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Superior Tribunal de Justiça RECURSO ESPECIAL Nº 1.710.891 - SC (2017/0295219-9) RELATOR : MINISTRO SÉRGIO KUKINA RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : LOWES DO BRASIL LTDA ADVOGADOS : RÍSCLIF MARTINELLI RODRIGUES - RS052624 ANDRÉA TIDRA RITTER - RS098565 DECISÃO Trata-se de recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, com fundamento no art. 105, III, a, da CF, contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, assim ementado (fl. 200): TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. IRPJ. CSLL. PIS E COFINS. PERMUTA DE IMÓVEIS. INEXIGIBILIDADE. O valor decorrente do recebimento de imóveis dados como parte do pagamento nas operações de permuta de imóveis não se enquadra no conceito de receita bruta. Não há justificativa para a inclusão destes valores na base de cálculo do IRPJ, CSLL, PIS e COFINS. Somente a torna eventualmente recebida nas operações de permuta deve ser oferecida à tributação do IRPJ, pelas empresas optantes pelo lucro presumido. Os embargos de declaração foram rejeitados (fls. 224/228). No recurso especial, a recorrente aponta ofensa aos arts. 1.022, II, do CPC/2015, 533 do CC, 229, 518, 519 e 994 do Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99, 6º da Lei nº 7.689/88, 57 da Lei nº 8.981/95, 28 da Lei nº 9.430/96, 3º da Instrução Normativa SRF nº 390/04, 2º e 3º da Lei nº 9.718, 12 do Decreto n.º 1.598/77, e 16 do Decreto nº 4.524/02. Sustenta, em síntese, que: (I) apesar da oposição de embargos de declaração, o Tribunal de origem manteve-se omisso quanto a questões importantes ao deslinde da controvérsia; e (II) o O IRPJ, CSLL, PIS e COFINS é exigível nas operações de permuta de imóveis, pois "existe, sim, receita tributável, para fins de IRPJ, CSLL, contribuição ao PIS e Cofins nas operações de permuta de imóveis com ou sem pagamento de torna, realizada por pessoa jurídica que exerça as atividades imobiliárias relativas a loteamento de terrenos, incorporação imobiliária, construção de prédios destinados à venda, bem como à venda de imóveis construídos ou adquiridos para revenda, e que opte pela tributação com base no lucro presumido. A receita tributável corresponde ao montante recebido, isto é, ao valor do imóvel recebido Documento: 85899449 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 03/08/2018 Página 1 de 4 Superior Tribunal de Justiça na permuta." (fl.245). Houve contrarrazões (fls. 259/260). Parecer do Ministério Público Federal pelo não conhecimento do recurso (fls. 280/285). É o relatório. O recurso especial não comporta trânsito. Inicialmente, impende ressaltar ser impossível conhecer do recurso especial em que se invoca violação a instrução normativa ou regulamento (arts. 229, 518, 519 e 994 do Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99; e 3º da Instrução Normativa SRF nº 390/04), tendo em vista que os referidos atos normativos não se enquadram no conceito de "tratado ou lei federal" de que cuida o art. 105, III, a, da CF. Confiram-se, a propósito, os seguintes precedentes: AgRg no Ag 1.203.675/PE, Segunda Turma, Rel. Ministro Humberto Martins, DJe de 10/3/2010; e AgRg no REsp 1.040.345/RS, Primeira Turma, Rel. Ministro Luiz Fux, DJe 9/2/2010. Nesse sentido, ainda, as seguintes decisões: REsp nº 1.419.586/CE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, p.em 12/09/2017; e REsp nº 1.375.188/CE, Rel. Min. Gurgel de Faria, p. em 03/04/2018. Adiante, mostra-se deficiente a fundamentação do recurso especial em que a alegação de ofensa ao art. 1.022 do CPC/2015 se faz de forma genérica, sem a demonstração exata dos pontos pelos quais o acórdão se fez omisso, contraditório ou obscuro. Aplica-se, na hipótese, o óbice da Súmula 284 do STF. Nesse mesmo sentido são os seguintes precedentes: AgRg no REsp 1.084.998/SC, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 12/3/2010; AgRg no REsp 702.802/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma DJe 19/11/2009, e REsp 972.559/RS, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJe de 9/3/2009. Por outro lado, o Tribunal de origem não se pronunciou sobre a matéria versada nos arts. 6º da Lei nº 7.689/88 e 28 da Lei nº 9.430/96, apesar de instado a fazê-lo por meio dos competentes embargos de declaração. Nesse contexto, pois, incide o óbice da Súmula 211/STJ (“Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo”). No mais, quanto à questão da inclusão do valor do imóvel recebido em pemuta de Documento: 85899449 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 03/08/2018 Página 2 de 4 Superior Tribunal de Justiça bens imóveis da base de cálculo do IRPJ, CSLL, PIS e COFINS, nas empresas submetidas ao regime tributário do lucro presumido, o Tribunal de origem assim se manifestou (fls. 194/198): Conforme se depreende do item 5 do Parecer Normativo COSIT nº 9/2014, para a Receita Federal do Brasil é indubitável que o instituto da permuta se equivale a uma compra e venda, submetendo-se, portanto, às mesmas regras comerciais e tributárias. Pode-se então constatar que a RFB construiu seu entendimento com base na analogia, que a permuta é igual a uma compra e venda. Cumpre ressaltar que o Código Tributário Nacional, em seu artigo 108, I, e § 1º, assim estabelece: Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: I - a analogia; (...) § 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. [...] Contudo, a mera previsão de aplicação das disposições de compra e venda à permuta/troca não parece suficiente a ensejar que, nos negócios jurídicos de permuta, haja receita para fins de tributação, no que tange especificamente ao valor do imóvel objeto da transação. Há de se considerar que na operação de permuta há apenas uma substituição de ativos, o que evidentemente de modo algum caracteriza o conceito de receita, na medida em que nem todo o ingresso no patrimônio da pessoa jurídica se amolda a esse conceito. Vale ressaltar que, ao se falar em receita, pressupõe-se o recebimento de dinheiro, de maneira definitiva, em razão de celebração de negócio jurídico. Por conseguinte, somente a torna eventualmente recebida nas operações de permuta deve ser oferecida à tributação do IRPJ, CSLL, PIS/PASEP e da COFINS pelas empresas optantes pelo lucro presumido, respeitando-se o princípio da capacidade contributiva, na medida em que não há ingresso financeiro na operação de permuta, ou melhor, há apenas uma troca de ativos. As pessoas jurídicas que explorem atividades imobiliárias relativas a loteamento de terrenos, incorporação imobiliária, construção de prédios destinados à venda, bem como a venda de imóveis construídos ou adquiridos para revenda, deverão considerar como receita bruta o montante, em bens ou dinheiro, recebido em pagamento, relativo às unidades imobiliárias vendidas. Na hipótese de permuta de unidades imobiliárias, o valor dos bens recebidos na troca não integra a base de cálculo do IRPJ, ainda que o contribuinte tenha feito a opção pelo lucro presumido. A alienação desses bens constitui nova operação de venda (Solução de Consulta n. 241/2008, Disit 09, 10.09.2008). Documento: 85899449 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 03/08/2018 Página 3 de 4 Superior Tribunal de Justiça No presente caso, o recurso especial não impugnou fundamento basilar que ampara o acórdão recorrido, qual seja, o de que "a RFB construiu seu entendimento com base na analogia, que a permuta é igual a uma compra e venda (...). § 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. [...]. Contudo, a mera previsão de aplicaçãodas disposições de compra e venda à permuta/troca não parece suficiente a ensejar que, nos negócios jurídicos de permuta, haja receita para fins de tributação, no que tange especificamente ao valor do imóvel objeto da transação.", esbarrando, pois, no obstáculo da Súmula 283/STF, que assim dispõe: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles.". A respeito do tema: AgRg no REsp 1.326.913/MG, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 4/2/2013; EDcl no AREsp 36.318/PA, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 9/3/2012. Ante o exposto, não conheço do recurso especial. Publique-se. Brasília, 1º de agosto de 2018. Ministro Sérgio Kukina, Relator Documento: 85899449 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 03/08/2018 Página 4 de 4
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