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LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 1 Prof. Florestan Rodrigo do Prado E-mail: 26/08/2016 CRIMES DE TRÂNSITO – LEI N° 9.503/97 Disposições Gerais O Brasil é um dos países recordistas em acidentes de transito. O Código de Transito Brasileiro ao longo de sua vigência vem sendo modificado no sentido de aumentar a punição dos motoristas infratores em várias hipóteses. Estudo do Art. 291 do CTB Art. 291, CTB – Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. §1° Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: I – sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; II – participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; III – transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora). §2° Nas hipóteses previstas no §1° deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policia para a investigação da infração penal. Trata-se de uma norma geral de aplicabilidade. Neste sentido, o CTB invoca subsidiariamente as previsões do Código Penal e do Código de Processo Penal se o Código não dispuser de modo diverso, e da Lei 9.099/95, mas faz uma ressalva acerca do que couber. Assim, o primeiro ponto a ser analisado é justamente a aplicação da Lei 9.099/95 na legislação de transito. A grande maioria dos crimes de transito se enquadram no conceito de crimes de menor potencial ofensivo (crimes cuja pena máxima não ultrapasse 2 anos). Há, no entanto, regras diferenciadas para os praticantes de crimes de transito uma vez que o §1° do Art. 292 do CTB excetua da possibilidade de aplicação dos institutos despenalizadores da Lei 9.099/95 (composição civil, transação penal e SURSIS processual) os que praticarem o crime sob a influência de álcool ou outra substancia psicoativa; participando de corrida em via pública ou realizando demonstração de pericia em manobras não autorizadas pela autoridade competente; e ainda se o indivíduo estiver transitando em LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 2 velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h, sendo inclusive necessário, conforme normatiza o §2° do mesmo artigo, a instauração de inquérito policial para apuração do crime. Fora destas hipóteses, ainda que o crime não seja considerado de menor potencial ofensivo, como é o caso do crime de embriaguez ao volante (Art. 306, CTB) e participação de “raxas” (Art. 308, CTB) cujas penas máximas cominadas são de 3 anos de detenção, é possível que os acusados sejam beneficiados com a SURSIS Processual, uma vez que, preenchendo os requisitos (de não estar sendo processado e não ter sido condenado por outro crime), o instituto exige apenas que a pena mínima cominada ao crime não exceda um ano. O SURSIS processual trata-se de um beneficio para o Réu e uma vez cumprida as condições impostas extingue-se a punibilidade e, poderá ser aplicado a todos os crimes de transito, salvo no caso do Homicídio Culposo no Transito cuja pena mínima é de 2 anos de detenção. Conceito de Veículo “Automotor” O conceito de veículo automotor se encontra no Anexo I da Lei de Transito, transcrito abaixo: Veículo Automotor – todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico). Assim, veículos de tração animal ou humana estão fora deste conceito. Suspensão ou Proibição de se Obter a Permissão ou a Habilitação para Dirigir Veículos (Art. 292 e 293, CTB) Estes artigos foram modificados recentemente pela Lei 12.971/2014 e preveem a possibilidade do Juiz cumulativamente a pena privativa de liberdade ou isoladamente, aplicar uma pena de Suspensão ou Proibição da Carteira Nacional de Habilitação ou da Permissão para Dirigir. Art. 292, CTB – A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades. Art. 293, CTB – A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos. §1° Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito hora, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação. §2° A penalidade de suspensão ou de LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 3 proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional. Embora seja uma pena de natureza administrativa, o Juiz poderá aplica-la por ocasião da Sentença, devendo ele estipular o tempo de suspensão ou proibição proporcional a gravidade do crime cometido, permanecendo sempre entre os parâmetros mínimo e máximo previsto no código (2 meses a 5 anos). Permissão: Após aprovação nos exames (teórico, prático e psicotécnico) o condutor recebe uma permissão para dirigir veículo automotor que possui validade de um ano. Neste período, caso o condutor não cometa nenhuma falta grave sua permissão é convertida na Carteira Nacional de Habilitação definitiva. Assim, no caso do indivíduo não possuir sequer a permissão para dirigir e cometer um crime de trânsito, o Juiz pode determinar a proibição da obtenção por um determinado tempo. Já a suspensão são para os casos em que o indivíduo já possui a permissão ou a Carteira Nacional de Habilitação definitiva e acaba cometendo um crime de transito. Em alguns crimes previstos no Código, junto ao preceito secundário, já encontramos a previsão da aplicação da pena administrativa cumulativamente a privativa de liberdade. Por tal razão, não é incomum nos crimes graves, como no caso do Homicídio Culposo no Transito, haver uma pena privativa de liberdade cumulada a pena administrativa. Insta salientar que nos crimes onde não existir a previsão da aplicação cumulativa da Suspensão ou Proibição o Juiz poderá aplicar nos casos do Réu ser reincidente específico (crimes de transito), cuja previsão se encontra no Art. 296, CTB. Art. 296, CTB – Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. Caso o Réu se recuse a entregar a CNH ou a Permissão para Dirigir para a autoridade judiciária, no prazo de 48hs após sua intimação, conforme determina o §1° do Art. 293 do CTB incorrerá em outro crime previsto no Art. 307 do Código de Transito, vejamos: Art. 307, CTB – Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código: Penas – detenção, de 6 (seis) meses a (um) ano, e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.Ainda, nos incumbe atentar para a previsão do §2° do Art. 293 do CTB, que normatiza que o prazo de suspensão ou proibição somente inicia a contagem após cumprida a pena privativa de liberdade, uma vez que ela seria inócua caso o período em que o LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 4 sentenciado permanecesse preso corresse também o prazo de suspensão ou proibição do direito de dirigir, uma vez que preso já não possui tal permissão. Assim, independentemente do regime de cumprimento da pena, o prazo só começa a contar após a extinção da punibilidade penal. Houve discussão na doutrina acerca da competência do Juiz do JECRIM em julgar os crimes de transito quando a pena administrativa cumulada fosse superior a dois anos. No entanto, atualmente o entendimento esta pacificado no sentido de que o Juiz do JECRIM pode sim julgar crimes cuja pena administrativa seja superior a dois anos, uma vez que o parâmetro que define o crime de menor potencial ofensivo é a pena privativa de liberdade e não a pena administrativa. Por fim, insta salientarmos que não cabe Habeas corpus para impugnar a sanção administrativa (suspensão ou proibição), por não envolver privação da liberdade (direito de locomoção) e uma vez determinada por ocasião da Sentença o recurso cabível é o de Apelação. Suspensão ou Proibição Cautelar (Art. 294, CTB) Tudo o que vimos até agora ocorre no final do processo, por ocasião da Sentença. No entanto, é possível que a suspensão ou proibição sejam aplicadas cautelarmente, para evitar que o criminoso no transito cometa mais crimes. Art. 294, CTB – Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. Assim, de ofício ou a requerimento do Ministério Público ou ainda por representação da Autoridade Policial, para garantir a ordem pública o Juiz poderá cautelarmente decretar a suspenção ou a proibição da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor. Desta decisão cautelar, cabe Recurso em Sentido Estrito, conforme prevê o Parágrafo único do Art. 294 do CTB. Art. 294, Parágrafo único, CTB – Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo. Muitos acabam errando a peça na OAB quando o caso envolve estas medidas administravas, pois no rol trazido pelo Art. 581 do CPP, que prevê o Recurso em Sentido Estrito não consta a possibilidade de aplica-lo na hipótese da condenação administrativa pela LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 5 prática de crime no transito, uma vez que a previsão se encontra no próprio Código de Transito Brasileiro, conforme elencamos acima. Reincidência Específica (Art. 296, CTB) Art. 296, CTB – Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. Será considerado reincidente específico o indivíduo que condenado por um crime de transito com sentença transitado em julgado, voltar a praticar outro crime de transito, sem que tenha passado o período depurador (prescrição). Assim a reincidência específica parte de uma interpretação ampliativa do crime de transito, pois não há a necessidade de que o indivíduo pratique o mesmo crime, bastando praticar qualquer dos crimes previsto no Código de Transito. Multa Reparatória (Art. 297, CTB) Art. 297, CTB – A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no §1° do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime. Neste sentido, o Juiz por ocasião da Sentença pode fixar um valor líquido e certo para fins de reparação do dano causado pelo Réu. É interessante ressaltarmos que a possibilidade de aplicação da multa existia apenas no Código de Transito Brasileiro, no entanto, atualmente o dispositivo esta em desuso, devido a previsão do inciso IV do Art. 387 do CPP, que determina que em todos os processos em que ocorrer dano material a parte tem direito a fixação em Sentença de um valor mínimo a título de reparação. Art. 387, CPP – O juiz, ao proferir sentença condenatória: [...] IV – fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; [...] Agravantes Genéricas no Código de Transito (Art. 298, CTB) As agravantes genéricas previstas no Art. 298 do CTB são aplicáveis somente aos crimes de transito e não excluem a aplicação das agravantes genéricas previstas no Código Penal, por possuírem natureza diferente. Neste sentido, pode ser que ao caso concreto se aplique tanto agravantes genéricas previstas no CTB quanto as previstas no CP, sem caracterizar bis in idem. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 6 A regra é que para situação agravante eleva-se a pena em 1/6, vejamos ao dispositivo do CTB: Art. 298, CTB – São circunstâncias que sempre agravam a s penalidades dos crimes de transito ter o condutor do veículo cometido a infração: I – com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; II – utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas; III – sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; IV – com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo; V – quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de carga; VI – utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante; VII – sobre faixa de transito temporária ou permanentemente destinada a pedestres. Neste sentido, incidiria: o no inciso I, o condutor que capota seu veículo e quase atinge pessoas na calçada ou ainda a residência de alguém causando grande dano patrimonial; o no inciso II, o condutor que pratica um crime de transito estando com o veículo com placa falsa ou adulterada. Existe um crime próprio no Código Penal o que faz surgir discussões acerca se o indivíduo responde pelo crime de transito agravado pela placa falsa em concurso material com o crime de adulteração de sinal identificador de veículo automotor (Art. 311, CP), ou se tal imputação seria bis in idem e sobre o assunto existem dois posicionamentos: Uma corrente defende a possibilidade de se aplicar todas as punições que não caracterizaria bis in idem uma vez que o crime do Código Penal trata-se de um crime formal e ao adulterar a placa o sujeito já terá consumado o crime e depois ao cometer um crime no transito não impediria que a pena fosse agravada pela utilização da placa; Outra corrente defende que caracterizaria sim o bis in idem, portanto não é possível cumular a agravante genérica com a punição pela prática do crime previsto no Art. 311 do CP. o no inciso V, o motorista profissional que por ventura vai trabalhar embriagado. o no inciso VI, os indivíduos que adulteram osveículos para que eles ganhem mais potencia e, as hipóteses aqui não se limitam a alterações no LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 7 motor, pois o próprio rebaixamento do veículo já faz incidir essa agravante; o no inciso VII, sempre que o crime for praticado na faixa de pedestre, visto que o desvalor da conduta é maior, uma vez que o motorista deveria se precaver para dar maior proteção ao pedestre. A jurisprudência tem entendido que o crime deve ser cometido exatamente na faixa de pedestre e, ser contra pedestre, assim caso o indivíduo seja atropelado fora da faixa e arremessado para ela, não caracteriza a agravante, da mesma forma que se dois veículos colidirem em cima da faixa de pedestre também não. Prestação de Socorro à Vítima (Art. 301, CTB) O criminoso de transito que socorre a vítima tem o direito de não ser preso em flagrante e nem de lhe ser exigida fiança. Claro que temos que levar em consideração se o indivíduo tinha condições de prestar socorro sem colocar em risco a sua incolumidade física. Isso nos leva ao entendimento em contrario senso que é possível à prisão em flagrante e prestação de fiança em crimes de transito. 02/09/2016 HOMICÍDIO CULPOSO DE TRÂNSITO (Art. 302, CTB) Art. 302, CTB – Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor. Penas – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Antes do Código de Transito Brasileiro qualquer crime culposo no transito, o individuo respondia nos termos do §3° do Art. 121 do CP. No entanto, com o advento do referido diploma, pelo principio da especialidade agora o indivíduo que mata alguém culposamente no transito responde como incurso no Art. 302 do CTB. Insta salientar, que se o indivíduo com dolo utiliza um veículo para matar alguém respondera de acordo com o regramento do Código Penal. No mesmo sentido, o individuo embriagado ou que trafegue em excesso de velocidade, caso acabe matando alguém “culposamente”, a depender das circunstancias concretas do fato, pode caracterizar dolo eventual, o que também faz com que ele responda como incurso no regramento do Código Penal e a competência para julgamento será do Tribunal do Júri. Objetividade Jurídica e Tipicidade Objetiva O bem jurídico protegido pelo tipo penal é a vida humana. No que tange aos elementos objetivos, temos um tipo aberto, ou seja, conforme sua estrutura ele se aplica a qualquer crime culposo. O Juiz é quem avalia a modalidade de culpa LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 8 do caso em concreto: imprudência – excesso de velocidade, passar no cruzamento com o farol vermelho; negligência – deixar de realizar a manutenção adequada do veículo; ou imperícia – trafegar sem possuir habilitação, ou possua, mas não daquela categoria de veículo. Nos crimes culposos afasta-se a responsabilidade do agente, sempre que ficar caracterizado que o crime ocorreu por culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. No entanto, no Direito Penal não há compensação de culpa, assim se houver culpa concorrente, a culpa da vítima não compensa a culpa do condutor, em outras palavras, o condutor responderá pelo crime ainda que a vítima tenha uma parcela de culpa. Abrangência do Código de Transito Brasileiro O CTB alcança veículos automotores em vias terrestres, tanto urbanas como rurais. Não se incluem os veículos que andam em trilhos, vias fluviais e marítimas. A jurisprudência já pacificou que o Código de Transito se aplica mesmo em vias particulares. Insta salientar que não basta ser via terrestre pública ou particular, só responde por crime de transito o condutor do veículo. Assim, aquele que não estiver na condução do veículo ainda que cause um acidente que leve a morte de alguém, não respondera por homicídio culposo no transito, vejamos alguns exemplos: 1) Pedestre que atravessa a via de repente, assusta um motoqueiro que cai da moto e morre, não responde por homicídio culposo nos termos do CTB, mas sim pelo §3° do Art. 121 do CP; 2) Alguém que ao resolver dar um “tranco” no veículo, não consegue retornar a direção e o carro sem condutor atropela e mata um pedestre, também não responde por homicídio culposo no transito, mas pelo previsto no Código Penal; e 3) Um passageiro que ao jogar uma lata pela janela acaba acertando um motociclista que perde o controle se acidenta e morre, também não se aplica o CTB. Por outro lado, ainda que o veículo esteja parado, se o condutor ao abrir a porta acaba batendo em um motoqueiro que cai e morre, responderá por homicídio culposo no transito. Aspectos Relevantes o Inconstitucionalidade do Art. 302 do CTB Existe uma corrente doutrinaria que defende a inconstitucionalidade do Art. 302 do CTB, por violar o Princípio da Isonomia e Proporcionalidade uma vez que a pena cominada para Homicídio Culposo do Código Penal é de 1 a 3 anos de detenção e no Homicídio Culposo no Transito de 2 a 4 anos de detenção. Por outro lado, há aqueles que defendem a constitucionalidade do referido dispositivo, afirmando que o desvalor da conduta de um motorista que mata alguém no transito é mais acentuado quando comparado ao desvalor de um homicídio culposo comum, uma vez que espera-se que o motorista tenha cuidados redobrados. O STJ e o STF adotaram esta corrente. o Denúncia LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 9 A denúncia do Promotor deve descrever minuciosamente o comportamento do motorista, indicando qual o tipo de culpa que manifestada no caso em concreto. o Veículos Oficiais Quanto a competência para julgar homicídio culposo no trânsito, envolvendo veículos oficiais, principalmente no que tange viaturas da Policia Militar, a Súmula 6 do STJ determina que a competência é da Justiça Comum, salvo se a vítima também for militar. Súmula 6, STJ – Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar delito decorrente de acidentes de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de atividade. o Perdão Judicial Como o Código Penal é aplicado subsidiariamente ao Código de Transito Brasileiro, aplica-se, por exemplo, o Perdão Judicial (§5° do Art. 121, CP). Art. 121, §5°, CP – Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Assim, no caso do pai atropelar e matar o próprio filho ao manobrar o veículo na garagem de sua casa, a sanção penal torna-se inócua frente o sentimento de culpa que o agente sofreria. Insta salientar, que o perdão judicial é personalíssimo e exige vínculo de afetividade entre o autor e a vítima. Neste sentido, se em um veículo encontra-se o pai (condutor) seu filho e um amigo do pai, caso este amigo instigue o pai a trafegar em alta velocidade e isto acarrete na perda do controle do veículo, capotamento e morte do filho do condutor. O pai poderá ser favorecido com o perdão judicial, enquanto o amigo que foi partícipe não será beneficiado, por não ter vínculo afetivo com a vítima. No mesmo sentido, se as consequências do acidente repercutirem também no autor, como por exemplo, tê-lo deixado tetraplégico, a sanção penal também pode se tornar inócua frente as dificuldades que ele enfrentará em sua vida. A decisão que concede o Perdão Judicial tem Natureza Jurídica declaratória de extinção da punibilidade. Absorção e Concurso de Crimes Muitas vezes crimes de transito se apresentam comoum conglomerado de crimes, ou seja, as situações fáticas envolvem comumente vários crimes praticados concomitantemente, caracterizando concurso de crimes ou absorção de alguns crimes por outros. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 10 Assim, os crimes materiais de trânsito (que repercutem em dano à vítima, como homicídio culposo ou lesão corporal culposa) absolvem os crimes de perigo, de risco (excesso de velocidade e embriaguez ao volante), mas pode ser que estas circunstâncias configurem causa de aumento de pena ou qualifiquem o crime. Nos casos onde há concurso formal, como, por exemplo, o do motorista da Van em excesso de velocidade que acaba atropelando um grupo de pessoas e algumas morrem e outras ficam gravemente lesionadas, responderá conforme prevê a primeira parte do Art. 70 do Código Penal, senão vejamos: Art. 70, CP – Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de 1/6 (um sexto) até ½ (metade). As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. Causas de Aumento de Pena (Art. 302, §1°, CTB) Art. 302, §1°, CTB – No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: I – não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II – praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; III – deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; IV – no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros. Caso alguma causa de aumento de pena coincida com uma agravante genérica, o Juiz no momento da dosimetria de pena não poderá aplicar ambas, uma vez que caracterizaria bis in idem, assim, o Código Penal determina que se aplique apenas a circunstancia que aumente mais. Os incisos do parágrafo acima são auto explicativos, sendo necessário apenas explicarmos algumas situações com relação a conduta de “deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente”, vejamos: Se o indivíduo conduzindo um veículo em alta velocidade, atropela e mata alguém e na sequencia foge sem prestar socorro, responderá por Homicídio Culposo no Transito com a Causa de Aumento de Pena como determina o inciso III do §1° do Art. 302 do CTB, tratando-se, portanto, de hipótese em que o crime material absorve o crime de perigo, no entanto, precisamos diferenciar algumas situações. Nas hipóteses em que o indivíduo não der causa ao acidente, mas participar do fato e fugir, como, por exemplo, o caso de um transeunte se jogar na frente de um veículo à noite em uma rodovia, embora não responda por Homicídio Culposo no Transito responderá pela Omissão de Socorro prevista no CTB (Art. 304, CTB). LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 11 Já no caso do indivíduo não estar envolvido no fato, mas presenciar os acontecimentos e não prestar socorro, responderá por Omissão de Socorro prevista no Código Penal (Art. 135, CP). Na análise das situações acima podemos concluir que a Omissão de Socorro do Código de Transito se presta tão somente para os indivíduos que participaram os fatos que envolvem o Crime de Trânsito. Por óbvio o dever de prestar socorro somente persiste se não houver risco pessoal ao agente, também é importante frisarmos que se um terceiro socorrer a vítima e os envolvidos nos fatos permanecerem no local, não caracteriza o crime de Omissão de Socorro. Por fim, insta salientar que fica isento de cumprir com essa determinação nas situações em que a vítima morrer instantaneamente. Homicídio culposo e embriaguez ao volante (Art. 302, §2°, CTB) Art. 302, §2°, CTB – Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em ração da influência de álcool ou determine, dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente. Penas – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Este dispositivo foi acrescido pela Lei n. 12.971/14 e, antes desta alteração os casos de Embriaguez ao Volante eram tratados como Causa de Aumento de Pena, uma vez que havia um inciso V no §1° estudado acima. Com a inclusão do §2° ao Art. 302 do CTB a Embriaguez ao Volante deixou de ser uma Causa de Aumento de Pena para Qualificar o crime. Neste caso a pena permaneceu com o mesmo prazo, mas deixou de ser de detenção e passou a ser de reclusão, tendo alterado, portanto, sua natureza, lembrando que as penas de detenção iniciam o cumprimento em regime semi-aberto (menos gravoso), ao passo que as de reclusão em regime fechado (mais gravoso). Assim, suponhamos que um indivíduo embriagado atropele e mate uma pessoa na faixa de pedestre. Para iniciar o cálculo da pena, já devemos levar em consideração a qualificadora. Já o fato de ter ocorrido em cima da faixa de pedestre faz incidir a Causa de Aumento de Pena, prevista no inciso II do §1° do Art. 302 do CTB (3° fase do cálculo da pena). Dependendo do estado de embriaguez que o indivíduo se apresente, pode indicar que o crime tenha natureza dolosa, no plano do dolo eventual. Portanto, o Homicídio de Transito quando combinado com Embriaguez ao Volante pode ensejar tanto o crime de Homicídio Culposo no Transito (Art. 302, CTB) como o Homicídio (Art. 121, CP). LESÃO CULPOSA DE TRÂNSITO (Art. 303 do CTB) LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 12 Art. 303, CTB – Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Basicamente tudo que falamos do homicídio também se aplica a Lesão Culposa de Trânsito. Gravidade da Lesão e Reflexos na Tipificação A gravidade da Lesão Corporal não interfere na tipificação do crime, ou seja, sempre será o Art. 303 do CTB, isso porque as graduações da lesão se aplicam apenas as formas dolosas. No entanto, a gravidade da lesão sem dúvida influenciará o Juiz no momento de dosar a pena. Assim, em que pese a gravidade da lesão não interferir na tipificação, ela vai interferir na dosimetria da pena. Causas de Aumento de Pena (Art. 303, Parágrafo único, CTB) Art. 303, Parágrafo único, CTB – Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do §1° do art. 302. Este parágrafo nos remete ao §1° do Art. 302, CTB, portanto, as mesmas Causas de Aumento de pena previstas para o Homicídio Culposo de Transito se aplicam a Lesão Culposa de Transito. Lesão de Trânsito e Embriaguez ao volante (Art. 291, §1°, CTB) Como o Parágrafo único do Art. 303, conforme explicado acima, nos remete as Causas de Aumento de Pena previstas no §1° do Art. 302, com a revogação do inciso V do referido dispositivo, onde previa o aumento de pena nos casos de Embriaguez ao Volante, o crime de Lesão Culposa de Transito acabou ficando sem esta Causa de Aumento de Pena. E como não é possível aplicar a circunstância qualificadora prevista no §2° do Art. 302 do CTB for falta de previsão legal, resta apenas à possibilidade que o Juiz aplique uma pena mais gravosa utilizandocomo base o Art. 59 do CP no momento da dosimetria da pena. Não podemos olvidar também que incide o §1° do Art. 291 do CTB, que afasta os benefícios da Lei 9.099/95 na Lesão Culposa de Transito, em que o indivíduo encontrava-se embriagado. 09/09/2016 EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (Art. 306, CTB) Art. 306, CTB – Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 13 substância psicoativa que determine dependência. Pena – detenção de 6 meses a 3 anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habitação para dirigir veículo automotor. A redação deste dispositivo foi alterada varias vezes no decorrer dos anos, atualmente o caput prevê o crime propriamente dito e os §§ são dispositivos explicativos. Objetividade Jurídica e Tipicidade Objetiva O crime é de perigo abstrato e protege-se a segurança no transito. Assim, o primeiro ponto que devemos analisar é que o crime de embriaguez ao volante protege a Segurança Pública, uma vez que o próprio Código de Transito disciplina no §2° do seu Art. 1° que todo cidadão tem direito a segurança no transito. Art. 1°, §2°, CTB – O trânsito, em condições e seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito. Claro que ao proteger a segurança no transito, indiretamente se protege a vida, integridade física, patrimônio, etc. A “Lei Seca” (Lei. 11.705/08) e seu fortalecimento pela Lei 12.760/12 Antes do CTB, tínhamos um artigo específico na Lei das Contravenções Penais que disciplinava a punição para aqueles que eram pegos embriagados ao volante. Na época o delito era considerado de menor potencial ofensivo sendo-lhe cominado uma pena branda. Com o advento do CTB houve a previsão do crime de embriaguez ao volante, no entanto, a redação do Art. 306 era bem diferente. A antiga tipificação do crime de embriaguez ao volante previa a necessidade do agente causar risco à segurança no transito, ou seja, não bastava a embriaguez para caracterizar o crime, havia a necessidade de que o indivíduo conduzisse o veículo de maneira perigosa, em outras palavras o dispositivo exigia risco concreto. Com tal previsão ainda que o indivíduo estivesse embriagado, caso estivesse dirigindo bem, ele não era tipificado no crime de embriaguez ao volante. Com o advento da Lei Seca em 2008, como os índices de acidentes causados por motoristas alcoolizados eram alarmantes, a ideia foi combate-lo de forma rigorosa. Esta norma retirou a exigência de risco concreto que existia na redação originária e passou a exigir apenas o risco abstrato, assim bastava o agente estar embriagado que caracterizaria o crime, independente da sua habilidade na direção. Nesta ocasião, a lei estabeleceu uma quantidade mínima de dosagem alcoólica para caracterizar o crime (igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar). LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 14 Esta normatização trouxe um grande problema prático, pois não havia como comprovar o índice da dosagem alcoólica se o agente se recusasse a se submeter ao exame de sangue ou etilômetro (alcoolímetro) e o STF e o STJ tinham o entendimento pacifico de que o condutor do veículo não era obrigado a produzir provas contra si mesmo (Art. 5°, LXIII, CF). Fato é que isto se transformou num verdadeiro obstáculo para na pratica punir o indivíduo por embriaguez ao volante. Por causa deste entrave, tivemos em 2012 uma nova Lei Seca, que alterou novamente o Art. 306 do CTB reforçando seu caráter punitivo e autorizando outros meios para comprovação da embriaguez, através da criação do §1° do Art. 306. Art. 306, §1°, CTB – As condutas previstas no caput serão constatadas por: I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. Assim, passamos de uma simples contravenção penal, para um crime de perigo concreto, posteriormente para crime de perigo abstrato que havia cominado uma dosagem alcóolica mínima para caracteriza-lo, até chegarmos a previsão atual de crime de perigo abstrato, onde há várias formas de se comprovar a embriaguez, inclusive através de testemunhas, conforme verificaremos abaixo. A constatação da alteração da capacidade psicomotora do condutor do veículo (Art. 306, §1°, CTB) o Resolução n. 432/13 – CONTRAN Art. 306, §1°, CTB – As condutas previstas no caput serão constatadas por: I – concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou II – sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. O inciso I repete a previsão que já tínhamos antes da alteração de 2008, ou seja, a de se comprovar a embriaguez através de exame de dosagem alcóolica realizada principalmente por meio de uma amostra de sangue, mas é possível também utilizar o suor, a saliva e até a urina para realizar tal dosagem. Há também a possibilidade de se aferir a embriaguez através do ar soprado no etilômetro, popular bafômetro. Como já discutimos acima, o agente poderá negar-se a ceder amostra de seus fluidos corporais ou mesmo a soprar o etilômetro, por tal razão a lei atualmente permite a comprovação da embriaguez conforme o previsto no inciso II. O inciso II foi a grande novidade trazida pela alteração da nova Lei Seca de 2012, pois passou-se a possibilitar a comprovação da embriaguez pelos sinais exteriores apresentados LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 15 pelo condutor. Tais sinais foram regulamentados pela portaria do Contran (Resolução 432/13). Então, atualmente qualquer agente de transito possui atribuição para diagnosticar clinicamente e atestar a presença dos sinais exteriores de embriaguez no condutor do veículo. Todos os sinais observados devem ser transcritos no auto de infração, servindo como prova da alteração motora. Vídeos, provas testemunhais, médicos peritos ou qualquer outro tipo de prova são também aceitos para comprovar a embriaguez, conforme previsão do §2° do Art. 306 do CTB. Art. 306, §2°, CTB – A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de alcoolemia ou toxicológica, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. Insta salientar que o dispositivo elencado acima disciplina o direito do condutor do veículo de realizar a contraprova. Neste sentido, caso o condutor tenha alguma patologia que o leve a ter a presença dos sinais característicos da embriaguez, sem, no entanto, ter bebido, ele terá a oportunidade de provar tal fato. A depender das circunstancias do fato, a constatação da prática do crime de embriaguez ao volante autorizam a prisão em flagrante, uma vez que ele não é mais considerado de menor potencial ofensivo. Além das consequências penais, há também as consequências administravas que podem ser tão graves quanto as penais, conforme previsão no Art. 165, CTB. Art. 165, CTB – Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Infração – gravíssima; Penalidade– multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. Medida administrativa – recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, observado o disposto no §4° do art. 270 da Lei 9.503, de 23 de setembro de 1997 – do Código de Trânsito Brasileiro. Assim, a multa é altíssima o condutor é pontuado em sua carteira, o veículo pode ser apreendido (caso não haja ninguém habilitado e em condições de conduzi-lo) e o condutor terá que passar por cursinhos preparatórios antes de reaver sua CNH. Existe uma disposição na resolução do Contran que é extremamente rigorosa, uma vez que o simples fato de não se submeter ao etilômetro, o indivíduo já é punido administrativamente, claro que sobre o dispositivo pairam dúvidas sobre sua constitucionalidade. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 16 Art. 306, §3°, CTB – O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. Por fim, insta salientar que o crime de embriaguez ao volante é Crime de Ação Penal Pública Incondicionada, aliás o único Crime de Transito cuja Ação é Condicionada é o de Lesão Corporal Culposa, salvo se o indivíduo estiver embriagado. Aspectos finais o Concurso de Crimes O Crime de Embriaguez ao Volante se aplica ao indivíduo que não praticou qualquer outro crime, pois caso ele atropele e mate ou lesione alguém o crime material absorve o crime de perigo, incidindo como circunstancia judicia (lesão corporal culposa) ou qualificadora (homicídio culposo), conforme vimos anteriormente. o Recentes Alterações Legislativas A Lei n° 13.281/16 alterou recentemente o Código de Transito Brasileiro e dentre as alterações incluiu o Art. 312-A elencado abaixo: Art. 312-A, CTB – Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas situações em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, esta deverá ser de prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, em uma das seguintes atividades: I – trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de bombeiros e em outras unidades móveis especializadas no atendimento a vítimas de trânsito; II – trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede pública que recebem vítimas de acidente de trânsito e politraumatizados; III – trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de vítimas de acidentes de trânsito; IV – outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de vítimas de acidentes de transito. Assim, caso o Juiz entenda que cabe a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, deverá ser a de prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, nas atividades descritas nos incisos acima. CRIMES DE PRECONCEITO OU DISCRIMINAÇÃO (Racismo – Lei n° 7716/89 – Lei n° 12.288/10) A Lei não envolve apenas o racismo, mas sim qualquer tipo de discriminação / preconceito. A Lei busca punir as pessoas que discriminam outras com base em ideias de superioridade de raça, etnia, cor, etc. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 17 O Estatuto da Igualdade Racial modificou muitos dispositivos da Lei do Racismo. Disposições Iniciais o Histórico Legislativo Nas Ordenações Filipinas, a própria Lei discriminava as pessoas. Os Judeus, por exemplo, tinham que andar com um gorro amarelo, enquanto os Mouros com uma vestimenta contendo uma meia lua vermelha para que fosse fácil distingui-los dos demais. A Constituição de 1824 foi a primeira que vedou a perseguição com base em religião, mas nada falou acerca da questão da escravidão. Apenas em 1988 a Lei Aurea aboliu a escravidão, mas insta salientar que antes dela em 1871 houve a Lei do Ventre Livre, onde o filho do escravo nascido no Brasil não podia mais ser escravo. Mais recentemente a primeira Lei a combater especificamente o racismo foi uma Lei da década de 50 denominada Lei Afonso Arinos (Lei 1.390/51). Nosso material de trabalho para estudo do combate ao racismo será a Lei 7.716/89 com as alterações realizadas pela Lei 12.288/10, mas não podemos deixar de lembrar que há uma série de leis que combatem a discriminação no Brasil, vejamos: o Leis Anti-Discriminação Genocídio – Lei n° 2.889/56; Estatuto do índio – Lei n° 6.001/73; Lei de Portadores de Deficiência – Lei n° 7.853/89; Lei de Proteção ao Emprego – Lei n° 9.029/95; Lei de Tortura – Lei n° 9455/97; e Estatuto do Idoso – Lei n° 10.741/03. Além destas normas, não podemos esquecer da Constituição Federal e dos Tratados Internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem (Art. 2°) e a Convenção Internacional sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. Bem Jurídico Protegido Dignidade da Pessoa Humana que possui previsão na própria Constituição (Art. 1°, III, CF). Art. 1°, CF – A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de direito e tem como fundamentos: [...] III – a dignidade da pessoa humana; [...] Igualdade, pois os iguais devem ser tratados igualmente e os desiguais desigualmente na medida de sua desigualdade, que também possui previsão Constitucional (Art. 5°, I, CF). LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 18 Art. 5°, CF – [...] I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; [...] A Constituição Federal em vários dispositivos trata do racismo, se verificarmos os incisos do Art. 3° onde estão previstos os objetivos da Republica, verificaremos no inciso IV prevê que a República deve “promover o bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Além disso, a Constituição ainda prevê a inafiançabilidade e a imprescritibilidade dos crimes de racismo, conforme podemos verificar abaixo. Art. 5°, CF – [...] XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; [...] Estudo dos Conceitos o Racismo O racismo é uma teoria, uma teoria da superioridade, em outras palavras é uma teoria de que algumas pessoas, povos e nações se acham dotadas de qualidades superiores, qualidades estas físicas e/ou psicológicas. o Preconceito Trata-se de um sentimento, um pré julgamento, um estereótipo negativo que estas pessoas sentem. Assim é uma opinião que se forma sobre algo ou alguém, pautado em suspeitas, ódio, intolerância, aversão e até mesmo religião ou credo, mas nunca em algo científico. o Discriminação A discriminação trata-se de uma atitude, ação. Discriminar significa diferenciar, afastar, apartar, tratar de forma diferente. Vários autores dizem que a discriminação é a materialização do preconceito, inclusive o Art. 1° Parágrafo único, Inciso I da Lei 12.288/10, nos fornece um conceito extremamente importante de discriminação, vejamos: Art. 1° Parágrafo único da Lei 12.288 – Para efeito deste Estatuto, considera-se: I – discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada. Existemdois tipos de discriminação: LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 19 Discriminação Negativa: é a discriminação ilícita, ilegal, contra o direito. Ex. Proibir a entrada de pessoas negras em um estabelecimento comercial. Discriminação Positiva: trata-se da discriminação legal, lícita, pautada na ideia de justiça distributiva, que é tratar igualmente as pessoas iguais e desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades. Se manifesta concretamente nas Ações Afirmativas, que são formas de correção das desigualdades. Ex. Sistema de cotas para ingresso nas universidades públicas e reservas de vagas para deficientes físicos no mercado de trabalho. 15/09/2016 A Imprescritibilidade do “Racismo” (Art. 5° XLII, CF/88) Art. 5°, CF – [...] XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; [...] Os crimes previstos na Lei 7.716/89 com as alterações realizadas pela Lei 12.288/10, por força de um mandamento constitucional, são imprescritíveis, ou seja, não flui nenhum tipo de prescrição. O racismo ou crime de preconceito em razão de origem nacional, religião, etnia, raça ou cor, é considerado um crime contra humanidade e a tendência mundial é tornar tais crimes imprescritíveis. Diferença de Injúria Racial ou Preconceituosa e “Racismo” Injúria Racial ou Preconceituosa, não nasceu na redação originária do Código Penal, tendo sido incluída pela mesma Lei que criou o crime de Divulgação do Nazismo. Esta lei acrescentou um §3° ao Art. 140 do CP criando uma espécie de Injúria Qualificada (Injúria Racial ou Preconceituosa). Art. 140, §3°, CP – Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Nesta hipótese o agente atribui qualidades negativas a outra pessoa ofendendo a sua dignidade, decoro e/ou auto estima, mas ao fazer isso ele utiliza elementos preconceituosos inerentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Na Injúria Preconceituosa ou Racial a ofensa é dirigida a uma vitima ou grupo de vítimas determinadas, específicas. Isto é extremamente importante para configuração do crime. A Ação Penal neste caso é Pública Condicionada a Representação e tal crime é passível de prescrição. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 20 Já o Racismo ou Crime de Preconceito é mais amplo. O Racismo se manifesta de várias maneiras, temos, por exemplo, um primeiro grupo de 12 crimes que são denominados Tipos Específicos, previstos entre o Art. 3° e 14 da Lei 7.716/89 abrangendo situações do cotidiano, nos vários setores da sociedade. O crime de Racismo envolve condutas como impedir, obstar, impor, recusar, em razão de origem nacional, etnia, cor da pele, religião e raça. Neste sentido um restaurante que proíbe a entrada de indivíduos de uma determinada cor de pele ou uma escola que impede a matrícula de crianças de uma determinada religião, são condutas racistas. A Divulgação do Nazismo também é facilmente perceptível, para tal o agente deve fabricar, vender ou distribuir símbolos nazistas. A Modalidade Genérica de Racismo é que causa maior confusão entre Injúria Racial, já que a Modalidade Genérica envolve induzimento, instigação e a prática de qualquer manifestação preconceituosa. A simples manifestação de qualquer opinião racista faz o indivíduo ser tipificado no crime de Racismo na Modalidade Genérica. Art. 20, Lei 7.716/89 – Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena – reclusão de um a três anos e multa. O elemento básico que os diferencia é que a Injúria Racial há uma vítima ou grupo de vítimas determinadas, já o Racismo na Modalidade Genérica a manifestação da opinião racista/ofensiva é direcionada a um grupo indistintamente. Assim, no mesmo contexto fático poderemos ter concurso de crimes de Racismo e Injúria Racial, sendo que este último o objeto jurídico protegido é a honra e o primeiro a igualdade e dignidade da pessoa humana. Uma vez que a conduta é caracterizada como sendo de Racismo na Modalidade Genérica, o crime é imprescritível e a Ação Penal é Pública Incondicionada. Análise dos Elementos Objetivos dos Crimes de Preconceito ou Discriminação O Racismo envolve necessariamente cinco situações: raça, cor da pele, etnia, religião e/ou procedência nacional e, para melhor entendermos as tipificações penais faz-se necessário estudarmos o conceito de cada uma delas, vejamos: o Raça Conjunto de pessoas que compartilham das mesmas características físicas (somáticas). São pessoas fisicamente semelhantes – formato dos olhos, cor da pele, tipo de cabelo, estrutura do crânio, forma física. Estas características são transmitidas hereditariamente. Em que pese já estar comprovado que todos os seres humanos tem uma mesma origem, para fins jurídicos há varias raças humanas, cada uma delas englobando uma variedade de características. Não fosse assim, o agente poderia alegar que não cometeu racismo sob a alegação de que todos são iguais. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 21 o Cor Refere-se a tonalidade da pele – branca, preta, parda. o Etnia A semelhança aqui esta relacionada a fatores culturais, psicológicos, políticos, linguísticos e tradição. Por exemplo, os Judeus são fisicamente bem diferentes, mas possuem uma etnia bastante presente/forte. Encontraremos jurisprudência do Supremo no sentido de que Raça e Etnia são a mesma coisa, mas sob pontos de vista diferentes. o Religião Trata-se do exercício da fé em uma divindade. Ex. catolicismo, protestantismo. Acerca do indivíduo Ateu poder ser vítima de discriminação religiosa, existem duas correntes: 1) defende tratar-se de fato atípico, portanto o Ateu não poderia figurar como sujeito passivo deste crime; 2) defende que o Ateu pode sofrer discriminação religiosa, uma vez que a discriminação não se relaciona a prática de uma religião, mas sim a postura que o indivíduo possui frente a religião. Esta segunda corrente é a que tem prevalecido. o Procedência Nacional É possível a discriminação de pessoas que são do mesmo Estado (país), mas de regiões diferentes. Segundo o STF também se inclui neste dispositivo os estrangeiros que sofram discriminação, uma vez que procedência nacional relaciona-se também com a nacionalidade do indivíduo. Neste sentido, pode um brasileiro ser discriminado no próprio Estado (Brasil) por ser brasileiro, na hipótese, por exemplo, de uma multinacional obstar a contração de brasileiros, somente por serem brasileiros. Aspectos Controvertidos Se não houver discriminação com base nos elementos elencados acima, não temos a incidência da Lei 7.716/89. Por tal razão, discriminar pessoas com deficiência ou idosos, não incide nessa Lei. A homofobia, a discriminação devido a orientação sexual ou aspectos filosóficos e políticos, também não se enquadram nessa Lei, podendo caracterizar dependendo do caso crime contra a honra. Dos Crimes em Espécie LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 22 o Tipos Específicos: Art. 3° ao 14 da Lei 7.716/89. Trata-se do primeiro grupo de crimes e envolvem vários segmentos da sociedade. o Tipo Genérico: Art. 20, caput da Lei 7.716/89. Trata-se de um crime subsidiário, pois enquadraremos os agentes que não se enquadrarem nos tipos específicos. o Divulgação doNazismo Por fim, há ainda um crime específico para aqueles que divulgam o nazismo. Tipos Específicos dos Crimes de Preconceito ou Discriminação o Sujeito Ativo e Passivo O Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mas dependendo do crime poderá exigir uma qualificação pessoal. Por exemplo, o sujeito ativo do crime previsto no Art. 3° da Lei 7.716/89, só pode ser funcionário público. O Parágrafo único do mesmo artigo ainda deixa claro que o Sujeito ativo pode ser um semelhante, ou seja, um funcionário público discriminando outro funcionário público. Em relação ao Sujeito Passivo, primeiramente temos o Estado (sociedade como um todo) e secundariamente a pessoa discriminada. o Tipicidade Subjetiva O crime é necessariamente doloso – vontade livre e consciente de praticar atos discriminatórios em face de uma religião, procedência nacional, raça, cor da pele ou etnia. Se não houver esse dolo específico não há crime de racismo. Assim, caso o agente esteja praticando o ato com animus jocandi (brincadeira), não caracteriza o racismo. Se o motivo da discriminação é justo, acolhido pelo direito também não há crime. Por exemplo, não é discriminação obstar um sujeito de ocupar um cargo público, caso ele não passe no concurso, também não é crime impedir que um candidato a policial assuma o cargo se ele não demonstrar a aptidão física exigida, enfim, havendo um motivo justo, poderá haver discriminação. o Tipicidade Objetiva São 4 comportamentos (verbos nucleares) que caracterizam as condutas típicas do crime de Racismo: Impedir – renegar acesso, proibir. Obstar – causar embaraço, criar obstáculo, dificultar. Negar – dizer não, recusar. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 23 Recusar – deixar de fornecer Trata-se de crime formal, portanto não exigem resultado naturalístico, no entanto eles admitem tentativa, por serem multipluriexistentes. o Tipos Específicos (Divisão Didática): Discriminação no Trabalho: Art. 3°, 4° e 13 da Lei 7.716/89 Discriminação no Serviço Público Art. 3° da Lei 7.716/89 – Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, obstar a promoção funcional. Pena – reclusão de dois a cinco anos. Neste sentido, não pode um edital de concurso vedar o acesso de pessoas de uma determinada raça, etnia, religião, origem nacional ou cor da pele. Ou mesmo, alguém ser impedido de ser promovido com base nos mesmos argumentos, aplicando-se a disposição acima a qualquer órgão da administração pública direta ou indireta. Discriminação na Iniciativa Privada Art. 4° da Lei 7.716/89 – Negar ou obstar emprego em empresa privada. §1° Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica: I – deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado em igualdade de condições com os demais trabalhadores; II – impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma de benefício profissional; III – proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao salário. §2° - Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências. Pena: reclusão de dois a cinco anos. Claro que a depender do local de trabalho, justifica-se a discriminação, por exemplo, a igreja católica certamente fará questão de contratar católicos para trabalhar em seus templos, no mesmo sentido, contratar apenas negros para trabalhar em uma produção que contará a história da escravidão também não caracteriza crime. Em suma, devemos analisar cada caso com base na razoabilidade. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 24 O Estatuto da Igualdade (Lei 12.288/10) acrescentou o §2° ao dispositivo prevendo multa e prestação de serviços a comunidade a quem em anúncios ou qualquer forma de recrutamento de trabalhadores exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia para o emprego, cujas atividades não justifiquem essas exigências. Assim, não pode o empresário divulgar que esta contratando secretaria de boa aparência. Discriminação nas Forças Armadas Art. 13, Lei 7.716/89 – Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas. Pena: reclusão de dois a quatro anos. Discriminação na Educação: Art. 6° da Lei 7.716/89 Art. 6°, Lei 7.716/89 – Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. Pena: reclusão de três a cinco anos. Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). Acerca do tema, há também a discriminação positiva (Ações Afirmativas) e o Supremo já julgou várias vezes que o Sistema de Cotas para acesso em universidades públicas, por exemplo, é constitucional. Discriminação no Comércio: Art. 5°, 7°, 8° 9° e 10 da Lei 7.716/89 Discriminação em estabelecimentos comerciais Art. 5°, Lei 7.716/89 – Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. Pena: reclusão de um a três anos. Discriminação em hotéis ou similares Art. 7°, Lei 7.716/89 – Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. Pena: reclusão de três a cinco anos. Discriminação em restaurantes ou similares Art. 8°, Lei 7.716/89 – Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos. Discriminação em clubes ou casas de diversão (estádios de futebol, teatros, clubes de campo) ou similares LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 25 Art. 9°, Lei 7.716/89 – Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. Pena: reclusão de um a três anos. Discriminação em cabelereiros, salões de estética, barbearia ou similares Art. 10, Lei 7.716/89 – Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades. Pena: reclusão de um a três anos. Discriminação na Vida Social: Arts. 11, 12 e 14 da Lei 7.716/89 Discriminação em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escadas Art. 11, Lei 7.716/89 – Impedir o acesso as entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos: Pena: reclusão de um a três anos. Discriminação em transporte público Art. 12, Lei 7.716/89 – Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus, tens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido. Pena: reclusão de um a três anos. Discriminação no casamento e na convivência familiar Art. 14, Lei 7.716/89 – Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social. Pena: reclusão de dois a quatro anos. Neste sentido, comete crime o pai que proíbea filha de casar com um negro, por exemplo. 23/09/2016 o Tipo Genérico (2° Categoria de Racismo) Fundamento (Art. 20 da Lei 7.716/89) Art. 20, Lei 7.716/89 – Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena – reclusão de um a três anos e multa. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 26 Aqui temos uma hipótese em que o indivíduo manifesta sua opinião racista através de induzimento, incitação ou qualquer tipo de prática que sugira discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Elementos Objetivos do tipo Induzir: criar a ideia. Incitar: estimular reforçar uma ideia previamente existente. Caso alguém escreva alguma ideia preconceituosa em um blog na internet, por exemplo, será tipificado neste artigo, na modalidade qualificada, conforme veremos abaixo. Praticar: o verbo praticar é extremamente genérico, portanto aqui qualquer tipo de atitude, comportamento e/ou atividade que veicule uma opinião discriminatória ou preconceituosa envolvendo raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, recai nesse artigo. Então o legislador estabeleceu tipos específicos de crimes e quando a conduta do agente não se encaixar em nenhum deles, não se tratando de induzimento ou incitação, sua conduta cairá no verbo praticar, não havendo, portanto, como não ser tipificado em uma das previsões Assim, o Art. 20 da Lei 7.716/89 traz um crime subsidiário, pois se a conduta do agente não se enquadrar nas hipóteses específicas cairá na rede deste artigo. Tipicidade Subjetiva Aqui, da mesma forma que os tipos específicos só existirá o crime se houver dolo específico, ou seja, a vontade livre de discriminar em razão da raça, cor, etnia, origem nacional ou religião. Caso o agente tenha animus jocandi ou animus narrandi não caracteriza o dolo específico e, portanto, não há crime. Claro que devemos investigar se o dolo não esta camuflado. Racismo e Liberdade de Expressão Um dos pontos principais deste crime é a relação do Racismo e a Liberdade de Expressão. A Constituição Federal garante a Liberdade de Expressão (Art. 5°, inciso IX, CF), alias este direito é corolário (consequência) do Direito de Liberdade. A Liberdade de Expressão é a base do Estado Democrático de Direito, o que significa que sem ela não há democracia. Em contrapartida, esta Liberdade não é ilimitada. A questão do Racismo se encaixa neste tipo de reflexão. Ninguém pode incitar ou realizar apologia ao crime, no mesmo sentido não se pode manifestar ideias racistas. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 27 Claro que há zonas cinzentas, por exemplo, obras literárias que possam dar a entender que disseminam ideias racistas, como o que ocorreu com a obra de Monteiro Lobato, que utiliza por diversas vezes a palavra “negra” e “crioula” para se referir a Tia Anastácia, no entanto, quando o assunto foi discutido no STF através de uma análise histórica, verificou-se que estes termos eram comumente utilizados na época em que se passa a história não tendo qualquer conteúdo racista nisso. Assim, quando estivermos diante de filmes, obras literárias, músicas ou qualquer manifestação artística precisamos utilizar critérios de razoabilidade, para separarmos o que é arte e o que é crime. Fato é que a partir do momento que a Liberdade de Expressão viola outros direitos, justifica-se sua limitação em prol do interesse da sociedade. Enfim, a Liberdade de Expressão não é absoluta e todos que extrapolarem os limites do considerado razoável pode caracterizar o crime de racismo. No mesmo sentido as Imunidades Parlamentares também possuem limites e, ultrapassado este limite, o Parlamentar ainda que possuidor de imunidade poderá ser acusado de crime de prática de racismo. Figura Qualificada (Art. 20, §2°, da Lei 7.716/89) Art. 20, §2°, Lei 7.716/89 – Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. Uma coisa é praticar racismo em lugares com um determinado número de pessoas, oura coisa é abrir uma página na internet onde todos podem ter acesso àquelas opiniões. Assim, sempre que a divulgação da opinião racista for veiculada através de um meio que pode atingir um número imensurável de pessoas qualifica o crime. o Divulgação do Nazismo (3° Categoria de Racismo) Conceito: Art. 20, §1° da Lei 7.716/89 introduzido pela Lei 9.459/97 Art. 20, §1°, Lei 7.716/89 – Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Na verdade também é uma forma de incitação, instigação e/ou pratica do crime de racismo, só que aqui especificamente em relação ao nazismo. Este parágrafo foi acrescentado a Lei em 1997, por conta da pressão da mídia depois que um rapaz de origem judaica sofreu agressões de um grupo de skinheads que pregavam ideias nazistas e na época não havia nenhum dispositivo para encaixar a conduta dos LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 28 indivíduos, senão na forma genérica de racismo que possui pena mais branda do que a prevista para o crime de Divulgação do Nazismo. Aspectos Iniciais Nazismo trata-se de uma ideologia política de extrema direita que se assenta na ideia de superioridade racial. Surge quando Hitler assume o comando do Partido Nacional Alemão que posteriormente mudou de nome para Partido Nazista. Hitler após o termino da 1° guerra mundial se tornou político e chegou à Presidência da Alemanha. Ele pregava a ideia da existência de povos superiores, os chamados arianos (europeus puros). O povo ariano utilizava como emblema na antiguidade a Suástica. No entanto, nos cabe informar que a suástica trata-se de um símbolo existente em muitas culturas, como a cultura inca, chinesa, egípcia, japonesa, entre outras. Ocorre que Hitler se apropriou deste símbolo e o colocou na bandeira do Partido Nazista e posteriormente na própria bandeira da Alemanha durante a 2° Guerra Mundial em contrariedade a bandeira da União Soviética. Elementos Objetivos do Tipo Insta salientar inicialmente que a Cruz Suástica ou Gamada são a mesma coisa, ou seja, referem-se ao mesmo símbolo. Assim, fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, caracteriza o crime de Divulgação do Nazismo. Trata-se, portanto, de um crime de Ação Múltipla, uma vez que vários verbos caracterizam o crime. Objeto Material Símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada. O Legislador cometeu um erro, pois ele só coloca como símbolo do nazismo a cruz suástica ou gamada, no entanto, existem vários outros símbolos do nazismo, como, por exemplo, a águia e o próprio rosto de Hitler. Assim, se houver a divulgação do nazismo por outros símbolos, o agente não será incurso no crime de Divulgação do Nazismo (§1°), mas sim no crime genérico que a pena é mais branda. Tipicidade Subjetiva LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 29 O simples fato de ter estes emblemas, por si só não caracteriza o crime. Para caracterizar o delito é necessário praticar um dos verbos do tipo, com a finalidade de divulgar o nazismo. Portanto, este delito também exige dolo específicoe, se a intenção do agente não for a divulgação da ideologia nazista, mas sim com a finalidade de divulgação histórica, artística, didática, entre outras, não há crime. O indivíduo que possui guardada uma camiseta com a cruz suástica, não comete crime algum, agora ao sair com ela com a intenção de divulgação do nazismo, caracteriza o crime. Medidas Cautelares (Art. 20, §3° da Lei 7.716/89) Art. 20, §3°, Lei 7.716/89 – No parágrafo anterior, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência: I – o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares do material respectivo; II – a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; III – a interdição das respectivas mensagens ou páginas de informações na rede mundial de computadores. A Lei de Direitos Autorais prevê que após 70 anos as obras caem em domínio público e um livro escrito Hitler esta caindo em domínio público agora, o que fez com que diversas editoras no Brasil se interessassem em publica-los. No entanto, o Ministério Público ingressou com pedido de Medida Cautelar para suspender a publicação do livro, enquanto discute-se se tal pratica caracteriza o crime de Divulgação do Nazismo ou não. Tal pedido somente foi possível devido à previsão da possibilidade de se tomar medidas cautelares conforme elencado no dispositivo acima. Efeitos da Condenação (Art. 20, §4° da Lei 7.716/89) Art. 20, §4°, Lei 7.716/89 – Na hipótese do §2° constitui efeito da condenação, após o trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. Constitui efeito da condenação, após o transito em julgado, a destruição de todo o material apreendido (objeto material do crime). o Competência para julgar os crimes de Racismo A competência para julgar os crimes de Racismo podem ser tanto da Justiça Estadual como da Justiça Federal, conforme o disposto abaixo: Será da Justiça Estadual, quando o Racismo for praticado em âmbito privado ou em um prédio público estadual, como, por exemplo, uma Escola ou Universidade Estadual. LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 30 Por outro lado, será de competência da Justiça Federal, caso o crime de Racismo seja praticado em um prédio público federal, como, por exemplo, Universidades Federais ou Fórum Trabalhista, ou ainda os crimes praticados a distância (internet). o Liberdade Provisória Em que pese o crime de Racismo ser inafiançável (Art. 5°, XLII, CF) e autorizar a prisão em flagrante, admite pedidos de Liberdade Provisória. Considerações Finais Na Lei que regulamenta o crime de Terrorismo (Lei n° 13.260/16), quando ela conceitua o Terrorismo em seu Art. 2° podemos observar que uma das razões que caracterizam tal crime é o racismo. Art. 2°, Lei 13.260/16 – O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública. 07/10/2016 CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE (LEI N° 9.605/98) Aspectos iniciais sobre o Meio Ambiente no Brasil O Brasil é o país mais importante do mundo em termos de questões ambientais, sendo considerado um país com megabiodiversidade, alias para alguns cientistas nosso país é o local onde há maior diversidade de flora e fauna no mundo. Assim, esta característica, somada ao fato de que somos o país com maior volume de água doce do mundo, aumenta consideravelmente a responsabilidade com relação às medidas de proteção ao Meio Ambiente. Estrutura Normativa da Lei n° 9.605/98 O Direito Ambiental precisa compatibilizar o equilíbrio entre o avanço industrial e da sociedade propriamente dita e a preservação do Meio Ambiente, por tal razão, a Lei 9.605/98 é extremamente extensa, contendo uma parte administrativa que não vamos abordar e outra em que elenca os crimes ambientais, cujos principais serão objeto de nosso estudo. A Lei Ambiental trata-se de uma norma especifica, mas precisamos ter em mente que subsidiariamente o Código Penal, o Código de Processo Penal e os preceitos da Lei 9.099/95 são aplicados também. Base Constitucional (Art. 225 da CF) LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 31 A doutrina denomina de “Tutela Constitucional do Meio Ambiente” o fato da Constituição tratar da proteção ao Meio Ambiente em vários dispositivos, dentre eles, vejamos o dispositivo abaixo: Art. 225, CF – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Bem Jurídico Protegido: “MEIO AMBIENTE” o Conceito de Meio Ambiente (Lei n° 6.938/81 – Lei da Política Nacional de Meio Ambiente) Meio ambiente no sentido legal, normativo, formal trata-se do “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. o Classificações Meio Ambiente Natural Comumente associamos o Meio Ambiente a fauna, flora, equilíbrio ecológico, atmosfera, rios, mares, etc. Esta ideia que temos trata-se do Meio Ambiente Natural, mas cumpre-nos informar que existem outras vertentes do conceito de Meio Ambiente que veremos a seguir. Meio Ambiente Cultural Trata-se dos bens materiais ou imateriais que compreendem o conjunto urbano e detém valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico e/ou científico. Meio Ambiente Artificial Engloba as estruturas urbanas, como as ruas, prédios, avenidas, etc. que não deixam de possuir proteção jurídica. Meio Ambiente do Trabalho Existe também um Meio Ambiente específico do trabalho, formado entre empregador e empregado. Aqui existem normas específicas que visam preservar a saúde do empregado. o Tutela Constitucional do Meio Ambiente Existem inúmeras normas que tutelam o Meio Ambiente. A Lei 9.605/98 preocupa-se principalmente com o Meio Ambiente Natural, mas também tipifica crimes contra o Meio Ambiente Cultural. Insta salientar que o patrimônio histórico, paisagístico, artístico, arqueológico também é protegido por outras Leis como, por LEGISLAÇÕES ESPECIAIS Kleber Luciano Ancioto Página 32 exemplo, a Lei 7.437/85 que protege os Direitos Difusos e Coletivos prevendo a possibilidade da propositura de Ação Civil Pública. Nesta mesma linha de proteção, como já elencamos acima, a própria Constituição em inúmeros dispositivos protege o Meio Ambiente, por exemplo, o Art. 5° inciso LXXIII, CF prevê a possibilidade de se impetrar uma Ação Popular contra ações do Poder Público que inflijam o Meio Ambiente. Art. 5°, CF – [...] LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. Da mesma forma o Art. 129, inciso III da CF, confere poderes ao Ministério Público para proteger o Meio Ambiente podendo instaurar Inquérito Civil e propor Ação Civil Pública, vejamos: Art. 129, CF – São funções institucionais do Ministério Público: [...] III – promover o inquérito
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