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Direitos Coisas I
MATERIAL DE APOIO
7º Período
Curso Direito Unipac/JF
Profª Me. Joseane Pepino de Oliveira profjoseanepepino@gmail.com
Sumário
Da constitucionalização do direito 	2 CAPÍTULO I - Direito das Coisas 	6
1.1. Introdução 	6
1.2. Tabela comparativa entre direitos reais e direitos obrigacionais 	6
1.3. Características 	7
1.4. Situações Intermediárias 	8
CAPÍTULO II – POSSE 	8
2.1. Teoria da aparência 	8
2.2. Elementos caracterizadores 	9
2.3. Teorias sobre a posse 	9
2.4. Conceito, objeto e natureza jurídica 	10
2.4.1 Conceito 	10 2.4.2- Objeto 	12 2.4.3- Natureza jurídica 	12
2.4.4. Classificação da posse 	13
2.5. Modos de aquisição da posse 	15
2.6. Quem pode adquirir a posse 	15
2.7. Perda da posse – 1223 a 1224 	16
2.8 Efeitos da posse (CC arts. 1.210 a 1.222) 	16
2.8.1 – Proteção possessória 	17 Autodefesa: 	17
2.8.2. Percepção de frutos 	19
2.8.3. Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa 	20
2.8.4. Indenização por Benfeitorias e Direito de Retenção 	20
CAPÍTULO III - PROPRIEDADE 	21
3.1. História da propriedade 	21
3.2 Fundamento Jurídico 	21
3.3 - Elementos constitutivos 	21 3.4- Características do direito de propriedade 	22 3.5- Espécies de propriedade 	22
3.6- Limitações ao Direito de Propriedade 	23
3.6.1. Função social: 	23
3.6.2. Desapropriação e requisição: 	29
3.6.3. Limitações administrativas 	30
3.6.5. Coibição ao abuso do direito de propriedade: 	33
3.7 Da descoberta –arts 1233 e seg 	34 3.8- Formas de aquisição da propriedade 	34
3.8.1- Formas de aquisição de bens imóveis 	34 I- Registro. Ver Lei 6015/73 	34
a) Acessão pela formação de ilhas 	40
b) Aluvião 	40
c) Avulsão 	40
d) Álveo abandonado 	41
e) Acessões industriais: construções e plantações 	41 III – Usucapião 	42
a) Usucapião extraordinária 	43
b) Usucapião ordinária 	44
c) Usucapião rural ou pró-labore- CF art 191 – CC 1239 	44
d) Usucapião urbana ou pró-moradia – CF 183 – CC1240 	44
e) Usucapião de meação 	45
f) Usucapião urbana individual – art 9º Estatuto da Cidade – Lei 10257/01 	44
g) Usucapião coletiva – art 10 Estatuto da Cidade – Lei 10257/01 	44
Ação de Usucapião 		45 3.8.2- Formas de Aquisição da Propriedade Mobiliária (CC , arts. 1.260 a 1.274). 		48 I- Ocupação ( art. 1.263) 	48
II- Achado do tesouro (arts. 1.264 a 1.266). 	48 III- Usucapião (art. 1.260 a 1.262). 	48 IV- Tradição (arts. 1.267 e 1.268). 	48 VI- Especificação (arts. 1.269 a 1271). 	49 VII- Confusão / Comistão e Adjunção (arts. 1.272 a 1.274). 	49
3.9 Perda da propriedade 	50
3.9.1. Alienação 	50
3.9.2. Renúncia 	50
3.9.4. Abandono ou derrelição 	50
3.9.5. Desapropriação 	51
Processo de desapropriação 	51
4. Direitos de vizinhança 	52
4.1 Do uso anormal da propriedade 	52
4.2. Das árvores limítrofes 	53
4.3. Da passagem forçada 	54
4.4. Passagem de cabos e tubulações 	54
4.5. Das Àguas 	54
4.6. Dos limites entre prédios e do direito de tapagem (CC arts. 1.297 e 1.298) 	55
4.7. Direito de Construir 	56 BIBLIOGRAFIA BÁSICA 	57
Da constitucionalização do direito
“Diante da promulgação do Código, deve-se construí-lo interpretativamente, com paixão e criatividade, no sentido de buscar a sua máxima eficácia social, harmonizando-o com o sistema normativo civil-constitucional. Um novo tempo não se realiza com a produção de leis novas, desconhecendo-se a identidade cultural da sociedade. É preciso que se ofereça aos profissionais do Direito, com esforço e inteligência, a interpretação mais compatível com a Constituição da República, com os valores da sociedade, com a experiência do Direito vivo, forjado, em grande parte, pelos magistrados. Assim será possível verificar criticamente os aspectos que poderiam estar melhor redigidos, ou que poderiam estar regulados de outra maneira, procurando, de todo modo, esgotar as possibilidades hermenêuticas de lege lata” (TEPEDINO, Gustavo).
 (
2
)
29):
Conforme descrito por Flavio Tartuce em seu livro sobre o Direito das Coisas (p. 26 a
De imediato, ao consagrar os direitos da pessoa humana, tidos como fundamentais,
enuncia o art. 5.º, caput, da CF/1988 que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)
XXII – é garantido o direito de propriedade;
XXIII – a propriedade atenderá a sua função social”.
Em suma, o que se percebe é que o direito de propriedade é um direito triplamente fundamental, devendo ele atender aos interesses sociais. Como entendeu o próprio Supremo Tribunal Federal, “O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe é inerente (CF, art. 5.º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada, observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados na própria Constituição da República.
O acesso à terra, a solução dos conflitos sociais, o aproveitamento racional e adequado do imóvel rural, a utilização apropriada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente constituem elementos de realização da função social da propriedade” (STF, ADI 2.213-MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 04.04.2002, DJ 23.04.2004). O conceito de hipoteca social é bem interessante, tanto do ponto de vista teórico quanto do didático, para demonstrar a amplitude da expressão função social da propriedade, concebida na perspectiva civil- constitucional. Há, portanto, em nosso ordenamento jurídico, uma ampla proteção da propriedade, seja no tocante aos interesses individuais do proprietário, ou no que toca à proteção dos direitos da coletividade, o que também exprime muito bem o conteúdo de sua função social. Quanto ao indivíduo em si, relembre-se a previsão do inc. XI do próprio art. 5.º da CF/1988, segundo o qual “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. A tutela da residência, nesse
sentido, pode expressar a proteção da propriedade, o que entrelaça os direitos reais aos direitos existenciais de personalidade. A conclusão é a mesma quando se lê o art. 6.º, caput, da CF/1988, comando legal consagrador do direito social à moradia, de acordo com a ideia de patrimônio mínimo (FACHIN, Luiz Edson. Estatuto jurídico..., 2001).
Não obstante, conforme afirmado outrora, o direito de propriedade, como um direito subjetivo, não é absoluto. Justamente por isso, o inc. XXV do art. 5.º do Texto Maior preconiza que no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano. No aspecto objetivo, expressa o art. 170, também da Constituição Federal, que “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) II – propriedade privada; III – função social da propriedade; IV – livre concorrência”. De acordo com esse dispositivo, a proteção da propriedade e o princípio da função social devem ser aplicados em harmonia com os demais princípios da ordem econômica, caso da livre iniciativa.
A defesa do meio ambiente, constante do inc. VI do referido artigo também entra em cena para a devida ponderação entre os princípios e a valorização da propriedade conforme se pronunciou o Supremo Tribunal Federal:
“A atividade econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a proteção ao meio ambiente. A incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, estásubordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que privilegia a ‘defesa do meio ambiente’ (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio ambiente cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral. Doutrina. Os instrumentos jurídicos de caráter legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que provocaria inaceitável comprometimento da saúde, segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental, considerado este em seu aspecto físico ou natural” (STF, ADI 3.540/MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 1.º.09.2005, DJ 03.02.2006).
No tocante às políticas urbanas, estas devem ser executadas pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tendo por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes (art. 182, caput, da CF/1988). Esse comando constitucional também guarda relação com o bom exercício do direito de propriedade, estando a política urbana regulamentada pelo Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001). No que concerne ao plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal e obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, trazendo claras limitações ao exercício da propriedade (art. 182, § 1.º, da CF/1988). Isso porque a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor (art. 182, § 2.º, da CF/1988). Ainda em relação a tais restrições, mais especificamente, enuncia o § 4.º do mesmo art. 182 do Texto Maior que é facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
a) Parcelamento ou edificação compulsórios
b) Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo
c) Desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Como é notório, a usucapião igualmente está tratada na Constituição Federal de 1988. O art. 183 da CF/1988 consagra a usucapião constitucional ou especial urbana (pro misero), ao preceituar que “Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”. Ato contínuo, a usucapião constitucional ou especial rural (pro labore) consta do art. 191 do mesmo Texto Fundamental que dispõe: “Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade”. Anote-se que ambos os dispositivos tiveram o cuidado de prever que os bens públicos não podem ser objeto de usucapião (arts. 183, § 3.º, e 191, parágrafo único, da CF/1988.
Sem prejuízo de tudo isso, consta também da Constituição da República uma ampla proteção da propriedade agrária, estando em tal seção dispositivos fulcrais para a compreensão da função social da propriedade. O art. 184 da CF/1988 trata da desapropriação do imóvel rural para fins de reforma agrária, toda vez em que o imóvel não esteja cumprindo a sua função social. O seu art. 186 enuncia os requisitos para o cumprimento dessa finalidade, a saber:
a) Aproveitamento racional e adequado.
b) Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente.
c) Observância das disposições que regulam as relações de trabalho.
d) Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Também dentro da questão agrária, o art. 185 da CF/1988 protege alguns bens, insuscetíveis de desapropriação para esses fins: a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; e a propriedade produtiva. O último dispositivo é criticado pelos doutrinadores agraristas de forma contundente, pela menção à propriedade produtiva, conceito que sempre suscita debates. Explica Elisabete Maniglia que “percebe-se que o texto constitucional traz em seu bojo, aspectos de avanços quando trata da função social em diversas passagens constitucionais com ênfase, inclusive nos direitos e garantias fundamentais. O art. 5.º, incisos XXII e XXIII, é exemplo já que deixa claro: que a propriedade é protegida, mas terá que cumprir a função social. Todavia, no texto agrário embarca a questão e cria uma antinomia ao inicialmente discorrer que toda a propriedade que não cumprir a sua função social será desapropriada (art. 184) para, em seguida, vetar a desapropriação nas terras produtivas, pequenas e médias. Retroagiu-se, dessa forma, no que o legislador avançou criando uma expectativa em cumprimento da função social e, em seguida, arrependido, preocupado em desagradar grupos aliados, vetou, de uma forma bem parcial, o que seria o interesse da maioria” (MANIGLIA, Elisabete. Atendimento..., O direito..., 2006, p. 29). Mais além, diz a citada autora que o legislador criou a esperança de que a função social
seja cumprida, ao mesmo tempo em que a retirou, ao mencionar a propriedade produtiva. Tem razão a jurista, em uma análise social do tratamento constitucional e dos conflitos de terra que envolvem o ambiente rural brasileiro. Entre os civilistas, para solucionar essa suposta antinomia, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald propõem que o termo produtividade seja analisado no sentido de uma “propriedade solidária, que simultaneamente satisfaça os parâmetros econômicos de seu titular, sem com isto frustrar os interesses metaindividuais. Aliás, assim se manifesta o art. 9.º da Lei 8.629/1993, ao reiterar a norma constitucional em apreço” (FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direitos reais..., 2006, p. 223).
O dispositivo infraconstitucional citado repete o art. 186 da Constituição Federal. Em reforço, compartilhando do mesmo entendimento, explica Gustavo Tepedino que “A produtividade, para impedir a desapropriação, deve ser associada à realização de sua função social. O conceito de produtividade vem definido pela Constituição de maneira essencialmente solidarista, vinculado ao pressuposto da tutela da propriedade. Dito diversamente, a propriedade, para ser imune à desapropriação, não basta ser produtiva no sentido econômico do termo, mas deve também realizar a sua função social. Utilizada para fins especulativos, mesmo se produtora de alguma riqueza, não atenderá a sua função social se não respeitar as situações jurídicas existenciais e sociais nas quais se insere” (Contornos..., Temas..., 2004, p. 311).
A propriedade, seja ela urbana ou rural, assim como ocorre com os demais institutos privados, deve ser interpretada e analisada de acordo com o meio que a cerca, com os valores de toda a coletividade. Sendo assim, a propriedade deve atender não somente aos interesses do seu dono, mas também das pessoas que compõem a sociedade. O solidarismo constitucional, previsto no art. 3.º, I, do Texto Maior, deve entrar em cena para o preenchimento do conceito de função social. No que concerne aos critérios constantes do art. 186 da CF/1988, devem servir também para a propriedade urbana, eis que o art. 182 da CF/1988 não traz parâmetros claros e definidos para o preenchimento da função social desta. Por certo é que essas ideiassão revolucionadoras, uma vez que a propriedade, em nosso País, historicamente, sempre foi utilizada para atender aos interesses das minorias, detentoras de poder e do capital. Cabe, em parte, à elite intelectual a mudança dessa perspectiva, para a construção de uma sociedade mais justa e solidária, conforme ordena o Texto Constitucional. O desafio é das presentes e futuras gerações, para a construção de um País melhor. O que se percebe, nessa preliminar análise do Texto Fundamental, é uma ampla previsão quanto ao atendimento da função social e socioambiental da propriedade, nas esferas urbana e rural. Conforme será devidamente estudado, essa função social e socioambiental consta expressamente do art. 1.228, § 1.º, do atual Código Civil. Sendo assim, devem os estudiosos da matéria estar atentos a essa preocupação constitucional, no sentido de atender aos interesses dos indivíduos e, sobretudo, da coletividade, na persecução prática da efetivação do direito de propriedade. As questões relativas aos direitos reais devem ser encaradas sob o prisma da dignidade da pessoa humana (art. 1.º, III, da CF/1988), da solidariedade social (art. 3.º, I, da CF/1988) e da isonomia ou igualdade lato sensu (art. 5.º, caput, da CF/1988).
CAPÍTULO I - Direito das Coisas
1.1. Introdução
Existe uma diferenciação entre as denominações “Direito das Coisas” capítulo descrito no Livro III do Código Civil de 2002 e “Direitos Reais” expressão cunhada por Savigny.
Por direitos reais Clóvis Beviláqua conceituava no Código Civil de 1916 como sendo “o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas suscetíveis de apropriação pelo homem”.
	
	Coisas e bens – A diferença entre bens e coisas é relação de gênero e espécie. Sendo
	bens o gênero que envolve tanto aqueles com expressão econômica quanto os sem valor
	econômico. Já coisas conforme o conceito acima seriam as que possuem valor econômico,
	sendo assim ficariam restritas aos bens materiais.
	
O Direito das Coisas é, assim, para sumarizar, uma parte ou um ramo do Direito que disciplina (isto é, que confere uma normativa, uma estruturação deontológica), um particular dado fenomênico: o contato da pessoa humana com as coisas, principalmente aquelas de caráter material. Sabe-se, entretanto, que este contato interessa ao direito na medida em que desencadeia e projeta consequências para além do mero contato sujeito/objeto em sua singularidade. Há relevância jurídica do processo apropriatório de alguém em relação a alguma coisa na medida em que há ou pode haver repercussões dessa prática na posição ou situação jurídica de outros indivíduos que sejam estritamente derivadas deste processo (PENTEADO, Luciano de Camargo. Apud TARTUCE).
Direitos Reais pode ser conceituado como sendo as relações jurídicas estabelecidas entre pessoas e coisas determinadas ou determináveis, tendo como fundamento principal o conceito de propriedade, seja ela plena ou restrita.
1.2. (
DIREITOS REAIS
DIREITOS OBRIGACIONAIS
Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativo) e uma coisa. O sujeito passivo não é determinado, é toda a coletividade.
)Tabela comparativa entre direitos reais e direitos obrigacionais
 (
Relações jurídicas entre uma pessoa (sujeito ativo – credor) e outra (sujeito passivo – devedor).
)
Princípio da
 (
registro)
Princípio da
) (
Mediatividade
) (
Imediatividade
) (
Relativo
) (
Absoluto ( eficácia erga omnes)
) (
autonomia privada (liberdade).
) (
publicidade (tradição e
)(eficácia inter partes)
 (
Atributivo (um só sujeito)
) (
Cooperativo (conjunto de sujeitos)
)
 (
Permanente
) (
Transitório
)
	Direito de sequela – a coisa responde
	Patrimônio do devedor como garantia – todos
	
	os bens do devedor respondem
	
	Numerus clausus
	Numerus apertus
	Jus in re (direito a coisa)
	Jus ad rem (direito a uma coisa)
	Objeto: a coisa
	Objeto: a prestação
1.3. Características
Sob outra perspectiva, com fundamento na doutrina do professor ARRUDA ALVIM, tem-se as seguintes características dos direitos reais, para distingui-los dos direitos de natureza pessoal:
a) legalidade ou tipicidade – os direitos reais somente existem se a respectiva figura estiver prevista em lei (art. 1225, CC- 02 e arts. 524 e 674, CC-16);
b) taxatividade – a enumeração legal dos direitos reais é taxativa, ou seja, não admite ampliação pela simples vontade das partes; porém conforme Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald que “a rigidez na elaboração de tipos não é absoluta. Nada impede que o princípio da autonomia privada possa, no âmbito do conteúdo de cada direito real, ainda que em pequena escala, intervir para a afirmação de diferentes modelos jurídicos, com base nos espaços consentidos em lei. Desde que não exista lesão a normas de ordem pública, os privados podem atuar dentro dos tipos legais, utilizando a sua vontade criadora para inovar no território concedido pelo sistema jurídico, modificando o conteúdo dos direitos reais afirmados pela norma.
Art. 1.225. São direitos reais:
I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor;
IX - a hipoteca; X - a anticrese.
XI- a concessão de uso especial para fins de moradia; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
XII - a concessão de direito real de uso; e (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
XIII - a laje. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
 (
formal de registro, que lhes imprime esta característica;
) (
publicidade 
– primordialmente para os bens imóveis, por se submeterem a um sistema
)c)
 (
titular de direitos pessoais ou obrigacionais;
) (
prerrogativa;
)
 (
e)
f)
1.4. Situações Intermediárias
CAPÍTULO II – POSSE
2.1.
) (
eficácia erga omnes 
– os direitos reais são oponíveis a todas as pessoas,
indistintamente. Esta eficácia erga omnes deve ser entendida com ressalva, apenas no
aspecto de sua oponibilidade, uma vez que o exercício do direito real – até mesmo o de
propriedade, mais abrangente de todos – deverá ser sempre condicionado (relativizado)
pela ordem jurídica positiva e pelo interesse social, uma vez que não vivemos mais a
era da ditadura dos direitos;
)d)
	inerência ou aderência – direito real adere à coisa, acompanhado-a em todas as suas
	mutações. Esta característica é nítida nos direitos reais em garantia (penhor, anticrese,
	hipoteca), uma vez que o credor (pignoratício, anticrético, hipotecário), gozando de um
	direito real vinculado (aderido) à coisa, prefere outros credores desprovidos desta
	sequela – como consequência da característica anterior, o titular de um direito real
	poderá perseguir a coisa afetada, para buscá-la onde se encontre, e em mãos de quem
	quer que seja. É aspecto privativo dos direitos reais, não tendo o direito de sequela o
 (
As
 
obrigações
 
prompter
 
rem,
 
mistas
 
ou
 
ambulatórias
 
constituem
 
uma
 
figura
 
distinta
 
dos
direitos reais e obrigacionais pois possui característica de ambos. “Trata-se de obrigações em
que a pessoa do credor ou do devedor individualiza-se não em razão de um ato de autonomia
privada, mas em função da titularidade de um direito real” (FARIAS e ROSENVALD).
São exemplos os impostos IPTU e IPVA, taxas condominiais, direitos de vizinhança,
direitos ambientais.
)
 (
Teoria da aparência
)
	– a posse é a exteriorização da propriedade, que é o principal direito real; existe uma
	presunção de que o possuidor é o proprietário da coisa. Olhando para uma pessoa, presume-
	se que as roupas e livros que está usando (possuindo) são de sua propriedade, muito embora
	possam não ser, pois podem ser emprestadas, ou até mesmo alugadas. A aparência é a de
	que o possuidor é o dono, ainda que não seja.
	
	- a posse precisa ser estudada e protegida para evitar violência e manter a paz social;
	assim se você não defende seus bens (§ 1o do art. 1210) e perde a posse deles, você não
	pode usar a força para recuperá-los, precisa pedir à Justiça. Você continua proprietário dos9
	seus bens, mas para recuperar a posse da coisa esbulhada só através do Juiz, para evitar
	violência.
	
	– a posse existe no mundo antes da propriedade, afinal a posse é um fato que está na
	natureza, enquanto a propriedade é um direito criado pela sociedade; os homens primitivos
	tinham a posse dos seus bens, a propriedade só surgiu com a organização da sociedade e o
	desenvolvimento do direito.
	
 (
ANIMUS
 – é o elemento volitivo, que consiste na intenção do possuidor de exercer o direito
2.3. Teorias sobre a posse
como se proprietário fosse, de sentir-se o dono da coisa, mesmo não sendo.
CORPUS
 – é o elemento que se traduz no controle material da pessoa sobre a coisa, podendo
dela imediatamente se apoderar, servir e dispor.
)2.2. Elementos caracterizadores
	Savigny – Sua teoria é simples. A posse consiste no poder exercido sobre determinada coisa,
	com a intenção, o propósito, de tê-la para si. Seu conceito pode ser decomposto em dois
	elementos: animus (a intenção de domínio, a vontade de ter a coisa como sua) e corpus (o
	poder, o contato direto sobre a coisa, a apreensão física da “res”). Por ser carregada de
	subjetivismo, esta teoria foi duramente criticada por Ihering. Ademais, não explicava bem a
	posse indireta, eis que a noção de “corpus” não estaria nítida. A despeito de suas falhas,
	indiscutivelmente, esta teoria influenciou-e influencia – inúmeros sistemas no mundo.
	
	Ihering – Seu pensamento é um pouco diferente. A posse não precisaria ser decomposta em
	dois elementos, pois o corpus não seria requisito independente. Seria um elemento implícito.
	Posse é, simplesmente, em uma análise objetiva, a exteriorização da propriedade. Em outras
	palavras, possuidor é a pessoa que exerce poderes de proprietário, imprimindo destinação
	econômica à coisa. Por considerar irrelevante a prova do animus – intenção de ter a coisa como
	sua -, esta teoria conseguiu explicar, de maneira bem mais satisfatória, a posse indireta.
	
	
	O Código Civil Brasileiro, ao regular a posse, em seu art. 1196, optou, pela teoria
	objetiva (constitucionalmente reconstruída com base no princípio da função social), mas,
	em diversos dispositivos, deixa-se influenciar pela corrente saviniana, a exemplo da disciplina
	da usucapião (vide, v.g., no art. 1238, a referência inequívoca feita ao animus: “possuir como
	seu”).
	
 (
Função social da posse
Não é apenas a propriedade que deve atender a sua função social. Como ensina Fachin, não se pode restringir a noção de posse à mera exteriorização da propriedade, noção estreita do liberalismo clássico, porque cronologicamente a propriedade começou pela posse. Além disso, a posse assumiu outra perspectiva, qual seja, a de uma concessão à necessidade da
 
pessoa.
)
 (
Lembra Hernández Gil que a posse apresenta uma f unção social que deve ser reconhecida pelo ordenamento jurídico porque a legislação tem de corresponder à realidade da sociedade e, quando possível, até mesmo modificar as suas
 
estruturas.
Como a posse qualificada viabiliza uma nova situação jurídica, qual seja, a de transformar o mero possuidor em proprietário de um bem pelo decurso do tempo fixado em
 
lei (a tal fenômeno dá-se o nome de “usucapião”), deve- se proceder à revisão legislativa dos prazos para a aquisição por usucapião, além daquela já realizada pelo Código Miguel Reale, outorgando- se meios alternativos ao seu
 
reconhecimento.
Assim, pode-se afirmar que há uma função social da posse, que não se confunde com a função
 
social
 
da
 
propriedade,
 
cujo
 
tratamento
 
legislativo
 
deve
 
compatibilizar-se
 
com
 
a
 
outorga do patrimônio mínimo que possa garantir a dignidade
 
humana.
Nesse sentido, urge que se proceda a um redimensionamento da figura da usucapião, além daquele conferido pelo novo Código.
Além disso, a Constituição Federal estabelece que a redução das desigualdades sociais e a busca da erradicação da pobreza são objetivos a serem alcançados pela República e pela sociedade civil.
A função social da posse é consagrada, ainda, por meio da Política Nacional Agrária e da Política Nacional Urbana, para os fins de redimensionamento das áreas rurais e urbanas no território brasileiro.
)
2.4. Conceito, objeto e natureza jurídica
2.4.1 Conceito
a) Posse: Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
b) Detenção ou Fâmulos da posse art 1198 CC - aquele que, em virtude de sua situação de dependência econômica ou de um vínculo de subordinação em relação a uma outra pessoa (possuidor direto ou indireto) exerce sobre o bem não uma posse própria, mas posse desta última e em nome desta, em obediência a uma ordem ou instrução.
Não caracterizam a posse também:
a) Atos de mera permissão ou tolerância. Art. 1208 do CC/02: “Não induzem a posse os atos de mera permissão ou tolerância”. Ex. os alunos não possuem a sala de aula, apesar de a estarem usando – há tolerância tácita.
Fazendeiro que deixa vizinho passar com gado em sua propriedade – há permissão.
b) Prática de atos de violência ou clandestinidade. 1208 in fine do CC/02. Enquanto existentes, os atos de violência e clandestinidade impedem a aquisição da posse por parte de quem delas se aproveita, considerando-se simples detenção. Só será posse com a efetiva cessação de tais condutas antijurídicas.
 (
10
)
Atos violentos ou clandestinos impedem o surgimento da posse, mas cessado esse surge a posse mesmo que qualificada de injusta.
Ato violento – roubo – com violência ou grave ameaça; Clandestino – furto – ás escondidas. Em relação á essa última parte – violência e clandestinidade - há divergência doutrinária – Carlos Roberto Gonçalves, César Fiuza acreditam que os atos de violência ou clandestinos são casos de mera detenção assim como nos casos de mera permissão ou tolerância.
Contudo há autores que afirmam que em casos de violência e clandestinidade há posse qualificada de injusta e quando cessados esses atos há posse justa (convalescimento da posse)
– afirmam estes que nestes casos o possuidor que agiu com violência ou clandestinidade pode- se utilizar dos efeitos protetivos da posse, exceto em relação ao possuidor justo.
d) Utilização de bens públicos. O STJ, em reiteradas vezes, tem entendido que a ocupação irregular de área pública não induz posse, mas ato de mera detenção.
D ECRETO-LEI Nº 9.760, DE 5 DE SETEMBRO DE 1946.
Dispõe sôbre os bens imóveis da União e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180, da Constituição,
DECRETA:
TÍTULO I
Dos Bens Imóveis da União CAPÍTULO I
Da Declaração dos Bens SEÇÃO I
DA ENUNCIAÇÃO
Art. 1º Incluem-se entre os bens imóveis da União:
a) os terrenos de marinha e seus acréscidos ;
b) os terrenos marginais dos rios navegáveis, em Territórios Federais, se, por qualquer título legítimo, não pertencerem a particular;
c) os terrenos marginais de rios e as ilhas nestes situadas na faixa da fronteira do território nacional e nas zonas onde se faça sentir a influência das marés;
d) as ilhas situadas nos mares territoriais ou não, se por qualquer título legítimo não pertencerem aos Estados, Municípios ou particulares;
e) a porção de terras devolutas que fôr indispensável para a defesa da fronteira, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais;
f) as terras devolutas situadas nos Territórios Federais;
g) as estradas de ferro, instalações portuárias, telégrafos, telefones, fábricas oficinas e fazendas nacionais;
h) os terrenos dos extintos aldeamentos de índios e das colônias militares, que não tenham passado, legalmente, para o domínio dos Estados, Municípios ou particulares;
i) os arsenais com todo o material de marinha, exército e aviação, as fortalezas, fortificações e construções militares, bem como os terrenos adjacentes, reservados por ato imperial;
j) os que foram do domínio da Coroa;
k) os bens perdidos pelo criminoso condenado por sentença proferida em processojudiciário federal;
l) os que tenham sido a algum título, ou em virtude de lei, incorporados ao seu patrimônio.
SEÇÃO II
DA CONCEITUAÇÃO
Art. 2º São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831:
a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça sentir a influência das marés;
b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés.
Parágrafo único. Para os efeitos dêste artigo a influência das marés é caracterizada pela oscilação periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do nível das águas, que ocorra em qualquer época do ano.
Art. 3º São terrenos acrescidos de marinha os que se tiverem formado, natural ou artificialmente, para o lado do mar ou dos rios e lagoas, em seguimento aos terrenos de marinha.
Art. 4º São terrenos marginais os que banhados pelas correntes navegáveis, fora do alcance das marés, vão até a distância de 15 (quinze) metros, medidos horizontalmente para a parte da terra, contados dêsde a linha média das enchentes ordinárias.
Art. 5º São devolutas, na faixa da fronteira, nos Territórios Federais e no Distrito Federal, as terras que, não sendo próprios nem aplicadas a algum uso público federal, estadual territorial ou municipal, não se incorporaram ao domínio privado:
a) por fôrça da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, Decreto nº 1.318, de 30 de janeiro de 1854, e outras leis e decretos gerais, federais e estaduais;
b) em virtude de alienação, concessão ou reconhecimento por parte da União ou dos Estados;
c) em virtude de lei ou concessão emanada de govêrno estrangeiro e ratificada ou reconhecida, expressa ou implícitamente, pelo Brasil, em tratado ou convenção de limites;
d) em virtude de sentença judicial com fôrça de coisa julgada;
e) por se acharem em posse contínua e incontestada com justo título e boa fé, por têrmo superior a 20 (vinte) anos;
f) por se acharem em posse pacífica e ininterrupta, por 30 (trinta) anos, independentemente de justo título e boa fé;
g) por fôrça de sentença declaratória proferida nos têrmos do art. 148 da Constituição Federal, de 10 de Novembro de 1937.
Parágrafo único. A posse a que a União condiciona a sua liberalidade não pode constituir latifúndio e depende do efetivo aproveitamento e morada do possuidor ou do seu preposto, integralmente satisfeitas por êstes, no caso de posse de terras situadas na faixa da fronteira, as condições especiais impostas na lei.
 (
CONVERSÃO DA DETENÇÃO EM POSSE: Enunciado 301 CJF/STJ:
É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios.
)
2.4.2- Objeto
-	O objeto da posse são os bens corpóreos.
2.4.3- Natureza jurídica
Posse: Fato ou Direito?
2.4.4. Classificação da posse
- Melhor posse e tipologia da posse: O Código Civil, em boa parte do título dedicado à posse, cuida de determinar quais são os diferentes tipos de posse. Em alguns casos com o objetivo de imputar efeitos a determinados tipos de posse, como por exemplo, nos art. 1.214 e seguintes. Em muitos casos, contudo, a delineação da tipologia da posse é feita sem que se determine consequências específicas para a adoção deste ou daquele regime jurídico. A justificativa da ausência desses efeitos encontra-se no art. 507 do Código Civil de 1916, que assim dispunha:
Art. 507. Na posse de menos de ano e dia, nenhum possuidor será mantido, ou reintegrado judicialmente, senão contra os que não tiverem melhor posse.
Parágrafo único. Entende-se melhor a posse que se fundar em justo título; na falta de título, ou sendo os títulos iguais, a mais antiga; se da mesma data, a posse atual. Mas, se todas forem duvidosas, será sequestrada a coisa, enquanto se não apurar a quem toque.
Do dispositivo acima, extraiu-se a interpretação de que aquele que, de acordo com os critérios de classificação da posse, tiver a melhor posse, deverá ter a sua posse juridicamente tutelada. Dá-se a essa situação o nome de critério da melhor posse. Para que se determine qual a melhor posse é necessário que sejam conhecidos os critérios de classificação da posse, bem como de que maneira ela é adquirida ou perdida.
· Posse direta e indireta
a) Posse indireta: é o próprio dono ou assemelhado, que entrega seu bem a outrem.;
b) Posse direta: é a titulada pelo não proprietário que, por força de contrato ou direito real, passa a possuir legitimamente algum bem.
c) Desmembramento da posse: é a repartição das posses: proprietário – usufrutuário – locatário – sublocatário.
· Posse exclusiva, composse e posses paralelas
a) Exclusiva – é aquela em que uma única pessoa, física ou jurídica, tem, sobre a mesma coisa posse plena*, direta ou indireta.
*plena – é a posse em que o possuidor exerce de fato os poderes inerentes à propriedade, como se sua fosse a coisa.
b) Posse paralela – é o caso do desmembramento da posse.
c) Composse – art 1199 – é a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente poderes possessórios sobre a mesma coisa. Ex. marido/mulher – co- herdeiros durante a partilha.
c.1) Composse pro indiviso – é quando todos exercem, ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa os poderes de utilização ou exploração do bem comum.
c.2) Composse pro diviso – é quando os compossuidores estabelecem uma divisão de fato para a utilização pacífica do direito de cada um.
Extinção da composse:
1 – Termina pela divisão de direito, amigável ou judicial da coisa comum.	Cessa a compossesão, contudo a posse continua, pois cada pessoa passa a possuir a parte certa.
2 – Com a partilha no processo de inventário; cada herdeiro pode receber o seu quinhão, desaparecendo a posse em comum.
· Posse justa e posse injusta
a) Posse justa é aquela isenta de vícios, que não repugna o direito, por ter sido adquirida por algum dos meios previstos na lei. É aquela mansa, pacífica e tranqüila.
b) Posse injusta é a que foi obtida através de violência, clandestinidade e precariedade.
· Violenta – é a posse obtida mediante o uso indevido da violência física ou moral.
· Clandestina: é a ocultada daquele que titula o direito de a ela se opor.
· Precária: é aquela que se origina do abuso de confiança por parte de quem recebe a coisa com a obrigação de restituí-la, e depois, se recusa a fazê-lo utilizando a coisa em seu próprio nome.
“Interversão da posse”
Tal expressão traduz a transformação ou a inversão no título a posse, como se dá na hipótese de o possuidor precário (titular de uma posse “de favor”) passar a atuar na qualidade de legítimo proprietário.
Confira-se, a respeito, o enunciado 237, da III Jornada:
237 – Art. 1.203: É cabível a modificação do título da posse – interversio possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini.
Posse de boa-fé e posse de má-fé
a) Posse de boa-fé – é aquela que ignora os vícios ou obstáculos que impedem a aquisição da coisa possuída.
b) Posse de má-fé – é aquela em que o possuidor exerce a posse a despeito de estar viciada (ciente de que é clandestina, precária e violenta) ou possuir impedimento à aquisição (permissão ou tolerância).
 Justo título: é o título hábil para conferir ou transmitir direito a posse, se proviesse do verdadeiro possuidor ou proprietário.
· Posse “AD INTERDICTA” e posse “AD USUCAPIONEM”
a) Posse “ad interdicta” - é a posse que pode ser defendida pelos interditos ou ações possessórias. Mas não conduz a usucapião.
b) Posse “ad usucapionem” - é a posse que se prolonga no tempo podendo gerar a aquisição da propriedade.
2.5. Modos de aquisição da posse
Art. 1.204 do CC/2002 que “Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes a propriedade”
A aquisição originária é a apreensão da coisa e do exercício dodireito - aquisição originária – res nullius (coisa sem dono) e res derelictae (coisa abandonada), enquanto a aquisição derivada ou plena vem da tradição ou da sucessão na posse (pode ocorrer por sucessão inter vivos ou causa mortis).
. Aqui, importante ressaltar as espécies de tradição:
i) tradição ficta genérica: transmite a posse direta sobre o bem, como no caso da entrega de chaves;
ii) tradição longa manu: proprietário transmite a posse para o novo proprietário, sem que este toque e ocupe a coisa, que pode estar com o locatário;
iii) tradição brevi manu: alguém que é possuidor direto o consolida em suas mãos todos os poderes do possuidor, adquirindo a propriedade, como no caso do locatário que compra o imóvel;
iv) constituto possessório: aliena-se a propriedade, mas constitui-se a posse a non domine, por meio da mediação. Ex: do dono que vende de conserva-se no imóvel por mais de 30 dias, ou como o usufrutuário ou como o locatário. O constituto possessório é forma derivada de aquisição da posse, porque a posse e é toda a alienada ao novo dono, que empossa o alienante em possuidor imediato.
2.6. Quem pode adquirir a posse
De acordo com os incisos do art. 1205, a posse pode ser adquirida:
i) pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
ii) por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. Assim, a aquisição acontece através de um ato jurídico, de forma que toda vez que houver conduta e objeto, corpus e animus, haverá a aquisição da posse.
Por fim, a posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres (art. 1206). Além disso, o sucessor universal continua de direito a posse do seu
antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais (art. 1207).
2.7. Perda da posse – 1223 a 1224
A perda da posse ocorre sempre que o possuidor não exerça ou não possa exercer o poder inerente da propriedade.
Podem ser discriminados os seguintes casos que levam à perda da posse.
1 – Abandono – o possuidor intencionalmente afasta-se da coisa.
2 – Tradição - provoca, ao mesmo tempo, a perda da posse e aquisição da posse. Para os bens imóveis, equivale à tradição, o registro do título aquisitivo no respectivo cartório.
3 – Pela perda da coisa propriamente dita
4 – Pela destruição da coisa – decorrente de evento natural ou fortuito, de ato próprio do possuidor ou de terceiro.
5 – Pela inalienabilidade – diante da coisa ter sido colocada forma do comércio (motivo de ordem pública, de higiene ou segurança coletiva).
6 – Pelo constituto possessório – é ao mesmo tempo perda da posse e aquisição da posse.
7 - Perda da posse dos direitos –
a) impossibilidade de seu exercício (impossibilidade física ou jurídica). Ex.: perde-se o direito de posse de uma servidão de passagem quando o prédio dominante ou serviente for destruído; quando há renúncia ao direito à servidão;
b) pelo desuso, não exercendo o direito por prazo previsto na lei. Ex.: desuso de uma servidão predial por 10 anos consecutivos (CC , art. 1.389, III).
2.8 Efeitos da posse (CC arts. 1.210 a 1.222)
Efeitos da posse = consequências jurídicas produzidas pela posse, em virtude de lei ou norma jurídica. Esses efeitos distinguem a posse da mera detenção.
Principais efeitos
1 – Proteção possessória , que abrange a autodefesa e a invocação dos interditos:
1.1 – Autodefesa (CC , art. 1.210, § 1º : legítima defesa e o desforço imediato);
1.2 – Ações possessórias:
1.2.1 – Ação de Manutenção de Posse (CC , art. 1.210, 1ª parte);
1.2.2 – Ação de Reintegração de Posse (CC, art. 1.210, 2ª);
1.2.3 – Ação de Interdito Proibitório (CC , art. 1.210, última).
2 – Percepção dos frutos (importância da divisão da posse de boa fé e posse de má fé) - CC , art. 1.214 = possuidor de boa fé; CC , art. 1.216 = possuidor de má fé.
3 – Indenização por benfeitorias e o direito de retenção (importância da divisão da posse de boa fé e posse de má fé) - CC art. 1.219 = possuidor de boa fé; art. 1.220 = possuidor de má fé).
4 – Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa (importância da divisão da posse de boa fé e posse de má fé) - CC art. 1.217 = possuidor de boa fé; art. 1.218 = possuidor de má fé).
5 – Usucapião (CC , arts. 1.238 e 1.244).
2.8.1 – Proteção possessória
Autodefesa: Legítima Defesa da Posse: turbação Desforço Imediato: esbulho
Preceitua o art. 1210, parágrafo primeiro do CC:
"O possuidor turbado ou esbulhado poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse".
Para que o possuidor valha-se da defesa de mão própria, faz-se necessário a turbação ou o esbulho e uma reação imediata: contanto que o faça logo. Passada a oportunidade e a conveniência da autodefesa, cabe ao sujeito recorrer às vias judiciais, sob pena de praticar ilícito penal. Trata-se, portanto, de remédio excepcional dentro do sistema jurídico.
A retomada da coisa por mão própria obtém o mesmo efeito que teria a sentença de reintegração, e os atos de defesa ou desforço não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse.
Ações possessórias - Aspectos gerais
São três situações acolhidas pela regra processual que dá ensejo a três ações distintas:
1) No caso de ameaça a posse (risco de atentado a posse) = caberá ação de interdito proibitório – proteção face a perigo iminente.
2) No caso de turbação - caberá ação de manutenção de posse – visa a preservação da posse.
3) No caso de esbulho (atentado consolidado a posse) = caberá ação de reintegração de posse – visa à devolução da posse.
· Requisitos –
Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I. a sua posse;
II. a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III. a data da turbação ou do esbulho;
IV. a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração.
· Legitimação – art 561,I CPC
Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I. a sua posse;
· Liminar – art 558 CPC
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.
· Conversão da ação possessória em indenizatória ou cumulação de pedidos– art 555 CPC
Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária e adequada para:
I - evitar nova turbação ou esbulho;
II - cumprir-se a tutela provisória ou final.
· Natureza dúplice art. 556 CPC
Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
· Fungibilidade dos interditos – art 554 CPC
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.
· Distinção entre juízo possessório e juízo petitório – art 557 CPC
Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.
Parágrafo único. Não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade ou de outro direito sobre a coisa.
· Caução – art 559 CPC
Art. 559. Se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de sucumbência, responder por perdas e danos, o juiz designar-lhe-á o prazo de 5 (cinco) dias para requerer caução, real ou fidejussória, sob pena de ser depositada a coisa litigiosa, ressalvada a impossibilidade da parte economicamentehipossuficiente.
2.8.2. Percepção de frutos
a) Produtos: são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhes a quantidade, porque não se reproduzem periodicamente. Ex.: pedras preciosas, metais
b) Frutos: são as utilidades que uma coisa periodicamente produz, nascem e renascem sem acarretar-lhes a destruição no todo ou em parte. Ex. Frutas, leite, cereais
Classificação dos frutos:
Quanto à fonte:
a) Frutos naturais – são os que se desenvolvem e se renovam periodicamente;
b) Frutos civis – são as rendas produzidas pela coisa, em razão da utilização da coisa por outrem que não o proprietário, a exemplo dos juros e aluguéis;
c) Frutos industriais – surgem em função da atuação do homem sobre a natureza, como a produção de uma fábrica.
Quanto ao estado:
a) Pendentes: são os frutos quando ainda unidos à coisa que o produziu.
b) Percebidos ou colhidos: depois de separados.
c) Estantes: depois de separados e armazenados.
d) Percipiendos: os que deveriam ter sido colhidos e não o foram.
e) Consumidos: os frutos já utilizados, não mais existentes.
Regras de restituição dos frutos Art. 1.214 do CC – ·
· Possuidor de Boa Fé - direito aos frutos percebidos.
· Quando cessada a Boa Fé não fará jus aos pendentes ou recolhidos antecipadamente. Pendentes (devem ser restituídos, deduzidas as despesas com produção e custeio.) Art.
1.215 do CC.
· Frutos Naturais e Industriais – colhidos e percebidos quando separados. Civis – colhidos e percebidos diariamente. Tem direito até cessada a Boa Fé. Salvo se colhidos antecipadamente.
· Art. 1.216 do CC. Possuidor Má Fé – Responde pelos frutos colhidos, percebidos e os que por culpa sua deixou de colher. Tem direito à produção e custeio.
2.8.3. Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa
a. Possuidor de boa-fé - Incidência do art. 1.217 do CC Regra – não responde pela perda ou deterioração da coisa a que não der causa.
b. Possuidor de má-fé – Incidência do art. 1.218 do CC Regra – responde pela perda ou deterioração da coisa, ainda que acidentais; Exclusão da responsabilidade – deve provar que a perda ou deterioração adviria ainda que a coisa estivesse na posse do reivindicante.
2.8.4. Indenização por Benfeitorias e Direito de Retenção
Visa impedir o enriquecimento injusto.
Benfeitorias: São obras ou despesas feitas na coisa, para o fim de conservá-la, melhorá-la ou embelezá-la. Art. 96 do CC.
a) Necessárias: as que têm por finalidade conservar a coisa ou evitar que deteriore. Ex: reparos na coisa.
b) Úteis: são aquelas que aumentam ou facilitam o uso da coisa. Ex: pavimentação do acesso a um edifício, o aumento da área de estacionamento.
c) Voluptuárias: são aquelas que redundam em acréscimo de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual da coisa, ainda que a tornem mais agradável, ou de elevado valor. Ex: colocação de um piso de mármore importado.
Art. 1219 do CC : Possuidor de Boa- Fé : Direitos:
a) Tem direito à indenização e retenção das benfeitorias necessárias e úteis;
b) Tem direito às voluptuárias e se não lhe forem pagas a levantá-las sem destruir a coisa
Direito de Retenção – é modalidade de garantia no cumprimento de obrigação – o possuidor de boa-fé faz jus.
Art. 1.220 do CC: Possuidor de Má-Fé: Direitos:
a) Indenização apenas das benfeitorias necessárias;
b) Não tem direito de retenção e nem de levantar as benfeitorias voluptuárias. Enquanto houver Boa – Fé – art. 1.219 do CC Quando cessar a Boa – Fé – art. 1.220 do CC Art.
1.221 do CC
2.8.5. Indenização
Não decorre simplesmente da ofensa à posse, mas depende de efeitos prejuízos sofridos e comprovados no processo. O agente deve pedir a indenização e também comprovar o prejuízo. Art. 1.222 do CC. É dever do Reivindicante indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé. (podendo optar entre o seu valor atual e o seu custo). Indenizar o possuidor de boa-fé pelo valor atual
CAPÍTULO III - PROPRIEDADE
3.1. História da propriedade
· Inicialmente a propriedade tinha a característica de ser comunitária.
· Somente na era romana passa-se a ter a teoria individualista da propriedade.
· Na idade média existiam os feudos, onde os senhores feudais eram proprietários perpétuos e transmitiam este direito aos seus descendentes masculinos. Ao povo era dado o direito de cultivar certas porções de terras, porém tinham que pagar certa porcentagem desta produção ao senhor feudal.
· A Revolução francesa pôs fim ao feudalismo e criou a propriedade individual próximo aos moldes do que conhecemos.
· No Brasil o Código de 16 o direito de propriedade era o centro da legislação civilista.
3.2 Fundamento Jurídico
1) Ocupação – defendido por Hugo Grócio- é a mais antiga das teorias data da era romana
- defendia que a propriedade surgia da ocupação de bens inapropriados, haveria uma conversão dos bens da natureza em valores econômicos.
2) Lei – Montesquieu, Bentham, Hobbes
3) Especificação – Locke, Mac Culloch – a propriedade seria a recompensa do trabalho.
4) 	Natureza humana – teoria mais aceita pelo ordenamento segundo a qual a propriedade é inerente a natureza humana. É o instinto de preservação do homem que o leva a se apropriar dos bens. O homem transforma seus atos de apropriação em direitos, que devem ser defendidos.
3.3 - Elementos constitutivos
Conceito – é o direito que a pessoa física ou jurídica tem, dentro dos limites normativos, de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindicá-lo de quem injustamente o detenha.
a) Direito de usar (jus utendi) – consiste na faculdade de o dono servir-se da coisa e de utilizá-la da maneira que entender mais conveniente, sem, no entanto alterar-lhe a substância. Ao dominante é permitido deixar a coisa inerte – em condições de servi-lhe quando lhe convier
b) Direito de gozar ou fruir (jus fruendi) – compreende o poder de perceber os frutos naturais e civis da coisa e de aproveitar economicamente os seus produtos.
c) Direito de dispor (jus abutendi) – consiste no poder de transferir a coisa, grava-la de ônus e de aliená-la a outrem a qualquer título. Não tem, entretanto o direito de destruir
ou abusar gratuitamente da coisa – pois a coisa esta incondicionalmente ligada ao bem estar social.
d) Direito de reaver ( reividicatio) – é o direito de reaver a coisa das mãos de quem injustamente a possua ou detenha – Direito de seqüela.
3.4- Características do direito de propriedade
a) complexo – pois é formado por um plexo de poderes ou faculdades;
b) absoluto – pois a sua oponibilidade é “erga omnes”;
c) perpétuo – uma vez que não se extingue pelo simples não-uso;
d) exclusivo – é entendido, pois afasta o exercício do poder dominial de terceiro sobre a mesma coisa, ressalvando-se a situação do condomínio, em que há divisão ideal do bem;
e) elástico - pois pode ser distendido ou contraído, para formar outros direitos reais, sem perder a sua essência;
3.5- Espécies de propriedade
a) Corpórea: são os dotados de existência física e que por isto ocupam um lugar no espaço. Regulados pelo Direito das Coisas
Incorpórea: são direitos que existem apenas enquanto conceitos jurídicos. Regulados pela lei de propriedade intelectual (direito civil), propriedade industrial (direito comercial.).
b) Imóvel: o solo e tudo o que incorporar naturalmente e artificialmente – art 79.
Móvel: são os bens susceptíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
Semoventes: são bens móveis que possuem movimento próprio, tal como animais selvagens, domésticos ou domesticados.
c) 	Plena: a propriedade é plena quando todos os seus direitos elementares se acham reunidos num proprietário. Toda propriedade é plena até que se prove o contrário. Restrita: é a propriedade que teve um ou alguns de seus poderes passados a outrem, caso em que se constitui o direito real de coisa alheia. Ex.: usufruto.
d) Perpétua: é aquela que termina apenas quando o proprietário quiser, ainda que por ato indireto de vontade. Em geral a propriedade é perpétua.
Resolúvel: termina por forçado implemento de condição.
3.6- Limitações ao Direito de Propriedade
De acordo com Cunha Gonçalves, podem ser classificadas em: limitações de interesse público, que visam beneficiar a coletividade em detrimento de eventual abuso por parte do proprietário, e limitações de interesse privado, que tem por escopo conciliar interesses entre particulares. Por sua vez, as limitações de interesse privado são divididas em limitações de mero interesse privado e limitações de interesse semipúblico. Nas limitações de mero interesse privado, estão envolvidas questões de caráter, eminentemente particular. Por outro lado, pelas limitações de interesse semipúblico, visa-se atenuar os conflitos entre vizinhos, bem como proteger o interesse comum dos prédios contíguos
3.6.1. Função social:
Art. 5°, XXII e XXII, e art 170, II e III da CF.
· O primeiro resquício da sociabilidade da propriedade veio com a encíclica Rerum novarum do Papa Leão XIII – 1891 - e a do Quadragésimo ano de Papa Pio XI - 1937.
· Contudo é atribuída a Augusto Comte e a Leon Duguit a teoria da função social da propriedade.
· Segundo Duguit os direitos só se justificam pela missão social para a qual devem contribuir e, portanto, que o proprietário deve se comportar e ser considerado quanto à gestão de seus bens como um funcionário. A propriedade implica para todo detentor de uma riqueza a obrigação de empregá-la para o crescimento da riqueza social e para a interdependência social.
· O avanço do socialismo foi outra mola propulsora a que os países capitalistas deixassem de lado a visão individualista da propriedade e passassem a tê-la como algo de interesse social.
· De acordo com o inciso XXIII, do art. 5º, da Constituição da República, “a propriedade atenderá a sua função social”. Mas o que função social? Trata- -se de conceito jurídico indeterminado, a ser preenchido pelo intérprete, de acordo com o caso concreto apresentado.
Nas palavras de Marco Aurélio Bezerra de Melo: A função social da propriedade tornou- se uma exigência da vida em sociedade, pois da mesma forma que é importante a defesa dos direitos individuais dos titulares da propriedade, é fundamental que se exija do proprietário a observância das potencialidades econômicas e sociais dos bens que deverão ser revertidos em benefício da sociedade. Desta forma, o interesse do proprietário será protegido desde que sua propriedade exerça seu papel, atendendo, de certa forma, aos interesses sociais daqueles não-proprietários. Neste sentido, por exemplo, traz a Constituição da República, nos incisos do art. 186, os requisitos para que a propriedade rural atenda sua função social:
1) aproveitamento racional e adequado;
2) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
3) observância das disposições que regulam as relações de trabalho; e
4) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores
-	E o CC no art 1228 traz as limitações sociais da propriedade.
Função social da propriedade1
Como a outorga da propriedade individual a todos não foi obtida em sua plenitude no direito moderno, embora essa tivesse sido a principal bandeira de oposição ao regime pré-revolucionário em França, o exercício absoluto do direito de propriedade rapidamente passou a ser criticado pela doutrina novecentista.
Elaborou- se, então, a doutrina da função social da propriedade, levando-se em conta:
a) a inércia do proprietário;
b) a ofensa dos direitos de vizinhança; e
c) o exercício imoderado da propriedade.
O idealizador da teoria da função social da propriedade foi o solidarista francês Léon Duguit (1859-1928), que nega a sacralidade e intangibilidade da propriedade individual, afirmando que somente o proprietário pode realizar uma tarefa compatível para o aumento da riqueza geral, daí o motivo pelo qual a propriedade é um direito em constante mudança. Por isso, Duguit estabelece que todo proprietário individual deve destinar os bens de sua propriedade à consecução dos fins objetivados pela coletividade, já que ele é o detentor social das riquezas.
A propriedade dos dias de hoje deve atender aos interesses socialmente relevantes, identificados em nosso ordenamento jurídico, sob as seguintes modalidades: interesses difusos, interesses coletivos e interesses individuais homogêneos.
Para tanto, o proprietário deverá exercer o seu direito, de forma a não prejudicar os interesses de terceiros.
Constitui- se, desse modo, um complexo de fatores para que o proprietário possa exercer os seus direitos de utilização e exploração econômica do bem, sendo muitas vezes compelido a exercer alguns direitos decorrentes do domínio.
Justifica-se modernamente, assim, o direit o da vizinhança e, sob um modernismo tardio, o direito ao meio ambiente. A consagração dos direitos e interesses difusos e coletivos contribuiu drasticamente para que se procedesse à inclusão do pensamento desconstrutivista sobre os ideários clássicos da propriedade individual, conferindo-se a ela maior dinamicidade e compatibilidade com os interesses preponderantes existentes na sociedade.
E, se a propriedade for hábil à produção, o proprietário deverá conferir- lhe a destinação esperada pela sociedade, como detentor da riqueza imobiliária e mobiliária, promovendo a satisfação dos interesses econômicos e sociais, além dos seus próprios.
Caso o proprietário não destine o bem de produção ao fim que socialmente dele se espera, o poder público poderá valer-se de meios de incentivo ou de restrição ao exercício da propriedade individual, de acordo com o que entenda mais consentâneo com o interesse social.
1 LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil – Direitos reais e Direitos Intelectuais. p.15
A intervenção estatal incentivadora é também chamada impulsionadora, porque objetiva fazer com que o proprietário venha a adotar conduta compatível com o exercício da propriedade, de forma mais favorável ao interesse social. Com isso, busca-se a compatibilização entre os interesses individuais do proprietário e o reconhecimento de direitos conferidos à coletividade em geral.
As restrições ao direito de propriedade são justificadas no asseguramento do interesse social e podem ser de diversas naturezas: constitucionais, administrativas, ambientais, penais e civis.
O novo Código Civil inspirou-se na nova ordem social e econômica, que atribui contornos ao direito de propriedade mais satisfatórios aos interesses sociais, delimitando o exercício dos direitos individuais decorrentes do instituto. Dentre as diretrizes adotadas pelo legislador, pode- se mencionar:
a) a renovação do conceito de posse, admitindo-se até mesmo a posse pro labore e a ela se conferindo uma função social;
b) o reconhecimento do direito de propriedade delimitado por sua função social;
c) a transferência dos imóveis urbanos abandonados ao domínio dos municípios, mantendo-se os imóveis rústicos abandonados para os fins de reforma agrária, pela União;
d) a concessão do direito de exploração de recursos minerais de pequeno valor em favor do proprietário do solo;
e) a ex tensão da concessão de uso sobre o loteamento urbano e entre particulares, como meio de assentamento de pessoas em terras, para a sua subsistência ou moradia;
f) a atualização das normas sobre direitos da vizinhança;
g) a revisão das normas sobre o condomínio edilício;
h) a disciplinação da propriedade fiduciária;
i) a inclusão do direito de superfície e do direito do promitente comprador do imóvel como direitos reais; e
j) a previsão do penhor de veículos e das letras hipotecárias.
Além da relação taxativa disposta pelo Código Civil de 2002, Fachin também considera como direito real a concessão de uso, que é direito resolúvel temporário que pode ser constituído por prazo determinado ou indeterminado, entendendo- se que o Decreto-lei 271, de 1967, que a instituiu, foi recepcionado pelo texto constitucional de 1988. Tal direito pode ser transmitido por negócio inter-vivos ou mortis causa, podendo o concessionárioexplorar economicamente o imóvel mediante o pagamento em dinheiro ou de forma gratuita.
Em 2007, sobreveio a Lei 11.481, de 31 de maio, que reconhece como direito real sobre coisa alheia a concessão de uso especial para os fins de moradia e a concessão do direito real de uso.
Reforma agrária e assentamento de colonos
A Política Nacional Agrária foi estabelecida constitucionalmente com a finalidade de promover a democratização do acesso à propriedade imobiliária.
Diferentemente da evolução histórica ocorrida no continente europeu e nos Estados Unidos, a ocupação de terras no Brasil seguiu o modelo da oligarquia rural do século XIX, favorável à constituição de latifúndios.
O problema agrário somente começou a ser efetivamente debatido no Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, sendo elaborados vários projetos de lei a respeito do assunto.
Em 1962, foi criada a Superintendência de Política Agrária – SUPRA, com atribuição de promover a reforma agrária.
No ano seguinte, foi sancionado o Estatuto do Trabalhador Rural, que passou a regulamentar as relações jurídicas de trabalho no campo.
A Revolução de 1964 inviabilizou um decreto presidencial, editado em
13 de março do mesmo ano, que determinava a desapropriação, para os fins de reforma agrária, das terras localizadas em uma faixa de 10 quilômetros ao longo das rodovias, ferrovias e açudes construídos pela União.
A reforma agrária, no entanto, estava nos planos do primeiro governo militar, que em poucos meses elaborou e aprovou a Lei 4.504, de 30 de novembro de 1964, conhecida como o Estatuto da Terra.
Os governos posteriores acabaram por prestigiar a modernização da propriedade agrária existente, através de um crédito rural subsidiado que contribuiu de maneira decisiva para o crescimento do setor de exportação, ao mesmo tempo em que gerou a incorporação das pequenas propriedades rurais em favor dos proprietários que se beneficiaram dessa situação porque quanto maior fosse o imóvel rural maior seria o crédito a ser concedido.
O problema da reforma agrária no Brasil, do assentamento de colonos e a elaboração de normas reguladoras das relações fundiárias e contratuais no campo culminou com o reconhecimento de uma disciplina de índole social: o direito agrário. O Direito Agrário é ramo da ciência jurídica que estabelece os princípios e normas alusivos à atividade da pessoa vinculada à terra, normalmente dividida em:
agrícola, pastoril e extrativista.
A estrutura agrária tem- se caracterizado nos países de maior extensão territorial pela coexistência de grandes propriedades improdutivas, que precisam ser exploradas de forma satisfatória aos interesses sociais.
Não se trata aqui de defender a tese da supressão da propriedade privada, mas sim de viabilizar a propriedade privada produtiva, revertendo- a em benefício do seu respectivo proprietário e da coletividade.
Impõe- se o cumprimento do dever de cultivo das terras por parte dos proprietários.
Orlando Gomes reconhece a necessidade de uma transformação e a reforma da estrutura fundiária brasileira, porque a terra deve ser compreendida como um bem socialmente útil.
Apesar dos poucos atrativos à exploração da terra, a sociedade pós- moderna, assim como as que lhe antecederam, necessita dos gêneros alimentícios dela provindos. E a improdutividade constitui um forte obstáculo à subsistência dos excluídos financeiramente, ao mesmo tempo em que inviabiliza a conquista do trabalho.
Além disso, a concentração de renda no campo vem contribuindo desastrosamente para o adensamento demográfico nos grandes centros urbanos,
proporcionando uma degradação ainda maior das áreas periféricas em virtude da instalação de moradias em áreas de mananciais e de perigo às pessoas e aos seus bens, gerando uma marginalização social que contribui decisivamente para o aumento das taxas de desemprego e da criminalidade.
Por conta desses fatores, o direito civil constitucional estabelece uma política nacional de reforma agrária, possibilitando a desapropriação do imóvel rural que não esteja cumprindo a sua função social.
Se o imóvel for considerado de terra pública ou devoluta, sua destinação em favor dos colonos observará o Plano Nacional de Reforma Agrária. Nesse caso, se a concessão ou a alienação tiver por objeto imóvel com área de até 2.500 hectares, não será necessária a prévia aprovação do Congresso Nacional.
Contudo, se o imóvel tiver área superior a 2.500 hectares, a anuência do Congresso será imprescindível.
Tratando- se de imóvel privado, caberá verificar se ele atende ou não à função
social.
Considera-se que o imóvel atende à sua função social quando há:
a) o seu aproveitamento racional e adequado;
b) a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente;
c) a observância das normas trabalhistas; e
d) a exploração que beneficia tanto o proprietário como os seus empregados.
O Código Civil de 2002 regula diferentes categorias de usucapião e de direito de superfície que	indiscutivelmente		podem ser utilizadas como um poderoso instrumento para a realização da tão sonhada reforma agrária brasileira. Embora até pudessem ser aperfeiçoados, os mecanismos legais atualmente vigentes são suficientes para se iniciar esse processo, que certamente contribuiria para uma nova	migração, desta feita das grandes cidades	para o		campo, o	que contribuiria para a preservação dos mananciais e uma maior conservação das urbes. Além	da	necessidade	de	decretar	de	interesse	social	as	áreas improdutivas, para que elas passem a se submeter à atividade produtiva dos interessados (desapropriação pro labore ), é imperioso o adequado assentamento de colonos em seus módulos rurais, por meio de uma política mais compatível com	a fixação do homem das áreas rurais e a adoção de incentivos ao
desenvolvimento da produção agropastoril e extrativista.
Se o poder público vier a se utilizar da desapropriação, efetuará prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real (que se trata, pois, de uma cláusula de escala móvel), resgatáveis no prazo de até 20 anos.
Os beneficiários da redistribuição das áreas de terra pública ou privada receberão um título de domínio ou de concessão de uso, que não poderá ser negociado senão após o prazo de 10 anos (art. 189 da CF).
Redimensionamento da propriedade urbana. Plano diretor urbano
A Política Nacional Urbana é estabelecida em suas diretrizes gerais pela União, cabendo a cada município a execução dos princípios aplicáveis e da lei municipal que trata da questão.
Além das normas constitucionais alusivas ao tema, foi promulgada a Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, denominada Estatuto da Cidade.
Odete Medauar afirma que referida lei trata de vários institutos do Direito Urbanístico, objetivando a melhor ordenação do espaço urbano e a solução de problemas sociais graves, como a moradia e o saneamento.
O direito urbanístico é ramo da ciência jurídica que estabelece os princípios e normas alusivos à ocupação, uso e transformação do solo urbano.
O planejamento e a realização de política compatível com o desenvolvimento das cidades se constituem instrumentos decisivos na melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Assim como ocorre com o direito agrário, o direito urbanístico é também uma ciência jurídica eminentemente social, incumbindo ao município executar a política ordenadora do desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade individual.
A propriedade urbana deve ser redimensionada, portanto, a fim de que se cumpra a percepção do patrimônio mínimo e seja assegurada, desse modo, a dignidade humana.
Para o melhor desenvolvimento da política urbana, o poder público municipal poderá exigir do proprietário de solo urbano o seu adequado aproveitamento, caso o bem esteja sendo subutilizado, não utilizado ou não edificado.
Entende-se que o imóvel baldio (terreno inculto ou sem aproveitamento), por isso, não atende às exigênciasdo plano diretor municipal.
Para tanto, é necessário que o poder público municipal se fundamente no plano diretor urbano, que não foi observado pelo proprietário do imóvel.
Plano diretor urbano é o projeto de realização urbanística inserido em uma lei municipal, que traça os objetivos a serem alcançados sobre: a proteção ambiental, o patrimônio cultural, o zoneamento urbano, a questão do paisagismo e outros elementos considerados relevantes para o desenvolvimento do município. Desse modo, busca-se a manutenção da biota e a preservação do meio ambiente para a geração presente e as futuras, buscando-se um meio ambiente fundado no desenvolvimento tecnológico ecologicamente equilibrado.
Embora o plano diretor urbano se constitua em obrigatoriedade para os municípios com mais de 20.000 habitantes, ele poderá ser adotado por cidades com menor contingente populacional, por meio de lei própria.
O poder público municipal poderá, ante o descumprimento do plano diretor:
a) implementar de forma compulsória o parcelamento ou a edificação da área;
b) fixar o imposto predial e territorial urbano de forma progressiva, como forma de desestímulo à violação das normas ambientais; ou
c) proceder à desapropriação do imóvel, efetuando o pagamento de indenização pela perda compulsória do bem em prol de seu antigo proprietário (o expropriado), consistente em títulos da dívida pública, resgatáveis em até 10 anos.
3.6.2. Desapropriação e requisição:
· Desapropriação: é a transferência compulsória da propriedade do particular para o Estado com o objetivo de atender a interesse público de caráter permanente. É pago indenização através de acordo ou por decisão judicial.
No que tange ao disposto no artigo 5º, XXIV da Constituição, temos a desapropriação por necessidade pública, utilidade pública e interesse social (art 5º - XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;) e, no final desse dispositivo, temos as exceções: as modalidades de desapropriação sancionatória: são as seguintes:
desapropriação confisco - Art. 243 CF/88. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)), que se dá em casos de plantações de substâncias psicotrópicas não será cabível indenização.
Ainda, temos a desapropriação urbanística sancionatória - artigo 182, § 4º, inciso III, da CF/88), que se dá quando o indivíduo inobserva a função social urbana, prevista no plano diretor da cidade em que mora: neste caso, caberá indenização em títulos da dívida pública (=moeda pobre do governo), resgatáveis em até 10 anos). “Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. (Regulamento) (Vide Lei nº 13.311, de 11 de julho de 2016)
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais”.
Finalmente, temos a desapropriação rural, estampada no artigo 184 da Constituição, “Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei”. Esta função social rural tem seus contornos definidos no artigo 186 da Carta de Outubro de 1988.
Uma última observação: o procedimento de desapropriação por necessidade pública, interesse público ou interesse social se dá da seguinte forma: num primeiro momento, na via administrativa, em que o Poder Público oferece um preço para a aquisição da propriedade. O particular pode aceitar (e aí o procedimento acaba) ou não. Se o particular não aceita, parte-se para a via judicial. O Poder Público ajuíza Ação de Desapropriação contra o particular que só poderá discutir, na contestação, o valor da indenização e vícios processuais. Se a ação for julgada procedente, o juiz determina a imissão definitiva na posse, entregando a propriedade ao Poder Público, determinando, ainda, o pagamento da indenização ao particular.
· Requisição: É a transferência temporária de bens corpóreos ao Estado, que dela precisa para prevenir ou combater perigo público iminente. Se houver indenização será paga posterior ao ato requisitório.
3.6.3. Limitações administrativas
Nestas limitações não há a transferência de propriedade do particular para o Estado.
Direito das cidades – Lei 10257/01
Tombamento: Conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural
Por Genipaula W. Lourenço
Com a intenção de proteger bens que possuam valor histórico, artístico, cultural, arquitetônico, ambiental e que, de certa forma, tenham um valor afetivo para a população, é que se tem o instituto do tombamento, caracterizado pela intervenção do Estado na propriedade, e regulamentado por normas de Direito Público.
O vocábulo tombamento é de origem portuguesa, e é utilizado no sentido de registrar algo que é de valor para uma comunidade, protegendo-o através de legislação específica.
Dentre os precedentes normativos dispostos na legislação brasileira acerca do tombamento e da proteção ao patrimônio histórico, artístico e cultural, destaca-se o Decreto
– Lei nº. 25 de 30 de novembro de 1937, que ordena a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e a Lei nº. 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os Monumentos Arqueológicos e Pré – Históricos.
Diversos conceitos podem ser adotados. Como o de José Cretella Júnior que diz que o tombamento:
“É restrição parcial ao direito de propriedade, realizada pelo Estado com a finalidade de conservar objetos móveis e imóveis, considerados de interesse histórico, artístico, arqueológico, etnográfico ou bibliográfico relevante. Restrição parcial do direito de propriedade, localiza-se no início de uma escala de limitações em que a desapropriação ocupa o ponto extremo”.
Ou ainda, o do Departamento do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo, pelo qual:
“Tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder público com o objetivo de preservar, através da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados”.
Tombamento visa proteger patrimônio, mas o que seria patrimônio? De acordo com o Dicionário Aurélio, patrimônio é:
“Bem, ou conjunto de bens culturais ou naturais, de valor reconhecido

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