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Rachel de Queiróz - Sabatina

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Rachel de Queiroz: Memórias de menina 
 
Você reconhecerá um pouquinho da infância de uma importante escritora brasileira: 
Rachel de Queiroz, que nasceu em 1910, no estado do Ceará. 
 
Isto se passava lá pela década de 1920. Toda tarde, ao encerrar as aulas, naquela 
escola do Alagadiço, em Fortaleza, se dava a sabatina da tabuada. (Vocês sabem 
o que é? É a tabela das quatro operações, com números de um a dois algarismos). 
As crianças decoravam a tabuada em voz alta, cantando assim: “Duas vezes um, 
dois. Duas vezes dois, quatro. Duas vezes três, seis” etc. etc. 
Na hora da sabatina, os alunos de toda a classe formavam, de pé, uma roda, com 
a palmatória à vista, na mão da professora. 
Somar e diminuir era fácil, mas, quando chegava a tabuada de multiplicar, era 
um perigo. A casa do sete, por exemplo, era a mais difícil: “Sete vezes seis, sete 
vezes oito” — já sabe, o coitado que errava, a professora mandava o seguinte 
corrigir e, se ele acertasse, tinha direito de dar um bolo de palmatória na mão 
do que errou. Doía como fogo. 
Sempre havia os sabidinhos que decoravam tudo e davam bolo nos outros. Mas 
recordo um grandalhão chamado Alcides que não acertava jamais. Mas não 
chorava nunca, podia levar vinte bolos, mordia os beiços e aguentava firme. 
Quando chegava em casa, estava com as palmas inchadas e tinha que botar as 
mãos de molho na água de sal. 
Algum tempo depois, inaugurou-se a chamada “ESCOLA NOVA”. Acabaram com 
a tabuada, com a sabatina e com a palmatória. 
Acho que foi boa ideia. 
 
Fonte: QUEIROZ, Rachel de. Memórias de menina. Rio de Janeiro, José Olympio, 2003. 
 
Nesse caso, os alunos eram solicitados a decorar a tabuada, o que poderá tornar o 
aprendizado mecânico e questionável, uma vez que, é bastante comum, tão logo passar 
a prova, o conhecimento ser esquecido.

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