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GEOGRAFIA REGIONAL DO BRASIL Manoella de Souza Soares E d u ca çã o G E O G R A F IA R E G IO N A L D O B R A S IL M an oe lla d e S ou za S oa re s A geografi a regional – tema central desta obra – tem, historicamente, uma po- sição central na geografi a. Há refl exões que consideram o conceito de região o meio pelo qual a geografi a percorreu para se consolidar como uma ciência moderna. De produto-síntese do conhecimento geográfi co a conceito curinga da geografi a, a região, como ferramenta analítica, ultrapassa a noção de área e representa de maneira mais ampla o espaço geográfi co. Aqui, buscamos aproximar você, leitor, desse tema que é ao mesmo tempo teórico – devido a correntes de pensamento e visões de mundo – e prático, em razão da concretude das regionalizações, dos planejamentos e ordenamentos territoriais e representações cartográfi cas. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6391-8 CAPA_Geografia regional do Brasil.indd 1 05/02/2018 09:44:01 Manoella de Souza Soares IESDE BRASIL S/A Curitiba 2018 Geografia Regional do Brasil CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S655g Soares, Manoella de Souza Geografia regional do Brasil / Manoella de Souza Soares. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2018. 184 p. : il. ; 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6391-8 1. Brasil - Geografia. 2. Geografia regional. I. Título. 17-46717 CDD: 918.1 CDU: 913(81) Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2018 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa MatiasDelCarmine/Lari Borges/los_ojos_pardos/ white snow/Rita Ko/Julinzy/Shutterstock.com Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao aluno | 5 1. O conceito de região | 7 2. Planejamento regional | 23 3. O Estado e a escala regional | 47 4. O IBGE e a regionalização oficial do Brasil | 65 5. A regionalização do território brasileiro | 89 6. Divisão regional do Brasil | 103 7. As regiões brasileiras: caracterização e reflexões | 121 8. A questão regional para além da regionalização | 141 Gabarito | 157 Referências | 169 Carta ao aluno A geografia regional – tema central desta obra – tem histo- ricamente uma posição central da geografia. Há reflexões que con- sideram o conceito de região o meio pelo qual a geografia percorreu para se consolidar como uma ciência moderna. De produto-síntese do conhecimento geográfico a conceito curinga da geografia, a região, como ferramenta analítica, ultrapassa a noção de área e representa de maneira mais ampla o espaço geográfico. Aqui, buscamos aproximá-lo desse tema que é ao mesmo tempo teórico – devido a correntes de pensamento e visões de mundo – e prático, em razão da concretude das regionalizações, dos plane- jamentos e ordenamentos territoriais e representações cartográficas. No Capítulo 1, trazemos o conceito de região sob as diferen- tes abordagens existentes no pensamento geográfico e sua relação com outros importantes conceitos. Ainda em um caminho teórico, – 6 – Geografia Regional do Brasil apresentamos no Capítulo 2 a região como unidade de escala para o planeja- mento. Para tanto, utilizamos o método regional como alicerce teórico. O Capítulo 3 apresenta a interface territorial do conceito de região e dis- cute a ação da administração pública no planejamento regional, que faz surgir a noção de poder e do papel do Estado como agente planejador. Com base no papel desempenhado pelo Estado e nas monografias regio- nais, o Capítulo 4 discute a importância do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no desenvolvimento e na difusão de conhecimento. Além disso, verificamos a proposta oficial de regionalização brasileira empreendida por esse mesmo órgão. No Capítulo 5, compreendemos como as regionalizações são desenvol- vidas e nos apropriamos de ferramentas analíticas, com o objetivo de criar habilidades para regionalizar na qualidade de futuros geógrafos. Além do IBGE, a geografia regional brasileira conta com propostas de importantes autores, como Roberto Lobato Corrêa e Milton Santos. No Capítulo 6, demonstramos a importância e as diferenças dessas propostas. A visão de um mosaico, com partes distintas, mas que formam um con- junto coerente e harmônico é comum na geografia. Com base na classificação proposta pelo IBGE, apresentamos no Capítulo 7 uma caracterização das regiões brasileiras. Com isso, ultrapassamos a simples criação de um compi- lado de dados e almejamos uma reflexão da realidade socioespacial brasileira. Concluímos esta obra com uma reflexão sobre o potencial do conceito de região proposto pela geografia cultural – que perpassa questões de plane- jamento regional e abordagens territoriais – e a visão humanística do espaço geográfico. Assim, o Capítulo 8, além de apresentar uma proposta de regio- nalização com base em obras literárias brasileiras, propõe uma provocação: entender a questão regional para além da regionalização. Por fim, não concluímos o debate acerca da geografia regional. Pelo con- trário, buscamos subsidiar você, leitor, com ferramentas analíticas e reflexivas para atuar como importante agente de transformação, seja como pesquisador, planejador, cidadão ou professor. Este último, em especial, tem o potencial de unir todas essas habilidades, principalmente para a formação de crianças e adolescentes. O conceito de região O conceito de região é uma das principais ferramentas ana- líticas da geografia. Sua história está diretamente ligada à formação da geografia como ciência moderna, sendo considerado por vezes o próprio saber geográfico. No passado, dominar esse conceito era dominar o conhecimento geográfico. Sua posição central em dis- cussões da geografia fez com que sua interpretação fosse modificada ao longo dos séculos. Desse modo, neste capítulo não apresentamos uma definição fechada e acabada do que significa região, mas sim uma reflexão sobre esse conceito ainda tão presente em trabalhos e no discurso da geografia. 1.1 A região na história do pensamento geográfico O uso de um termo que busque explicar eventos ou fenô- menos da realidade reflete o momento histórico e os personagens envolvidos na geração desse conhecimento – e com o conceito de 1 Geografia Regional do Brasil – 8 – região não poderia ser diferente. Assim, no decorrer desta seção vamos conhe- cer a origem desse conceito e como ele foi modificado. No Império Romano, o termo região emergiu como um conceito impor- tante. Originado do latim regere, estava relacionado, além das noções de loca- lização e extensão, à centralização do poder em uma porção do espaço de alta diversidade social, cultural e espacial. No auge de suas conquistas, o Império Romano foi um exemplo per- feito do surgimento do poder centralizado e, com isso, das complexas rela- ções entre o poder político e administrativo, áreas sujeitas a essa hegemonia. Com seu declínio, houve a fragmentação de seu território. Assim, as antigas regiones foram subdivididas e deram forma ao poder autônomo dos feudos, que predominaram na Idade Média. Mapa 1 – Divisão do Império Romano emregiões no ano 117 d. C. Dirráquio Tessalônica Corinto Atenas Filípolis Bizâncio Niceia Éfeso Mileto NaissoSalona Aquileia Cremona Mediolano Massília Nápoles Tarento Siracusa Cartago Útica Tingi Nova Cartago Londínio Colônia Agripina Panormo Caralis Aléria Narbo Márcio Tarraco Lungduno Limono Burdigala Augusta Treveroro Augusta Vindelicoro Lauriaco Lutécia Vindobona Aquinco Napoca Apulo Sarmisegetusa Durostoro Tomis Cirene Alexandria Mênfis Petra Salamis Tarso Tiro Jerusalém Tarso Antioquia Cesareia Trapezo Artaxata Nisibis Ctesifonte Babilônia Ólbia Ancira Cesareia Cirta Léptis Magna Eboraco Deva Itálica Salamântica Emerita Augusta César Augusta MAGNA GERMÂNIA IBÉRIA ARÁBIAProvíncias senatoriais Províncias imperiais Estados clientes Butroto IMPÉRIO PARTO SARMÁTIA FAZÂNIA GETÚLIA HIBÉRNIA CALEDÔNIA Toleto Gades Córduba REINO DO BÓSFORO Edessa OCEANO PONTO EUXINO Mare Nostrum MAR GERMÂNICO ARMÊNIA SÍRIA JUDEIA CHIPRE SICÍLIA CÓRSEGA SARDENHA MAURITÂNIA CESARIENSE LUSITÂNIA ITÁLIA ÁSIA LÍCIA E PANFÍLIA MACEDÔNIA ACAIA TRÁCIA DÁCIA MÉSIA SUPERIOR MÉSIA INFERIOR NÓRICA RÉTIAAQUITÂNIA BRITÂNIA 1. ALPES PENINOS 2. ALPES COTIOS 3. ALPES MARÍTIMOS ÉPIRO MESOPOTÂMIA ASSÍRIA CILÍCIA ARÁBIA PÉTREA EGITO CAPADÓCIA GALÁCIA BITÍNIA E PONTO LUGDUNENSE TARRACONENSE BÉTICA MAURITÂNIA TINGITANA ÁFRICA PROCONSULAR NARBONENSE BÉLGICA CIRENAICA E CRETA DALMÁCIA GERMÂNIA INFERIOR GERMÂNIA SUPERIOR PANÔNIA SUPERIOR PANÔNIA INFERIOR Fonte: Andrei Nacu/Wikimedia Commons. Contudo, as questões sobre essa noção persistiram e não desaparece- ram com o tempo. Assim, desde o surgimento desse conceito, é possível – 9 – O conceito de região estabelecer relações entre a sua etimologia e a noção de um espaço delimitado e organizado por um governo local. Percebe-se que sua origem é relacionada à necessidade de um momento histórico, cuja principal característica era a centralização do poder (GOMES, 1995). Com a formação dos Estados modernos, novamente surgiu a necessi- dade de relacionar o poder centralizado às diversas unidades administravas. Assim, a mesma questão da Antiguidade Clássica ressurgiu. Gomes (1995) elenca três importantes consequências da origem do conceito de região nesse contexto. A primeira se deu na esfera do debate político sobre a formação e dinâmica do Estado, por meio da organização cultural e da diversidade espacial das unidades administrativas. A segunda consistiu no modo como a região representava, nesse momento, as projeções de soberania, direito e autonomia e atribuía um componente espacial inquestionável ao conceito. Por fim, a terceira consequência acarretou a eminência da formação da geo- grafia como ciência moderna, tornando a região um de seus conceitos-chave. Na linguagem cotidiana do senso comum, podemos verificar a palavra região em expressões vagas, incertas, em que não existe a necessidade de esta- belecer um limite para sua abrangência. Nesse sentido, reflexões são deixadas de lado, apenas um impulso momentâneo indica as diretrizes de sua utilização. Assim, os princípios de localização e de extensão são os únicos condicionantes do emprego da palavra. Não há uma especificação, fato que impossibilita o discernimento na diferenciação entre região, local, espaço e território, por vezes tratados como a sinônimos. Na metade do século XIX, as ciências passaram por um momento de con- solidação. Com base nas ideias de Immanuel Kant (1724-1804), segundo o qual o conhecimento verdadeiro seria aquele verificável e seu princípio básico seria a causalidade, vários estudiosos qualificaram os métodos e os objetivos de suas respectivas ciências. No caso da geografia, Karl Ritter (1779-1859) foi o responsável por essa consolidação. Por meio de sua obra Geografia comparada, os objetivos e os métodos geográficos tornaram-se mais concisos. Nesse con- texto, a região estava fortemente relacionada com a discussão das influências do meio natural na sociedade, uma corrente que se baseava em um domínio do ambiente sobre a orientação do desenvolvimento social. Geografia Regional do Brasil – 10 – Foi também nesse momento que surgiram dois importantes autores da geografia moderna: Friedrich Ratzel (1844-1904), com o conceito de espaço vital – por vezes interpretado, de maneira equívoca, como sinônimo de região –; e Paul Vidal De La Blache (1845-1918), com o conceito de região natural, discutido em sua obra Tableau de la géographie de la France (1903). Em ambos os autores, o ambiente atua como limitante na conti- nuidade regional. E apenas pelos meios técnicos o homem poderia superar as barreiras do ambiente. A vida social seria construída pela possibilidade do homem de atuar como agente de organização espacial das sociedades. No entanto, os pontos de vista desses dois autores eram opostos. Ratzel era rotulado como determinista, enquanto Vidal de La Blache era conside- rado possibilista. Na perspectiva possibilista, a região seria o produto das ati- vidades humanas sobre o ambiente físico. Entretanto, o nome possibilismo foi dado por Lucien Febvre (1878-1956), como verificamos no texto de Mercier (2009, p. 7): Tal oposição provém, em larga medida, do comentário partidário de Lucien Febvre (1922) que, para melhor condenar os presumidos erros de Ratzel, caricaturou seu pensamento confinando-o a algumas sen- tenças lapidares revestidas sob o pejorativo título de “determinismo”. Inversamente, para garantir o triunfo de Vidal sobre Ratzel, atribui ao francês a paternidade de uma doutrina – o “possibilismo” – cuja prin- cipal qualidade era, justamente, invalidar o falacioso determinismo. A categoria de região natural – que representava um produto, uma por- ção do espaço delimitada por aspectos relacionados à geografia física, com forte influência da geologia –, ajudou na delimitação das regiões por bacias hidrográficas, consideradas demarcadores naturais (CLAVAL, 1976). Uma das construções práticas e teóricas que permanecem até hoje sobre essa categoria foi postulada por Andrew John Herbertson (1865-1915). Em sua proposta de regionalização da Terra, ele a dividiu em: polar, temperada fria, temperada quente, tropical, montanhosa subtropical, terras baixas e úmidas equatoriais. O IBGE, fortemente influenciado por essa noção, deli- mitou as macrorregiões naturais também desse modo. Trabalharemos mais sobre essa questão nos próximos capítulos. Com a emergência do pensamento possibilista, o conceito de região pas- sou a ser trabalhado como região humana, e com a escola francesa, o gênero – 11 – O conceito de região vida passou a fazer parte dos conceitos vinculados à região. Essa seria uma região de enfoque cultural, mas que teria como subsídio a base física e natu- ral, elevada pela ação do homem em sua organização por meio da técnica. Nesse sentido, região e paisagem por vezes se tornam sinônimos. Essa união de aspectos físicos e humanos a fazem um produto e ao mesmo tempo uma síntese do saber geográfico. Desse modo, surgiu então a região geográfica: A região geográfica abrange uma paisagem e sua extensão territorial, onde se entrelaçam de modo harmonioso componentes humanos e natureza. A ideia de harmonia, de equilíbrio, evidente analogia orga- nicista que Vidal de La Blache adota, constitui o resultado de um longo processo de evolução, de maturação da região, onde muitas obras do homem fixaram-se, ao mesmo tempo com grande força de permanência e incorporadas sem contradições ao quadro final da ação humana sobre a natureza.(CORRÊA, 2000, p. 28) A região geográfica passou a ser o produto-síntese da geografia, que conden- saria as ações transformadoras da sociedade sobre o ambiente. Podemos observar que apesar da mudança de enfoque, o conceito de região ainda é considerado um produto, uma realidade concreta e física. Assim, o papel da geografia não estava necessariamente na delimitação de regiões, mas sim na busca de uma personali- dade, uma assinatura que a diferenciasse das demais e a tornasse particular. Vidal de La Blache (1921) ressurgiu como expoente quando afirmou que apenas a descrição do espaço permitiria compreender a complexa estru- tura dinâmica do espaço. Nesse período, a criação de monografias regionais foram um dos principais objetivos da geografia. Eram quase como receitas de bolo, que iniciavam com a descrição das características físicas (como geo- logia, vegetação e clima), passavam pela descrição estatística da população e, por fim, suas atividades econômicas. Para tal, o trabalho de campo se tornou parte fundamental, tanto para aproximação do pesquisador na área quanto para o levantamento detalhado de informações para essas monografias. Essas características de estudo ficaram conhecidas como Escola Francesa de Geografia, que permaneceu no auge do cenário acadêmico europeu por cerca de 50 anos e foi amplamente incorporada por outros países, entre eles o Brasil. No método regional, trabalhado especialmente por Hartshorne (1978, p. 138), “a região é uma área de localização específica, de certo modo distinta de outras áreas, estendendo-se até onde alcance essa distinção”. Hartshorne foi Geografia Regional do Brasil – 12 – discípulo de Hettner, um dos mais importantes geógrafos alemães do século XX. Sua geografia foi marcada por uma forma corológica1, que ultrapassou os antigos sistemas ideográficos (baseados em particularidades e descrições sem abstrações) e nomotético (com base em leis e normas generalistas). Lencioni (1999, p. 189) destaca: Para Hettner a geografia não seria nem ideográfica nem nomotética. Era ambas. A essência da geografia estaria no estudo das diferencia- ções da superfície terrestre. Assim afirmou a vertente corológica da disciplina geográfica, ou seja, o estudo regional. A região não era autoevidente. Os limites regionais são consequentes de um exercício intelectual, uma construção intelectual do observador. A revolução teorética-quantitativa da década de 1950, conhecida tam- bém como nova geografia, impôs uma lógica matemática e formal às ciências sociais – entre elas a geografia. Nessa transição (da geografia como ciência), a região deixou de ser um produto-síntese para um meio e uma maneira de demonstrar hipóteses. Regionalizar se tornou um método de dividir o espaço com base em critérios, hipóteses e teorias previamente estabelecidas e orien- tadas pelas indicações de cada pesquisador (GRIGG, 1967). Para Corrêa (1986, p. 32), região tornou-se “um conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares”. Desse modo, na análise regional, a região passou a ser uma classe espa- cial, cuja delimitação se deu pela classificação por critérios e variáveis arbitrá- rias estabelecidas pela retórica científica. Por vezes ela era limitada a métodos e técnicas estatísticas descritivas, o que tornava o uso de planilhas, cartogra- mas e pesquisas em gabinete mais importantes do que o trabalho de campo. Ao contrário do paradigma possibilista e da geografia hartshorniana, a nova procura leis ou regularidades empíricas sob a forma de padrões espaciais. O emprego de técnicas estatísticas, dotadas de maior ou menor grau de sofisticação – média, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise fatorial, cadeia de Markov etc. –, a utilização da geometria, exemplificada com a teoria dos grafos, o uso de modelos normativos, a adoção de certas analogias com as ciências da natureza e o emprego de princípios da economia burguesa caracterizam o arsenal de regras e princípios adotados por ela. (CORRÊA, 2000, p. 18) 1 De corologia: estudo da distribuição geográfica dos seres vivos. – 13 – O conceito de região Foi nesse momento que surgiram importantes autores, como Walter Christaller (1893-1969) e sua teoria das localidades centrais, John Friedmann (1926-2017) com a teoria do centro-periferia e François Perroux (1903- -1987) com a Teoria dos Polos de Crescimento. Foi nessa perspectiva que surgiu o termo regiões homogêneas. Essas eram subdivididas em regiões funcionais (relacionadas ao dinamismo do espaço e seus diversos fluxos, diretamente relacionadas à noção de rede) e tinham carac- terísticas fixas e homogêneas determinadas estatisticamente, especialmente para fins de planejamento territorial e compreensão do uso e ocupação do solo. E foi com base nas regiões funcionais que foi criada a escola geográfica das regiões polarizadas. Essa escola considerava a cidade como o comando de organização do espaço e tinha Pierre George (1909-2006) como um impor- tante teórico (GOMES, 1995). As regiões polarizadas valorizavam a vida eco- nômica das cidades e buscavam estabelecer organizações espaciais embasadas em teorias macroeconômicas de inspiração neoclássica, especialmente na obra de Perroux2. Em contraposição a esse movimento, surgiu a geografia crítica ou radical, especialmente após os anos 1970, quando o materialismo histórico-dialético adentrou as Ciências Humanas. Para essa vertente, as regiões polarizadas natu- ralizavam o capitalismo e causavam a desigualdade também na esfera espacial. Assim, o espaço seria diferenciado devido à divisão territorial do trabalho e o processo de acumulação de capital. No Brasil, Milton Santos (1926-2001) trouxe à tona a ideia de região como uma totalidade socioespacial, em que as sociedades produziriam seus espaços de maneira dialética, influenciando e sendo influenciados ao mesmo tempo pelo espaço. De acordo com o teórico, “a região é, pois, nesta perspectiva a síntese concreta e histórica desta instân- cia espacial ontológica dos processos sociais, produto e meio de produção e reprodução de toda a vida social” (SANTOS apud GOMES, 1995, p. 66). Para a geografia crítica, a região é não é apenas o resultado das diferentes formas de reprodução do capitalismo na sociedade e no espaço, mas também elucida o papel político da análise regional. Nas palavras de Corrêa (1986, p. 45), ela é “o resultado da lei do desenvolvimento desigual e combinado, 2 Como mencionamos anteriormente, Perroux apresentou a teoria dos polos de crescimento, cujas prerrogativas principais consistiam na interdependência e na desigualdade. Geografia Regional do Brasil – 14 – caracterizada pela sua inserção na divisão nacional e internacional do trabalho e pela associação de relações de produção distintas”. Contrária à geografia crítica, temos a geografia humanística e a geografia cultural. Essas linhas concebem a região novamente como um produto. Elas existem tanto como um quadro de referência na consciência coletiva da socie- dade quanto definidoras de um código social comum com base no território. Para os humanistas, a região deve ser vivida, e, com base nessa concepção, os trabalhos em campo voltaram à cena acadêmica com força. Isso fica claro na obra A região, espaço vivido, de Armand Frémont (1976). A geografia humanística buscava uma visão holística para a conceituação e o enriquecimento da organização espacial, logo, também para o conceito de região. Essa vertente tentou definir esse conceito pela sua multi-interpretação, ou seja, tentou explicá-lo de modo subjetivo, embasado na avaliação da iden- tidade de determinado grupo social e sua espacialidade, o que ocasionou uma alta dependência da fenomenologia3. A geografia cultural – de caráter mais filosóficoe com concepções de gênero de vida e paisagem – baseou-se no estudo de paisagem. Nessa vertente, o conceito de região assumiu outra interpretação, como um somatório de inter-relações, comportamentos, decisões, apreensões e valorações. Com isso, esse conceito é caracterizado como intersubjetivo, uma vez que possui um código próprio (e por isso não pode ter um único modelo regional), que ultrapassa o pessoal e recebe sentido coletivo. A cultura é fundamental para a interpretação desse espaço. Como alternativa à geografia crítica, temos a geografia do poder, que con- tou com as contribuições de Michel Foucault (1926-1984) e têm nomes como Yves Lacoste (1929-), Paul Claval (1932-) e Claude Raffestin (1936-). Esses teóricos pensam na construção de redes de poder e políticas que transformam o espaço e constroem conexões regionais. Essas conexões não se explicariam apenas por relações econômicas, mas também pelas relações de poder, centrali- zadas no papel do Estado ou em tramas mais sutis, como o poder exercido por milícias e/ou grupos de poder político e sociedades organizadas. Especialmente na obra de Lacoste, a região adquire um papel político e demonstra as contra- dições do Estado-nação. Em suas palavras: 3 Para a fenomenologia, é por meio de suas experiências vividas que os indivíduos são capazes de compreender o objeto. – 15 – O conceito de região Enquanto seria politicamente mais sadio e mais eficaz considerar a região como uma forma espacial de organização política (etimologi- camente, região vem de regere, isto é, dominar, reger), os geógrafos acreditam na ideia de que a região é um dado quase eterno, produto da geologia e da história. Os geógrafos, de algum modo, acabaram por naturalizar a ideias de região. [...] eles utilizam a noção de região, que é fundamentalmente política, para designar todas as espécies de conjuntos espaciais. (LACOSTE, 2005, p. 36) Nos próximos capítulos, veremos como a geografia do poder e a região como ação política – seja no ato de planejar, ou seja, no ato de regionalizar – estão presentes na atual geografia regional. Esses conceitos serão trabalhados com foco em nossa formação como pesquisadores dessa disciplina. 1.2 Construindo um quadro-síntese No item anterior, observamos que o conceito de região foi ressignificado em diversos momentos. Ele sempre foi um tópico central das discussões geo- gráficas e sofreu modificações de aporte teórico e metodológico. Porém, de modo geral, os estudos relacionados a esse conceito tinham como premissa o fenômeno espacial, que refletia as maneiras como as sociedades organizavam e materializavam suas relações sociais e com o meio natural. Nesse sentido, nossa intenção não é criar uma forma reducionista ou linear de compreender essa concepção ou estabelecer juízos de valor sobre as diferentes abordagens. Nosso objetivo é, com base em um quadro-síntese, evidenciar os aspectos mais relevantes sobre esse conceito na geografia. Esta seção visa justamente corroborar o conceito de região no qual novas e anti- gas definições coexistam e atribuam novos significados constantemente para construir um abrangente e complexo cenário científico para a geografia. Nas discussões sobre as definições de região natural e região geográfica, está em evidência o modo como a diversidade social é interpretada e sua relação com o meio natural. Assim, a importância dada às condições naturais na organização das sociedades e na sua espacialização dominam o discurso da delimitação da região. Nesse momento, a geografia se reafirma como a ciência responsável por refletir a relação homem-natureza, mesmo com variações de elementos na formulação de fenômenos espaciais. Sua análise busca relacio- nar esses elementos em um mesmo quadro analítico. Geografia Regional do Brasil – 16 – Especialmente após a década de 1950, houve discordâncias em conside- rar elementos humanos e físicos como conjuntos estruturantes do espaço geo- gráfico (GOUROU, 1973) e a região deixa de assumir seu papel de síntese. Gomes (1995, p. 69) resume esse processo: Em outras palavras, a lógica que preside a divisão regional sob o ângulo de uma ordem natural não pode ser enxertada à ordem social e vice-versa, o que resulta em uma renúncia da geografia moderna em ver a região como um objeto sintético que poderia resolver o velho problema dicotômico entre a geografia física e a geografia humana. Outro modificador do conceito de região é a compreensão de ciência. Como consequência dessa modificação, está o importante debate entre geo- grafia geral ou sistemática e geografia regional, que é o foco de nosso livro. A Geografia geral, baseada na concepção de ciência geral4, vê a região como um resultado obtido por meio de um sistema explicativo e critérios analíticos de extensão espacial (GRIGG, 1967). Ela é fundamentada em um modelo sintético de ciência do singular, no qual uma categoria é embasada em um determinado fenômeno. Para a geografia geral, esse fenômeno não pode ser desmembrado e sua totalidade deve ser compreendida como caso concreto. Nessa perspectiva, a região é uma realidade autoevidente e sua deli- mitação está ligada a um quadro de referência que não é necessariamente lógico, mas sim relacionado ao sentimento de pertencimento e de identidade (FREMONT, 1976). Gomes (1995) exemplifica muito bem essa relação: Existem pois duas abordagens diferentes da realidade geográfica, uma que se aproxima da ecologia e, consequentemente, incorpora antes de mais nada os dados das ciências naturais e da sociologia; a outra está ligada sobretudo ao funcionamento do espaço territorial e dá destaque aos dados da economia política [...] Longe de excluírem uma a outra, estas duas abordagens se esclarecem mutuamente, mas somente a segunda permitirá talvez ultrapassar a enfermidade congê- nita da geografia: sua inaptidão para a generalização. (JUILLARD, 1974 apud GOMES, 1995, p. 70) Por fim, ainda podemos compreender esse conceito à luz de sua uniformi- dade ou sua capacidade de mutação. Assim, região pode ser um fenômeno espa- cial – derivado da classificação, uniformidade e hierarquização de um sistema 4 O objetivo dessa concepção é alcançar leis gerais e conceitos abstratos e generalistas de uma realidade sistemática. – 17 – O conceito de região espacial submetido às mesmas variáveis – ou uma relativização de variáveis que pertencem a dado fenômeno e atribuem um caráter demonstrativo. Embora tenham ocorrido todas essas transformações, o conceito de região e a regionalização ainda representam em si o sentido do saber geográfico. Como diz Haesbaert (1999), esse conceito permite à geografia se aproximar de sua maior vocação: de realizar sínteses baseadas na realidade espacial, nas quais a relação socie- dade-natureza se representa nas mais complexas materializações. Ser capaz de se apropriar dessa concepção e de suas possibilidades teórico-metodológicas é essencial para o geógrafo. A Figura a seguir demostra nossa síntese do conceito de região. Figura 1 – Quadro-síntese do conceito de região. Origem do termo • Império Romano • Idade Média • Criação dos Estados-modernos • Senso comum • Poder centralizado e diversidade social, cultural e espacial • Relação com a definição da Antigui- dade – localização e extensão Região Região como produto-síntese Regionalizar Análise regional • Região homogênea • Região funcional • Região polarizada Geografia humanística e cultural Fenomenologia • Espaço vivido • Pertencimento e identificação Geografia do poder • Estado-nação • Relações de poder multiescalares Contemporaneidade • Globalização • Global/local na noção de região Geografia crítica ou radical • Método histórico dialético • Totalidade socioespacial Escola Francesa Método regional • Monografias regionais • Trabalhode campo Escola Americana • Revolução teorética quantitativa Geografia como ciência • Relação homem-natureza • Região natural x região geográfica Fonte: Elaborado pela autora. Geografia Regional do Brasil – 18 – 1.3 A região na contemporaneidade Com o desenvolvimento do sistema capitalista e especialmente o pro- cesso de globalização, houve autores que levantaram a possibilidade de “morte“ do conceito de região. A homogeneização e a uniformidade dos espa- ços e das relações sociais ocasionadas pela globalização marcariam o fim desse conceito (LIPIETZ, 1977). Com base nesse ponto de vista, os movimentos regionais seriam instâncias de resistência a esse processo. No entanto, uma outra vertente indicaria justamente o contrário. A região, por meio da globalização, poderia emergir como escala para a interpretação de conflitos e problemas na relação global/local. Segundo Santos (1999), a com- plexidade pertinente à região na contemporaneidade é única e parte inerente dos processos de globalização e fragmentação de maneira concomitante. Sobre essa dualidade, Santos ainda destacou: “não pensamos que a região haja desapa- recido. O que esmaeceu foi a nossa capacidade de reinterpretar e de reconhecer o espaço em suas divisões e recortes atuais, desafiando-nos a exercer plenamente aquela tarefa permanente dos intelectuais, isto é, a atualização dos conceitos” (1994, p. 102). Desse modo, em uma perspectiva ampliada, o conceito de região pode se dar pela complexa rede de fenômenos multiescalares, isto é, que ultrapassam uma única escala geográfica do mundo contemporâneo. Seu resgate e sua ressignificação, com a ideia de região rede5, podem ser estabelecidos por meio das relações sociais e do modo de produção capitalista. Além disso, o con- ceito pode perpassar as construções simbólicas de identidade regional, criar teias de relações espacialmente expressas e chegar até a necessidade do uso de região natural e regionalizações baseadas em aspectos físicos da paisagem (NOBREGA, 2015). Desse modo, essa concepção passa a ser fenômeno espacial da realidade, mas que existe como fenômeno geográfico. Assim, assume-se, concomitan- temente, uma dualidade em seu uso como ferramenta analítica da geografia, no aspecto concreto de território, na questão escalar, na pós-modernidade e na fenomenologia. 5 Noção de fluxos e inter-relações do conceito de rede, apropriado para a análise de região. – 19 – O conceito de região Sem nos limitarmos, mas pensando em bases para as reflexões propos- tas nesta obra, nos principais estudos de geografia regional da atualidade e, especialmente, no enfoque aqui dado em relação à divisão regional brasileira e ao planejamento regional, ainda podemos buscar um caminho teórico. Para Gomes (1995, p. 73), De qualquer forma, se a região é um conceito que funda uma refle- xão política de base territorial, se ela coloca em jogo comunidades de interesse identificadas a uma certa área e, finalmente, se ela é sempre uma discussão entre os limites da autonomia face a um poder central, parece que estes elementos devem fazer parte dessa nova definição em lugar de assumirmos de imediato uma solidariedade total com o senso comum que, neste caso da região, pode obscurecer um dado essencial: o fundamento político, de controle e gestão de um território. Assim, a materialidade desse conceito é relevada por mecanismos mais flexíveis e ele deixa de estar vinculado diretamente, por exemplo, à continui- dade espacial, estabelecendo relações com ajustes nas escalas global e local no contexto de globalização. Conclusão Podemos finalizar nossa discussão sobre esse assunto? Temos uma defi- nição estabelecida do que é hoje o conceito de região na geografia? Esperamos que não. Esperamos também que isso não seja um problema. Entender que a definição de um conceito é cíclica e contextualizada; é a principal mensagem que deve ser compreendida aqui. A problemática de pesquisa, as transformações na sociedade e no espaço, os avanços teóricos e metodológicos modificaram, modificam e continua- rão modificando nossas ferramentas analíticas. E não podemos esperar outra coisa do conceito de região. De qualquer forma, isso não significa que qual- quer explicação é suficiente para compreendê-lo, senão corremos o risco de fortalecer seu uso no senso comum, ou utilizá-lo de maneira inadequada. Assim, é sempre importante deixar claro qual é a vertente em que determi- nado autor embasa sua definição e, especialmente, para qual finalidade você utilizará esse conceito em uma análise. Geografia Regional do Brasil – 20 – Este foi um capítulo teórico e introdutório de nosso livro. Nos próxi- mos, veremos outros conceitos e métodos relacionados à geografia regional brasileira, com mais exemplos práticos e possibilidades de linhas de pesquisa. Ampliando seus conhecimentos Sempre que possível, devemos ler também os autores aqui trabalhados. Para pensarmos melhor o conceito de região, sugerimos a leitura do artigo “Região, diversidade territorial e globalização”, de Rogério Haesbaert, pro- fessor da Universidade Federal Fluminense. Disponibilizamos a seguir um trecho do texto em questão. Região, diversidade territorial e globalização (HAESBAERT, 1999, p. 32-33) [...] A região enquanto conceito, na interação sujeito-objeto, não pode cair nem na visão de região como algo autoevidente a ser “descoberto” (seja como realidade “natural”, seja como “algo vivo percebido pelos homens”) nem como simples recorte apriorístico, definido pelo pesquisador com base unicamente nos objetivos de seu trabalho. Assumimos aqui a posição, já comentada, da região enquanto conceito, veículo de inter- pretação do real, e regionalização enquanto instrumento de investigação, de forma análoga ao método de periodização dos historiadores. Região, enquanto conceito, não deve, entretanto, ser vista como uma simples ideia lançada pelo geógrafo como uma rede produzida na e para a sua teoria regional. Esta “rede” apreende características efetivamente existentes. A região não é apenas uma construção intelectual, ela também é – 21 – O conceito de região efetivamente construída pela atividade humana (SMITH, 1988), em sua constante produção da diversidade territorial. Se o conceito, enquanto ideia mais elaborada e geral que temos sobre o mundo, nunca esgota o entendimento da realidade e muito menos a substitui, ele também participa dela, na medida em que sua construção acaba sempre inter- ferindo não só na nossa leitura como também na nossa ação sobre o mundo. A questão principal será sempre a de perceber quais são os agentes e os processos que devem ser priorizados para enten- der as razões da diferenciação espacial e, somente a partir daí qual a escala em que ela se manifesta com maior clareza (ou coerência). [...] Atividades 1. Quando pensamos na história do pensamento geográfico e na definição do conceito de região, pode nos vir à mente momentos históricos e espacialidades que influenciaram ressignificações. Essas transformações são discutidas por vários teóricos, considerados representantes de diver- sas vertentes. Mais do que apenas listá-los, relacione a definição do con- ceito de geografia com a temporalidade e espacialidade de seus estudos. 2. Podemos dizer que diversos agentes influenciaram a transformação do conceito de região. Alguns desses são diretamente relacionados à ciência geográfica, outros são vinculados às novas formulações das ciências. Reflita sobre esses aspectos e escreva os principais eventos e teorias que proporcionaram essas mudanças de paradigmas. 3. O conceito de território é uma ferramenta analítica da geografia, o qual busca compreender as relações de poder que configuram e reconfigu- ram as organizações espaciais. Apesar do conceito de região – especial-Geografia Regional do Brasil – 22 – mente na contemporaneidade – ser influenciado pelas relações de po- der e o ato de regionalizar ser uma ação política, tratam-se de conceitos distintos. O que diferencia esses conceitos? Com base nesse princípio, como o conceito de região auxiliaria na compreensão da realidade? 4. A globalização é fundamental para compreender as configurações do espaço geográfico, que é o objeto da geografia. Desse modo, escreva como esse processo pode ser entendido quando relacionado ao con- ceito de região. Planejamento regional Como vimos no primeiro capítulo, o ato de regionalizar é em si um ato político que evidencia, sobretudo do ponto de vista territo- rial e do Estado, como a representação no espaço se dá por meio das relações de poder. Assim, neste capítulo sustentamos que o planeja- mento e o desenvolvimento econômico são idealizados e realizados na escala regional, principalmente em economias emergentes e peri- féricas, como é o caso do Brasil. Além de relacionarmos conceitos, fazemos um breve levantamento histórico do planejamento regio- nal brasileiro. Por fim, abordamos também a influência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é até hoje o principal órgão de referência para o planejamento regional no Brasil. 2.1 A região como escala de planejamento O planejamento é a ação de planejar, de estabelecer metas e diretrizes que pretendem manter ou modificar as ações sobre 2 Geografia Regional do Brasil – 24 – uma determinada situação. Quando referimo-nos ao planejamento regional, mais do que uma delimitação de escala (nesse caso a região), referimos-nos a um planejamento econômico e territorial, especialmente no caso do Brasil, de base capitalista. Assim, é interessante relembrarmos de qual conceito de região estamos nos referindo. Como já vimos, esse conceito pode ser apren- dido e utilizado de diferentes maneiras. Aqui, ele será trabalhado com base na definição de Gomes (1995), que relaciona a região a aspectos sociais, de fundamentação política, de controle e gestão de um território. Podemos dizer que o planejamento regional pode ser entendido de duas maneiras. A primeira se dá quando esse planejamento objetiva o desenvolvi- mento ligado ao capital. Para atingir essa finalidade, suas ações são focadas na redução de incertezas do processo capitalista em determinada área do espaço. Assim, essa ação estará centrada na diminuição das disparidades causadas pelo desenvolvimento econômico na distribuição espacial dos polos econômicos. A segunda possibilidade ocorre quando o planejamento regional busca garan- tir interesses ligados às populações afetadas por ele. Nesse caso, haverá um enfoque no controle do capital e no modo de extração de recursos da natu- reza, além de aspectos sociais e econômicos da população (THEIS, 2016). Segundo Bomfim (2007), a geografia como ciência adotou de maneira ampla diversas bases teóricas para refletir o ato de planejar o espaço. Nessa perspectiva, a região se aproximaria de uma área programada, na qual a divi- são teria como premissa a maximização da eficiência de um programa de desenvolvimento territorial. Para tanto, a regionalização seria parte desse pro- cesso, no qual suas delimitações estariam fortemente relacionadas às inten- ções e pretensões do planejamento regional. A expressão planejamento regional surgiu com o urbanista irlandês Patrick Geddes (1854-1932). Com forte influência da definição de região estabele- cida por Vidal de La Blache, as monografias regionais e seus levantamentos sobre a região natural deram subsídios para a compreensão e elaboração de metas de desenvolvimento do espaço. Entretanto, a primeira experiência de planejamento regional teve origem nos Estados Unidos, como parte do pro- grama New Deal durante o governo Roosevelt1. Esse programa tinha como 1 Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) foi presidente dos Estados Unidos de 1933 até sua morte, em 1945. – 25 – Planejamento regional objetivo a recuperação da economia norte-americana após a crise de 1929. Para tanto, foram adotadas medidas de combate ao desemprego, recuperação da agricultura por meio da criação de agências de crédito e fomento para agri- cultores, controle de preços para impulsionar a indústria, além de legislações que controlassem de maneira enfática o setor financeiro e tributário. O vale do Rio Tennessee (afluente dos rios Ohio e Mississipi), que tinha sua economia voltada para agricultura, era considerada umas regiões menos industrializadas dos EUA na década de 1930. Para suprir essa questão, foi criada a Tennessee Valley Autorithy (TVA), uma autarquia de planejamento econômico e territorial que existe até hoje. Baseada em uma política econô- mica do keynesianismo2, foram realizadas nesse rio obras de navegabilidade, usinas hidrelétricas, pontes e rodovias, bem como o gerenciamento de recur- sos hídricos e o desenvolvimento de energia nuclear. A TVA não influenciou apenas o modo como orientamos o planejamento regional brasileiro, mas também nossa matriz energética e a criação de grandes empreendimentos, principalmente pela política econômica dos governos de Getúlio Vargas3 (1882-1954) e Roosevelt, como verificaremos adiante. Figura 1 – Barragem de Guntersville (cidade do estado do Alabama, nos EUA) no Rio Tennessee. Fonte: Jeffrey Schreier/iStockphoto. 2 Veremos essa concepção detalhadamente nas próximas páginas. 3 Getúlio Dornelles Vargas governou o Brasil por 15 anos contínuos, no período de 1930 a 1945. Posteriormente, Vargas também foi presidente de 1951 a 1954. Geografia Regional do Brasil – 26 – Outro exemplo de planejamento regional é a Cassa per il Mezzogiorno, organização do governo italiano baseada no exemplo da TVA para o desenvol- vimento da Região Sul da Itália. O sul italiano é considerado a região menos desenvolvida economicamente do país. Entretanto, apesar da transferência de recursos, melhorias de infraestruturas e incentivos fiscais para a instalação de indústrias, essa ainda é uma região fortemente agrícola. Aspectos relacionados à corrupção e à máfia são entraves para seu desenvolvimento, fato que oca- siona, inclusive, o fechamento de importantes fábricas, como da Fiat. Figura 2 – A paisagem da Sicília (Itália) exemplifica sua forte relação com a agricultura. Essa é uma das áreas econômicas menos desenvolvidas do país até os dias de hoje. Fonte: Studioraffi/iStockphoto. Podemos observar que as teorias e dinâmicas envolvidas na ação de planejar estão implicitamente ligadas às teorias e políticas econômicas. Teoricamente, no capitalismo, o espaço é compreendido de maneira inte- grada e articulada – é daí que surge, por exemplo, a definição de globalização. Assim, a regionalização é sempre entendida como um corte arbitrário e está relacionada com a interação entre pontos do espaço sob uma ótica capitalista. – 27 – Planejamento regional A dinâmica regional, desse modo, estaria relacionada aos movimentos de capital entre diferentes pontos do espaço. A direção e a motivação seriam elementos para a formulação de teorias. Entre os principais autores dessa concepção estão François Perroux, Jacques Boudeville (1919-1975) e Douglas North (1920-2015). Destes, Perroux foi o mais importante para a compreensão e delimitação de políticas para o planejamento regional no Brasil. Autor da expressão polos de desenvol- vimento, sua teoria se baseou na industrialização como processo gerador de polos de aglomeração econômica. Com forte influência da revolução teoré- tica quantitativa, para Perroux, o espaço era abstrato, euclidiano4 e poderia ser compreendido pela matemática e estatística. Para ele, as relações que ocor- riam no espaço econômico não eram refletidas completamente no território nação, mas sim no domínio de alcance dosplanos econômicos de governo e dos indivíduos, especialmente instituições econômicas. Além disso, os com- plexos industriais viabilizariam o crescimento econômico por meio de polos de desenvolvimento. Na busca de uma aproximação com a interpretação geográfica, pode- mos encontrar em Santos (1996, p. 63) um modo de compreender a orga- nização espacial: O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e tam- bém contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a his- tória se dá. [...] Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro, o sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâ- mica e se transforma. Para o autor, o espaço era formado pela interação entre sistemas de obje- tos e sistemas de ações. Dessa forma, podemos perceber que – especialmente no caso brasileiro – o planejamento e a formulação de mudanças nos sistemas de objetos tinham como essência as transformações do sistema de ações no âmbito econômico e de desenvolvimento. Esse desenvolvimento deve ser aqui compreendido com base nas premissas do sistema capitalista. 4 Referente a Euclides, geômetra que viveu na cidade de Alexandria no século III a.C. Geografia Regional do Brasil – 28 – 2.2 Planejamento regional e desenvolvimento econômico no Brasil O planejamento regional e o desenvolvimento econômico no Brasil estão intimamente relacionados. Eles derivam dos processos de acumulação de capital de economias emergentes, que resultam em contrastes e depen- dências da concentração geográfica do capital, ou seja, acarretam o desenvol- vimento regional desigual (OLIVEIRA, 1981). Nesse sentido, verificamos que parte considerável das experiências de planejamento regional realizadas no Brasil buscaram a manutenção dos processos de concentração capitalista. Essas visavam corrigir desigualdades de distribuição de capital, mas não cor- rigiam necessariamente a mitigação de desigualdades socioespaciais relacio- nadas à extração desenfreada de recursos naturais e humanos. Assim, essas regiões não permaneceram dependentes e periféricas apenas daquelas mais desenvolvidas economicamente, mas também continuaram dependentes de economias centrais, em escala global. Antes de analisarmos detalhadamente os projetos existentes no Brasil, devemos compreender quais paradigmas foram absorvidos pelas políticas regionais e pelo ordenamento territorial e como esse processo incidiu sobre a ocupação territorial brasileira. Um dos primeiros paradigmas do planejamento regional brasileiro foi a política econômica conhecida como keynesianismo5, que compreendia que o Estado deveria assumir um papel intervencionista, isto é, que con- trolasse e ordenasse a economia. Esse pensamento perdurou dos anos 1950 até meados dos anos 1990, quando o neoliberalismo passou a dominar as políticas de governo. No neoliberalismo, o Estado deveria atuar de maneira restrita – como Estado mínimo –, no qual o mercado se autorregularia. Assim, caberia ao Estado apenas funções reguladoras sociais e assistencialistas (COSTA, 2008; CARDOSO JÚNIOR, 2011). Essa doutrina esteve muito presente no governo de Fernando Henrique Cardoso6 (1931-), caracterizado por políticas 5 Nome dado à teoria do economista inglês John Maynard Keines (1883-1946). 6 Popularmente conhecido como FHC, Fernando Henrique Cardoso foi presidente do Brasil de 1º janeiro de 1995 a 1º janeiro de 2003. – 29 – Planejamento regional de privatização. Essa mudança refletiu também no modo de compreender o desenvolvimento durante o período keynesiano. Nessa época, ele foi atrelado ao Estado, especialmente na criação de polos industriais, no projeto conhe- cido como nacional desenvolvimentista. Durante o neoliberalismo, o enfoque foi modificado. Depois dos anos 2000, com os governos de centro-esquerda de Luís Inácio Lula da Silva7 (1945-), foi retomada uma ação mais ativa do Estado, que estabeleceu um neodesenvolvimentismo8. Antes da Constituição Federal de 1988, o desenvolvimento e cresci- mento eram considerados apenas do ponto de vista econômico. A infraes- trutura ou sistema de objetos era voltada apenas para a melhoria de aspectos dessa ordem. Com instrumentos de preservação do meio ambiente, bem-es- tar social e cultural, a Constituição foi um agente modificador das políticas de planejamento regional. Os anos de 1980 também foram decisivos para a agricultura mundial. Após a Revolução Verde9, a industrialização e mecanização da agricultura, a emergência do mercado financeiro, a venda de commodities10 e os plane- jamentos regionais com enfoque no meio rural adquiriram novas facetas. Inicialmente, com o objetivo de criar novas fronteiras agrícolas e ocupar “vazios territoriais” (principalmente durante o Regime Militar, com o des- matamento de grandes áreas e a expansão da extração mineral), o agrone- gócio passou a ser visto como um motor da economia brasileira, especial- mente pelo superavit da balança comercial, gerado pela venda de commodities (SIQUEIRA, 2013). 7 Luiz Inácio Lula da Silva foi presidente do Brasil de 1º janeiro de 2003 a 1º janeiro de 2011. 8 De acordo com Sampaio Júnior, o neodesenvolvimentismo consiste “em conciliar os aspectos ‘positivos’ do neoliberalismo – compromisso incondicional com a estabilidade da moeda, aus- teridade fiscal, busca de competitividade internacional, ausência de qualquer tipo de discrimi- nação contra o capital internacional – com os aspectos ‘positivos’ do velho desenvolvimentis- mo – comprometimento com o crescimento econômico, industrialização, papel regulador do Estado, sensibilidade sócia” (SAMPAIO JR., 2012, p. 679). 9 A Revolução Verde – iniciada nos anos 1960 – orientou a pesquisa e o desenvolvimento de sistemas de produção agrícola com o objetivo de aprimorar e elevar a capacidade de pro- dução de cultivos. 10 Entendemos por commodities todo produto (matéria-prima em estado bruto) produzido em larga escala destinado ao comércio. Geografia Regional do Brasil – 30 – Essa importância dada ao meio rural brasileiro sempre esteve presente nos projetos de planejamento regional, seja por obras de irrigação e créditos de financiamento a produtores, seja como agente dos processos migratórios, pelo êxodo rural e a migração de regiões menos desenvolvidas para aquelas com maior industrialização. Especialmente nos últimos anos, a visão sobre o meio urbano e a qualidade da infraestrutura social e cultural mudaram as necessidades em relação às cidades e às dinâmicas populacionais. Os anos 1990 também foram um marco temporal para as relações esta- belecidas pelas economias mundiais. Antes, a relação centro-periferia refletia a assimetria/desigualdade das relações econômicas. Após a globalização, em meados dos anos 1980, essas relações se tornaram muito mais complexas e diversificadas (UDERMAN, 2008). A Constituição Federal de 1988 incluiu ainda dois importantes pontos focais nos debates regionais: a importância da preservação do meio ambiente e das comunidades tradicionais e como o turismo poderia atuar como agente modificador de economias e regiões periféricas. A necessidade de incluir no planejamento a opinião da população, por meio de audiências públicas e pla- nejamentos participativos, trouxe uma nova visão para os objetivos esperados do planejamento regional. Caberia muito mais controlar o capital do que apenas a criação de novos polos de desenvolvimento econômico. Esses paradigmas foram absorvidos de diferentes modos pelas políticas de planejamento regional viabilizadas por meio da criação de agências de desenvolvimento regional. A maioria foi criada na década de 1950, extintasdurante a década de 1990 e recriadas na década de 2000 especialmente com a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), no ano de 2007. Antes voltadas à criação de polos de desenvolvimento, essas políticas nos últi- mos anos têm incentivado a criação de distritos industriais, incubadoras para empresas de desenvolvimento e parques tecnológicos. Financiamentos e fun- dos de crédito ainda são mecanismos utilizados, e um dos principais agentes desse processo é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sobre o qual trataremos no próximo capítulo. Entretanto, apesar das tentativas, os resultados ainda estão longe dos esperados. Como poderíamos explicar o baixo alcance das metas de planeja- mento regional? Algumas das explicações estão fundamentadas em problemas – 31 – Planejamento regional políticos de superposição de órgãos, guerras fiscais entre estados, municípios e governo federal, o peso dado à criação de centros de desenvolvimento forte- mente ligados à industrialização (sem analisar se o mercado econômico estava favorável ou disposto a se relacionar com esses polos), além de fraudes e cor- rupções. Atualmente, uns dos grandes entraves para a geração de políticas de planejamento regional estão também na falta de metodologias eficientes de participação popular nos processos decisórios e avaliativos. De maneira resumida, podemos verificar que as inseguranças políticas e democráticas pelas quais o nosso país passou ao longo do tempo ocasiona- ram a burocratização das instituições e as sobreposições de interesses e ações. Baseado especialmente na criação de agências, superintendências e adoção de planos plurianuais, o planejamento regional brasileiro pouco evoluiu nas projeções que se propunha. Notamos que ele ainda é fortemente influenciado pela concentração de renda e pela economia dependente das oscilações do mercado internacional. Ainda neste capítulo, veremos como se deu o surgi- mento dessas agências e superintendências, e posteriormente analisaremos os planos plurianuais. Quadro 1 – Linha do tempo dos principais planos, agências e superintendências relacionadas ao planejamento regional brasileiro. Ano de criação Nome 1909 Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IOCS) 1938 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 1945 Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) 1948 Comissão do Vale do São Francisco (CVSF) 1950 Banco de Crédito da Amazônia 1952 Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) 1953 Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SPVEA) 1956 Plano de Metas Superintendência do Desenvolvimento do Sul (Sudesul) 1959 Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) 1963 Plano trienal Geografia Regional do Brasil – 32 – Ano de criação Nome 1964 Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) 1966 Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e Banco da Amazônia 1967 Superintendência do Vale do São Francisco (Suvale), Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e Superintendência do Desenvolvimento do Sul (Sudesul) 1972 I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) 1974 Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) 1975 II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) 1980 III Plano Nacional de Desenvolvimento (III PND) 1986 I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (I PND-NR) 1987 Plano de Ação Governamental 1990 Extinção da Sudeco e da Sudesul 1991 Plano Plurianual 1996 Programa Brasil em Ação 2000 Programa Avança Brasil 2001 Extinção da Sudam 2001 Criação da Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA) Extinção da Sudene Criação da Agência do Desenvolvimento do Nordeste (Adene) 2004 Programa Brasil de Todos 2007 Extinção da ADA Recriação da Sudam Extinção da Adene Recriação da Sudene Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) 2009 Recriação da Sudeco Fonte: Elaborado pela autora. – 33 – Planejamento regional O Nordeste brasileiro sempre esteve no centro das políticas de desen- volvimento econômico e no planejamento regional. Muito dessa questão está relacionada às especificidades físicas, como grandes estiagens, solos sali- nos e deficit hídrico. Esses aspectos dificultaram o desenvolvimento econô- mico, baseado especialmente na agricultura convencional, fato que ocasio- nou o empobrecimento da população e movimentos migratórios de êxodo. Desse modo, criou-se o imaginário de “região problema” já nos primeiros governos republicanos. Em 1909, no governo de Nilo Peçanha, foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), com o objetivo de coletar dados referentes aos aspec- tos físicos, principalmente meteorológicos e geológicos, que dessem os subsí- dios necessários para obras governamentais. Entretanto, essa ainda não pôde ser considerada uma proposta de planejamento regional, tendo em vista o enfoque paliativo das consequências das estiagens, e não necessariamente um plano de desenvolvimento regional. Foi somente após o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), com a adoção do modelo de Estado intervencionista na ditadura do Estado Novo, que foi incorporada a ideia de planificação da política econômica governamental. Emergiu daí a concepção de política pública, que tornou a administração pública complexa, planejada, regular e duradoura (PESSOA, 2006). É nesse contexto político-econômico brasileiro que houve a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fundamental para a implementação de políticas em escala regional e início do planejamento regio- nal brasileiro11. Surgiu também nesse momento o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), em 1942. No entanto, foi apenas no final do Estado Novo e com a Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946 que o planejamento regional brasileiro sofreu sua grande transformação. Na Constituição estava presente uma série de designações ao desenvolvimento regional. Uma delas era o art. 29, que tratava do vale do São Francisco e teve como desdobramento a Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), em 1948, empresa pública com autonomia administrativa e financeira diretamente ligada à presidência da república. 11 Aspectos relacionados à criação e ao desenvolvimento do IBGE serão abordados em capí- tulos futuros. Geografia Regional do Brasil – 34 – Seu objetivo consistia na criação de planos de aproveitamento para regula- mentação dos recursos hídricos e fomento econômico, principalmente com indústrias e irrigação para a agricultura. O início dos anos de 1950 foram mar- cados pela criação do Banco de Crédito da Amazônia, em 1950, e o Banco do Nordeste Brasileiro (BNB), em 1952. No segundo governo de Getúlio Vargas, foi criada a Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), no ano de 1953. Durante o governo de Juscelino Kubitschek12, foi criada, em 1956, a Superintendência do Desenvolvimento da Fronteira Sudoeste (SPVESUD) e, em 1959, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Dentre as atribuições destacavam-se estudar e propor diretrizes para o pla- nejamento e o desenvolvimento regional. Para tanto eram criados projetos e programas de assistência técnica. Durante a ditadura militar, houve o fortalecimento dos órgãos de planejamento econômico. Em 1966, foi criada a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), destinada ao planejamento e desen- volvimento da então chamada Amazônia Legal. Em 1967, foram criadas a Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE), a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e a Superintendência do Desenvolvimento da Região Sul (Sudesul). Em 1974 foram criados o Conselho de Desenvolvimento Econômico e aSecretaria de Planejamento da Presidência da República (Seplan). Nesse ano também foi criada a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf ), que além de gerir o aproveitamento dos recursos hídricos e do uso do solo, tinha por atribuição a promoção do desenvolvimento integrado da economia e a implantação de distritos agroindustriais. Após inúmeras críticas ao modo de organização dessas agências, casos de corrupção e ineficiência dos projetos, foram extintas no ano de 1990 a Sudeco e a Sudesul. A Sudene também foi extinta e substituída pela Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene) e a Sudam foi sucedida pela Agência de 12 Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) foi presidente do Brasil no período de 31 de janeiro de 1956 a 31 de janeiro de 1961. – 35 – Planejamento regional Desenvolvimento da Amazônia (ADA)13, desdobramento das políticas neolibe- rais do governo de Fernando Henrique Cardoso. Em 2000, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco alterou sua razão social para Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf ). Em 2010 sua área de atuação foi ampliada e a Companhia é até hoje um importante agente no processo de transposição do Rio São Francisco. A retomada de uma visão neodesenvolvi- mentista durante os governos de Luís Inácio Lula da Silva fez com que antigas superintendências fossem recriadas: a Sudam e a Sudene, no ano de 2007, e a Sudeco, em 2009. Nos mapas a seguir podemos verificar as sobreposições de órgãos de desenvolvimento e sua variabilidade espaço-temporal na história do planejamento regional brasileiro: Mapa 1 – Delimitação da área de atuação do IOCS (1909), antecedente dos planos de planejamento regional brasileiro. Inspetoria de obras Contra Secas (IOCS -1909) Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE e SILVA, 2014. 13 As principais atribuições da ADA consistiam em gerir seus respectivos fundos de desen- volvimento regionais, implementar estudos e pesquisas, promover e fortalecer as estruturas produtivas e implementar programas de capacitação. Geografia Regional do Brasil – 36 – Mapa 2 – Área de atuação atual da Codevasf. Companhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Fonte: Elaborado pela autora com base em SILVA, 2014. Mapa 3 – Área de atuação atual da Sudene. Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Fonte: Elaborado pela autora com base em SILVA, 2014. – 37 – Planejamento regional Mapa 4 – Área de atuação atual da Sudam. Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Fonte: Elaborado pela autora com base em SILVA, 2014. Nos três primeiros mapas (1, 2 e 3), podemos compreender como foram alteradas as áreas de atuação das diferentes agências governamentais criadas para a atual região Nordeste, sempre com o objetivo de combater os efeitos climáticos da seca sob a economia e a sociedade. É interessante destacar a modificação da Codevasf, não apenas com a inclusão da bacia do Rio Parnaíba, mas também com as áreas influenciadas pela transposição do Rio São Francisco. Com relação ao Mapa 4 da Sudam, verificamos que nos dias atuais sua abrangência ultrapassa os limites da regionalização oficial do IBGE por estados brasileiros. O estado do Mato Grosso é incluído oficial- mente na região Centro-Oeste e parte do estado do Maranhão é delimitado como Amazônia Legal. 2.3 O planejamento regional brasileiro para além das superintendências Nos itens anteriores, verificamos que o planejamento regional brasileiro sempre foi marcado por um enfoque economista de desenvolvimento. Essa Geografia Regional do Brasil – 38 – questão foi fortemente influenciada por mudanças políticas – especialmente crises democráticas, como o golpe militar de 1964. Desse modo, o Brasil estabeleceu uma correlação direta com a economia internacional, porém per- maneceu como uma economia periférica. Nesta seção, analisamos as políticas de desenvolvimento, seus desdobramentos e outras espacializações do plane- jamento regional do país. Apesar de terem existido outros planos, foi o governo de Juscelino Kubitschek, com seu o Plano de Metas, o primeiro a estipular objetivos para o setor privado e estimular estudos relacionados ao diagnóstico da economia brasileira. Com forte influência da criação do BNDES, Kubitschek criou um programa de governo baseado na frase “50 anos em 5”. O Plano de Metas foi um conjunto de objetivos – 31 no total – que os setores-chaves da economia deveriam alcançar. Já no governo seguinte, de João Goulart14 (1918-1976), em que o cená- rio econômico apresentava dificuldades, foi necessária a elaboração de outro plano econômico, o Plano Trienal, que tinha como premissa o combate à inflação baseado na controle do deficit público. Esse plano foi interrompido pelo Golpe de 1964. Apesar da intervenção, esse foi um importante marco para a ampliação da visão dos planos de desenvolvimento e agregou uma visão global da economia. O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) – elaborado em 1970 com base na ideologia política de segurança e desenvolvimento – criou um modelo de organização que consistiu em moldar as instituições por meio do poder do Estado. Esse plano objetivava a implementação da teoria de polos de crescimento e compreendia que a industrialização seria o meio ideal para alcançar o desenvolvimento econômico. Por meio da teoria de Perroux, os governos militares se aproximaram da relação entre o para- digma da industrialização como polo de desenvolvimento e a presença de um Estado desenvolvimentista. No I PND houve um forte estímulo para a instalação de indústrias de bens duráveis, em especial automobilística. Até hoje encontramos reflexos desse momento, como a forte influência das rodovias e do sistema rodoviário 14 João Goulart, popularmente conhecido como Jango, foi presidente do Brasil de 7 de setem- bro de 1961 a 1º de abril de 1964. – 39 – Planejamento regional de transporte de cargas no modal brasileiro. Além da instalação de indús- trias, houve grande investimento na criação e ampliação do sistema rodoviá- rio nacional. No II PND (1975-1979) ocorreu a mudança no enfoque das indústrias instaladas (siderúrgicas, de eletrônica pesada15 e de fertilizantes) – foram priorizadas as relacionadas aos bens de capitais – e a manutenção das altas taxas de crescimento econômico alcançadas no I PND (na ordem de 10% ao ano). Apesar do aumento da inserção brasileira na divisão internacional do trabalho (FURTADO, 1981), a inconsistência financeira do BNDES naquele momento não garantiu a estabilidade de financiamentos necessá- rios, bem como a crise política com o fim do período da ditadura militar. No Mapa 5 verificamos, por exemplo, o planejamento do II PND com o Poloamazônia, com investimentos nos setores mineral, metalúrgico e agropecuário. Esse período foi fortemente marcado pelo genocídio de populações indígenas nessa região, o que causou graves problemas sociais e ambientais e a intensificação das desigualdades. Nesse mesmo mapa também podemos compreender a espacialidade desses polos. Com a frag- mentação dos planos e das ações, esses polos eram compreendidos como pontos focais dos quais o desenvolvimento se estenderia para o entorno. Essa expansão seria possível por meio da infraestrutura de ligação dos polos, que foi um forte argumento para altos investimentos no setor rodo- viário, por exemplo. Como resultado desse suposto milagre, houve um enfraquecimento do planejamento regional no Brasil. A necessidade de redução do defi- cit público, a renegociação das dívidas externase o controle da inflação dominaram o cenário no início dos anos 1990. Além disso, a sobreposição do Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (I PND-NR) em 1985, o Plano de Consistência Macroeconômica (PCM) e o Programa de Ação Governamental (PAG) de 1987 causou a limitação das ações programas. 15 Indústrias pesadas são aquelas cuja produção é absorvida por outras indústrias, isto é, são indústrias que produzem máquinas ou matérias-primas. Dentre os principais ramos, podemos destacar as indústrias metalúrgicas, petroquímicas e de cimento. Geografia Regional do Brasil – 40 – Mapa 5 – Programas econômicos de integração nacional no período da Ditadura Militar (1964-1985). Região geoeconômica de Brasília Polonordeste Poloamazônia Polocentro Bacia do Paraguai Sudesul Fonte: Elaborado pela autora com base em THÉRY; THÉRY, 2008, p. 269. Com as novas influências neoliberais dos governos FHC e após o Plano Real houve um forte empenho na manutenção da estabilidade monetária. O Programa Brasil em Ação, embasado na criação de eixos nacionais de integração e desenvolvimento – que compreendiam a geografia econômica do país, os fluxos de bens e serviços –, por vezes ultrapassava os limites estaduais e regionais com base na divisão regional oficial do IBGE. O – 41 – Planejamento regional planejamento consistiu na busca por ligações entre os polos que já recebiam investimentos em outros governos e por isso possibilitavam uma maior troca de fluxos de bens e capitais. Com uma visão neoliberal de economia governamental, nesse período muitas rodovias foram privatizadas, o que ocasionou o aumento do número de postos de pedágios. Baseado no mapeamento dos fluxos de mercadoria, os eixos delimi- tavam áreas geográficas com um viés regional de mercado (influência da lógica da produção) e pensavam a rede urbana de maneira hierarquizada, pela ótica do consumo de bens e serviços. Assim, apenas algumas áreas eram de interesse para o capital e, consequentemente, para a internacio- nalização econômica. Seria o surgimento de uma nova geografia econô- mica para o país. O Programa Avança Brasil (2000-2003) foi marcado pelo termo custo Brasil, que consistiu em um conjunto de ineficiências e distorções que atingiram a competitividade do país em relação a outras nações. Fatores como sistema tributário desproporcional e injusto, malha rodoviária em más condições, administração pública corrupta, os altos encargos traba- lhistas, elevadas taxas de juros, altos índices de violência, inadimplência e burocracia estatal eram aspectos a serem combatidos. Desse modo, bus- cou-se a otimização de resultados, sempre com vistas à redução de prazos e custos federais. Com forte caráter economicista e um modelo gerencial de planeja- mento econômico nacional, esse período foi marcado pela guerra fiscal entre estados e municípios, com o objetivo de arrecadar mais impostos e centralizar investimentos públicos. Como resultados desses anos de ten- tativas de planejamento regional voltado ao desenvolvimento econômico, obtivemos muitas mudanças nos sistemas de objetos com grandes obras de engenharia, mudanças no uso e ocupação do solo, reorganização demo- gráfica e conflitos pela terra cada vez mais violentos. O mapa de frentes pioneiras de Théry e Théry (2008, p. 286) evidencia esses fatores. Geografia Regional do Brasil – 42 – Mapa 6 – Frente pioneira de desenvolvimento regional, início do século XXI. Arco de desmatamento Mortes em Conflitos rurais (1985-1991) Progressão de produção de soja (1977-1999) Fonte: Elaborado pela autora com base em THÉRY, THÉRY, 2014, p. 289. Com a eleição de governos de centro-esquerda, houve o retorno ao desen- volvimentismo, ao neodesenvolvimentismo e às políticas de planejamento regional. A Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) – por meio do Plano Brasil de Todos, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Programa Bolsa Família e do Plano de Desenvolvimento da Educação – estimulou a inclusão social e a redução das desigualdades. Essa política ocasionou o crescimento de emprego e renda de maneira ambiental- mente sustentável, reduziu as desigualdades regionais e possibilitou desen- volvimento da cidadania e da democracia. No mapa a seguir, observamos um novo modo de regionalização, não embasado administrativamente em – 43 – Planejamento regional Estados federativos, mas sim em macrorregiões, formadas por agrupamento de municípios. Mapa 7 – Macrorregiões da PNDR. Belém Belo Horizonte Boa Vista Brasília Campo Grande Cuiaba Curitiba Fortaleza Goiânia Macapá Manaus Palmas Porto Alegre Porto Velho Recife Rio Branco Rio de Janeiro Salvador São Luis São Paulo Araguaína Cruzeiro do Sul Tabatinga Itaituba Marabá Santarém Juazeiro Petrolina Imperatriz Eliseu Martins Barreiras Vitória da Conquista Montes Claros Teófilo Otoni Uberlândia Cascavel Chapecó Santa Maria Sinop Extremo Sul Fortaleza Territórios estratégicos Aglomerações sub-regionais Aglomerações locais Aglomerações geopolíticas Macrorregiões Manaus Recife Rio de Janeiro Salvador São Paulo Sousa Crajuba - Crato - Juazeiro do Norte - Barbalha Legenda: Brasil Central Ocidental Brasil Central Belo Horizonte Belém-São LuísMacropolos consolidados Novos macropolos Belém Belo Horizonte Boa Vista Brasília Campo Grande Cuiaba Curitiba Fortaleza Goiânia Macapá Manaus Palmas Porto Alegre Porto Velho Recife Rio Branco Rio de Janeiro Salvador São Luis São Paulo Araguaína Cruzeiro do Sul Tabatinga Itaituba Marabá Santarém Juazeiro Petrolina Imperatriz Eliseu Martins Barreiras Vitória da Conquista Montes Claros Teófilo Otoni Uberlândia Cascavel Chapecó Santa Maria Sinop Extremo Sul Fortaleza Territórios estratégicos Aglomerações sub-regionais Aglomerações locais Aglomerações geopolíticas Macrorregiões Manaus Recife Rio de Janeiro Salvador São Paulo Sousa Crajuba - Crato - Juazeiro do Norte - Barbalha Legenda: Brasil Central Ocidental Brasil Central Belo Horizonte Belém-São LuísMacropolos consolidados Novos macropolos Fonte: BRASIL, 2008b, p. 37. Geografia Regional do Brasil – 44 – Segundo Uderman (2008), esse foi um período de desenvolvimento endó- geno, com as primeiras experiências de sistemas participativos no estabeleci- mento de metas, especialmente fóruns de participação social. Nessa época tam- bém foram recriadas as superintendências da Sudene, da Sudam e da Sudeco. Conclusão Como verificamos, os contextos histórico, político, democrático e eco- nômico nacional/mundial influenciam diretamente os caminhos que o pla- nejamento regional – de caráter econômico desenvolvimentista – percorreu. Na atualidade, as incertezas nesses campos claramente influenciam o planeja- mento regional. Neste momento, cabe a nós avançarmos na compreensão dos processos históricos e nas ferramentas analíticas da geografia para analisar o presente e, por que não, futuramente contribuir para o planejamento regional brasileiro como geógrafos. Ampliando seus conhecimentos Para pensarmos melhor o planejamento regional no Brasil, sugerimos a leitura de um trecho do artigo “Desenvolvimento desigual e planejamento regional no Brasil”, de Ivo Marcos Theis, professor da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Desenvolvimento desigual e planejamento regional no Brasil (THEIS, 2016, p. 81-83) [...] o Brasil é uma formação social periférica, submetida à lógica do desenvolvimento desigual do capital. O que isso significa? Que o processo de desenvolvimento que vem tendo lugar no Brasil, fortemente, condicionado
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