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ANÁLISE DOS GÊNEROS MULTIMODAIS EM PARALELO COM SUAS CONTRAPARTES (2)

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ANÁLISE DOS GÊNEROS MULTIMODAIS EM PARALELO COM SUAS CONTRAPARTES: A IMPORTÂNCIA DO MULTILETRAMENTO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
 
 Wilson Castro Santos
 Hallysson Santos Lima
RESUMO: Este trabalho visa a analisar o modo como os gêneros multimodais e suas contrapartes se relacionam e se transformam, tendo em vista a presença dos multiletramentos que auxiliam o ensino de Língua Portuguesa. Além disso, será feita a aplicação de um formulário na escola Nazaré Ramos, no município de São Luiz Gonzaga-Ma para buscar dados de como os alunos se comportam diante das várias possibilidades de letramento, por meio dos gêneros, propiciadas pelo avanço tecnológico em relação à sua contraparte. Contemplar-se-á os gêneros textuais multimodais, como o bate-papo virtual, e-mail etc; e as contrapartes, como a conversa face a face, os bilhetes, cartas etc. que dão origem aos gêneros chamados de emergentes por Marcuschi. Além disso, cabe destacar a intervenção pedagógica na sala de sala, já que os dados coletados serão de fundamental importância para a compreensão da transformação dos gêneros multimodais e até que ponto eles constituem novos gêneros como também a concepção de multiletramentos. Deste modo, será aplicado um questionário que trará como exemplo as características do gênero bate-papo virtual (chat privado) e sua contraparte, a conversa face a face, para que se possa notar as dimensões e aspectos do surgimento dos novos gêneros virtuais. Devido ao surgimento das novas tecnologias e o uso intenso da escrita, surgiram novos gêneros textuais no meio digital, com características próprias que impactam a linguagem. Para fundamentar este trabalho teórico-prático, contar-se-á com o subsídio de Marcuschi (2004), principalmente em relação a concepção de gênero emergente e novas práticas sociais. Além disso, será importante neste estudo o embasamento teórico de Roxane Rojo (2002), para trazer a ideia de multiletramentos. Cabe destacar também que este trabalho se baseou em dois tipos de pesquisa: de campo e bibliográfica. Portanto, pretende-se obter a compreensão da importância da aquisição da escrita digital no ensino de Língua Portuguesa, tendo em vista que o modo como as pessoas se relacionam muda a cada dia.
Palavras-chave: Gêneros multimodais; meio digital; multiletramento; gêneros textuais
INTRODUÇÃO
Conforme os tempos vão passando, surgem novas formas de interação entre os seres humanos, principalmente em se tratando da importância dos gêneros textuais, uma vez que todos os indivíduos se expressam, tanto na escrita quanto na fala, por meio deles. Com o surgimento da internet, os gêneros textuais foram moldados aos novos recursos que o meio digital trouxe, com especial destaque à linguagem não-verbal, que não era usada nos gêneros mais básicos. Salienta-se que estes gêneros mais básicos, chamados aqui de contrapartes, segundo Marcuschi, terá uma função reflexiva neste trabalho, buscando a compreensão de como ocorre a transformação dos gêneros até chegar aos gêneros multimodais. Marcuschi comenta este contexto:
O fato inconteste é que a internet e todos os gêneros a ela ligados são eventos textuais fundamentalmente baseados na escrita. Na internet, a escrita continua essencial apesar da integração de imagens e de sons. Por outro lado, a ideia que hoje prolifera, quanto a haver uma “fala por escrito” deve ser vista com cautela, pois o que se nota é um hibridismo mais acentuado, algo nunca visto antes, inclusive com o acúmulo de representações semióticas. (Marcuschi, 2004, p.19)
Como destaca Marcuschi, nota-se que há um completo “hibridismo” na linguagem dos novos gêneros textuais, tendendo a várias representações gráficas, como os emoticons, figurinhas, gifs etc. Essa mudança influencia diretamente na questão do letramento, uma vez que a transmutação do texto implica o surgimento de outras linguagens e, finalmente, chega-se a outras formas de aquisição dessa linguagem específica vinda do meio digital. Emerge daí a noção de múltiplos letramento ou multiletramento, como a definição abaixo mostra.
Em qualquer dos sentidos da palavra “multiletramentos” – no sentido da diversidade cultural de produção e circulação dos textos ou no sentido da diversidade de linguagens que os constituem - , os estudos são unânimes em apontar algumas características importantes: (a) Eles são interativos, mais que isso, colaborativos. (b) Eles fraturam e transgridem as relações de poder estabelecidas (...). (c) Eles são híbridos, fronteiriçoes, mestiços ( de linguagem, modos, mídias e cultura). (Rojo, 2002, p. 25)
No tocante aos multiletramentos, este artigo pretende trazer a ideia de diversidade, tanto linguística como cultural, presente nas novas formas de comunicação humana, no caso, a internet. Desse modo, a pesquisa de campo que será feita buscará levar a alunos do ensino fundamental II textos de gêneros que surgem no meio digital, para que possa associar toda a diversidade presente neste que não eram encontradas em suas contrapartes. Assim sendo, após um exercício comparativo, ele perceberia a transformação dos gêneros textuais e como os multimodais são importantes na atualidade.
JUSTIFICATIVA
Não é redundante afirmar que o surgimento das novas tecnologias tem propiciado diferentes maneiras de nos comunicarmos, acarretando numa hibridização do texto que circula pelos discursos eletrônicos. A transformação tecnológica na qual vive o mundo é bastante visível, principalmente quando se nota o forte impacto que os textos vêm sofrendo no meio digital, como destaca Marcuschi.
Como se percebe, Marcuschi (2004) chamou atenção principalmente para a transformação da linguagem no meio virtual que, devido aos novos rumos tecnológicos, transforma-se de uma forma nunca vista antes. Portanto, é de extrema importância chamar atenção para os gêneros textuais que dão origem a esses novos gêneros digitais que, entretanto, apresentam uma antiga base já existentes a esses gêneros primitivos se dará o nome de contrapartes, segundo Marcuschi (2004).
Além disso, cabe destacar que, como o trabalho foi aplicado na sala de aulas, há outros objetivos que complementam os já citados, mas que dizem respeito apenas ao que se pretende com a intervenção pedagógica. Assim, podemos enumerá-los dessa forma:
Provocar nos alunos reflexão crítica sobre a necessidade de aquisição dos gêneros digitais como forma alternativa de outros letramentos;
Esclarecer que, embora os gêneros textuais que são contrapartes dos mutimodais sejam extremamente importantes, não é necessário desprezar aqueles que surgem no meio digital;
Desmembrar as características e dimensões dos dois tipos de gêneros;
Fazê-los chegar a conclusão de que os gêneros multimodais são novos, mas com uma base velha.
METODOLOGIA
A aplicação das atividades foi feita na Escola Municipal Nazaré Ramos, no terceiro ano do ensino médio. No primeiro momento do processo, foi dado aos alunos um texto que tinha como título “O Texto na Era Digital” (figura 1). A partir deste texto, seria apresentado aos alunos as transformações dos textos acarretadas pelo uso intenso das novas tecnologias.
Além disso, após a leitura e análise do texto, foi aplicado uma atividade para que alunos percebessem mais claramente o processo que ocorre para o surgimentos dos novos gêneros, quais características eles apresentam que os fazem ser considerados novos, quais os recursos verbais e não verbais etc. Para isso, usou-se como exemplo dois textos: uma transcrição de conversação face a face e uma imagem de print tirado de um chat privado, chamado de bate-papo. Figura 1: texto introdutório 
O questionário (figura 2) contempla as características e dimensões dos gênero textuais, ou seja, como se dá a sua relação com tempo, espaço,aspectos linguísticos e contextuais etc., para que os alunos pudessem perceber que os dois gêneros textuais apresentam características semelhantes e sobretudo diferentes, que os fazem uma continuidade um do outro, mas com suas características próprias. São estas, portanto, que devem chamar a atenção dos alunos, a fim de que ele percebam que o gênero textual multimodal, embora seja um novo gênero, tem uma base velha. Figura 2: questionário sobre as características e aspectos dos dois gêneros 
Mostrar aos alunos uma conversa aleatória de bate-papo foi bastante importante para o processo, principalmente para a percepção dos diferentes recursos que são usados, como o áudio, imagem, emoticons, figuras etc. que são importantes para a concepção de multiletramentos.
A pesquisa se baseia numa intervenção realizada por meio de uma oficina na escola municipal já citada, portanto, uma pesquisa de campo. Por meio dela, será possível a aplicação de um questionário que será necessário tanto aos alunos, por fazê-los pensar a transformação dos gêneros textuais, tanto para esta pesquisa, no que se refere à coleta de dados.
No início da oficina, foi feita uma leitura coletiva do texto “O Texto na Era Digital”, para introduzi-la com a ideia básica de que as novas tecnologias propiciam a transformações dos gêneros que circulam na grande rede mundial: a internet. Logo depois, foi apresentado aos alunos um exemplo de uma transcrição conversacional e a imagem de uma conversa entre dois interlocutores no chat privado. Para avaliar os resultados, exigiu-se deles a resolução de um questionário que contempla as características presentes ou não nos dois gêneros: conversação face a face (contraparte) e bate-papo (multimodal).
Figura 3: textos para o questionário
Análise dos dados
A atividade foi aplicada no 3° ano do ensino médio, composta por cerca de 30 alunos. No primeiro momento, foi feita uma leitura coletiva com os alunos e uma discussão sobre a influência que os textos recebem de sua circulação na internet e de um “moderno modo de se comunicar”.
Pôde-se perceber que, no momento de preencher o questionário, os alunos apresentaram certa dificuldade de comparação, característica ou mesmo produto do deficiente ensino de língua materna, que trata os gêneros textuais numa visão unilateral.
Ao contrário do que é predominante no ensino da língua materna, quando se trata dos gêneros textuais, este trabalho e sua aplicação não aderiu a visão unilateral, ou seja, olhar os gêneros textuais apenas nas suas contrapartes, mas tentou-se verificar como estes funcionam como origem dos gêneros multimodais. Isto é, mostrar os gêneros digitais e os gêneros que deram origem a ele é de fundamental importância para o ensino de língua materna, como destaca Roxane Rojo.
Sugerimos que o professor aborde trabalhos com os gêneros digitais em sua sala de aula, ampliando os trabalhos já desenvolvidos para outras que envolvam gêneros digitais que, muitas vezes, são esquecidos ou desvalorizados. É preciso haver uma ‘descoleção’ das práticas escolares canonizadas. (ROJO. 2002, p. 99)
Dessa forma, percebe-se que Roxane chama atenção para o ensino da língua materna, que trata o gêneros digitais de forma desprezível. Assim sendo, durante o desenvolvimento do trabalho, os alunos demonstraram que, mesmo a internet e redes sociais fazendo parte do seu dia a dia, ainda há dificuldade de analisar de forma conjugada as contrapartes e os gêneros multimodais.
Por meio de uma análise do questionário de um aluno, é possível perceber que ele teve cuidado que é possível haver conversa em tempos diferentes no chat privado, embora isto não aconteça na conversa face a face. Também, é possível perceber que ele não considerou a linguagem não verbal na conversa face a face, embora ela esteja presente principalmente em gestos, expressões faciais etc.
Além disso, o aluno entrou em contradição em alguns momentos, por exemplo quando ele afirma que a troca de falantes não existe e ao mesmo tempo diz que ela é alternada. Ele também desconsiderou um recurso importante do bate-papo virtual, o áudio, que é importante à medida que retoma as características principais da conversa face a face. Outra coisa que merece destaque é que muitos alunos não conheciam a palavra “extralinguístico”, o que fez com que o aluno em questão desconsiderasse os aspectos extralinguísticos do bate-papo, que apresenta vários recursos não-verbais, como o emoticons, figurinhas, gifs, imagens etc.
Entretanto, houve também alunos que conseguiram preencher de forma cuidadosa o questionário. Neste caso, o importante foi perceber que alguns alunos conseguiram entender que os gêneros digitais, tomando como exemplo o bate-papo virtual, apresentam características próprias, mas que retoma às vezes detalhes do gênero original, no caso, a conversa face a face.
Já este aluno, ao contrário do outro, não entrou em contradição, mas cometeu algumas irregularidades. Entretanto, ele também teve cuidado com o tempo dos dois gêneros textuais e considerou o aspecto assíncrono do chat privado, assim como levou em conta a presença de texto falado no bate-papo virtual.
Além disso, é possível perceber que o aluno não levou em conta o aspecto extralinguístico do gênero digital. Neste caso, isto é um grande problema, pois ele se descuidou a respeito da diversidade de recursos presentes no chat privado que vão além da linguagem.
Do ponto de vista da natureza enunciativa dessa linguagem, integram-se mais semioses do que usualmente, tendo em vista a natureza do meio com participação mais intensa e menos pessoal, sugerindo a hiperpessoalidade. (Marcuschi, 2004, p. 19)
Segundo Marcuschi, o texto digital se apresenta com o uso de mais semioses, ou seja, imagens, vídeos, sons, desenhos etc, do que o normal. Assim, é indispensável levar em conta o hibridismo, pois é ele que constitui os diversos letramentos existentes.
Considerações finais
Pretendeu-se neste trabalho levantar questões importantes sobre o ensino de gêneros textuais na aula de Língua Portuguesa, principalmente no que se refere à analise dos gêneros multimodais e nos que dão origem a eles, que seriam as contrapartes. Desse modo, para concretizar esta tarefa, realizou-se uma pesquisa de campo acompanhada de uma bibliográfica, para a análise da transformação dos gêneros multimodais em paralelo com suas contrapartes.
Segundo Dionísio (2005; 2011), a multimodalidade se refere às diferentes formas de representação utilizadas na construção linguística de uma mensagem, dentre essas formas, temos: palavra, imagens, cores, formatos, disposição da grafia, gestos etc. Ou seja, a multimodalidade é uma categoria indispensável para o ensino de língua materna, pois trabalha a diversidade dos gêneros textuais.
O estudo desses gêneros textuais emergentes nos faz lembrar de letramento, prática de aquisição linguística num dado contexto sociocomunicativo; entretanto, a diversidade linguística encontrada nos gêneros mutimodais faz surgir a teoria do multiletramentos, segundo Roxane (2012), que é responsável por trazer uma perspectiva no ensino de Língua Portuguesa.
Referências
 
MARCUSCHI, L, A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. Em: MARCUSCHI, L.A E XAVIER, A, C (Orgs). Hipertexto e gêneros digitais. Rio de Janeiro. Editora Lucerna, 2004.
ROJO, Roxane; ALMEIDA, Eduardo de Moura (Orgs). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola editorial, 2012.
MARCUSCHI, L, A: DIONISIO, A, P (Orgs). Fala e Escrita. Belo Horizonte: autêntica, 2005.

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