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Ocaso_dos_denunciantes

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO-
INSTRUTOR: Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy[1: Livre-docente em Teoria Geral do Estado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo-USP. ]
Tema: O caso dos denunciantes invejosos
O caso: Trata-se originariamente de um apêndice (The Problem of the Grudge Informer) que o jusfilósofo norte-americano Lon Fuller anexou a seu livro The Morality of Law. Fuller é conhecido por estudiosos brasileiros pelo livro O Caso dos Exploradores das Cavernas, no qual estão em debate os dilemas do juspositivismo e do jusnaturalismo. Há edição brasileira do apêndice, com tradução e comentários de Dimitri Demoulis, que acrescentou algumas decisões às originais redigidas por Lon Fuller.
O problema: Deve-se perdoar (ou não) os crimes cometidos durante uma ditadura?
A questão: “Durante uma ditadura, muitas pessoas denunciaram seus inimigos sabendo que os tribunais do país, aplicando a legislação da época, pronunciaram a pena de morte para delitos que, objetivamente, não eram graves. Após a caída do regime ditatorial, os denunciantes, que Fuller chama de invejosos, foram objeto de execração popular. Muitos exigiram uma punição, mesmo se, formalmente, esses denunciantes não cometeram nenhum delito, tendo simplesmente levado a conhecimento das autoridades fatos puníveis segundo a legislação” (Demoulis, pp. 8 e 9). 
Aspectos do problema: No texto imaginário, tinha-se o regime dos “camisas púrpuras”. “ Durante o regime dos camisas-púrpuras muitíssimas pessoas, movidas por inveja, denunciaram seus inimigos pessoais ao partido ou a autoridades governamentais. Entre as atividades que objeto de denúncias estava a crítica ao governo, formulada em discussões particulares, a escuta de estações de rádio estrangeiras, o relacionamento com notórios vândalos e baderneiros, o armazenamento de saquinhos de ovos em pó em quantidade maior do que a autorizada, a omissão de informar a perda de documentos de identidade no prazo de cinco dias etc.” (Demoulis, p. 27).
Defesa dos denunciantes invejosos: Teriam agido de acordo com as leis aplicáveis à época dos fatos. É o tema do nulla crimen sine lege e da irretroatividade maligna da lei penal. 
O procedimento: O Ministro da Justiça pediu a cinco deputados para estudarem o problema e apresentarem suas opiniões. 
Primeiro Deputado: Nada por ser feito, as sentenças de condenação das vítimas foram prolatadas de acordo com o direito vigente à época dos fatos. Podemos detestar os princípios dos camisas-púrpuras, mas isso não impede que reconheçamos que as leis eram então vigentes no país. 
Segundo Deputado: Não considera que o regime dos camisas-púrpuras tenha sido um regime legal. Não se vivia num estado de direito. Por isso, os atos dos denunciantes não foram nem legais, nem ilegais. Viviam na anarquia e no terror, e nada então pode ser mais feito. 
Terceiro Deputado: Havia uma vida normal, na qual havia contratos, negócios jurídicos e habituais contratempos. Os denunciantes praticaram atos ilegais, a exemplo do homem que denunciou o esposo da mulher de quem ele era amante. 
Quarto Deputado: Deve-se criar uma lei especial para tratar da questão, analisando-se todas as nuances e características do problema. 
Quinto Deputado: Criticou o quarto deputado, que propunha exatamente o que os camisas-púrpuras faziam: leis penais retroativas. O problema seria resolvido sem nenhuma intervenção oficial, os ofendidos se vingariam, sem que o Estado precisa-se intervir.
As perguntas: 1. A lei penal pode reagir? 2. A fórmula de Radbruch pode ser aplicada ao caso? 3. Há precedentes reais desse caso aqui descrito? 4. Pode-se aplicar o problema a realidade brasileira? 5. O que é “justiça de transição” ? 6. Você tem exemplos de “justiça de transição” 7. Como o direito brasileiro resolveria o caso? 8. Como a situação se ajusta ao problema do muro de Berlim? 9. No caso dos crimes de guerra, pode-se falar de uma justiça de vencedores? 10. Como você opinaria?

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