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EJA
Capítulo I (página 17 a página 37) do livro
Alfabetização de Jovens e Adultos no Brasil: lições da prática.
Promover com sucesso a alfabetização dos jovens e adultos e superar o analfabetismo, são desafios que o Brasil ainda está distante de equacionar, e constituem temas que os governos e a sociedade devem enfrentar permanentemente. Não necessitam, portanto, de datas festivas ou iniciativas excepcionais para compor o rol de prioridades das políticas públicas e das preocupações dos educadores. 
Entretanto, datas e eventos marcantes oferecem a oportunidade de reavaliar a experiência nacional. Encontramo-nos a meio caminho da Década da Alfabetização 2003-2012, proclamada pelas Nações Unidas como um período de esforços concentrados para assegurar a todas as pessoas o direito de desenvolver as habilidades de leitura e da escrita, a fim de usufruir da cultura letrada, fortalecer as identidades socioculturais, melhorar as condições de vida, promover a participação cidadã e a equidade de gênero, preservar a saúde e o meio ambiente. O ano de 2007 foi o Ano Ibero-americano da Alfabetização e inaugurou o período de vigência do Plano Ibero-americano de Alfabetização e Educação Básica,iniciativadaOrganizaçãodosEstadosIbero-americanosparaaEducação,Ciência e Cultura (OEI) de que tomam parte 17 países latino-americanos. Também se iniciam os preparativos para o VI Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFINTEA), que o Brasil sediará em maio de 2009, responsabilidade que convida à realização de um balanço do itinerário percorrido e das lições aprendidas.
Diante da existência de quase 800 milhões de jovens e adultos no mundo que são analfabetos (dois terços dos quais são mulheres), a 56ª sessão da Assembléia da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2001 adotou are solução que proclamou a Década da Alfabetização 2003-2012, estabelecendo no ano seguinte um Plano de Ação cuja coordenação foi entregue à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). O Plano adota uma visão renovada da alfabetização, enfocando as metas do Fórum Mundial de Educação (Dacar,Senegal, 2000) relativas à satisfação das necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos, que incluem a redução do analfabetismo em 50% e a eliminação das disparidades entre mulheres e homens no acesso à educação básica de qualidade e às oportunidades de educação ao longo da vida.
Além da escolarização ou da educação formal, incluindo as situações de aprendizagem informais presentesnas sociedades contemporâneas. A Declaração de Hamburgo atribui à educação de jovens e adultos o objetivo de desenvolver a autonomia e o sentido de responsabilidade das pessoas e comunidades para enfrentar as rápidas transformações socioeconômicas e culturais por quais passou mundo atual, mediante a difusão de uma cultura de país democracia promotora da coexistência tolerante e da participação criativa e consciente dos cidadãos. Entre os temas abordados com prioridade pela Agenda para o Futuro, aprovada na Conferência, consta a garantia do direito universal à alfabetização e à educação básica, concebidas como ferramentas para a democratização do acesso à cultura, aos meios de comunicação e às novas tecnologias da informação. A UNESCO realizou em Bangcoc, na Tailândia, no ano de 2003, uma reunião intermediária com o objetivo de avaliar o desenvolvimento da educação de adultos após a VCONFINTEA. O balanço realizado nessa ocasião, sintetizado no Chamado à Ação e à Responsabilização, não foi otimista, pois a contribuição da educação de adultos à solução dos conflitos globais, ao combate à pobreza, à igualdade entre homens e mulheres, à formação para o trabalho e à preservação do meio ambiente e da saúde não tem sido devidamente aproveitada. Em quase todos os países houver edução do financiamento público para a aprendizagem dos adultos, em grande medida devida à prioridade concedida por agências internacionais e governos à educação primária das crianças e adolescentes.
A difusão da alfabetização no Brasil ocorreu apenas no transcorrer do século XX, acompanhando a constituição tardia do sistema público de ensino. Até fins do século XIX, as oportunidades de escolarização eram muito restritas, acessíveis quase que somente às elitesproprietáriaseaoshomenslivresdasvilasecidades, minoriadapopu-lação. O primeiro recenseamento nacional brasileiro foi realizado durante o Império, em 1872, e constatou que 82,3% das pessoas com mais de cinco anos de idade eram analfabetas. Essa mesma proporção de analfabetos foi encontrada pelo censo realizado em 1890, após a proclamação da República. No início do período republicano, a alfabetização e a instrução elementar do povo ocuparam lugar de destaque nos discursos de políticos e intelectuais, que qualificavam o analfabetismo como vergonha nacional e creditavam à alfabetização o poder da elevação moral intelectual do país e de regeneração da massa dos pobres brancos íntegros libertos, a iluminação do povo e o disciplinamento das camadas populares, consideradas incultas e incivilizadas. Pouco, porém, foi realizado nesse período no sentido de desencadear ações educativas que se estendessem a uma ampla faixa da população. Devido às escassas oportunidades de acesso à escolarização na infância ou na vida adulta, até 1950 mais da metade da população brasileira era analfabeta, o que mantinha excluída da vida política, pois o voto lhe era vedado. As primeiras políticas públicas nacionais destinadas à instrução dos jovens e adultos foram implementadas a partir de 1947, quando se estruturou o Serviço de Educação de Adultos do Ministério da Educação e teve início a Campanha de Educação de Adolescentes indultos (CEAA)1. Assistiram-se no período a duas outras campanhas que obtiveram poucos resultados efetivos: a Campanha Nacional de Educação Rural, em 1952, e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo, em 1958. No final dos anos 50, inúmeras críticasforam dirigidas às campanhas, devido ao caráter superficial do apren-dizado que se efetivava num curto período de tempo e a inadequaçãodos programas, modelos e materiais pedagógicos, que não considera-vam as especificidades do adulto e a diversidade regional.
No início dos anos 60, a alfabetização de adultos compôs as estratégias de ampliação das bases eleitorais e de sustentação política dasreformas que o governo pretendia realizar. A efervescência político-social do período compôs o cenário propício à experimentação denovas práticas de alfabetização e animação sociocultural desenvolvi-das pelos movimentos de educação e cultura popular
PAULO FREIRE
Paulo Freire criou uma proposta para a alfabetização de adul-tos que inspira até os dias de hoje diversos programas de alfabe-tização e educação popular. Sua compreensão inovadora daproblemática educacional brasileira interpretava o analfabetismocomo produto de estruturas sociais desiguais e, portanto, efeitoe não como causa da pobreza. Freire propunha que os processoseducativos operassem no sentido de transformar a realidade, e aalfabetização era vista como uma ferramenta propícia ao examecrítico e à superação dos problemas que afetavam as pessoas ecomunidades. Sua pedagogia fundada nos princípios de liberdade, da compreensão da realidade e da participação favorecia a conscientização das pessoas sobre as estruturas sociais e os modos de dominação a que estavam submetidos, alinhando-se a projetos políticos emergentes na época. A perspectiva freireana reconhecia os analfabetos como portadores e produtores da cultura, o que se opunha de maneira contundente às representações de analfabeto até então preponderantes, fortemente marcadas pelo preconceito. A educação teria o papel de libertar os sujeitos de uma consciência ingênua, herança de uma sociedade opressora, agrária e oligárquica, transformando-a em consciência crítica. Sua proposta de alfabetização previa uma etapa preparatória de imersão do educador na realidade na qual iria atuar, destinada à pesquisa sobre a realidade existencial e a linguagem usada pelo grupo paraexpressá-la, carregada de significados sociais, culturais, políticos e vivenciais. A seguir eram selecionadas as palavras desse universo vocabular com maior densidade de sentido e que reunissem um conjunto variado de padrões silábicos. As palavras geradoras conformavam a base tanto do estudo da escrita e leitura como da realidade. Afirmava-se ser possível alfabetizar em três meses, com cerca de vinte palavras geradoras. Previa-se também uma etapa na qual os educandos dialogariam sobre o papel dos seres humanos como produtores de cultura e suas diferentes expressões, levando-os a se reposicionarem como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. O método vinculava a prática alfabetizadora ao exame de problemáticas que impediam ou dificultavam o acesso aos bens da própria cultura e à participação política; servia como meio para desvelar processos de opressão e dominação no mundo do trabalho e desigualdades das condições de vida dos brasileiros.
Durante a ditadura militar, a educação de jovens e adultos, promovida pelo governo, colaborou na manutenção da coesão social e na legitimação do regime autoritário, nutrindo o mito de uma sociedadedemocrática em um regime de exceção. A escolarização de jovens eadultos ganhou a feição de ensino supletivo, instituído pela reforma do ensino de 1971, mesmo ano em que teve início à campanha denominada Movimento Brasileiro de Alfabetização, que ficou conhecida pela sigla Mobral. Com um funcionamento muito centralizado, o Mobralespraiou-se por todo o país, mas não cumpriu sua promessa de erradi-car o analfabetismo durante aquela década e, em 1985, na transição à democracia, acabou sendo extinto e substituído pela Fundação Educar. A iniciativa de maior repercussão derivada do Mobral foi o PEI –ProgramadeEducaçãoIntegrada–,que condensava o antigo curso primário e criava a possibilidade de continuidade de estudos para osrecém-alfabetizados e demais pessoas que dominavam precariamente aleitura e a escrita. O ensino supletivo, por sua vez, foi implantado com recursos escassos e sem uma adequada formação de professores; abriu um canal de democratização de oportunidades educacionais para os jovens e adultos excluídos do ensino regular, mas ficou estigmatizado como educação de baixa qualidade e caminho facilitado de acesso a credenciais escolares. No mesmo período, um movimento subterrâneo de rearticulaçãoda sociedade civil e resistência ao regime militar organizou-se fora docontrole governamental. Comunidades eclesiais de base, associações demoradores, organizações de trabalhadores urbanos e rurais e outrosagrupamentos orientados por valores de justiça e eqüidade, e engajadosna reconstrução da democracia, desenvolveram ações educativas queincluíam a alfabetização de jovens e adultos. As práticas educativasdesses agentes se inscreveram na corrente que ficou conhecida comoeducação popular, filiada às concepções freireanas. A riqueza do legado construído nessa época influenciou, na transição para a democracia, tanto a ampliação de direitos sociais e políticos com o desenho de programas de alfabetização desenvolvidos em parceria entre governos e organismos civis. Atendendo aos reclamos da sociedade, a Constituição de 1988 restituiu o direito de voto aos analfabetos, em caráter facultativo; conce-deu aos jovens e adultos o direito ao ensino fundamental público e gratuito; e comprometeu os governos com a superação do analfabetismo e a provisão do ensino elementar para todos. 
Entre eles destaca-se a participação brasileira na Conferência Mundial de Educação para Todos (Jomtien,Tailândia,1990), em que números os países e organismos internacionais estabeleceram uma iniciativa para satisfazer as necessidades básicas deaprendizagem de crianças, jovens e adultos, a começar pela alfabetização, concebida como instrumento especialmente eficaz para a aprendizagem, para o acesso e a elaboração da informação, para a criação denovos conhecimentos e para a participação cultural.
As políticas educacionais dos anos 90 não corresponderam às expectativas geradas pela nova Constituição. Frente à reforma do Estado e às restrições ao gasto público impostas pelo ajuste da economia nacional às orientações neoliberais, as políticas públicas da década de 1990 priorizaram a universalização do acesso das criançase adolescentes ao ensino fundamental. Outros níveis e modalidadesde ensino, entre os quais a educação de jovens e adultos, foram relegados a um plano secundário na agenda das políticas educativas.
Nesse processo, a Fundação Educar foi extinta em 1990 e a atribuição da alfabetização dos jovens e adultos foi descentralizada para os municípios ou delegada às organizações sociais, que freqüentemente atuaram em parceria, em programas como Alfabetização Solidária ou Movimentos de Alfabetização (Movas). No início do terceiro milênio, a alfabetização de jovens e adultos adquiriu nova posição na agenda das políticas nacionais, com o lançamento, em 2003, do Programa Brasil Alfabetizado e a progressiva inclusão da modalidade no Fundo de Financiamento da Educação Básica (Fundeb), a partir de 2007.
2.LIÇÕES APRENDIDAS
São muitas as lições aprendidas ao longo dessa breve história. Uma delas se refere à necessidade de cooperação entre as esferas de governo. Em um país continental, com grandes desigualdades socioeconômicas e territoriais, a colaboração da União é imprescindível para suprir os estados e municípios com menores recursos (onde os desafios da alfabetização são maiores) dos meios financeiros e apoio técnico-pedagógico necessários ao desenvolvimento das ações de alfabetização e educação básica. Cabe ao governo federal, por determinação legal, coordenar as políticas em âmbito nacional, mas programas centralizados e uniformes resultam inapropriados e pouco flexíveis para responder à diversidade territorial, político-econômica e sociocultural do país. Há, pois, necessidade da participação das instâncias estaduais e municipais na definição dos conteúdos de aprendizagem e delineamento das estratégias de implementação dos programas. Outra lição relaciona-se às características dos programas de alfabetização e escolarização. As experiências nacional e internacional demais de meio século demonstram que campanhas que apelam àurgência da alfabetização em massa podem, em um primeiromomento, sensibilizar a sociedade e mobilizar a demanda dos jovense adultos, mas salvo raras exceções, não produzem resultados efetivose duradouros. Sabemos que a aquisição da leitura, escrita e do cál-culo requer um período não muito breve de aprendizagem, e suaconsolidação demanda a existência de oportunidades de continui-dade de estudos e de um entorno sociocultural estimulante ao usocotidiano das habilidades recém-adquiridas. Hoje, temos ciência dequão difícil é motivar o ingresso e permanência em processos deaprendizagem de pessoas que vivem múltiplos processos de margina-lização socioeconômica e cultural, o que resulta nos altos índices deabandono dos programas educativos dirigidos aos jovens e adultos.Por isso, as iniciativas de alfabetização têm maiores chances de êxitoquando se articulam a outras políticas de inclusão socioeconômica edesenvolvimento local, abrindo oportunidades de elevação de esco-laridade, qualificação profissional, fruição cultural e participaçãocidadã.
3.UM DESAFIO DE MILHÕES
Os desafios da alfabetização e educação elementar dos jovens eadultos no Brasil ainda são imensos: em 2006 mais de 65 milhões dejovens e adultos brasileiros tinham escolaridade inferior ao ensinofundamental, e o país possuía, ainda, 14,3 milhões de analfabetosabsolutos, a maior parte dos quais pertencentes aos grupos comidades mais avançadas.
4. LEGISLAÇÃO NACIONAL
A proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos,em 1948, é um marco na história da construção do direito à educa-ção, refletindo o consenso internacional com respeito à prerrogativainalienável de todo cidadão de ter acesso ao ensino elementar4.
 DADECLARAÇÃOUNIVERSALDOSDIREITOSHUMANOS1.
Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução serágratuita,pelo menos nos graus elementares e fundamentais. Ainstrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profis-sional será acessível a todos, bem como a instrução superior, estabaseada no mérito.
2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do res-peito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvar ás atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrado a seus filhos.
Para que o direito à educação seja garantido pelo poder público e possa ser exigido pelos cidadãos, é necessária sua inscrição em legislação nacional. A Constituição Federal de 1988 atendeu aos reclamosda sociedade e reconheceu o direito dos jovens e adultos ao ensinofundamental, obrigando os poderes públicos a sua oferta gratuita5
O direito das pessoas jovens e adultas ao ensino foi reafirmado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB), na qual foi inscrito como modalidade da educação básica, apropriada às necessidades e condições peculiares desse grupo.
DO DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DEEDUCAR
Art. 4º O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:
I–ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;[...]
VII – oferta de educação escolar regular para jovens e adul-tos, com características e modalidades adequadas às suas necessi-dades e disponibilidades, garantindo-se aos que foremtrabalhadores as condições de acesso e permanência na escola;[...]
Art. 5º O acesso ao ensino fundamental é direito públicosubjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, asso-ciação comunitária, organização sindical, entidade de classe ououtra legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para exigi-lo.
§ 1º Compete aos Estados e aos Municípios, em regime de colaboração, e com a assistência da União:
I– recensear a população em idade escolar para o ensino fundamental, e os jovens e adultos que a ele não tiveram acesso;
II – fazer-lhes a chamada pública;[...]

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