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limitação administrtivo

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DIR. ADM II.
Cont. Intervenção do estado na propriedade privada:
IX) Limitações Administrativas: são atos legislativos ou administrativos gerais, impessoais e abstratos, imposições do poder estatal, de forma gratuita, unilateral e condicionadora do exercício de direitos ou atividades privadas ao interesse e bem-estar da coletividade. Não pode ser absoluta ou arbitrária.
São preceitos de ordem pública, editados em leis e regulamentos, que derivam do poder de polícia (art. 78 CTN) inerente e indissociável da Administração, exteriorizado pelas imposições unilaterais e imperativas: positiva (fazer), negativa (não fazer) ou permissiva (deixar de fazer); assim, no primeiro caso o particular fica obrigado a realizar ato que a Administração obriga, no segundo deve abster-se do que lhe é vedado, no terceiro deve permitir algo em sua propriedade - devem, em todos os casos, corresponder às justas exigências do interesse público sem produzir um total aniquilamento da propriedade ou das atividades reguladas. Ex: limitação administrativa imposta pela legislação municipal sobre parcelamento do solo urbano:
"Art. 22 - A construção e a manutenção dos passeios dos logradouros dotados de meios-fios são obrigatórias em toda a extensão das testadas dos terrenos, edificados ou não, e serão feitas pelos respectivos proprietários, ressalvados os casos explicitamente definidos em regulamento". Lei n.º 1.574/67, que trata do parcelamento do solo urbano no Município do Rio de Janeiro
Parte-se de dois preceitos para que a limitação administrativa seja válida: a supremacia do interesse público sobre o interesse particular e a existência de uma lei ou ato normativo equivalente para respaldar o ato administrativo.
Em regra, não são indenizáveis, exatamente pelo caráter geral e abstrato da lei que institui a limitação, não atingindo, portanto, uma propriedade determinada. Porém, se for instituída limitação absoluta, que esvazie economicamente o bem ou dificulte excessivamente o seu uso regular, poderá ser pleiteada indenização a título de desapropriação indireta. Ex: 
“Desapropriação indireta. Área florestal abrangida por parque estadual de reserva ecológica. Vigilância permanente do Poder Público, privando o uso, gozo e livre disposição do bem. Indenização devida”.
O Supremo Tribunal Federal abraça esse entendimento, mas adverte para o fato de que, se a limitação administrativa é imposta anteriormente à data de aquisição do imóvel atingido pelo comando legal, não assistirá ao proprietário adquirente o direito de cobrar indenização do Estado, ainda que seja notado aquele esvaziamento do conteúdo econômico do bem. Exs:
 
“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CIVIL. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. INDENIZAÇÃO. 
I - Se a restrição ao direito de construir advinda da limitação administrativa causa aniquilamento da propriedade privada, resulta, em favor do proprietário, o direito à indenização. Todavia, o direito de edificar é relativo, dado que condicionado à função social da propriedade. Se as restrições decorrentes da limitação administrativa preexistiam à aquisição do terreno, assim já do conhecimento dos adquirentes, não podem estes, com base em tais restrições, pedir indenização ao poder público.
II - R. E. não conhecido”. 
				STF, 2.ª Turma, Rel. Ministro CARLOS VELLOSO, RE 140.436-SP.
“ADMINISTRATIVO. AQUISIÇÃO DE IMÓVEL APÓS IMPOSIÇÃO DE LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. DIREITO à INDENIZAÇÃO. INEXISTÊNCIA.
1. Descabe indenização pela limitação administrativa, se o imóvel foi adquirido quando já incidiam as restrições impostas pela legislação ambiental. Precedentes do STJ.
2. Viola o princípio da boa-fé objetiva o particular que adquire, por sua conta e risco, imóvel dentro de área de proteção a mananciais, ciente das limitações impostas à propriedade, e, posteriormente, vem a exigir indenização do Estado a pretexto dessas mesmas limitações.
3. Agravo Regimental não provido”.
STJ - AgRg no REsp 556478 SP 2003/0100982-3- Ministro HERMAN BENJAMIN. SEGUNDA TURMA. DJe 02/02/2010
“DIREITO ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. RESERVA LEGAL. CÓDIGO FLORESTAL. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. INDENIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. A reserva legal de vinte por cento da propriedade para manutenção das florestas e outras formas de vegetação nativa imposta pelo Código Florestal (art. 16, IV), não é uma desapropriação indireta, mas sim uma limitação administrativa. Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Reg...”.
TRF4 -  APELAÇÃO CIVEL AC 354 RS 2008.71.17.000354-4. Publicação: 01/06/2009
A ação que busca a reparação de danos causados pela imposição de limitação administrativa está sujeita à prescrição quinquenal, seja em função do disposto no art. 1º do Decreto 20.910 /32.
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X) Tombamento: é o ato de reconhecimento do valor histórico, artístico, paisagístico, turístico, cultural ou científico de coisas e locais, que os transforma em patrimônio oficial e institui-lhes um regime jurídico especial, segundo a inscrição em livro próprio O instituto do tombamento, reconhecido como um verdadeiro procedimento administrativo, devido a sua sucessão ordenada de atos, é referido pela doutrina como ato administrativo (unilateral, discricionário e constitutivo, conforme Cretella Júnior).
	“O tombamento, de maneira singela, é ato administrativo, por meio do qual a Administração Pública manifesta sua vontade de preservar determinado bem”, conforme Lúcia Valle Figueiredo. E ainda coloca a autora que o tombamento “necessita, por ser ato administrativo, de lei anterior a validá-lo que, ao definir o bem preservado indique, inclusive, a finalidade a ser tutelada por seu intermédio”.
Com relação à natureza jurídica do tombamento, a doutrina é divergente em três aspectos. O primeiro diz respeito à natureza do ato administrativo de tombamento, em que, para alguns se trata de ato discricionário, enquanto para outros é um ato vinculado à lei. Também se discute se é ato declaratório ou constitutivo. E, quanto à restrição imposta pelo tombamento ao direito de propriedade, discute-se se é uma servidão administrativa (Celso Antônio B. Mello) ou uma limitação administrativa (José Afonso da Silva). E ainda há aqueles para os quais se insere o tombamento numa categoria própria, nem servidão, nem limitação administrativa (Di Pietro).
	Fundamento legal: art. 216, §1º CF e Decreto-Lei 25/37.
	Efeitos: os principais: imutabilidade do bem: vedação ao proprietário do bem de modificá-lo (destruí-lo, mutilá-lo, reformá-lo sem autorização judicial); dever de conservação do bem dentro de suas características culturais (e, se não tiver o proprietário recursos para isso, deverá ele comunicar ao órgão responsável para que tome as providências necessárias); limitação às construções vizinhas: não pode haver edificação em torno do bem tombado a uma distância de, por exemplo, trezentos metros da área em torno (*), também não poderá construir e prejudicar a visibilidade do imóvel. Controle do Poder Público, em que o cumprimento do dever de imutabilidade da coisa tombada deverá ser fiscalizado pelo Poder Público. Também a inscrição e averbamento do ato de tombamento no competente RGI (atenção: o tombamento acompanha o bem, que poderá ser alienado, mas não modificado. E a coisa tombada permanece com o proprietário, que é quem tem que conservá-la – poderá haver redução ou isenção do IPTU, por exemplo). O bem não poderá ser desapropriado, SALVO se for para a manutenção do tombamento e a preservação do bem.
Atenção! Recentemente foi extinto o direito de preferência que conferia ao Poder Público vantagem em caso de alienação do bem tombado! Era uma obrigação do titular do domínio, que deveria oferecer, pelo mesmo preço, o bem tombado às referidas pessoas públicas, conforme art. 22 do DL nº 25/37, notificando-as para que, em trinta dias, sob pena de caducidade, exercessem seu direitoà aquisição do bem. O referido dispositivo foi revogado pelo art. 1.072, I do NCPC.
Logo, se o proprietário do bem tombado desejar aliená-lo, poderá fazê-lo livremente, sem precisar comunicar aos entes públicos. 
(*) Atenção! O tombamento cria uma servidão administrativa! Com o ato de tombamento, impõe-se uma servidão administrativa (art. 18 Decreto-Lei), impondo obrigações negativas no sentido de não proceder à edificação que impeça ou reduza a visibilidade da coisa tombada e de que a vizinhança não coloque cartazes ou anúncios que impeçam essa visibilidade. Aplica-se, inclusive, a mesma denominação já estudada no capítulo das servidões administrativas, em que dominante é a coisa tombada e serviente é a construção vizinha. Não gerando, também, em regra, qualquer indenização. 
	O Decreto-Lei nº 25/37 traz todo um capítulo dedicado aos efeitos do tombamento: alienação, deslocamento, transformações, imóveis vizinhos, conservação, fiscalização, que vão gerar obrigações positivas (de fazer), negativas (não fazer) e de suportar (deixar fazer) ao proprietário, aos proprietários vizinhos, bem como obrigações positivas para o órgão técnico competente para avaliar e decidir a respeito do ato de tombamento (por exemplo, o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que é uma autarquia vinculada ao Ministério da Cultura e que responde pela preservação do patrimônio cultural brasileiro).
	
	Competência: todos os entes federativos podem efetuá-lo (tombar) e legislar sobre este instituto (inclusive os Municípios, com base no art. 30, I, II e IX da CF, que permite que este possa legislar suplementarmente à legislação federal e estadual c/c art. 23, também da CF, que diz textualmente “todos os entes da Federação”). Assim, temos competência concorrente para a União, Estados e DF e suplementar para os Municípios. Esses entes remeterão ao órgão técnico competente, por exemplo, o IPHAN, em âmbito federal, o INEPAC, no estado do Rio de Janeiro, que fazem o juízo de valor sobre a possibilidade do tombamento, bem como a fiscalização e vistoria de obras e bens tombados. 
	Modalidades: a) de ofício: só atinge bens públicos, quando se notifica à entidade responsável pelo bem (pessoa jurídica de direito público, titular do bem ou que o tenha em sua guarda). Após a notificação, o tombamento já produz efeitos.
			b) voluntário: incide sobre bens particulares, é o próprio particular/proprietário que o solicita.
compulsório: de iniciativa do Poder Público e mesmo que contrariando o interesse do proprietário.
OBS: O tombamento voluntário e o compulsório podem ser definitivos ou provisórios, conforme esteja iniciado pela notificação ou concluído pela inscrição no Livro do Tombo e transcrição no RGI.
	Indenização: em regra, não é cabível. Porém, quando o tombamento impede ou reduz substancialmente o uso regular do bem, ou esvazia-lhe economicamente, cabe indenização a título de desapropriação indireta.
	Fases do procedimento: o tombamento poderá ser total ou parcial, provisório ou definitivo. Lembrando que, mesmo enquanto provisório, uma vez que o particular receba a notificação do Poder Público, já deverá considera-lo como se definitivo fosse em relação ao cumprimento das obrigações em relação ao bem que está a ser tombado, o que significa que já gera eficácia quanto aos efeitos. 
Manifestação do órgão sobre o valor do bem para fins de tombamento;
Notificação ao proprietário para anuir ao tombamento no prazo de quinze dias (a contar da data do recebimento da notificação), ou para se quiser, impugnar e exercer seu contraditório.
Se houver concordância do proprietário, por escrito, à notificação, ou se não houver impugnação, ocorrerá o tombamento voluntário, com a inscrição no Livro do Tombo. 
Se houver impugnação, será concedida vista, no prazo de quinze dias, ao órgão que tiver tomado a iniciativa do tombamento, para que sustente suas razões.
Será então o processo remetido ao Conselho Consultivo do IPHAN, que proferirá decisão a respeito, no prazo de sessenta dias (a contar da data do recebimento).
Se a decisão for contrária ao proprietário, será determinada a inscrição no Livro do Tombo. Se for favorável, o processo será arquivado.
A decisão do Conselho Consultivo terá ainda que ser apreciada pelo Ministro da Cultura (Lei nº 6.292/75), que poderá examinar todo o procedimento, anulando-o, diante de ilegalidade, ou revogando a decisão do órgão técnico, se for contrária ao interesse público, ou, então, apenas homologará o processo. 
O tombamento só se torna definitivo com a sua inscrição em um dos Livros do Tombo, no competente RGI.
Anulação e revogação: o ato de tombamento poderá ser anulado na existência de ilegalidade ou revogado por razões de interesse superveniente, segundo critério de oportunidade e conveniência da Administração. Quando, então, se produzirá o destombamento do bem. 
Atenção! Quanto à revogação do tombamento, considerar que essa conveniência e oportunidade não podem ficar ao alvedrio da Administração, tem que ter havido um motivo superveniente e relevante o suficiente que ensejem a sua revogação. Em regra, o tombamento é um procedimento vinculado quanto ao fato que confere a necessidade de preservação do bem. A Administração não sai tombando por livre arbítrio, tampouco destombando quando bem entender. O laudo técnico do responsável pela verificação do patrimônio a ser tombado é quem determina a necessidade de se instituir sua proteção conforme o mandamento constitucional. 
“ADMINISTRATIVO. IMÓVEL PARTICULAR URBANO. SERVIDÃO OU TOMBAMENTO INDIRETOS. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA. ATO ILEGAL DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL.
É admissível, em tese, a limitação administrativa genérica, com lei e sem indenização. Não se pode admitir, contudo, a restrição discriminatória, sem lei e sem indenização, que torna o direito de propriedade despido de seus caracteres informadores. A mera rotulação de limitação administrativa não pode eximir o Município do seu dever de indenizar a verdadeira expropriação, servidão ou tombamento indiretas do bem imóvel de particular, com esvaziamento total de seu conteúdo econômico, decorrente de (...)"
TRF2 - APELAÇÃO CIVEL: AC 314988 RJ 1986.51.01.737002-3
Resumo: Constitucional e Administrativo -Apelação -tombamento -Limitação Administrativa Negativa -
Arts. 5º, XXIII e 170, III, da constituição Federal - Decreto nº 25/37 -Proteção
ao Patrimônio Histórico, Cultural e Paisagístico - Vedação de Construção na Vizinhança de Im... 
Relator(a): Desembargador Federal FREDERICO GUEIROS
Julgamento: 06/07/2009
Órgão Julgador: SEXTA TURMA ESPECIALIZADA
Publicação: DJU - Data::14/07/2009 - Página::147 
Ementa
CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO -APELAÇÃO -TOMBAMENTO -LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA NEGATIVA -ARTS. 5º, XXIII E 170, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - DECRETO Nº 25/37 -PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, CULTURAL E PAISAGÍSTICO - VEDAÇÃO DE CONSTRUÇÃO NA VIZINHANÇA DE IMÓVEIS TOMBADOS -INTERESSE DE AGIR DO MUNICÍPIO -CONFIGURADO -PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO -DESCABIMENTO- SENTENÇA MANTIDA.
1- O tombamento é a forma de intervenção na propriedade pela qual o Poder Público procura proteger o patrimônio cultural brasileiro, se traduz, quando o Estado intervém na propriedade privada para proteger o patrimônio cultural, preservando a memória nacional. Sendo assim, o proprietário não pode usar e usufruir livremente de seus bens se estes traduzem interesse público por atrelados fatores de ordem histórica, artística científica turística paisagística e cultural.
2- Pode o Poder público criar novos critérios para assegurar a preservação e a visibilidade daqueles imóveis objetos de tombamento, sendo assim, o fato da Apelante ter obtido licença anteriormente para a construção não lhe confere o direito adquirido a executar o seu projeto quando bem lhe convier, razão pela qual a concessão pelo Poder Público de licença por tempo determinado, daí a finalidade das renovações.
3- O direito que asseguraa propriedade não é absoluto, só se justificando quando a propriedade estiver atendendo sua função social. Tal função social configura, inclusive, um dos princípios gerais da atividade econômica previstos na Constituição. É por esse motivo que, ainda em relação ao presente instituto, podem ser invocados os artigos 5º, XXIII e 170, III,da CF/88, que garantem o direito de propriedade desde que esta atenda a função social.
4- O fato de existirem, no local denominado "Área D", outros imóveis com altura superior à permitida pela Portaria nº 60/84, não confere o direito à parte autora de também poder construir o seu imóvel sem as limitações impostas pela citada portaria, sob o argumento da isonomia.
5- No que tange ao pagamento da indenização, com efeito, as limitações administrativas, por não gerarem aniquilamento do direito de propriedade, não obrigam a Administração a indenizar o proprietário dos bens objeto das mesmas. Sendo imposições de ordem geral, as limitações administrativas não rendem ensejo à indenização em favor dos proprietários. 
6-Sendo o Município a autoridade que concede a licença para a obra pretendida pelo autor, é ele parte legítima para figurar na demanda. 
7 -Apelações e remessa improvidas.

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