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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO – UFRRJ INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR O TRATAMENTO URBANÍSTICO DA PROPRIEDADE PRIVADA NO DIREITO BRASILEIRO Trabalho realizado para a disciplina Direito Urbanístico – Departamento de Ciências Jurídicas, no segundo semestre de 2018. Pelos discentes: Larissa de Souza Costa. Mat: 2018775098; Mateus Marques Silva. Mat: 2018775039; Thais Bandeira cunha. Mat: 2018775505. Docente: Dr. Paulo Renato Fernandes da Silva. Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. 2018 O DIREITO DE PROPRIEDADE PRIVADA NO BRASIL 1. INTRODUÇÃO O direito urbanístico, por definição reflete a "um conjunto de medidas estatais destinadas a organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida ao homem na comunidade" (MEIRELLES, 2007, p. 511). Partindo desta premissa, os espaços habitáveis são compreendidos nos certames de atuação do direito urbanístico como: espaço público, espaços privados e locais de livre acessíveis ao público. De forma genérica, o espaço público - propriedade pública - é captado como todo e qualquer local de uso comum aos indivíduos. Desmembra-se desmembrado entre espaços públicos livres que corresponde a toda localidade de fato livre, onde o indivíduo pode gozar do seu direito de ir e vir e espaços públicos com restrição, que o indivíduo também tem seu direito de ir e vir garantido, mas com restrições formais devido às atividades exercidas na localidade, como por exemplo, hospitais públicos que tem alas restritas somente a funcionários. Ficando a tarefa de preservação e bom funcionamento das localidades ao encargo das instituições de controle estatal. Em contraponto aos espaços públicos, existe o espaço privada; todos os espaços que pertencem a determinado indivíduo, ou seja, localidades em que é vedado o direito de ir e vir coletivo, uma vez que o dono é uma pessoa particular e que sendo este dono adimplente com todas as responsabilidades que o imóvel exige, tem o direito de permitir ou não a entrada em sua propriedade. E como dito, fica a encargo do dono, a preservação e manutenção da localidade. E existem, também, os locais acessíveis ao público, que são propriedades privadas abertas ao público, por assim entender. Seria uma junção de parcelas dos conceitos de espaço público e espaço privado. Só que nestas localidades, para que haja a possibilidade do indivíduo ir e vir, o mesmo deve preencher os requisitos básicos estabelecidos pelo proprietário do imóvel. Como, por exemplo, o caso dos cinemas, que após a compra do ingresso, o indivíduo adquirir o direito de transitar pelo espaço. É de extrema importância salientar que estas localidades têm regras predeterminadas para sua abertura ao público, ou seja, quando o direito de ir e vir adquirido pelo público entra em conflito com as regras pré-estabelecidas pelo proprietário do imóvel, o dono tem direito de censurar o direito desse coletivo. 2. O SURGIMENTO DO DIREITO À TERRA Em sua concepção moderna, a propriedade tem um sentido de utilidade econômica, havendo sido concebida como poder absoluto sobre determinada coisa, segundo o código burguês de Napoleão. A propriedade passou a ser exigência natural de subsistência do indivíduo e “o mais sagrado de todos os direitos dos cidadãos e mais importante, de certa forma, do que a própria liberdade” na expressão de Rousseau chega a ser considerada, o fundamento do pacto social, e a condição sem a qual a sociedade não poderia subsistir, se cada qual não pudesse se manter tranquilo no gozo daquilo que lhe pertence. Ao se utilizar da expressão “direito à terra” tem-se por objetivo referir-se a um direito fundamental que ultrapassa a concepção do direito de propriedade concebido tradicionalmente pelo direito civil, e cujo conteúdo abrange os direitos ao acesso à terra e à manutenção da posse ou domínio, mas que também significa o direito as relações entre terra e sujeito, o direito à identidade cultural e à dignidade dos ocupantes das terras como, por exemplo, se observa na relação entre terra e populações nativas. 3. AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES SOBRE O DIREITO À TERRA NO BRASIL: A LEI DE SESMARIAS E A LEI DE TERRAS No período colonial, o direito à terra no Brasil foi exercido com base na legislação Portuguesa, a respeito do regime de sesmarias, em 1534 Dom João III implantou no Brasil o sistema de capitanias hereditárias, sendo uma das principais funções do capitão donatário dar todas as terras de suas capitanias em sesmarias a qualquer pessoa de qualquer condição. Pode-se observar que o Regime de Sesmarias tinha por objetivo o aproveitamento da terra, sendo considerada por Trecanni (2001) a primeira lei na história do Brasil que intentou algum tipo de reforma agrária e um conteúdo implícito do princípio da função social da terra, em que pese ter beneficiado prioritariamente a elite local, tendo em vista que a concessão de Sesmarias era feita de forma arbitrária. A posteriori, há também um relativo consenso em considerar o insucesso na lei de Sesmarias no Brasil, em geral, pela distorção da lei em função da disparidade entre a realidade da Metrópole e da Colônia. A Lei de Terras, como ficou conhecida a lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, foi à primeira iniciativa no sentido de organizar a propriedade privada no Brasil. Até então, não havia nenhum documento que regulamentasse a posse de terras e com as modificações sociais e econômicas pelas quais passava o país, o governo se viu pressionado a organizar esta questão. A Lei de Terras foi aprovada no mesmo ano da lei Eusébio de Queirós, que previa o fim do tráfico negreiro e sinalizava a abolição da escravatura no Brasil. Grandes fazendeiros e políticos latifundiários se anteciparam a fim de impedir que negros pudessem também se tornar donos de terras. Chegavam ao país os primeiros trabalhadores imigrantes. Era a transição da mão de obra escrava para assalariada. Senão houvesse uma regulamentação e uma fiscalização do governo, de empregados, estes estrangeiros se tornariam proprietários, fazendo concorrência aos grandes latifúndios. Ficou estabelecido, a partir desta data, que só poderiam adquirir terras por compra e venda ou por doação do Estado. Não seria mais permitido obter terras por meio de posse, a chamada usucapião. Aqueles que já ocupavam algum lote receberam o título de proprietário. A única exigência era residir e produzir nesta localidade. 4. ALGUNS DISPOSITIVOS DA LEI DE TERRAS “Art. 1º – Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas (terras do Estado) por outro título que não seja o de compra. Excetuam-se as terras situadas nos limites do Império com países estrangeiros em uma zona de 10 léguas, as quais poderão ser concedidas gratuitamente”. “Art. 12 – O Governo reservará das terras devolutas as que julgar necessárias para a colonização dos indígenas; para a fundação de povoações, abertura de estradas, e quaisquer outras servidões, e assento de estabelecimentos públicos; para a construção naval”. “Art. 18 - O Governo fica autorizado a mandar vir anualmente à custa do Tesouro certo número de colonos livres para serem empregados, pelo tempo que for marcado, em estabelecimentos agrícolas, ou nos trabalhos dirigidos pela Administração pública, ou na formação de colônias nos lugares em que estas mais convierem; tomando antecipadamente as medidas necessárias para que tais colonos achem emprego logo que desembarcarem”. 5. O DIREITO À TERRA NO REGIME MILITAR: OS PLANOS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E O ESTATUTO DA TERRA O RegimeMilitar que teve como uma de suas principais características a emergência do modelo de gestão por meio dos planos econômicos. Nesse sentido, os diversos planos de desenvolvimento para o Brasil também são elementos críticos na estruturação da realidade fundiária nacional, principalmente para a Amazônia, nesse sentido o primeiro e o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, que tiveram grande importância na conformação do espaço geográfico brasileiro. No âmbito legal, a maior alteração trazida pelo período militar, certamente foi o advento da Lei n.º 4.504 de 1964, Estatuto da Terra. O advento Dessa lei trouxe para todos os fins legais a classificação dos imóveis rurais, acrescentando a previsão da Constituição Federal de 1988 à pequena e média propriedade, além da propriedade produtiva. Essa lei tinha, claramente, a intenção de trazer maior organização jurídica ao espaço fundiário brasileiro, ao classificar os tipos de imóveis existentes e trazer regras e institutos jurídicos até então inexistentes. Deste modo o imóvel rural passou a ser classificado em propriedade familiar, módulo rural, minifúndio, latifúndio e empresa rural. 6. O DIREITO A PROPRIEDADE NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 A propriedade privada é direito fundamental do homem, sendo garantida pela constituição de 1988, no artigo Art. 5° “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”, no entanto está condicionada ao atingimento da sua função social. A Carta de 1988 prevê o conteúdo do cumprimento de tal requisito, que uma vez realizado, serve de garantia ao direito de propriedade. Para a propriedade privada rural, a função social é atingida mediante a produtividade, mas também o respeito aos trabalhadores e ao meio ambiente, caso contrário, abre-se a possibilidade de desapropriação com fins de reforma agrária. Nela o objetivo principal é realizar justiça social através da promoção do acesso à moradia. O Estatuto da Cidade é a lei que regulamenta o parcelamento e organização do solo urbano e função social da propriedade urbana, prevendo seu conteúdo e elencando as sanções impostas ao seu descumprimento. Dentro desse contexto é que o Código Civil de 2002 regulamenta a propriedade privada urbana e insere em seu conteúdo os princípios constitucionais. 7. O DIREITO À PROPRIEDADE PRIVADA NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO DE 2002 Com o passar dos anos, diante de todos os anseios sociais por uma justa distribuição de riquezas e, ainda, pela necessidade social de que o Estado interviesse nessas questões, o direito de propriedade deixou de ser absoluto para se tornar relativo. Foi o que demonstrou o Código de 2002, que trouxe ao direito de propriedade conotações diferentes, impregnadas de noções de sociabilidade e solidariedade. Assim, apesar de o direito de propriedade se constituir em direito real, oponível erga omnes, atualmente o direito brasileiro criou o instituto da função social da propriedade, que condiciona o exercício daquele ao cumprimento da função social, pois não será admitida a sub utilização dos bens, desvinculada de qualquer compromisso social e econômico. Dessa forma, toda a legislação também fora adaptada à nova realidade, de forma que o direito de propriedade (casse sempre delimitado pelo cumprimento da função social, conforme se depreende da leitura do art. 1.228, §§1º e 2º do CC: Art. 1.228. (...) § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a /ora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. 8. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA PROPRIEDADE 1º - Oponibilidade erga omnes: o direito de propriedade é oposto contra qualquer pessoa da sociedade humana que o viole – caráter absoluto. 2º - Publicidade: o direito de propriedade só é oponível quando se torna público, e a propriedade se torna pública pelo registro. O registro dá publicidade à propriedade. 3º - Perpetuidade: o direito de propriedade é perpétuo. Não é obrigatório. A propriedade só desaparece por vontade do proprietário ou por determinação legal. Existe uma exceção que é a propriedade resolúvel. 4º - Exclusividade: não é um princípio absoluto. Exceção: condomínio. 5º - Elasticidade: a propriedade pode se distender ao máximo ou comprimir ao máximo à vontade do proprietário. Quando o proprietário detém todos os poderes, há a propriedade plena. Quando um dos poderes é retirado do proprietário, chama-se propriedade limitada, o mesmo que direito reais sobre coisas alheias. Ex: superfície, usufruto, hipoteca. 9. CONCLUSÃO É fatídico que a evolução conceitual do direito à propriedade sofreu mutações no decorrer do percurso da história humana, mas sempre sendo salvaguardado. No Brasil as tentativas de ampliar e aperfeiçoar a destruição e garantia do direito à terra teve tanto lados positivos como negativos e vem com o decorrer da evolução social e - consequentemente judiciária -, aprimorando-se e tentado sanar uma parcela das heranças negativas vindas desde a fase da colonização. O direito urbanístico é uma das novidades nascidas com o amadurecimento da sociedade brasileira. Uma nova atividade do direito incumbida ao poder público. Um ramo que preza pela fiscalização da função social da propriedade e da boa apresentação da área urbana. São muitas as parceiras entre os órgãos públicos para a boa manutenção das regiões urbanas. Um exemplo nítido foi à parceria feita entre comunidade Santa Marta e a prefeitura da cidade do Rio em que houvera uma cooperação para terminar obras básicas de estéticas dos imóveis, como os acabamentos gerais das casas, a pintura. Tudo isso para dar uma melhora na condição estrutural da casa e uma estética agradável aos bairros. Tais reformas são necessárias, pois com a evolução do direito urbanístico foram criados códigos e estatutos municipais de postura que exigem o zelo urbanístico da propriedade privada. Evidente que estas parcerias não excluem o dever do proprietário de manter sua propriedade em concomitância com as normas estipuladas por seu respectivo município. Cabendo ao ente público punir por intermédio de multas os proprietários inadimplentes. Portanto, a luz do direito urbanístico, a propriedade privada é influência e deve garantir desde os princípios básicos de sua função social, até a comunhão com as normais estéticas e funcionais positivadas pelas normas e códigos municipais. BIBLIOGRAFIA: Código civil, 2002, acesso: 06 de outubro de 2018. Constituição federal, 1988, acesso: 29 de outubro de 2018. Direito urbanístico brasileiro, 7º edição, José Afonso da Silva <http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/16/dir eitosreais_75.pdf>; acesso: 28 de outubro de 2018. <https://jus.com.br/artigos/54865/o-direito-de-propriedade-no-brasil>; acesso: 07 de novembro de 2018.