacional e das mazelas do capitalismo de mercado, que têm gerado má distribuição de renda, desemprego, fome, violência, sobretudo nos países periféricos.Crescem as demandas sociais porque os problemas sociais e econômicos agravam-se; A crise do setor público em todo o mundo, com a falta de recursos, corrupção, empreguismo, má gestão e déficits crônicos. O cenário muda, sai o Estado burocrata e entra o Estado enxuto, porém a doença interminável continua, ou seja, serviços sociais de péssima qualidade; As esperadas políticas sociais ainda não chegaram e, consequentemente, o papel redistributivo permanece como um sonho, principalmente para as populações marginalizadas pela desassistência do Estado. Permanece ativa a velha prática do assistencialismo social, como frentes de trabalho e distribuição de alimentos, roupas e remédios; 43 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 A incapacidade do Estado em solucionar os problemas da população favorece o crescimento do contingente de trabalhadores voluntários, a serviço das causas sociais; A degradação ambiental é outro fator que ameaça a vida, como um todo, promovendo altos índices de doenças transmitidas por agentes provenientes das diversas formas de poluição ambiental, comprometendo a saúde e a qualidade de vida; O crescimento das organizações religiosas em todo o mundo, e com elas, as iniciativas sociais que promovem, sobretudo por meio do trabalho voluntariado, têm favorecido o engajamento de ações minimizadoras dos males resultantes da inoperância social do Estado. As modalidades de ações sociais O terceiro setor abrange entidades sem fins lucrativos que desenvolvem ações sociais. Possui vários nomes: setor social, setor sem fins lucrativos, setor de promoção social, economia social, setor voluntariado e muitos outros. O terceiro setor apresenta como características principais ações de caráter filantrópico e de investimentos em programas de projetos sociais, e o alto grau de diversidade das entidades de que eles fazem parte. As ações sociais compreendem modalidades como: » Doações de pessoas físicas e jurídicas. » Investimentos em programa e projetos sociais. » Financiamento de campanhas sociais. » Parcerias com o governo, empresas privadas, comunidade e entidades sem fins lucrativos. » Participação em trabalhos voluntários. Evolução, dinâmica e problemas Reconstruindo historicamente o conceito de terceiro setor na América Latina, Fernandes (1994, p. 31-32) identifica palavras articuladoras que reúnem atividades distintas, tais como comunidade, movimentos sociais nos anos 1970; cidadania e sociedade civil, no âmbito dos processos de democratização da década de 1980; sem fins lucrativos e não governamental nos anos mais recentes. O que compreende o terceiro setor da sociedade está ligado ao trabalho comunitário, à prática da solidariedade, à cultura da filantropia. Essas expressões remetem às atividades localizadas, geralmente de dimensões pequenas e com relacionamentos personalizados e com uma imagem altamente positiva. 44 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO O que é comunidade? Comunidade refere-se a um conjunto de famílias e pessoas que compartilham um espaço de moradia e, às vezes, até de trabalho, com necessidades e interesses comuns e, portanto, com fatores que favorecem a reunião, a comunicação e as ações coletivas. E movimentos sociais? Movimentos sociais, expressão que designa processos dinâmicos, instáveis, de organizações e ações distanciadas em relação ao Estado. Suas principais ações concentravam-se na solução de problemas localizados como o de falta d’água, saneamento básico, luz, segurança, moradia, ocupação da terra, poluição excessiva, preços, entre outros. A partir dos anos 1990 em nosso país, com o advento de conceitos como responsabilidade social das empresas e o fortalecimento de um senso de cidadania, o terceiro setor experimenta uma grande expansão. No que diz respeito à natureza e finalidades das organizações do terceiro setor, a grande mudança de perspectiva se dá a partir da década de 1990, mais especificamente a partir da ECO-92, quando o País toma contato direto com uma nova força nascente: o poder da opinião pública – e com a expressividade do movimento em prol dos direitos coletivos e difusos, entre os quais se destaca a preservação da vida no planeta. É a partir dessa década que o termo terceiro setor passou a ser usado no Brasil para designar uma imensa variedade de instituições, cujo traço comum é, muitas vezes, unicamente o fato de registrarem em seus estatutos sua natureza não econômica (sem fins lucrativos). Origem do terceiro setor Para compreendermos melhor a trajetória do terceiro setor, vamos recorrer ao texto A sociedade civil e o terceiro setor, de Tanya Linda Rothgiesser, que classifica esse processo em seis etapas: » 1ª fase – Império até a 1ª República: data de 1543 a primeira entidade do País criada para atender desamparados, a Irmandade da Misericórdia, instalada na Capitania de São Vicente. O Brasil era constitucionalmente vinculado à Igreja Católica e à utilização dos recursos, principalmente o privado, passava por seu crivo. Era a época das Ordens Terceiras, das Santas Casas, das Benemerências atuando, principalmente, nas áreas de saúde e previdência. A rigor, o que o Estado não provia, os líderes das principais comunidades portuguesas e espanholas de imigrantes proviam. Com esmolas se constituíam pequenos dotes para órfãos e se compravam caixões para os pobres. Beneditinos, franciscanos e carmelitas, assim como a Santa Casa, foram exemplos expressivos da ação social das ordens religiosas predominantes. Vinculam-se às ações 45 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 sociais desenvolvidas, à época, expressões tais como mutualismo, benemerência e outras ainda hoje utilizadas, tais como assistencialismo, caridade. » 2ª fase – Revolução de 1930 até 1960: o País entrou na urbanização e na industrialização, que passaram a moldar a nova atuação da elite econômica. O Estado ficou mais poderoso, único portador do interesse público. No Estado Novo, com o presidente Getúlio Vargas, editou-se, em 1935, a primeira lei brasileira que regulamentava as regras para a declaração de Utilidade Pública Federal: dizia seu artigo primeiro que as sociedades civis, as associações e as fundações constituídas no País deveriam ter o fim exclusivo de servir desinteressadamente à coletividade. Em 1938, formalizou-se a relação do Estado com a assistência social com a criação do Conselho Nacional do Serviço Social. Paralelamente à atuação do Estado, surgiram ações filantrópicas a partir de senhoras de famílias economicamente privilegiadas; e líderes de indústrias, como os Matarazzo, os Chateaubriand, entre outros. O termo filantropia cunha-se nesta fase, marcadamente. » 3ª fase – A partir de 1960 até a década de 1970: o fortalecimento da sociedade civil se deu, paradoxalmente, no bojo à resistência à ditadura militar. No momento em que o regime autoritário bloqueava a participação popular na esfera pública, microiniciativas na base da sociedade foram inventando novos espaços de liberdade e reivindicação. Inscrevem-se, nesse momento, os movimentos comunitários de apoio e ajuda mútua, voltados à defesa de direitos e à luta pela democracia. Marca-se, nesse contexto, o encontro da solidariedade com a cidadania, representado em ações de organizações não governamentais (ONGs) de caráter leigo, engajadas em uma dupla proposta: combater a pobreza e combater o governo militar ditatorial. » 4ª fase – a partir dos anos 1970: multiplicam-se as ONGs com o fortalecimento da sociedade civil – embrião do terceiro setor – em oposição ao Estado autoritário. O Brasil dava início à transição de uma ditadura militar para um regime democrático. Com uma “distensão lenta, segura e gradual” (como os militares costumavam caracterizar esse processo), a sociedade brasileira começou a exercer seus direitos constitucionais, suspensos até então. Com o avanço da redemocratizaçãoe as eleições diretas para todos os níveis de governo, as organizações de cidadãos assumem um relacionamento mais complexo com o Estado. Reivindicação e conflito passam a coexistir com diálogo e colaboração. » 5ª fase – os anos 1990: surge um novo padrão de relacionamento entre os três setores da sociedade. O Estado começa a reconhecer que as ONGs acumularam um capital de recursos, experiências e conhecimentos, sob formas inovadoras de enfrentamento das questões sociais, que as qualificam como parceiros e interlocutores das políticas governamentais. 46 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO O mercado, antes distanciado, passa a ver nas organizações sem fins lucrativos canais para concretizar o investimento do setor privado empresarial nas áreas social, ambiental e cultural. O termo cidadania já se presentifica no discurso do empresariado brasileiro, no início dessa década. Paralelamente, o sentimento vigente era de que o Estado, sozinho, não conseguiria dar conta de todas as suas obrigações na área social. Significativo nessa fase, a Câmara Americana de Comércio (American Chamber of Commerce), com apoio da Fundação Ford e da Fundação W.K. Kellogg, promove um prêmio (ECO), reuniões e conferências sobre filantropia em São Paulo, o que resulta na criação de um comitê de empresas brasileiras e fundações corporativas. Incluíam-se no grupo fundações como Bradesco, Odebrecht, Roberto Marinho; organizações como o Instituto Itaú Cultural; e empresas do porte da Xerox e Alcoa. O grupo formaliza-se em 1995, formando o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife). Em 1998, também em São Paulo, 11 empresas se associam e surge o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social. Expressão que até então não existia – responsabilidade social – vem marcar o início de uma intervenção social empresarial alicerçada em um Código de Ética definidor de parâmetros de conduta das empresas com seus públicos (stakeholders). Busca-se diferenciar, marcadamente, ações “de negócio” de uma agenda voltada a investimentos sociais privados, de cunho ético e em benefício da sociedade. Marcam-se, portanto, nesse período, as palavras parceria, cidadania corporativa, responsabilidade social, investimento social privado. Formas de expressão desse novo movimento de encontro dos três setores da economia brasileira. Amplia-se, fortemente, o conceito de terceiro setor: para além do círculo das ONGs, valorizam-se outros atores sociais como as fundações e institutos (os braços sociais das empresas), as associações beneficentes e recreativas, também as iniciativas assistenciais das igrejas e o trabalho voluntário de maneira geral. A ampliação das áreas de convergência, não implicando o apagamento das diferenças entre os setores. Ao contrário, por serem diferentes, canalizando recursos e competências específicas e complementares. Cria-se, no governo de Fernando Henrique Cardoso, o Programa Comunidade Solidária com o propósito de articular trabalhos sociais em vários ministérios. E, em 1998, é regulamentada a Lei do Voluntariado. » 6ª fase – século XXI: a Organização das Nações Unidas (ONU) decreta 2001 como o «Ano Internacional do Voluntário». Acontecem, no Brasil, o I e o II Fórum Social Mundial, implementadores de ideias alternativas de ação econômica e social. Promove-se o desenvolvimento social a partir do incentivo a projetos autossustentáveis – em oposição 47 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 às tradicionais práticas de caráter assistencialista geradoras de dependência – e em propostas de superação de padrões injustos de desigualdade social e econômica. Questionam-se, na sociedade civil, formatos preconceituosos baseados em padrões de comportamento e pensamento julgados «adequados» aos sujeitos-cidadãos. Abrem-se novas perspectivas à aceitação da diversidade de comportamentos humanos, de respeito à singularidade cultural e à autodeterminação econômica dos povos. Implementam-se políticas de proteção aos bens da humanidade, incluídas todas as formas de vida e sua preservação. Em pequenos gestos cotidianos, tanto quanto na busca de práticas sociais solidárias, por meio de redes por todo o planeta, consolida-se uma proposta. O terceiro setor tem, no momento atual da sociedade, duas realidades que devem ser consideradas no seu desempenho: » A realidade de sanar as questões sociais não resolvidas pelo Estado do Bem-Estar Social (Welfare State) e as demandas sociais que o segundo setor abdicou nas suas tradicionais limitações. Essa realidade envolve a filantropia empresarial, os financiamentos de agências nacionais e estrangeiras, as redes de empresas que investem na gestão de conhecimento e metodologias para reverter as carências (o subemprego, o desemprego e o mau desenvolvimento econômico da sociedade). » A realidade do comprometimento e da missão de privilegiar o ser humano e as relações exige uma nova forma de gestão nas organizações sociais, ou seja, a gestão participativa, pois são organizações que não têm donos/acionistas e não visam ao lucro. O terceiro setor reavivou espaços na sociedade e começa a mostrar a sua importância na relação que visa à integração com o primeiro e segundo setores (são as ações sociais integradas às ações públicas e às ações privadas), no diálogo de políticas sociais necessárias, no treinamento eficaz de gestores sociais e na multiplicação de facilitadores de equipes. A Relação de Parceria entre Estado, Mercado e Terceiro Setor Existe um intercâmbio do terceiro setor com o Estado, pois este necessita da representação política que a autoridade legal pode lhe fornecer e, inclusive, porque as ONGs são financiadas, também, pelos órgãos do governo. De outro lado, o terceiro setor, também, necessita do mercado, pois a propriedade privada é o marco de autonomia da sociedade diante do Estado e, portanto, de responsabilidade social. A colaboração entre esses setores por meio de ações em parceria estabelece um novo espaço de pensar e agir as questões sociais. A parceria está representando a soma de esforços com o 48 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO intuito de se alcançar interesses que sejam comuns. É o espaço do exercício da democracia que valoriza a corresponsabilidade dos cidadãos nos diferentes setores dos quais eles participam. Essa responsabilidade implica a alternativa de compor projetos capazes de enfrentar fatores tais como a exclusão social, na destruição do meio ambiente, na explosão populacional, no crescimento do narcotráfico, das doenças, da pobreza, da falta de capacitação, do desemprego e permitir e mobilizar recursos, meios, instrumentos e pessoas com capacidade e segurança de implementar trabalhos de interesse da humanidade. Para atingir os seus objetivos, o terceiro setor deve imprimir uma crescente aprendizagem da sociedade como um todo no que se refere à sua área de atuação e, para tanto, deve enfrentar e responder a alguns desafios fundamentais para o seu fortalecimento, tais como: » Produzir cursos e disseminar informações sobre o que é o terceiro setor e como agir profissionalmente nele. » Elaborar projetos e programas para a administração das organizações sociais que contenham qualidade na sua gestão. » Captar recursos para que ocorra a sustentabilidade das organizações sociais. » Criar campanhas de esclarecimento e envolvimento público para gerar maior participação voluntária dos cidadãos às questões sociais. O cenário das organizações sociais nos dias atuais é investir na qualificação e no desenvolvimento das suas próprias informações. Ao mesmo tempo em que exige um contínuo aprendizado, ocorre a mobilização de novos instrumentos que, quando operacionalizados, geram uma verdadeira revolução cultural. Tipos de Organizações do Terceiro Setor Entre as organizações que integram o Terceiro Setor estão as ONGs (Organizações Não Governamentais),Entidades Filantrópicas, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), organizações sem fins lucrativos e outras formas de associações civis sem fins lucrativos. Essas, por sua vez, atuam atendendo a demandas sociais, que o Estado, em crise de legitimidade e incapacidade de financiar, não consegue atender, utilizando-se de recursos privados ou parcerias com o próprio Estado. 49 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 Então, vamos conhecê-las: Organizações não governamentais (ONGs) São as organizações não governamentais (ONGs) que, frequentemente, implementam os projetos sociais juntamente com as populações que demandam do Estado bens e serviços, após organizá- las em movimentos sociais. A materialização de projetos ocorre mediante alguns requisitos fundamentais, entre eles: obtenção de verbas; qualificação de pessoal e avaliação com vistas à continuidade deles. O processo passa a se desencadear sob uma nova ótica, mudando da pressão e reivindicação inicial, para ações de parceria com Governos e iniciativa privada, direcionando esforços na obtenção de resultados, como proposta advinda dos projetos. Segundo MELO NETO (1999), “nessa era de globalização a participação em atividades coletivas está se tornando um fator decisivo na constituição de identidades pessoais e nas biografias pessoais na moderna sociedade industrial”. Criatividade e inovações só poderão surgir em ambientes abertos, nos quais a discussão das ideias e o debate das opiniões estejam presentes. Os projetos coletivos acontecem na medida em que se relacionam com os projetos individuais. As ONGs, em vez de receberem, como no período anterior, subsídios econômicos, passaram a receber apenas suporte técnico para o desenvolvimento dos projetos. Para serem autossustentáveis, ONGs e movimentos sociais tiveram que garantir a própria sobrevivência, seja de forma autônoma ou com o auxílio de seus governos. Nesse contexto, conforme afirma Gohn, “o panorama das lutas sociais se alterou completamente, a mobilização cotidiana a os atos de protestos nas ruas diminuíram, e a militância decresceu”. Os movimentos sociais e as ONGs que sobreviveram se qualificaram para a nova estrutura em termos de infraestrutura e do uso de modernos meios de comunicação como, por exemplo, a internet, além da qualificação e/ou contratação de mão de obra especializada como recém- formados com visão social. Organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) Organização da sociedade civil de interesse público (Oscip). Trata-se de uma sociedade civil sem fins lucrativos (associação), que tem de preencher os requisitos da Lei nº 9.790/1999 que busca regularizar o fenômeno das ONGs, instituições não regulamentadas em qualquer dispositivo legal, mas que se proliferavam no cenário mundial. As Oscips são, em resumo, ONGs que, tendo cumprido certos requisitos de transparência administrativa e gerencial, foram reconhecidas pela Administração Pública. 50 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO Um dos requisitos da Oscip é o de ter como vocação a promoção da assistência social, cultura, educação, saúde, segurança alimentar e nutricional, meio ambiente, trabalho voluntário, combate à pobreza, ética, paz, cidadania, estudo e pesquisas. A lei permite a remuneração dos dirigentes e prioriza a Oscip como parceira das atividades desenvolvidas pelo Estado. O Ministério da Justiça é o órgão que avalia, reconhece e expede o certificado de Oscip. forma análoga às ONGs, as Oscips também atuam em áreas típicas de Estado, naquilo que diz respeito à prestação de serviços sociais. A Lei nº 9.790 determina, em seu art. 3º, quais as finalidades perseguidas por pessoas jurídicas de direito privado que possibilitam sua qualificação como Oscips. Cumprido esse requisito, o art. 4º exige ainda que o estatuto que rege essa pessoa jurídica contenha determinadas disposições que visam, predominantemente, que aquela organização preste seus serviços de forma a atender aos princípios-chave que regem a Administração Pública e, ademais, que o faça de forma contínua. Como já dito anteriormente, um dos principais objetivos da lei ao regularizar as ONGs era dar a essas organizações maior transparência e controle, por parte, principalmente, da Administração. O meio escolhido pelo legislador para possibilitar esse controle foi o chamado Termo de Parceria. Por meio desse, a organização e o Poder Público obrigam-se mutuamente, a primeira a prestar contas e a se sujeitar à fiscalização do Tribunal de Contas e ao Ministério Público. Enquanto a organização prestar seus serviços de forma moral, impessoal, legal, pública, econômica e eficiente, estará apta a receber recursos públicos. Diferença entre associação e fundação As Associações são pessoas jurídicas formadas pela união de pessoas com objetivo comum sem finalidades lucrativas, normalmente de caráter cultural ou assistência. O estatuto da associação deverá, necessariamente, definir a composição e o funcionamento dos órgãos deliberativos e administrativos. O órgão de deliberação máximo é a Assembleia Geral. Essa possui as seguintes competências privativas: a) eleger os administradores; b) destituir os administradores; c) aprovar as contas; d) aprovar e alterar o estatuto. Os administradores compõem o órgão executivo da associação, que podem receber diversas denominações, tais como Diretoria Executiva, Direção- Geral, Diretoria Administrativa, Secretaria Executiva, entre outros. Cabe a esse órgão executar as diretrizes aprovadas nas assembleias gerais, de acordo com as atribuições definidas no estatuto. Isso inclui gerir os recursos da entidade e a prestação de contas dos recursos e atividades. As associações também são formadas por agrupamento de pessoas, porém, estão unidas por um fim não lucrativo. As fundações são entes que têm por características o patrimônio. Ganha personalidade jurídica e deverá ser administrada de modo a atingir o cumprimento das finalidades estipuladas pelo seu instituidor. A partir da vigência do Código Civil de 2002, as Fundações somente podem ser constituídas para fins religiosos, morais, culturais ou assistenciais. Uma Fundação é, em síntese, 51 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 um patrimônio destinado a um fim de interesse público ou social que adquire personalidade jurídica, na forma da lei civil. É, segundo o Código Civil, uma pessoa jurídica, assim como as sociedades civis e associações. Todavia, do ponto de vista estrutural, as Fundações apresentam características bem distintas dessas outras entidades. Regidas por um estatuto, as entidades fundacionais não se formam pela associação de pessoas físicas, elas nascem em virtude da dotação de um patrimônio inicial, o qual servirá para prestar serviços de interesse coletivo ou social. Por outro lado, a instituição de uma Fundação depende da autorização do Ministério Público ao qual cabe aprovar a minuta do estatuto e avaliar se o patrimônio destinado para uma Fundação é suficiente para aqueles fins. As fundações estão sujeitas a um regulamento especial desde o seu nascimento até sua extinção, previsto pelo Código Civil (arts. 24 a 30), pelo Código de Processo Civil (arts. 1.199 a 1.204), e pela Lei de Registros Públicos (arts. 114/120). As fundações não poderão ter fins lucrativos. Os seus dirigentes não podem exercer atividade remunerada. Quaisquer formas de distribuição de lucros ou dividendos a quem a institui ou venha a administrá-la são vedadas por lei. Podem, entretanto, exercer atividade econômica para a obtenção de recursos desde que estes sejam reinvestidos integralmente em suas finalidades estatutárias. Com objetivo de proteger e garantir que o patrimônio deixado seja utilizado conforme a vontade do seu instituidor, tem se instituído, em qualquer parte do mundo, o velamento da fundação, desde o seu nascedouro até sua extinção, por umórgão ou entidade pública. No Brasil, a autoridade pública instituída é sempre um representante do Ministério Público. De acordo com o art. 66 do Código Civil, “velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas”. Quando as atividades da Fundação se estenderem por mais de uma unidade da Federação, cabe ao respectivo Ministério Público estadual, ou do Distrito Federal, o encargo de velamento das atividades desenvolvidas dentro de sua jurisdição. Entre as atividades relacionadas ao velamento pelo MP, está o acompanhamento do processo de criação e constituição da fundação, quanto ao cumprimento de todos os requisitos legais necessários, bem como aqueles não expressos em lei, ou seja, o velamento iniciar-se-á antes mesmo da existência propriamente dita da entidade. A ação contínua e constante do Ministério Público envolve o acompanhamento das alterações estatutárias, o comparecimento às reuniões deliberativas, o exame de prestações de contas anuais e o acompanhamento das atividades em geral quanto ao cumprimento das finalidades estatutárias e das disposições gerais. O Ministério Público, finalmente, acompanhará todo o processo de extinção da fundação, cabendo-lhe propor a ação civil de extinção nas hipóteses previstas no Código Civil, art. 69. 52 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO Entidade filantrópica Trata-se, também, de uma sociedade sem fins lucrativos (associação ou fundação), criada com o propósito de produzir o bem, como assistência à família, maternidade, infância, adolescência, velhice, promovendo, ainda, a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e integração ao mercado do trabalho. Para ser reconhecida como filantrópica pelos órgãos públicos, a entidade precisa comprovar ter desenvolvido, no mínimo pelo período de três anos, atividades em prol aos mais desprovidos, sem distribuir lucros e sem remunerar seus dirigentes. Os títulos que terá de conquistar para ser reconhecida como filantrópica pelo Estado são: Declaração de Utilidade Pública (federal, estadual ou municipal) e o de Entidade Beneficente de Assistência Social, adquiridos no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Vantagem da entidade filantrópica junto ao Estado Após o enquadramento como entidade filantrópica, preenchendo todos os requisitos exigidos, incluindo a aplicação de, pelo menos, 20% da receita bruta em ações sociais, a instituição poderá se beneficiar do direito do não pagamento dos tributos. Montando uma entidade beneficente Primeiro passo: eleição de uma causa que não esteja necessariamente relacionada a uma ação social, realização de uma reunião para a propositura da constituição da entidade, devendo a ata ser assinada por todos os presentes. Votação para a eleição dos integrantes da Diretoria e do Conselho Fiscal. As atas dessas reuniões deverão ser assinadas pelo presidente e pelo secretário da reunião. Elaboração do estatuto social, regulamentando a existência da instituição. Registro em Cartório Civil de Registro de Pessoas Jurídicas qualificando-se a funcionar, devendo apenas requerer a sua inscrição no CNPJ e órgãos públicos para efeitos fiscais. Após três anos, poderá solicitar o reconhecimento como Entidade Filantrópica pelo Estado, objetivando o não pagamento de tributos. Gestão do Terceiro Setor É possível identificar três etapas básicas de funcionamento de uma organização do terceiro setor que é a mesma de uma organização privada. 53 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 1ª) Investimento: a forma mais comum de obter financiamento é, por meio de doações de organizações jurídicas ou pessoas físicas. Os recursos humanos, por sua vez, podem ser representados total ou parcialmente por voluntários. Outra possibilidade é a contratação de profissionais, o que ocorre em organizações privadas. 2ª) Operação: a operação de uma organização do terceiro setor deve, acima de tudo, gerar impacto social. Isso significa que, dentro da organização, devem obrigatoriamente existir processos que gerem claros benefícios para a sociedade. Diferentemente das empresas privadas, as organizações do terceiro setor não precisam apresentar superávit nas suas operações, uma vez que seu foco é a atuação social. 3ª) Resultados: são avaliados, principalmente pelo impacto social das ações da organização, e devem ser mensurados segundo variações apropriadas ao tipo de ação social que a organização exerce. Deve-se ressaltar que todo superávit tem de ser obrigatoriamente reinvestido na organização para aumentar o impacto social. Vemos, portanto, que o funcionamento do terceiro setor é muito semelhante ao da empresa privada, diferenciando-se mais pelos objetivos que se propõem e pelas alianças do que pelas etapas de funcionamento. Percebe-se que, sob o aspecto de processos internos, uma organização do terceiro setor pode ser tão ou mais complexa de administrar do que uma empresa privada, já que, ao adotar operações para geração de recursos, está utilizando processos idênticos ao de uma empresa privada. Apesar de ser mais complexa de administrar, grande parte das organizações do terceiro setor não conhece ou não domina algumas ferramentas de administração e gerenciamento já consagradas no setor privado, principalmente o desenvolvimento do plano de negócios. Voluntariado O que é serviço voluntário? O serviço voluntário é uma das formas mais transformadoras de participação cidadã em nossa sociedade atual, pois é o meio com que todo cidadão, independente de escolaridade, religião, cor, condição financeira ou física, pode fazer a diferença no meio em que vive. Assim sendo, se caracteriza como uma importante força que se soma a diversas áreas e causas, tais como: direito à alimentação, meio ambiente, geração de emprego e renda, recreação de crianças de baixa renda, entre outros. 54 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO A ação voluntária não é só generosidade e doação, também significa abertura a novas experiências, prazer de sentir-se útil, oportunidade de aprender, de frequentar novos ambientes e conhecer outras pessoas. O serviço voluntário é, por assim dizer, uma via de mão dupla, onde você contribui com seu talento e vontade em prol de uma causa e tem como retorno não apenas gratidão, mas uma possibilidade real de crescimento pessoal e desenvolvimento profissional. Ao assumir a atitude de ser voluntário, estará participando, de forma efetiva, da luta por uma sociedade melhor, com menos injustiça, menos violência e menos desigualdade. Ou seja, estará ajudando quem precisa, ao mesmo tempo em que contribui com a construção de um lugar muito melhor para todos viverem. Mas, afinal, o que é ser voluntário? Temos aqui algumas definições estabelecidas por organizações em que o serviço voluntário é valorizado. Vamos ver. Voluntário é um ...ator social e um agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade doando seu tempo e conhecimentos, realiza um serviço gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ou emocional. (ABRINQ, s/d) O voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte de seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividade organizadas ou não, de bem-estar social ou outros campos... (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU) Voluntariado no Brasil Há poucos anos, o serviço voluntário era visto como algo diretamente ligado a movimentos religiosos, realizado apenas por quem não tinha ocupação e, geralmente, na área de saúde. Hoje, muita coisa mudou e o serviço voluntário já é visto de forma muito mais abrangente, reconhecendo-se nele a possibilidade de mútua formaçãopara a cidadania, ou seja, tanto do voluntário quanto do sujeito beneficiado com a ação voluntária. 55 TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO • CAPÍTULO 4 O povo brasileiro tem uma longa história de solidariedade e serviço voluntário. O sentimento de ajudar ao próximo vem crescendo perante os grandes problemas sociais do País, como a fome e a pobreza, por exemplo. Vejamos algumas datas e fatos da história do voluntariado no Brasil: 1543 – Fundada, na Vila de Santos, a Santa Casa de Misericórdia. 1908 – A Cruz Vermelha chega ao Brasil. 1910 – O Escotismo se estabelece no País, com o objetivo de ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião. 1935 – É promulgada a Lei de Utilidade Pública, para regular a colaboração do Estado com as instituições filantrópicas. 1942 – Getúlio Vargas funda a Legião Brasileira de Assistência (LBA). A primeira-dama, Darci Vargas, foi a primeira presidente. 1961 – Surge a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae). 1967 – O governo cria o Projeto Rondon, que leva universitários brasileiros para dar assistência a comunidades carentes no interior do País. 1983 – É criada a Pastoral da Criança, para combater a mortalidade infantil. 1990 – A iniciativa voluntária começa a buscar parcerias com a classe empresarial. 1993 – Betinho cria a Ação da Cidadania Contra a Miséria e pela Vida, que organiza a sociedade para combater a fome. 1995 – Fernando Henrique Cardoso cria o Programa Comunidade Solidária, para tentar se adequar às exigências do moderno voluntariado. Ruth Cardoso assume a presidência. 1997 – São criados os Centros de Voluntariado no País. 1998 – É promulgada a Lei nº 9.608, que dispõe sobre as condições do serviço voluntário. 1999 – É promulgada a Lei nº 9.790, que qualifica as organizações da sociedade civil de direito público e disciplina o termo de parcerias. 2001 – Ano Internacional do Voluntário/Comitê Nacional. 2003 – O Programa Fome Zero é criado pelo governo federal. Lula, como presidente, convida toda a sociedade a se mobilizar contra a fome. 56 CAPÍTULO 4 • TERCEIRO SETOR: FUNDAMENTOS, TIPOS DE ORGANIzAçãO E VOLUNTARIADO Voluntariado e a legislação brasileira Em 18 de fevereiro de 1998, foi aprovada a Lei nº 9.608, que dispõe sobre o serviço voluntário. Essa lei determina que o serviço voluntário não pode ser remunerado, não gera vínculo empregatício, tampouco obrigação trabalhista, previdenciária ou afim. Estabelece, também, que deve ser uma atividade prestada por pessoa física a uma entidade pública ou instituição privada sem fins lucrativos, cujos objetivos sejam cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive mutualidade. É bom ter claro que serviço voluntário não é estágio. A lei autoriza o reembolso de despesas feitas pelo voluntário, desde que essas sejam autorizadas pelo coordenador e sejam comprovadamente realizadas no desempenho de atividades voluntárias. Entretanto, a principal contribuição que a Lei do Voluntariado trouxe foi a determinação do estabelecimento de um Termo de Adesão, que deve ser assinado entre o voluntário e a instituição tomadora do serviço. Mas, afinal, o que é o Termo de Adesão? O Termo de Adesão é uma proteção para o voluntário, pois é nesse termo que deverão estar estabelecidas as “regras do jogo”. Devem estar claras, nesse documento, quais as atividades a serem desempenhadas pelo voluntário, dias e horários, bem como as expectativas de resultado. Veja no anexo o modelo de formulário do Termo de Adesão e a Lei nº 9.608/1998. Sintetizando Vimos até agora: » O conceito de terceiro setor, sua origem, expansão, acentuando sua importância no combate aos desequilíbrios sociais. » O terceiro setor são as instituições que realizam práticas sociais, sem fins lucrativos e que geram bens e serviços de caráter público. » A área social trouxe demandas que o Estado não tem conseguido atender. Diante disso, a sociedade procura oferecer a sua contribuição visando suprir essa lacuna. Nessa lógica abordou-se a relação entre Estado, mercado e terceiro setor. » As organizações do chamado terceiro setor surgem com o objetivo de possibilitar que as ações sociais venham transformar a realidade do público em prol do que se propuserem a trabalhar. » Os tipos de organizações do terceiro setor, as diferenças entre elas e também os fundamentos legais para composição e gestão destas. » O que é serviço voluntário e sua importância, a lei que regulamenta o trabalho dos voluntários e o termo de adesão. 57 Apresentação Nesta unidade, você aprenderá sobre a forma de articulação entre crescimento, desenvolvimento econômico e sustentabilidade. A seguinte pergunta será refletida nesse contexto: É possível conciliar crescimento econômico com preservação ambiental? Outro assunto discutido é a diferença entre empreendedorismo tradicional e social. Por fim, o tema sobre desenvolvimento sustentável, que está na pauta das discussões políticas, econômicas, sociais, entre outras, em nível nacional e internacional. Os assuntos debatidos serão fundamentais para que você compreenda o quanto é importante e urgente pensar (de modo individual ou coletivo) em intervenções que atendam às demandas do desenvolvimento sustentável. Desejamos que este conteúdo seja proveitoso para seu desenvolvimento profissional. Boa leitura! Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Identificar as diferenças entre crescimento e desenvolvimento e o modo como eles se complementam. » Perceber como é possível intervir no ambiente prevenindo danos irreversíveis. » Compreender o conceito de desenvolvimento sustentável e seus benefícios para nossa sociedade. » Caracterizar a gestão responsável com um caminho para o desenvolvimento socialmente justo, ambientalmente sustentável e economicamente viável. 5 CAPÍTULO EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL 58 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL Empreendedorismo Tradicional x Social: Abordagens Conceituais e Fundamentos Teóricos Conceito de empreendedorismo tradicional Considerado uma livre tradução da palavra entrepreneurship, que, por sua vez, deriva do francês entreprendre, empreendedorismo significa se comprometer a fazer algo ou começar algo. Para Motomura (2004), nada mais é do que a força do fazer acontecer. O empreendedor seria, nessa concepção, a pessoa capaz de gerar resultados efetivos em qualquer área da atividade humana. O termo empreendedorismo refere-se a estudos relativos ao empreendedor, seu perfil, suas origens, seus sistemas de atividades e seu universo de atuação, é definido como: Um processo dinâmico pelo qual os indivíduos identificam ideias e oportunidades econômicas e atuam desenvolvendo-as, transformando-as em empreendimentos e, portanto, reunindo capital, trabalho e outros recursos à produção de bens e serviços. Trata-se, portanto, de uma atividade econômica geradora de bens e serviços para a venda (MELO NETO, 2001, p. 6). Mas, qual é a diferença entre ideia e oportunidade? Isso é uma oportunidade? Isso é uma boa ideia de negócio? Essas são questões frequentes dos futuros empreendedores. Identificar ideias de negócio é o primeiro desafio do empreendedor. O segundo desafio será selecionar entre as várias ideias qual é a melhor, a mais promissora, a que poderá render maiores lucros e tornar o empreendedor mais feliz. Isso mesmo, mais feliz. Por que não? Em suma, escolher a ideia de que realmente é uma oportunidade. Talvez um dos maiores mitos a respeito de novas ideias de negócios é que elas devam ser únicas. “O fato de uma ideia ser ou não única não importa.” O que importa é como o empreendedor utiliza sua ideia, inédita ou não, de forma a transformá- la em um produto ou serviço. As oportunidades, às vezes, são únicas, mas as ideias devem surgir a todo o momento. O que é uma ideia? Ideias surgem da inspiração do futuro empreendedorou diversas outras fontes externas. De fato, podem surgir muitas ideias de negócio, porém nem todas são oportunidades. O que é uma oportunidade? Oportunidades, por outro lado, são ideias que foram analisadas criteriosamente. 59 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 Quais são as características dos empreendedores de sucesso? » São visionários Eles têm a visão de como será o futuro para seu negócio e sua vida e, o mais importante eles têm a habilidade de implementar seus sonhos. » Sabem tomar decisões Eles não se sentem inseguros, sabem tomar as decisões corretas na hora certa, principalmente nos momentos de adversidade, sendo isso um fator-chave para o seu sucesso. E mais: além de tomar decisões, implementam suas ações rapidamente. » São indivíduos que fazem a diferença Os empreendedores transformam algo de difícil definição, uma ideia abstrata, em algo concreto, que funciona, transformando o que é possível em realidade. Sabem agregar valor aos serviços e produtos que colocam no mercado. » Sabem explorar ao máximo as oportunidades Para a maioria das pessoas, as boas ideias são daqueles que as veem primeiro, por sorte ou acaso. Para os visionários (os empreendedores), as boas ideias são geradas daquilo que todos conseguem ver, mas não identificaram algo prático para transformá-las em oportunidade, por meio de dados e informação. Para Schumpeter (1961), o empreendedor é aquele que quebra a ordem corrente e inova, criando mercado com uma oportunidade identificada. O empreendedor é um exímio identificador de oportunidades, sendo um indivíduo curioso e atento a informações, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta. » São determinados e dinâmicos Eles implementam suas ações com total comprometimento. Atropelam as adversidades, ultrapassando os obstáculos, com uma vontade ímpar de “fazer acontecer”. Mantêm-se sempre dinâmicos e cultivam certo inconformismo diante da rotina. » São dedicados Eles se dedicam 24 horas por dia, sete dias por semana, ao seu negócio. Comprometem o relacionamento com amigos, com a família e, até mesmo, com a própria saúde. São trabalhadores exemplares, encontrando energia para continuar, mesmo quando encontram problemas pela frente. São incansáveis e loucos pelo trabalho. 60 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL » São otimistas e apaixonados pelo que fazem Eles adoram o trabalho que realizam. E é esse amor ao que fazem o principal combustível que os mantêm cada vez mais animados e autodeterminados, tornando-os os melhores vendedores de seus produtos e serviços, pois sabem como ninguém, como fazê-lo. O otimismo faz com que sempre enxerguem o sucesso, em vez de imaginar o fracasso. » São independentes e constroem o próprio destino Eles querem estar à frente das mudanças e ser donos do próprio destino. Querem ser independentes, em vez de empregados; querem criar algo novo e determinar os próprios passos, abrir os próprios caminhos, ser o próprio patrão e gerar empregos. » Ficam ricos Ficar rico não é o principal objetivo dos empreendedores. Eles acreditam que o dinheiro é consequência do sucesso dos negócios. » São líderes formadores de equipes Os empreendedores têm um senso de liderança incomum. E são respeitados e adorados por seus funcionários, pois sabem valorizá-los, estimulá-los e recompensá-los, formando um time em torno de si. Sabem que, para obter êxito e sucesso, dependem de uma equipe de profissionais competentes. Sabem ainda recrutar as melhores cabeças para assessorá-los nos campos em que não detêm o melhor conhecimento. » São bem relacionados (networking) Os empreendedores sabem construir uma rede de contatos que os auxiliam no ambiente externo da empresa, junto a clientes, fornecedores e entidades de classe. » São organizados Os empreendedores sabem obter e alocar os recursos materiais, humanos, tecnológicos e financeiros, de forma racional, procurando o melhor desempenho para o negócio. » Planejam Os empreendedores de sucesso planejam cada passo de seu negócio, desde o primeiro rascunho do plano de negócios, até a apresentação do plano a investidores, definição das estratégias de marketing do negócio, sempre tendo como base a forte visão de negócio que possuem. » Possuem conhecimento São sedentos pelo saber e aprendem continuamente, pois sabem que quanto maior o domínio sobre um ramo de negócio, maior é sua chance de êxito. Esse conhecimento pode vir da experiência prática, de informações obtidas em publicações especializadas, 61 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 em cursos, ou mesmo de conselhos de pessoas que montaram empreendimentos semelhantes. » Assumem riscos calculados Talvez essa seja a característica mais conhecida dos empreendedores. Mas o verdadeiro empreendedor é aquele que assume riscos calculados e sabe gerenciar o risco, avaliando as reais chances de sucesso. Assumir riscos tem relação com desafios. E para o empreendedor, quanto maior o desafio, mais estimulante será a jornada empreendedora. » Criam valor para a sociedade Os empreendedores utilizam seu capital intelectual para criar valor para a sociedade, com a geração de empregos, dinamizando a economia e inovando, sempre usando sua criatividade em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas (DORNELAS, 2008). Segundo Schumpeter (apud DORNELAS, 2008), existem oito tipos possíveis de definições para o empreendedor: » empreendedor nato; » empreendedor que aprende; » empreendedor serial; » empreendedor corporativo; » empreendedor social; » empreendedor por necessidade; » empreendedor herdeiro; » empreendedor normal/planejado. O empreendedor é o funcionário que propõe e pratica inovações em determinada organização, ocasionando o surgimento de valores adicionais (intraempreendedorismo); é o trabalhador autônomo como gestor do autoemprego; é aquela pessoa que compra uma empresa e realiza inovações, assumindo riscos, seja no aspecto administrativo, também, na área de vendas, fabricação, distribuição ou na ação de publicidade e propaganda de seus bens e/ou serviços, agregando novos valores. Os empreendedores podem ser voluntários (que têm motivação para empreender – empreendedorismo por oportunidade) ou involuntários (que são forçados a empreender por motivos alheios à sua vontade: desempregados, imigrantes, entre outros – empreendedorismo por necessidade). Pode-se também considerar a existência do empreendedorismo comunitário (como as comunidades empreendem) e a adoção de políticas públicas governamentais para o setor. 62 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL Em seu livro Inovação e Espírito Empreendedor, Peter Drucker destaca dois pontos importantes na discussão sobre o empreendedorismo: primeiro, iniciar um negócio não é necessário ou suficiente para o empreendedorismo; segundo, o empreendedorismo nem sempre requer finalidade de lucro (DRUCKER, 1987). Dessa forma, [...] ao longo das últimas décadas, as denominadas organizações sem fins lucrativos recorrentemente têm se utilizado das ferramentas gerenciais associadas à escola do empreendedorismo, o que possibilitou a emergência de uma nova conceituação nesta área de conhecimento: o empreendedorismo social (SILVA, 2008). Definição de empreendedorismo social Conforme relata Oliveira (2004, p. 10), o tema empreendedorismo social é novo em sua atual configuração, mas na sua essência já existe há muito tempo. Alguns especialistas apontam Luther King, Gandhi, entre outros, como empreendedores sociais. Isso foi decorrente de suas capacidades de liderança e inovação quanto às mudanças em larga escala. Para Melo Neto (2002, p. 6), o empreendedorismo social difere do empreendedorismo de negócios em dois aspectos. Em primeiro lugar, por não produzir bens e serviços para vender, mas para solucionar problemas sociais; e, em segundo lugar, é direcionadonão somente ao mercado, mas para segmentos populacionais em situação de risco social, como a exclusão social, pobreza e risco de vida. Quadro 3. Comparação entre empreendedorismo privado e social. Empreendedorismo Privado Empreendedorismo Social É individual É coletivo Produz bens e serviços para o mercado Produz bens e serviços para a comunidade Foco no mercado Foco na busca de soluções para os problemas sociais Sua medida de desempenho é o lucro Sua medida de desempenho é o impacto social Visa satisfazer as necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio Visa resgatar pessoas de riscos sociais e promovê-las Fonte: Melo Neto e Fróes (2002, p. 11). Você sabe distinguir entre empreendedor tradicional e social? É importante lembrar que empreendedores sociais são diferentes dos empreendedores tradicionais, que correm riscos em benefício próprio ou da organização, a característica-chave dos empreendedores sociais é que eles correm riscos em benefício das pessoas a quem a sua organização serve (SILVA, 2008). Atualmente, o empreendedorismo social é um fenômeno mundial, sendo o empreendedor social visto como o responsável na busca de soluções para os mais variados problemas sociais, apresentando-se como um agente ativo e transformador dos valores da sociedade. 63 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 No Brasil, cresce cada vez mais o incentivo à participação da sociedade civil nas questões nacionais, sob o argumento de que as complexidades regionais das questões sociais brasileiras demandam um tipo de ação integrada na sociedade, capaz de mobilizar diferentes competências na criação de soluções inovadoras adaptadas às diferentes realidades locais. A formação de parcerias entre governo, iniciativa privada e sociedade civil, em especial, tem chamado a atenção de pesquisadores da área da administração para o surgimento de um novo modelo de gestão social, voltado para a formação de redes e para o desenvolvimento de projetos inovadores com fins sociais. Para Oliveira (2004, p. 11), empreendedores sociais: São agentes de intercambiação da sociedade por meio de: proposta de criação de ideias úteis para resolver problemas sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e serviços; criação de parcerias e formas/meios de autossustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar uma missão social. [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam ideias inovadoras e veem oportunidades onde outros não veem nada; combinam risco e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social. Melo Neto (2001) especificam que o empreendedor social deve atuar com a responsabilidade de mudança no setor social por adaptação de uma missão que sustenta o valor social. Desse modo, o empreendedor social tem o papel de agente de mudança no setor social, por adotar a missão de gerar e manter valor social, deve reconhecer e buscar implacavelmente novas oportunidades para servir a tal missão; também precisa engajar-se num processo de inovação, adaptação e aprendizado contínuo; agir arrojadamente sem se limitar pelos recursos disponíveis; bem como exibir um elevado senso de transparência com seus parceiros e público e pelos resultados gerados. Contextualizando Sustentabilidade O que é sustentabilidade? Atualmente, está se ouvindo falar muito sobre sustentabilidade nas empresas, por isso se torna importante estudarmos atrelado ao empreendedorismo a sustentabilidade no mundo corporativo. Nas últimas décadas, tanto a sofisticação dos mercados como o esgotamento dos recursos obrigaram o mundo dos negócios a reformular a forma de fazer negócios. » Recursos cada vez mais escassos. 64 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL » Os diferentes atores da cadeia de valores devem estar conscientes de que, para competir, devem não só inovar produto ou serviço, mas, também, introduzir uma visão sustentável na forma de conduzir os negócios. Existe um grande número de definições de sustentabilidade. Selecionamos algumas que são mais utilizadas. Sustentabilidade é a característica que permite ao negócio a satisfação das atuais necessidades sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer as suas necessidades (LAN, 2005) Sustentabilidade é um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana (http://www.sustentabilidade.org.br/) Conjunto de fenômenos que ocorrem atualmente, devido aos seguintes problemas ambientais: » Alterações biogeoquímicas nos ecossistemas. » Destruição da camada de ozônio. » Aquecimento global. » Eutrofização. » Pesca excessiva. » Perda das fontes de água. » Bosques e espécies são uma realidade que se deve levar em conta quando se fala em sustentabilidade do negócio. As recentes mudanças políticas e econômicas obrigam a pensar que a empresa é o motor do desenvolvimento sustentável, a base para avançar rumo a um futuro promissor. Construção de uma nova sociedade Idealmente, o conceito de sustentabilidade no negócio se fundamenta em que: » As atividades humanas não comprometam as futuras gerações, cada decisão deve ser baseada no compromisso com o futuro de nossos filhos e com o bem-estar deles. » Os ecossistemas globais sejam produtivos e protegidos e as condições climáticas, estáveis e seguras. » A população humana esteja dentro da capacidade de carga do planeta. » Todas as regiões do mundo tenham garantia do alimento. 65 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 Para alcançar essas situações desejadas, as sociedades contam com: » Capital humano: capacidade crítica e analítica – criatividade e iniciativa para empreender novas atividades e negócios. » Capital ecológico: recursos que os indivíduos têm a sua disposição. » Capital financeiro: recursos monetários. Sociedades exigem maior participação na tomada de decisões mediante processos transparentes » Democracia. » Respeito à proteção dos direitos humanos. » Bom manejo dos recursos naturais e dos sistemas naturais. » O consumo de energia deve estar presente na tomada de decisões. » Novas opções de produção de energia devem ser analisadas e incorporadas na empresa. “O que importa é fazer mais com menos”: qualquer negócio deveria estar enfocado em buscar a realização dos objetivos: » Sociais: prevaleça a igualdade e estimule a mobilidade social – manter a identidade cultural, o desenvolvimento institucional. » Ambientais: o desenvolvimento da biodiversidade e a manutenção da capacidade de carga dos ecossistemas. » Econômicos: a orientação de qualquer negócio, pela ótica econômica, deve ser o crescimento, a eficiência e a inovação. O negócio sustentável » O que distingue um negócio sustentável de outros negócios? » Buscar a criação de benefícios sociais. » Satisfazer as aspirações humanas, bem como as necessidades básicas. » Satisfazer ou ultrapassar as condições ambientais de sustentabilidade. » Desenvolver mercados que incorporem esses valores. » Ser rentável. 66 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL Retrospectiva » Década de 1970: prevalecia o pensamento por parte dos consumidores e por parte dos negócios de que seu papel se centrava em pagar os impostos e, no mínimo, ter o direito de operar. “Tanto os consumidores como os produtores não tinham nenhuma preocupação em mudar”. » Década de 1990: houve uma reviravolta, os consumidores passam a ser mais exigentes, e inicia-se a fasede funcionalidade, especialmente em relação aos produtos. » Atualmente: os negócios têm buscado valorizar cada vez mais a lealdade com relação aos consumidores. » Visão compartilhada por mais atores do negócio, do qual não participam apenas os donos ou acionistas, mas, também, os clientes, os empregados e a comunidade, representada pelos órgãos e instituições locais e nacionais. O valor da sustentabilidade Quando se fala do valor da sustentabilidade, pode-se ponderar sobre diferentes clientes ou outros stakeholders que acabam sendo afetados pelas decisões do negócio. Os outros stakeholders são os funcionários, os clientes, os concorrentes, o governo, o meio ambiente, a comunidade em torno da empresa. Portanto, se a organização consegue atingir seu objetivo principal (o lucro), mantendo impactos positivos para todos aqueles que participam direta ou indiretamente das atividades da empresa, ela se sustentará por longo prazo. O crescimento tradicional levou a sociedade a assumir uma posição na qual persistiu a redução de custos, a globalização e, finalmente, a procura de novos produtos. Já o crescimento sustentável procura: » Uma melhoria da qualidade dos serviços e da informação. » Da preservação da biodiversidade. » Melhor uso dos recursos de água e energia. » Maior produtividade dos ativos. » Redução, reutilização e reciclagem de produtos. Chaves da sustentabilidade Na cadeia de valor, que tem início com a extração das matérias-primas e vai até a distribuição e consumo, os diferentes atores podem incorporar o conceito do sistema cíclico que permitirá 67 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 melhor uso dos recursos envolvidos em cada etapa da cadeia, aplicando a redução de recursos, o reuso deles, assim como a reciclagem. Por exemplo, na Costa Rica, a Earth University está utilizando a haste da banana como fonte de matéria-prima para a fabricação de papel; em outras palavras, o lixo da produção de banana que contaminava fontes naturais de água hoje se converteu numa excelente fonte de fibra utilizada como matéria-prima para a produção de artesanato e fabricação de papel. A ecoeficiência cria oportunidades que promovem a rentabilidade e o desenvolvimento sustentável. Entre os benefícios, podemos mencionar: » Redução da necessidade de material para a elaboração de bens e serviços. » Redução do uso de energia. » Redução de emissão de tóxicos. » Aumento da reciclagem de matérias. » Aumento da durabilidade do produto. » Aumento dos bens e serviços. » Uso de matéria-prima alternativo. » Uso de combustíveis alternativos. Então, como agregar valor ao meu negócio? Os consumidores esperam mais de um produto ou serviço em troca do dinheiro que estão desembolsando. Os empresários estão obrigados a aplicar novas estratégias para agregar valor à sua atividade. Elementos mais relevantes para o sucesso empresarial » Missão: sustentabilidade. » Predisposição mental: sistema além das expectativas, inovação em longo prazo. » Pessoas: maior poder dos clientes. » Desenvolvimento de mercados: entender as tendências sociais e ambientais. » Desenho: enfocado no meio ambiente: reusar, reciclar responsabilidade sobre o produto. » Medidas: novos princípios contáveis, medir os impactos da empresa no meio ambiente e a criação de valor. 68 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL Para tornar uma empresa sustentável, pense nos seguintes aspectos: » Sustentabilidade ambiental › O lixo de sua empresa é reciclado? › Os resíduos gerados (em caso de pequenas indústrias) são tratados e despejados adequadamente? › Sua empresa apoia iniciativas ecológicas locais? › Caso seu bairro não possua iniciativas ecológicas, sua empresa as cria? » Sustentabilidade social › Seus funcionários recebem um salário justo e um tratamento digno? › As condições e segurança no trabalho na empresa são adequadas? › Sua empresa apoia programas sociais locais? » Sustentabilidade cultural › Sua empresa está bem encaixada no perfil do bairro ou da região? › Sua empresa apoia programas culturais no bairro? › O tipo de atividade exercida é adequado para a região na qual a empresa está? › Os valores culturais dos funcionários são os mesmos que os do empreendedor? » Sustentabilidade econômica › A empresa consegue gerar lucro atuando de forma legal? › As negociações com os fornecedores são levadas de forma justa? › Os clientes recebem o valor pelo qual estão pagando ou são enganados com falsa propaganda? › A concorrência é feita de forma ética? › Aplicando o conceito de sustentabilidade em seu empreendimento, você não só poderá ver o crescimento da empresa e dos lucros em longo prazo, como se sentirá bem ao ver os impactos positivos que causa ao seu redor. Sustentabilidade em organizações do terceiro setor De acordo com Melo Neto (2001), a gestão passou a fazer parte dos negócios das organizações sem fins lucrativos, tornando mais efetivas as ações voltadas para garantir sua sustentabilidade. 69 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 A sustentabilidade implica a integração dos aspectos financeiros, sociais e ambientais, sendo pré-requisito essencial para a sobrevivência e sucesso do negócio. Para que as organizações do terceiro setor realizem o seu potencial, seja pela reflexão quanto ao propósito da organização, seja pela análise do ambiente e de suas possibilidades, seja, ainda, pela construção de uma visão de futuro que possa mobilizar recursos, pela clareza dos seus objetivos ou pelo alinhamento e integração das ações desenvolvidas na busca da sustentabilidade, o autor recomenda que a execução dessas atividades se dê mediante implementação de ferramentas de gestão e controle. Para mobilizar recursos, estabelecer parcerias, propor novos projetos, imprimir uma dinâmica capaz de atender às demandas dos seus stakeholders, ter autonomia na geração de receitas e preservar o meio ambiente, tais organizações articulam ações que viabilizam esses caminhos, principalmente para garantir a efetividade dos processos e a sustentabilidade. A crescente proximidade com o setor privado contribuiu para que algumas organizações sem fins lucrativos buscassem profissionalizar mais rapidamente seus quadros de pessoal e atingir a excelência administrativa. A busca por sustentabilidade marca o fim desse processo de dependência que tais organizações sem fins lucrativos e do terceiro setor tiveram de uma fonte ou outra de recursos, seja governo, sejam organizações internacionais. Isso implica a necessidade de diversificar fontes de financiamento, desenvolver projetos de geração de receita, profissionalizar recursos humanos e voluntariado, atrair membros e sócios das organizações, estabelecer estratégias de comunicação, avaliar resultados e desenvolver uma estrutura gerencial altamente eficiente. Esses fatores apontaram para a necessidade de profissionalização da organização do terceiro setor. Diferença entre Desenvolvimento e Crescimento Econômico Para melhor entendimento do que vem por trás do conceito de desenvolvimento sustentável, é preciso, num primeiro momento, diferenciar crescimento econômico e desenvolvimento econômico. Você percebe alguma diferença entre os dois termos: desenvolvimento e crescimento econômico? Desenvolvimento: de acordo com o Dicionário Aurélio, s.m. Ação ou efeito de desenvolver; crescimento. / Matemática. Efetuação de um cálculo. / Economia. Crescimento global de um país, de uma região etc. / Progresso. // Desenvolvimento autossustentado, modelo de crescimento socioeconômico que não agride o equilíbrio ecológico. 70 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL Desenvolvimento econômico: tem origem no período pós-segunda guerra, quando a expansão socialista em direção ao ocidente, com um ideal de qualidade de condições, que assustava o modelo capitalista, fez com queos defensores desse sistema admitissem a necessidade de repensar o modelo de crescimento econômico ocidental, baseado na exploração desenfreada dos pobres pelos ricos, causador de grandes disparidades socioeconômicas tanto internamente quanto entre as nações. Portanto, o desenvolvimento econômico era a forma proposta pelas nações capitalistas para conter o avanço do socialista, utilizando como estratégia o oferecimento de ajuda financeira aos países pobres. O desenvolvimento econômico é proporcional à capacidade dos países de atuar nos mercados. Desenvolvimento implica discutir o meio ambiente, relações, educação, acesso à informação, dá poder aos homens e mulheres que fazem da nossa terra um lugar produtivo e possível de viver dignamente (SANTOS, 2005). Países empobrecidos: produção e bens primários – agrícolas O desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a geração de riquezas, sim, mas tem o objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta. A diferença é que crescimento não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça sociais, pois não leva em consideração nenhum outro aspecto da qualidade de vida a não ser o acúmulo de riquezas, que se faz nas mãos apenas de alguns indivíduos da população. Crescimento: está relacionado ao princípio de que “quanto mais, melhor”, não havendo restrições para que efetive o crescimento. É o resultado vindo da Revolução Industrial, que incentivou medidas de curtíssimo prazo a fim de que o crescimento se efetivasse, tendo em vista o acúmulo de riqueza. Nesse caso, não havia limites de crescimento. É importante refletir sobre esse questionamento à medida que o termo crescimento é anterior ao surgimento das terminologias atreladas ao desenvolvimento, ou seja, foi a partir da incidência do primeiro que se percebeu a necessidade do segundo. Esse aspecto denota a forma como ambos estão intrínsecos, ficando visível que, para entender o desenvolvimento, é preciso compreender o condicionante para seu surgimento, o crescimento. Nesse aspecto, ainda é válido destacar que não só é possível, mas necessário, um crescimento que proponha a conciliação com os pilares do desenvolvimento. Para isso, é importante incorporar a sensibilidade com a dimensão social, a prudência ambiental e a viabilidade econômica como forma de garantir o atendimento aos objetivos socialmente desejáveis e a minimização dos impactos ambientais negativos. 71 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 Finalmente, vamos ao conceito de desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento Sustentável: Aspectos Importantes Como surgiu o conceito O termo desenvolvimento sustentável foi utilizado pela primeira vez em 1983, por ocasião da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Presidida pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brudtland, essa comissão propôs que o desenvolvimento econômico fosse integrado à questão ambiental, estabelecendo-se, assim, o conceito de desenvolvimento sustentável. Isso quer dizer: usar os recursos naturais com respeito ao próximo e ao meio ambiente. É o desenvolvimento que não esgota os recursos, conciliando crescimento econômico e preservação da natureza. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Sugestões para o desenvolvimento sustentável: » Reciclagem de diversos tipos de materiais: reciclagem de papel, alumínio, plástico, vidro, ferro, borracha, dentre outros. » Coleta seletiva de lixo. » Tratamento de esgotos industriais e domésticos para que não sejam jogados em rios, lagos, córregos e mares. » Descarte de baterias de celulares e outros equipamentos eletrônicos em locais especializados. Estas baterias nunca devem ser jogadas em lixo comum. » Geração de energia por meio de fontes não poluentes como, por exemplo, eólica, solar e geotérmica. » Substituição, em supermercados e lojas, das sacolas plásticas pelas feitas de papel. » Uso racional (sem desperdício) de recursos da natureza como, por exemplo, a água. Atenção Desenvolvimento sustentável significa obter crescimento econômico necessário, garantindo a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social. 72 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL » Diminuição na utilização de combustíveis fósseis (gasolina, diesel), substituindo-os por biocombustíveis. » Utilização de técnicas agrícolas que não prejudiquem o solo. » Substituição gradual dos meios de transportes individuais (carros particulares) por coletivos (metrô). » Criação de sistemas urbanos (ciclovias) capazes de permitir a utilização de bicicletas como meio de transporte eficiente e seguro. » Incentivo ao transporte solidário (um veículo circulando com várias pessoas). » Combate ao desmatamento ilegal de matas e florestas. » Combate à ocupação irregular em regiões de mananciais. » Criação de áreas verdes nos grandes centros urbanos. » Manutenção e preservação dos ecossistemas. » Valorização da produção e consumo de alimentos orgânicos. Essas são apenas algumas sugestões para que o ser humano consiga estabelecer o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a manutenção do meio ambiente. Desenvolvimento sustentável é o grande desafio do século XXI e todos podem colaborar para que possamos atingir esse importante objetivo. Você tem mais alguma sugestão? Aspectos prioritários do desenvolvimento sustentável (DS) O DS tem seis aspectos prioritários que devem entendidos como metas: » A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer, entre outros). » Solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver). Para refletir Você sabia que dados divulgados pela ONU revelam que se todos os habitantes da Terra passassem a consumir como os americanos, precisaríamos de mais 2,5 planetas como o nosso. Sabe o que isso significa? Que estamos usando muito mais os recursos naturais do que a natureza consegue repor. Em muito pouco tempo, se continuarmos nesse ritmo não teremos água e nem energia suficiente para atender às nossas necessidades. Cientistas preveem que os conflitos serão, no futuro, decorrentes da escassez dos bens naturais. 73 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 » A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe). » A conservação dos recursos naturais (água, oxigênio, entre outros). » A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas. » A efetivação dos programas educativos. Contabilidade Ambiental A sociedade tem cobrado das organizações uma maior atenção com o meio ambiente, bem como esclarecer o nível dos esforços que vem desenvolvendo com vistas a atingir tais objetivos. É sabido que tanto as organizações com fins e sem fins lucrativos utilizam recursos naturais para suprir suas necessidades e, portanto, as repercussões ambientais das suas atividades interessam ao que definem o sucesso da organização. A criação de ramificações como a Contabilidade Ambiental, dentro da Contabilidade, representa um ganho significativo para as entidades que utilizam seus serviços. Quando surgiu Surgiu em 1970 quando as empresas passaram a dar um pouco mais de atenção aos problemas do meio ambiente. O que é a Contabilidade Ambiental É o registro do patrimônio ambiental (bens, direitos e obrigações ambientais) de determinada entidade, e suas respectivas mutações – expressos monetariamente. Objetivo Propiciar informações regulares aos usuários internos e externos acercados eventos ambientais que causaram modificações na situação patrimonial da respectiva entidade, quantificado em moeda. Vantagens da utilização Para a tomada de decisões e avaliação regular de tais políticas ambientais, a contabilidade é imprescindível, pois gera informações relevantes aos administradores de qualquer entidade. 74 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL Poderíamos sintetizar as seguintes vantagens da utilização da contabilidade ambiental: » identificar e alocar custos ambientais, de maneira que as decisões de investimentos estejam baseadas em custos e benefícios adequadamente medidos. » permite aferir, economicamente, as reduções de gastos com água, energia e outros recursos, renováveis ou não. » gera informações e demonstrativos sobre a eficácia e viabilidade econômica das ações ambientais. » a publicação do balanço ambiental gera transparência da gestão e uma potencial melhoria de imagem da entidade produtora perante o público. » a contínua correção das ações ambientais, em decorrência da utilização de dados físico- contábeis, contribui para a sociedade como um todo – pois haverá redução do nível de agressão à natureza na elaboração de produtos e serviços indispensáveis. Agenda 21 Origem A Agenda 21 Global foi construída de forma consensuada com a contribuição de governos e instituições da sociedade civil de 179 países, em um processo que durou dois anos e culminou com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, em 1992, também conhecida por Rio-92. O programa de implementação da Agenda 21 e os compromissos para com a carta de princípios do Rio foram fortemente reafirmados durante a Cúpula de Johannesburgo, ou Rio+10, em 2002. Além da Agenda 21, resultaram desse mesmo processo os seguintes acordos: » Declaração do Rio. » Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas. » Convenção sobre a Diversidade Biológica. » Convenção sobre Mudanças Climáticas. O que é? Agenda 21 é um plano de ação formulado internacionalmente para ser adotado em escala global, nacional e localmente por organizações do sistema das Nações Unidas, pelos governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. Reflete um consenso mundial e compromisso político, que estabelece um diálogo permanente e construtivo 75 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 inspirado na necessidade de atingir uma economia em nível mundial mais eficiente e equitativa. Constitui a mais abrangente tentativa já realizada de orientação para um novo padrão de desenvolvimento no século XXI, cujo alicerce é a sinergia da sustentabilidade ambiental, social e econômica, perpassando em todas as suas ações propostas. A Agenda 21 segue o princípio de “Pensar globalmente, agir localmente”. Objetivo A Agenda 21, realizada em 1992, enumerou os objetivos a serem atingidos pelas sociedades para chegar à sustentabilidade. É um processo público e participativo que propõe o planejamento e a implementação de políticas para o desenvolvimento sustentável por meio da mobilização de cidadãos e cidadãs na formulação dessas políticas. Além disso, está previsto o compartilhamento dessas soluções pela sociedade, que deve analisar sua situação e definir prioridades em suas políticas públicas, sempre tendo em vista o tripé da sustentabilidade (ambiental, econômica e social). Os governos têm a responsabilidade de facilitar a implementação desse processo que deve envolver toda a sociedade. » Parceria e conscientização: a Agenda 21 é um processo público e participativo para o planejamento e a implementação das políticas e ações para o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, ela é um importante instrumento para a conscientização ambiental e para a mobilização de cidadãos e cidadãs na formulação de políticas, na consolidação da responsabilidade social e no fortalecimento dos mecanismos participativos e democráticos. » Comprometimento com soluções: é um documento que estabeleceu a importância de cada país se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socioambientais. » Definição de prioridades: a Agenda 21 resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor, e planeja o futuro de forma sustentável. Esse esforço de planejar o futuro gera oportunidades para que as sociedades e os governos possam definir prioridades nas políticas públicas. » Questões social, ambiental e econômica: a Agenda 21 não está restrita às questões ligadas à preservação e conservação da natureza, mas, sim, a uma proposta que rompe com o desenvolvimento dominante, em que predomina o econômico, dando lugar à sustentabilidade ampliada, que une a Agenda ambiental e a Agenda social, ao enunciar a indissociabilidade entre os fatores sociais e ambientais e a necessidade de que a degradação do meio ambiente seja enfrentada juntamente com o problema mundial da pobreza. 76 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL » A responsabilidade dos governos: os governos têm o compromisso e a responsabilidade de deslanchar e facilitar o processo de implementação em todas as escalas. Além dos governos, a convocação da Agenda 21 visa mobilizar todos os segmentos da sociedade, chamando-os de “atores relevantes” e “parceiros do desenvolvimento sustentável”. » Um processo social: torná-la realidade é, antes de tudo, um processo social no qual todos os envolvidos vão pactuando paulatinamente novos consensos e montando uma agenda possível rumo ao futuro que se deseja sustentável. Resultados A Agenda 21 traduz em ações o conceito de desenvolvimento sustentável. Cada país deve desenvolver a sua Agenda 21. Seja como processo participativo ou produto deste, ela é um instrumento complementar e fundamental a outros instrumentos de planejamento e gestão do desenvolvimento. Serve também como um diagnóstico dos atores sociais em relação à realidade ambiental e do desenvolvimento de determinada região. Agenda 21 Brasileira – Coordenada pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável (CPDS), a Agenda 21 Brasileira foi construída a partir das diretrizes da Agenda 21 Global, entre 1996 e 2002, fruto de uma vasta consulta à população brasileira (cerca de 40 mil pessoas de todo o Brasil). A partir de 2003, entrou na fase de implementação, sendo elevada à condição de Programa do Plano Plurianual, PPA 2004-2007, pelo atual governo, o que lhe confere maior alcance, capilaridade e importância como política pública. Os princípios e estratégias da Agenda 21 Brasileira serviram de subsídios para a Conferência Nacional de Meio Ambiente, Conferência das Cidades e Conferência da Saúde. As ações prioritárias da Agenda 21 Brasileira são os programas de inclusão social (com o acesso de toda a população à educação, saúde e distribuição de renda), a sustentabilidade urbana e rural, a preservação dos recursos naturais e minerais e a ética política para o planejamento rumo ao desenvolvimento sustentável. Mas o mais importante ponto dessas ações prioritárias, segundo este estudo, é o planejamento de sistema de produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício. Participam da CPDS: Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Orçamento e Gestão; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério das Relações Exteriores; Ministério de Projetos Especiais; Câmara de Políticas Sociais da Casa Civil; Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente; Fundação OndAzul; Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável; Universidade Federal de Minas Gerais; Fundação Getúlio Vargas. A construção da Agenda 21 Local vem ao encontro da necessidade de se construir instrumento de gestão e planejamento parao desenvolvimento sustentável. O processo de Agenda 21 Local pode começar tanto por iniciativa do Poder Público quanto da sociedade civil. De fato, a Agenda 21 Local 77 EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL • CAPÍTULO 5 é processo e documento de referência para Planos Diretores e orçamento municipais, entre outros, podendo também ser desenvolvida por comunidades rurais e em diferentes territorialidades, em bairros, áreas protegidas, bacias hidrográficas. E, reforçando ações dos setores relevantes, a Agenda 21 na escola, na empresa, nos biomas brasileiros, é demanda crescente, cuja maioria das experiências existentes tem-se mostrado muito bem-sucedida. Rio+20 A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foi realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 foi assim conhecida porque marcou os 20 anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. É uma reunião da ONU com quase todos os países do mundo (mais de 190) para discutir como o mundo poderá crescer economicamente, tirar pessoas da pobreza e preservar o meio ambiente – tudo ao mesmo tempo. Para isso, são necessários novos meios que evitem as crises financeiras e de empregos pelas quais passamos atualmente. Ela é chamada assim porque vai dizer o que queremos para o futuro da humanidade, mas também marca os 20 anos da Rio-92 ou ECO-92. A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua 64ª sessão, em 2009. O objetivo da Conferência foi a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes. A Conferência teve dois temas principais A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. Histórico A Rio+20 não é uma Conferência sobre ecologia ou ambiente, não serão discutidas as questões de clima, emissões de CO2 ou biodiversidade pontualmente, mas, sim, como o viés ambiental se encaixa no desenvolvimento social e econômico. Essa série de reuniões da ONU começou em 1972, em Estocolmo, e de lá até hoje foram três conferências, uma a cada 10 anos. 78 CAPÍTULO 5 • EMPREENDEDORISMO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTáVEL Na Suécia, ocorreu a “Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano”, a primeira vez em que se pensou o impacto do homem no planeta. Dez anos depois, em 1982, foi feita a “Carta Mundial da Natureza”, que afirmava que “a humanidade é parte da natureza e depende do funcionamento ininterrupto dos sistemas naturais”. Aqui ainda não tinha sido criado o termo desenvolvimento sustentável. A ECO-92 também não levava o conceito no título, era a “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento”. Foi a partir de 1992 que o ambiente foi estabelecido como pilar do desenvolvimento sustentável, ao lado do social e do econômico. Também foi nesse ano que a preocupação ganhou alcance mundial. Sintetizando Vimos até agora: » A diferença entre empreendedorismo tradicional e social. » O que é crescimento econômico e desenvolvimento econômico. » A questão da sustentabilidade e seus aspectos. » A relação da sustentabilidade com o desenvolvimento econômico. » Como se dá a questão da sustentabilidade no terceiro setor. » Desenvolvimento sustentável: definição, sugestões e aspectos. » O que são e qual é a importância da ECO-92, da Agenda 21 e da Rio+20. » Noções de contabilidade Ambiental: definição, origem, objetivos, vantagens. 79 Apresentação Esta unidade apresentará as informações e os tópicos que devem constar no plano de negócios nas organizações do terceiro setor. Diante da crescente demanda por uma gestão profissional nessas organizações, e a necessidade de estruturar-se para receber financiamentos por meio de empresas e fundações, o plano de negócios é uma ferramenta extremamente importante e útil. É fundamental, também, para as organizações que desenvolvem projetos para atingir sua sustentabilidade. Enfim, realizar boas práticas de gestão nas organizações sem fins lucrativos é um dos caminhos possíveis para promover uma efetiva ação social. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de: » Definir o que é plano de negócios tradicional e o no terceiro setor. » Entender a importância do plano de negócios tradicional e para o terceiro setor. » Fazer um paralelo entre as características e elementos que compõem um plano de negócios tradicional e no terceiro setor. » Aprender sobre as etapas que compõem o plano de negócios no terceiro setor e sua importância para atingir a sustentabilidade nos negócios. 6 CAPÍTULO PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR 80 CAPÍTULO 6 • PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR A Importância do Plano de Negócios, o que é o Plano de Negócios e Negócio Social Segundo Sahlman (2002), importante professor da Harvard Business School, poucas áreas têm atraído tanta atenção dos homens de negócio nos Estados Unidos como os planos de negócios. Dezenas de livros e artigos têm sido escritos e publicados naquele país tratando do assunto e propondo fórmulas milagrosas de como escrever um plano de negócios que revolucionará a empresa. Isso começa a ocorrer também no Brasil, devido, principalmente, ao fervor da nova economia (a internet) e às possibilidades de se fazer riqueza da noite para o dia. O cuidado que se deve tomar é o de se escrever um plano de negócios com todo conteúdo que se aplica a um plano de negócios e que não contenha números recheados de entusiasmo ou fora da realidade. Nesse caso, pior que não planejar é fazê-lo erroneamente, e o pior, ainda, conscientemente. Essa ferramenta de gestão pode e deve ser usada por todo e qualquer empreendedor que queira transformar seu sonho em realidade, seguindo o caminho lógico e racional que se espera de um bom administrador. É evidente que apenas razão e raciocínio lógico não são suficientes para determinar o sucesso do negócio. Se assim ocorresse, a arte de administrar não seria mais arte, apenas uma atividade rotineira, em que o feeling do administrador nunca seria utilizado. Mas existem alguns passos, ou atividades rotineiras, que devem ser feitos por todo empreendedor. A arte estará no fato de como o empreendedor traduzirá esses passos realizados racionalmente em um documento que sintetize e explore as potencialidades de seu negócio, bem como os riscos inerentes a esse mesmo negócio. Isso é o que se espera de um plano de negócios. Que seja uma ferramenta para o empreendedor expor suas ideias em uma linguagem que os leitores do plano de negócios entendam e, principalmente, que mostre viabilidade e probabilidade de sucesso em seu mercado. O que é o plano de negócios O Plano de Negócios é um documento que reúne informações sobre as características, condições e necessidades do futuro empreendimento, com o objetivo de analisar sua potencialidade e viabilidade, facilitando sua implantação. Um bom plano é uma peça indispensável para o sucesso de qualquer negócio. Os aspectos-chave que sempre devem ser focados em qualquer plano de negócios são os seguintes (BANG, 1998 apud DORNELAS, 2008): Em que negócio você está? O que você (realmente) vende? Qual é seu mercado-alvo? 81 PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR • CAPÍTULO 6 Para refletir O plano de negócios é uma ferramenta que se aplica tanto no lançamento de novos empreendimentos quanto no planejamento de empresas maduras. (DORNELAS, 2008) E o negócio social? Como qualquer negócio que almeja o sucesso, um negócio social deve ter um plano denegócios, o documento que vai detalhar e traduzir em números qual será a oferta da empresa, o mercado em que ela vai atuar, seus concorrentes e projeções de ganhos e gastos potenciais. O negócio social tem que ser, antes de tudo, um bom negócio, muito bem estruturado e administrado. Além de ajudar na hora de buscar recursos, esse documento será útil na gestão do dia a dia do negócio. Um negócio social algumas vezes leva mais tempo para decolar que um negócio tradicional, por isso é fundamental que o empreendedor acredite muito na ideia e tenha persistência. É importante ter uma visão, uma consciência do impacto do negócio. Embora, em longo prazo, a remuneração de um executivo responsável por um negócio social possa se equiparar aos valores de mercado, assim como em qualquer empreendimento, o empreendedor terá que apertar o cinto até que o negócio se consolide. Mesmo negócios tradicionais levam anos para ter escala. É preciso ter paciência. A boa notícia é que até o investidor está disposto a esperar mais e ganhar menos, porque investe pelo impacto social. Para que Serve o Plano de Negócios? a. Examina a viabilidade do empreendimento nos aspectos mercadológico, financeiro e operacional O Plano de Negócios permite desenvolver ideias a respeito de como o negócio deve ser conduzido. É uma oportunidade para refinar estratégias e cometer erros no papel em lugar da vida real, examinando a viabilidade da empresa sob todos os pontos de vista, tais como o mercadológico, o financeiro e o operacional. b. Integra o Planejamento Estratégico O PN é uma ferramenta pela qual o empresário pode avaliar o desempenho atual da empresa ao longo do tempo. Por exemplo: a parte financeira de um plano de negócios pode ser usada como base para um orçamento operacional e ser cuidadosamente monitorada, para se verificar o quanto a empresa está se mantendo dentro do orçamento. 82 CAPÍTULO 6 • PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR A esse respeito, o Plano pode e deve ser usado como base para um planejamento estratégico. Depois de decorrido algum tempo e, a partir de então, periodicamente, o Plano de Negócios deve ser examinado, para se verificar onde a empresa se desviou do rumo e se esse desvio foi benéfico ou danoso e como ela deverá operar no futuro. c. É ferramenta de negociação e ajuda a levantar recursos A maior parte dos financiadores ou investidores não colocará dinheiro em uma empresa sem antes ver o seu plano de negócio. O empreendedor poderá não ser levado a sério, nem mesmo convidado a voltar. O plano pode ser usado como uma ferramenta de negociação e contribui para aprovação de empréstimos nos bancos e acesso a linhas de financiamento. Um velho axioma ensina que se deve “ser claro a respeito do que se deseja do investidor, mas vago a respeito naquilo que está disposto a ceder”. A quem se destina? O Plano de Negócios é um documento confidencial. Deve ser distribuído somente àqueles que têm necessidade de vê-lo, tais como a equipe gerencial, conselheiros profissionais e fontes potenciais de recursos. Público-alvo: » Mantenedores de incubadoras: iniciação de empresas, com condições operacionais facilitadas, mantidas por instituições de classe, centros de pesquisas, órgãos governamentais. » Parceiros: para definição de estratégias e discussão sobre formas de interação entre as partes. » Bancos: para pleitos de financiamentos de equipamentos e instalações, capital de giro, expansão da empresa. » Investidores: entidades de capital de risco, pessoas jurídicas, bancos de investimento. » Fornecedores: para negociação na compra de mercadorias, matéria-prima e formas de pagamentos. » A própria empresa: para comunicação, interna, da gerência com o conselho de administração e com os empregados (comprometimento mútuo de metas e resultados). » Clientes: para venda do produto e/ou serviço e publicidade da empresa. » Sócios: para convencimento em participar do empreendimento e formalização da sociedade. 83 PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR • CAPÍTULO 6 A apresentação do Plano de Negócios é formatada mais objetivamente nas ênfases relacionadas com o público específico. Cuidados Importantes ao Redigir um Plano de Negócios As fontes de financiamento não veem com bons olhos um plano que está sendo “leiloado” por aí. O ideal é que sejam enviadas para poucos, no máximo dez fontes financeiras. Nunca se devem enviar os planos às fontes financeiras em sequência. Essa abordagem pode adiar por anos um sucesso. Ao determinar a quem enviar o plano, pesquise cuidadosamente que espécies de fontes estão interessadas no campo em que eles estão. Espere a resposta de cada instituição, antes de passar à seguinte. Alguns bancos somente emprestam em certas áreas geográficas; alguns investidores só investem em determinados tipos de empresas. Dentro de uma organização, algumas pessoas ou departamentos podem lidar com planos de negócios. Eles também podem ser divididos por critérios geográficos, por grupo de negócios ou de alguma outra forma. É importante fazer com que o Plano chegue ao grupo certo e, melhor ainda, à pessoa certa. Se houver dúvidas sobre o destino dado ao documento, pode-se solicitar que o destinatário assine um termo confidencial para minimizar as chances de que informações-chave da empresa ou da ideia sejam utilizadas ou divulgadas a terceiros. Não se recomenda a produção de grande quantidade de cópias, nem que sejam confeccionadas de forma diferenciada do usual. Objetivos de um Plano de Negócios Ser empreendedor não é só ganhar muito dinheiro, ser independente ou realizar algo. Ser empreendedor também tem um custo que muitos não estão dispostos a pagar. É preciso esquecer, por exemplo, uma semana de trabalho de 40 horas, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h e com duas horas de almoço. Normalmente, o empreendedor, mesmo aquele muito bem-sucedido, trabalha de 12 a 16 horas por dia, não raro sete dias por semana. Ele sabe o valor do seu tempo e procura utilizá-lo trabalhando arduamente na consecução de seus objetivos. O sucesso na criação de um negócio próprio depende basicamente do desenvolvimento, pelo empreendedor, de cinco etapas: » Integrar a equipe, canalizando os esforços em uma única direção. » Ser dinâmico e passível de revisões, permitindo ajustes permanentes entre premissas e projeções para adaptar-se à realidade do mercado. » Comunicar com clareza o seu conteúdo, para os públicos de interesse interno e externos, uma vez que constitui também um elemento de venda. 84 CAPÍTULO 6 • PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR » Assegurar fluxo de caixa positivo com rentabilidade atraente. » Ser um instrumento de controle gerencial. E os Objetivos para os Empreendimentos Sociais? Algumas dessas características estão em desacordo com os objetivos de um empreendimento social, à primeira vista, e por isso precisam ser adaptados. Com relação às letras a, b, e, não há dúvida de que se ajustam bem para um empreendimento social, uma vez que esse precisa ter equipe unida em torno de um objetivo ou uma missão comum. É fundamental ter nos empreendimentos sociais um instrumento que defina os planos da entidade para o futuro próximo e como esses serão implementados, e que estabeleça um roteiro de trabalho e um modelo de comparação para o desempenho da organização. Em relação à letra d, o plano de negócios para empreendimentos sociais também é um instrumento de venda. Não para sócios ou investidores financeiros, como seria o caso do empreendimento com fins de lucro, mas para atrair possíveis membros para os Conselhos, voluntários, financiadores, beneficiários e outros públicos interessados ou afetados pelo trabalho da organização. Um empreendimento social não deverá apresentar rentabilidade, conforme especificado na letra d. No entanto, deverá demonstrar a viabilidade financeira da organização, sua necessidade de recursos para implementar o plano e os impactossociais obtidos a partir dos recursos aplicados. É importante provar, por meio do plano de negócios, que os recursos aplicados com eficiência gerarão o máximo impacto possível. Quando Fazer um Plano de Negócios e Por Que Período de Tempo? Como acontece nos planos de negócios para organizações com fins lucrativos, o plano de negócios de um empreendimento social normalmente compreende um período futuro de três a cinco anos. Deve ser escrito no caso de: » início de uma organização; » projeto de ampliação de atividades; » projeto de reestruturação para melhorar os impactos obtidos; » desenvolvimento de uma nova unidade da organização; » projeto de sustentabilidade. 85 PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR • CAPÍTULO 6 Quem Lê o Plano de Negócios de um Empreendimento Social? » Financiadores potenciais de uma organização podem ter com o plano de negócios uma visão mais abrangente do trabalho que aquela pretende realizar, além de mostrar-lhes que está preparada para aplicar de maneira inteligente os recursos que receber. » O público-alvo do trabalho que se quer desenvolver deve conhecer o plano de negócios e, quando possível, participar de sua elaboração, uma vez que é o principal interessado em seus resultados. » A equipe de funcionários também precisa conhecer e comprometer-se com o plano para ter uma visão mais clara do que pretende aquela organização, e, consequentemente, o que se espera de seu trabalho. Finalmente, toda a sociedade em que está inserida a organização pode ter interesse pelo plano. As organizações sem fins de lucro têm que ser transparentes, uma vez que trabalham para a sociedade e têm fins de interesse público. É importante lembrar que seu fim público garanta isenções tributárias não só a elas, mas, também, a seus doadores, o que representa renúncia fiscal por parte do Governo de recursos que poderiam ser utilizados em programas governamentais, beneficiando muitas pessoas. Portanto, deve estar disponível para qualquer indivíduo que queira conhecer mais suas atividades. Estrutura de um Plano de Negócio Tradicional e no Terceiro Setor Não existe uma estrutura rígida e específica para se escrever um plano de negócios, pois todos os negócios têm suas particularidades e semelhanças, sendo impossível definir um modelo de plano de negócios universal e aplicado a qualquer negócio. Estrutura sugerida Capa A capa, apesar de não parecer, é uma das partes mais importantes do plano de negócios, pois é a primeira parte visualizada por quem o lê, devendo, portanto, ser feita de maneira limpa e com as informações necessárias e pertinentes. 86 CAPÍTULO 6 • PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR Sumário Executivo É a primeira parte que será lida por um eventual investidor. Deve conter os pontos principais e mais interessantes do plano. Não costuma ter mais de uma página. No terceiro setor, devem constar: » Objetivos do PN. » A oportunidade de trabalho percebida e como será desenvolvida. » O público que se pretende atender e suas características principais. » A missão da organização. » A formação do Conselho Diretor. » Quais produtos/serviços serão fabricados, vendidos, prestados, fornecidos pela organização. » Como será abordado o público-alvo. » Como serão vendidos os produtos/serviços. » Como a organização será estruturada para cumprir seus objetivos. » As características (perfil) da empresa e dos voluntários. » O volume total de investimentos necessário para a organização realizar o trabalho que se propõe. Descrição das linhas gerais do empreendimento Contém um sumário da empresa, seu modelo de negócio, a natureza, sua história, estrutura legal, localização, objetivos, estratégias e missão. De uma a duas páginas. Produtos e Serviços Descrição dos produtos e serviços da empresa, suas características, forma de uso, especificações, estágio de evolução. Máximo de duas páginas. O produto deve ser descrito em termos de características técnicas, embalagem, apresentação e serviços ao cliente como garantias, suporte e serviços pós-compra. No caso da prestação de um serviço, é preciso definir quais serviços serão oferecidos, especificando em que consistirá o processo de trabalho de cada um. 87 PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR • CAPÍTULO 6 Estrutura organizacional Como a empresa está organizada internamente, número de funcionários, principais posições, perfil do profissional. Máximo de duas páginas. O organograma da organização sem fins lucrativos normalmente conta, no mínimo, com as seguintes estruturas: » Assembleia Geral: órgão máximo da organização, responsável pelas decisões principais. » Conselho Diretor: funciona como um guardião do interesse público, e nesse sentido tem a função de verificar se a organização está trabalhando de maneira eficiente, investindo seus recursos de modo a gerar o máximo impacto. » Conselho Consultivo: tem a função consultiva e deve estar à disposição do Diretor- executivo ou do Conselho Diretor quando estes necessitarem de alguma orientação técnica. » Conselho Fiscal: tem a função de fiscalizar e aprovar as contas da organização. » Equipe contratada: é a equipe que trabalhará no dia a dia da organização e é chefiada pelo Diretor-executivo. » Voluntários: deve-se definir que responsabilidade e tarefas ficarão na mão dos voluntários, e qual será a estratégia de motivação dos mesmos para mantê-los vinculados à organização o maior tempo possível. Plano de marketing Aqui será descrito o setor, o mercado, as tendências, a forma de comercialização, distribuição e divulgação dos produtos, preços, concorrentes e vantagens competitivas. De cinco a seis páginas. Nessa etapa, devem ser detalhadas as informações referentes ao produto (já citado anteriormente), preço, promoção e distribuição de vendas (os chamados 4 Ps do Marketing). Para as organizações do terceiro setor Preço: muitas organizações sem fins lucrativos consideram que todos os produtos ou serviços devem ser oferecidos gratuitamente. No entanto, hoje sabemos que o preço tem um conteúdo informacional para o consumidor; assim, ele pode associar algum custo para o consumidor, de maneira a gerar nele compromisso com o trabalho desenvolvido, mesmo que esse custo não seja financeiro. 88 CAPÍTULO 6 • PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR Promoção: a organização deve planejar como comunicará sua missão, seus valores, suas crenças, e o programa de atividades que planejou não só entre seus clientes, mas também entre funcionários e voluntários, sua rede de parceiros, a comunidade de financiadores, a mídia e a sociedade. Distribuição e vendas: muitas vezes, o sucesso de um empreendimento social pode estar em sua localização, em razão da proximidade do público ou dos voluntários potenciais. Outras vezes, pode estar focado numa boa rede de distribuição, que permita a máxima penetração de mercado para um determinado produto. Plano Operacional Descrição do fluxo operacional, cadeia de suprimentos, controle de qualidade, serviços associados, capacidade produtiva, logística e sistemas de gestão. De três a quatro páginas. Plano Financeiro Como a empresa se comportará ao longo do tempo do ponto de vista financeiro, descrições e cenários, pressupostos críticos, situação histórica, fluxo de caixa, análise do investimento, demonstrativo de resultados, projeções de balanços e outros indicadores. De cinco a seis páginas. No caso das organizações do terceiro setor, o plano financeiro deverá conter as seguintes informações: » Projeções de receitas. » Necessidades de investimento inicial para lançar a organização, se for o caso. » Fluxo de caixa projetado. » Demonstrativo de resultado do exercício projetado. » Balanço patrimonial projetado. » Necessidades de levantamento de recursos e estratégias que serão utilizados. » Plano para atingir a sustentabilidade e tempo necessário para isso. Vale lembrar que o superávitdas organizações sem fins lucrativos não poderá ser distribuído, mas, sim, reaplicado nas atividades da organização ou transferido a outra organização sem fins lucrativos no caso da extinção da primeira. 89 PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR • CAPÍTULO 6 Cuidados a Tomar em um Plano de Negócios tradicional e no Terceiro Setor As informações de um Plano de Negócios devem ser precisas, mas transmitindo uma sensação de otimismo e entusiasmo. Ao preencher o plano, tenha sempre em mente o objetivo para o qual ele está sendo escrito. O tom deve ser empresarial, organizacional, sem sentimentalismo, para ser levado a sério. Os possíveis investidores reagirão bem a uma apresentação positiva e interessante, mas reagirão com indiferença diante uma apresentação vaga, prolongada, ou que não tenha sido bem ponderada e organizada. Cuidado ao dar ênfase no preenchimento a argumentos exclusivamente de venda da ideia. Esta ênfase pode levá-lo a redigir um plano exagerado, destituído de objetividade. Se o plano transmitir de forma clara e legível as metas e métodos básicos da organização, o investidor dará atenção ao documento. Caso necessite de mais informações, com certeza ele pedirá. Preocupe-se, portanto, em apresentar informações reais e que possam ser facilmente comprovadas quando solicitadas. Recomendação! Não tenha pressa ao elaborar o seu Plano de Negócios. Para garantir a qualidade, um bom plano deve cobrir informações abrangentes, bem resumidas e pertinentes. Na maioria das vezes, essas informações não se encontram facilmente consolidadas. Elas devem ser procuradas, trabalhadas e manipuladas. É recomendável que se escreva o plano paulatinamente, na medida em que as informações forem obtidas, e não de uma só vez. Nem muito longo, nem muito curto O tamanho ideal é de 20 a 25 páginas, dependendo do objetivo, porte e situação da empresa. Tenha em mente essa informação enquanto preencher, de forma a manter a objetividade, colocando apenas as informações relevantes e deixando todo e qualquer material demonstrativo, suplementar ou ilustrativo como anexo ao final do documento. Constarão do relatório impresso apenas os nomes das seções e grupos, e não as perguntas individuais. Isso dá liberdade para você colocar o conteúdo do grupo em que bem entender, sem precisar se ater às respostas específicas de cada pergunta, de forma a utilizar as perguntas apenas como referência ou um tipo de checklist. 90 CAPÍTULO 6 • PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR Não esqueça a revisão ortográfica Uma palavra de cautela a respeito da gramática e ortografia: esses erros podem gerar uma imagem negativa sobre o empreendedor, e, portanto, sobre todo o empreendimento. Faça com que alguém qualificado nessa área revise o plano, para eliminar esses pequenos aborrecimentos que podem ter um forte impacto sobre os leitores. Muitas das perguntas que se faz para preparar um PN precisam ter uma resposta, ou devem, ao menos, ser respondidas com “não pode ser respondido nesse momento, mas deve ser monitorado”, pelo bem da sobrevivência da empresa. Às vezes, uma pergunta-chave é negligenciada, como “contrata-se mão de obra”, ou “inauguram- se as instalações”, e, após o início das operações com vendas em andamento, descobre-se que algumas autorizações ou licenças eram necessárias antes de se abrir a empresa, justamente o que a pergunta alertava. O software SPPlan O SPPlan é um programa de computador (software) desenvolvido com tecnologia web e pode ser instalado em seu desktop em qualquer diretório, por download a partir do site do Sebrae. A instalação é autoexplicativa e o acesso ao programa é feito por meio de um novo ícone disponibilizado na Área de Trabalho do Windows. Figura 4. SPPLAN. Fonte: SEBRAE 91 PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR • CAPÍTULO 6 O que é o SPPlan? O programa SPPlan compõe-se de Estrutura do Plano, associado com os seguintes elementos: » Permite a utilização por diversos usuários, cadastrados por um administrador, que irão colaborar na elaboração do plano. » Campos exclusivos de descrição dos tópicos, que definem e esclarecem o plano. Disponibilizados também links de ajuda, que orientam o entendimento dos tópicos, e de um link para um texto típico de exemplo sobre o mesmo tópico. » Campo para identificação do arquivo quando necessário para anexar informações complementares ou demonstrativas sobre o tópico. » Todas as planilhas necessárias para a composição dos custos dos produtos/serviços objetos do plano. » Escolha da opção do regime tributário: simples, lucro presumido e lucro real. » Mapa geral sobre o estado de preenchimento e anexo dos tópicos. » Geração de relatórios financeiros, em Acrobat Reader (software livre): Demonstrativo de Resultados, Fluxo de Caixa, Balanço Patrimonial, Indicadores Financeiros. Impressão do relatório do Plano de Negócios, incluindo os quadros financeiros, de forma organizada e pronta para encadernação, através do simples comando de impressão. (Fonte: <http://www.sebraeshop.com.br/spplan/cuidados.asp?site_origem=sebrae>). Saiba mais Para maiores informações e download do programa, acesse: Plano de Negócios. Disponível em: <http://www.sebraeshop.com.br/spplan/cuidados.asp?site_origem=sebrae>. Modelo de Plano de Negócios. Disponível em: <http://www.pucrs.br/agt/raiar/download/plano.pdf>. http://www.sebraeshop.com.br/spplan/cuidados.asp?site_origem=sebrae 92 CAPÍTULO 6 • PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR O Papel do Plano de Negócios em Projetos de Sustentabilidade Nas sociedades industriais ocidentais, o Plano de Negócios tem para o empreendedor importância equivalente à da pedra polida para os primeiros grupos sedentários do Neolítico, ou seja, ferramenta fundamental (ROCHA, 2005). Os passos para a elaboração de um Plano de Negócios poderão ser os mesmos do apresentado nos anexos 1 e 2. De acordo com Rocha (2005), para quem pretende trabalhar com o tema Plano de Negócios na capacitação e empreendedores de projetos de desenvolvimento sustentável, ele recomenda atenção especial aos seguintes aspectos: » Contextualize tudo. Procure conhecer o grupo e levar cada exemplo para a realidade local. Esses empreendedores, mesmo em localidades remotas, costumam exibir grande disposição para o aprendizado. Conhecem a fundo as condições de suas regiões e logo encontram formas de aplicar os novos conhecimentos a suas realidades particulares. » Cheque se a linguagem é apropriada, se a plateia está assimilando de fato a mensagem. Use a função fática! Busque a confirmação de que o conceito foi assimilado. » Não tenha receio de alterar o código para facilitar a comunicação. Substitua o que for necessário. » Ressalte que a análise de mercado não apresenta diferenças no aspecto formal. Há ferramentas teóricas que valem para produtores de suco de cupuaçu e também para montadores de caminhões. » Não utilize os jargões tradicionais de negócios e, principalmente, evite as expressões em inglês. » Não perca qualquer oportunidade para interagir socialmente com o grupo. Nesses momentos, você aprende sobre as diferentes realidades com as quais está lidando. Esse conhecimento se converte em ferramenta importantíssima durante o processo instrucional. » Respeite e administre as diferenças culturais e ideológicas. Certamente, você terá que lidar com questões como “mais-valia”, economia solidária e conflito capital-trabalho. Respeite a diferença. Se você tem um sonho, você tem de protegê-lo. As pessoas não podem fazer nada, elas querem te dizer o que você não pode fazer. Você quer algo? Corra atrás. Ponto final. (Chris Gardner – Filme À Procura da Felicidade) 93 PLANO DE NEGÓCIOS PARA ORGANIzAçÕES DO TERCEIRO SETOR • CAPÍTULO 6 Desafios do empreendedorismo sustentável no Brasil Vários são os desafios do empreendedor de negócios sustentáveis, seja ele um empreendedor individual ou comunitário. Enumeramosabaixo alguns desses desafios. » Educação. » Organização social. » Infraestrutura local. » Financiamento. A fim de superar os desafios relacionados, é necessário que cada organização envolvida (governo, financiadores, ONGs e empreendedores) faça cada uma a sua parte. Somente a articulação de esforços e de trabalho em conjunto possibilitará a criação de ambiente político-institucional adequado para o florescimento e crescimento dos negócios sustentáveis no Brasil. Sintetizando Vimos até agora: » Os objetivos de um Plano de Negócios, tradicional e para que serve e, também, o Plano de Negócios para o terceiro setor/ empreendimentos sociais sustentáveis. » A interpretação da dinâmica do ambiente de negócio no qual o empreendedor social estará inserido, com base na análise dos competidores, das demandas do mercado consumidor e das referências de negócios mais relevantes, a fim de criar disciplina visionária para a identificação contínua de novas oportunidades. » Definição das etapas do Plano de Negócios de forma coesa e persuasiva nos seguintes aspectos: Sumário Executivo, Descrição das Linhas Gerais do Empreendimento. Estrutura da Organização, Produtos e Serviços, Plano de Marketing, Plano Financeiro e Plano Operacional. » A discussão da relação entre Plano de Negócios para empresas privadas e para empreendimentos sociais. 94 Referências ABRINQ. Apresentação institucional. Disponível em <https://www.fadc.org.br/> ALLIER, J. M. 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Será realizado às___________________________________no horário_____________________. Os resultados esperados são ____________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _______________ __________________________________________________ » As despesas a serem ressarcidas deverão antecipadamente ter autorização expressa. » O presente Termo de Adesão estará em vigor a partir da data de sua assinatura pelas partes interessadas e poderá ser rescindido a qualquer momento mediante comunicação escrita de uma das partes a outra, com antecedência mínima de três dias, motivando a decisão. Declaro estar ciente da legislação específica sobre serviço voluntário e aceito atuar como voluntário(a) nos termos do presente Termo de Adesão. ______________________________________ _______________________ Cidade Data 98 APêNDICES E ANExOS ______________________________________ Assinatura do voluntário ____________________________________ __________________________________ Testemunha Testemunha __________________________________________________________________ Nome e assinatura do responsável pela instituição/cargo que ocupa DESLIGAMENTO Data:________________ Iniciativa: ( ) Voluntário ( ) Instituição Motivo: _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _______________________________________ Assinatura do responsável pela instituição Assinatura do(a) voluntário(a) 99 APêNDICES E ANExOS ANExO 2: Lei do Serviço Voluntário Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998 Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: Artigo 1º Considera-se serviço voluntário, para fins desta lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive, mutualidade. Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim. Artigo 2º O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, nele devendo constar o objeto e as condições do seu exercício. Artigo 3º O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias. Parágrafo único. As despesas a serem ressarcidas deverão estar expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário. Artigo 4º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Artigo 5º Revogam-se as disposições em contrário. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Brasília, 18 de fevereiro de 1998 (Publicado no Diário Oficial da União, de 19/2/1998) 100 APêNDICES E ANExOS ANExO 3 CONSTITUIçãO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL – 5 DE OUTUBRO DE 1988. TÍTULO VIII – DA ORDEM SOCIAL CAPÍTULO VI – DO MEIO AMBIENTE Art. 225. Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significância degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. 101 APêNDICES E ANExOS § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quantoao uso dos recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em Lei Federal, sem o que não poderão ser instaladas. Introdução Introdução à Gestão Ambiental Pública Política, Compromisso e Conflito Responsabilidade Social e Marketing Social: Aspectos Gerais Terceiro Setor: Fundamentos, Tipos de Organização e Voluntariado Empreendedorismo Social e Desenvolvimento Sustentável Plano de Negócios para Organizações do Terceiro Setor Referências Apêndices e Anexos