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T4A Princípios e questões relativas aos inquéritos policiais e investigações criminais Atribuições da Polícia Federal

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FICHAMENTO Direito Processual Penal
	T4A. Princípios e questões relativas aos inquéritos policiais e investigações criminais. Atribuições da Polícia Federal.
	Bibliografia utilizada: Renato Brasileiro
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A investigação preliminar é a fase pré-processual de apuração e investigação criminal e se pratica no mundo em uma variedade de modelos (policial, juiz de instrução e promotor investigador). A investigação preliminar é um gênero de que são espécies o inquérito policial, as sindicâncias, as comissões parlamentares de inquérito, etc. Possuem caráter prévio e natureza preparatória em relação ao processo penal e buscam averiguar autoria e as circunstâncias de um fato aparentemente delituoso. 
A investigação preliminar busca trazer à luz um fato oculto relacionado com o cometimento de um crime. Ela procura, desse modo, encontrar elementos suficientes de autoria e materialidade (fumus commissi delicti) que justifiquem (se forem encontrados) o oferecimento da denúncia ou (se não forem encontrados) o pedido de arquivamento. Serve, desse modo, como um filtro processual para evitar acusações infundadas, seja porque despidas de lastro probatório, seja porque aparentemente inexiste conduta criminosa. Está vestida, assim, de dupla função: a) preservadora: inibe a instauração de um processo penal infundado e temerário; b) preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal ingresse em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer com o decurso do tempo.
Possui natureza jurídica de procedimento administrativo (não é nem processo judicial, nem processo administrativo), pois dele não resulta imposição de sanção. É um procedimento que, embora obedeça uma sequência lógica, é flexível. É mera peça informativa que, se eivada de vício, não tem o condão de anular o processo a que eventualmente deu origem, o que não exclui o fato de que provas ilícitas produzidas durante o inquérito devam ser descartadas no curso da ação penal.
O inquérito policial busca elementos para a tomada de decisão por parte do titular da ação penal sobre o oferecimento ou não da denúncia. Esses elementos sobre autoria e a materialidade seriam provas? O art. 155 do CPP faz uma distinção entre elementos de informação e provas, aclarando que o que se produz durante a investigação preliminar são elementos informativos, que não precisam se submeter ao crivo do contraditório e da ampla defesa, e não provas, que se submetem a esse crivo. Durante o inquérito não existe ainda partes e nem acusados, e é por isso que as exigências do contraditório e da ampla defesa não se impõem ali. Em suma, toda prova só pode nascer sob o manto do contraditório e da ampla defesa e, por isso mesmo, as provas, em regra, nascem durante o processo e não nas fases pré-processuais, como é a do inquérito.
O juiz não pode formar sua convicção para condenar um réu baseado apenas em elementos informativos produzidos na fase pré-processual. Isso não significa que esses elementos não possam ajudar o juiz a formar sua convicção, mas que essa conviccção não pode ser formada exclusivamente com base nesses elementos. Eles podem se somar às provas produzidas em juízo e outros indícios para reforçar o convencimento do juiz.
A polícia judiciária, que titulariza o inquérito policial, possui função repressiva de apoio ao Poder Judiciário, e atua precipuamente para apurar as infrações criminais e determinar a autoria dessas. A despeito do art. 4º, CPP dar a entender que polícia judiciária e polícia investigativa são expressões sinônimas, Brasileiro afirma que a CF distingue as figuras da polícia investigativa (que atua para apurar as infrações penais e determinar sua autoria) e polícia judiciária (que atua apoiando o Judiciário na execução de mandados de prisão, de busca e apreensão, de condução coercitiva de testemunhas, etc). 
Atribuição para titularizar o inquérito. Em relação a atribuição para titularizar o inquérito policial, essa pode ser determinada pela natureza da infração penal: se a natureza do crime é militar, a investigação incumbe à autoridade de polícia judiciária militar, seja no âmbito das PMs e dos Corpos de Bombeiros, seja no âmbito das três forças armadas; se a natureza do crime é comum e a competência é da justiça estadual, a investigação incumbe às polícias civis, exceto se o crime tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, quando a competência será da polícia federal (essas situações foram reguladas pela L 10.446/02); se a natureza do crime é comum e a competência é da justiça federal ou da justiça eleitoral, a investigação incumbe à polícia federal, mas pode ser realizada subsidiariamente pela polícia civil se o crime eleitoral foi cometido em município que não possui sede da polícia federal. A atribuição pode ser determinada também, cumulativamente com o primeiro critério, em face do local da consumação da infração penal: firmada a atribuição da polícia civil, federal ou da polícia judiciária militar, o passo seguinte é determinar a qual delegacia incumbe a condução das investigações. O critério é o do local da consumação da infração penal (nos crimes consumados) ou do último ato executório (nos crimes tentados). A investigação pode ainda ser subdividida levando em conta a natureza da infração penal. Isso ocorre com a criação de delegacias especializadas (drogas, internet, mulheres, etc.). Investigação conduzida por autoridade policial que não tinha, pela lei, atribuição para presidir o inquérito não tem o condão de anular eventual processo penal. Trata-se de mera irregularidade.
Caractarísticas do inquérito policial. O inquérito é um procedimento escrito (isso não anula o uso de outros meios, como gravações de depoimentos por meio de recursos digitais ou mesmo audiovisuais). É, ainda, um procedimento dispensável, uma vez que é mera peça informativa que subsidia a atuação do titular da ação penal. Deve, todavia, acompanhar a denúncia ou a queixa, se servir de base para uma ou outra. É procedimento sigiloso, embora a publicidade seja a regra no serviço público em geral e nos processos judiciais, inclusive nas ações penais. Essa publicidade é fundamental para o controle democrático e público da atuação estatal. O bom termo do trabalho de investigação conduzido pela polícia investigativa, no entanto, reclama uma restrição à cláusula geral da publicidade. O efeito surpresa é fundamental na atividade de investigação, daí essa restrição. O sigilo do inquérito está, assim, garantido pela lei processual (art. 20, CPP). Não obstante essa garantia de sigilo, o Estatuto da OAB permite aos advogados, mesmo sem procuração, consultar autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, em curso ou conclusos. Se no inquérito constar informações sigilosas como aquela resultante da quebra de sigilo telefônico ou bancário, apenas advogados com procuração podem acessar essas informações. O STF entende, e inclusive esculpiu esse entendimento em súmula vinculante (SV nº 14) que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.” Esse acesso do defensor apenas exclui os dados de diligências não documentadas (ainda em andamento) ou informações sobre diligências que ainda serão realizadas. É procedimento inquisitorial, onde não opera (pelo menos não obrigatoriamente) o contraditório e a ampla defesa. Esse, pelo menos, é o entendimento clássico, mas a doutrina hoje se divide quanto a esse ponto. O Estatuto da OAB foi alterado em 2016 de modo a permitir aos advogados dar assistência a investigados durante a apuração das infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e de atos deles decorrentes, podendo, inclusive, apresentar razões e quesitos.Essa alteração se somou a uma interpretação que já existia de que o investigado no inquérito policial é um “acusado em geral” e que o conceito de “processo administrativo” inclui o de “procedimento administrativo”, de que o inquérito é uma espécie, nos termos do art. 5º, LV, CF/88, e por essa razão, estaria assegurado, já na fase inquérito, o direito à ampla defesa e ao contraditório. Fundamentada nessa interpretação da Constituição, e amparada pela referida modificação no Estatuto da OAB, uma corrente doutrinária sustenta que a investigação preliminar – inquérito policial incluído – está sujeita ao contraditório diferido e à ampla defesa, e, portanto, não se trata de um procedimento inquisitorial. O alcance do contraditório e da ampla defesa na fase de investigação preliminar seria, porém, menor que aquele da fase processual. Negar ao inquérito a condição de procedimento inquisitorial seria uma decorrência de um sistema garantista e democrático, que deve assegurar a todo o indivíduo o direito básico de ser cientificado quanto à existência e o conteúdo de imputações contra si, ainda que em fase pré-processual, e inclusive se defender delas, até mesmo com auxílio de defesa técnica. O inquérito policial é uma peça que visa subsidiar a decisão do titular de ação penal de oferecer ou não a denúncia; essa peça, assim, não tem compromisso com a acusação, mas com a verdade dos fatos, o que demonstra a importância da partipação ativa do advogado já na fase investigatória, de modo a impedir denúncias temerárias baseadas em inquéritos frágeis ou conduzidos de maneira autoritária. Como já foi adiantado, o entendimento clássico é, contudo, o de que o inquérito policial é um procedimento inquisitorial, onde a ampla defesa e contraditório não encontram lugar. O argumento mais importante dessa corrente clássica escora-se no fato de que a produção do inquérito se dá numa fase meramente preparatória e não processual, da qual não decorre nenhuma sanção para o investigado – nem mesma a possibilidade de o juiz condenar apenas com base nos elementos ali produzidos, art. 155, CPP –, e assim, não requeriria as garantias do contraditório e da ampla defesa. A esse argumento de direito soma-se um argumento de fato: permitir a participação do investigado durante o inquérito policial, com direito à ampla defesa e ao contraditório, tornaria os procedimentos investigatórios mais lentos e menos efetivos. Segundo essa corrente clássica, as alterações no Estatuto da OAB a que fizemos referência não tornam obrigatórias a presença do advogado no interrogatório policial, embora garantam ao investigado esse direito. Não desnaturaria, portanto, a natureza inquisitorial do inquérito policial. Uma exceção ao caráter inquisitorial do inquérito se aplicaria ao processo de expulsão do estrangeiro, por força de previsão expressa nesse sentido no Estatuto do Estrangeiro, que exige a presença do contraditório e da ampla defesa no bojo do inquérito de expulsão. O inquérito é, ainda, procedimento discricionário. O rumo que as diligências devem tomar no inquérito não é presidido por procedimentos rígidos previstos em lei, mas pela discricionariedade da autoridade policial, atendendo as peculiaridades de cada caso. Os artigos 6º e 7º do CPP estabelecem algumas diligências que podem ser tomadas pela autoridade policial no curso do inquérito, mas essa lista não é taxativa e autoridade policial não precisa realizar todas aquelas diligências. Fica a critério dessa autoridade escolher discricionariamente as diligências mais adequadas a cada caso. Cumpre lembrar que o exercício do poder discricionário não implica arbitrariedade. É procedimento oficial, porque conduzido por órgão oficial do Estado e presidido por funcionário público de carreira, o delegado (civil ou federal). É procedimento oficioso, pois ao tomar conhecimento de crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial deve agir de ofício, instaurado o inquéirito policial independentemente da provocação da vítima ou de qualquer outra pessoa. A análise de qualquer causa excludente de ilicitude ou de culpabilidade não cabe à autoridade policial. É procedimento indisponível, a significar que a autoridade policial não pode mandar, de ofício, arquivar autos de inquérito instaurado. Diante de uma notícia-crime, o delegado, antes de instaurar o inquérito, deve verificar a procedência das informações e aferir a tipicidade da conduta. Não havendo conduta típica ou sendo improcedentes as informações, ele não está, por óbvio, obrigado a instaurar o inquérito. Pode, para determinar a procedência da informações, instaurar procedimento que tem sido admitido pela jurisprudência: a verificação de procedência de informação (VPI). Instaurado o inquérito, porém, o arquivamento dos autos somente será possível – e é por isso que se fala em indisponibilidade – a partir de pedido formulado ao juízo pelo titular da ação penal. É procedimento temporário. Embora o inquérito não seja, como vimos, um processo, não há dúvidas, por se tratar de investigação, de que a ele se aplica o princípio constitucional da duração razoável do processo. Um investigado não pode ser submetido a permanecer nessa condição durante anos. Se ficar verificada a impossibilidade da colheita de elementos suficientes para embasar a denúncia do investigado, o inquérito deve ser arquivado. Nesse sentido, o STJ já concedeu habeas corpus (HC 96.666) exigindo arquivamento de inquérito envolvendo investigado solto, mas que durava mais de sete anos. No julgado, o Tribunal esclarece que o trancamento de inquérito por HC é medida excepcionalíssima, pois a regra é que o inquérito de investigado solto, por si só, não configura constrangimento ilegal. 
A forma de instauração do inquérito policial pode variar conforme a espécie de ação penal do crime objeto de investigação. Nos crimes de ação pública incondicionada (que são, como se sabe, a regra) o inquérito pode ser instaurado das seguintes formas: a) de ofício pela autoridade policial. A peça inaugural do inquérito, nesse caso, é uma portaria exarada por essa autoridade, e esse ato deve conter o objeto da investigação, as circunstâncias já conhecidas e as diligências iniciais a serem cumpridas; b) a requisição do juiz ou do MP. Parte da doutrina considera que apesar da lei determinar que o juiz pode requisitar instauração de inquérito, tal requisição não é admissível por força do princípio acusatório adotado pela CF/88. Em relação ao juiz, o dispositivo do CPP que trata da requisição não teria sido recepcionado pela CF/88. Quando o MP requisita, salvo manifesta irregularidade e ilegalidade nessa requisiçao, o autor afirma que a autoridade policial está obrigada a instaurar o inquérito, não por existir hierarquia entre os órgãos, e sim por força do princípio da obrigatoriedade do inquérito policial quando se está diante de uma notícia-crime; c) requerimento do ofendido ou de seu representante legal: o inquérito também pode ser instaurado por requerimento do ofendido ou de seu representante legal. Nesse requerimento deve conter, sempre que possível, a narração do fato com as circunstâncias, a individualização do indiciado ou seus sinais característicos, as razões da convicção ou da presunção de ser ele o autor do delito, a nomeação de testemunhas, com a devida qualificação. Considerando que a notícia-crime é descabida, ou se trata de fato atípico ou alcançado por extinção de punibilidade, a autoridade policial deve se recusar a instaurar o inquérito. O ofendido pode se insurgir contra essa decisão, recorrendo ao chefe de policia (art. 5º, §2º, CPP); d) notícia oferecida por qualquer do povo: é a chamado dalatio criminis simples, a ser realizada por qualquer do povo, geralmente mediante uma ocorrência policial. Verificada a procedência, o delegado deve instaurar o inquérito. O indivíduo do povo não é obrigado a realizar a delatio, exceto em duas situações, caracterizadas como contravenção, ambas relativas aos crimes de ação pública incondicionada: crime sobre o qual o indivíduo tomou conhecimentono exercício da função pública e crime de que teve conhecimento no exercício da medicina ou outra profissão da área da saúde, salvo, nessa última hipótese, se com isso ele expor paciente a procedimento criminal; e) auto de prisão em flagrante delito: nesse caso, o próprio auto funciona como a peça instauradora do inquérito.
Nos crimes de ação penal pública condicionada e nos crimes de ação penal privada a instauração do inquérito policial está subordinada à representação do ofendido ou à requisição do ministro da Justiça (art. 5º, §4º). A representação é uma delatio criminis postulatória, que demonstra interesse da vítima ou de seu representante legal na persecução penal. Nos casos de ação penal privada a instauração do inquérito reclama requerimento do ofendido ou seu representante, no prazo de seis meses contados do dia em que o ofendido ou seu representante tomar ciência do delito. Ultrapassado esse prazo, estará caracterizada a extinção da punibilidade, razão pela qual o delegado não poderá instaurar o inquérito. 
Nos casos de denúncia anônima (a chamada notitia criminis inqualificada) a autoridade policial, antes de instaurar o inquérito, deve verificar a procedência e a veracidade das informações prestadas. É que a vedação constitucional do anonimato impede que autoridade policial instaure o inquérito baseado em denúncia anônima sem antes fazer uma investigação preliminar sobre a consistência da denúncia.
Os artigos 6º e 7º do CPP elencam, num rol meramente exemplificativo, diligências que podem praticadas pelo delegado de polícia no curso do inquérito policial. Em regra, a realização dessas diligências enquadra-se no poder discricionário da autoridade policial, mas algumas entre elas são obrigatórias. Seguem comentários sobre essas diligências.
Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; a elucidação de um crime será tanto mais ágil e fácil quanto mais preservado estiver o local onde o delito ocorreu, e é isso que justifica a prática dessa diligência. Isso é importante para tornar consistentes as provas periciais e, inclusive, testemunhais. 
Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; todos os objetos, lícitos ou ilícitos, desde que possam contribuir com a investigação, podem ser apreendidos.
Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; 
Ouvir o ofendido; o art. 201, §1º, CPP, permite a condução coercitiva do ofendido para sua oitiva, caso ele deixar de comparecer perante à autoridade policial sem motivo justo.
Ouvir o indiciado, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura; o suspeito, indiciado ou investigado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo (direito a não autoincriminação) razão pela qual deve ser advertido pela autoridade policial sobre o seu direito de permanecer em silêncio, e que do exercício desse direito não poderá decorrer prejuízo para si. 
Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; as acareações podem ser as mais diversas (entre investigado e o ofendido, testemunha e investigado, testemunha e ofendido, entre ofendidos, quando divergirem em suas declarações, etc). Por força do direito a não autoincriminação e o direito ao silêncio que decorre do primeiro, o investigado nunca pode ser obrigado a participar de acareações.
Determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; essa é uma diligência obrigatória quando a infração deixar vestígios.
Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; o art. 5º, LVIII, CF/88, assegura ao identificado civilmente o direito de não receber identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. A maior doutrina entende que a identificação pelo processo datiloscópico não pode ser considera uma exceção à regra constitucional, e portanto a primeira parte desse dispositivo (a que se refere à identificação pelo processo datiloscópico) não foi recepcionada pela CF/88. 
Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter; 
Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.
Reconstituição do fato delituoso; essa reprodução simulada dos fatos, segundo a lei, não pode contrariar a moralidade ou a ordem pública. Pelo direito, já referido, de não ser obrigado a produzir prova contra si, o investigado não pode ser obrigado a participar dessa reconstituiçao. 
Acesso aos dados de vítimas e suspeitos; em relação ao conjunto de crimes elencados no art. 13-A, CPP, o delegado ou membro do MP podem requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas privadas, dados e informações cadastrais de vitímas ou suspeitos. Esses crimes incluem sequestro, cárcere privado, tráfico de pessoas, extorsão mediante sequestro, tráfico de pessoas, etc. 
Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso; trata-se do acesso ao posicionamento da chamada estação rádio base. Por esse dado é possível saber a localização aproximada de qualquer aparelho celular ligado. A dubiedade do dispositivo do CPP cria dúvidas sobre a necessidade ou não de autorização judicial para o acesso a esses dados: enquanto o caput, citado, exige autorização, o §4º do mesmo artigo, a dispensa. Parte da doutrina interpreta que o caput deve ser interpretado de forma restritiva, pois à luz da própria ideia de requisição (que aparece no caput) e dos parágrafos do artigo, o legislador não quis impor a cláusula de reserva de jurisdição para o acesso aos dados em questão.
A identificação criminal é gênero de que são espécies a identificação datiloscópica, a identificação fotográfica e a identificação do perfil genético. A regra sobre a identificação criminal, estabelecida na CF (art. 5º, LVIII), é a de que o civilmente identificado não deve ser submetido à investigação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei. Identificação criminal não se confunde com a qualificação do investigado (nome, estado civil, etc.) nem com o reconhecimento de pessoas (que é feito por leigo ao passo que a identificação é processo técnico). As hipóteses de identificação criminal estão previstas na Lei 12.037/09. Deve ser submetido a essa forma mais rigorosa de identificação qualquer suspeito que não se identifique civilmente ou cuja identificação civil não seja consistente (documento com indícios de falsificação, sem fotos, documentos com dados conflitantes, de expedição antiga, etc.) Além dessas hipóteses, também é possível a identificação criminal se essa for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa. Não se pode alegar que a identificação criminal é inconstitucional por submeter o identificado à produção de provas contra si mesmo. É que existe dispositivo constitucional, no mesmo art. 5º que garante o direito ao silêncio, permitindo à lei estabelecer hipóteses de identificação criminal. Os dois dispositivos constitucionais (o que estabelece a não produção de provas contra si e o que permite à lei estabelecer hipótesesexcepcionais de identificação criminal, devem ser harmonizados segundo o princípio da concordância prática ou da harmonização). Existe discussão na doutrina sobre a inconstitucionalidade da identificação do perfil genético quando o identificado se nega a fornecer seu material genético. A pergunta que se levanta é: essa negativa estaria garantida pelo direito a não auto-incriminação? Brasileiro afirma que sim, exceto se o material colhido (amostras de sangue, urina, cabelo) que dará origem ao pergil genético estiver na cena do crime: nesse caso não há se falar em direito a não auto-incriminação.
A incomunicabilidade do preso, prevista no art. 21 do CPP, não foi recepcionada pela CF, que impede essa incomunicabilidade do preso até no regime constitucional de crises (estado de defesa), quiçá em tempos de normalidade e, ademais, garente no art. 5º, LXII que a prisão de qualquer um seja imediatamente comunicada ao juiz competente e à família do preso ou pessoa por ele indicada.
Indiciar (indiciamento) é atribuir autoria (ou participação) de um delito a alguém: apontar essa pessoa como provável autora ou partícipe do crime. O indiciado é mais que o mero suspeito e menos que o acusado. Contra o suspeito existem frágeis e esparsos indícios de autoria; contra o indiciado existem indícios convergentes de autoria. A terceira figura, a do acusado, só surge quando o juiz recebe a peça acusatória. A condição de indiciado pode ser atribuída já no auto de prisão em flagrante ou até no relatório final do delegado. O indiciamento será sempre ato pré-processual, estabelecido na fase investigatória. O indiciamento pode ser direto (indiciado presente), e essa é a regra, ou indireto (indiciado foragido). Reunidos elementos que apontem para a autoria da infração penal o delegado de polícia deve cientificar o investigado, atribuindo-lhe, de maneira fundamentada, a condição jurídica de indiciado. Não se trata de um ato discricionário do delegado, vez que, reunidas os referidos elementos, não resta a autoridade policial outra alternativa que não o indiciamento. O indiciamento deve se dar por ato ato formal e fundamentado, constando indicação de possível autoria, materialidade e as circunstâncias da prática do delito. Caso o indiciamento não tenha elementos de informação consistentes, a jurisprudência tem admitido impetração de HC para proceder a desindindiamento. O indiciamento é ato privativo do delegado, e nenhuma outra autoridade tem poder de determinar ao delegado a realização do indiciamento. A autoridade policial não pode indiciar membro do MP nem do Judiciário (se houver indícios de prática de crime por membro do MP ou juiz, o delegado deve encaminhar os autos para o PGJ ou PGR, se membro do MP, ou Tribunal competente, se juiz). Do mesmo modo, a autoridade policial não pode indiciar parlamentares com foro por prerrogativa de função sem prévia autorização do ministro relator do inquérito. É o entendimento do STF, que também firmou que o ministro relator, nesses casos, realiza a supervisão de todo o inquérito, chancelando as diligências necessárias. 
Quanto à conclusão do IP, segundo o art. 10, CPP, “o inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela”. É possível a prorrogação desses prazos? O mesmo artigo (§3º) informa que, caso o indiciado esteja solto e o caso seja de difícil elucidação, o prazo (de 30 dias), pode ser estendido. Nessa situação, a autoridade policial, visando fazer novas diligências, requisita ao juiz que devolva os autos do inquérito, ocasião em que o juiz estipulará novo prazo. Brasileiro argumenta que o MP também deve ser ouvido nessa requisição pelo delegado de novas diligências, vez que é o titular da ação penal e pode considerar que o inquérito já está maduro para o prosseguimento da ação penal. Quanto ao indiciado preso, a doutrina majoritariamente considera que, se houve motivo para prisão acauteladora é que já existem elementos suficientes para o oferecimento da peça acusatória, de modo que a devolução do inquérito para a autoridade policial proceder novas diligências é desnecessária. Parte da doutrina, Brasileiro incluído, considera que o prazo para conclusão do inquérito é de natureza processual e não material. Significa que se conta com a exclusão do primeiro dia e a inclusão do último e, terminando domingo ou feriado, é prorrogado até o dia útil seguinte. O prazo de 30 dias com indiciado solto é considerado impróprio, a significar que sua inobservância não gera nenhuma consequência jurídica. Leis especiais preveem prazos distintos (exemplo: lei de de drogas prevê prazo de 30 dias com indiciado preso e 90 dias com indiciado solto, podendo ser dobrados pelo juiz). 
O inquérito é concluído com a elaboração de um relatório pelo delegado. Trata-se de peça descritiva onde constará as principais diligências levadas a efeito na fase investigatória, justificativa do porquê outras diligências não foram realizadas, etc. O relatório não deve conter juízo de valor, vez que a opinio delicti cabe, conforme o caso, ao MP ou ao ofendido/representante. O CPP diz expressamente que os autos do inquérito, concluídos, devem ser remetidos à autoridade judicial (art. 10, §1º), mas a doutrina considera que esse dispositivo não foi recepcionado pela Constituição, pois o titular da ação penal no sistema acusatório é o MP, e por isso os autos do inquérito devem ser remetidos ao parquet. A relação direta entre a autoridade policial e o juiz se dá apenas nos casos do exame e aplicação de medidas cautelares (prisão preventiva, interceptação telefônica, etc) e nos casos de ação penal privada.
Conclusos e remetidos os autos do inquérito, duas possibilidades se abrem: a) em se tratando de crime de ação penal privada, os autos são remetidos ao juiz, que deve determinar a permanência dos autos no cartório, aguardando a iniciativa do ofendido ou de seu representante; podem, alternativamente, ser entregues ao requerente, se solicitado; b) em se tratando de crime de ação penal pública, os autos do inquérito são remetidos ao MP que: b1) oferecerá a denúncia; b2) determinará o seu arquivamento; b3) devolverá os autos à autoridade policial, solicitando novas diligências, que devem ser atendidas, desde que não sejam manifestamente ilegais; b4) declinará de sua competência, solicitando ao juiz que encaminhe os autos ao promotor natural; b5) suscitará conflito de competência.

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