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Apostila Estácio

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direito penal constitucional – crimes em espécie
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	direito penal constitucional – crimes em espécie
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DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL – CRIMES EM ESPÉCIE
SUMÁRIO 
Apresentação da Disciplina........................................................................página 3.
Dos Crimes contra a Pessoa.......................................................................página 5.
Dos Crimes contra o Patrimônio................................................................página 18.
Dos Crimes contra a Dignidade Sexual .................................................... página 26.
Dos Crimes contra a Paz Pública. Dos Crimes contra a Fé Pública...................................................................................................página 31.
Dos Crimes contra a Administração Pública................................................página 36.
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Nesta disciplina, faremos um estudo crítico das principais figuras típicas previstas na Parte Especial do Código Penal, a partir da relevância do bem jurídico tutelado, de forma a adequá-las aos princípios norteadores, limitadores e garantidores do Direito Penal.
Em seguida, provocaremos o raciocínio crítico-jurídico referente à Parte Geral do Direito Penal, das Teorias da Sanção Penal e de seus reflexos no estudo dos crimes em espécie, sempre pautado na filtragem constitucional.
Desta forma, na presente disciplina serão identificadas as medidas de política criminal adotadas para fins de criminalização de condutas e respectiva adoção de Sistemas de Garantia.
Objetivos: 
Compreender a relevância do estudo integrado entre as Teorias do Delito, da Sanção Penal e os Crimes em Espécie.
Compreender a relação entre o instrumental, teórico e prático por meio da exposição, de um contexto pedagógico e de suas experiências profissionais.
Compreender as medidas de Política Criminal adotadas para fins de seleção dos bens jurídicos, a tipificação das condutas e aplicação de sanção penal para fins de legitimação do Controle Social.
Bibliografia 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2019.
LA PEÑA, Daniela de Oliveira Duque-Estrada de. Direito Penal IV. Rio de Janeiro: SESES, 2017.
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal. Vol. 3. Parte Especial. 3. ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 2. Parte Especial. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018.
Bibliografia complementar: 
ARNAU, Frank. Por que os Homens Matam. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
BRASIL, Decreto-Lei n. 2848, de 07 de dezembro de 1940. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 02janeiro. 2019.
LEAL, Rogério Gesta. Patologias Corruptivas nas Relações Entre Estado, Administração Pública e Sociedade: Causas, Consequências e Tratamentos. Santa Cruz do Sul: Edunisc – Campus, 2013.
GERMANO, Luiz Paulo Rosek. O Juiz e a Mídia Reflexos no Processo. São Leopoldo: Unisinos, 2012. 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
______________ Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
SARMENTO, Daniel e PIOVESAN, Flávia. Nos Limites da Vida - Aborto, Clonagem Humana e Eutanásia Sob a Perspectiva dos Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Lúmen Júris.
STRECK, Lênio Luiz. Tribunal do júri: símbolos e rituais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1944.
TEMA 
Dos Crimes contra a Pessoa.
Neste tópico analisaremos as figuras típicas contra a pessoa e, para tanto, identificaremos as condutas lesivas ao bens jurídico-penais vida, integridade física, psíquica e fisiológica e honra. 
Com relação aos crimes contra a vida, analisaremos as principais questões concernentes aos delitos de homicídio, infanticídio, induzimento, instigação e auxílio ao suicídio e aborto, de modo a confrontar as controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais.
 No que tange ao delito de lesões corporais, serão analisadas as medidas de política criminal adotadas, seja para flexibilização do bem jurídico-penal, seja para o recrudescimento das medidas de política criminal sobre as lesões perpetradas no âmbito de violência doméstica e violência doméstica discriminatória de gênero. 
Por fim, com relação aos delitos contra a honra, bem jurídico-penal disponível, serão confrontadas as figuras típicas de calúnia, difamação e injúria a partir da análise de seus elementos distintivos.
Objetivos 
Identificar o bem jurídico-penal vida extrauterina e intrauterina.
Analisar a indisponibilidade da tutela jurídico-penal da integridade corporal ou saúde.
Diferenciar os crimes contra a honra
Bibliografia 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2019.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 2. Parte Especial. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Bibliografia complementar 
CAPEZ, Fernando Capez. Curso de Direito Penal. v.4. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Crimes contra a Vida.
Em um primeiro momento, é necessária a delimitação do conceito de “vida humana” para o Direito Penal, bem como a distinção entre vida intrauterina e extrauterina, e seus termos inicial e final. No que concerne ao termo inicial da vida humana, para fins penais, não obstante a questão seja extremante controvertida, o melhor entendimento é no sentido da adoção da teoria conceptualista, segundo a qual o início da vida intrauterina ocorre com a nidação, ou seja, no momento em que o óvulo fecundado é fixado no útero materno. Nesse sentido, Luiz Regis Prado afirma que “a gestação tem início com a implantação do óvulo fecundado no endométrio”. (PRADO, 2010, p. 86).
Assim, poderemos diferenciar os delitos contra a vida a partir da distinção entre eliminação da vida intrauterina ou extrauterina. No que concerne à eliminação da vida intrauterina, tipificada pelo abortamento criminoso, este poderá ser praticado pelo agente desde o momento da concepção (nidação) até o instante anterior ao início do parto, conforme se depreende da interpretação do disposto no artigo 123, do Código Penal, que faz expressa menção de que a mãe atuaria durante o parto ou logo após. Por outro lado, para fins de caracterização do término da vida extrauterina, o critério a ser adotado encontra-se previsto no Artigo 3º, da Lei nº 9434/1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento.
Homicídio. (Artigo 121, Código Penal).
O delito de homicídio caracteriza-se pela eliminação da vida extrauterina. Por se tratar de um delito material com a admissibilidade da tentativa, a consumação ocorre com a ocorrência do resultado naturalístico. Trata-se ainda de um crime instantâneo de efeitos permanentes.
Homicídio Privilegiado (§1º, art. 121, Código Penal).
 Uma vez reconhecido o privilégio, a doutrina é unânime em estabelecer que se trata de direito subjetivo do réu a diminuição de pena. Por motivo de relevante valor social, pode-se entender aquilo que venha a atender os interesses da coletividade, conforme estabelecido na Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal, item n. 39 e por motivo de relevante valor moral, aquele que levasse em conta os interesses do agente, como o caso dohomicídio eutanásico ou de um pai que mata o estuprador da filha. A segunda parte do Artigo. 121, §1º apresenta a hipótese de o agente estar totalmente influenciado pela emoção, aliado a praticamente um ato reflexo à provocação da vítima.
1.1.2. Homicídio Qualificado (§1º, art. 121, Código Penal).
Conforme estabelece o item n.38, da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal, as circunstâncias qualificativas são circunstâncias reveladoras de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente. Vejamos, a seguir alguns aspectos relevantes sobre as qualificadoras.
Consoante expressa previsão legal, art.1º, da Lei n. 8072/1990, o delito de “homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado é considerado hediondo, consumado ou tentado, de modo a incidirem todos os institutos repressores da Lei de Crimes Hediondos aos condenados pelo respectivo delito.
Importante destacar que, no caso do homicídio qualificado-privilegiado, situação na qual a qualificadora será de natureza objetiva, prevalece o entendimento pela inaplicabilidade dos institutos repressores da Lei de Crimes Hediondos por meio da adoção da técnica de auto integração legislativa - analogia, de modo a aplicar a norma contida no art. 67, do Código Penal, segundo a qual devem preponderar os motivos determinantes, neste caso, o privilégio – incompatível com a hediondez.
Atenção. Caso homicídio seja praticado em concurso eventual de pessoas, relevante salientar que, consoante a interpretação do disposto no art.30, CP, o privilégio, motivo determinante do crime, por se tratar de circunstância de caráter pessoal é incomunicável. Com relação às qualificadoras, somente haverá a comunicabilidade das qualificadoras de natureza objetiva, ou seja, afetas aos meios e modos de execução do delito, desde que o agente que concorra para o delito tenha conhecimento destas.
Atenção. A causa de aumento de pena ao homicídio praticado por milícia privada quando esta estiver sob o pretexto de praticar segurança privada, prevista no §6º, do art.121, CP, também é aplicável para os casos de o homicídio ser cometido por grupo de extermínio.
1.1.3 A qualificadora feminicídio
A referida qualificadora tem por fundamento a prática do homicídio contra a mulher por razões de condição de sexo feminino (§2º, VI e§2º- A, art.121, CP). Considera-se como tal a violência doméstica e familiar e o menosprezo ou discriminação à condição de mulher, sendo aplicável causa de aumento, de 1/3 até a metade, nos casos em que o crime for praticado nas circunstâncias previstas no §7º, art.121, CP
Importante destacar que o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de que a qualificadora do feminicídio se caracteriza como circunstância de natureza objetiva, razão pela qual pode se cumulada com quaisquer outras qualificadoras, mesmo as afetas aos motivos determinantes do crime (Resp n.17391704/RS, disponível em http://www.stj.jus.br).
Atenção. O descumprimento das medidas protetivas previstas no art.22, I, II e III, da lei n.11340/2006 quando praticado no âmbito do feminicídio configurará causa de aumento prevista no inciso IV, do §7º, art.121, CP.
Atenção. Com relação à qualificadora do homicídio funcional, prevista no §2º, VII, art.121, CP, surge controvérsia acerca da sua categorização. Para Rogério Sanches Cunha se o crime for praticado contra o agente público no exercício de suas funções, a qualificadora terá natureza objetiva, por outro lado, se o homicídio for praticado em decorrência da função, mas a vítima não a estiver exercendo no momento do delito, a natureza será subjetiva (CUNHA, 2019,71)
Induzimento, instigação e auxílio ao suicídio (Artigo 122, Código Penal).
A conduta sancionada é atribuída ao terceiro, que induz, instiga ou auxilia alguém a suicidar-se, pois, a partir da interpretação do Princípio da Alteridade, a Legislação Penal pátria não sanciona a conduta de destruir a própria vida por questões de Política Criminal.
No que concerne ao momento consumativo e possibilidade de caracterização da tentativa, a questão resta controvertida, ensejando dois entendimentos. Um primeiro entendimento é no sentido de que, por ser um delito instantâneo e de mera conduta (PRADO, 2010, p. 70), os resultados lesão grave e morte são apenas condições de punibilidade, todavia, prevalece o entendimento de que se trata de delito material e, por isto, os resultados lesão grave e morte são elementares do tipo. Dessa forma, a consumação exige a ocorrência de tais resultados. Caso contrário, a conduta será atípica. (CUNHA, 2019, 89). Vale lembrar que, seja qual for o entendimento adotado, a tentativa é inadmissível.
Com relação à figura majorada prevista no parágrafo único, inciso II, a menoridade da vítima, na verdade, refere-se ao menor de 21 e maior de 14 anos, pois, segundo melhor entendimento, face à interpretação extensiva do disposto no Artigo 217-A do Código Penal, o menor de 14 anos, considerado vulnerável pelo ordenamento jurídico pátrio, a princípio, não teria capacidade de discernimento para fins de ser instigado, induzido ou auxiliado a praticar seu suicídio, razão pela qual, nestes casos, a conduta de terceiro caracterizar-se-ia o delito de homicídio.
Infanticídio (Artigo 123, Código Penal).
Mais uma vez, nesse caso, tutela-se a vida extrauterina, a qual será eliminada pela própria mãe do neonato durante ou logo após o parto, desde que ela esteja sob a influência do estado puerperal. Por tratar-se de crime material, consuma-se com a morte do nascituro, sendo admissível a tentativa, haja vista tratar-se de crime plurissubsistente.
O estado puerperal configura elementar do tipo penal e, sendo um critério fisiopsíquico, deve ser aferido mediante laudo pericial com vistas à atenuação da culpabilidade. Vale lembrar que, se for retirada total ou parcialmente a capacidade de entendimento ou de autodeterminação da parturiente em decorrência do grau de desequilíbrio fisiopsíquico, aplicar-se-ão as disposições do Artigo 26, caput ou parágrafo único do CP. 
Atenção. Questão controvertida versa sobre a comunicabilidade do estado puerperal no caso de concurso de pessoas para a prática do delito. Neste caso, desde que o agente tenha ciência da existência da elementar, a mesma se comunicará caso ambos realizam o núcleo do tipo ou a mãe seja auxiliada por terceiro, todavia nos casos em que os atos executórios forem praticados por terceiro com o auxílio da mãe, ela será responsabilizada pelo infanticídio e o terceiro, por homicídio.
Aborto (Artigo 124 a 128, Código Penal).
Considera-se aborto a eliminação dolosa da vida intrauterina, seja por meio da expulsão do útero materno, seja por meio da interrupção dolosa da gravidez, levada a termo por terceiro – gestante (Artigo 124, do Código Penal) ou terceiro (Artigos 125 e 126, do Código Penal). É irrelevante para a caracterização do delito de aborto o estágio de desenvolvimento da gestação, bem como a capacidade de vida independente. Por se tratar de delito material, consuma-se com a morte do produto da concepção, sendo irrelevante que ela ocorra dentro ou fora do útero materno. Para nossos estudos foram selecionadas, portanto, as condutas criminosas de abortamento e o denominado aborto legal ou permitido, previsto no art.128, do Código Penal.
1.4.1 Autoaborto (Artigo 124, Código Penal).
É possível a prática das condutas do autoaborto pela própria gestante ou do consentimento desta para que terceiro o pratique. Na primeira modalidade, estamos diante de um delito de mão própria, ou seja, que exige, para a sua prática, a pessoalidade do sujeito ativo. Logo, não será admissível, no caso de concurso de pessoas, a coautoria, mas, somente, a participação. Na segunda modalidade, aborto consentido, o legislador optou pelo rompimento com a teoria unitária do concurso de pessoas, sendo a conduta da gestante tipificada no Artigo 124, CP, e a do terceiro, no Artigo 126, CP. Vejamos, a seguir as questõescontrovertidas sobre o delito.
Com relação à validade do Consentimento e capacidade para consentir, reconhece-se que a menor de 18 anos pode consentir para a prática do aborto e, portanto ser a conduta do terceiro que praticar o aborto tipificado no art. 126, Código Penal. Entretanto, se a gestante for menor de 14 anos, consoante o disposto no art. 126, parágrafo único, Código Penal, o terceiro será responsabilizado pelo delito de aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante.
No que concerne à prática do autoaborto com a participação de terceiro, no qual resulte lesões corporais graves ou a morte da gestante, qual será a responsabilização penal do partícipe? O melhor entendimento é no sentido de que o terceiro será responsabilizado pela participação na figura típica do art. 124, Código Penal em concurso formal perfeito com a modalidade culposa afeta aos resultados mais gravosos – art.121, §3º ou art. 129, §6º c.c art. 124 n.f art. 70, 1ª parte, todos do Código Penal, uma vez que o art. 127 do Código Penal é aplicável somente aos artigos 125 e 126 do mesmo diploma legal.
1.4.2. Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante (Artigo 126 do Código Penal)
Nesta conduta típica há o rompimento com a teoria unitária do concurso de pessoas no que concerne à conduta da gestante que consente com a prática do aborto, sendo sua conduta tipificada como incursa no Artigo 124, CP. Por configurar crime comum (pode ser praticado por qualquer pessoa), admite a ocorrência de concurso de pessoas em quaisquer de suas modalidades (coautoria ou participação).
Cabe lembrar que a gestante poderá desistir da conduta mesmo após o início dos atos executórios (durante a operação), desde que antes da interrupção da gravidez, caso em que será o terceiro responsabilizado, caso prossiga com a conduta, pelo crime do Artigo 125, CP.
1.4.3. Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (Artigo 125, Código Penal).
Nessa figura típica, a gestante e o produto da concepção (óvulo, embrião ou feto) são sujeitos passivos da conduta praticada por terceiro. Questão de suma importância é a compreensão acerca da ausência de consentimento da gestante, podendo ser o dissenso real (nos casos de emprego de fraude, grave ameaça ou violência contra a gestante) ou presumido (nos mesmos moldes da caracterização da “vulnerabilidade” da vítima prevista no Artigo 217-A do CP – se a gestante não é maior de quatorze anos).
 1.4.4. Aborto qualificado pelo resultado lesão corporal de natureza grave ou morte.
A figura majorada prevista no Artigo 127, Código Penal, configura-se como figura preterdolosa e, somente, é aplicável às figuras típicas previstas nos Artigo 125 e 126, Código Penal, ou seja, ao terceiro que pratica o aborto e não à gestante, no caso de lesões corporais de natureza grave por questões de política criminal, haja vista o ordenamento jurídico não sancionar, em regra, a autolesão (princípio da alteridade).
1.4.5. Abortos Necessário e Humanitário.
O Artigo 128, do Código Penal apresenta causas especiais de exclusão de ilicitude e compreende os denominados abortos necessário e aborto humanitário. Possui por fundamento o disposto no item n. 41, da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal. No caso de aborto necessário, face à ponderação de interesses, o melhor entendimento é no sentido de que não há a exigência do consentimento da gestante e tampouco a autorização judicial para a prática do aborto. No caso de aborto humanitário, por sua vez, é indispensável o consentimento da gestante ou de seu representante legal não sendo necessária a autorização judicial ou a existência de uma sentença condenatória pelo delito contra a dignidade sexual, cabendo ao médico, por questões de cautela, verificar a existência de certidões ou cópias de boletins de ocorrências policiais, testemunhos colhidos perante a autoridade policial ou, na ausência destes, de atestado médico ou prontuário de atendimento médico afeto às lesões decorrentes da conjunção carnal ou da prática de ato libidinoso forçada.
Das Lesões Corporais (Artigo 129, Código Penal).
Em decorrência do princípio da dignidade da pessoa humana, bem como do interesse social na manutenção da incolumidade física e mental dos indivíduos, o bem jurídico tutelado é considerado um bem público indisponível. Entretanto, tal indisponibilidade foi mitigada com o advento da Lei nº 9.099/1995 ao estabelecer que, nos casos de lesões corporais culposas e de natureza leve, a ação penal de iniciativa pública passou a ser condicionada à representação da vítima ou de seu representante legal (Artigo 88, da Lei nº 9.099/1995). No mesmo contexto, podemos também questionar a validade do consentimento do ofendido e, consequente, disponibilidade do bem jurídico em determinadas situações, tais como: lesões desportivas, intervenções cirúrgicas, dentre elas, por exemplo, o transplante de órgãos e tecidos, cirurgia transexual e esterilização cirúrgica.
Atenção. Sobre a possibilidade de incidência dos princípios da insignificância e adequação social para fins de exclusão da tipicidade material da conduta, compreende-se aplicável a flexibilização da indisponibilidade do bem jurídico nos casos, por exemplo, de perfuração do corpo para a colocação de adereços, bem como a realização de tatuagens, desde que preenchimentos os requisitos para a validade do consentimento pela vítima, juridicamente capaz.
2.1. Conflito aparente de normas e concurso de crimes com demais figuras típicas.
É possível que, em alguns casos concretos, possamos nos deparar com situações nas quais tenhamos dúvidas acerca da correta tipificação da conduta de lesões corporais, quando essa “concorrer” com outras figuras típicas, seja por meio do conflito aparente de normas, seja por meio da incidência de concurso de crimes.
No caso de concurso entre os delitos de lesão corporal leve e injúria real, o ponto distintivo resulta do animus do agente, ou seja, se “a violência exercida for ultrajante, havendo a intenção de humilhar, envergonhar a vítima, ofender a sua dignidade ou decoro” estará configurada a figura típica de injúria real. Por outro lado, caso haja significativa lesão corporal, consoante o disposto no § 2º, do Artigo 140, do Código Penal, será possível a aplicação concomitante de ambas as sanções por força da caracterização de concurso de crimes.
2.2. Distinção entre violência doméstica e violência de gênero discriminatório contra a mulher
Questão a ser analisada com cuidado é o confronto entre as figuras típicas de lesões corporais qualificadas e majoradas mediante a caracterização da violência doméstica (Artigo 129, §§ 9°, 10 e 11 do Código Penal) e a violência doméstica e de gênero previstas na Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
Inicialmente, temos de observar que a Lei nº 11.340/2006 não tipificou condutas, mas, sim, estabeleceu critérios de política criminal a serem adotados nos casos de violência doméstica contra a mulher, conforme se depreende da interpretação do disposto no Artigo 5º, da Lei n° 11.340/2006. Sendo assim, não há que se confundir violência doméstica com violência de gênero. Compreende-se por violência doméstica a praticada no âmbito da vida em família, independentemente da existência de parentesco. Por outro lado, a violência de gênero, no caso da Lei nº 11.340/2006, possui caráter eminentemente discriminatório contra a mulher, tendo, a referida lei abarcado os dois conceitos.
Deve-se atentar que o disposto nos parágrafos 9º, 10 e 11 do Artigo 129 do Código Penal apresentam, como dito anteriormente, figuras qualificadas e majoradas a serem aplicadas nos casos de lesões corporais praticadas sob a caracterização de “violência doméstica”, e não para casos exclusivos de “violência de gênero”, apesar de tais parágrafos terem sido inseridos no Código Penal pela Lei nº 11.340/2006.
No caso de lesões corporais de natureza leve praticadas contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-seo agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, a pena cominada passa a ser de detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos (art. 129, § 9º, Código Penal). 
Para as lesões corporais de natureza grave ou qualificada pelo resultado morte, praticadas no âmbito de violência doméstica, as penas serão majoradas em um terço (art. 129, § 10, Código Penal). No caso de lesões corporais praticadas no âmbito de violência doméstica contra pessoa portadora de deficiência, as penas serão majoradas em um terço (art. 129, § 11). Na hipótese de lesões de natureza grave, gravíssima e de lesão seguida de morte (CP, art. 129, §§ 1º, 2º e 3º), não incide a qualificadora do mencionado § 9º, até por uma razão óbvia: a pena nele cominada é bastante inferior, de maneira que seria extremamente vantajoso agredir um parente, um cônjuge ou a companheira de modo grave ou gravíssimo. Evidentemente, não é o caso. A qualificadora incide somente em relação às lesões dolosas leves.
2.3. A representação como condição de procedibilidade da ação penal para o delito de lesões corporais leves e culposas.
Com o advento da Lei nº 9.099/1995, por critérios de política criminal, os delitos de lesões corporais leves e culposas, por expressa previsão legal, passaram a possuir como condição de procedibilidade para a deflagração da ação penal de iniciativa pública a representação da vítima, diferentemente da iniciativa incondicionada do Ministério Público aplicável aos demais casos de lesão corporal. Dessa forma, a partir da referida alteração legislativa, dois questionamentos devem ser feitos: O prazo decadencial para a representação e consequente propositura da ação penal, consoante o disposto nos Artigo 24 e 38 do Código de Processo Penal, é de seis meses a contar da data em que teve conhecimento da autoria do delito, sob pena de decadência do direito de ação.
Atenção. Em relação à violência doméstica contra a mulher, a questão foi enfrentada pelo (Supremo Tribunal Federal) STF, tendo sido objeto de Ação Declaratória de Inconstitucionalidade (ADI 4.424) ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) quanto aos Artigos 12, inciso I; 16; e 41 da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006).
O Plenário do Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos, vencido o presidente, ministro Cezar Peluso, julgou procedente, na sessão do dia 09 de fevereiro de 2012, a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.424 e decidiu pela possibilidade de o Ministério Público dar início a ação penal sem necessidade de representação da vítima, bem como pela incompetência dos juizados especiais criminais em relação aos crimes cometidos no âmbito da Lei Maria da Penha.
Por conseguinte, o Superior Tribunal de Justiça editou verbetes de súmulas corroborando o recrudescimento do tratamento nos casos violência doméstica contra a mulher de modo que: (i) para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima; (ii) a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada; (iii) é inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas e (iv) prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (Verbetes de Súmula n. 542, 588, 589 e 600, disponíveis em htttp://www.stj.jus.br). 
2.4. A Lesão corporal funcional e crimes hediondos.
A lesão corporal funcional, com os mesmos requisitos adotados para o homicídio funcional, apresenta-se no §12, do art.129, CP, como causa de aumento de pena de um a dois terços. Importante destacar que, se das lesões corporais funcionais advierem os resultados gravosos de lesão corporal grave e morte, o delito será categorizado como delito hediondo, conforme o disposto no art.1º, I-A, da lei n.8072/1990.
Crimes contra a Honra (Artigo 138 a 145, Código Penal).
A honra integra o direito fundamental de personalidade, previsto no Artigo 5º, X, da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) e classifica-se em honra objetiva e honra subjetiva, conforme se relacione, respectivamente, à reputação e à boa fama que o indivíduo ou à dignidade e ao decoro pessoal da vítima, ou seja, ao juízo que cada indivíduo tem de si.
No âmbito jurídico-penal, o direito à honra apresenta-se como disponível e, portanto, passível de validade do consentimento do ofendido para fins de exclusão de responsabilidade. Para que o consentimento do ofendido seja válido, é necessário que: o bem jurídico tutelado seja disponível, o ofendido tenha capacidade para consentir e que o consentimento seja válido. Dependendo do momento em que ofendido consinta com a ofensa será caracterizada desde a exclusão da tipicidade até o perdão do ofendido.
Atenção. A partir da premissa de que a pessoa jurídica não pratica crime, mas apenas é dotada pela Constituição de responsabilidade penal pelas condutas praticadas por seus agentes e de acordo com sua natureza jurídica (Artigo 225, § 3º, e Artigo 173, § 5º), não há que se falar na possibilidade da pessoa jurídica figurar no pólo passivo do delito de calúnia, mas tão somente do delito de difamação, haja vista a possibilidade de sofrer dano moral, conforme se depreende de entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça, no Verbete n.227.
Atenção. Concurso de ofensas proferidas no mesmo contexto fático. Neste caso, 
o melhor entendimento é no sentido de que, caso as condutas ofensivas lesionem espécies de honra distintas, por exemplo, calúnia e injúria ou difamação e injúria, será possível o concurso de crimes. Por outro lado, caso condutas ofensivas lesionem o mesmo bem jurídico, por exemplo, calúnia e difamação, caracterizar-se-á conflito aparente de normas a ser solucionado pelo princípio da absorção.
Semelhanças e dessemelhanças entre os delitos de calúnia, difamação e injúria.
Na calúnia e na difamação, há a imputação de um fato concreto, que, na primeira, deve ser falso e tipificado como crime (não se aplica à contravenção penal), não exigidos na difamação. Ambos lesionam a honra objetiva. Na injúria, por sua vez, há lesão à honra subjetiva ao serem atribuídas à vítima qualidades negativas à sua dignidade ou decoro.
3.2. Exceção da verdade nos crimes contra a honra
A exceção da verdade caracteriza-se como incidente processual ou forma de defesa indireta, que deve ser oposta no momento da resposta preliminar obrigatória prevista no Artigo 396-A do Código de Processo Penal.
Sua admissibilidade encontra-se regulada, por exclusão, no art.138, §3º, do CP, uma vez que se aplica como regra aos delitos de calúnia e caracterizará causa excludente de tipicidade. Com relação ao delito de difamação, somente será admitida a exceção da verdade se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções e neste caso caracterizará causa excludente de ilicitude.
Ação Penal nos crimes contra a honra
Em regra, a ação penal é deflagrada por iniciativa do ofendido, que tem o prazo decadencial de seis meses para o oferecimento da queixa, a contar da data em que tiver conhecimento da autoria do delito (Artigo 38, do Código de Processo Penal). A ação penal será de iniciativa pública, condicionada à representação do ofendido nos casos de crimes praticados contra funcionário público no exercício de suas funções, injúria real da qual resulte lesão corporal, injúria discriminatória e, condicionada à representação do Ministro da Justiça, quando perpetradas contra a honra do Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro.
Estabelece o Verbete de Súmula nº 714 do Supremo Tribunal Federal que a legitimidade para propositura da ação penal no caso de crime praticado contra a honra do funcionário público é concorrente. Ou seja, é facultada ao funcionário a propositura de queixa crime paraoferecimento da ação penal ou representar ao Ministério Público para que o parquet possa oferecer a denúncia.
Injúria discriminatória ou preconceituosa e seu confronto com os delitos previstos na Lei nº 7716/1989.
A figura típica de injúria qualificada, preconceituosa ou discriminatória prevista no Artigo 140, § 3° do CP não se confunde com os delitos de discriminação ou preconceito de raça e cor, pois, enquanto naquela, a conduta visa à ofensa a honra de outrem, no delito de racismo, previsto na Lei nº 7716/1989, a conduta do agente visa à segregação em função da raça ou cor.
Causas especiais de exclusão dos delitos de difamação e injúria. 
O Artigo 142 do Código Penal apresenta, sob a denominação de exclusão do crime, situações nas quais as ofensas de difamação e injúria não terão relevância jurídico-penal. Não obstante a controvérsia doutrinária, o melhor entendimento é no sentido que configura causa excludente de ilicitude.
TEMA 
Dos Crimes contra o Patrimônio.
O conceito de patrimônio, no âmbito do Direito Penal, abrange apenas os créditos (ou seja, que possa ser apreciado economicamente) e tudo aquilo que tenha valor meramente afetivo, o que economicamente pode ser definido por valor de troca e valor de uso, respectivamente. Configura-se, portanto, como conjunto de relações jurídicas que possam ser economicamente apreciáveis, não abrangendo, entretanto, o patrimônio negativo.
Objetivos 
Identificar o conceito de patrimônio para fins penais. 
Diferenciar as principais figuras típicas contra o patrimônio.
Aplicar as escusas absolutórias e as imunidades relativas aplicáveis aos crimes contra o patrimônio.
 
Bibliografia 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Bibliografia complementar 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Furto (Artigo 155, do Código Penal)
O delito de furto apresenta-se como elemento disparador da análise das demais figuras típicas contra o patrimônio, tais como apropriação indébita, roubo e estelionato.
1.1. Consumação e tentativa
Não obstante a controvérsia doutrinária sobre o momento consumativo do delito de furto, os tribunais superiores firmaram entendimento no sentido da adoção da teoria amotio, segundo a qual “dá-se a consumação quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, mesmo que num curto período de tempo, independentemente do deslocamento ou posse mansa e pacífica”. (CUNHA, 2019, 278). Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça, sumulou entendimento pela adoção da teoria da amotio para fins de caracterização da consumação do delito – Súmula n.582. 
Vejamos a seguir, algumas questões controvertidas sobre o delito de furto.
Furto qualificado-privilegiado
Em algumas situações concretas, pode a conduta do agente adequar-se às figuras privilegiada e qualificada do delito de furto, o que pode ensejar a discussão acerca da compatibilidade de aplicação concomitante da qualificadora e da causa de diminuição de pena. O Superior Tribunal de Justiça sumulou entendimento no sentido de sua possibilidade, desde que a qualificadora tenha natureza objetiva, uma vez que o privilégio será sempre de natureza subjetiva (Verbete de Súmula n.511)
Atenção. A controvérsia acerca da caracterização da figura tentada nos casos de detectores antifurto foi sumulada pelo Superior Tribunal de Justiça, na medida em que são passíveis de falha, logo não afastam, por si só, a tipicidade da conduta (Verbete de Súmula n.567)
1.3. Possibilidade da ocorrência de furto qualificado praticado durante o repouso noturno.
A causa de aumento de pena prevista no § 1° do art. 155 do CP - que se refere à prática do crime durante o repouso noturno - é aplicável tanto na forma simples (caput) quanto na forma qualificada (§ 4°) do delito de furto (Informativo n.554, STJ, disponível em: http://www.stj.jus.br).
Atenção. Face ao respeito aos princípios da legalidade e taxatividade é inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo (Verbete de Súmula n.442, Superior Tribunal de Justiça).
Distinção entre os delitos de furto mediante fraude e estelionato.
No furto há a subtração da coisa no momento em que a vigilância sobre o bem é desviada em face do ardil; no estelionato a fraude é empregada para obter a entrega voluntária do próprio bem pelo proprietário em decorrência do induzimento a erro.
1.4. Distinção entre os delitos de furto e apropriação indébita
No delito de apropriação indébita, previsto no Artigo 168 do Código Penal, a coisa é entregue licitamente ao agente, sua posse sobre ela é desvigiada, bem
 
como o especial fim de agir de assenhoreamento definitivo é posterior à posse. Por outro lado, no delito de furto, o agente não tem a posse do bem, apoderando-se deste contra a vontade da vítima, ou seja, o dolo na conduta é anterior à sua posse.
Atenção. Para que se configure o denominado furto de uso, ilícito civil, necessário o cumprimento dos seguintes requisitos: que o bem seja infungível, ausência de especial fim de agir de assenhoramento definitivo para si ou para outrem, e restituição imediata e integral ao sujeito passivo.
Apropriação Indébita (Artigo 168, do Código Penal)
O delito de apropriação indébita, crime comum, subjetivamente complexo, de dano e material se consuma no momento em que o agente inverte o “animus” sobre a posse ou detenção da res e passa a tratá-la como se proprietário fosse. Desta forma, a consumação pode ocorrer em duas situações: quando dispõe (por exemplo aliena ou aluga) a res, ou quando se nega a restituí-la ao seu proprietário, findo o prazo para sua entrega, como por exemplo, nos casos de notificação, interpelação judicial ou protesto por parte da vítima.
Atenção. Da mesma forma que o furto, a figura típica admite o privilégio no caso de primariedade do agente e pequeno valor da coisa apropriada, conforme dispõe o art.170, CP.
2.1. Apropriação indébita previdenciária (Artigo 168-A, do Código Penal)
Configura-se como verdadeiro crime tributário previsto no Código Penal.
 Importante destacar a expressa previsão legal acerca da possibilidade da exclusão de punibilidade, em seu parágrafo segundo, nos casos em queo agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. 
Atenção. Considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia, aplica-se o princípio da insignificância aos crimes tributários e reconhecimento da atipicidade material da conduta – Parâmetro fixado em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), consoante a interpretação do disposto nos artigos 20-B e 20-C da Lei n. 10.522/2002 e na Portaria PGFN n. 33, Portarias n.75 e 130/MF.
Estelionato (Artigo 171, do Código Penal)
Neste delito o especial fim de agir configura-se pelo dolo de obter lucro ou proveito indevido. Por tratar-se de delito material, consuma-se com a obtenção da vantagem ilícita e produção de prejuízo alheio, bem como admite a tentativa.
3.1. Distinção entre os delitos de estelionato e apropriação indébita
No estelionato, o agente atua dolosamente desde o início, e o dolo é posterior à posse ou à detenção.
Aspectos relevantes aplicáveis aos crimes contra o patrimônio cometidos sem violência ou ameaça à pessoa.
4.1. Aplicabilidade do princípio da insignificância aos crimes contra o patrimônio
O reconhecimento do princípio da insignificância levaria ao reconhecimento da atipicidade da conduta em face da ausência de tipicidade material. No que concerne ao delito defurto, em algumas situações, excetuando as figuras qualificadas em face do maior juízo de reprovabilidade da conduta, doutrina e jurisprudência, tem admitido incidência do referido princípio.
4.2. Escusas absolutórias
Por critérios de política criminal, o legislador estabeleceu a possibilidade de incidência de imunidades, de caráter pessoal, e de incomunicáveis, no caso de concurso de pessoas, a serem aplicadas aos delitos contra o patrimônio, desde que os referidos crimes não fossem praticados com violência ou grave ameaça à pessoa. Tais imunidades dividem-se em absolutas ou relativas, conforme representem condições negativas pessoais de punibilidade ou condições de procedibilidade da ação penal, respectivamente. 
O artigo 181, do Código Penal descreve as situações fáticas nas quais incidirão as imunidades absolutas, também denominadas escusas absolutórias. Por outro lado, artigo 182 do Código Penal, prevê as denominadas imunidades relativas, nas quais a ação penal torna-se condicionada à representação do ofendido. 
Por fim, em relação às imunidades absolutas ou relativas, importante salientar que a lei expressamente veda sua aplicação aos delitos praticados com violência ou grave ameaça à pessoa e, consoante interpretação analógica, quando o crime é praticado mediante qualquer outra forma de redução da capacidade de resistência.
Também não se aplicam aos casos em que o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, bem como apresentam caráter intuitu personae, logo, circunstância subjetiva e incomunicável no caso de concurso de pessoas (art.30, Código Penal).
Roubo (Artigo 157, do Código Penal)
A partir da premissa de que o delito de roubo se caracteriza como delito complexo, importante diferenciar as figuras típicas de roubo próprio e roubo impróprio. No delito de roubo próprio, previsto no caput do Artigo 157 do Código Penal, a violência ou grave ameaça é empregada antes ou concomitantemente à subtração da res. Por outro lado, no roubo impróprio, previsto no § 1° do Artigo 157 do Código Penal, a violência ou grave ameaça é empregada após a subtração, em relação de imediatidade. A conduta deve ser praticada para assegurar a detenção da coisa ou para garantia da impunidade do agente.
A seguir, serão analisadas questões relevantes sobre o delito de roubo.
Consumação e tentativa
No caso de roubo próprio a consumação se dá nos mesmos moldes do delito de furto, ou seja, a partir da teoria da amotio, de modo a tentativa. Por outro lado, com relação ao roubo impróprio, a consumação se dá no momento em que o agente emprega a violência com o fim de assegurar a posse da res, razão pela qual, o melhor entendimento é no sentido de que o referido delito não admite a tentativa, pois esta caracteriza, em verdade o concurso material de crimes entre o delito de furto na modalidade tentada com o delito resultante da violência, como por exemplo, o delito de lesões corporais leves.
Atenção. No caso de roubo impróprio, caso da violência advenha lesão corporal grave ou morte, restará caracterizado o delito de latrocínio.
5.2. A majorante do emprego de arma e a (des)necessidade de apreensão: Em relação à incidência da majorante pelo emprego de arma de fogo, prevista no § 2°-A, do Artigo 157, questiona-se a necessidade da apreensão do referido instrumento do crime, prevalecendo o entendimento de que essa não é obrigatória, utilizando-se para tanto os mesmos argumentos estudados em relação à majorante pelo concurso de pessoas, ou seja, caso as demais provas colhidas em juízo corroborem com a afirmação de que o delito foi perpetrado com o emprego de arma de fogo, incidirá a majorante.
Atenção. No caso de concurso de causas de aumento da parte especial, conforme interpretação do disposto no art.68, parágrafo único, do Código Penal, aplica-se a causa que mais aumenta. Desta forma, relevante a análise da incidência da causa de aumento prevista no §2º-A, quando da concorrência com as causas de aumento previstas no §2º, do art.157, CP, como por exemplo, a concorrência entre concurso de pessoas e emprego de arma de fogo.
Latrocínio (art.157, §3º, II, do Código Penal)
O delito de roubo qualificado pelo resultado morte, tipificado como delito hediondo pela Lei nº 8.072/1990, recebeu dela a denominação expressa de “latrocínio” em seu Artigo 1º, II. Em relação ao referido delito, é necessário o enfrentamento de alguns questionamentos, a seguir:
Competência para processo e julgamento.
 Não obstante o fato de considerarmos que, no caso concreto, o resultado morte possa advir de conduta dolosa, em face da inserção topográfica do delito no rol de delitos contra o patrimônio, prevalece a competência do juiz singular para o processo e julgamento do referido delito. Tal entendimento foi sumulado no verbete nº 603 do Supremo Tribunal Federal.
Consumação e tentativa.
Por tratar-se de delito complexo, agravado pelo resultado e plurissubsistente, é possível a caracterização da tentativa, desde que, uma vez iniciados os atos executórios, não haja a consumação em decorrência de circunstâncias alheias à vontade do agente. A questão é: o que preponderará para fins de consumação do delito, o resultado da subtração da res ou o resultado morte da vítima da violência? 
Não obstante a inserção topográfica do delito no rol de crimes contra o patrimônio, imperiosa sua interpretação em consonância com os princípios norteadores de direito penal insertos na Constituição da República, segundo os quais, deverá preponderar o bem jurídico-penal vida. Desta forma, segundo entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal (Súmula 603), será caracterizado o delito consumado sempre que houver a consumação do resultado morte, independentemente da consumação do roubo. Por outro lado, quando o homicídio não se consumar, restará o delito de latrocínio na forma tentada e aqui, para fins de aplicação de pena, será de suma importância a classificação da tentativa em perfeita ou imperfeita, branca ou cruenta.
Extorsão (art.158, do Código Penal) e Extorsão mediante sequestro (art.159, do Código Penal)
As figuras típicas de extorsão e extorsão mediante sequestro contemplam tipos penais complexos, na medida em que, além de lesionar o bem jurídico patrimônio, visam à lesão, respectivamente, da integridade física e psíquica ou a liberdade do indivíduo.
Ainda, ambos se configuram como delitos formais, nos quais a concretização do especial fim de agir de obtenção de indevida vantagem econômica, para si ou para outrem, apresenta-se como mero exaurimento dos delitos. Acerca do tema, o verbete de Súmula nº 96 do Superior Tribunal de Justiça determina que a consumação do delito de extorsão ocorre independentemente de obtenção da vantagem indevida.
Atenção. O delito de extorsão qualificado pela restrição de liberdade e a lei n.8072/1990. Nos casos que resultado morte na figura do §3º, do art.158, CP, o melhor entendimento é pela impossibilidade de incidência da lei de crimes hediondos, por força do principio da legalidade, haja vista o rol do art.1º, da lei n.8072/1990 ser taxativo.
Distinção entre os delitos de extorsão e roubo
A diferença entre os tipos se verifica a partir da prescindibilidade ou não da colaboração da vítima. No delito de roubo, a conduta é perpetrada pelo agente (sujeito ativo), sendo irrelevante para a consumação do delito o comportamento da vítima; no caso da extorsão, o comportamento da vítima é imprescindível para que o agente pratique a sua conduta. Outro ponto distintivo dos referidos delitos refere-se à sua classificação doutrinária quanto ao resultado e, consequentemente, quanto ao momento consumativo do delito. O delito de roubo é material, ao passo que o delito de extorsão, formal.
Distinção entre os delitos de extorsão e extorsão mediante sequestro.
A partir da premissa de que o delito de extorsão mediante sequestro configura- se como delito complexo, no qual, por expressa previsão legal a privação da liberdade da vítima configura meio para a execução do delito contra o patrimônio,de modo que a distinção se refere ao fato de que o pagamento da vantagem indevida no caso do delito do art.158, CP deve ser feito pela própria vítima, ao passo que, no caso do delito previsto no art.159, CP, por terceiro como resgate.
TEMA
Dos Crimes contra a Dignidade Sexual
O delito de estupro inaugura o estudo sobre os crimes contra a dignidade sexual e tem como bem jurídico-penal a proteção da liberdade sexual – integridade e autonomia sexual, juridicamente relevante com base no direito fundamental à intimidade, previsto no art. art.5º, X, da CRFB/1988.
Paralelamente à proteção da liberdade e autonomia sexual de modo a impedir qualquer forma de violência ou exploração, o legislador optou por tipificar as condutas praticadas valendo-se da vulnerabilidade da vítima, situação na qual a pessoa se encontra mais suscetível de violação de seus direitos, seja por razões de idade, sexo, deficiência ou qualquer outro meio que reduza a capacidade de discernimento.
Adiante identificaremos algumas das principais controvérsias sobre o tema.
Objetivos 
Identificar as figuras típicas dos delitos contra a Dignidade Sexual.
Definir a expressão “vulnerável” para fins penais.
Coordenar as questões relevantes sobre os Crimes contra a Dignidade Sexual.
Bibliografia 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Bibliografia complementar 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Estupro (Artigo 213, Código Penal)
Trata-se de uma figura típica na qual permite que o ato libidinoso se manifeste de diversas formas, independente de contato ou não de órgãos sexuais, ou até mesmo quando o sujeito ativo do crime obrigue a vítima a praticar atos em si própria, que possa contemplar a vítima. Mas não se pode negar que é exigível uma participação física da vítima na prática do ato libidinoso.
Caracteriza-se como tipo subjetivamente complexo, haja vista a existência do dolo genérico afeto ao constrangimento ilegal, bem como o especial fim de agir em relação à prática de conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso.
Por tratar-se de delito material, no que concerne à conjunção carnal consuma- se com a introdução, ainda que parcial, do pênis na cavidade vaginal; em relação à prática de qualquer outro ato libidinoso, com a efetiva prática do ato.
Ainda, importante destacar que se configura como tipo misto alternativo na medida em que a prática de uma ou mais ações nucleares pelo agente configura crime único. O mesmo raciocínio se aplica ao delito de estupro de vulnerável.
Atenção. As qualificadoras relativas ao resultado mais grave (lesão grave e morte), seja para o delito de estupro, seja para o estupro de vulnerável são consideradas condutas preterdolosas, ou seja, o dolo está na conduta antecedente e o resultado produzido será a título de culpa. Em outras palavras, cabe salientar que as lesões corporais de natureza leve ou as vias de fato resultantes da violência empregadas pelo agente serão absorvidas pela figura típica simples.
Atenção. Incidência da lei de crimes hediondos: face ao princípio da legalidade, os delitos de estupro e estupro de vulnerável são tipificados como delitos hediondos (art.1º, V e VI, da lei n.8072/1990).
Da exposição da intimidade sexual. Registro não autorizado da intimidade sexual. (Artigo 216-B, Código Penal)
Essa figura típica classifica-se como infração penal de menor potencial ofensivo e tem por finalidade tipificar a conduta de agente que expunha a prática de atos sexuais praticados por terceiros em ambientes privados, conduta até então sancionada no âmbito cível por meio de indenização por danos morais, ou seja, até sua tipificação pela lei n.13772/2018. Havia uma grande lacuna legislativa acerca desta conduta. Interessante destacar que a conduta não exige um especial fim de agir e tampouco a finalidade de satisfação da lascívia.
Estupro de vulnerável. (Artigo 217-A, Código Penal)
Importante destacar que o consentimento da vítima ou sua experiência em relação ao sexo, no caso de menor de 14 anos, não tem relevância jurídico-penal, consoante entendimento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça (Súmula n.593) de modo que a vulnerabilidade passa a ter um caráter absoluto. 
Da mesma forma que o delito de estupro, configura-se como tipo penal alternativo de modo que a prática de uma ou mais condutas descritas no tipo penal em um único contexto fático configura delito único. Esta classificação já foi objeto de críticas, pois com a revogação do art.214, do Código Penal e sua consequente continuidade normativa, desapareceu a possibilidade de concurso de crimes quando da prática de conjunção carnal e atos libidinosos diversos de penetração no mesmo contexto fático, tendo sido, sob este aspecto, a lei n.12015/2009 considerada à época, novatio legis in mellius.
Ainda, por expressa previsão legal, as figuras de estupro e estupro de vulnerável são descritas como crimes hediondos (Lei n.8072/1990, art.1º, V e VI).
Corrupção de menores (Artigo 218, do Código Penal)
Ainda sobre delitos contra vulnerável, a figura típica de corrupção de menores, prevista no art. 218, do CP, prevê como ação nuclear a conduta de induzimento, aliciamento do menor a satisfazer a lascívia de outrem. Trata-se de crime formal, cujo momento consumativo ocorre com o induzimento do vulnerável a satisfazer à lascívia de outrem (pessoa determinada). Caso o agente induza o menor a satisfazer a sua própria lascívia, restará caracterizado o delito de estupro de vulnerável.
Questão relevante a ser tratada diz respeito à revogação da Lei nº 2.252/54 e a alteração promovida na Lei nº 8.069/90. A Lei nº 12.015/09 revogou a Lei nº 2.252/54, que tratava também da corrupção de menores, bem como acrescentou ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Artigo 244-B.
Distinção entre as figuras previstas nos Artigos 218; 218-A e 218-B, do Código Penal.
A figura típica prevista no Artigo 218 contempla as práticas sexuais meramente contemplativas; a figura do Artigo 218- A compreende o induzimento ao menor de 14 anos para que este assista/ presencie a prática de atos libidinosos e a conduta descrita no Artigo 218-B recai sobre um número indeterminado de pessoas, diferentemente do que ocorre no Artigo 218, no qual a conduta recai sobre uma pessoa determinada.
Atenção. A pornografia envolvendo criança e adolescente encontra-se tipificada nos Artigos 240, 241, 241-A a 241-D, da Lei nº 8.069/1990.
Atenção. A figura típica do Art.218-B e seus parágrafos 1º e 2º são tipificadas pela lei de crimes hediondos (art.1º, VIII, da lei n.8072/1990).
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia (Artigo 218-C, Código Penal)
A figura típica descrita no art.218-C, do Código Penal, se configura como tipo misto alternativo e algumas das ações nucleares se apresentam como permanentes, como: expor à venda, disponibilizar e divulgar.
Caso a vítima seja menor de 18 anos, face ao princípio da especialidade, prevalecerá a aplicação da figura típica descrita nos artigos 241 e 241-A, da lei n.8069/1990.
Ainda, importante destacar que o parágrafo segundo, estabelece expressamente causa excludente de ilicitude nos casos em que a publicação tenha natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos. 
Ação penal nos crimes contra a dignidade sexual (Artigo 225, Código Penal)
Consoante expressa previsão legal do art.225, do Código Penal, nos crimes contra a liberdade sexual e nos crimes sexuais contra vulnerávela ação penal será pública incondicionada. 
Estupro coletivo e Estupro corretivo.
O art. 226, IV, CP, apresenta causas de aumento que podem variar de um a dois terços. São os denominados Estupro coletivo e Estupro corretivo. O estupro coletivo caracteriza-se como causa especial de aumento aplicável somente ao delito de estupro face ao maior juízo de reprovabilidade da conduta, todavia o legislador não estabeleceu sua incidência ao estupro de vulnerável. Com relação ao estupro corretivo, esta causa de aumento tem por fundamento a discriminação com relação à orientação sexual da vítima, consubstanciada em verdadeira motivação cruel.
Atenção. Questão controvertida versa sobre a aplicação simultânea dos incisos I e IV, do art.226, face ao disposto no art.68, parágrafo único, também do Código Penal que estabelece, expressamente, que no caso de concurso de causas de aumento previstas na parte especial do Código Penal, aplicar-se-á somente a causa que mais aumente. Desta forma, o inciso I, do art.226, CP se aplica a todos os crimes previstos no título, exceto ao crime de estupro.
Curiosidade. No caso da prática de mais de uma conduta no mesmo contexto fático, em se tratando de figuras típicas caracterizadas como mistas alternativas, as ações nucleares que não forem utilizadas para fins de tipificação de conduta poderão ser utilizadas para fins da fixação da pena-base, quando da análise das circunstâncias judiciais (art.59, Código Penal).
TEMA 
Dos Crimes contra a Paz Pública. Dos Crimes contra a Fé Pública.
Para que se possa estudar os delitos contra a paz pública, imperiosa torna-se a identificação do bem jurídico-penal tutelado neste capítulo. 
Em relação aos crimes contra a fé pública, torna-se imperiosa a identificação do bem jurídico-penal, de natureza supraindividual e pode ser definido a partir da noção desenvolvida na seara de Direito Público, como a credibilidade conferida aos documentos emitidos por autoridades públicas ou privadas por ela delegados no exercício de suas funções, de modo a presumir-se, em face da preponderância do interesse público, sua legitimidade e veracidade.
Objetivos 
Identificar as figuras típicas dos delitos contra a Paz Pública.
Investigar as medidas de política criminal ensejadoras da criminalização de atos preparatórios como figuras típicas autônomas.
Diferenciar falsidade material e ideológica.
Bibliografia 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Bibliografia complementar 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Delitos contra a Paz Pública
Associação Criminosa. 
Com o advento das alterações legislativas pelas leis n. 12.850/2013, 12.720/2012 e 11343/2006 surgiu verdadeiro conflito aparente de normas entre as diversas formas de associação criminosa a ser solucionado pelo princípio da especialidade.
Desta forma, podemos resumir que hoje, para fins de confronto com os artigos 288 e 288-A, ambos do Código Penal, as seguintes formas de associação criminosa: 
Art. 288, do Código Penal - associação criminosa de, no mínimo, três pessoas, com animus de permanência para a prática de quaisquer crimes, exceto milícia privada, crimes hediondos e equiparados (art. 1º e 2º da Lei nº 8.072/90) e associação para fins de tráfico de drogas (art. 35 da Lei nº 11.343/06). Pena: reclusão de 1 a 3 anos.
•	Art. 288-A do Código Penal - associação criminosa, organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão de, no mínimo, três pessoas, com animus de permanência, constituída para a prática de quaisquer crimes previstos no Código Penal, ainda que hediondos (art.1º da Lei nº 8.072/1990), exceto crimes equiparados a hediondos (art. 2º da Lei nº 8.072/90) e associação para fins de tráfico de drogas. (art. 35 da Lei nº 11.343/06). Pena: reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos.
•	Art.8º da Lei nº 8072/1990 - associação criminosa de, no mínimo, três pessoas, com animus de permanência para a prática de quaisquer crimes hediondos e equiparados (arts.1º e 2º da Lei nº 8072/90), exceto milícia privada e associação para fins de tráfico de drogas (art. 35 da Lei nº 11343/06). Pena: reclusão de 3 (três) a 6 (seis) anos.
•	Art. 35 da Lei nº 11343/2006 - associação criminosa de, no mínimo, duas pessoas, com animus de permanência para a prática de tráfico de drogas (art. 35, Lei nº 11.343/06). Pena: reclusão de 3 (três) a 10 (dez) anos e pagamento de 700 a 1.200 dias-multa.
Importante destacar que, a necessidade de essa associação ter uma natureza estável e permanente permaneceu inalterada, sendo certo que esse é o ponto de distinção para o concurso de agentes, em que a associação será eventual. Por ser um delito formal, consuma-se com a adesão do terceiro com o especial fim de cometer um número indeterminado de crimes, sem necessidade da prática de qualquer crime sequer em decorrência dessa associação. Se, todavia, em decorrência da associação, houver a prática de um crime, será aplicável o concurso material de crimes previsto no Artigo 69 do Código Penal.
 Ainda, para que se caracterize a associação criminosa, não há necessidade de que todos os integrantes da associação sejam imputáveis, bastando que apenas um o seja. A Lei nº 12.850/2013 acrescentou, ainda, como majorante do crime, o aumento de pena até a metade para o imputável que venha a integrar criança ou adolescente à associação criminosa.
Atenção. Pode ser que haja a prática de um dos crimes para o qual os agentes estavam associados. Nesse caso, em alguns desses crimes, como é o caso do roubo, existe também, como majorante, o emprego da arma. Haverá a incidência do Artigo 288, parágrafo único, e Artigo 157, § 2º, I, do Código Penal sem ocorrência de bis in idem, uma vez que os bens jurídicos atingidos são distintos. 
Constituição de milícia privada.
A constituição de milícia privada, prevista no art.288-A, do Código Penal, trata-se de novatio legis incriminadora, razão pela qual deverá ser respeitado o princípio da irretroatividade da lei penal. Nessa figura típica, não houve delimitação do número mínimo de agentes a integrar a figura típica, não obstante a natureza plurissubjetiva do delito em análise. Se partirmos de uma interpretação sistemática, podemos concluir que, em respeito ao disposto no Artigo 288 do Código Penal, para a caracterização da figura prevista neste mesmo artigo, imprescindível a existência de um número mínimo de três agentes.
Atenção. O crime em questão limitou a abrangência da sua incidência às figuras típicas previstas no Código Penal, de modo a ser inaplicável aos delitos previstos na Legislação Especial, sob pena de caracterizar-se verdadeira analogia incriminadora.
Atenção. O delito de milícia privada é considerado especial em relação à associação criminosa prevista no art.8º, da lei de crimes hediondos, quando as condutas perpetradas pela associação configurarem crimes hediondos (previstos no art.1º, da lei n.8072/1990), todavia tal entendimento não se aplica aos crimes equiparados a hediondos (previstos no art.2º, da lei n.8072/1990).
Delitos contra a Fé Pública
Com relação aos delitos contra a fé pública, cujo bem jurídico-penal como supraindividual pode ser definido a partir da noção desenvolvida na seara de Direito Público, como a credibilidade conferida aos documentos emitidos por autoridades públicas ou privadas por ela delegados no exercício de suas funções, de modo a presumir-se, em face da preponderância do interesse público, sua legitimidade e veracidade.
Vejamos a seguir a distinção entre falsidade material (documental) e falsidade ideológica de modo a identificar as principais controvérsias sobre o tema. 
Falsificaçãode documento. (Artigos 297 e 298, CP)
O bem jurídico tutelado é, diretamente, a fé pública e, indiretamente, o terceiro prejudicado com a falsificação. Consuma-se no momento em que o documento é criado (falsidade total) ou modificado (falsidade parcial) e, assim, tornando-se apto a enganar terceiros, sendo irrelevante seu uso, haja vista tratar-se de crime formal. O objeto material do delito é o documento e, se ele for considerado documento público, é aquele compreendido como emanado do poder público.
A doutrina classifica o documento público em três categorias: (i) formal e substancialmente público: emana do funcionário público no exercício de suas funções, e seu conteúdo relaciona-se ao interesse público. (CUNHA, 2009, p. 347); (ii) formalmente público e substancialmente privado: emana do funcionário público no exercício de suas funções e seu conteúdo relaciona-se ao interesse privado e (iii) documento público por equiparação: é aquilo que se encontra previsto no Artigo 297, § 2º.
Na falsidade material, o documento não é autêntico, ou seja, a falsidade recai sobre seus elementos extrínsecos. Ainda sobre a falsidade material, há dois tipos penais distintos: falsidade de documento público (Artigo 297, CP) e falsidade de documento particular (Artigo 298, CP). Já na falsidade ideológica, o documento externamente é autêntico; seu conteúdo, no entanto, é que será falso.
Tema controvertido versa sobre a caracterização de concurso de crimes ou conflito aparente de normas nos casos em que o agente pratica, no mesmo contexto fático, os delitos de falsificação de documento público e estelionato. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento sumulado no sentido que caso o falso se esgote no estelionato, sem maior potencialidade lesiva, será por este absorvido. (Verbete de Súmula n. 17). Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal se manifestou no sentido de caracterização de concurso formal de crimes, conforme se depreende da leitura do Informativo n.541, disponível em http:www.stf.jus.br.
Falsidade Ideológica 
No delito de falsidade ideológica, diferentemente do que ocorre na falsidade documental na qual há criação de um documento ou alteração de sua forma, há a alteração de seu conteúdo, seja total ou parcial, nos casos em que o documento não foi emitido pela autoridade competente ou pelo verdadeiro subscritor.
2.2. Questões relevantes.
A seguir, veremos algumas questões relevantes sobre o tema:
No caso de falsificação e uso de documento público falso pelo falsário, o delito previsto no Artigo 304 do Código Penal será absorvido pelo Artigo 297 do mesmo código, haja vista configurar mero exaurimento (pós fato impunível).
A substituição de fotografia em documento de identidade: nesse caso, surgem dois entendimentos: o primeiro, segundo o qual a conduta é de falsidade de documento público, tem por fundamento a assertiva de que a foto é parte integrante deste; por outro lado, para o entendimento que sustenta a caracterização de falsa identidade, argumenta que o documento permanece autêntico.
Preenchimento abusivo de documento em branco assinado por outrem: sobre tema há duas situações distintas a serem analisadas, a saber: (i) agente recebe licitamente o papel assinado em branco para posterior preenchimento e o preenche indevidamente. Nesse caso, restará caracterizado o delito de falsidade ideológica e (ii) agente subtrai o papel assinado em branco e o preenche. Nesse caso, restará caracterizado o delito de falsidade material (documental).
Falsa declaração de pobreza: aqui, a questão versa sobre a caracterização ou não de delito de falso, nos casos em que o agente para fins de obtenção de assistência judiciária gratuita, afirma, mediante falsa declaração, pobreza. O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que a conduta é atípica e não configura o delito previsto no art.299, CP, na medida em que a declaração se sujeita à comprovação posterior, realizada, de ofício, pelo magistrado, ou mediante impugnação (RHC 23121/SP).
Com relação à falsa atribuição de identidade para fins de eximir-se de responsabilidade penal, o Superior Tribunal de Justiça sumulou entendimento no sentido de que a conduta é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa (Verbete de Súmula n.552)
TEMA 
Dos Crimes contra a Administração Pública
Para o Direito Penal, a expressão Administração Pública deve ser definida, conforme preconiza Luiz Regis Prado, como toda a atividade funcional do Estado, seja subjetivamente (órgãos instituídos para a concreção de seus fins), seja objetivamente (atividade estatal realizada com fins de satisfação do bem comum).
Objetivos 
Identificar os delitos contra a Administração Pública praticados por funcionário público e respectiva responsabilidade penal do agente público
Identificar os delitos contra a Administração Pública praticados por particular contra a Administração Pública por meio de seus elementos objetivos, subjetivos e normativos.
Analisar as questões relevantes sobre os Crimes contra a Administração Pública.
Bibliografia 
Bibliografia básica: 
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Parte Especial.11. ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2019.
LA PEÑA, Daniela de Oliveira Duque-Estrada de. Direito Penal IV. Rio de Janeiro: SESES, 2017.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 2. 12.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Bibliografia complementar 
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.2. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019. 
_____________ Curso de Direito Penal. Parte Especial. Vol.3. 16.ed. Niterói: Impetus, 2019.
MASSON, Cleber. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 3. 9.ed. Rio de Janeiro, Gen/Forense, 2019.
Crimes praticados por funcionário público contra a Administração Pública.
Para a análise das figuras típicas contra a Administração Pública, imprescindível a delimitação do conceito de funcionário público para fins penais. Dispõe expressamente o Artigo 327, do Código Penal, que será funcionário público aquele que exerce cargo, emprego ou função pública, ainda que transitoriamente ou sem remuneração.
Há ainda o funcionário público por equiparação, consoante dispõe o parágrafo primeiro do respectivo dispositivo legal, aquele que venha a exercer cargo, emprego ou função pública em entidade paraestatal e ainda aquele que trabalha para empresa prestadora de serviços contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública, conforme determina o Artigo 327, § 1º, do Código Penal.
Veremos a seguir as controvérsias sobre as principais figuras típicas categorizadas como praticadas por funcionário público.
Peculato (art.312, do Código Penal)
As condutas dolosas previstas descrevem figuras especiais dos delitos de apropriação indébita (caput) e de furto (§1º), caracterizando-se, portanto, como delitos funcionais impróprios ou mistos. Por outro lado, no caso da conduta culposa, o agente público, por meio da quebra do dever objetivo de cuidado, concorre para a prática de peculato doloso por outrem. Desta forma, as figuras típicas do peculato classificam-se em: (i) peculato-apropriação; (ii) peculato-desvio ou malversação; (iii) peculato impróprio ou peculato-furto; (iv) peculato culposo (v) peculato mediante erro de outrem, previsto no art.313, CP e (vi) peculato eletrônico, previsto no art. 313-A, CP, delito caracterizado como delito de mera atividade.
Atenção. Questão importante a ser analisada é a possibilidade do concurso de pessoas e consequente comunicabilidade da elementar funcionário público ao particular, quando este concorre para a prática do delito contra a Administração Pública. Consoante interpretação do o art. 30 do Código Penal, podemos concluir que as elementares objetivas ou subjetivas se comunicam desde que o outro agente tenha ciência desta elementar. Lembremos que a elementar funcionário público possui natureza subjetiva, pois se refere à condição específica do agente.
Concussão. (Artigo 316, do Código Penal). 
A conduta dolosa prevista descreve umafigura especial do delito de extorsão caracterizando-se, portanto, como delito funcional impróprio ou misto. Trata-se de delito formal, ou seja, consuma-se no momento da exigência da vantagem, sendo que a obtenção desta vem a ser mero exaurimento do crime.
Diferencia-se do delito de extorsão (art. 158, CP) na medida em que neste há a utilização de violência ou grave ameaça para a obtenção da vantagem, ao passo que, na concussão, o funcionário não se vale de violência nem de ameaça.
 Ainda, se diferencia do delito de corrupção passiva (art.317, CP), pois neste o núcleo do tipo descreve a conduta de “solicitar”, diferentemente do delito de concussão, no qual o agente “exige” para si ou para outrem a vantagem indevida, ou seja, impõe à vítima a prática de uma conduta que o beneficie e esta cede por “temor” a possíveis represálias.
Excesso de exação (Artigo 316, §1º, Código Penal): configura-se como a exigência rigorosa de tributos (imposto, taxa ou contribuição de melhoria) ou contribuição social e perfaz-se mediante duas modalidades: exigência indevida do tributo ou contribuição social e cobrança vexatória ou gravosa não autorizada em lei.
Corrupção Passiva (Artigo 317, do Código Penal). 
O ordenamento jurídico prevê condutas típicas tanto para o agente que se corrompe, quanto para o terceiro à Administração Pública que o corrompe – hipótese em que terceiro responderá por corrupção ativa. Houve, desta forma, rompimento à teoria unitária do concurso de pessoas previsto no Artigo 29, do Código Penal.
A figura típica se configura como tipo penal de ação múltipla ou tipo misto alternativo sendo certo que a bilateralidade de condutas nem sempre ocorrerá. Vejamos as possibilidades de realização da conduta: (i) solicitar vantagem indevida: a proposta emana do agente público e consuma-se independentemente da entrega da vantagem; (ii) receber vantagem indevida: a proposta emana do terceiro e consuma-se no momento em que o agente recebe a vantagem indevida e (iii) aceitar promessa de tal vantagem: neste caso, não é necessário o recebimento da vantagem; o delito restará consumado com o mero consentimento do agente público.
Vale lembrar ainda que a conduta obrigatoriamente deve guardar relação com a função exercida pelo funcionário público. Significa dizer que deve existir relação de causalidade entre a solicitação, o recebimento ou o aceite da promessa de vantagem indevida com a contraprestação do agente público, seja por meio de uma conduta comissiva ou omissiva, de sua competência específica.
Cabe destacar as figuras de Corrupção passiva majorada, pevista no §1º, do dispositivo legal e também denominada equivocamente como qualificada. nesta conduta o agente público realiza o prometido ao terceiro na conduta prevista no caput do referido artigo. Neste caso, o exaurimento do delito foi considerado fato punível, caracterizado como causa de aumento da figura típica.
Ainda, com relação à corrupção passiva privilegiada (Art. 317, §2º, do Código Penal), diferentemente das figuras previstas no caput e no §1º o funcionário público não visa atender a interesse próprio, mas cede à solicitação de terceiro “comum na reciprocidade do tráfico de influência” (CUNHA: 2014, p.769). 
Facilitação de contrabando ou descaminho (Artigo 318, do Código Penal).
Nesta figura típica o legislador rompeu com a teoria unitária do concurso de pessoas na medida em que optou por tipificar a conduta do agente que, na verdade, realiza conduta acessória às condutas de contrabando ou descaminho.
A expressão contrabando compreende toda a importação ou exportação cujo ingresso ou saída do País seja absoluta ou relativamente proibida; por outro lado, a expressão descaminho, toda fraude empregada para reduzir ou suprimir o pagamento de impostos de importação ou exportação. 
Atenção. Trata-se de delito formal e plurissubsistente.
Atenção. Consoante sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça, a competência para processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.
Prevaricação (Artigo 319, do Código Penal).
Caracteriza-se como delito formal, ou seja, consuma-se independentemente da efetiva satisfação de interesse ou sentimento pessoal e admite a modalidade tentada somente nas condutas comissivas, sendo que “interesse ou sentimento pessoal” deve ser compreendido como interesse que não tenha caráter econômico, mas no qual o agente público coloca seu interesse acima do interesse público.
Interessante destacar, que a prevaricação imprópria, prevista no art.319-A, CP e recebeu o nomen iuris de prevaricação de agente penitenciário para os casos nos quais o agente deixa de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
 Crimes praticados por particular contra a Administração Pública.
Usurpação de Função Pública (Artigo 328, do Código Penal).
A expressão “usurpar” compreende a conduta de exercício indevido, ou seja, a efetiva prática de ato específico de determinada função pública. Por tratar-se de delito formal, consuma-se no momento em que o agente pratica algum ato de ofício inerente ao exercício da função pública, independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo à administração. Para a configuração do delito em exame, é imprescindível a presença do funcionário público, ou seja, que este tome ciência da conduta desrespeitosa no momento de sua prática.
Resistência. (Artigo 329, do Código Penal)
Também denominada resistência ativa pelo fato de o agente opor-se ao cumprimento de ato legal mediante o emprego de violência ou ameaça. A violência deve ocorrer durante a prática do ato legal com a finalidade de impedir sua execução. Caso seja praticada em momento anterior ou posterior à execução do referido ato legal, a conduta poderá configurar-se como outro delito, tal como lesão corporal. Caso a violência seja praticada contra a coisa, não há que se falar no delito em exame, mas na figura típica de dano qualificado (Artigo 163, parágrafo único, III, do Código Penal).
Atenção. No caso da prática do delito de resistência em seguida ao delito de roubo, caso a violência seja empregada contra o agente público após a consumação do roubo haverá concurso de crimes entre a figura do roubo próprio (Artigo 157, caput, CP) e o delito de resistência. 
Desobediência. (Artigo 330, do Código Penal).
 Também é denominado de resistência passiva. Trata-se de delito formal que se consuma no momento em que o agente desobedece ou infringe ordem legal endereçada diretamente a ele, independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo à administração. Para sua caracterização, é essencial que haja o descumprimento de ordem legal por quem tem, diretamente, o dever legal de cumpri-la.
2.4. Desacato. (Artigo 331, do Código Penal).
 Esta figura típica contempla como objetos materiais o funcionário público e sua honra. Significa dizer que a expressão “desacatar” compreende as condutas de menosprezar, desrespeitar ou humilhar o funcionário público no exercício de sua função ou em razão dela. Trata-se de delito formal que se consuma no momento em que o agente desacata o agente público, independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo à administração. No caso dos delitos de difamação e injúria, estes serão absorvidos pelo delito de desacato. Por outro lado, no caso de calúnia, caso o desacato constitua uma calúnia, restará caracterizado o concurso formal imperfeito de crimes.
Tráfico de influência. (Artigo 332, do Código Penal).
 Configura-se como tipo de ação múltipla (alternativo) podendo a conduta do agente comportar desde a solicitação até a exigência ou recebimento da vantagem indevida,
sendo que essa expressão não terá, necessariamente, natureza econômica. O delito em análise se caracteriza por ser delito formal, haja vista consumar-se no momento em que o agente pratica qualquer um dos atos descritos na figura típica, independentemente da obtenção da vantagem indevida, exceto em

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