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HISTÓRIA HISTÓRIA DA AMÉRICA Clara Peres Thiago Thomaz Garcia http://unar.info/ead2 HISTÓRIA DA AMÉRICA Profª Clara Peres Profº Thiago Thomaz Garcia 2 SUMÁRIO UNIDADE 01. AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA: POVOAMENTO ...................................................... 3 UNIDADE 02. AS CIVILIZAÇÕES DA MESOAMÉRICA ....................................................................... 7 UNIDADE 03. AS SOCIEDADES ANDINAS PRÉ-COLOMBIANAS ............................................... 13 UNIDADE 04. CAPITALISMO COMERCIAL E EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPÉIA ................ 19 UNIDADE 05. A CONQUISTA DA AMÉRICA PELA ESPANHA ..................................................... 26 UNIDADE 06. MODELO EUROCÊNTRICO DE CULTURA NA AMÉRICA ................................... 32 UNIDADE 07. COLONIZAÇÃO ESPANHOLA: ADMINISTRAÇÃO DO TERRITÓRIO ............. 40 UNIDADE 08. COLONIZAÇÃO ESPANHOLA: ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................... 46 UNIDADE 09. O SISTEMA COLONIAL ESPANHOL .......................................................................... 52 UNIDADE 10. SOCIEDADE COLONIAL DA AMÉRICA ESPANHOLA .......................................... 58 3 UNIDADE 01. AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA: POVOAMENTO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Na primeira unidade vamos estudar os povos americanos que ocuparam o continente, antes da chegada dos europeus. Iniciaremos nossos estudos com as possíveis teorias de povoamento do território americano, depois aprofundaremos o trabalho sobre os povos da Mesoamérica. O objetivo central desta unidade é promover o entendimento sobre como estava organizada a região da Mesoamérica no século XVI, quando os povos astecas tiveram o primeiro contato com os colonizadores espanhóis. ESTUDANDO E REFLETINDO O Povoamento da América A origem do homem americano é tema de debates arqueológicos recentes. A hipótese tradicional afirma que os primeiros grupos humanos teriam migrado para a América através de uma ponte de gelo no estreito de Bering, formada durante o período de glaciação. Essa teoria atribui a origem do homem americano a um ramo asiático-mongólico, que teria vindo por esse caminho e se espalhado por toda a América. Outra hipótese (teoria malaio-polinésia) é que, através da navegação por correntes marítimas no Oceano Pacífico, grupos humanos foram viajando pelas ilhas até chegarem à América. Nessa mesma linha, outra teoria propõe a viagem a partir da Austrália. Veja abaixo o mapa explicativo: 4 A - Migração Asiática pelo Estreito de Bering; B- Origem malaio-polinésia; C- Origem australiana. Fonte: <http://historiablog.wordpress.com/2008/10/02/pre-historia/>. Acesso em 27/10/2014. As pesquisas recentes indicam que houve diversas migrações ao longo dos milênios, provenientes de diferentes origens e povos, resultando a heterogeneidade racial na América. O Paleolítico americano se deu de 20 ou 30 mil a. C. até 7 mil a. C. quando os primeiros habitantes da América eram nômades e se deslocavam em busca de terras mais ricas em alimentos. A vida das comunidades do paleolítico era simples, dividiam o alimento coletado na natureza. Não havia hierarquização social ou propriedade privada da terra e os povos viviam em tribos. Por volta de 7 mil a.C. inicia-se o período do neolítico americano na região da Mesoamérica (México e América central) e mais tarde no Peru e Bolívia. Nessas regiões os povos passam a desenvolver a agricultura, cultivando milho, feijão, batata, mandioca etc. http://historiablog.wordpress.com/2008/10/02/pre-historia/ 5 Quando os grupos humanos começaram a desenvolver a agricultura na América, as comunidades eram pequenas e as aldeias e tribos foram unidas através da construção de centros cerimoniais, locais onde praticavam coletivamente sua religiosidade. A produção de alimento trouxe transformações na organização social. A realização do trabalho dividiu os grupos de acordo com sua função: camponeses, guerreiros e sacerdotes. Com o passar do tempo essas sociedades foram se tornando mais complexas, com uma massa de trabalhadores sendo dirigida por uma elite que controla o governo, as funções religiosas e militares. A religiosidade dos povos pré-colombianos é um tema de estudo essencial para entendermos as dinâmicas políticas e sociais desses povos. Leia o texto abaixo que trata do assunto: “O Sol e o Sacrifício Huitzilopochtli (divindade asteca) é ao mesmo tempo o deus da guerra e uma manifestação do Sol, senhor do mundo. (...) O Sol tem fome e sede. Só a carne dos inimigos o nutre, só o sangue dos inimigos mitiga sua sede; para saciá-lo é preciso oferecer-lhe regularmente vítimas sacrificiais escolhidas entre os prisioneiros. Assim se explica por que a história dos Astecas é uma longa enumeração de guerras: era-lhes necessário renovar incessantemente seu estoque de cativos.” LEHMANN, Henri. As Civilizações pré-colombianas. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1965. Entre os Astecas a religiosidade é fator determinante na vida prática da população. É ela que estimula a guerra, na busca por vítimas de sacrifício aos deuses. Porém essa motivação religiosa teve como resultado a formação de 6 uma política imperialista sobre os povos vencidos e a estruturação da economia Asteca. BUSCANDO CONHECIMENTO Para saber mais, conheça as pesquisas recentes sobre a pré-história americana, acesse: Site sobre a arqueologia brasileira. Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/>. Acesso em 27 de outubro de 2014. Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas. Disponível em: <http://www.anphlac.org/html/gts/ehmf_temas.php?b=1>. Acesso em 27 de outubro de 2014. Para aprofundar seus conhecimentos, veja o vídeo da Primary History BBC, disponível no link abaixo, que retrata os principais aspectos da sociedade Asteca, partindo de descobertas arqueológicas. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=AKPk7AG5Ff8&feature=player_embedded# at=695>. Acesso em 27 de outubro de 2014. http://www.itaucultural.org.br/arqueologia/ http://www.anphlac.org/html/gts/ehmf_temas.php?b=1 http://www.youtube.com/watch?v=AKPk7AG5Ff8&feature=player_embedded#at=695 http://www.youtube.com/watch?v=AKPk7AG5Ff8&feature=player_embedded#at=695 7 UNIDADE 02. AS CIVILIZAÇÕES DA MESOAMÉRICA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Compreender aspectos da cultura pré-colombiana, sua estrutura social e política. ESTUDANDO E REFLETINDO A Mesoamérica é uma região do continente americano que inclui o sul do México e quase toda a América central. Nessa região desenvolveram-se importantes civilizações pré-colombianas, com organização complexa de existência, entre outros: Os Olmecas, Teotihuacanos, Maias e Astecas. Essas civilizações ocuparam a região em diferentes períodos, contribuindo com a formação da cultura mesoamericana, que os espanhóis tiveram contato quando chegaram ao continente. Fonte: <http://www.bowdoin.edu/~eyepes/latam/indfam.htm> Acesso em 27/10/2014. A civilização Olmeca foi a primeira entre as três, seu desenvolvimento se deu no período Pré-clássico. Não construíram grandes cidades, as aldeias Olmecas eram unidas por centros cerimoniais que foram construídos a partir de 1200 a.C.. A região de San Lorenzo, La Venta e Três Zapotes foi onde essa cultura se desenvolveu. http://www.bowdoin.edu/~eyepes/latam/indfam.htm 8 Fonte: <http://www.slideshare.net/bloghist/sociedades-urbanas-pr-colombianas-meso-amrica> Acesso em 28/10/2014. Os olmecas inventaram a escrita hieroglífica, um calendário muito preciso e esculturas gigantes de cabeças feitas de pedras maciças, presentes nos centros cerimoniais. A cultura Olmeca foi difundidapor toda a Mesoamérica. Mas, a partir do ano 100 d.C., uma sociedade mais complexa se desenvolve na região, formando uma grande cidade: Teotihuacán, a “cidade dos deuses”. No seu apogeu populacional, durante o período Clássico, a cidade de Teotihuacán teve mais de 80 mil habitantes, uma grande cidade até para os padrões europeus. Nessa cidade foi formulada a base da religiosidade dos povos mesoamericanos, o deus Quetzalcoátl, a “serpente emplumada”, é uma das principais divindades que está presente em toda a região. Monumentos religiosos como o templo do Sol e da Lua fazem parte do sítio arqueológico mais famoso do México atualmente. http://www.slideshare.net/bloghist/sociedades-urbanas-pr-colombianas-meso-amrica 9 Fonte: <http://worldgalli.blogspot.com/2010/09/teotihuacan-mexico.html>. Acesso em 28/10/2014. Durante o período de domínio de Teotihuacán, desenvolvia-se na península de Yucatán outra civilização descendente dos Olmecas: os Maias. Em 750 d.C. Teotihuacán entra em colapso, passando a sofrer a invasão de povos do norte do México, chamados de chichimecas (bárbaros). A queda de Teotihuacán contribuiu com o apogeu dos Maias, que passaram a controlar o comércio na região e fazer conquistas militares. Diferente de Teotihuacán a sociedade Maia se organizou em cidades- estados independentes. Cada uma delas era dominada por um rei com características divinas chamado Halac-unic. A produção agrícola era simples, dedicados principalmente ao cultivo do milho. Porém, os conhecimentos sobre matemática e astronomia são impressionantes. Os Mais desenvolveram um sistema de numeração que utiliza o zero, facilitando as operações matemáticas e desenvolveram um calendário extremamente preciso. A linguagem escrita encontrada é em forma de hieróglifos que foram apenas parcialmente decifrados. No século X os maias foram dominados pelos Toltecas, um povo de costumes guerreiros, de origem Teotihuacana. A cultura Maia foi influenciada pela tolteca (mexicanizada). No século XV, a civilização Maia já estava http://worldgalli.blogspot.com/2010/09/teotihuacan-mexico.html 10 desintegrada e quando os europeus chegaram, no século XVI, essa cultura praticamente já havia desaparecido. A civilização Asteca tem sua origem numa região ao noroeste do México chamada Aztlán. Os Astecas (nome derivado de Aztlán), também eram chamados de mexicas, eram vistos como bárbaros “chichimecas” pelos habitantes do sul. Após a queda dos toltecas, dominam a região e fundam em 1325 a cidade de Tenochtitlán, capital asteca (atual Cidade do México). No início, a cidade asteca foi dominada por Atzcapotzalco, uma cidade maior e mais poderosa e só se libertou em 1428. Os astecas formaram uma aliança com mais duas cidades, Texcoco e Tlacopán, venceram os inimigos e passaram a dominar os povos vizinhos. Formaram um império com mais de 30 províncias. Fonte: <http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/MitosAmerindios.pdf>. Acesso em 28/10/2014. Os astecas eram grandes guerreiros. Aos poucos a elite guerreira subjugou os diversos povos transformando-os na massa de trabalhadores rurais, que deveria pagar tributos aos vencedores. A relação entre os astecas e os povos submetidos era conflituosa. Diversas rebeliões de busca por autonomia ou de recusa a pagar impostos eram combatidas por expedições militares astecas. http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/MitosAmerindios.pdf 11 Esse militarismo combinava com a religiosidade asteca, já que providenciava vitimas para os sacrifícios aos deuses. Eram politeístas e buscavam satisfazer as divindades com sacrifícios humanos. A possibilidade da destruição do mundo era real para eles, por isso o sangue humano era essencial para a manutenção da relação dos astecas com os deuses e a preservação do mundo. A estrutura social asteca também se organizou baseada no militarismo. A nobreza asteca, os tecuhtli, era composta pelos homens que comandavam as guerras, dominavam os cargos públicos e pelos sacerdotes. Um grupo separado, mas também muito poderoso era o dos Pochtecatl, que controlavam o comércio exterior. O homem comum asteca era o maceualli, os trabalhadores. Viviam em um Calpulli, (bairros) e estavam sujeitos a trabalhar para a coletividade. Um maceualli, caso se destacasse na guerra, capturando prisioneiros e demonstrando sua coragem, poderia ascender socialmente para a elite guerreira, existia ainda a possibilidade de tornar-se sacerdote. Abaixo dos maceualli estavam os tlatlacotin, prisioneiros de guerra ou maceualli endividados que pertenciam a um senhor, sendo que essa condição poderia ser modificada por motivos diversos. Acima de todos os astecas estava o Imperador, que tinha o título tlatoani, que significa “aquele que fala”. Tinha a função de organizar a cobrança de impostos, os trabalhos gratuitos e distribuir alimentos, vestimentas e socorrer a população quando ela precisasse. O Tlatoani era parente do imperador anterior e era eleito por um conselho de cem homens da elite política e guerreira. Quando os espanhóis chegaram, no começo do século XVI, o império asteca tinha feito sua expansão. Era composto por um grande número de povos subjugados, comandava o comércio com as diversas regiões da mesoamérica, possuía enorme força militar e uma capital (Tenochtitlán) que era maior e 12 melhor organizada que as capitais europeias. Foi contra esse grande império que espanhóis entraram em guerra para fazer a conquista da região. BUSCANDO CONHECIMENTO Documentário sobre o império asteca. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QpPj91jYvJk>. Acesso em 28 de outubro de 2014. 13 UNIDADE 03. AS SOCIEDADES ANDINAS PRÉ- COLOMBIANAS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, o conteúdo de estudo contempla os povos pré- colombianos que ocuparam a região andina. Entre as muitas sociedades que habitaram a região focaremos nossos estudos na civilização Inca. Nosso objetivo é que, ao final dessa unidade, vocês possam entender como estava organizada a região dos Andes no século XVI, quando espanhóis já haviam chegado à América e, na região central do continente, ouviam as histórias do grande império Inca. ESTUDANDO E REFLETINDO Foi a civilização Inca que enfrentou a invasão espanhola na região andina. Porém, assim como a civilização asteca, os Incas foram um império formado a partir da influência de povos anteriores que ali habitaram, entre eles os Chavín, Tiahuanaco, Huari e Chimu. Observe o mapa abaixo indicando a região atingida pelo Império Inca em sua máxima extensão, as principais cidades e a rede de estradas (“calzadas incas”, na legenda em espanhol) que ligavam as regiões do império. 14 Fonte: <http://www.cprcalahorra.org/alfaro/Material/Historia%20de%204%C2%BA/Cultura%20Inca.jpg > Acesso em 28/10/2014. A origem dos Incas é contada pela mitologia desse povo, que diz que os filhos do deus sol foram mandados para terra, dando início ao império na cidade de Cuzco (veja no mapa). Historicamente não se sabe a origem certa dos Incas, o que se sabe é que a cidade de Cuzco era ocupada por outras tribos, que também falavam a língua Quíchua, as quais os Incas se uniram. Passados cem anos os Incas acabaram dominando os demais. O quarto imperador Inca, Pachacutí, começou a fase imperial em 1438, que só terminou com a chegada dos espanhóis em 1532. Em sua máxima extensão o império Inca dominou uma região que ia do norte do Peru ao sul da Argentina, ocupando do alto da cordilheira dos Andes ao litoral do oceano Pacífico. A denominação Inca para Império era Tawantisuyu, que significa “as quatro terras”, que correspondia à forma como o império era divido. Todo esse vasto território era interligado por um sistema de estradas que cortavam a região litorânea e o altiplano andino (veja nomapa). http://www.cprcalahorra.org/alfaro/Material/Historia%20de%204%C2%BA/Cultura%20Inca.jpg http://www.cprcalahorra.org/alfaro/Material/Historia%20de%204%C2%BA/Cultura%20Inca.jpg 15 A economia Inca era baseada na agricultura que enfrentava o desafio de se desenvolver no território montanhoso dos andes. Para vencer esse desafio, os incas criaram um sistema de irrigação com canais que desciam ao longo da montanha, distribuindo a água da chuva que caia no topo. Outra técnica de cultivo muito importante dos incas, que é utilizada até hoje, é o cultivo em terraços chamados Andenes, garantindo a farta produção de alimento. Canais de irrigação. Fonte: <http://roottravel.files.wordpress.com/2010/02/img_0017.jpg>. Acesso em 28/10/1984. Andene. Fonte: <http://cadernosdeviagem.wordpress.com/2009/07/17/o-vale-sagrado-sul/>. Acesso em 28/10/2014. A base da organização social dos Incas é o “Ayllu”, que eram comunidades constituídas por famílias. Cada Ayllu tinha um deus protetor (“waka”) e era comandado pelo líder da família que fundou o ayllu, chamado “kuraka”. Os Ayllus eram ligados com outros, sendo que um deles se destacava http://roottravel.files.wordpress.com/2010/02/img_0017.jpg http://cadernosdeviagem.wordpress.com/2009/07/17/o-vale-sagrado-sul/ 16 e comandava os demais e o kuraka que governava o Ayllu dominante tornava- se o kuraka supremo, um homem poderoso que dominava a região. A função de kuraka era organizar a região. Ele distribuía as terras entre as famílias e organizava o trabalho coletivo. Entre o kuraka e a população do Ayllu era estabelecida uma relação de reciprocidade chamada Mita. Segundo o costume, cada ayllu deveria fornecer um número de trabalhadores de acordo com sua população, para trabalhar nas terras do kuraka por um tempo limitado. Acabado o tempo da Mita, os trabalhadores voltavam para o seu ayllu e outros eram enviados no seu lugar. Em troca disso, o kuraka distribuía parte dos bens produzidos pelo trabalho coletivo. Mas como o kuraka só distribuía parte dos bens ficando com o restante, tornava-se um homem rico, constituindo a elite Inca. O sistema de funcionamento do Ayllu era reproduzido em todo o império. O imperador cobrava o trabalho da mita nas suas terras em todas as regiões, assim como o kuraka fazia nos ayllu. Em troca do trabalho da população ele oferecia o alimento cultivado nas ouras regiões e o que faltava aos habitantes de cada local. Além disso, o imperador tem a função de proteger e organizar o estado para garantir a sobrevivência da população. Assim, o trabalho da Mita era de onde vinha a força do império, que utilizava essa força na construção de obras públicas, na agricultura e na guerra. Para controlar essa organização do trabalho, os incas desenvolveram um sistema de registro matemático chamado Quipu. Tratava-se de um sistema de cordas colorias com nós, que representavam um sistema numérico decimal. Servia para que os governantes mantivessem o controle sobre a quantidade de moradores das regiões e sobre a produção agrária. Os quipus eram transportados por todo o império por mensageiros, levando as informações para serem interpretadas para os governantes, assim, tinha-se ideia das condições gerais das diversas partes do território inca. 17 Fonte: http://clanperu08.blogspot.com/2010/11/el-regreso-del-quipu-en-hdla-herencia.html A sociedade Inca contava também com os Mitimaq que eram trabalhadores deslocados da sua região, para cumprir a Mita em locais em que faltava mão de obra. Havia também as Acllas, mulheres oferecidas ao imperador, que tinham a função de tornarem-se segundas esposas, ou eram oferecidas como presentes para quem o imperador desejasse, ou ainda exerciam a função de tecelãs em monastérios. Por último existiam os Yana, que eram servidores perpétuos, geralmente prisioneiros de guerra, a serviço do imperador. Porém essa organização social e econômica não era sempre aceita. Existiam várias revoltas de ayllus, comandados por seu kurakas contra o imperador. Ao imperador cabia conter as revoltas e deslocar para outras áreas os povos vencidos. Outro motivo de desequilíbrio do império era a morte do imperador, devido às lutas pela sucessão. O poder do imperador não era hereditário, pois ele rompia os laços com sua família quando assumia, para poder governar acima de todos. Alguns imperadores tentavam indicar seu sucessor para evitar a instabilidade, porém essa vontade era sempre contestada, gerando uma disputa http://clanperu08.blogspot.com/2010/11/el-regreso-del-quipu-en-hdla-herencia.html 18 violenta pela sucessão. Além disso, as regiões rebeldes aproveitavam as disputas para lutar por sua autonomia, aumentando ainda mais os problemas do império. Na época da chegada dos espanhóis à América, o imperador Huyna Cápac morre, gerando uma crise de sucessão. A disputa se deu entre os dois filhos do imperador, Atahualpa e Huascar, deixando o império fragilizado. Foi nesse momento crítico que os conquistadores espanhóis chegaram à região andina. BUSCANDO CONHECIMENTO Para ilustrar e enriquecer nossos estudos sobre os Incas assista aos seguintes vídeos: Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=UJbuTAfOFZ4&feature=related>. Acesso em 28 de outubro de 2014. Parte 1. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=qx7BU4m1Ur4&feature=related>. Acesso em 28 de outubro de 2014. Parte 2. http://www.youtube.com/watch?v=UJbuTAfOFZ4&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=qx7BU4m1Ur4&feature=related 19 UNIDADE 04. CAPITALISMO COMERCIAL E EXPANSÃO MARÍTIMA EUROPÉIA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE O final do século XV e início do XVI foi o ápice dos impérios Asteca e Inca. No mesmo período, a Europa passou por uma série de transformações que possibilitaram a realização das grandes navegações. O objetivo dessa unidade é entender o contexto europeu que levou esses países se arriscarem por mares nunca antes navegados, possibilitando assim o contato com as terras americanas. ESTUDANDO E REFLETINDO O Capitalismo comercial MAR PORTUGUÊS - Fernando Pessoa Ó mar salgado, quanto do teu sal. São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador 20 Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. O poema acima, escrito pelo poeta português Fernando Pessoa, fala das dores que o povo português sofreu ao realizar as navegações pelo oceano Atlântico e o descobrimento de novas terras. Quando questionado se todo esse esforço valeu a pena, o poeta responde que para alcançar grandes objetivos - “passar além do Bojador” – é necessário ser mais forte que a dor. “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. O poema de Fernando Pessoa, escrito em 1934, celebra o esforço das grandes navegações nos séculos XV e XVI. Essa realização portuguesa está inserida no contexto europeu caracterizado pela expansão do capitalismo comercial, pelo fortalecimento das monarquias nacionais e a defesa do catolicismo. Para entender os motivos que fizeram os portugueses e os outros europeus a se aventurarem pelo mar aberto, temos que compreender esse contexto. Na baixa Idade Média, o povo europeu voltou a praticar a atividade comercial. Diversas cidades começaram a se desenvolver, baseadas no comércio e as pessoas que se envolveram com essa atividade, formaram um novo e fortalecido grupo social: a burguesia. Porém, século XIV na Europa foi um período de crise, caracterizado por ondas de fome, peste e guerras, que fizeram a economia capitalista entrar em declínio, principalmente pela falta de ouro no continenteeuropeu. Com o crescimento das atividades comerciais, variados produtos passaram a fazer parte do cotidiano dos europeus. Especiarias (pimenta, canela, açúcar, cravo), perfumes, tecidos, tapetes, eram produtos com grande valor na Europa, pois eram trazidos de regiões distantes da Ásia, por comerciantes 21 italianos. Para ter acesso a esses produtos, os italianos navegavam pelo mar mediterrâneo comprando dos árabes, que iam buscar os produtos nas Índias por rotas terrestres. Especiarias Fonte: <http://receitas.mundopt.com/view_page.php?id=5&page=Ervas_Arom%E1ticas_%26_Especiaria s%22> . Acesso em 28/10/2014. Fonte:http://professorfabianobastos.blogspot.com/2011/03/rotas-de-comercio-no-seculo- xv.html. Acesso em 29/10/2014 http://professorfabianobastos.blogspot.com/2011/03/rotas-de-comercio-no-seculo-xv.html http://professorfabianobastos.blogspot.com/2011/03/rotas-de-comercio-no-seculo-xv.html 22 Entre todas, a mais importante das especiarias era a pimenta, devido ao sabor acentuado e ao odor característico, importante para disfarçar o gosto dos alimentos, particularmente da carne. Chegando o outono na Europa, era praxe sacrificar grande parte dos rebanhos de gado, pois sabia-se que até a próxima primavera não haveria alimento disponível para os animais. Mesma quando salgadas ou defumadas, as carnes de peixe e bovina apodreciam com facilidade, o que não impedia que fossem exportadas para o interior do continente e consumidas, especialmente durante o rigoroso inverno da maioria dos países. Assim, aqueles que não moravam na costa e, por isso, não dispunham de peixe fresco durante todo o ano, eram obrigados a temperar a carne com condimentos fortes, picantes e odoríferos, disfarçando o mau cheiro e o sabor desagradável. Afinal, a carência de víveres não permitia recusar nenhum alimento disponível. (RAMOS, Fábio Pestana. No tempo das especiarias. Adaptado. O império da pimenta e do açúcar. São Paulo: Contexto, 2004. P. 7.) Como os comerciantes italianos dominavam todas as rotas de comércio no mar mediterrâneo, os comerciantes do restante da Europa eram obrigados a comprar dos italianos. Para ter lucro os comerciantes europeus aumentavam o preço da mercadoria em seus países, dificultando o comércio local, que já estava em crise. Diante do controle do comércio com o oriente, dos altos preços dos produtos e da falta de ouro, a burguesia europeia buscou uma nova rota que levasse á fonte das especiarias, ouro e outros produtos orientais. Os burgueses de países como Portugal e Espanha buscaram uma rota alternativa para o oriente que, ao invés de seguir pelo mar Mediterrâneo, seguiria pelo oceano Atlântico, um caminho completamente novo. Os portugueses foram os primeiros, saindo de Lisboa pelo Oceano Atlântico, navegaram pelo litoral 23 africano a procura de uma passagem para o oriente. Essa passagem foi alcançada em 1487, quando Bartolomeu Dias ultrapassou o Cabo da Boa Esperança e em 1497 Vasco da Gama chega em Calicute, nas Índias. Fonte:<http://ftp.infoeuropa.eurocid.pt/web/multimedia/cds/portugalue2000/pt/portugal_main 03xiv.htm>. Acesso em 28/10/2014. Os navegadores espanhóis se lançaram à expansão ultramarina depois dos portugueses, pois estavam concentrados em expulsar os muçulmanos do território espanhol. Quando os espanhóis começaram suas viagens os portugueses já dominavam a rota para o oriente através da África. Em 1492 um navegador genovês chamado Cristóvão Colombo apresentou um projeto para chegar à Índia bastante audacioso. Ao contrário das outras rotas que sempre iam para o oriente, Colombo propõe navegar para o ocidente, pois baseava-se na teoria de que a Terra era redonda, sendo possível dar a volta na Terra para chegar ao oriente. O reis católicos de Castela e Aragão (que anos depois se uniriam formando a Espanha) financiam a viagem de Colombo, que 2 meses depois do início da viagem chegou à América, na região das Antilhas. http://ftp.infoeuropa.eurocid.pt/web/multimedia/cds/portugalue2000/pt/portugal_main03xiv.htm http://ftp.infoeuropa.eurocid.pt/web/multimedia/cds/portugalue2000/pt/portugal_main03xiv.htm 24 Fonte: <http://jcmontteiro.webnode.com.br/album/galeria%20de%20fotos%3A%20expans%C3%A3o% 20maritima%20eueurope/viagem-de-colombo-jpg/>. Acesso em 28/10/2014. Por mais inovador que fosse o projeto de Colombo, era baseado uma série de estudos e mapas já conhecidos no mundo ibérico. Os árabes haviam calculado a circunferência da terra em 33 000 km, número muito próximo dos 40 076 km verdadeiros. Além da motivação econômica, as grandes navegações estão envolvidas no processo de centralização monárquica. Com o crescimento do comércio, as cidades se aproximaram dos reis, pois viam nele o poder necessário para organizar o Estado a favor de seus negócios. Os reis, por sua vez apoiavam a burguesia visando à arrecadação de imposto, organizavam recursos, homens e conhecimentos necessários ao empreendimento. Nesse sentido, o rei de Portugal D. Henrique tornou-se uma figura envolvida em mitos, sendo atribuída a ele a criação da Escola de Sagres, núcleo de estudos sobre as tecnologias náuticas. A expansão do comércio era, dessa forma, interessante para os reis e a burguesia, os burgueses poderiam lucrar mais e os reis teriam seus territórios aumentados, assim como sua força política. A Igreja Católica também participou das navegações, apoiando as viagens, pois essa seria uma forma de expandir o catolicismo. Influenciava a mentalidade dos navegadores, abençoando as viagens em nome da conversão de novos cristãos e do combate às falsas religiões. Assim, quando os europeus 25 chegaram às novas terras, além de buscarem os produtos para o comércio, enxergavam-se como defensores do rei e da fé cristã. Dessa forma, quando os europeus chegaram à América estavam inseridos em um projeto expansionista baseado na guerra, no comércio, na política e na religião. Essa forma de expansão justificou o modelo de conquista que empreenderam nessa região, buscando dominar os povos que aqui viviam tanto do ponto de vista militar, como também econômico, político e cultural. BUSCANDO CONHECIMENTO Coleção grandes exploradores: Cristóvão Colombo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=mRMl8hmHKIw>. Acesso em 28/10/2014. 26 UNIDADE 05. A CONQUISTA DA AMÉRICA PELA ESPANHA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Quando os conquistadores espanhóis chegaram à América, entraram em contato com diversas organizações sociais, entre elas os grandes e belicosos impérios Asteca e Inca. Para dominar o novo mundo os europeus realizaram um processo de conquista, cujo entendimento será o objetivo dessa unidade. ESTUDANDO E REFLETINDO As formas de conquista “A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem”. (Pablo Neruda) Já para as expedições de Cristóvão Colombo à América, a coroa de Castela estabeleceu um acordo com o navegador denominado “capitulações”. Depois de Colombo, outros exploradores receberam o direito de explorar as terras americanas e em 1503 foi criada a “casa de contratação”, em Sevilha, que passou a controlar os contratos de exploração da América. As “capitulações” garantiam a um explorador o direito aos lucros obtidos com a conquista do território. Porém, os custos de toda a expedição eram obrigação da pessoa que detinha a “capitulação”. O lucro da coroa com essas expedições era conseguido através da obrigação do conquistador pagar um quinto do lucro obtido. Para garantir seus interesses, a coroa também obrigava o conquistador a levar consigo na viagem um representante do rei. E quando um território era conquistado, a coroa enviava funcionários que estabeleciam o controle sobre a região. 27 Grande parte dos conquistadores espanhóis eram membros da nobreza, que nãoenxergava possibilidade de ascensão nos limitados territórios espanhóis. Alguns conquistadores não eram de origem nobre, como era o caso de Francisco Pizarro antes da conquista do Peru, mas isso era mais raro. A coroa autorizava diferentes tipos de expedições com mais ou menos direitos de exploração. Em alguns tipos era permitida a escravização dos indígenas, em outros, apenas trocas comerciais. Em todas elas, no entanto, a coroa espanhola deveria emitir o “requerimiento”, documento que deveria ser lido pelos conquistadores, antes de iniciar um combate contra os indígenas. Esse documento foi criado com a função de permitir aos índios escolherem a submissão à igreja e ao rei, o que não fazia muito efeito, já que era lido em espanhol para povos que não entendiam a língua. "Se assim fizerdes, Sua Majestade vos acolherá com todo o amor e afeto, deixando livres as vossas esposas e filhos para que possais proceder com eles como entenderes (...). Mas se vos recusais, ou se de má-fé tardardes a fazê-lo, com a ajuda de Deus penetrarei em vossas terras e vos submeterei ao jugo da Igreja e a Sua Majestade, e tomarei vossa esposa e vossos filhos para fazer escravos deles (...) E declaro que toda morte e devastação que daí advier terá sido por culpa vossa e não de Sua Majestade, ou minha, ou de meus homens". Fonte: http://educacao.uol.com.br/historia/america-colonizacao-espanhola-dos-iadelantadosi- aos-vice-reinos-da-nova-espanha-e-do-peru.jhtm A evolução da Conquista Entre os conquistadores espanhóis destacaram-se Hernán Cortez, Pedro Alvarado, Balboa, Francisco Pizarro, Diego de Almagro e Pedro de Valdívia. A chegada dos espanhóis foi cercada de dúvidas pelos povos americanos, que não sabiam o que esperar de homens tão diferentes, na aparência, na língua e na tecnologia. Do lado espanhol também existiu a surpresa com os http://educacao.uol.com.br/historia/america-colonizacao-espanhola-dos-iadelantadosi-aos-vice-reinos-da-nova-espanha-e-do-peru.jhtm http://educacao.uol.com.br/historia/america-colonizacao-espanhola-dos-iadelantadosi-aos-vice-reinos-da-nova-espanha-e-do-peru.jhtm 28 povos americanos, mas acima disso, havia o objetivo da conquista e a defesa dos ideais. Quando Cortez chegou ao México, os astecas especularam sobre quem eles seriam. Num primeiro momento, uma parte dos astecas considerou que o conquistador Hernán Cortez poderia ser o deus Quetzalcoatl que teria voltado, conforme pregava a tradição asteca. O imperador asteca Montezuma chegou a receber Cortez em Tenochtitlán, de forma diplomática. Fonte:<http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/02/america-de-veias-fechadas- reflexoes.html>. Acesso em: 28/10/2014. Cortez rapidamente percebeu que o império asteca era muito poderoso, mas por dominar os povos vizinhos, era visto como inimigos por uma parte muito grande desses povos. O chefe dos Tlaxcaltecas, vendo uma possibilidade de se livrar do imperialismo asteca, apoiou Cortez quando ele resolveu fazer o ataque e em 1521, cidade de Tenochtitlán foi tomada pelos espanhóis. Após a conquista da capital do império Asteca, Cortez deu início à fundação da Nova Espanha. http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/02/america-de-veias-fechadas-reflexoes.html http://fabiopestanaramos.blogspot.com/2011/02/america-de-veias-fechadas-reflexoes.html 29 Francisco Pizarro e Diego de Almagro partiram para o sul, em direção ao império Inca, que nessa época, já era conhecido através das histórias que chegavam à América central. A chegada de Pizarro coincide com uma disputa interna do império Inca, devido às lutas pela sucessão ao trono, depois da morte do imperador Huayna Cápac. Os irmãos Atahualpa e Huáscar brigavam pelo trono, causando grande instabilidade e crise ao império Inca. Diante desse conflito, Pizarro conquista o apoio dos seguidores de Huáscar e marcha na direção do exército do Inca Atahualpa. Na cidade de Cajamarca, Pizarro tem o primeiro contato com a força do império Inca e oferece a Atahualpa a submissão à coroa espanhola e à fé cristã. Como o imperador inca nega a submissão, Pizarro dá início à guerra de conquista e, apesar do número inferior de soldados, consegue prender o imperador. Fonte: <http://html.rincondelvago.com/conquista-de-america_2.html>. Acesso em 28/10/2014. Em Cuzco, o exercito de Atahualpa consegue prender seu irmão e acaba executando-o. Diego de Amagor temia que Atahualpa, mesmo preso, organizasse um motim contra os espanhóis, por isso aconselhou Pizarro a matar o Inca. Pizarro aceita o conselho e sacrifica Atahualpa, continuando a conquista, passando por Cuzco, pelo litoral e fundou em 1535 a Cidade de Lima, desde http://html.rincondelvago.com/conquista-de-america_2.html 30 então, a nova Capital do Peru. Diego de Almagro partiu para o sul em busca de riquezas, em direção ao Chile. As razões da vitória espanhola Os espanhóis que vieram para a América constituíram um pequeno grupo, se comparado com a imensa população que vivia no continente. Apesar da inferioridade numérica, em menos de cem anos os espanhóis haviam conquistado terras que iam do México à Argentina, que eram dominadas por grandes impérios como o Asteca e Inca. Apesar da forte resistência dos povos americanos, um conjunto de fatores favoreceu os espanhóis na guerra de conquista. Um dos fatores apresentados pela historiografia do século XIX é a superioridade bélica dos espanhóis. Essa postura pode ser vista na obra de William Prescott, “A conquista do México” e no livro “A conquista da América: a questão do outro” de Tzvetan Todorov. Segundo esse ponto de vista, os canhões, armas de fogo, lanças de metal e os cavalos teriam facilitado a conquista. Porém, esse fator não deve ser supervalorizado, uma vez que as armas europeias não funcionavam para todas as batalhas e os indígenas rapidamente absorveram as estratégias de guerra dos espanhóis. Outro fator importante foram as doenças infectocontagiosas que os espanhóis trouxeram. Doenças que eram comuns na Europa, como a gripe e a varíola, não existiam na América antes da chegada dos europeus. Como os povos americanos não tinham anticorpos para essas doenças, estavam muito vulneráveis a elas, por isso, adoeciam facilmente e morriam. Os acordos feitos com os povos locais também foram essenciais para os espanhóis superarem a inferioridade numérica. Como os Incas e Astecas tinham muitos inimigos, os espanhóis puderam contar com o apoio desses povos para 31 vencer os impérios. Essa mesma lógica não serviu para a conquista de povos nômades ou de estrutura mais simples. Assim, não houve um fator isolado que determinou a vitória dos espanhóis. Todas essas explicações devem ser unidas para o entendimento de cada situação específica, além disso, deve-se considerar o imenso choque cultural que esse encontro promoveu entre os povos americanos. BUSCANDO CONHECIMENTO Associação Nacional dos Pesquisadores e Professores de História da América. Disponível em: < http://anphlac.fflch.usp.br/>. Acesso em 28 de outubro de 2014. 32 UNIDADE 06. MODELO EUROCÊNTRICO DE CULTURA NA AMÉRICA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE O encontro entre a cultura europeia e as culturas da América pré- colombiana gerou espanto e curiosidade em ambos os lados. No entanto, para os nativos americanos a consequência desse encontro foi o extermínio das diversas culturas locais. O objetivo dessa unidade é entender de que forma a postura eurocêntrica se firmou, garantindo aos europeus o domínio político, econômico e mental. ESTUDANDO E REFLETINDO O encontro das culturas O Velho mundo e o novo “Vieram com seus navios Em nome da lei e da fé Em nome do rei e da cruz Em nome de Deus e do ouro. Vieram pelo oceano Em busca de um novo mundo Mas aqui vivia um povo E eles não entenderam.”(Milton Nascimento e Fernando Brant) 33 Nas ilhas das Antilhas, local onde desembarcou Colombo, viviam nações indígenas igualitárias. Sobre seu encontro com um grupo Taino, Colombo escreveu em seus diários: “Mas me parece que era gente que não possuía praticamente nada. Andavam nus como a mãe os deu à luz. (...) E todos os que vi jovens, de corpos muito bonitos e caras muito boas. (...) Não tem ferro: as suas lanças são varas sem ferro, sendo que algumas têm no cabo um dente de peixe”. (Cristóvão Colombo. Diários da descoberta da América. Porto Alegre: L&PM, 1986.) Esse mesmo episódio foi retratado pelo artista Theodor de Bry, baseado nos relatos que chegavam até ele (na Bélica), já que ele mesmo nunca foi à América. Fonte: http://carmichaelscabinetofcuriosities.blogspot.com/2010/07/elusive-columbus.html Observe na imagem o clima amistoso entre Colombo e os moradores locais. Repare também, ao fundo, uma cruz é erguida, marcando a presença da fé cristã. Esse contato que foi iniciado por Cristóvão Colombo será repetido e aprofundado por muitos outros viajantes que vieram depois dele. São muitos os 34 relatos dos viajantes, descrevendo suas impressões sobre o mundo que encontraram, o que nos permitem conhecer sobre esse encontro de culturas e as ideias formadas. O texto de Hernán Cortez sobre a cidade de Tenochtitlán, nesse sentido é revelador: “Esta grande cidade de Tenochtitlán está fundada em uma lagoa salgada. Ela tem quatro entradas, todas de calçada e feitas à mão. As ruas estão metade na água e metade na terra pela qual os índios andam em canoas. Tem esta cidade muitas praças onde há um continuo mercado, de negócios, compra e venda, onde cotidianamente existem cerca de sessenta mil pessoas e onde há todos os gêneros de mercadorias Há uma praça tão grande que corresponde a duas vezes a cidade de Salamanca, com pórticos de entrada, onde há cotidianamente mais de sessenta mil almas comprando e vendendo. Há todos os gêneros de mercadorias que se conhecem na Terra, desde jóias de ouro, prata e cobre até galinhas, pombos e papagaios. Há casas como de boticários, onde vendem medicamentos feitos por eles. Há casas como de barbeiros, onde lavam e raspam as cabeças. Há casas onde dão de comer e beber mediante um pagamento. Há no centro da praça uma casa de audiências, onde estão reunidos dez ou doze juizes para julgar as questões decorrentes de desacertos nas compras e vendas. Também mandam castigar aqueles que cometem atos de delinqüência.” (Hernán Cortés, conquistador do México, Segunda carta ao rei de Espanha, 1519) Em número menor são os relatos dos povos americanos sobre os europeus. O texto anônimo de um asteca também nos mostra a busca por entender os europeus: “Por todas as partes tinham o corpo envolto, somente as caras aparecem. São brancas, como se fossem de cal. Têm cabelo amarelo, embora alguns os tenham pretos. Sua barba é grande” 35 (Asteca anônimo. Citado por Janaína Amado e Ledonias Garcia. Navegar é preciso. São Paulo: Atual, 1989, p.41-42.) Passado a etapa do reconhecimento, europeus e povos americanos começaram a formular visões sobre o outro, baseados no que viam e nas relações que estabeleciam. Um costume que causou grande choque nos europeus foi a antropofagia, praticada por alguns grupos indígenas, principalmente na América do sul: “[...] Para o ano, se não nos comerem os índios, vos escreverei mais [...] (Carta do padre jesuíta Antônio Navarro, 1553) [...] Morrendo este preso, logo as velhas o despedaçam e lhe tiram as tripas, que mal lavadas cozem para comer, e reparte-se a carne por todas as casas e pelos hóspedes e dela comem logo assada e cozida [...] (Frei Vicente do Salvador, op. cit., 1618) [...] Os homens e as mulheres [de uma tribo do Brasil] são fortes e bem conformados como nós. Comem algumas vezes carne humana, porém somente a de seus inimigos. Mas não é por gosto ou apetite que a comem [...] não os comem nos campos de batalhas, nem tampouco vivos. Despedaçam o corpo e repartem entre os vencedores [...] Isto me foi contado pelo nosso piloto Juan Carvajo que havia passado quatro anos no Brasil. [...] (Antonio Pigafetta, Diário da expedição de Fernão de Magalhães, 1519-22). 36 Fonte: <http://www.abrale.com.br/biblioteca/001.htm>. Acesso em 28/10/2014. O relato do chefe indígena tupinambá, transcrito por um missionário francês em 1614 revela esse estranhamento do lado indígena: “Vi a chegada dos peró [portugueses] em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós, franceses, fazeis agora. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar residência. Nessa época, dormiam livremente com as raparigas, o que nossos companheiros de Pernambuco reputavam grandemente honroso. Mais tarde, disseram que nos devíamos acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, e edificarem cidades para morarem conosco. E assim parecia que desejavam que constituíssemos uma só nação. Depois, começaram a dizer que não podiam tomar as raparigas sem mais aquela, que Deus somente lhes permitia possuí-las por meio do casamento e que eles não podiam casar sem que elas fossem batizadas. E para isso eram necessários paí [padres]. Mandaram vir os paí; e estes ergueram cruzes e principiaram a instruir os nossos e a batizá-los. Mais tarde afirmaram que nem eles nem os paí podiam viver sem escravos para os servirem e por eles trabalharem. E, assim, se viram os nossos constrangidos a fornecer-lhos. Mas não satisfeitos com os escravos capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda a nação; e com tal tirania e 37 crueldade a trataram, que os que ficaram livres foram, como nós, forçados a deixar a região.” (“Discurso indígena sobre o colonizador”. Citado por Darcy Ribeiro e Carlos de A. Moreira Neto. A Fundação do Brasil. São Paulo: Vozes, 1993, p. 46). Dessa forma, podemos ver através dos relatos que, o contato entre culturas foi marcado pela curiosidade e estranhamento, mas principalmente pela incompreensão e confronto, uma vez que o projeto europeu para a América era de domínio. A partir desse encontro, resta-nos buscar o resultado da dominação para as culturas americanas. O resultado do encontro A imagem mais corrente sobre a conquista espanhola foi construída sobre o relato de um frei chamado Bartolomeu de Las Casas, no livro “Brevíssima relação da destruição das Índias”. O texto expressava o desacordo do frei com a forma como os colonizadores tomavam a região e tratavam os indígenas. São relatos emocionantes da crueldade espanhola, que em nome da fé cristã, cometia atos de grande violência contra os indígenas. Os textos de Las Casas, associado as imagens de Theodor de Bry, contribuíram para associar ao povo espanhol a essência da violência. Essa ideia sobre o povo espanhol ficou conhecida pelo nome de “Leyenda Negra” (lenda negra). Mas do que reforçar a crueldade da dominação europeia, devemos nos concentrar em entender todas as ações europeias, que fizeram desaparecer as diferentes culturas presentes na América. Um ponto essencial para esse estudo é o processo de conquista espiritual empreendido pelos europeus. Dos povos Tupis aos Astecas, todos na América conheciam a guerra, pois eram extremamente belicosos. Os povos com mais poder militar se impunham aos outros e cobravam tributos. Porém, apesar desses combates, a cultura dos povos vencidos não era sistematicamente destruída, ao contrário, era assimilada 38 pelos vencedores. A novidade do conflito dos americanos com os europeus, além das armas utilizadas, foi a política de aniquilamento dos povos e da cultura indígena que os europeus desenvolveram. A busca por terras e ouro não foi o único motivo para a ida dos europeuspara a América. Junto com os colonizadores, foram para o continente uma série de missionários religiosos com o objetivo de converter os indígenas à fé cristã. Padres de ordens como a dos Franciscanos ou Jesuítas estabeleceram-se por toda a América, estabelecendo contato com os indígenas, ensinando-lhes a língua, religião e costumes europeus. A ação de muitos desses religiosos foi, muitas vezes, contrária à exploração do trabalho escravo indígena pelos colonizadores, já que enxergavam esses povos como almas inocentes que deveriam ser catequizadas. Apesar da intenção, aparentemente boa, desses missionários religiosos, a aplicação e o resultado prático desse projeto também se mostrou extremamente violento, do ponto de vista da mentalidade. Aos habitantes da América foi imposta uma cultura, costumes e valores absolutamente diferentes dos que viviam. Aqueles que aceitaram a imposição perderam suas características e acabaram por desaparecer, perante a cultura europeia dominante. Os que resistiram, foram combatidos pelos colonizadores por serem considerados violentos e após diversas batalhas, abaram dizimados. Assim, como resultado do encontro dessas culturas e dos longos séculos de colonização, podemos observar, que América atual carrega ainda muitas influências cultuais dos povos nativos, porém, a cultura que domina a América e serve como referência simbólica é a europeia. BUSCANDO CONHECIMENTO Indicação de filme: “1492 - A conquista do paraíso”. 39 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=tAekrGaHtiI>. Acesso em 28 de outubro de 2014. 40 UNIDADE 07. COLONIZAÇÃO ESPANHOLA: ADMINISTRAÇÃO DO TERRITÓRIO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Depois de conquistar as terras e os povos pré-colombianos, o rei da Espanha montou um grande esquema de exploração da América espanhola. O objetivo desta unidade é entender a organização administrativa da colonização espanhola. ESTUDANDO E REFLETINDO A divisão do novo mundo No final do século XV, os descobrimentos marítimos já estavam bastante adiantados. A costa africana já havia sido conquistada pelos portugueses, assim como, o caminho para as Índias. Alguns anos depois dos portugueses, os espanhóis também tiveram sucesso em seus empreendimentos marítimos, alcançando a América em 1492. Como era de costume entre os reis europeus, Portugal e Espanha apelaram para o Papa para garantir direito sobre as terras conquistadas. A primeira bula papal assegurou o domínio da costa africana aos portugueses. Do mesmo modo, os Espanhóis conseguiram a bula papal que lhes dava direito sobre as terras da América. Como Portugal pretendia participar da colonização das terras americanas, negociou com os Espanhóis, firmando um acordo conhecido como Tratado de Tordesilhas em 1494. Esse tratado dividia o direito sobre as terras conquistadas entre os países da península ibérica. 41 Fonte: <http://www.educacaoadventista.org.br/fundamental-2/pesquisa-escolar/793/tratado- de-tordesilhas.html>. Acesso em 30/10/2014. A divisão dos territórios entre Portugal e Espanha, não foi aceita pelos outros soberanos da Europa, afinal eles ficaram excluídos da exploração das riquezas do novo mundo. Sobre isso, o rei Francisco I da França teria declarado: “O sol brilha para mim assim como para os demais. Gostaria de saber qual a cláusula do testamento de Adão que me exclui da partilha do mundo.” A centralização administrativa Além da oposição dos reinos europeus, Portugal e Espanha tinham que enfrentar e vencer os povos que habitavam o continente americano. Para isso contavam com o apoio da igreja que colocou como missão dos conquistadores a catequização dos povos americanos. Apesar da missão espiritual, a colonização da América suscitava problemas práticos. Como os enormes gastos necessários a dominação. No inicio, esse empreendimento estava sobre o controle da corroa espanhola, que ocupou-se em extrair o ouro de superfície nas Antilhas. Com o esgotamento das jazidas e o aumento dos custos, a coroa espanhola abriu a colonização para a 42 iniciativa privada. Para o estado espanhol coube o controle administrativo e a arrecadação de impostos sobre as riquezas da colônia. Os primeiros a receber o direito de exploração sobre a América foram os conquistadores que se destacaram no processo de conquista. A eles foi dado o direito de explorar os territórios e as populações dominadas. Esses conquistadores receberam o titulo de “adelantados” e passaram a organizar as cidades reunidas em “ayuntamientos”. Com o desenvolvimento dos ayuntamientos a coroa espanhola permitiu a organização dos “cabildos”, que eram câmaras municipais controladas pelos espanhóis ou “criollos” (descendentes de espanhóis) mais ricos da região. Os cabildos foram, ao longo dos anos, tornando-se o poder local que representava os interesses da elite criolla, colocando-se muitas vezes em oposição à centralização administrativa da metrópole. A coroa espanhola viu a necessidade de aumentar o controle sobre os negócios coloniais, garantindo assim que seus interesses seriam respeitados. O Conselho das Índias era o órgão de administração dos negócios coloniais diretamente ligados ao rei. Abaixo dele foram criadas duas instituições: os vice- reinos e a audiência. Os vice-reinos foram divisões administrativas da colônia, as quais eram nomeadas um representante do rei, que deveria controlar a região. Ao vice-rei cabia fiscalizar a atividade mineradora, cobrando o quinto sobre todo o minério extraído. Devia também proteger o território, comandando a força militar, promover a expansão da fé cristã entre os indígenas e comandar as questões de justiça. Assim, a América espanhola teve a sua colonização dividida quatro vice- reinos e três capitanias: vice-reino do México (1535), vice-reino do Peru (1543), vice-reino de Nova Granada (1717), vice-reino do Prata (1776), capitania geral da Guatemala, capitania geral da Venezuela e capitania geral do Chile. 43 Fonte: <http://professoraclara.com/set/iamespan.php>. Acesso em 30/10/2014. As audiências eram órgãos com função administrativa e judiciaria. Funcionavam com tribunais compostos por ouvidores que decidiam sobre as questões locais. As audiências estavam subordinadas ao Conselho das Índias, a quem se podia apelar das sentenças. 44 Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/civilizacao-inca/tupacamaru.php O controle da metrópole sobre os vice-reinos variava de acordo com a importância econômica da região. A América Central estava subordinada ao controle rígido da coroa, no Caribe a produção de açúcar gerava um grande interesse comercial na metrópole. Áreas periféricas como América do Sul desenvolveram-se de forma mais autônoma, com produção agropecuária para mercado interno. Dessa forma, a administração das colônias espanholas se deu de forma que a metrópole pudesse lucrar com as atividades coloniais, mantendo para isso um rígido controle sobre os habitantes da América. Mas, ao mesmo tempo em que centralizava o controle, essa forma de administração permitiu que as populações locais organizassem sua existência segundo as características de cada região. BUSCANDO CONHECIMENTO Documentário que conta a história do explorador espanhol Hernán Cortés e os acontecimentos que culminaram na conquista do México. 45 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bekhPiWkE84>. Acesso em 30 de outubro de 2014. 46 UNIDADE 08. COLONIZAÇÃO ESPANHOLA: ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Na América espanhola o trabalho indígena foi a principal mão de obra utilizada na exploração do território. A escravidão e diferentes tipos de trabalho compulsório foram autorizados pela coroa no decorrer dos anos. O objetivo desta unidadeé conhecer essas diferentes formas de trabalho existentes nas colônias espanholas. ESTUDANDO E REFLETINDO A questão escravista A expansão da religião foi o fundamento legitimador da coroa espanhola para o processo de colonização. Porém, o espírito missionário chocava-se com os interesses materiais dos conquistadores, que se aventuraram em busca do enriquecimento. Enquanto os conquistadores viam nos indígenas a força de trabalho necessária para colonização, os missionários religiosos enxergavam os nativos como almas necessitadas de evangelização. Sob esses interesses a escravidão indígena tornou-se motivo de intenso debate. A igreja colocava a evangelização dos nativos como prioridade na conquista da América, entretanto, era a exploração do trabalho deles que trazia os recursos necessários para a continuidade da ação dos conquistadores. Assim, por mais que os espanhóis fossem cristãos, a questão econômica e a sobrevivência na colônia ganhavam mais peso, passando a orientar a relação deles com os indígenas. Em algumas áreas despovoadas devido à conquista, o trabalho escravo de africanos foi a principal forma encontrada, como por exemplo, nas 47 plantations do Caribe. Enquanto a escravidão africana era plenamente aceita na Europa, a discussão a respeito da escravização dos indígenas envolveu juristas, teólogos e interesses particulares. A igreja católica manteve intensa pressão sobre a coroa, cobrando dos reis sua obrigação enquanto cristão. Dado isso, a escravização foi proibida em 1500, quando os reis católicos se declararam contrários à exploração dos nativos. A proibição teve também um fundo politico, uma vez que o domínio sobre os indígenas fornecia aos conquistadores independência e um enorme poder local, o que era visto como ameaça ao rei do reino da Espanha. Uma forma de fugir da proibição da escravidão foi a chamada “guerra justa”. Segundo essa ideia, a escravização era permitida quando, as populações que ainda não haviam sido dominadas, resistiam à conquista. Um documento denominado “requerimiento” foi redigido para regulamentar a exploração dos indígenas. Esse documento deveria ser lido antes do combate contra os indígenas, oferecendo as eles a opção de escolher pela fé cristã e o reconhecimento do rei espanhol. Caso os nativos se recusassem, a guerra e a escravidão estavam justificadas. Na prática o requerimiento tornou-se um documento que mascarava a violência da conquista colocando sobre os indígenas a responsabilidade por sua exploração, como denunciou o frei Bartolomé de Las Casas. A controvérsia sobre a escravidão foi tão discutida que, em 1542 as novas leis proibiram definitivamente a escravidão. O “repartimiento”, a “encomienda” e a “mita” As principais atividades econômicas da América Espanhola foram a mineração e a agricultura. Tanto na extração de ouro e prata como nas grandes fazendas de tabaco, cana-de-açúcar, algodão e cacau, a maioria da mão-de- obra empregada era indígena. 48 Paralelamente à escravidão outras formas de trabalho nativo foram desenvolvidas. O “repartimiento” foi um sistema que oferecia, para os funcionários reais na América, trabalhadores indígenas considerados súditos do rei. Para os proprietários particulares era repartida uma quantidade de trabalhadores, num sistema chamado “encomienda". Segundo o regime de encomienda os indígenas eram livres, mas eram vassalos dos reis, por isso deviam-lhe tributos. O tributo devido pelo indígena não era pago diretamente ao rei, sendo transferido o direito de cobrança ao encomendero. O homem que recebia a encomienda, por ter prestado serviços à coroa, se comprometia em ensinar a fé cristã aos nativos. A encomienda poderia ser explorada em forma de trabalho ou tributos. Na encomienda de trabalho, a cristianização dos índios foi abandonada, uma vez que, para os “encomenderos”, o que interessava era o lucro obtido através do trabalho dos indígenas. Devido aos maus tratos dado aos nativos, através da encomienda de trabalho, o rei da Espanha proibiu essa forma de exploração, colocando em seu lugar a encomienda de tributos. Nesse sistema os nativos não eram obrigados a realizar trabalhos forçados ao senhor, porém, era dado ao encomendero o direito de receber tributos dos indígenas da região conquistada. Esse sistema só foi seguido nas regiões com grande quantidade de pessoas, como nas regiões dos impérios Asteca e Inca; no resto da colônia a encomienda de trabalho permaneceu. Apesar de a ideologia da encomienda considerar o indígena livre, essa forma de exploração do trabalho foi apenas uma justificativa oficial para a escravização dos povos americanos. Outra forma de exploração do trabalho indígena foi a “mita”. Abordamos esse sistema na unidade II, quando estudamos o império Inca, pois essa era a forma como estava organizada o trabalho na região andina antes da chegada dos europeus. Explorada pelos espanhóis, a “mita”, como era chamada no Peru, ou “coatequitl”, como era chamada no México, fazia com que as províncias 49 vizinhas das regiões mineradoras de Potosí e de Zacatecas, enviassem um número determinado de homens para trabalhar na extração de ouro e prata. Os “mitayos”, como eram chamados os trabalhadores, deveriam servir por determinado período, só podendo ser convocados novamente passado sete anos. Para os mitayos em serviço, o senhor espanhol deveria fornecer uma pequena remuneração. Todo ano, as províncias que deviam a mita enviavam um novo contingente de trabalhadores, que substituía o anterior. Na prática a legislação sobre a mita não foi respeitada, os mitayos trabalhavam longas jornadas e as condições de trabalho eram tão severas que a maioria dos trabalhadores morria antes de completar o tempo de serviço. Os anos de exploração dos mitayos na mineração foram responsáveis pela dizimação de grande parte da população indígena. Enquanto isso, no campo predominava as haciendas, que eram propriedades rurais autossuficientes que forneciam alimentos para a região mineradora. Por vezes, os indígenas que terminavam o seu tempo de trabalho na mineração não voltavam para sua comunidade, empregando-se nas haciendas. Para fazer o pagamento os senhores mantinham as “tiendas de raya”, que eram locais onde os trabalhadores compravam os gêneros necessários à sua sobrevivência mediante crédito adiantado. Dessa forma o trabalhador era mantido sempre em dívida com o senhor. Assim, a exploração do trabalhador indígena pelos colonizadores europeus foi uma das razões para a dizimação dos povos nativos da América. Mesmo não ocorrendo a escravidão clássica em todo território, as formas de exploração utilizadas pelos espanhóis, como a Mita e a Encomienda, eram tão violentas quanto a escravidão. 50 BUSCANDO CONHECIMENTO O Documento abaixo é um exemplo das condições gerais presentes na concessão de uma encomienda. Podemos observar que a encomienda foi oferecida como forma de retribuição ao serviço prestado pelo conquistador. Título de encomienda outorgado por Francisco de Montejo, governador de Yucatán a Antonio de Vergara. 7/5/1544 Don Francisco de Montejo, Adelantado, Governador e Capitão General das gobernaciones de Yucatán, Honduras e sus terras e províncias, por sua Majestade, pela presente, em seu Real Nome encomiendo e dou de repartimiento a vós, Antonio de Vergara, morador da cidade de Santa Maria do vale de Comayagua, aldeia de Taxica, que está nos termos da referida cidade com todos seus senhores, caciques, principais bairros e estâncias da dita aldeia, para que deles vos sirvais e aproveiteis para a produção de bens e utilidades, contanto que os industrieis e inicieis nas coisas de nossa Santa Fé católica e os trateis conforme as ordenanças Reais que estão feitas e se fizerem para o bem e aumento dos ditos índios e sobreisto vos encarrego a consciência e com isto se descarrega a de Sua Magestade e minha; e mando a todas e quaisquer justiças que vos assistem e amparem na posse dos referidos índios, o contrario fazendo, lhe dou por condenado em cinqüenta pesos de bom ouro para a Câmara e fisco de Sua Majestade e porque em seu real nome vos dou de repartimiento em remuneração de vossos serviços, trabalhos, gastos e serviços que à Sua Majestade haveis feito na conquista e pacificação desta gobernación de Higueras e Honduras. Datada nesta cidade de Gracias a Dios, aos sete dias do mês de maio de 1544. O referido repartimiento e encomienda dou ao dito Antonio Vergara sem prejuízo de terceiras partes. 51 (Assinado) O Adelantado Don Francisco de Montejo. A mando de sua excelência. (assinatura do escrivão) (SIMPSON, Lesley Byrd. Los conquistadores y el indio americano. Trad. De Encarnación Rodríguez Vicente. Barcelona: Ed Peninsula, 1970.p.191. Apud: BELLOTTO, Manoel Lelo & CORRÊA, Anna Maria Martinez. A América Latina de Colonização Espanhola: Antologia de Textos Históricos. São Paulo: Editora Hucitec, 1991) 52 UNIDADE 09. O SISTEMA COLONIAL ESPANHOL CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Seguindo a lógica do mercantilismo, o estado espanhol organizou a colonização da América. Com isso, buscou garantir o fortalecimento da monarquia espanhola através da exploração das colônias. O objetivo desta unidade é entender a logica mercantilista que movia o processo de colonização espanhol e os mecanismos de controle desenvolvidos. ESTUDANDO E REFLETINDO Mercantilismo: a política econômica dos reis absolutistas O mercantilismo pode ser definido como a política econômica das monarquias absolutistas dos séculos XV a XVIII, sendo que, a colonização espanhola na América só pode ser entendida baseada na lógica mercantilista, para isso, veremos a seguir as características desse processo. O objetivo do mercantilismo era fortalecer economicamente os reis europeus, que buscavam o máximo acúmulo de riquezas para o desenvolvimento do Estado. Para isso, os reis mantinham intenso controle sobre as atividades econômicas do país, tomando as decisões necessárias para a manutenção de seus interesses, sem o consentimento da sociedade. A principal concepção mercantilista era baseada na ideia de que, a riqueza de um país era determinada pela quantidade de ouro e prata que ele possuía. A esse princípio damos o nome de Metalismo. Além disso, existia a ideia de que as riquezas mundiais eram limitadas, portanto, quando um país enriquecia outro estava perdendo riquezas. Assim, os reis interferiam na economia para garantir que saísse o mínimo possível de metais preciosos e entrasse o máximo. 53 Nessa lógica, os países europeus passaram a buscar a manutenção da balança comercial favorável, ou seja, os reis criavam leis que estimulassem a exportação e evitassem a importação. Para estimular a exportação os reis investiram em portos e financiaram viagens marítimas, como as que chegaram à América. Quanto às importações, os reis buscavam importar apenas os produtos que não produziam em seus países, evitando assim a saída de ouro e prata. Para os produtos de seu país os reis mantinham uma política protecionista, sobretaxando os produtos estrangeiros, que entravam mais caros no país. Fonte: <http://impactonahistoria.blogspot.com/2011/04/antigo-regime-e-mercantilismo.html>. Acesso em 30/10/2014. Para completar a política mercantilista as monarquias europeias iniciaram a colonização da América. A ideia era que as regiões americanas suprissem as necessidades das metrópoles europeias. Assim, cada país europeu desenvolveu uma política colonialista. Na América portuguesa a produção de açúcar, um produto com grande valor na Europa, garantiu aos portugueses a mercadoria necessária para o comércio com os outros países da Europa, mantendo assim sua balança comercial. A Inglaterra usou as colônias para desenvolver sua indústria, que tornaria a burguesia inglesa a mais poderosa a partir do século XVIII. A Espanha, por ter encontrado terras com grandes jazidas de ouro e prata, concentrou sua colonização na extração desses metais. http://impactonahistoria.blogspot.com/2011/04/antigo-regime-e-mercantilismo.html 54 Dessa forma, as colônias na América e no restante do mundo possibilitaram a centralização do poder dos reis e o fortalecimento de diversos países, como Portugal, França, Inglaterra e Espanha, que passaram a ser Metrópoles de grandes impérios coloniais. O Pacto Colonial A exploração das colônias pela os países europeus não teria sido possível sem o controle absoluto sobre as terras conquistadas, para isso, as metrópoles criaram um sistema de controle sobre os negócios com as colônias que recebeu o nome de Pacto colonial. O sistema colonial foi montado com o objetivo de enriquecer a metrópole europeia, por isso, as colônias eram regiões dos impérios europeus que serviam para serem exploradas economicamente. Para garantir essa exploração as metrópoles instituíram o Pacto colonial, segundo o qual a metrópole tinha o exclusivo comercial, ou seja, somente a metrópole poderia comprar ou vender para a colônia. Com o pacto colonial, as metrópoles garantiam a compra dos produtos americanos pelo preço determinado por elas, podendo assim revender na Europa e conseguir lucro. Ademais, as metrópoles vendiam para as colônias todos os gêneros necessários à sobrevivência dos colonos, desde roupas a maquinários agrícolas, e para garantir que os colonos comprariam esses produtos da metrópole, estava proibida a produção desses produtos manufaturados na colônia. 55 Fonte: <http://cafehistoria.ning.com/photo/organograma-historia-pacto?context=latest>. Acesso em 30/10/2014. Assim, no pacto colonial a função das colônias fiou bem estabelecida: deveriam produzir os gêneros que seriam revendidos pelos burgueses da metrópole, que ficariam com a maior parte dos lucros. Além de servirem como mercados consumidores para os produtos europeus. Com esse sistema, os países europeus conseguiam vender caro e comprar barato, garantindo a manutenção de suas balanças comerciais, além de terem acesso aos produtos que não existiam na Europa. O mercantilismo espanhol na colonização da América A colonização da América pelos espanhóis tem um sentido de ter existido, do contrário os europeus não teriam investido tantos recursos materiais e humanos na conquista desse território. O primeiro momento das conquistas europeias se deu em função da busca por ampliação do comércio europeu, como aconteceu nas regiões africanas e asiáticas, que tinham produtos prontos para serem comercializados. No caso americano o processo ocorreu de forma diferente, pois, as sociedades americanas não desenvolveram um intenso comércio na região e, portanto, não possuíam excedentes da produção que pudessem ser utilizados pelo comércio http://cafehistoria.ning.com/photo/organograma-historia-pacto?context=latest 56 europeu. Dessa maneira, não basta enviar navios para a América para retirarem produtos prontos, antes era necessário produzir algo. A colonização da América requeria um grande investimento inicial, para o aproveitamento da terra com alguma cultura lucrativa. No Brasil, a coroa portuguesa focou a colonização na produção de açúcar, assim como os ingleses e espanhóis na região do Caribe. A produção de açúcar era feita em latifúndios monocultores, que utilizavam trabalhadores escravos africanos (o tráfico de escravos era uma atividade comercial muito lucrativa), para exportar para Europa tudo o que fosse produzido. Porém, nas outras regiões da América espanhola, a exploração colonial se deu de outra forma. Por ter encontrado jazidas de ouro e mais ainda de prata, a Espanha focou o processo decolonização na exploração de metais preciosos. Assim, a primeira atividade econômica desenvolvida na América espanhola foi a mineração, ficando a agricultura como atividade secundária, somente para o abastecimento das regiões mineradoras. A extração do ouro foi feita apenas nas primeiras décadas da colonização, pois rapidamente ocorreu seu esgotamento. A prata passou então a ser a principal responsável pela colonização da América espanhola. No México foram exploradas a minas de Zacatecas e no Peru as de Potosí. Nas áreas periféricas houve a produção de animais de carga, alimentos e tecidos, como na região da Guatemala, Venezuela e do sul da América. Fonte: <http://anglosl.com.br/Alunos_Online/America_Espanhola.pdf>. Acesso em 30/10/2014. http://anglosl.com.br/Alunos_Online/America_Espanhola.pdf 57 A necessidade de fiscalizar o comércio e fazer a cobrança dos impostos sobre a mineração, fez com que a Espanha organizasse o sistema politico e administrativo da colônia, fazendo surgir os vice-reinos e as capitanias que dividiam a colônia, e a casa de contratação que da Europa controlava o sistema. A casa de contratação, sediada em Sevilha na Espanha, instituiu o regime de porto único. Nesse regime apenas um porto na metrópole poderia fazer comércio com as colônias, centralizando assim, o monopólio do comercio. A primeira sede da casa de contratação foi em Sevilha, passando depois para Cádis, e os portos autorizados da América foram de Vera Cruz no México, Porto Belo no Panamá e o Havana e Cartagena na Colômbia, de onde poderiam entrar e sair as mercadorias na América. Para tentar controlar a pirataria, o transporte de mercadorias para a Europa era feito através do sistema de frotas, que consistia na reunião de quarenta galeões em Havana a cada dois anos. Até o século XVIII, a Espanha conseguiu manter o monopólio comercial sobre suas colônias na América. Essa situação só foi modificada em 1713, quando a Espanha perdeu a Guerra de Sucessão para a Inglaterra, tendo que assinar o Tratado de Utretch, permitindo que a Inglaterra comercializasse com as colônias espanholas. BUSCANDO CONHECIMENTO Paraíso Destruído – A Sangrenta História da Conquista da América Espanhola. Disponível em: <http://www.estef.edu.br/estefblog/?page_id=306>. Acesso em 30 de outubro de 2014. 58 UNIDADE 10. SOCIEDADE COLONIAL DA AMÉRICA ESPANHOLA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE A presença dos povos indígenas, dos africanos, do europeu e de outros que vieram depois, contribuiu com a formação social americana. Porém a posição social de cada um desses grupos foi bastante diferenciada, gerando uma relação de dominação entre eles. O objetivo dessa unidade será estudar a formação da sociedade americana a partir desses indivíduos e o posicionamento social que esses alcançaram. ESTUDANDO E REFLETINDO A sociedade colonial espanhola. A chegada do europeu à América, modificou totalmente as relações sociais que existiam no continente. Após conquistarem o território, dizimando grande parte da população indígena, os espanhóis passaram a reorganizar as relações sociais na América, buscando atingir da melhor forma seus interesses. A presença do europeu na América colonizada possibilitou a constituição de uma nova sociedade. O critério que definia cada uma das classes sociais é um fator essencial na compreensão da sociedade colonial espanhola. O nascimento era o critério de maior importância na distinção social, definindo a hierarquia social na colônia. Nas primeiras décadas do século XVI, um grande número de espanhóis migrou para a América com o objetivo de enriquecer rapidamente às custas do trabalho indígena. Esse aumento populacional gerou uma crise de abastecimento na colônia elevando o preço dos gêneros alimentícios, o que 59 acabou por tornar a agricultura e a pecuária um bom negócio na colônia, atraindo um considerável número de espanhóis que passaram a se dedicar a essas atividades. Com o declínio da mineração no final do século XVI, os ricos mineradores e comerciantes passaram a adquirir terras o que lhes conferia grande poder na região. A colônia espanhola buscou minimizar o poder e a independência dos grandes proprietários de terras, tentando criar um sistema de pequenas e médias propriedades, porém esse sistema não foi respeitado e as terras acabaram concentradas em poucas mãos. No inicio da colonização, as terras eram concedidas gratuitamente pelo rei da Espanha para os homens que tinham prestados serviços na conquista do território. Essas terras eram, muitas vezes, vendidas a investidores ou seus dependentes que passaram a concentrar enormes quantidades de terras. Quando a coroa espanhola enfrentou dificuldades financeiras no final do século XVI, eliminou o sistema de concessão de terras passando a vendê-las. Dessa forma, as terras que já estavam nas mãos de poucos fazendeiros, foram ainda mais centralizadas nas mãos de uma aristocracia colonial que passou a dominar a região. O processo de concentração de terras formou as “haciendas” que eram grandes propriedades rurais, presentes nos séculos XVII e XVIII em toda a América espanhola. Os proprietários dessas “haciendas” exploravam parte de seus domínios para a produção de bens, vendidos no comércio interno da colônia. Dessa forma, os espanhóis e seus descendentes, proprietários de terras, tornaram-se a elite colonial espanhola. Fonte: <http://craiglovers.blogspot.com/2009_0 5_01_archive.html>. Acesso em 30/10/2014. 60 Com a formação dessa aristocracia rural, começou a acentuar-se a diferença de interesses entre habitantes que viviam da exploração da terra e os que viviam da exploração do comércio. A aristocracia rural foi formada principalmente pelos descendentes de espanhóis nascidos na América que passaram a ser conhecidos como “criollos”. Os “criollos” apesar de gozarem grande prestígio e poder da colônia, estavam excluídos dos altos cargos políticos criando assim um sentimento de revolta contra a administração metropolitana. O interesse político administrativo da coroa espanhola era garantido na América por representantes do rei que recebiam cargos políticos. A função desses representantes era controlar o fluxo de pessoas e embarcações, fazer a cobrança de taxas e fiscalizar as ações dos indivíduos. Tal posição só era oferecida para os que tivesse nascido na Espanha sendo esses indivíduos chamados de “chapetones”. Assim, os “criollos” eram a elite colonial que praticava o comércio, tinha propriedade da terra e explorava o trabalho indígena, porém não participavam da administração geral da colônia, pois não haviam nascidos na Espanha. A ação política dos “criollos” estava restrita a participação nas câmaras municipais conhecidas como “cabildos”. Além dos “chapetones” que representavam os interesses metropolitanos, e dos “criollos”, descendentes de espanhóis que formavam a elite colonial, a sociedade da América espanhola era composta em grande número por povos nativos, pelos “mestiços” e alguns escravos negros. Os “mestiços” que eram fruto de relacionamentos entre europeus e indígenas, estavam numa camada intermediária da sociedade. Não podiam participar das decisões políticas cabendo a eles trabalhos variados nas cidades e nos campos ou ainda o envolvimento com o artesanato ou serviço militar. Esses “mestiços” poderiam alcançar posições de destaque na sociedade colonial, 61 como é o caso de Gómez Suárez de Figueroa que era filho de uma princesa Inca com um Espanhol. Em um número pequeno podemos observar também a presença de escravos negros, que foram utilizados nos locais onde a conquista dizimou a população nativa, como por exemplo, na região da América Central. Porém a maioria da população na América colonial era formada pelos indígenas que sobreviveram
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