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AULA 1 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR Prof. Jussara Riva Finatti 2 CONVERSA INICIAL A avaliação é um tema muito polêmico e amplamente discutido no ambiente acadêmico atual. Neste tema você conhecerá dois modelos de avaliação presentes no ambiente escolar, e a partir de algumas reflexões poderá julgar qual método é o mais adequado às escolas. Antes de iniciar seus estudos, assista ao vídeo de introdução no material on-line. PROBLEMATIZAÇÃO Em uma reunião de professores do 9º ano do Ensino Fundamental, o assunto em pauta é a avaliação da aprendizagem. A coordenação da escola propõe que os professores lessem o texto “Avaliação da aprendizagem na formação de professores: estão os futuros professores preparados para avaliar?” e viessem para a reunião com trechos destacados para discussão. Se a intenção era causar polêmica, a coordenação atingiu o objetivo, pois o assunto avaliação sempre gera discussão. Já de início, a professora Léia de Geografia afirmou que se sentia retratada no texto, pois não havia estudado avaliação durante a licenciatura. A professora Ana de Português disse que concordava com as discussões recentes sobre avaliação processual e formativa, mas não sabia bem como realizá-la. O professor João de História, por sua vez, afirmou que não tinha dificuldades em avaliar, pois sua experiência e várias leituras já lhe davam uma boa base. Em dado momento, o professor Pedro de Matemática disse que se identificou logo de início com uma citação do texto que dizia que avaliação era sempre a mesma coisa, fosse na escola ou na empresa, tal como afirmara Gadotti: “Podemos falar na avaliação das diversas atividades profissionais, bem como de uma empresa, de um programa, etc.…” Ele ainda completou: “Acho que essa história de acompanhar o aluno é balela! Os alunos são bem grandinhos e não precisam de babás. O que a gente precisa é dar aula e aplicar prova. Se saiu bem? Ótimo! Continua. Se saiu mal? Que pena, reprova! Se não tem capacidade para estudar, vai procurar outra coisa pra fazer!” 3 Aí a coisa pegou fogo, pois se ouviram protestos de todos os tipos, de um lado os que afirmavam que o autor não tinha dito isso e não havia semelhança entre a escola e a empresa, e a educação era processo de formação. De outro, os que defendiam que se a empresa aplicava métodos que davam lucros, por que não copiar na escola? Se isso era ser seletivo, paciência, o mundo é competitivo e seleciona os mais aptos!” E você, já tem posição? Acha que avaliar é fácil? Que é só aplicar um teste ao final de cada bimestre, corrigir, atribuir e comunicar as notas aos alunos? Ou acredita que avaliar implica em acompanhar o modo como os alunos se desenvolvem, fazendo perguntas, e propondo tarefas diferenciadas? Ou ainda, imagina que escola e a empresa são semelhantes? E que a escola deveria selecionar e excluir os alunos que não demonstram aptidão para estudar, assim como a empresa, ao recrutar funcionários escolhe os melhores candidatos e exclui os que não têm domínio dos saberes necessários ao exercício da profissão? Não responda agora. Vamos voltar ao conteúdo teórico do nosso tema e, ao final, retomaremos a nossa história e apresentaremos as possibilidades de solução para o problema. TEMA 1 - CONCEITO E PROPÓSITO DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM Vamos começar nossos estudos sobre avaliação falando um pouco de arte? Observe as pinturas a seguir. Se você pudesse escolher, qual destes quadros seria seu? Qualquer um? Nenhum? Por quê? Se depois de escolher o que mais lhe agrada, você soubesse quem são os pintores dos quadros e seus respectivos preços, isso mudaria alguma coisa? Faça as mesmas perguntas a algumas pessoas e compare suas escolhas e também os seus motivos. 4 Mas o que uma aula sobre avaliação tem a ver com pintura brasileira? Na verdade, com a pintura em si, nada, mas com as escolhas, bastante. Quando, em nossa vida, precisamos fazer escolhas, tomar posição diante dos vários aspectos de uma questão, ou ainda, analisar fatos diversos, estamos exercendo a capacidade de avaliação e, nos valemos de nossa visão de mundo, de nossos valores, para afirmar a qualidade do que está em foco. Gosto mais da cor azul, prefiro pintura abstrata à realista, não gosto de pintura, sei que um Volpi tem lá seu valor, desconheço os demais artistas, etc. Observe que fazemos isto muito frequentemente, até sem perceber: “Que roupa devo usar”; “O que penso sobre o filme X ou do livro Y?”; “Que tipo de carro eu compro?”. Intrínseca à nossa decisão está presente uma análise e uma tomada de posição. Com a avaliação educacional acontece o mesmo: estabelece-se critérios, parâmetros, agora não ligados apenas à vontade do professor e sua concepção de educação, mas às especificidades da matéria em questão, às expectativas da comunidade, ou às exigências da instituição educacional. Pode-se afirmar que avaliar implica em estabelecer valor, em fazer uma apreciação quanto à qualidade do fato analisado e principalmente, em assumir posição e tomar decisões. Luckesi (2008, p.33), um dos principais estudiosos da avaliação da aprendizagem, afirma que avaliar é “estabelecer juízo de qualidade sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista a tomada de decisão”. Qual é a sua concepção de educação e de avaliação? Como essas variantes refletem no ensino? Reflita sobre essas perguntas, assistindo ao vídeo no material on-line. Em relação à avaliação, é importante que destacar dois aspectos: o juízo de qualidade e a tomada de decisão. Para que se estabeleça “juízo de qualidade”, ou, em outras palavras, para fazer uma apreciação sobre a qualidade de um fato analisado, é preciso considerar as concepções de educação, de ensino-aprendizagem e de avaliação do professor. Por implicar em apreciação, a avaliação depende da concepção de educação, dos valores em que se acredita. Uma concepção de educação democrática proporciona o avanço de todos os alunos na direção da apropriação do conhecimento historicamente produzido 5 pela humanidade. Nesse sentido, se o professor pensa que a educação deve possibilitar a apropriação das habilidades e dos conhecimentos necessários à compreensão e à atuação no mundo, irá utilizá-la de maneira formativa, democrática e qualitativa, como auxílio na promoção da aprendizagem. Em uma concepção de educação elitista e conservadora, oposta à democrática, entende-se que a sociedade é “naturalmente” marcada pelas diferenças. Para ela há cidadãos que nasceram para ocupar altas posições na sociedade e, portanto, teriam direito a uma educação diferenciada, enquanto outros teriam por destino ir para a escola apenas para obter os conhecimentos necessários ao seu ingresso na força de trabalho. Neste caso, acredita-se que o mundo pertence aos “escolhidos”, aos mais espertos e que a avaliação deve prestar um “serviço à sociedade”. Ela separa os alunos com baixo rendimento, selecionando-os e excluindo os que “não se esforçam”, ou “não tem capacidade” utilizará a avaliação classificatória, que tem caracterizado o ensino no Brasil há séculos. Deve-se estar ciente, nesse caso, que essa forma de avaliação não tem como ser justa, uma vez que desconsidera o ponto de partida dos alunos, submete todos às mesmas atividades de ensino e exige de todos o mesmo rendimento, sem considerar que suas histórias de vida, sua origem social e suasexperiências educacionais são diferentes. O que caracteriza uma e outra forma de avaliação? Vamos começar pela avaliação classificatória, a qual a maioria de nós conhece bem: Em uma situação bem típica, o professor organiza seu plano de aulas, executa e, ao final de cada bimestre, aplica provas para verificar se os alunos aprenderam a matéria. Ele corrige, faz a contagem de pontos, às vezes dá uma ou tarefa em grupo, a qual atribui pontos e encaminha a média obtida pelos alunos ao seu boletim / histórico escolar. Ao final do ano as notas bimestrais são colocadas na fórmula de avaliação e o parecer aprovado, ou reprovado, é emitido. Essa é, pois, uma avaliação apoiada nas notas, que acontece apenas para verificar os resultados. Os erros dos alunos são indicados, corrigidos e computados, mas não são trabalhados pelo professor, pois esta avaliação só acontece ao final de um período de aulas (bimestres) findo o qual as notas são divulgadas e um novo período começa com outros conteúdos. Dificilmente o 6 aluno tem ao longo do ano letivo, retorno do professor quanto ao que fazer para melhorar. Por enfatizar as notas, essa forma de avaliação classifica os alunos (bons, médios e fortes) e contribui para a seleção e a exclusão daqueles que, mediante sucessivos maus resultados, acabam por acreditar que são pouco inteligentes e capazes, desistindo de prosseguir seus estudos. É uma avaliação autoritária, na medida em que só o professor conhece os critérios de qualidade; centraliza o poder nas mãos do professor, estabelecendo a dependência e o individualismo. É muito útil ao professor, pois se presta também ao controle da disciplina, uma vez que pode ser utilizada para ameaçar ou induzir os comportamentos desejados. Para saber mais sobre a avaliação classificatória, clique no link a seguir e assista ao vídeo “Avaliação: Prêmio ou Punição?”. https://www.youtube.com/watch?v=6rHvpwKOpQg Reflita sobre as formas de avaliação, assistido ao vídeo do material on- line. Vamos refletir agora sobre a outra concepção de avaliação que recebe várias denominações: formativa, democrática, qualitativa, mediadora, emancipatória. Essa forma de avaliação possibilita que o aluno e o professor compreendam como a aprendizagem está acontecendo e os fatores que estão contribuindo para isso. Ela tem como característica não se realizar somente ao final de períodos letivos, mas sim, acompanhar o desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem. Nesse tipo de avaliação: o É identificado como o aprendizado está acontecendo e o que é preciso fazer para prosseguir no caminho ou alterá-lo. o As aprendizagens consolidadas são consideradas como pontos de partida para as demais. o Quando são detectadas aprendizagens incompletas, ou ainda não realizadas, elas são reorientadas, ainda durante o processo. o Uma das principais tarefas do professor na avaliação é acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos, identificando e fazendo as interferências necessárias. 7 Lembra-se do conceito de avaliação a que nos referimos no início? Luckesi enfatiza que “avalia-se tendo em vista a tomada de decisão”. Na avaliação classificatória tradicional, constata-se o problema e atribui-se uma nota e a decisão se limita a dizer que o aluno está apto ou não. Na avaliação formativa perceber um problema na aprendizagem do aluno é apenas um primeiro passo; em seguida é preciso situar a questão, compreender como e porque o aluno não está aprendendo e, sobretudo, reorganizar as atividades a ele propostas de modo a que ele venha a aprender. Hoffmann descreve esta forma de avaliação como “dinamizar oportunidades de ação-reflexão, em um acompanhamento permanente do professor, que incitará o aluno a novas questões a partir das respostas formuladas" (HOFFMANN, 2005, p.20). Pelas colocações feitas até aqui, é possível perceber que para essa concepção que considera a educação como um processo de formação humana, o propósito da avaliação não é a verificação, a classificação ou a aprovação/reprovação de alunos. O objetivo é dar apoio às decisões de professores e de alunos para orientar e reorientar a prática pedagógica de modo a levar o aluno à aprendizagem. No dizer de D'Ambrósio (2003, p.78): [...] avaliação deve ser uma orientação para o professor na condução de sua prática docente e jamais um instrumento para reprovar ou reter alunos na construção de seus esquemas de conhecimento teórico e prático. Selecionar, classificar, filtrar, reprovar e aprovar indivíduos para isto ou aquilo não são missão de educador. Se a avaliação classificatória incide quase exclusivamente sobre o aluno, na perspectiva da avaliação formativa e democrática, a organização e a interpretação dos dados sobre a aprendizagem pressupõem uma análise do processo de aprendizagem do aluno e da forma de ensinar do professor. Quer saber mais sobre os assuntos abordados neste tema? Então, clique no ícone e assista ao vídeo: “O que é avaliar”, clicando no botão a seguir. https://www.youtube.com/watch?v=r3wXlzighlU Uma ótima dica de leitura para ampliar sua reflexão sobre os assuntos estudados hoje é a leitura do artigo “Avaliação Mediadora: uma relação dialógica na construção do conhecimento”, disponível no ícone a seguir. http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_22_p051-059_c.pdf 8 REVENDO A PROBLEMATIZAÇÃO Vamos agora discutir a problematização proposta no início desta aula. Já parou para refletir sobre sua concepção de avaliação? Caso queira ver o problema novamente antes de responder, assista ao vídeo do material on-line. Caso contrário, escolha uma das alternativas: 1. Você concorda que avaliar é fácil, que é só aplicar um teste ao final de cada bimestre, corrigir, atribuir e comunicar as notas aos alunos. 2. Acredita na avaliação formativa e entende que avaliar implica em acompanhar o modo como os alunos se desenvolvem, fazendo perguntas, propondo tarefas diferenciadas, reorientando o ensino para promover a aprendizagem. 3. Acredita que escola e empresa são semelhantes, especialmente a indústria, pois ambas “processam” matéria prima (no caso da escola, os alunos, que entram de um jeito, passam pelas experiências da escola e devem sair modificados, prontos para o mercado de trabalho, ou para prosseguir nos estudos, segundo sua capacidade). Para consultar o feedback de cada uma das alternativas, acesse o material on-line. SÍNTESE Se o propósito da escola é que o aluno aprenda os saberes necessários à sua participação na vida social, é preciso que o professor tenha consciência de quão importante é ter por base uma teoria de ensino-aprendizagem condizente com suas crenças sobre educação. Também é importante que se valha da avaliação para acompanhar o processo de sistematização do conhecimento, reformulando os procedimentos didáticos, quando necessário, de modo a alcançar os objetivos da escolarização. Para finalizar este tema, assista ao vídeo de síntese no material on-line. 9 REFERÊNCIAS D'AMBRÓSIO, U. Educação Matemática: da teoria à prática. 10. ed. Campinas, SP: Papirus, 2003. HOFFMANN, J. M. L. Avaliação: mito e desafio - uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 2005, p.20. LUCKESI, C. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e proposições. 19ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008. ATIVIDADES 1. Os estudos atuais sobre a avaliação permitem afirmar que, em uma abordagem formativa, ela deve ser realizada: I. De modo contínuo e processual. II. Ao final de cada bimestre. III. Peloprofessor, em parceria com o aluno. De acordo com as afirmações acima, assinale a alternativa correta: a) Apenas a afirmação I está correta. b) As afirmações I e II estão corretas. c) Apenas as afirmações II e III estão corretas. d) As afirmações I, II e III estão corretas. 2. Jussara Hoffmann afirma que avaliar é “dinamizar oportunidades de ação- reflexão, em um acompanhamento permanente do professor, que incitará o aluno às novas questões a partir das respostas formuladas”. Com este conceito ela está afirmando que: a) Para avaliar o professor precisa acompanhar diariamente o aluno, conversando com ele para saber se ele está entendendo. b) Para bem avaliar é preciso que o professor tenha turmas muito pequenas, pois de outra forma não conseguirá conversar e avaliar seus alunos diariamente. c) Para avaliar o professor não precisa necessariamente conversar com todos os alunos todos os dias, mas precisará propor tarefas avaliativas variadas aos alunos e devolvê-las a cada aluno com observações e propostas de continuidade. 10 d) Para avaliar é preciso que se estabeleça uma parceria: professor reflete ao propor tarefas e aluno age, realizando as propostas. 3. A avaliação da aprendizagem deveria servir para identificar e ajudar a superar as dificuldades e as necessidades dos alunos, porém, na prática, o que se vê é que ela tem servido para dizer quem está apto ou quem não está apto para seguir adiante. A partir dessa afirmação, podemos afirmar: I. A avaliação envolve o acompanhamento constate da evolução do aluno, propondo-lhe novas questões a partir das respostas formuladas. II. A aprendizagem ocorre por meio de avanços e recuos, e a avaliação precisa acompanhá-la, percebendo e realizando as interferências necessárias. III. Avaliar a aprendizagem é analisar a qualidade das informações obtidas, considerando sua relevância diante da realidade, com o objetivo de tomar decisões, promovendo os melhores alunos por seus méritos individuais. Estão corretas as afirmações: a) As afirmações I, II e III estão corretas. b) As afirmações I e II estão corretas. c) As afirmações I e III estão corretas. d) Somente a afirmação I está correta 4. No conceito de avaliação expresso por Luckesi em “estabelecer juízo de qualidade sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista a tomada de decisão”, o componente “tendo em vista a tomada de decisão” destaca-se como fundamental para a avaliação formativa porque: a) Se o professor perceber que o aluno não está aprendendo adequadamente e não tomar decisões no sentido de reorientar sua aprendizagem, não está cumprindo com a função de auxiliar do processo de ensino – aprendizagem, característico da avaliação formativa. b) Tomar decisões é uma prerrogativa do professor, e ele deve exercê-la para não perder a autoridade. c) É a partir da tomada de decisões sobre como melhorar a aprendizagem que o professor pode ensinar os alunos e dar-lhes tarefas apropriadas ao andamento da aula, evitando a indisciplina, pois aluno ocupado é aluno comportado. 11 d) É a tomada de decisões que indica ao aluno se ele está ou não apto a passar para outra fase, ou série. 5. A avaliação classificatória vem sendo utilizada há muito tempo. Assinale a alternativa que contém apenas características desta forma de avaliação: a) A aplicação de testes associada à utilização de notas; aplicação de testes como forma de manter a atenção e a disciplina; a nota obtida é encaminhada ao boletim dos alunos; o aluno participa da avaliação; implica em aprovação e reprovação de alunos. b) Aplicação de testes associada à utilização de notas; a nota obtida é encaminhada ao boletim dos alunos; implica em aprovação e reprovação de alunos; é realizada apenas ao final de cada bimestre; classifica os alunos; é seletiva e excludente. c) Utilização de notas; compara e classifica os alunos; reorienta a aprendizagem; implica em aprovação e reprovação de alunos; é realizada ao final de cada bimestre; é seletiva e formativa. d) Utilização de notas; identifica erros e indica tarefas para superação; reorienta a aprendizagem; implica em aprovação e reprovação de alunos; é realizada ao final de cada bimestre; é seletiva.
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