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1 Meio Ambinte e Sustentabildiade

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DIREITO AMBIENTAL/ PROF. AIRTON BERGER FILHO / UCS 
 
MEIO AMBIENTE 
 
Meio Ambiente: “combinação de todas as coisas e fatores externos ao indivíduo ou 
população” 
Seres biótico + seres abiótico + suas interações 
 
Concepção estrita: 
Meio ambiente natural ou físico: 
Recursos naturais (solo, água, ar, energia, fauna e flora) + Relação entre os seres vivos e fatores 
abióticos... 
 
Concepção ampla: 
Meio Ambiente - Resultado da Interação: 
“Ecossistemas Naturais” “Sistemas Sociais”. 
Processo Histórico formado pela adaptação do homem ao meio ambiente e do meio ambiente aos 
impactos resultantes da intervenção humana. 
Meio ambiente natural + Meio ambiente artificial (ou Humano) edificações, equipamentos e 
alterações produzidas pelo homem + patrimônio cultural Material e Imaterial. 
 
Distintas percepções múltiplos conceitos e percepções: 
Indivíduos e diferentes grupos sociais possuem formas distintas de ver e valorar o meio 
ambiente: população urbana ou rural; agricultor/ industrial; ambientalista/desenvolvimentista; 
aventureiro, políticos, povos indígenas... Cada ciência possui sua forma distinta de definir, 
compreender e atuar sobre o Meio Ambiente: Biologia (Ecologia x Biologia da Conservação x 
Microbiologia), Economia (Economia Clássica x Economia Ambiental x Economia Ecológica), 
Engenharia Ambiental, Sociologia, Filosofia e o Direito. Diferentes área do Direito trazem também 
construções históricas da percepção do meio ambiente que influenciam e institutos como 
titularidade, direito de propriedade, responsabilidade... 
O desafio do Direito Ambiental é articular o conjunto de institutos jurídicos (de diferentes 
ramos do Direito) e de conhecimentos científicos entorno da tutela do meio ambiente 
ecologicamente equilibrado enquanto um bem de uso comum, como veremos. 
 
Como o Direito conceitua o meio ambiente? 
No direito brasileiro a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), em seu art. 
3º, I conceitua meio ambiente como sendo “o conjunto de condições, leis, influências e interações 
de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. 
“O conceito de meio ambiente, conforme definido na Lei no 6.938, de 1981, revela uma 
situação de equilíbrio entre “as condições, leis, influências e interações de ordem física, química e 
biológica”. O bem tutelado pelo Direito Ambiental é esse estado de equilíbrio entre os meios físico e 
biótico, responsável por abrigar e reger todas as formas de vida. O equilíbrio ou o atributo de 
qualidade do meio ambiente possui um valor – objeto da tutela legal – que se caracteriza pelos 
resultados que produz: a garantia da saúde, a manutenção dos ecossistemas, o bem-estar social, a 
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segurança, a preservação das condições de equilíbrio atuais, a possibilidade de as gerações 
futuras usufruírem desses elementos. 
Mais precisamente, o objeto em questão é o meio ambiente ecologicamente equilibrado, 
conforme estabelecido no art. 225, caput da CF/88. 
O objeto do Direito Ambiental, é, pois, o equilíbrio entre os meios físico e biótico, suas 
relações e os processos ecológicos envolvidos. Cabe, aqui, estabelecer uma distinção. O meio 
ambiente, considerado macrobem – à medida que consiste em um todo a ser protegido de forma 
holística e que pode traduzir-se no patrimônio ambiental –, possui um forte conteúdo de “abstração, 
ao contrário dos elementos que o compõem – microbens –, esses bastante concretos (uma floresta, 
uma espécie rara, um manancial)”, possuidores de regime jurídico próprio, de acordo com suas 
características. 
Assim, o meio ambiente é formado pelos bens ambientais, materiais ou corpóreos, tais 
como o solo, e também pelos processos ecológicos que devem ser considerados não em sua 
individualidade específica, mas como componentes – elementos suporte do equilíbrio ambiental, ou 
da qualidade do meio ambiente, objeto da tutela legal.”1 
Tal conceito pode ser interpretado como uma visão restrita de meio ambiente natural, pois 
omite aspectos relativos ao meio ambiente cultural e ao meio ambiente urbano, embora não os 
exclua. 
A carta constitucional de 1988 possui um capítulo próprio sobre o meio ambiente, formado 
pelo artigo 225 que versa sobre direito ao “meio ambiente ecologicamente equilibrado” enquanto 
um direito fundamental transindividual2, de terceira dimensão, um “direito de todos”, de titularidade 
difusa que impõe à sociedade e ao poder público a conservação para as presentes e futuras 
gerações. 
O meio ambiente é qualificado como “bem de uso comum do povo”, mas não simplesmente 
um bem público, como se poderia deduzir da classificação dos bens do Código Civil, mas um bem 
de interesse público, por impor a superação da simplificação operada pela dicotomia 
público/privado. 
Além do caput do artigo 225 e dos seus incisos e parágrafos, a Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988, mesmo sem trazer o conceito de meio ambiente, apresenta uma série 
de disposições que tratam da questão ambiental de forma ampla. 
O meio ambiente também é mencionado na CF em outros capítulos relacionados a: 
cidadania (art. 5 LXXIII), direitos dos trabalhadores (art. 7, XXII), atividade econômica (art. 170, VI), 
política urbana, agrária e a função social da propriedade (art. 182 e art. 186), o SUS e o meio 
ambiente do trabalho (art.200, VIII) e patrimônio cultural (Art. 216, V). Por essa amplitude de temas 
constitucionais onde o meio ambiente é abordado percebe-se que a Constituição adota a 
concepção ampla de meio ambiente, expandindo a abrangência do conceito estabelecido na 
PNMA. 
 
1 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 3ª Ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2014. 
2 Os direitos transindividuais, assim denominados por não pertencerem ao indivíduo de forma isolada, podem 
ser classificados em: direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Essa classificação foi inovação 
trazida pelo parágrafo único do artigo 81 do Código de Defesa do Consumidor: 
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: 
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza 
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; 
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de 
natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte 
contrária por uma relação jurídica base; 
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. 
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Boa parte da doutrina (bibliografia jurídica) nacional adota para fins didáticos a seguinte 
classificação de meio ambiente, relativa aos bens tutelados: meio ambiente natural, meio ambiente 
cultural, meio ambiente artificial ou urbano e meio ambiente do trabalho. 
 
a) Meio Ambiente Natural, 
Constituído pelos recursos naturais, como o solo, a água, o ar, a flora e a fauna, e pela 
correlação de cada um destes elementos com os demais. Ou seja, trata-se ao mesmo tempo do 
conjunto dos elementos como, também, de sua interação ecológica. Esse é o aspecto 
imediatamente ressaltado pelo citado inciso I do art. 3º da Lei nº. 6938, de 31 de agosto de 1981. 
Ressaltamos também o conceito de “recursos ambientais”: a atmosfera, as águas interiores, 
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da 
biosfera, a fauna e a flora . (Art. 3º V da Lei 6938/81). 
CF/88: Art.225, caput e parágrafos.b) Meio Ambiente Cultural, 
O meio ambiente cultural é o patrimônio histórico, artístico, paisagístico, ecológico, científico 
e turístico e constitui-se tanto de bens de natureza material, a exemplo dos lugares, objetos e 
documentos de importância para a cultura, quanto imaterial, a exemplo dos idiomas, das danças, 
dos cultos religiosos e dos costumes de uma maneira geral. 
CF/88: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e 
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à 
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as 
formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e 
tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às 
manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, 
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 
 
c) Meio Ambiente Artificial ou Meio Ambiente Urbano 
Construído ou alterado pelo ser humano, sendo constituído pelos edifícios urbanos, que são 
os espaços públicos fechados, e pelos equipamentos comunitários, que são os espaços públicos 
abertos, como as ruas, as praças e as áreas verdes. 
Conjunto de edificações = espaço urbano fechado 
Equipamentos públicos = espaço urbano aberto 
CF/88: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público 
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno 
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. 
 
d) Meio Ambiente do Trabalho 
Fatores físicos, químicos e biológicos presentes no local de trabalho. Condições ambientais 
do local de trabalho. 
Direitos dos trabalhadores de ter reduzido os riscos inerentes ao trabalho, por meio de 
normas de saúde, higiene e segurança (CF/88, art.7º, XXII). No sistema de saúde o meio ambiente 
do trabalho deve ser protegido (art.200, VIII). Segurança e meio ambiente do trabalho – CLT 
(Consolidação das Leis do Trabalho). Temática tratada na disciplina de Direito do Trabalho. 
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DADOS SOBRE QUESTÕES AMBIENTAIS DA ATUALIDADE3 
 
 Entre 1992 e 2010, a população mundial passou de cerca de 5 bilhões para perto de 7 bilhões, 
representando um aumento de 26%. Éramos 3 bilhões em 1960, 1 bilhão, em 1804 
 Estimativas apontam para uma população de 9 bilhões em 2050 que se estabilizará em torno dos 
10 bilhões de pessoas, após 2100. 
 Em 1992, 2,4 bilhões de pessoas viviam em cidades. Até 2009, o número subiu para 3,5 bilhões, 
um aumento de 45%. Um adicional de 1 bilhão de pessoas, cerca de novos 200 000 habitantes 
nas cidades por dia, o equivalente a 32 vezes a população de Tóquio. Atualmente, mais da 
metade da população do mundo vive em cidades. 
 O número de megacidades com pelo menos 10 milhões de pessoas passou de 10 em 1992 para 
21 em 2010. 
 Estima-se que em 2025, 70 % da população mundial vai estar nas cidades! 
 As emissões globais de C02 continuam a aumentando devido ao uso crescente de combustíveis 
fósseis. 
 80 % por cento das emissões globais provenientes de apenas 19 países. 
 A temperatura média global aumentou 0,4 ° C entre 1992 e 2010. 
 Quase todas as geleiras de montanha ao redor do mundo estão recuando e ficando mais finas, 
com sérios impactos sobre o meio ambiente e bem-estar humano. 
 O nível do mar tem aumentado a uma taxa média de cerca de 2,5 milímetros por ano desde 
1992. 
 O uso global de recursos naturais aumentou em mais de 40 % de 1992-2005. 
 A área de floresta primária (no planeta) diminuiu em 300 milhões de hectares desde 1990, uma 
área maior do que a Argentina. 
 A produção de alimentos cresceu 45% desde 1992. Esse crescimento é fortemente dependente 
do uso de fertilizantes, que podem, no curto prazo enriquecer a fertilidade do solo, mas que tem 
também um impacto negativo sobre o meio ambiente, pois em sua maioria são compostos por 
substâncias químicas artificiais. 
 Há uma preocupação crescente de que os oceanos estão se tornando mais ácidos. Isto poderia 
ter consequências significativas sobre os organismos marinhos que podem alterar a composição 
de espécies, perturbar cadeias alimentares marinhas e potencialmente danos pesca, as 
aditividades turísticas. 
 Biodiversidade diminuiu 12 % a nível global e em 30 % nos trópicos. 
 Atualmente os seres humanos consomem mais recursos do que a natureza pode recompor. 
 Desde 1970 as atividades humanas excedem a capacidade da biosfera. Em 1997 o excesso 
chegou aos 30% da capacidade suporte da Terra. 
 
 
 
 
3 Fonte: site do Geo 5 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) disponível no site: 
<http://www.unep.org/portuguese/geo/GEO5_Products.asp> 
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Os principais problemas ecológicos e humanos do planeta estão ligados a pobreza de 
muitos e o excesso de riqueza e consumo de poucos! 20% DA POPULAÇÃO CONSOME, 
aproximadamente 80% DOS RECURSOS. 
 
 
“As duas causas básicas da crise ambiental são a pobreza e o mau uso da riqueza: os 
pobres são compelidos a destruir, no curto prazo, precisamente os recursos nos quais se baseiam 
as suas perspectivas de subsistência a longo prazo, enquanto a minoria rica provoca demandas à 
base dos recursos que em última instancia são insustentáveis, transferindo os custos por sua vez 
aos pobres.” (Relatório do Brasil para a Conferencia das Nações Unidas sobre meio Ambiente e 
Desenvolvimento de 1992 
 
O mundo passa por duas crises: 
 
Crise ecológica: devastação e exploração desordenada do 
meio ambiente pelo homem. 
Crise de justiça social: fruto das imensas desigualdades 
sociais. 
 
 
 
Desafios para o futuro: Desenvolvimento e Meio Ambiente 
 
Como trazer desenvolvimento econômico e social para diminuir a pobreza enfrentada por 
grande parte da população mundial, sem degradar ainda mais o meio ambiente? 
 
Desenvolvimento “Socioeconômico” X Conservação do Meio Ambiente? 
 
Desenvolvimento X 
 
 Desenvolvimento econômico. 
 Desenvolvimento social: moradia, 
emprego, alimentação, educação, 
garantia de serviço de saúde... 
 Meio Ambiente 
 
 Conservação dos ecossistemas. 
 Equilíbrio ecológico 
 
 
Dica de Filme: Documentário “HOME”: https://www.youtube.com/watch?v=jvXTCpwU_YA 
 
 
 
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DESENVOLVIMENTO SUSNTETÁVEL E SUSTENTABILIDADE 
 
Atualmente o conceito de desenvolvimento sustentável4 possui uma pluralidade imensa de 
conotações e delineamentos. Contudo, a essência do conceito de desenvolvimento sustentável é 
utilizada na a maior parte dos autores, estudos e textos oficiais referem-se ao conceito publicado no 
documento conhecido como “Relatório Bruntland”, publicado em 1987 pela Comissão Mundial 
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento sob a denominação “Nosso Futuro Comum”5: 
 
Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem 
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias 
necessidades. Ele contém dois conceitos chaves: 
 o conceito de ‘necessidades’, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, 
que devem receber a máxima prioridade e: 
 a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõem ao 
meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras. (grifo nosso) 
 
Segundo o Relatório Brundtland o desenvolvimento sustentável é mais que crescimento. Ele 
exigeuma mudança no teor de crescimento, a fim de torná-lo menos intensivo em matérias-primas 
e energia e mais equitativo em seu impacto. Tais medidas precisam ocorrer em todos os países, 
como parte de um pacote de medidas para manter a reserva de capital ecológico, melhorar a 
distribuição de renda e reduzir o grau de vulnerabilidade às crises econômicas.6 
 
 
Pilares do Desenvolvimento Sustentável (“Tripé da sustentabilidade”). 
 
Atualmente, o conceito de desenvolvimento sustentável possui uma pluralidade imensa de 
conotações e delineamentos. Entretanto, muitos autores, empresas e instituições públicas e não 
governamentais apoiam-se no “tripé da sustentabilidade” (ou Triple Bottom Line), que seria o 
resultado do equilibro entre prosperidade econômica, a qualidade ambiental e a justiça social, 
primeiramente defendido na obra de John Elkington “Canibais de Garfo e Faca” que trouxe o 
conceito da sustentabilidade para o mundo dos negócios (empresas). 
 
 
4 Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), presidida pela a então 
primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, adotou o conceito de Desenvolvimento Sustentável em 
seu relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum), também conhecido como Relatório Brundtland. 
Esse novo conceito foi definitivamente incorporado como um princípio durante a Conferência das Nações 
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - a Cúpula da Terra de 1992 (Eco-92) - no Rio de Janeiro. 
Anterior ao conceito de desenvolvimento sustentável o termo “ecodesenvolvimento” nasceu durante os anos 
70, por causa da polêmica gerada na primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em 
Estocolmo (1972), entre aqueles que defendiam o desenvolvimento a qualquer preço, mesmo pondo em risco 
a própria natureza e os partidários das questões ambientais. O termo foi proposto por Maurice Strong e, em 
seguida, ampliado pelo economista Ignacy Sachs, que, além da preocupação com o meio ambiente, 
incorporou as devidas atenções às questões sociais, econômicas, culturais, de gestão participativa e ética. 
Como uma derivação do conceito, surgiu a ideia de desenvolvimento sustentável. 
(http://www.ecodesenvolvimento.org/ecodesenvolvimento/) 
5 COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro Comum. 2. ed. 
Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991. p.46 
6 Ibidem, p.56 
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A base em três dimensões fundamentais também está na concepção de desenvolvimento 
sustentável que mais tem influenciado as negociações internacionais: 1) equidade social, 2) 
prudência ecológica e 3) eficiência econômica7, inclusive mencionados na Declaração de 
Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável de 2002 como “três pilares interdependentes e 
mutuamente apoiados do desenvolvimento sustentável - desenvolvimento econômico, 
desenvolvimento social e proteção ambiental - nos âmbitos local, nacional, regional e global.” 
 
 
Triple Bottom Line e a Sustentabilidade nos negócios Pilares do Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
 
 
 Muitos veem a economia8 como a prioridade número um, seguida pelas necessidades 
sociais da população e a preocupação com o meio ambiente, muitas vezes colocado por último ou 
não considerado. Este é um modelo real de "insustentabilidade" está levando sociedades humanas 
a degradarem as condições materiais do planeta e de suas regiões para a manutenção da 
qualidade de vida das presentes e futuras gerações. 
Os círculos sobrepostos trouxeram ao conceito de desenvolvimento sustentável o equilíbrio 
entre imperativos econômicos, sociais e ecológicos. Mas existem aqueles que criticam tal 
percepção por não dar a real atenção a questão ecológica, colocada em pé de igualdade com as 
demais, mas que na verdade deveria ser considerada como o suporte para toda e qualquer 
estratégia de desenvolvimento.9 
Nenhuma economia pode existir sem a satisfação das necessidades básicas como água, ar 
e alimentos fornecidos pelo ambiente. Ademais, o meio ambiente fornece importantes serviços 
ecossistêmicos10 enquanto conjunto de benefícios que as pessoas obtêm da natureza direta ou 
 
7 STRONG, Maurice. Prefácio. In: SACHS, Ignacy. Estratégias para transição para o século XXI: 
desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Studio Nobel: Fundação do desenvolvimento administrativo, 
1993. 
8 A palavra economia deriva do grego oikonomía: oikos - casa, moradia; e nomos - administração, 
organização, distribuição. Deriva também do latim oeconomìa: disposição, ordem, arranjo. Com o passar dos 
anos, séculos, a palavra economia foi direcionada apenas à vertente dos negócios ou no sentido da 
poupança, economizar. Este pilar traz o retorno do significado de cuidar da casa, afincado pelos gregos na 
Antiguidade. 
9 VEIGA, José Eli da. A desgovernança mundial da sustentabilidade. Editora 34, São Paulo, 2013. 
10 A Avaliação Ecossistêmica do Milênio da ONU, publicada em 2005, criou uma classificação para os 
serviços ecossistêmicos, dividindo-os da seguinte forma: 1) Serviços de Provisão: os produtos obtidos dos 
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indiretamente, através dos ecossistemas, responsáveis por sustentar a vida no planeta e, por 
consequência, a qualidade de vida humana. 
Ser sustentável, significa viver dentro da capacidade do nosso meio ambiente (capacidade 
de suporte), manter uma sociedade tolerante, pacífica, inclusiva, funcionando e usando a economia 
como uma ferramenta para melhorar a vida e trazer oportunidades para as pessoas. 
 
SUSTENTABILIDADE 
 
Diferente da prática amplamente difunda de usar como sinônimos sustentabilidade e 
desenvolvimento sustentável pode-se afirmar que têm significados diferentes. O segundo conceito 
reforça a importância do desenvolvimento econômico na promoção da qualidade de vida humana, 
já o conceito de sustentabilidade pode ser utilizado de forma pontual nas ciências biológicas, como 
em um sentido amplo, relacionada a sustentabilidade da vida humana, ai sim próximo do conceito 
do desenvolvimento sustentável. O conceito de sustentabilidade é um conceito importado da 
ecologia, empregado amplamente entre os ambientalistas, no discurso político, em estudos 
acadêmicos, na estratégia empresariais... A ecologia ciência de onde surgiu o conceito, tem 
fundamentado suas propostas de sustentabilidade, principalmente, a partir dos estudos de ecologia 
de populações, ecologia de comunidades e da ecologia de ecossistemas. Ecologia é definida como 
o ramo da ciência que estuda as relações entre os seres vivos e seus respectivos ambientes, ao 
passo que Sustentabilidade é o ato de manter uma condição pelo tempo necessário à sua função, 
sem prejudicar as gerações futuras nem afetar negativamente outras ações. 
 
Texto para reflexão 
 
Sustentabilidade: adjetivo ou substantivo? 
Leonardo Boff 
É de bom tom hoje falar de sustentabilidade. Ela serve de etiqueta de garantia de que a 
empresa, ao produzir, está respeitando o meio ambiente. Atrás desta palavra se escondem 
algumas verdades, mas também muitos engodos. De modo geral, ela é usada como adjetivo e não 
como substantivo. 
Explico-me: como adjetivo é agregada a qualquer coisa sem mudar a natureza da coisa. 
Exemplo: posso diminuir a poluição química de uma fábrica, colocando filtros melhores em suas 
chaminés que vomitam gases. Mas a maneira com que a empresa se relaciona com a natureza 
donde tira os materiais para a produção, não muda; ela continua devastando; a preocupação não é 
com o meio ambiente, mas com o lucro e com a competição que tem que ser garantida. Portanto, a 
sustentabilidade é apenas de acomodação e não de mudança; éadjetiva, não substantiva. 
Sustentabilidade como substantivo exige uma mudança de relação para com a natureza, a 
vida e a Terra. A primeira mudança começa com outra visão da realidade. A Terra está viva e nós 
somos sua porção consciente e inteligente. Não estamos fora e acima dela como quem domina, 
mas dentro como quem cuida, aproveitando de seus bens, mas respeitando seus limites. Há 
interação entre ser humano e natureza. Se poluo o ar, acabo adoecendo e reforço o efeito estufa 
donde se deriva o aquecimento global. Se recupero a mata ciliar do rio, preservo as águas, 
 
ecossistemas. Exemplos: alimentos, água doce, fibras, produtos químicos, madeira. 2) Serviços de 
Regulação: benefícios obtidos a partir de processos naturais que regulam as condições ambientais. 
Exemplos: absorção de CO² pela fotossíntese das florestas; controle do clima, polinização de plantas, 
controle de doenças e pragas. 3) Serviços Culturais: São os benefícios intangíveis obtidos, de natureza 
recreativa, educacional, religiosa ou estético-paisagística. 4) Serviços de Suporte: Contribuem para a 
produção de outros serviços ecossistêmicos: Ciclagem de nutrientes, formação do solo, dispersão de 
sementes. 
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aumento seu volume e melhoro minha qualidade de vida, dos pássaros e dos insetos que polinizam 
as árvores frutíferas e as flores do jardim. 
Sustentabilidade como substantivo acontece quando nós fazemos responsáveis pela 
preservação da vitalidade e da integridade dos ecossistemas. Devido à abusiva exploração de seus 
bens e serviços, tocamos nos limites da Terra. Ela não consegue, na ordem de 30%, recompor o 
que lhe foi tirado e roubado. A Terra está ficando, cada vez mais pobre: de florestas, de águas, de 
solos férteis, de ar limpo e de biodiversidade. E o que é mais grave: mais empobrecida de gente 
com solidariedade, com compaixão, com respeito, com cuidado e com amor para com os 
diferentes. Quando isso vai parar? 
A sustentabilidade como substantivo é alcançada no dia em que mudarmos nossa maneira de 
habitar a Terra, nossa Grande Mãe, de produzir, de distribuir, de consumir e de tratar os dejetos. 
Nosso sistema de vida está morrendo, sem capacidade de resolver os problemas que criou. Pior, 
ele nos está matando e ameaçando todo o sistema de vida. 
Temos que reinventar um novo modo de estar no mundo com os outros, com a natureza, com 
a Terra e com a Última Realidade. Aprender a ser mais com menos e a satisfazer nossas 
necessidades com sentido de solidariedade para com os milhões que passam fome e com o futuro 
de nossos filhos e netos. Ou mudamos, ou vamos ao encontro de previsíveis tragédias ecológicas e 
humanitárias. 
Quando aqueles que controlam as finanças e os destinos dos povos se reúnem, nunca é para 
discutir o futuro da vida humana e a preservação da Terra. Eles se encontram para tratar de 
dinheiros, de como salvar o sistema financeiro e especulativo, de como garantir as taxas de juros e 
os lucros dos bancos. Se falam de aquecimento global e de mudanças climáticas é quase sempre 
nesta ótica: quanto posso perder com estes fenômenos? Ou então, como posso ganhar comprando 
ou vendendo bônus de carbono (compro de outros países licença para continuar a poluir)? A 
sustentabilidade de que falam não é nem adjetiva, nem substantiva. É pura retórica. Esquecem que 
a Terra pode viver sem nós, como viveu por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela. 
Não nos iludamos: as empresas, em sua grande maioria, só assumem a responsabilidade 
socio-ambiental na medida em que os ganhos não sejam prejudicados e a competição não seja 
ameaçada. Portanto, nada de mudanças de rumo, de relação diferente para com a natureza, nada 
de valores éticos e espirituais. Como disse muito bem o ecólogo social uruguaio E. Gudynas: “a 
tarefa não é pensar em desenvolvimento alternativo, mas em alternativas de desenvolvimento”. 
Chegamos a um ponto em que não temos outra saída senão fazer uma revolução 
paradigmática, senão seremos vítimas da lógica férrea do Capital que nos poderá levar a um 
fenomenal impasse civilizatório. 
 
Fonte: http://alainet.org/active/47203

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