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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

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1.INTRODUÇÃO AO CONTROLE CONCENTRADO DE 
CONSTITUCIONALIDADE 
No Estado contemporâneo, o texto constitucional ocupa a posição de 
delimitador do horizonte de possibilidades para elaboração de todo o 
ordenamento jurídico de uma nação, assumindo o papel de condição de 
validade de todos os atos administrativos e legislativos. Como bem assinala 
José Afonso da Silva, "a constituição é o vértice do sistema jurídico do país, a 
que confere validade, e todos os poderes estatais são legítimos na medida em 
que ela os reconheça e na proporção por ela distribuídos" [01]. 
Nesse sentido, há que se imaginar uma espécie de controle de 
adequação das demais normas com a Constituição, garantindo-se, dessa 
forma, a unidade e harmonia do sistema jurídico. 
O controle de constitucionalidade nasce com essa finalidade, podendo 
ser conceituado como o juízo de compatibilidade vertical imediata entre norma 
constitucional e norma infraconstitucional. 
Orienta-se basicamente por dois pressupostos, quais sejam, a 
supremacia e a rigidez constitucionais. A supremacia da Constituição, nas 
palavras de Luís Roberto Barroso, "revela sua posição hierárquica mais 
elevada dentro do sistema, que se estrutura de forma escalonada, em 
diferentes níveis. É a Constituição o fundamento de validade de todas as 
demais normas" [02]. 
A rigidez constitucional, por outro lado, traduz-se na exigência de 
processo mais complexo para a modificação das normas constitucionais do que 
aquele apto a gerar normas infraconstitucionais [03]. 
De fato, o aspecto da rigidez constitucional garante supremacia formal 
à Constituição. Afinal, se as normas constitucionais fossem elaboradas da 
mesma forma que as infraconstitucionais, a superveniência de lei ordinária 
contrária a um mandamento constitucional acarretaria não 
inconstitucionalidade, mas sim revogação da norma constitucional por ato 
posterior. 
É mister destacar, outrossim, que a existência do controle de 
constitucionalidade, além de intimamente ligada aos princípios da supremacia 
da constituição e da rigidez constitucional, exerce a notável função de defesa e 
concretização dos direitos fundamentais, marcada pela possibilidade de 
supressão de ato normativo que possa frustrar a máxima aplicabilidade 
daqueles direitos resguardados de forma expressa ou implícita pela 
Constituição Federal. 
Por outro giro, a função jurisdicional, como regra geral, destina-se a 
solucionar conflitos de interesses, a julgar uma controvérsia entre partes que 
possuem pretensões antagônicas. O controle de constitucionalidade por ação 
direta ou por via principal, conquanto também seja jurisdicional, não se 
desenvolve em torno daquilo que Carnellutti denominava lide. 
Diz-se que o controle é em tese ou abstrato porque não há um caso 
subjacente à manifestação judicial. Seu objeto é um pronunciamento acerca da 
própria lei e destina-se à proteção do próprio ordenamento, evitando a 
presença de um elemento incompatível com a Constituição. 
Trata-se de um processo objetivo, isto é, sem partes, que não se presta 
à tutela de direitos subjetivos, de situações jurídicas individuais. 
A principal ação do controle concentrado abstrato de 
constitucionalidade é, sem sombra de dúvidas, a ação direta de 
inconstitucionalidade, da qual se cuida nas linhas subsequentes. 
 
2.Ação direta de inconstitucionalidade 
A ação direta de inconstitucionalidade (ADI) de lei ou ato normativo, 
também conhecida como ação genérica, foi introduzida no Direito brasileiro 
pela Emenda Constitucional nº 16, de 26 de novembro de 1965, à Constituição 
de 1946, que a ela se referia como representação de inconstitucionalidade. 
Trata-se, no entanto, de verdadeira ação, no sentido de que os legitimados 
provocam, direta e efetivamente, o exercício da jurisdição constitucional. Mas 
certamente não se cuida do típico direito de ação, consagrado na Constituição 
(art. 5º, XXXV) e disciplinado pelas leis processuais. Não há, como dito acima, 
pretensões individuais nem tutela de direitos subjetivos no controle de 
constitucionalidade por via principal. O processo tem natureza objetiva, e só 
sob o aspecto formal é possível referir-se à existência de partes. 
BASE LEGAL 
A ADI encontra assento no art. 102, I, a, do Texto Maior, que, ressalte-
se, constitui norma de eficácia plena. Seu processo e julgamento são regidos 
atualmente pela Lei nº 9.868, de 10 de novembro de 1999. 
FINALIDADE 
Tem por finalidade declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato 
normativo federal ou estadual (art. 102, I, a, da CF), seja por vício de forma, 
seja por vício material, seja por dupla inconstitucionalidade. 
Ocorrerá inconstitucionalidade formal quando um ato legislativo tenha 
sido produzido em desconformidade com as normas de competência 
(inconstitucionalidade orgânica) ou com o procedimento estabelecido para seu 
ingresso no mundo jurídico (inconstitucionalidade formal propriamente dita). A 
inconstitucionalidade será material quando o conteúdo do ato 
infraconstitucional estiver em contrariedade com alguma norma substantiva 
prevista na Constituição, seja uma regra, seja um princípio. 
OBJETO 
Os atos impugnáveis mediante ADI são a lei e o ato normativo federal 
ou estadual primários, isto é, que retiram fundamento diretamente da 
Constituição. 
Assim, são passíveis de controle de constitucionalidade pelo Supremo 
Tribunal Federal: as emendas constitucionais, as leis complementares, as leis 
ordinárias [04], as leis delegadas, as medidas provisórias [05], os decretos 
legislativos, as resoluções, todas essas espécies normativas constantes do art. 
59 da CF; os regulamentos autônomos [06]; a legislação estadual, aqui 
incluídos a Constituição do Estado, a legislação ordinária e os regulamentos 
autônomos produzidos no âmbito de cada uma dessas entidades federativas; a 
legislação distrital, editada no exercício da competência legislativa estadual; e 
os tratados internacionais, tenham eles status de lei ordinária ou supra-legal, 
no caso de tratados internacionais sobre direitos humanos. 
Diversamente, as normas pré-constitucionais são revogadas em virtude 
do advento de uma nova Constituição, não se podendo falar em 
inconstitucionalidade superveniente [07]. Apenas por meio de arguição de 
descumprimento de preceito fundamental (Lei nº 9.882/99, art. 1º, parágrafo 
único, I) no controle concentrado, ou no controle difuso e concreto de 
constitucionalidade, pode ser reconhecida eventual contrariedade entre norma 
anterior e a Constituição posterior. 
Ainda nesse ponto, merece destaque o fato de que normas 
infraconstitucionais também não podem, salvo nas hipóteses acima delineadas, 
ser objeto da fiscalização de constitucionalidade tendo como parâmetro norma 
alterada por emenda constitucional que lhe seja posterior, exatamente, porque, 
se houver incompatibilidade, não haverá inconstitucionalidade, mas sim 
revogação, conforme se assentou no julgamento da ADPF 144 [08]. 
Os atos normativos secundários, que retiram fundamento imediato da 
lei, como não podem inovar na ordem jurídica, também não se sujeitam à 
fiscalização abstrata de constitucionalidade. 
As leis municipais e as distritais de natureza municipal, consoante se 
extrai do texto expresso do art. 102, I, a, da CF, foram excluídas do âmbito da 
ADI (Súmula STF, verbete nº 642). Nesse particular, deve-se registrar que o 
STF entende que não pode a Constituição do Estado atribuir ao Tribunal de 
Justiça competência para processar e julgar representação de 
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo municipal em face da Constituição 
Federal, porquanto representaria usurpação de competência da Suprema Corte 
[09]. 
As propostas de emenda constitucional e os projetos de lei também 
não podem ser objeto da ADI, por se tratarem de atos ainda em fase de 
formação [10]. 
A Súmula, que é uma proposiçãojurídica que consolida a 
jurisprudência de determinado tribunal acerca de um tema controvertido, como 
não tem caráter normativo, não é passível de controle de constitucionalidade 
[11]. 
Ainda em tema de objeto da ADI, impende ressaltar que generalidade, 
abstração, primariedade e edição pelo poder público sempre foram, 
classicamente, os requisitos para o controle abstrato de constitucionalidade. 
Entrementes, o STF já havia aberto uma exceção: as leis de criação de 
municípios também se submetiam ao controle abstrato. Em precedente de 
2008 (ADI-MC 4048-DF, rel. MIn. Gilmar Mendes), a jurisprudência tradicional 
desta vez foi confrontada abertamente por diversos Ministros e acabou 
relativizada, senão superada. Por maioria, entendeu-se que o caráter abstrato 
da fiscalização realizada em ação direta diz respeito à existência de uma 
questão constitucional posta em tese – desvinculada, portanto, de qualquer 
caso concreto –, e não ao conteúdo do ato específico sobre o qual o controle 
irá recair. Foi sustentado, ainda, que a Constituição não exige, em seu art. 102, 
I, a, caráter normativo das leis, mas apenas dos demais atos, de tal sorte que, 
mesmo as leis em sentido meramente formal, estariam sujeitas ao controle de 
constitucionalidade via ação direta. 
Nesse ponto, ensina-nos renomada doutrina que "neste caso, houve 
por bem o constituinte não distinguir entre leis dotadas de generalidade e 
aquelas outras conformadas sem o atributo da generalidade e abstração" [12], 
ressaltando, por fim, que "muitos desses atos, por não envolverem situações 
subjetivas, dificilmente poderão ser submetidos a um controle de legitimidade 
no âmbito da jurisdição ordinária" [13]. 
LEGITIMAÇÃO 
Preliminarmente, deve-se consignar, de plano, que a práxis do 
Supremo Tribunal Federal refere-se a requerente e requerido, respectivamente, 
para designar o autor do pedido e o órgão do qual emanou o ato impugnado. 
A legitimação passiva, na ação direta de inconstitucionalidade, não 
apresenta maior dificuldade: recai sobre os órgãos ou autoridades 
responsáveis pela lei ou ato normativo objeto da ação, aos quais caberá 
prestar informações ao relator do processo (art. 6º da Lei nº 9.868/99). 
Segundo já decidiu o STF, entidades meramente privadas, porque destituídas 
de qualquer coeficiente de estatalidade, não podem figurar como litisconsortes 
passivos necessários em sede de ação direta de inconstitucionalidade [14]. 
Foi no tocante à legitimação ativa para a propositura da ação direta de 
inconstitucionalidade que se operou a maior transformação no exercício da 
jurisdição constitucional no Brasil. Desde a criação da ação genérica, em 1965, 
até a Constituição de 1988, a deflagração do controle abstrato e concentrado 
de constitucionalidade era privativa do Procurador-Geral da República, 
submetida ao seu juízo de discricionariedade. 
Com a Constituição de 1988, ampliou-se expressivamente o elenco de 
legitimados ativos para a propositura da ação direta, enunciados nos nove 
incisos do art. 103, suprimindo-se o monopólio do Procurador-Geral da 
República. 
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidou uma 
distinção entre duas categorias de legitimados: os universais, que são aqueles 
cujo papel institucional autoriza a defesa da Constituição em qualquer hipótese; 
e os especiais, que são os órgãos e entidades cuja atuação é restrita às 
questões que repercutem diretamente sobre sua esfera jurídica ou de seus 
filiados e em relação às quais possam atuar com representatividade adequada. 
O Governador de Estado, a Mesa de Assembléia Legislativa, 
confederação sindical e entidade de classe de âmbito nacional são 
considerados legitimados especiais, ou seja, devem comprovar a pertinência 
temática, consistente na relação de interesse entre o objeto da ação e a classe 
profissional, social, econômica ou política por eles representada. 
Os demais são considerados universais e, portanto, a pertinência 
temática é dispensada. 
No que se refere ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do 
Brasil, sua colocação no elenco do art. 103 da CF em inciso diverso das 
demais entidades de classe de âmbito nacional, deve ser interpretada, segundo 
entendeu o Pretório Excelso, de modo a permitir a propositura de ação direta 
de inconstitucionalidade contra qualquer ato normativo, independentemente do 
requisito da pertinência temática entre o seu conteúdo e o interesse dos 
advogados [15]. 
Os partidos políticos devem estar representados por seus diretórios 
nacionais e ainda ter representação no Congresso Nacional, em pelo menos 
uma das casas, aferida no momento da propositura. A perda da representação 
no curso da ação não gera a extinção do feito sem julgamento do mérito, tendo 
em vista a matéria de ordem pública objeto da ação [16]. 
As confederações sindicais devem ser constituídas na forma do art. 
535 da Consolidação das Leis do Trabalho, sendo formadas por pelo menos 3 
federações. O STF não reconhece a legitimidade às federações e aos 
sindicatos nacionais, fazendo uma interpretação estrita do dispositivo 
constitucional [17]. 
As entidades de classe, por seu turno, devem ter representação em 
pelo menos 9 estados da federação, adotando-se por analogia o art. 8º da Lei 
nº 9.096/95, para que se lhes reconheça o caráter nacional. 
Ademais, exige-se, ainda no que se refere a essas entidades, que os 
seus filiados estejam ligados entre si pelo exercício da mesma atividade 
econômica ou profissional. Com base nesse entendimento, o STF negou 
legitimidade à União Nacional dos Estudantes (UNE) [18]. 
Por outro lado, o STF tem entendido que a entidade postulante deve 
representar a integralidade da categoria econômica em questão, e não apenas 
uma parcela setorizada dessa [19]. 
De outro giro, a jurisprudência antes dominante no STF exigia que a 
entidade tivesse como membros os próprios integrantes da classe, sem 
intermediação de qualquer outro ente que os representasse. Assim, as 
associações de associações, também denominadas associações de segundo 
grau, não podiam propor ADI. Entretanto, essa orientação foi revista no 
julgamento da ADI 3153 [20], passando-se a reconhecer o caráter de entidade 
de classe de âmbito nacional àquela constituída por associações estaduais 
cujo objeto seja a defesa de uma mesma categoria social. 
Por fim, cumpre assinalar que na ADI 127 [21], ficou consignado que os 
partidos políticos, as confederações sindicais e as entidades de classe 
precisam de advogado para propor ADI, dispensada essa representação para 
os demais legitimados, que possuem capacidade processual plena e 
dispõem, ex vi da própria norma constitucional, de capacidade postulatória. 
PARTICIPAÇÃO DO AGU E DO PGR 
A defesa, propriamente dita, da norma impugnada, seja ela federal ou 
estadual, cabe ao Advogado-Geral da União (art. 103, §3º, da CF), que 
funciona como uma espécie de curador especial da presunção de 
constitucionalidade dos atos emanados do Poder Público. 
Contudo, desde o julgamento da ADI 1616 [22], o STF vem atenuando 
essa obrigatoriedade. Entendeu-se que, se já houvesse precedente do STF 
pela inconstitucionalidade da lei no controle difuso, o AGU não precisaria 
defender o ato normativo impugnado. 
Em 2009, no julgamento da ADI 3916 [23], o STF firmou entendimento 
no sentido de que o AGU tem a faculdade de escolher como se manifestar, 
conforme a sua convicção jurídica, não sendo obrigado a necessariamente 
defender o ato normativo impugnado. 
No que se refere ao Procurador-Geral da República, de acordo com o 
art. 103, §1º, da CF, atuará como fiscal da lei em todas as ações que tramitam 
perante o STF. Exara parecer, inclusive, nas ações por ele propostas, não se 
vinculando ao posicionamento inicialmente manifestado na ação. 
Ressalte-se que a mudança de entendimento não equivale à 
desistência da ação, pois nenhumadas ações do controle concentrado de 
constitucionalidade permite desistência do pedido (arts. 5º, 12-D e 16 da Lei nº 
9.868/99), haja vista versarem sobre matéria de ordem pública. 
Amicus curiae 
No controle concentrado de constitucionalidade, o ordenamento jurídico 
pátrio não prevê legitimidade popular. Para que as decisões estejam 
interpenetradas com a realidade do país, foi introduzida formalmente no 
ordenamento brasileiro a figura do amicus curiae, prevista agora no art. 7º, §2º, 
da Lei nº 9.868/99. 
A expressão significa literalmente "amigo da corte", designação dada a 
pessoas ou organizações distintas das partes do processo, admitidas a 
apresentar suas razões, por terem interesse jurídico, econômico ou político no 
desfecho do processo. 
Tal inovação é reconhecida como fator de legitimação das decisões do 
Supremo Tribunal Federal, em sua atuação como tribunal constitucional. 
Observe-se que o amicus curiae não é parte formal no processo, mas 
um colaborador. Mesmo porque a ADI não admite intervenção de terceiros (Lei 
nº 9.868/99, art. 7º). Não tem, destarte, interesse recursal. 
O pedido de participação é dirigido ao relator da ação. O despacho que 
defere a manifestação do amicus curiae é irrecorrível (art. 7º, §2º, da Lei nº 
9.868/99). Alguns autores e o próprio STF admitem agravo interno nos casos 
de indeferimento. 
Na ADI 4071 [24], o STF, por maioria, afirmou que a possibilidade de 
intervenção do amicus curiae está limitada à data da remessa dos autos à 
mesa para julgamento. Logicamente, sua participação não constitui direito 
subjetivo, ficando a critério do relator, mas uma vez admitida inclui também o 
direito de sustentação oral [25], oferecimento de memoriais e requerimento de 
perícias. 
MEDIDA CAUTELAR 
A Constituição prevê expressamente a possibilidade de pedido cautelar 
nas ações diretas de inconstitucionalidade (art. 102, I, p, da CF). Constitui 
providência de caráter excepcional, à vista da presunção de constitucionalidade 
dos atos normativos. 
Anote-se, desde logo, que, malgrado a Constituição Federal utilize a 
expressão "medida cautelar em ação direta de inconstitucionalidade", da 
mesma forma o fazendo a Lei 9.868/99, a natureza jurídica da liminar 
concedida em controle concentrado, segundo a melhor doutrina, é de 
antecipação da tutela. Isso porque, segundo a jurisprudência do STF, o 
provimento liminar em ADI é o de suspender, até julgamento da ação, a 
eficácia da norma atacada, renascendo a disposição legal anteriormente 
existente. 
Percebe-se, portanto, a relação de congruência entre o provimento 
provisório e a tutela final almejada, restando inconteste a sua natureza de 
antecipação de tutela 
Os requisitos para a sua concessão, segundo a jurisprudência do STF, 
são: a) plausibilidade jurídica da tese exposta (fumus boni iuris); b) 
possibilidade de prejuízo decorrente do retardamento da decisão postulada 
(periculum in mora); c) irreparabilidade ou insuportabilidade dos danos 
emergentes dos próprios atos impugnados; e d) necessidade de garantir a 
ulterior eficácia da decisão [26]. Alguns julgados referem-se à relevância do 
pedido (englobando o sinal de bom direito e o risco de manter-se com plena 
eficácia o ato normativo) [27] e à conveniênia da medida, que envolve a 
ponderação entre o proveito e o ônus da suspensão provisória [28]. 
O indeferimento do pedido cautelar não tem efeito vinculante, mas a 
concessão da medida deve importar na suspensão do julgamento de qualquer 
processo em andamento perante o Supremo Tribunal Federal, até a decisão 
final da ação direta [29]. Há precedentes no sentido de que o mesmo se deva 
passar relativamente a processos em tramitação perante outros órgãos 
judiciais, quando envolverem a aplicação da lei cuja vigência tenha sido 
suspensa [30]. 
Não cabe pedido de reconsideração da decisão que defere a liminar 
suspendendo o ato impugnado [31], mas, sendo ela indeferida, admite-se a 
reiteração do pedido, desde que ocorram fatos supervenientes que possam 
justificar o reexame [32]. 
A Lei nº 9.868/99, em seu art. 10, estabelece que a medida cautelar na 
ação direta de inconstitucionalidade será concedida por decisão da maioria 
absoluta dos membros do Tribunal, reunidos em sessão do Pleno com a 
presença de pelo menos oito Ministros. 
A cautelar em ADI ostenta eficácia erga omnes e efeitos vinculantes 
(efeitos subjetivos). Quanto aos efeitos temporais, são ex nunc, salvo se o 
Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa (art. 11, §1º, da Lei 
nº 9.868/99). 
A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior 
acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário (art. 11, 
§2º, da Lei nº 9.868/99), o que caracteriza o denominado efeito repristinatório. 
DECISÃO DEFINITIVA 
A Lei nº 9.868/99 trata da decisão em sede de ADI conjuntamente com 
a decisão proferida na ação declaratória de constitucionalidade, como uma 
unidade conceitual, tendo em vista sobretudo o seu caráter dúplice ou 
ambivalente [33]. 
A lei uma vez mais exige a manifestação da maioria absoluta do 
Tribunal, presentes pelo menos oito Ministros (arts. 22 e 23). 
A decisão que julga procedente ou improcedente o pedido é 
irrecorrível, ressalvada a interposição de embargos de declaração (art. 26 da 
Lei nº 9.868/99), que somente poderão ser oferecidos pelo requerente ou pelo 
requerido, e não por terceiros [34], nem mesmo pelo Advogado-Geral da União 
[35]. Também não pode, nos termos desse mesmo art. 26, ser objeto de ação 
rescisória. 
Em regra, os efeitos da decisão são retroativos (ex tunc), gerais (erga 
omnes), repristinatórios e vinculantes [36]. 
A retroatividade dos efeitos da decisão que reconhece a 
inconstitucionalidade da norma impugnada encontra suporte na teoria da 
nulidade, acolhida por Marshall, em Marbury v. Madison. Afinal, se uma lei 
incompatível com a lei suprema pudesse reger dada situação e produzir efeitos 
regulares e válidos, isso representaria a negativa de vigência da Constituição 
naquele período, em relação àquela matéria. Também por isso, a decisão que 
reconhece a inconstitucionalidade tem caráter declaratório. 
Tal tese, acolhida no direito brasileiro desde o início da república e 
prevalente até os dias atuais, sofreu alguns temperamentos ao longo dos anos. 
A própria Lei nº 9.868/99, em seu art. 27, admite que o STF proceda à 
modulação temporal dos efeitos da decisão, mediante o quorum qualificado de 
dois terços de seus membros. 
O dispositivo fala em "razões de segurança jurídica ou de excepcional 
interesse social", transparecendo que representa um mecanismo de 
ponderação de valores. O que o Supremo Tribunal Federal poderá fazer ao 
dosar os efeitos retroativos da decisão é uma ponderação entre a norma 
violada e as normas constitucionais que protegem os efeitos produzidos pela lei 
inconstitucional [37]. 
Demais disso, a eficácia contra todos explica-se, doutrinariamente, por 
força do fenômeno da substituição processual. As pessoas e órgãos constantes 
do art. 103 da Constituição atuam com legitimação extraordinária, agindo em 
nome próprio, mas na defesa do interesse da coletividade. Por essa razão, é 
que os efeitos da decisão têm caráter geral, e não apenas entre as partes do 
processo. 
Efeitos vinculantes nada mais são do que a ampliação dos limites da 
coisa julgada. Subjetivamente, ultrapassa as partes para atingir os demais 
órgãos do Poder Judiciário e a Administração Pública federal, estadual e 
municipal (art. 28 da Lei nº 9.868/99 e art. 102, §2º, da CF). O Poder 
Legislativo, no exercício da função legislativa, ficou excluído do seu alcance, 
em razão da liberdade de conformação, que se reflete na possibilidade de 
escolher o conteúdo e o momento de edição das suas normas. Também assim 
o Governo, que não se vincula no exercício da sua função legiferanteatípica, 
mas apenas na função administrativa. 
Nesse ponto, merece destaque o fato de que, ao contrário do que 
ocorre com a res iudicata nos processos subjetivos, a doutrina assevera que a 
decisão de improcedência do pedido em sede de ADI não se reveste da 
autoridade da coisa julgada material, por ser inadequado impedir o STF de 
reapreciar a constitucionalidade ou não de uma lei anteriormente considerada 
válida, à vista de novos argumentos, de novos fatos, de mudanças formais e 
informais no sentido da Constituição ou de transformações na realidade que 
modifiquem o impacto ou a percepção da lei [38]. 
Com a clareza e precisão que lhe são peculiares, Luís Roberto Barroso 
sintetiza tais nuances: 
A decisão que declara a inconstitucionalidade de uma lei em ação direta 
reveste-se de autoridade de coisa julgada, com sua eficácia vinculativa para 
todos os órgãos judiciais, inclusive para o próprio STF. Mas a decisão que julga 
improcedente o pedido – e, consequentemente, declara a constitucionalidade 
da lei ou ato normativo- produz apenas efeito vinculante, subordinando todos 
os demais tribunais, mas não o próprio Supremo Tribunal Federal, que poderá 
revê-la se assim lhe aprouver. 
Objetivamente, o STF tem sustentado que a coisa julgada extrapola o 
dispositivo e abarca igualmente a fundamentação, construção que vem 
denominando transcendência dos motivos determinantes. Em outras palavras, 
juízes e tribunais devem observância não apenas à conclusão do acórdão, 
contida em sua parte dispositiva, mas igualmente à própria ratio decidendi [39]. 
No mesmo sentido, leciona prestigiada doutrina que "a limitação do 
efeito vinculante à parte dispositiva da decisão tornaria de todo despiciendo 
esse instituto, uma vez que ele pouco acrescentaria aos institutos da coisa 
julgada e da força de lei [40]. 
Por fim, no que pertine aos efeitos repristinatórios, a Lei nº 9.868/99 
apenas ratificou, em seu art. 11, §2º, entendimento doutrinário e jurisprudencial 
já consagrados, embora admitindo que o Tribunal possa excepcioná-lo, 
manifestando-se expressamente em sentido contrário.

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