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Livro - Geografia Regional do Brasil - parte 1

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GEOGRAFIA REGIONAL
DO BRASIL
Manoella de Souza Soares
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A geografi a regional – tema central desta obra – tem, historicamente, uma po-
sição central na geografi a. Há refl exões que consideram o conceito de região 
o meio pelo qual a geografi a percorreu para se consolidar como uma ciência 
moderna. De produto-síntese do conhecimento geográfi co a conceito curinga 
da geografi a, a região, como ferramenta analítica, ultrapassa a noção de área e 
representa de maneira mais ampla o espaço geográfi co. 
Aqui, buscamos aproximar você, leitor, desse tema que é ao mesmo tempo 
teórico – devido a correntes de pensamento e visões de mundo – e prático, em 
razão da concretude das regionalizações, dos planejamentos e ordenamentos 
territoriais e representações cartográfi cas. 
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6391-8
CAPA_Geografia regional do Brasil.indd 1 05/02/2018 09:44:01
Manoella de Souza Soares
IESDE BRASIL S/A
Curitiba
2018
Geografia Regional 
do Brasil
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S655g Soares, Manoella de Souza
Geografia regional do Brasil / Manoella de Souza Soares. - 1. ed. - 
Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2018. 
184 p. : il. ; 21 cm.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6391-8
1. Brasil - Geografia. 2. Geografia regional. I. Título.
17-46717 CDD: 918.1
CDU: 913(81)
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
© 2018 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer 
processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais.
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Produção
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão IESDE
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Vitor Bernardo Backes Lopes
Imagem Capa MatiasDelCarmine/Lari Borges/los_ojos_pardos/
white snow/Rita Ko/Julinzy/Shutterstock.com
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
 Carta ao aluno | 5
1. O conceito de região | 7
2. Planejamento regional | 23
3. O Estado e a escala regional | 47
4. O IBGE e a regionalização oficial do Brasil | 65
5. A regionalização do território brasileiro | 89
6. Divisão regional do Brasil | 103
7. As regiões brasileiras: caracterização e reflexões | 121
8. A questão regional para além da regionalização | 141
Gabarito | 157
Referências | 169
Carta ao aluno
A geografia regional – tema central desta obra – tem histo-
ricamente uma posição central da geografia. Há reflexões que con-
sideram o conceito de região o meio pelo qual a geografia percorreu 
para se consolidar como uma ciência moderna. De produto-síntese 
do conhecimento geográfico a conceito curinga da geografia, a região, 
como ferramenta analítica, ultrapassa a noção de área e representa de 
maneira mais ampla o espaço geográfico. 
Aqui, buscamos aproximá-lo desse tema que é ao mesmo 
tempo teórico – devido a correntes de pensamento e visões de mundo 
– e prático, em razão da concretude das regionalizações, dos plane-
jamentos e ordenamentos territoriais e representações cartográficas. 
No Capítulo 1, trazemos o conceito de região sob as diferen-
tes abordagens existentes no pensamento geográfico e sua relação 
com outros importantes conceitos. Ainda em um caminho teórico, 
– 6 –
Geografia Regional do Brasil
apresentamos no Capítulo 2 a região como unidade de escala para o planeja-
mento. Para tanto, utilizamos o método regional como alicerce teórico. 
O Capítulo 3 apresenta a interface territorial do conceito de região e dis-
cute a ação da administração pública no planejamento regional, que faz surgir 
a noção de poder e do papel do Estado como agente planejador.
Com base no papel desempenhado pelo Estado e nas monografias regio-
nais, o Capítulo 4 discute a importância do Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE) no desenvolvimento e na difusão de conhecimento. Além 
disso, verificamos a proposta oficial de regionalização brasileira empreendida 
por esse mesmo órgão. 
No Capítulo 5, compreendemos como as regionalizações são desenvol-
vidas e nos apropriamos de ferramentas analíticas, com o objetivo de criar 
habilidades para regionalizar na qualidade de futuros geógrafos. 
Além do IBGE, a geografia regional brasileira conta com propostas de 
importantes autores, como Roberto Lobato Corrêa e Milton Santos. No 
Capítulo 6, demonstramos a importância e as diferenças dessas propostas. 
A visão de um mosaico, com partes distintas, mas que formam um con-
junto coerente e harmônico é comum na geografia. Com base na classificação 
proposta pelo IBGE, apresentamos no Capítulo 7 uma caracterização das 
regiões brasileiras. Com isso, ultrapassamos a simples criação de um compi-
lado de dados e almejamos uma reflexão da realidade socioespacial brasileira.
Concluímos esta obra com uma reflexão sobre o potencial do conceito 
de região proposto pela geografia cultural – que perpassa questões de plane-
jamento regional e abordagens territoriais – e a visão humanística do espaço 
geográfico. Assim, o Capítulo 8, além de apresentar uma proposta de regio-
nalização com base em obras literárias brasileiras, propõe uma provocação: 
entender a questão regional para além da regionalização. 
Por fim, não concluímos o debate acerca da geografia regional. Pelo con-
trário, buscamos subsidiar você, leitor, com ferramentas analíticas e reflexivas 
para atuar como importante agente de transformação, seja como pesquisador, 
planejador, cidadão ou professor. Este último, em especial, tem o potencial 
de unir todas essas habilidades, principalmente para a formação de crianças 
e adolescentes. 
O conceito de região
O conceito de região é uma das principais ferramentas ana-
líticas da geografia. Sua história está diretamente ligada à formação 
da geografia como ciência moderna, sendo considerado por vezes 
o próprio saber geográfico. No passado, dominar esse conceito era 
dominar o conhecimento geográfico. Sua posição central em dis-
cussões da geografia fez com que sua interpretação fosse modificada 
ao longo dos séculos. Desse modo, neste capítulo não apresentamos 
uma definição fechada e acabada do que significa região, mas sim 
uma reflexão sobre esse conceito ainda tão presente em trabalhos e 
no discurso da geografia.
1.1 A região na história do 
pensamento geográfico
O uso de um termo que busque explicar eventos ou fenô-
menos da realidade reflete o momento histórico e os personagens 
envolvidos na geração desse conhecimento – e com o conceito de 
1
Geografia Regional do Brasil
– 8 –
região não poderia ser diferente. Assim, no decorrer desta seção vamos conhe-
cer a origem desse conceito e como ele foi modificado.
No Império Romano, o termo região emergiu como um conceito impor-
tante. Originado do latim regere, estava relacionado, além das noções de loca-
lização e extensão, à centralização do poder em uma porção do espaço de alta 
diversidade social, cultural e espacial. 
No auge de suas conquistas, o Império Romano foi um exemplo per-
feito do surgimento do poder centralizado e, com isso, das complexas rela-
ções entre o poder político e administrativo, áreas sujeitas a essa hegemonia. 
Com seu declínio, houve a fragmentação de seu território. Assim, as antigas 
regiones foram subdivididas e deram forma ao poder autônomo dos feudos, 
que predominaram na Idade Média.
Mapa 1 – Divisão do Império Romano emregiões no ano 117 d. C. 
Dirráquio
Tessalônica
Corinto Atenas
Filípolis
Bizâncio
Niceia
Éfeso
Mileto
NaissoSalona
Aquileia
Cremona
Mediolano
Massília
Nápoles
Tarento
Siracusa
Cartago
Útica
Tingi
Nova Cartago
Londínio
Colônia
Agripina
Panormo
Caralis
Aléria
Narbo Márcio
Tarraco
Lungduno
Limono
Burdigala
Augusta
Treveroro
Augusta
Vindelicoro
Lauriaco
Lutécia
Vindobona
Aquinco
Napoca
Apulo
Sarmisegetusa
Durostoro
Tomis
Cirene
Alexandria
Mênfis
Petra
Salamis
Tarso
Tiro
Jerusalém
Tarso
Antioquia
Cesareia
Trapezo
Artaxata
Nisibis
Ctesifonte
Babilônia
Ólbia
Ancira
Cesareia
Cirta
Léptis Magna
Eboraco
Deva
Itálica
Salamântica
Emerita Augusta
César Augusta
MAGNA
GERMÂNIA
IBÉRIA
ARÁBIAProvíncias senatoriais
Províncias imperiais
Estados clientes
Butroto IMPÉRIO
PARTO
SARMÁTIA
FAZÂNIA
GETÚLIA
HIBÉRNIA
CALEDÔNIA
Toleto
Gades
Córduba
REINO DO
BÓSFORO
Edessa
OCEANO
PONTO EUXINO
Mare Nostrum
MAR
GERMÂNICO
ARMÊNIA
SÍRIA
JUDEIA
CHIPRE
SICÍLIA
CÓRSEGA
SARDENHA
MAURITÂNIA
CESARIENSE
LUSITÂNIA ITÁLIA
ÁSIA
LÍCIA E
PANFÍLIA
MACEDÔNIA
ACAIA
TRÁCIA
DÁCIA
MÉSIA
SUPERIOR
MÉSIA
INFERIOR
NÓRICA
RÉTIAAQUITÂNIA
BRITÂNIA
1. ALPES PENINOS
2. ALPES COTIOS
 3. ALPES MARÍTIMOS
ÉPIRO
MESOPOTÂMIA
ASSÍRIA
CILÍCIA
ARÁBIA
PÉTREA
EGITO
CAPADÓCIA
GALÁCIA
BITÍNIA E 
PONTO
LUGDUNENSE
TARRACONENSE
BÉTICA
MAURITÂNIA
TINGITANA
ÁFRICA
PROCONSULAR
NARBONENSE
BÉLGICA
CIRENAICA
E
CRETA
DALMÁCIA
GERMÂNIA
INFERIOR
GERMÂNIA
SUPERIOR
PANÔNIA
SUPERIOR
PANÔNIA
INFERIOR
Fonte: Andrei Nacu/Wikimedia Commons.
Contudo, as questões sobre essa noção persistiram e não desaparece-
ram com o tempo. Assim, desde o surgimento desse conceito, é possível 
– 9 –
O conceito de região
estabelecer relações entre a sua etimologia e a noção de um espaço delimitado 
e organizado por um governo local. Percebe-se que sua origem é relacionada 
à necessidade de um momento histórico, cuja principal característica era a 
centralização do poder (GOMES, 1995). 
Com a formação dos Estados modernos, novamente surgiu a necessi-
dade de relacionar o poder centralizado às diversas unidades administravas. 
Assim, a mesma questão da Antiguidade Clássica ressurgiu. Gomes (1995) 
elenca três importantes consequências da origem do conceito de região nesse 
contexto. A primeira se deu na esfera do debate político sobre a formação 
e dinâmica do Estado, por meio da organização cultural e da diversidade 
espacial das unidades administrativas. A segunda consistiu no modo como 
a região representava, nesse momento, as projeções de soberania, direito e 
autonomia e atribuía um componente espacial inquestionável ao conceito. 
Por fim, a terceira consequência acarretou a eminência da formação da geo-
grafia como ciência moderna, tornando a região um de seus conceitos-chave. 
Na linguagem cotidiana do senso comum, podemos verificar a palavra 
região em expressões vagas, incertas, em que não existe a necessidade de esta-
belecer um limite para sua abrangência. Nesse sentido, reflexões são deixadas 
de lado, apenas um impulso momentâneo indica as diretrizes de sua utilização. 
Assim, os princípios de localização e de extensão são os únicos condicionantes 
do emprego da palavra. Não há uma especificação, fato que impossibilita o 
discernimento na diferenciação entre região, local, espaço e território, por vezes 
tratados como a sinônimos.
Na metade do século XIX, as ciências passaram por um momento de con-
solidação. Com base nas ideias de Immanuel Kant (1724-1804), segundo o 
qual o conhecimento verdadeiro seria aquele verificável e seu princípio básico 
seria a causalidade, vários estudiosos qualificaram os métodos e os objetivos de 
suas respectivas ciências. No caso da geografia, Karl Ritter (1779-1859) foi o 
responsável por essa consolidação. Por meio de sua obra Geografia comparada, 
os objetivos e os métodos geográficos tornaram-se mais concisos. Nesse con-
texto, a região estava fortemente relacionada com a discussão das influências 
do meio natural na sociedade, uma corrente que se baseava em um domínio 
do ambiente sobre a orientação do desenvolvimento social.
Geografia Regional do Brasil
– 10 –
Foi também nesse momento que surgiram dois importantes autores 
da geografia moderna: Friedrich Ratzel (1844-1904), com o conceito de 
espaço vital – por vezes interpretado, de maneira equívoca, como sinônimo 
de região –; e Paul Vidal De La Blache (1845-1918), com o conceito de 
região natural, discutido em sua obra Tableau de la géographie de la France 
(1903). Em ambos os autores, o ambiente atua como limitante na conti-
nuidade regional. E apenas pelos meios técnicos o homem poderia superar 
as barreiras do ambiente. A vida social seria construída pela possibilidade 
do homem de atuar como agente de organização espacial das sociedades.
No entanto, os pontos de vista desses dois autores eram opostos. Ratzel 
era rotulado como determinista, enquanto Vidal de La Blache era conside-
rado possibilista. Na perspectiva possibilista, a região seria o produto das ati-
vidades humanas sobre o ambiente físico. Entretanto, o nome possibilismo foi 
dado por Lucien Febvre (1878-1956), como verificamos no texto de Mercier 
(2009, p. 7):
Tal oposição provém, em larga medida, do comentário partidário de 
Lucien Febvre (1922) que, para melhor condenar os presumidos erros 
de Ratzel, caricaturou seu pensamento confinando-o a algumas sen-
tenças lapidares revestidas sob o pejorativo título de “determinismo”. 
Inversamente, para garantir o triunfo de Vidal sobre Ratzel, atribui ao 
francês a paternidade de uma doutrina – o “possibilismo” – cuja prin-
cipal qualidade era, justamente, invalidar o falacioso determinismo. 
A categoria de região natural – que representava um produto, uma por-
ção do espaço delimitada por aspectos relacionados à geografia física, com 
forte influência da geologia –, ajudou na delimitação das regiões por bacias 
hidrográficas, consideradas demarcadores naturais (CLAVAL, 1976). 
Uma das construções práticas e teóricas que permanecem até hoje sobre 
essa categoria foi postulada por Andrew John Herbertson (1865-1915). Em 
sua proposta de regionalização da Terra, ele a dividiu em: polar, temperada 
fria, temperada quente, tropical, montanhosa subtropical, terras baixas e 
úmidas equatoriais. O IBGE, fortemente influenciado por essa noção, deli-
mitou as macrorregiões naturais também desse modo. Trabalharemos mais 
sobre essa questão nos próximos capítulos.
Com a emergência do pensamento possibilista, o conceito de região pas-
sou a ser trabalhado como região humana, e com a escola francesa, o gênero 
– 11 –
O conceito de região
vida passou a fazer parte dos conceitos vinculados à região. Essa seria uma 
região de enfoque cultural, mas que teria como subsídio a base física e natu-
ral, elevada pela ação do homem em sua organização por meio da técnica. 
Nesse sentido, região e paisagem por vezes se tornam sinônimos. Essa união 
de aspectos físicos e humanos a fazem um produto e ao mesmo tempo uma 
síntese do saber geográfico. Desse modo, surgiu então a região geográfica:
A região geográfica abrange uma paisagem e sua extensão territorial, 
onde se entrelaçam de modo harmonioso componentes humanos e 
natureza. A ideia de harmonia, de equilíbrio, evidente analogia orga-
nicista que Vidal de La Blache adota, constitui o resultado de um 
longo processo de evolução, de maturação da região, onde muitas 
obras do homem fixaram-se, ao mesmo tempo com grande força de 
permanência e incorporadas sem contradições ao quadro final da ação 
humana sobre a natureza.(CORRÊA, 2000, p. 28)
A região geográfica passou a ser o produto-síntese da geografia, que conden-
saria as ações transformadoras da sociedade sobre o ambiente. Podemos observar 
que apesar da mudança de enfoque, o conceito de região ainda é considerado um 
produto, uma realidade concreta e física. Assim, o papel da geografia não estava 
necessariamente na delimitação de regiões, mas sim na busca de uma personali-
dade, uma assinatura que a diferenciasse das demais e a tornasse particular.
Vidal de La Blache (1921) ressurgiu como expoente quando afirmou 
que apenas a descrição do espaço permitiria compreender a complexa estru-
tura dinâmica do espaço. Nesse período, a criação de monografias regionais 
foram um dos principais objetivos da geografia. Eram quase como receitas 
de bolo, que iniciavam com a descrição das características físicas (como geo-
logia, vegetação e clima), passavam pela descrição estatística da população e, 
por fim, suas atividades econômicas. Para tal, o trabalho de campo se tornou 
parte fundamental, tanto para aproximação do pesquisador na área quanto 
para o levantamento detalhado de informações para essas monografias. 
Essas características de estudo ficaram conhecidas como Escola Francesa 
de Geografia, que permaneceu no auge do cenário acadêmico europeu por cerca 
de 50 anos e foi amplamente incorporada por outros países, entre eles o Brasil. 
No método regional, trabalhado especialmente por Hartshorne (1978, 
p. 138), “a região é uma área de localização específica, de certo modo distinta 
de outras áreas, estendendo-se até onde alcance essa distinção”. Hartshorne foi 
Geografia Regional do Brasil
– 12 –
discípulo de Hettner, um dos mais importantes geógrafos alemães do século 
XX. Sua geografia foi marcada por uma forma corológica1, que ultrapassou os 
antigos sistemas ideográficos (baseados em particularidades e descrições sem 
abstrações) e nomotético (com base em leis e normas generalistas). Lencioni 
(1999, p. 189) destaca:
Para Hettner a geografia não seria nem ideográfica nem nomotética. 
Era ambas. A essência da geografia estaria no estudo das diferencia-
ções da superfície terrestre. Assim afirmou a vertente corológica da 
disciplina geográfica, ou seja, o estudo regional. A região não era 
autoevidente. Os limites regionais são consequentes de um exercício 
intelectual, uma construção intelectual do observador.
A revolução teorética-quantitativa da década de 1950, conhecida tam-
bém como nova geografia, impôs uma lógica matemática e formal às ciências 
sociais – entre elas a geografia. Nessa transição (da geografia como ciência), 
a região deixou de ser um produto-síntese para um meio e uma maneira de 
demonstrar hipóteses. Regionalizar se tornou um método de dividir o espaço 
com base em critérios, hipóteses e teorias previamente estabelecidas e orien-
tadas pelas indicações de cada pesquisador (GRIGG, 1967). Para Corrêa 
(1986, p. 32), região tornou-se “um conjunto de lugares onde as diferenças 
internas entre esses lugares são menores que as existentes entre eles e qualquer 
elemento de outro conjunto de lugares”.
Desse modo, na análise regional, a região passou a ser uma classe espa-
cial, cuja delimitação se deu pela classificação por critérios e variáveis arbitrá-
rias estabelecidas pela retórica científica. Por vezes ela era limitada a métodos 
e técnicas estatísticas descritivas, o que tornava o uso de planilhas, cartogra-
mas e pesquisas em gabinete mais importantes do que o trabalho de campo.
Ao contrário do paradigma possibilista e da geografia hartshorniana, 
a nova procura leis ou regularidades empíricas sob a forma de padrões 
espaciais. O emprego de técnicas estatísticas, dotadas de maior ou 
menor grau de sofisticação – média, desvio-padrão, coeficiente de 
correlação, análise fatorial, cadeia de Markov etc. –, a utilização da 
geometria, exemplificada com a teoria dos grafos, o uso de modelos 
normativos, a adoção de certas analogias com as ciências da natureza e 
o emprego de princípios da economia burguesa caracterizam o arsenal 
de regras e princípios adotados por ela. (CORRÊA, 2000, p. 18)
1 De corologia: estudo da distribuição geográfica dos seres vivos.
– 13 –
O conceito de região
Foi nesse momento que surgiram importantes autores, como Walter 
Christaller (1893-1969) e sua teoria das localidades centrais, John Friedmann 
(1926-2017) com a teoria do centro-periferia e François Perroux (1903- 
-1987) com a Teoria dos Polos de Crescimento. 
Foi nessa perspectiva que surgiu o termo regiões homogêneas. Essas eram 
subdivididas em regiões funcionais (relacionadas ao dinamismo do espaço e 
seus diversos fluxos, diretamente relacionadas à noção de rede) e tinham carac-
terísticas fixas e homogêneas determinadas estatisticamente, especialmente para 
fins de planejamento territorial e compreensão do uso e ocupação do solo. 
E foi com base nas regiões funcionais que foi criada a escola geográfica 
das regiões polarizadas. Essa escola considerava a cidade como o comando de 
organização do espaço e tinha Pierre George (1909-2006) como um impor-
tante teórico (GOMES, 1995). As regiões polarizadas valorizavam a vida eco-
nômica das cidades e buscavam estabelecer organizações espaciais embasadas 
em teorias macroeconômicas de inspiração neoclássica, especialmente na obra 
de Perroux2.
Em contraposição a esse movimento, surgiu a geografia crítica ou radical, 
especialmente após os anos 1970, quando o materialismo histórico-dialético 
adentrou as Ciências Humanas. Para essa vertente, as regiões polarizadas natu-
ralizavam o capitalismo e causavam a desigualdade também na esfera espacial. 
Assim, o espaço seria diferenciado devido à divisão territorial do trabalho e 
o processo de acumulação de capital. No Brasil, Milton Santos (1926-2001) 
trouxe à tona a ideia de região como uma totalidade socioespacial, em que 
as sociedades produziriam seus espaços de maneira dialética, influenciando e 
sendo influenciados ao mesmo tempo pelo espaço. De acordo com o teórico, 
“a região é, pois, nesta perspectiva a síntese concreta e histórica desta instân-
cia espacial ontológica dos processos sociais, produto e meio de produção e 
reprodução de toda a vida social” (SANTOS apud GOMES, 1995, p. 66).
Para a geografia crítica, a região é não é apenas o resultado das diferentes 
formas de reprodução do capitalismo na sociedade e no espaço, mas também 
elucida o papel político da análise regional. Nas palavras de Corrêa (1986, 
p. 45), ela é “o resultado da lei do desenvolvimento desigual e combinado, 
2 Como mencionamos anteriormente, Perroux apresentou a teoria dos polos de crescimento, 
cujas prerrogativas principais consistiam na interdependência e na desigualdade.
Geografia Regional do Brasil
– 14 –
caracterizada pela sua inserção na divisão nacional e internacional do trabalho 
e pela associação de relações de produção distintas”.
Contrária à geografia crítica, temos a geografia humanística e a geografia 
cultural. Essas linhas concebem a região novamente como um produto. Elas 
existem tanto como um quadro de referência na consciência coletiva da socie-
dade quanto definidoras de um código social comum com base no território. 
Para os humanistas, a região deve ser vivida, e, com base nessa concepção, os 
trabalhos em campo voltaram à cena acadêmica com força. Isso fica claro na 
obra A região, espaço vivido, de Armand Frémont (1976).
A geografia humanística buscava uma visão holística para a conceituação 
e o enriquecimento da organização espacial, logo, também para o conceito de 
região. Essa vertente tentou definir esse conceito pela sua multi-interpretação, 
ou seja, tentou explicá-lo de modo subjetivo, embasado na avaliação da iden-
tidade de determinado grupo social e sua espacialidade, o que ocasionou uma 
alta dependência da fenomenologia3.
A geografia cultural – de caráter mais filosóficoe com concepções de gênero 
de vida e paisagem – baseou-se no estudo de paisagem. Nessa vertente, o conceito 
de região assumiu outra interpretação, como um somatório de inter-relações, 
comportamentos, decisões, apreensões e valorações. Com isso, esse conceito é 
caracterizado como intersubjetivo, uma vez que possui um código próprio (e por 
isso não pode ter um único modelo regional), que ultrapassa o pessoal e recebe 
sentido coletivo. A cultura é fundamental para a interpretação desse espaço. 
Como alternativa à geografia crítica, temos a geografia do poder, que con-
tou com as contribuições de Michel Foucault (1926-1984) e têm nomes como 
Yves Lacoste (1929-), Paul Claval (1932-) e Claude Raffestin (1936-). Esses 
teóricos pensam na construção de redes de poder e políticas que transformam 
o espaço e constroem conexões regionais. Essas conexões não se explicariam 
apenas por relações econômicas, mas também pelas relações de poder, centrali-
zadas no papel do Estado ou em tramas mais sutis, como o poder exercido por 
milícias e/ou grupos de poder político e sociedades organizadas. Especialmente 
na obra de Lacoste, a região adquire um papel político e demonstra as contra-
dições do Estado-nação. Em suas palavras:
3 Para a fenomenologia, é por meio de suas experiências vividas que os indivíduos são capazes 
de compreender o objeto.
– 15 –
O conceito de região
Enquanto seria politicamente mais sadio e mais eficaz considerar a 
região como uma forma espacial de organização política (etimologi-
camente, região vem de regere, isto é, dominar, reger), os geógrafos 
acreditam na ideia de que a região é um dado quase eterno, produto 
da geologia e da história. Os geógrafos, de algum modo, acabaram 
por naturalizar a ideias de região. [...] eles utilizam a noção de região, 
que é fundamentalmente política, para designar todas as espécies de 
conjuntos espaciais. (LACOSTE, 2005, p. 36)
Nos próximos capítulos, veremos como a geografia do poder e a região 
como ação política – seja no ato de planejar, ou seja, no ato de regionalizar – 
estão presentes na atual geografia regional. Esses conceitos serão trabalhados 
com foco em nossa formação como pesquisadores dessa disciplina.
1.2 Construindo um quadro-síntese
No item anterior, observamos que o conceito de região foi ressignificado 
em diversos momentos. Ele sempre foi um tópico central das discussões geo-
gráficas e sofreu modificações de aporte teórico e metodológico. Porém, de 
modo geral, os estudos relacionados a esse conceito tinham como premissa o 
fenômeno espacial, que refletia as maneiras como as sociedades organizavam 
e materializavam suas relações sociais e com o meio natural. 
Nesse sentido, nossa intenção não é criar uma forma reducionista ou 
linear de compreender essa concepção ou estabelecer juízos de valor sobre 
as diferentes abordagens. Nosso objetivo é, com base em um quadro-síntese, 
evidenciar os aspectos mais relevantes sobre esse conceito na geografia. Esta 
seção visa justamente corroborar o conceito de região no qual novas e anti-
gas definições coexistam e atribuam novos significados constantemente para 
construir um abrangente e complexo cenário científico para a geografia. 
Nas discussões sobre as definições de região natural e região geográfica, 
está em evidência o modo como a diversidade social é interpretada e sua 
relação com o meio natural. Assim, a importância dada às condições naturais 
na organização das sociedades e na sua espacialização dominam o discurso da 
delimitação da região. Nesse momento, a geografia se reafirma como a ciência 
responsável por refletir a relação homem-natureza, mesmo com variações de 
elementos na formulação de fenômenos espaciais. Sua análise busca relacio-
nar esses elementos em um mesmo quadro analítico. 
Geografia Regional do Brasil
– 16 –
Especialmente após a década de 1950, houve discordâncias em conside-
rar elementos humanos e físicos como conjuntos estruturantes do espaço geo-
gráfico (GOUROU, 1973) e a região deixa de assumir seu papel de síntese. 
Gomes (1995, p. 69) resume esse processo: 
Em outras palavras, a lógica que preside a divisão regional sob o 
ângulo de uma ordem natural não pode ser enxertada à ordem social 
e vice-versa, o que resulta em uma renúncia da geografia moderna em 
ver a região como um objeto sintético que poderia resolver o velho 
problema dicotômico entre a geografia física e a geografia humana.
Outro modificador do conceito de região é a compreensão de ciência. 
Como consequência dessa modificação, está o importante debate entre geo-
grafia geral ou sistemática e geografia regional, que é o foco de nosso livro. 
A Geografia geral, baseada na concepção de ciência geral4, vê a região 
como um resultado obtido por meio de um sistema explicativo e critérios 
analíticos de extensão espacial (GRIGG, 1967). Ela é fundamentada em um 
modelo sintético de ciência do singular, no qual uma categoria é embasada 
em um determinado fenômeno. Para a geografia geral, esse fenômeno não 
pode ser desmembrado e sua totalidade deve ser compreendida como caso 
concreto. Nessa perspectiva, a região é uma realidade autoevidente e sua deli-
mitação está ligada a um quadro de referência que não é necessariamente 
lógico, mas sim relacionado ao sentimento de pertencimento e de identidade 
(FREMONT, 1976). Gomes (1995) exemplifica muito bem essa relação:
Existem pois duas abordagens diferentes da realidade geográfica, 
uma que se aproxima da ecologia e, consequentemente, incorpora 
antes de mais nada os dados das ciências naturais e da sociologia; a 
outra está ligada sobretudo ao funcionamento do espaço territorial e 
dá destaque aos dados da economia política [...] Longe de excluírem 
uma a outra, estas duas abordagens se esclarecem mutuamente, mas 
somente a segunda permitirá talvez ultrapassar a enfermidade congê-
nita da geografia: sua inaptidão para a generalização. (JUILLARD, 
1974 apud GOMES, 1995, p. 70)
Por fim, ainda podemos compreender esse conceito à luz de sua uniformi-
dade ou sua capacidade de mutação. Assim, região pode ser um fenômeno espa-
cial – derivado da classificação, uniformidade e hierarquização de um sistema 
4 O objetivo dessa concepção é alcançar leis gerais e conceitos abstratos e generalistas de uma 
realidade sistemática.
– 17 –
O conceito de região
espacial submetido às mesmas variáveis – ou uma relativização de variáveis que 
pertencem a dado fenômeno e atribuem um caráter demonstrativo. 
Embora tenham ocorrido todas essas transformações, o conceito de região 
e a regionalização ainda representam em si o sentido do saber geográfico. Como 
diz Haesbaert (1999), esse conceito permite à geografia se aproximar de sua maior 
vocação: de realizar sínteses baseadas na realidade espacial, nas quais a relação socie-
dade-natureza se representa nas mais complexas materializações. Ser capaz de se 
apropriar dessa concepção e de suas possibilidades teórico-metodológicas é essencial 
para o geógrafo. A Figura a seguir demostra nossa síntese do conceito de região.
Figura 1 – Quadro-síntese do conceito de região.
Origem do termo
• Império Romano
• Idade Média
• Criação dos Estados-modernos
• Senso comum
• Poder centralizado e diversidade 
social, cultural e espacial
• Relação com a definição da Antigui-
dade – localização e extensão
Região
Região como produto-síntese
Regionalizar
Análise regional
• Região homogênea
• Região funcional
• Região polarizada
Geografia humanística e cultural
Fenomenologia
• Espaço vivido
• Pertencimento e identificação
Geografia do poder
• Estado-nação
• Relações de poder multiescalares
Contemporaneidade
• Globalização
• Global/local na noção de região
Geografia crítica ou radical
• Método histórico dialético
• Totalidade socioespacial
Escola Francesa
Método regional
• Monografias regionais
• Trabalhode campo
Escola Americana
• Revolução teorética quantitativa
Geografia como ciência
• Relação homem-natureza
• Região natural x região geográfica
Fonte: Elaborado pela autora.
Geografia Regional do Brasil
– 18 –
1.3 A região na contemporaneidade 
Com o desenvolvimento do sistema capitalista e especialmente o pro-
cesso de globalização, houve autores que levantaram a possibilidade de 
“morte“ do conceito de região. A homogeneização e a uniformidade dos espa-
ços e das relações sociais ocasionadas pela globalização marcariam o fim desse 
conceito (LIPIETZ, 1977). Com base nesse ponto de vista, os movimentos 
regionais seriam instâncias de resistência a esse processo. 
No entanto, uma outra vertente indicaria justamente o contrário. A região, 
por meio da globalização, poderia emergir como escala para a interpretação de 
conflitos e problemas na relação global/local. Segundo Santos (1999), a com-
plexidade pertinente à região na contemporaneidade é única e parte inerente 
dos processos de globalização e fragmentação de maneira concomitante. Sobre 
essa dualidade, Santos ainda destacou: “não pensamos que a região haja desapa-
recido. O que esmaeceu foi a nossa capacidade de reinterpretar e de reconhecer 
o espaço em suas divisões e recortes atuais, desafiando-nos a exercer plenamente 
aquela tarefa permanente dos intelectuais, isto é, a atualização dos conceitos” 
(1994, p. 102).
Desse modo, em uma perspectiva ampliada, o conceito de região pode se 
dar pela complexa rede de fenômenos multiescalares, isto é, que ultrapassam 
uma única escala geográfica do mundo contemporâneo. Seu resgate e sua 
ressignificação, com a ideia de região rede5, podem ser estabelecidos por meio 
das relações sociais e do modo de produção capitalista. Além disso, o con-
ceito pode perpassar as construções simbólicas de identidade regional, criar 
teias de relações espacialmente expressas e chegar até a necessidade do uso 
de região natural e regionalizações baseadas em aspectos físicos da paisagem 
(NOBREGA, 2015). 
Desse modo, essa concepção passa a ser fenômeno espacial da realidade, 
mas que existe como fenômeno geográfico. Assim, assume-se, concomitan-
temente, uma dualidade em seu uso como ferramenta analítica da geografia, 
no aspecto concreto de território, na questão escalar, na pós-modernidade e 
na fenomenologia.
5 Noção de fluxos e inter-relações do conceito de rede, apropriado para a análise de região. 
– 19 –
O conceito de região
Sem nos limitarmos, mas pensando em bases para as reflexões propos-
tas nesta obra, nos principais estudos de geografia regional da atualidade e, 
especialmente, no enfoque aqui dado em relação à divisão regional brasileira 
e ao planejamento regional, ainda podemos buscar um caminho teórico. Para 
Gomes (1995, p. 73),
De qualquer forma, se a região é um conceito que funda uma refle-
xão política de base territorial, se ela coloca em jogo comunidades de 
interesse identificadas a uma certa área e, finalmente, se ela é sempre 
uma discussão entre os limites da autonomia face a um poder central, 
parece que estes elementos devem fazer parte dessa nova definição em 
lugar de assumirmos de imediato uma solidariedade total com o senso 
comum que, neste caso da região, pode obscurecer um dado essencial: 
o fundamento político, de controle e gestão de um território.
Assim, a materialidade desse conceito é relevada por mecanismos mais 
flexíveis e ele deixa de estar vinculado diretamente, por exemplo, à continui-
dade espacial, estabelecendo relações com ajustes nas escalas global e local no 
contexto de globalização.
Conclusão 
Podemos finalizar nossa discussão sobre esse assunto? Temos uma defi-
nição estabelecida do que é hoje o conceito de região na geografia? Esperamos 
que não. Esperamos também que isso não seja um problema. Entender que a 
definição de um conceito é cíclica e contextualizada; é a principal mensagem 
que deve ser compreendida aqui.
A problemática de pesquisa, as transformações na sociedade e no espaço, 
os avanços teóricos e metodológicos modificaram, modificam e continua-
rão modificando nossas ferramentas analíticas. E não podemos esperar outra 
coisa do conceito de região. De qualquer forma, isso não significa que qual-
quer explicação é suficiente para compreendê-lo, senão corremos o risco de 
fortalecer seu uso no senso comum, ou utilizá-lo de maneira inadequada. 
Assim, é sempre importante deixar claro qual é a vertente em que determi-
nado autor embasa sua definição e, especialmente, para qual finalidade você 
utilizará esse conceito em uma análise.
Geografia Regional do Brasil
– 20 –
Este foi um capítulo teórico e introdutório de nosso livro. Nos próxi-
mos, veremos outros conceitos e métodos relacionados à geografia regional 
brasileira, com mais exemplos práticos e possibilidades de linhas de pesquisa.
Ampliando seus conhecimentos
Sempre que possível, devemos ler também os autores aqui trabalhados. 
Para pensarmos melhor o conceito de região, sugerimos a leitura do artigo 
“Região, diversidade territorial e globalização”, de Rogério Haesbaert, pro-
fessor da Universidade Federal Fluminense. Disponibilizamos a seguir um 
trecho do texto em questão.
Região, diversidade territorial e 
 globalização
(HAESBAERT, 1999, p. 32-33)
[...]
A região enquanto conceito, na interação sujeito-objeto, não 
pode cair nem na visão de região como algo autoevidente a ser 
“descoberto” (seja como realidade “natural”, seja como “algo 
vivo percebido pelos homens”) nem como simples recorte 
apriorístico, definido pelo pesquisador com base unicamente 
nos objetivos de seu trabalho. Assumimos aqui a posição, já 
comentada, da região enquanto conceito, veículo de inter-
pretação do real, e regionalização enquanto instrumento de 
investigação, de forma análoga ao método de periodização 
dos historiadores.
Região, enquanto conceito, não deve, entretanto, ser vista 
como uma simples ideia lançada pelo geógrafo como uma 
rede produzida na e para a sua teoria regional. Esta “rede” 
apreende características efetivamente existentes. A região 
não é apenas uma construção intelectual, ela também é 
– 21 –
O conceito de região
efetivamente construída pela atividade humana (SMITH, 
1988), em sua constante produção da diversidade territorial. 
Se o conceito, enquanto ideia mais elaborada e geral que 
temos sobre o mundo, nunca esgota o entendimento da 
realidade e muito menos a substitui, ele também participa 
dela, na medida em que sua construção acaba sempre inter-
ferindo não só na nossa leitura como também na nossa ação 
sobre o mundo.
A questão principal será sempre a de perceber quais são os 
agentes e os processos que devem ser priorizados para enten-
der as razões da diferenciação espacial e, somente a partir daí 
qual a escala em que ela se manifesta com maior clareza (ou 
coerência). [...]
Atividades
1. Quando pensamos na história do pensamento geográfico e na definição 
do conceito de região, pode nos vir à mente momentos históricos e 
espacialidades que influenciaram ressignificações. Essas transformações 
são discutidas por vários teóricos, considerados representantes de diver-
sas vertentes. Mais do que apenas listá-los, relacione a definição do con-
ceito de geografia com a temporalidade e espacialidade de seus estudos.
2. Podemos dizer que diversos agentes influenciaram a transformação 
do conceito de região. Alguns desses são diretamente relacionados 
à ciência geográfica, outros são vinculados às novas formulações das 
ciências. Reflita sobre esses aspectos e escreva os principais eventos e 
teorias que proporcionaram essas mudanças de paradigmas.
3. O conceito de território é uma ferramenta analítica da geografia, o qual 
busca compreender as relações de poder que configuram e reconfigu-
ram as organizações espaciais. Apesar do conceito de região – especial-Geografia Regional do Brasil
– 22 –
mente na contemporaneidade – ser influenciado pelas relações de po-
der e o ato de regionalizar ser uma ação política, tratam-se de conceitos 
distintos. O que diferencia esses conceitos? Com base nesse princípio, 
como o conceito de região auxiliaria na compreensão da realidade?
4. A globalização é fundamental para compreender as configurações do 
espaço geográfico, que é o objeto da geografia. Desse modo, escreva 
como esse processo pode ser entendido quando relacionado ao con-
ceito de região.
Planejamento regional
Como vimos no primeiro capítulo, o ato de regionalizar é em 
si um ato político que evidencia, sobretudo do ponto de vista territo-
rial e do Estado, como a representação no espaço se dá por meio das 
relações de poder. Assim, neste capítulo sustentamos que o planeja-
mento e o desenvolvimento econômico são idealizados e realizados 
na escala regional, principalmente em economias emergentes e peri-
féricas, como é o caso do Brasil. Além de relacionarmos conceitos, 
fazemos um breve levantamento histórico do planejamento regio-
nal brasileiro. Por fim, abordamos também a influência do Banco 
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é 
até hoje o principal órgão de referência para o planejamento regional 
no Brasil.
2.1 A região como escala 
de planejamento 
O planejamento é a ação de planejar, de estabelecer metas 
e diretrizes que pretendem manter ou modificar as ações sobre 
2
Geografia Regional do Brasil
– 24 –
uma determinada situação. Quando referimo-nos ao planejamento regional, 
mais do que uma delimitação de escala (nesse caso a região), referimos-nos a 
um planejamento econômico e territorial, especialmente no caso do Brasil, 
de base capitalista. Assim, é interessante relembrarmos de qual conceito de 
região estamos nos referindo. Como já vimos, esse conceito pode ser apren-
dido e utilizado de diferentes maneiras. Aqui, ele será trabalhado com base 
na definição de Gomes (1995), que relaciona a região a aspectos sociais, de 
fundamentação política, de controle e gestão de um território.
Podemos dizer que o planejamento regional pode ser entendido de duas 
maneiras. A primeira se dá quando esse planejamento objetiva o desenvolvi-
mento ligado ao capital. Para atingir essa finalidade, suas ações são focadas na 
redução de incertezas do processo capitalista em determinada área do espaço. 
Assim, essa ação estará centrada na diminuição das disparidades causadas pelo 
desenvolvimento econômico na distribuição espacial dos polos econômicos. 
A segunda possibilidade ocorre quando o planejamento regional busca garan-
tir interesses ligados às populações afetadas por ele. Nesse caso, haverá um 
enfoque no controle do capital e no modo de extração de recursos da natu-
reza, além de aspectos sociais e econômicos da população (THEIS, 2016).
Segundo Bomfim (2007), a geografia como ciência adotou de maneira 
ampla diversas bases teóricas para refletir o ato de planejar o espaço. Nessa 
perspectiva, a região se aproximaria de uma área programada, na qual a divi-
são teria como premissa a maximização da eficiência de um programa de 
desenvolvimento territorial. Para tanto, a regionalização seria parte desse pro-
cesso, no qual suas delimitações estariam fortemente relacionadas às inten-
ções e pretensões do planejamento regional.
A expressão planejamento regional surgiu com o urbanista irlandês Patrick 
Geddes (1854-1932). Com forte influência da definição de região estabele-
cida por Vidal de La Blache, as monografias regionais e seus levantamentos 
sobre a região natural deram subsídios para a compreensão e elaboração de 
metas de desenvolvimento do espaço. Entretanto, a primeira experiência de 
planejamento regional teve origem nos Estados Unidos, como parte do pro-
grama New Deal durante o governo Roosevelt1. Esse programa tinha como 
1 Franklin Delano Roosevelt (1882-1945) foi presidente dos Estados Unidos de 1933 até sua 
morte, em 1945. 
– 25 –
Planejamento regional
objetivo a recuperação da economia norte-americana após a crise de 1929. 
Para tanto, foram adotadas medidas de combate ao desemprego, recuperação 
da agricultura por meio da criação de agências de crédito e fomento para agri-
cultores, controle de preços para impulsionar a indústria, além de legislações 
que controlassem de maneira enfática o setor financeiro e tributário.
O vale do Rio Tennessee (afluente dos rios Ohio e Mississipi), que tinha 
sua economia voltada para agricultura, era considerada umas regiões menos 
industrializadas dos EUA na década de 1930. Para suprir essa questão, foi 
criada a Tennessee Valley Autorithy (TVA), uma autarquia de planejamento 
econômico e territorial que existe até hoje. Baseada em uma política econô-
mica do keynesianismo2, foram realizadas nesse rio obras de navegabilidade, 
usinas hidrelétricas, pontes e rodovias, bem como o gerenciamento de recur-
sos hídricos e o desenvolvimento de energia nuclear. A TVA não influenciou 
apenas o modo como orientamos o planejamento regional brasileiro, mas 
também nossa matriz energética e a criação de grandes empreendimentos, 
principalmente pela política econômica dos governos de Getúlio Vargas3 
(1882-1954) e Roosevelt, como verificaremos adiante.
Figura 1 – Barragem de Guntersville (cidade do estado do Alabama, nos 
EUA) no Rio Tennessee.
Fonte: Jeffrey Schreier/iStockphoto.
2 Veremos essa concepção detalhadamente nas próximas páginas.
3 Getúlio Dornelles Vargas governou o Brasil por 15 anos contínuos, no período de 1930 a 
1945. Posteriormente, Vargas também foi presidente de 1951 a 1954. 
Geografia Regional do Brasil
– 26 –
Outro exemplo de planejamento regional é a Cassa per il Mezzogiorno, 
organização do governo italiano baseada no exemplo da TVA para o desenvol-
vimento da Região Sul da Itália. O sul italiano é considerado a região menos 
desenvolvida economicamente do país. Entretanto, apesar da transferência de 
recursos, melhorias de infraestruturas e incentivos fiscais para a instalação de 
indústrias, essa ainda é uma região fortemente agrícola. Aspectos relacionados 
à corrupção e à máfia são entraves para seu desenvolvimento, fato que oca-
siona, inclusive, o fechamento de importantes fábricas, como da Fiat. 
Figura 2 – A paisagem da Sicília (Itália) exemplifica sua forte relação com a 
agricultura. Essa é uma das áreas econômicas menos desenvolvidas do país 
até os dias de hoje.
Fonte: Studioraffi/iStockphoto.
Podemos observar que as teorias e dinâmicas envolvidas na ação de 
planejar estão implicitamente ligadas às teorias e políticas econômicas. 
Teoricamente, no capitalismo, o espaço é compreendido de maneira inte-
grada e articulada – é daí que surge, por exemplo, a definição de globalização. 
Assim, a regionalização é sempre entendida como um corte arbitrário e está 
relacionada com a interação entre pontos do espaço sob uma ótica capitalista. 
– 27 –
Planejamento regional
A dinâmica regional, desse modo, estaria relacionada aos movimentos de 
capital entre diferentes pontos do espaço. A direção e a motivação seriam 
elementos para a formulação de teorias. 
Entre os principais autores dessa concepção estão François Perroux, 
Jacques Boudeville (1919-1975) e Douglas North (1920-2015). Destes, 
Perroux foi o mais importante para a compreensão e delimitação de políticas 
para o planejamento regional no Brasil. Autor da expressão polos de desenvol-
vimento, sua teoria se baseou na industrialização como processo gerador de 
polos de aglomeração econômica. Com forte influência da revolução teoré-
tica quantitativa, para Perroux, o espaço era abstrato, euclidiano4 e poderia 
ser compreendido pela matemática e estatística. Para ele, as relações que ocor-
riam no espaço econômico não eram refletidas completamente no território 
nação, mas sim no domínio de alcance dosplanos econômicos de governo e 
dos indivíduos, especialmente instituições econômicas. Além disso, os com-
plexos industriais viabilizariam o crescimento econômico por meio de polos 
de desenvolvimento. 
Na busca de uma aproximação com a interpretação geográfica, pode-
mos encontrar em Santos (1996, p. 63) um modo de compreender a orga-
nização espacial:
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e tam-
bém contraditório de sistemas de objetos e sistemas de ações, não 
considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a his-
tória se dá. [...]
Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os 
sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de 
outro, o sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza 
sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâ-
mica e se transforma. 
Para o autor, o espaço era formado pela interação entre sistemas de obje-
tos e sistemas de ações. Dessa forma, podemos perceber que – especialmente 
no caso brasileiro – o planejamento e a formulação de mudanças nos sistemas 
de objetos tinham como essência as transformações do sistema de ações no 
âmbito econômico e de desenvolvimento. Esse desenvolvimento deve ser aqui 
compreendido com base nas premissas do sistema capitalista.
4 Referente a Euclides, geômetra que viveu na cidade de Alexandria no século III a.C. 
Geografia Regional do Brasil
– 28 –
2.2 Planejamento regional e 
desenvolvimento econômico no Brasil 
O planejamento regional e o desenvolvimento econômico no Brasil 
estão intimamente relacionados. Eles derivam dos processos de acumulação 
de capital de economias emergentes, que resultam em contrastes e depen-
dências da concentração geográfica do capital, ou seja, acarretam o desenvol-
vimento regional desigual (OLIVEIRA, 1981). Nesse sentido, verificamos 
que parte considerável das experiências de planejamento regional realizadas 
no Brasil buscaram a manutenção dos processos de concentração capitalista. 
Essas visavam corrigir desigualdades de distribuição de capital, mas não cor-
rigiam necessariamente a mitigação de desigualdades socioespaciais relacio-
nadas à extração desenfreada de recursos naturais e humanos. Assim, essas 
regiões não permaneceram dependentes e periféricas apenas daquelas mais 
desenvolvidas economicamente, mas também continuaram dependentes de 
economias centrais, em escala global. 
Antes de analisarmos detalhadamente os projetos existentes no Brasil, 
devemos compreender quais paradigmas foram absorvidos pelas políticas 
regionais e pelo ordenamento territorial e como esse processo incidiu sobre a 
ocupação territorial brasileira.
Um dos primeiros paradigmas do planejamento regional brasileiro foi 
a política econômica conhecida como keynesianismo5, que compreendia 
que o Estado deveria assumir um papel intervencionista, isto é, que con-
trolasse e ordenasse a economia. Esse pensamento perdurou dos anos 1950 
até meados dos anos 1990, quando o neoliberalismo passou a dominar as 
políticas de governo. 
No neoliberalismo, o Estado deveria atuar de maneira restrita – como 
Estado mínimo –, no qual o mercado se autorregularia. Assim, caberia ao 
Estado apenas funções reguladoras sociais e assistencialistas (COSTA, 2008; 
CARDOSO JÚNIOR, 2011). Essa doutrina esteve muito presente no 
governo de Fernando Henrique Cardoso6 (1931-), caracterizado por políticas 
5 Nome dado à teoria do economista inglês John Maynard Keines (1883-1946).
6 Popularmente conhecido como FHC, Fernando Henrique Cardoso foi presidente do Brasil 
de 1º janeiro de 1995 a 1º janeiro de 2003.
– 29 –
Planejamento regional
de privatização. Essa mudança refletiu também no modo de compreender o 
desenvolvimento durante o período keynesiano. Nessa época, ele foi atrelado 
ao Estado, especialmente na criação de polos industriais, no projeto conhe-
cido como nacional desenvolvimentista. Durante o neoliberalismo, o enfoque 
foi modificado. Depois dos anos 2000, com os governos de centro-esquerda 
de Luís Inácio Lula da Silva7 (1945-), foi retomada uma ação mais ativa do 
Estado, que estabeleceu um neodesenvolvimentismo8.
Antes da Constituição Federal de 1988, o desenvolvimento e cresci-
mento eram considerados apenas do ponto de vista econômico. A infraes-
trutura ou sistema de objetos era voltada apenas para a melhoria de aspectos 
dessa ordem. Com instrumentos de preservação do meio ambiente, bem-es-
tar social e cultural, a Constituição foi um agente modificador das políticas 
de planejamento regional. 
Os anos de 1980 também foram decisivos para a agricultura mundial. 
Após a Revolução Verde9, a industrialização e mecanização da agricultura, 
a emergência do mercado financeiro, a venda de commodities10 e os plane-
jamentos regionais com enfoque no meio rural adquiriram novas facetas. 
Inicialmente, com o objetivo de criar novas fronteiras agrícolas e ocupar 
“vazios territoriais” (principalmente durante o Regime Militar, com o des-
matamento de grandes áreas e a expansão da extração mineral), o agrone-
gócio passou a ser visto como um motor da economia brasileira, especial-
mente pelo superavit da balança comercial, gerado pela venda de commodities 
(SIQUEIRA, 2013).
7 Luiz Inácio Lula da Silva foi presidente do Brasil de 1º janeiro de 2003 a 1º janeiro de 2011.
8 De acordo com Sampaio Júnior, o neodesenvolvimentismo consiste “em conciliar os aspectos 
‘positivos’ do neoliberalismo – compromisso incondicional com a estabilidade da moeda, aus-
teridade fiscal, busca de competitividade internacional, ausência de qualquer tipo de discrimi-
nação contra o capital internacional – com os aspectos ‘positivos’ do velho desenvolvimentis-
mo – comprometimento com o crescimento econômico, industrialização, papel regulador do 
Estado, sensibilidade sócia” (SAMPAIO JR., 2012, p. 679).
9 A Revolução Verde – iniciada nos anos 1960 – orientou a pesquisa e o desenvolvimento 
de sistemas de produção agrícola com o objetivo de aprimorar e elevar a capacidade de pro-
dução de cultivos.
10 Entendemos por commodities todo produto (matéria-prima em estado bruto) produzido em 
larga escala destinado ao comércio.
Geografia Regional do Brasil
– 30 –
Essa importância dada ao meio rural brasileiro sempre esteve presente 
nos projetos de planejamento regional, seja por obras de irrigação e créditos 
de financiamento a produtores, seja como agente dos processos migratórios, 
pelo êxodo rural e a migração de regiões menos desenvolvidas para aquelas 
com maior industrialização. Especialmente nos últimos anos, a visão sobre 
o meio urbano e a qualidade da infraestrutura social e cultural mudaram as 
necessidades em relação às cidades e às dinâmicas populacionais.
Os anos 1990 também foram um marco temporal para as relações esta-
belecidas pelas economias mundiais. Antes, a relação centro-periferia refletia 
a assimetria/desigualdade das relações econômicas. Após a globalização, em 
meados dos anos 1980, essas relações se tornaram muito mais complexas e 
diversificadas (UDERMAN, 2008). 
A Constituição Federal de 1988 incluiu ainda dois importantes pontos 
focais nos debates regionais: a importância da preservação do meio ambiente 
e das comunidades tradicionais e como o turismo poderia atuar como agente 
modificador de economias e regiões periféricas. A necessidade de incluir no 
planejamento a opinião da população, por meio de audiências públicas e pla-
nejamentos participativos, trouxe uma nova visão para os objetivos esperados 
do planejamento regional. Caberia muito mais controlar o capital do que 
apenas a criação de novos polos de desenvolvimento econômico. 
Esses paradigmas foram absorvidos de diferentes modos pelas políticas 
de planejamento regional viabilizadas por meio da criação de agências de 
desenvolvimento regional. A maioria foi criada na década de 1950, extintasdurante a década de 1990 e recriadas na década de 2000 especialmente com 
a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), no ano de 2007. 
Antes voltadas à criação de polos de desenvolvimento, essas políticas nos últi-
mos anos têm incentivado a criação de distritos industriais, incubadoras para 
empresas de desenvolvimento e parques tecnológicos. Financiamentos e fun-
dos de crédito ainda são mecanismos utilizados, e um dos principais agentes 
desse processo é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 
(BNDES), sobre o qual trataremos no próximo capítulo. 
Entretanto, apesar das tentativas, os resultados ainda estão longe dos 
esperados. Como poderíamos explicar o baixo alcance das metas de planeja-
mento regional? Algumas das explicações estão fundamentadas em problemas 
– 31 –
Planejamento regional
políticos de superposição de órgãos, guerras fiscais entre estados, municípios 
e governo federal, o peso dado à criação de centros de desenvolvimento forte-
mente ligados à industrialização (sem analisar se o mercado econômico estava 
favorável ou disposto a se relacionar com esses polos), além de fraudes e cor-
rupções. Atualmente, uns dos grandes entraves para a geração de políticas de 
planejamento regional estão também na falta de metodologias eficientes de 
participação popular nos processos decisórios e avaliativos. 
De maneira resumida, podemos verificar que as inseguranças políticas 
e democráticas pelas quais o nosso país passou ao longo do tempo ocasiona-
ram a burocratização das instituições e as sobreposições de interesses e ações. 
Baseado especialmente na criação de agências, superintendências e adoção 
de planos plurianuais, o planejamento regional brasileiro pouco evoluiu nas 
projeções que se propunha. Notamos que ele ainda é fortemente influenciado 
pela concentração de renda e pela economia dependente das oscilações do 
mercado internacional. Ainda neste capítulo, veremos como se deu o surgi-
mento dessas agências e superintendências, e posteriormente analisaremos os 
planos plurianuais. 
Quadro 1 – Linha do tempo dos principais planos, agências e superintendências 
relacionadas ao planejamento regional brasileiro.
Ano de 
criação
Nome
1909 Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IOCS)
1938 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
1945 Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS)
1948 Comissão do Vale do São Francisco (CVSF)
1950 Banco de Crédito da Amazônia
1952 Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
1953 Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SPVEA)
1956 Plano de Metas Superintendência do Desenvolvimento do Sul (Sudesul)
1959 Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene)
1963 Plano trienal
Geografia Regional do Brasil
– 32 –
Ano de 
criação
Nome
1964 Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG)
1966 Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e Banco da Amazônia 
1967
Superintendência do Vale do São Francisco (Suvale), 
Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) 
e Superintendência do Desenvolvimento do Sul (Sudesul)
1972 I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) 
1974 Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf)
1975 II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND)
1980 III Plano Nacional de Desenvolvimento (III PND)
1986 I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (I PND-NR)
1987 Plano de Ação Governamental
1990 Extinção da Sudeco e da Sudesul
1991 Plano Plurianual
1996 Programa Brasil em Ação
2000 Programa Avança Brasil
2001 Extinção da Sudam
2001
Criação da Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA) 
Extinção da Sudene 
Criação da Agência do Desenvolvimento do Nordeste (Adene)
2004 Programa Brasil de Todos
2007
Extinção da ADA 
Recriação da Sudam 
Extinção da Adene 
Recriação da Sudene 
Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR)
2009 Recriação da Sudeco
Fonte: Elaborado pela autora.
– 33 –
Planejamento regional
O Nordeste brasileiro sempre esteve no centro das políticas de desen-
volvimento econômico e no planejamento regional. Muito dessa questão 
está relacionada às especificidades físicas, como grandes estiagens, solos sali-
nos e deficit hídrico. Esses aspectos dificultaram o desenvolvimento econô-
mico, baseado especialmente na agricultura convencional, fato que ocasio-
nou o empobrecimento da população e movimentos migratórios de êxodo. 
Desse modo, criou-se o imaginário de “região problema” já nos primeiros 
governos republicanos. 
Em 1909, no governo de Nilo Peçanha, foi criada a Inspetoria de Obras 
Contra as Secas (IOCS), com o objetivo de coletar dados referentes aos aspec-
tos físicos, principalmente meteorológicos e geológicos, que dessem os subsí-
dios necessários para obras governamentais. Entretanto, essa ainda não pôde 
ser considerada uma proposta de planejamento regional, tendo em vista o 
enfoque paliativo das consequências das estiagens, e não necessariamente um 
plano de desenvolvimento regional. 
Foi somente após o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), 
com a adoção do modelo de Estado intervencionista na ditadura do Estado 
Novo, que foi incorporada a ideia de planificação da política econômica 
governamental. Emergiu daí a concepção de política pública, que tornou a 
administração pública complexa, planejada, regular e duradoura (PESSOA, 
2006). É nesse contexto político-econômico brasileiro que houve a criação 
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fundamental para a 
implementação de políticas em escala regional e início do planejamento regio-
nal brasileiro11. Surgiu também nesse momento o Departamento Nacional de 
Obras Contra as Secas (DNOCS), em 1942.
No entanto, foi apenas no final do Estado Novo e com a Constituição 
dos Estados Unidos do Brasil de 1946 que o planejamento regional brasileiro 
sofreu sua grande transformação. Na Constituição estava presente uma série 
de designações ao desenvolvimento regional. Uma delas era o art. 29, que 
tratava do vale do São Francisco e teve como desdobramento a Comissão do 
Vale do São Francisco (CVSF), em 1948, empresa pública com autonomia 
administrativa e financeira diretamente ligada à presidência da república. 
11 Aspectos relacionados à criação e ao desenvolvimento do IBGE serão abordados em capí-
tulos futuros.
Geografia Regional do Brasil
– 34 –
Seu objetivo consistia na criação de planos de aproveitamento para regula-
mentação dos recursos hídricos e fomento econômico, principalmente com 
indústrias e irrigação para a agricultura. O início dos anos de 1950 foram mar-
cados pela criação do Banco de Crédito da Amazônia, em 1950, e o Banco do 
Nordeste Brasileiro (BNB), em 1952. No segundo governo de Getúlio Vargas, 
foi criada a Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), 
no ano de 1953.
Durante o governo de Juscelino Kubitschek12, foi criada, em 1956, a 
Superintendência do Desenvolvimento da Fronteira Sudoeste (SPVESUD) 
e, em 1959, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). 
Dentre as atribuições destacavam-se estudar e propor diretrizes para o pla-
nejamento e o desenvolvimento regional. Para tanto eram criados projetos e 
programas de assistência técnica. 
Durante a ditadura militar, houve o fortalecimento dos órgãos de 
planejamento econômico. Em 1966, foi criada a Superintendência do 
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), destinada ao planejamento e desen-
volvimento da então chamada Amazônia Legal. Em 1967, foram criadas a 
Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE), a Superintendência 
do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e a Superintendência 
do Desenvolvimento da Região Sul (Sudesul). Em 1974 foram criados o 
Conselho de Desenvolvimento Econômico e aSecretaria de Planejamento da 
Presidência da República (Seplan). Nesse ano também foi criada a Companhia 
de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf ), que além de gerir 
o aproveitamento dos recursos hídricos e do uso do solo, tinha por atribuição 
a promoção do desenvolvimento integrado da economia e a implantação de 
distritos agroindustriais. 
Após inúmeras críticas ao modo de organização dessas agências, casos 
de corrupção e ineficiência dos projetos, foram extintas no ano de 1990 a 
Sudeco e a Sudesul. A Sudene também foi extinta e substituída pela Agência de 
Desenvolvimento do Nordeste (Adene) e a Sudam foi sucedida pela Agência de 
12 Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) foi presidente do Brasil no período de 31 de 
janeiro de 1956 a 31 de janeiro de 1961.
– 35 –
Planejamento regional
Desenvolvimento da Amazônia (ADA)13, desdobramento das políticas neolibe-
rais do governo de Fernando Henrique Cardoso. 
Em 2000, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco 
alterou sua razão social para Companhia de Desenvolvimento dos Vales do 
São Francisco e do Parnaíba (Codevasf ). Em 2010 sua área de atuação foi 
ampliada e a Companhia é até hoje um importante agente no processo de 
transposição do Rio São Francisco. A retomada de uma visão neodesenvolvi-
mentista durante os governos de Luís Inácio Lula da Silva fez com que antigas 
superintendências fossem recriadas: a Sudam e a Sudene, no ano de 2007, e a 
Sudeco, em 2009. Nos mapas a seguir podemos verificar as sobreposições de 
órgãos de desenvolvimento e sua variabilidade espaço-temporal na história do 
planejamento regional brasileiro:
Mapa 1 – Delimitação da área de atuação do IOCS (1909), antecedente dos 
planos de planejamento regional brasileiro. 
Inspetoria de obras 
Contra Secas (IOCS -1909)
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE e SILVA, 2014.
13 As principais atribuições da ADA consistiam em gerir seus respectivos fundos de desen-
volvimento regionais, implementar estudos e pesquisas, promover e fortalecer as estruturas 
produtivas e implementar programas de capacitação.
Geografia Regional do Brasil
– 36 –
Mapa 2 – Área de atuação atual da Codevasf.
Companhia do Desenvolvimento dos 
Vales do São Francisco e do Parnaíba
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Fonte: Elaborado pela autora com base em SILVA, 2014.
Mapa 3 – Área de atuação atual da Sudene. 
Superintendência de Desenvolvimento 
do Nordeste (Sudene)
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Fonte: Elaborado pela autora com base em SILVA, 2014.
– 37 –
Planejamento regional
Mapa 4 – Área de atuação atual da Sudam.
Superintendência de Desenvolvimento 
da Amazônia (Sudam)
Norte
Nordeste
Centro-Oeste
Sudeste
Sul
Fonte: Elaborado pela autora com base em SILVA, 2014.
Nos três primeiros mapas (1, 2 e 3), podemos compreender como 
foram alteradas as áreas de atuação das diferentes agências governamentais 
criadas para a atual região Nordeste, sempre com o objetivo de combater 
os efeitos climáticos da seca sob a economia e a sociedade. É interessante 
destacar a modificação da Codevasf, não apenas com a inclusão da bacia do 
Rio Parnaíba, mas também com as áreas influenciadas pela transposição do 
Rio São Francisco. Com relação ao Mapa 4 da Sudam, verificamos que nos 
dias atuais sua abrangência ultrapassa os limites da regionalização oficial do 
IBGE por estados brasileiros. O estado do Mato Grosso é incluído oficial-
mente na região Centro-Oeste e parte do estado do Maranhão é delimitado 
como Amazônia Legal. 
2.3 O planejamento regional brasileiro 
para além das superintendências 
Nos itens anteriores, verificamos que o planejamento regional brasileiro 
sempre foi marcado por um enfoque economista de desenvolvimento. Essa 
Geografia Regional do Brasil
– 38 –
questão foi fortemente influenciada por mudanças políticas – especialmente 
crises democráticas, como o golpe militar de 1964. Desse modo, o Brasil 
estabeleceu uma correlação direta com a economia internacional, porém per-
maneceu como uma economia periférica. Nesta seção, analisamos as políticas 
de desenvolvimento, seus desdobramentos e outras espacializações do plane-
jamento regional do país.
Apesar de terem existido outros planos, foi o governo de Juscelino 
Kubitschek, com seu o Plano de Metas, o primeiro a estipular objetivos para 
o setor privado e estimular estudos relacionados ao diagnóstico da economia 
brasileira. Com forte influência da criação do BNDES, Kubitschek criou um 
programa de governo baseado na frase “50 anos em 5”. O Plano de Metas foi 
um conjunto de objetivos – 31 no total – que os setores-chaves da economia 
deveriam alcançar. 
Já no governo seguinte, de João Goulart14 (1918-1976), em que o cená-
rio econômico apresentava dificuldades, foi necessária a elaboração de outro 
plano econômico, o Plano Trienal, que tinha como premissa o combate à 
inflação baseado na controle do deficit público. Esse plano foi interrompido 
pelo Golpe de 1964. Apesar da intervenção, esse foi um importante marco 
para a ampliação da visão dos planos de desenvolvimento e agregou uma 
visão global da economia. 
O primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) – elaborado 
em 1970 com base na ideologia política de segurança e desenvolvimento – 
criou um modelo de organização que consistiu em moldar as instituições 
por meio do poder do Estado. Esse plano objetivava a implementação da 
teoria de polos de crescimento e compreendia que a industrialização seria o 
meio ideal para alcançar o desenvolvimento econômico. Por meio da teoria 
de Perroux, os governos militares se aproximaram da relação entre o para-
digma da industrialização como polo de desenvolvimento e a presença de 
um Estado desenvolvimentista. 
No I PND houve um forte estímulo para a instalação de indústrias de 
bens duráveis, em especial automobilística. Até hoje encontramos reflexos 
desse momento, como a forte influência das rodovias e do sistema rodoviário 
14 João Goulart, popularmente conhecido como Jango, foi presidente do Brasil de 7 de setem-
bro de 1961 a 1º de abril de 1964.
– 39 –
Planejamento regional
de transporte de cargas no modal brasileiro. Além da instalação de indús-
trias, houve grande investimento na criação e ampliação do sistema rodoviá-
rio nacional. No II PND (1975-1979) ocorreu a mudança no enfoque das 
indústrias instaladas (siderúrgicas, de eletrônica pesada15 e de fertilizantes) 
– foram priorizadas as relacionadas aos bens de capitais – e a manutenção 
das altas taxas de crescimento econômico alcançadas no I PND (na ordem de 
10% ao ano). 
Apesar do aumento da inserção brasileira na divisão internacional 
do trabalho (FURTADO, 1981), a inconsistência financeira do BNDES 
naquele momento não garantiu a estabilidade de financiamentos necessá-
rios, bem como a crise política com o fim do período da ditadura militar. 
No Mapa 5 verificamos, por exemplo, o planejamento do II PND com 
o Poloamazônia, com investimentos nos setores mineral, metalúrgico e 
agropecuário. Esse período foi fortemente marcado pelo genocídio de 
populações indígenas nessa região, o que causou graves problemas sociais 
e ambientais e a intensificação das desigualdades. Nesse mesmo mapa 
também podemos compreender a espacialidade desses polos. Com a frag-
mentação dos planos e das ações, esses polos eram compreendidos como 
pontos focais dos quais o desenvolvimento se estenderia para o entorno. 
Essa expansão seria possível por meio da infraestrutura de ligação dos 
polos, que foi um forte argumento para altos investimentos no setor rodo-
viário, por exemplo.
Como resultado desse suposto milagre, houve um enfraquecimento 
do planejamento regional no Brasil. A necessidade de redução do defi-
cit público, a renegociação das dívidas externase o controle da inflação 
dominaram o cenário no início dos anos 1990. Além disso, a sobreposição 
do Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (I 
PND-NR) em 1985, o Plano de Consistência Macroeconômica (PCM) e o 
Programa de Ação Governamental (PAG) de 1987 causou a limitação das 
ações programas. 
15 Indústrias pesadas são aquelas cuja produção é absorvida por outras indústrias, isto é, são 
indústrias que produzem máquinas ou matérias-primas. Dentre os principais ramos, podemos 
destacar as indústrias metalúrgicas, petroquímicas e de cimento. 
Geografia Regional do Brasil
– 40 –
Mapa 5 – Programas econômicos de integração nacional no período da 
Ditadura Militar (1964-1985).
Região geoeconômica de Brasília
Polonordeste
Poloamazônia
Polocentro
Bacia do Paraguai
Sudesul
Fonte: Elaborado pela autora com base em THÉRY; THÉRY, 2008, p. 269.
Com as novas influências neoliberais dos governos FHC e após o Plano 
Real houve um forte empenho na manutenção da estabilidade monetária. 
O Programa Brasil em Ação, embasado na criação de eixos nacionais de 
integração e desenvolvimento – que compreendiam a geografia econômica 
do país, os fluxos de bens e serviços –, por vezes ultrapassava os limites 
estaduais e regionais com base na divisão regional oficial do IBGE. O 
– 41 –
Planejamento regional
planejamento consistiu na busca por ligações entre os polos que já recebiam 
investimentos em outros governos e por isso possibilitavam uma maior 
troca de fluxos de bens e capitais. Com uma visão neoliberal de economia 
governamental, nesse período muitas rodovias foram privatizadas, o que 
ocasionou o aumento do número de postos de pedágios.
Baseado no mapeamento dos fluxos de mercadoria, os eixos delimi-
tavam áreas geográficas com um viés regional de mercado (influência da 
lógica da produção) e pensavam a rede urbana de maneira hierarquizada, 
pela ótica do consumo de bens e serviços. Assim, apenas algumas áreas 
eram de interesse para o capital e, consequentemente, para a internacio-
nalização econômica. Seria o surgimento de uma nova geografia econô-
mica para o país. 
O Programa Avança Brasil (2000-2003) foi marcado pelo termo custo 
Brasil, que consistiu em um conjunto de ineficiências e distorções que 
atingiram a competitividade do país em relação a outras nações. Fatores 
como sistema tributário desproporcional e injusto, malha rodoviária em 
más condições, administração pública corrupta, os altos encargos traba-
lhistas, elevadas taxas de juros, altos índices de violência, inadimplência 
e burocracia estatal eram aspectos a serem combatidos. Desse modo, bus-
cou-se a otimização de resultados, sempre com vistas à redução de prazos 
e custos federais. 
Com forte caráter economicista e um modelo gerencial de planeja-
mento econômico nacional, esse período foi marcado pela guerra fiscal 
entre estados e municípios, com o objetivo de arrecadar mais impostos e 
centralizar investimentos públicos. Como resultados desses anos de ten-
tativas de planejamento regional voltado ao desenvolvimento econômico, 
obtivemos muitas mudanças nos sistemas de objetos com grandes obras de 
engenharia, mudanças no uso e ocupação do solo, reorganização demo-
gráfica e conflitos pela terra cada vez mais violentos. O mapa de frentes 
pioneiras de Théry e Théry (2008, p. 286) evidencia esses fatores. 
Geografia Regional do Brasil
– 42 –
Mapa 6 – Frente pioneira de desenvolvimento regional, início do século XXI.
Arco de desmatamento
Mortes em Conflitos 
rurais (1985-1991)
Progressão de produção 
de soja (1977-1999)
Fonte: Elaborado pela autora com base em THÉRY, THÉRY, 2014, p. 289.
Com a eleição de governos de centro-esquerda, houve o retorno ao desen-
volvimentismo, ao neodesenvolvimentismo e às políticas de planejamento 
regional. A Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR) – por 
meio do Plano Brasil de Todos, do Programa de Aceleração do Crescimento 
(PAC), do Programa Bolsa Família e do Plano de Desenvolvimento da 
Educação – estimulou a inclusão social e a redução das desigualdades. Essa 
política ocasionou o crescimento de emprego e renda de maneira ambiental-
mente sustentável, reduziu as desigualdades regionais e possibilitou desen-
volvimento da cidadania e da democracia. No mapa a seguir, observamos 
um novo modo de regionalização, não embasado administrativamente em 
– 43 –
Planejamento regional
Estados federativos, mas sim em macrorregiões, formadas por agrupamento 
de municípios. 
Mapa 7 – Macrorregiões da PNDR. 
Belém
Belo Horizonte
Boa Vista
Brasília
Campo Grande
Cuiaba
Curitiba
Fortaleza
Goiânia
Macapá
Manaus
Palmas
Porto Alegre
Porto Velho
Recife
Rio Branco
Rio de Janeiro
Salvador
São Luis
São Paulo
Araguaína
Cruzeiro do Sul
Tabatinga Itaituba
Marabá
Santarém
Juazeiro Petrolina
Imperatriz
Eliseu Martins
Barreiras
Vitória da Conquista
Montes Claros
Teófilo Otoni
Uberlândia
Cascavel
Chapecó
Santa Maria
Sinop
Extremo Sul
Fortaleza
Territórios estratégicos
Aglomerações sub-regionais
Aglomerações locais
Aglomerações geopolíticas
Macrorregiões
Manaus
Recife
Rio de Janeiro
Salvador
São Paulo
Sousa
Crajuba - 
Crato -
Juazeiro do Norte - 
Barbalha
Legenda:
Brasil Central Ocidental
Brasil Central
Belo Horizonte
Belém-São LuísMacropolos consolidados
Novos macropolos
Belém
Belo Horizonte
Boa Vista
Brasília
Campo Grande
Cuiaba
Curitiba
Fortaleza
Goiânia
Macapá
Manaus
Palmas
Porto Alegre
Porto Velho
Recife
Rio Branco
Rio de Janeiro
Salvador
São Luis
São Paulo
Araguaína
Cruzeiro do Sul
Tabatinga Itaituba
Marabá
Santarém
Juazeiro Petrolina
Imperatriz
Eliseu Martins
Barreiras
Vitória da Conquista
Montes Claros
Teófilo Otoni
Uberlândia
Cascavel
Chapecó
Santa Maria
Sinop
Extremo Sul
Fortaleza
Territórios estratégicos
Aglomerações sub-regionais
Aglomerações locais
Aglomerações geopolíticas
Macrorregiões
Manaus
Recife
Rio de Janeiro
Salvador
São Paulo
Sousa
Crajuba - 
Crato -
Juazeiro do Norte - 
Barbalha
Legenda:
Brasil Central Ocidental
Brasil Central
Belo Horizonte
Belém-São LuísMacropolos consolidados
Novos macropolos
Fonte: BRASIL, 2008b, p. 37.
Geografia Regional do Brasil
– 44 –
Segundo Uderman (2008), esse foi um período de desenvolvimento endó-
geno, com as primeiras experiências de sistemas participativos no estabeleci-
mento de metas, especialmente fóruns de participação social. Nessa época tam-
bém foram recriadas as superintendências da Sudene, da Sudam e da Sudeco.
Conclusão 
Como verificamos, os contextos histórico, político, democrático e eco-
nômico nacional/mundial influenciam diretamente os caminhos que o pla-
nejamento regional – de caráter econômico desenvolvimentista – percorreu. 
Na atualidade, as incertezas nesses campos claramente influenciam o planeja-
mento regional. Neste momento, cabe a nós avançarmos na compreensão dos 
processos históricos e nas ferramentas analíticas da geografia para analisar o 
presente e, por que não, futuramente contribuir para o planejamento regional 
brasileiro como geógrafos. 
Ampliando seus conhecimentos
Para pensarmos melhor o planejamento regional no Brasil, sugerimos 
a leitura de um trecho do artigo “Desenvolvimento desigual e planejamento 
regional no Brasil”, de Ivo Marcos Theis, professor da Universidade Regional 
de Blumenau (FURB).
Desenvolvimento desigual e planejamento 
regional no Brasil
(THEIS, 2016, p. 81-83)
[...] o Brasil é uma formação social periférica, submetida à 
lógica do desenvolvimento desigual do capital. O que isso 
significa? Que o processo de desenvolvimento que vem 
tendo lugar no Brasil, fortemente, condicionado

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