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Notas de Aula MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO I 1 - PROPRIEDADES DOS MATERIAIS 2 2 1 - I N T R O D U Ç Ã O A disputa pelo mercado cada dia mais competitivo e exigente representa um desafio para os profissionais de todos os seguimentos da sociedade. Na construção civil, não poderia ser diferente, e ainda que mais lentamente que em outros setores da economia, já são registrados ganhos significativos de produtividade e conseqüentes reduções de custos de produção e reparos. Isto só foi possível, com a evolução de técnicas construtivas e o desenvolvimento de novos materiais. As técnicas escolhidas devem garantir a maior produtividade; técnicas inadequadas podem implicar em número excessivo de tarefas para a execução de um serviço, que por sua vez exigirão etapas correspondentes de inspeção e controle. Isto sem considerar a influência da mão-de-obra no resultado e o desperdício de material e mão-de-obra de cada tarefa, que vai se acumulando até a conclusão de um serviço. Novas técnicas exigem novos materiais que, por sua vez podem requerer o emprego de novas técnicas ou o aperfeiçoamento das já existentes. Este mecanismo cíclico dá a idéia da importância do conhecimento dos materiais e suas propriedades. 1 . 1 - N O R M A T I Z A Ç Ã O Em todos os países existem entidades normalizadoras, cuja função é produzir normas que regulamentem a qualidade, classificação, produção e emprego dos diversos materiais. Além das entidades locais, existem outras regionais que englobam vários países como é o caso das seguintes: ISO - International Organization for Standardization COPANT - Comissão Pan-americana de Normas Técnicas AMN - Associação Mercosul de Normalização No Brasil, a ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas está encarregada de produzir as normas técnicas. Existem ainda, outras entidades que atuam em seguimentos mais restritos tais como a ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland e o IBRACON - Instituto Brasileiro do Concreto. Dentre as estrangeiras, podem ser destacadas as seguintes: ASTM - American Society For Testing Matirial BS - British Standards Institution DIN – Deutsche Normenausschuss T i p o s d e N o r m a s : P r o c e d i m e n t o : orientação para projeto e execução de obras e serviços; E s p e c i f i c a ç ã o : prescrições para os materiais; M é t o d o d e E n s a i o : orienta a forma de amostrar e ensaiar um material; T e r m i n o l o g i a : regulamenta a nomenclatura técnica; S i m b o l o g i a : regulamenta as convenções para desenho; C l a s s i f i c a ç ã o : ordena e divide grupos de elementos; Materiais de Construção I >>>>>>>>>> 3 3 1 . 1 . 2 - C o m i t ê s T é c n i c o s d e N o r m a l i z a ç ã o A ABNT é composta por vários comitês brasileiros e organismos de normalização setorial, que atuam em diversas áreas: ABNT/CB-01 Mineração e metalurgia ABNT/CB-02 Construção civil ABNT/CB-03 Eletricidade ABNT/CB-04 Máquinas e equipamentos mecânicos ABNT/CB-05 Automotivo ABNT/CB-06 Metroferroviário ABNT/CB-07 Navios, embarcações e tecnologia marítima ABNT/CB-08 Aeronáutica e espaço ABNT/CB-09 Gases combustíveis ABNT/CB-10 Química ABNT/CB-11 Couro, calçados e artefatos de couro ABNT/CB-12 Agricultura e pecuária ABNT/CB-13 Bebidas ABNT/CB-14 Informação e documentação ABNT/CB-15 Mobiliário ABNT/CB-16 Transportes e tráfego ABNT/CB-17 Têxteis e do vestuário ABNT/CB-18 Cimento, concreto e agregados ABNT/CB-19 Refratários ABNT/CB-20 Energia nuclear ABNT/CB-21 Computadores e processamento de dados ABNT/CB-22 Impermeabilização ABNT/CB-23 Embalagem e acondicionamento ABNT/CB-24 Segurança contra incêndio ABNT/CB-25 Qualidade ABNT/CB-26 Odonto-médico-hospitalar ABNT/CB-28 Siderurgia ABNT/CB-29 Celulose e papel ABNT/CB-30 Tecnologia alimentar ABNT/CB-31 Madeira ABNT/CB-32 Equipamentos de proteção individual ABNT/CB-33 Joalheria, gemas, metais preciosos e bijouteria ABNT/CB-35 Alumínio ABNT/CB-36 Análises clínicas e diagnóstico in vitro ABNT/CB-37 Vidros planos ABNT/CB-38 Gestão ambiental ABNT/CB-39 Implementos rodoviários ABNT/CB-40 Acessibilidade ABNT/CB-41 Minérios de ferro ABNT/CB-42 Soldagem ABNT/CB-43 Corrosão ABNT/CB-44 Cobre ABNT/CB-45 Pneus e aros ABNT/CB-46 Áreas limpas e controladas ABNT/CB-47 Amianto crisotila ABNT/CB-48 Máquinas rodoviárias ABNT/CB-49 Óptica e instrumentos ópticos ABNT/CB-50 Materiais, equipamentos e estruturas offshore para indústria do petróleo e gás natural ABNT/CB-52 Café ABNT/CB-53 Normalização em metrologia ABNT/CB-54 Turismo ABNT/CB-55 Refrigeração, ar-condicionado, ventilação e aquecimento ABNT/CB-56 Carne e do leite ABNT/CB-57 Higiene pessoal, perfumaria e cosméticos ABNT/CB-59 Fundição ABNT/CB-60 Ferramentas manuais e de usinagem Organismos de Normalização Setorial ABNT/ONS-27 Tecnologia gráfica ABNT/ONS-34 Petróleo ABNT/ONS-51 Embalagem e acondicionamento plásticos ABNT/ONS-58 Ensaios não-destrutivos 4 4 1.2 – PROPRIEDADES FISICAS DOS MATERIAIS 1 . 2 . 1 - D u r e z a A dureza representa a resistência à penetração da superfície de um material. Quanto mais duro é um material, maior é a dificuldade para riscá-lo e, conseqüentemente maior a sua resistência á abrasão. Existe uma relação entre a dureza e a resistência mecânica de um material e quanto maior a dureza, maior será sua resistência mecânica, como demonstra o gráfico ao lado. Os métodos Brinell e Vickers sãos os métodos de medição da dureza mais utilizados principalmente nos materiais metálicos. Durômetro Brinell e Vickers do Laboratório de Materiais da FT-UNICAMP O ensaio de dureza Brinell consiste em comprimir lentamente uma esfera de aço temperado, de diâmetro D, sobre uma superfície plana, polida e limpa de um metal, por meio de uma carga F, durante um tempo t, produzindo uma calota esférica de diâmetro d. A dureza Brinell (HB) é a relação entre a carga aplicada (F) e a área da calota esférica impressa no material ensaiado (Ac). cA F HB A dureza Vickers se baseia na resistência que o material oferece à penetração de uma pirâmide de diamante de base quadrada e ângulo entre faces de 136º, sob uma determinada carga. O valor de dureza Vickers (HV) é o quociente da carga aplicada (F) pela área de impressão (A) deixada no corpo ensaiado. A F HV Materiais de Construção I >>>>>>>>>> 5 5 1 . 2 . 2 - E x p a n s ã o T é r m i c a O aumento ou a diminuição de temperatura provoca a expansão ou a contração de diversos materiais. Em alguns deles, esta variação é discreta enquanto que em outros pode ser facilmente notada, de acordo com o seu coeficiente de dilatação térmica e a intensidade da variação da temperatura. Um desafio da engenharia em todos os tempos é empregar materiais com diferentes coeficientes de dilatação térmica, sem que a ligação entre eles sofra ruptura. Material Coef. Dilatação Térmica (cm/cm/ºC a 20ºC) Concreto 12,6x10-6 Cobre 16,2x10-6 Alumínio 22,5x10-6 1 . 2 . 3 - C o n d u t i v i d a d e T é r m i c a É a capacidade de um material conduzir ou transferir calor. Esta propriedade deve ser observada no estudo do conforto térmico da edificação e até mesmo na segurança estrutural, como por exemplo, nas edificações cujas estruturas são compostas por aço. 1 . 2 . 4 - C o nd u t i v i d a d e E l é t r i c a Representa a facilidade ou a dificuldade de um material permitir a passagem de corrente elétrica. 1 . 2 . 5 - E s t a b i l i d a d e Q u í m i c a É a propriedade do material de não reagir quimicamente com agentes agressivos do ambiente. Desta propriedade, depende a durabilidade do material e os fatores que interferem na estabilidade química de um material são: ▪ Composição química ▪ Grau de cristalização e nível de defeitos ▪ Temperatura 1 . 2 . 6 - R e a t i v i d a d e Representa a capacidade do material de reagir quimicamente. Ao contrário de alguns materiais que devem ter boa estabilidade química, existem outros que têm de reagir quimicamente com facilidade, para que possam ser empregados, como é o caso dos aglomerantes. A reatividade de um material é influenciada por: ▪ Composição química ▪ Grau de amorfização e nível de defeitos ▪ Temperatura ▪ Catalizadores e granulometria 6 6 A F 1 . 3 - P R O P R I E D A D E S M E C ÂN I C A S D O S M AT E R I A I S Os corpos na natureza estão sujeitos aos esforços mecânicos conforme indicam as figuras abaixo. Quando um corpo sofre a ação de forças externas, surgem esforços (reações) internos no material e deformações, correspondentes ao carregamento. Dá-se o nome de tensão () à relação entre a força (F) aplicada num corpo e a área (A) da seção transversal (perpendicular à força aplicada). A1 < A2 1 > 2 COMPRESSÃO TRAÇÃO CISALHAMENTO FLEXÃO TORÇÃO Materiais de Construção I >>>>>>>>>> 7 7 o of o A variação unitária de comprimento, conhecida como deformação linear ou específica () é obtida dividindo-se a variação do comprimento (), causada pelo carregamento, pelo comprimento inicial (0) As deformações podem ser de dois tipos: ▪ Elásticas: Quando ocorrem instantaneamente e são reversíveis. Elas podem ser lineares, quando a deformação é proporcional às tensões aplicadas, ou não lineares. ▪ Plásticas: são deformações residuais que permanecem mesmo depois de cessado o carregamento. 1 . 3 . 1 - M ó d u l o d e E l a s t i c i d a d e Módulo de Elasticidade (E) de um material é a função que relaciona a tensão () aplicada e a deformação () desenvolvida por um material pode ser expressa graficamente pelo diagrama tensão- deformação, conforme exemplo a seguir. Na fase elástica, se dividir a tensão () pela deformação (), em qualquer ponto, obtem- se um valor constante denominado Módulo de Elasticidade (E), expressando a medida de rigidez do material. Quanto maior o módulo, menor será a deformação elástica resultante da aplicação de uma tensão e mais rígido será o material. E 8 8 1 . 3 . 2 - C o e f i c i e n t e d e Po i s s o n Coeficiente de Poisson () de um material é a função que relaciona a deformação transversal (y) e a deformação longitudinal (x). 1 . 3 . 3 - F o r m a s d e R u p t u r a s Segundo a forma de ruptura, os materiais podem ser classificados como dúcteis ou frágeis. Materiais Dúcteis: são aqueles que ao ser carregado, apresentam grandes deformações antes de se romper. Diz-se que este tipo de ruptura é “avisada”. São materiais dúcteis: aço, alumínio. Materiais Frágeis: são aqueles que deformam relativamente pouco antes de se romper. Às rupturas frágeis dá-se o nome de ruptura “não avisada”, e num edifício tem efeitos catastróficos. 1 . 3 . 4 - D e f o r m a ç ã o L e n t a e F l u ê n c i a Para alguns materiais a relação entre a tensão e a deformação depende do tempo de carregamento. Nestes materiais além da deformação inicial, que ocorre simultaneamente à aplicação das cargas, ocorrem deformações ao longo do tempo. Este aumento gradual da deformação (plástica) com o tempo é chamado de fluência e é influenciada pela temperatura e umidade relativa do ar, entre outras características constitutivas do material. y x Materiais de Construção I >>>>>>>>>> 9 9 1 . 3 . 5 - F a d i g a Cargas repetitivas causam a ruptura por fadiga dos materiais. Sob este efeito, um material rompe a tensões muito inferiores daquelas obtidas no ensaio de determinação da tensão de ruptura. Sabe-se que a fadiga depende da intensidade do carregamento e, que alguns materiais, como é o caso dos metais, possuem uma tensão limite de fadiga, abaixo da qual não ocorre fadiga. Quanto menor a intensidade das cargas repetitivas, maior o número de ciclos, que o material será capaz de resistir. 1 . 3 . 7 - R e l a x a ç ã o Um material submetido à uma deformação constante sofre perda de tensão ao longo do tempo. A relaxação é praticamente o mesmo mecanismo da fluência e, ocorre em aços para protensão e, por esta razão, eles passam por um tratamento especial. 1 . 3 . 8 - T e n a c i d a d e A resistência de um material ao impacto é sua capacidade de absorver energia, por deformação elástica ou plástica. O impacto é um carregamento de curtíssima duração (choque). 1 . 4 - U N I D AD E S D E M E D I D AS O Brasil adota o Sistema Métrico de medidas, usando metro para comprimento, grama para massa, litro para volume, Pascal para tensões e Celsius para temperatura. Múltiplos e submúltiplos usuais Fator de Multiplicação Prefixo Símbolo no SI 1.000.000.000 = 109 giga G 1.000.000 = 106 mega M 1.000 = 103 quilo k 100 = 102 hecto h 10 = 101 deca da 0,1 = 10-1 deci d 0,01 = 10-2 centi c 0,001 = 10-3 mili m 0,000 001 = 10-6 micro 0,000 000 001 = 10-9 nano n 10 10 Conversões Úteis Unidades Inglesas Para Multiplicar por Jardas (jd) Metros (m) 0,9144 Pés (pé) Metros (m) 0,3048 Polegadas (pol) Milímetro (mm) 25,4 Jardas cúbicas (jd3) Metros cúbicos (m3) 0,7646 Galões americanos (gal) Metros cúbicos (m3) 0,003785 Galões americanos (gal) Litros (l) 3.785 Libras, massa (lb) Quilogramas (kg) 0,4536 Quilograma força (kgf) Newtons (N) 9,807 Libras força (lbf) Newtons (N) 4,448 Graus Fahrenheit (ºF) Graus Celcius (ºC) (ºF-32)/1,8 De Para Multiplicar por kgf N 9,80665 Kgf/cm2 MPa 0,0980665 MPa KN/cm2 0,1 21 1 1 m N Pa Materiais de Construção I >>>>>>>>>> 11 11 Q U E S T I O N ÁR I O 1. Qual a importância do conhecimento dos materiais de construção civil? 2. O que são normas técnicas? 3. Qual entidade, no Brasil, é responsável pela elaboração de normas técnicas? 4. Qual dentre os 47 comitês que constituem a ABNT é ligado à construção civil? 5. Cite 3 propriedades importantes no estudo dos materiais e explique cada uma delas. 6. A quais esforços mecânicos os corpos são submetidos na natureza? Explique cada um deles. 7. Cite 3 propriedades mecânicas importantes no estudo dos materiais e explique cada uma delas. 8. Uma barra de aço com comprimento de 1m é submetida a uma força de tração, sofre um alongamento de 4mm e, após a aplicação da força, volta ao comprimento inicial. Determine o valor da deformação linear (em %) medida durante a aplicação da carga. Esta deformação é elástica ou plástica? Explique. 9. Determine o alongamento()de uma barra de seção transversal quadrada (Área=2cm2) e comprimento de 160cm, submetida à força de tração de 60KN, conhecendo-se seu módulo de elasticidade (E=23.000KN/cm2). 10. Qual a influência da fadiga na tensão de ruptura de um material? B I B L I O G R AF I A 1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - Agregados para concreto, São Paulo, 1995. 2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - Guia básico de utilização do cimento Portland, São Paulo, 1997. 3. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - Armazenamento de cimento ensacado, São Paulo. 4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - Manual de ensaios de: agregados, concreto fresco e concreto endurecido, São Paulo, 2000. 5. BAUER, L.A. - Materiais de Construção 1. 3ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Ltda., 1988. 6. CENTRO DE TECNOLOGIA DE EDIFICAÇÕES - Qualidade na Aquisição de Materiais e Execução de Obras. São Paulo: Editora Pini, 1996. 7. GUIMARÃES, José E. P. - A cal. São Paulo: Editora Pini, 1997. 8. ISAIA, Geraldo C. – Materiais de construção civil e princípios de ciência e engenharia de materiais. São Paulo: IBRACON, 2007, vol.1. 9. MEHTA, Povindar Kumar – Concreto: estrutura, propriedades e materiais. São Paulo: Editora Pini, 1994. 10. PETRUCCI, Eládio G. R. - Materiais de Construção. 11ª ed. São Paulo: Editora Globo, 1998. 1 ,0 0 4 12 12 11. PFEIL, Walter. - Estruturas de Madeira. 5ª ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Ltda., 1989. 12. RIPPER, Ernesto - Manual Prático de Materiais de Construção. São Paulo: Editora Pini, 1995.
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