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Demonstrações Contábeis em Foco - CPC 00 R1
A partir da convergência das normas brasileiras de contabilidade aos padrões internacionais IASB ( International Accounting Standards Board ), ocorreu uma mudança do foco da contabilidade em relação ao que se fazia até então.
23/08/2018 16:38:41
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A partir da convergência das normas brasileiras de contabilidade aos padrões internacionais IASB (International Accounting Standards Board), ocorreu dentre outras, uma mudança do foco da contabilidade em relação aos usuários.
 
Na era pré-convergência das normas, a contabilidade estava mais voltada à atender as exigências do Fisco, sobretudo no caso das empresas enquadradas no regime tributário do lucro real.
 
Compreensível o fato, tendo em vista que em nosso país grande parte do tempo desprendido pelas empresas e profissionais é voltado ao cálculo, análises e cumprimento de obrigações acessórias relacionados à apuração de impostos.
 
Além disso, a forma legal prevalecia como primordial ao registro contábil.
 
No entanto, a forma anterior de se apresentar os relatórios distorcia a finalidade principal da contabilidade, qual ferramenta mister para a tomada de decisão e transparência.
 
Hoje, apesar de já adentrarmos bastante nos padrões pós-convergência, ainda podemos nos deparar com dúvidas em relação aos demonstrativos contábeis quanto seus objetivos essenciais e classificação.
 
Neste tópico iremos fazer uma breve análise deste quesito sob a luz do CPC 00 - R1.
 
 
1 - CPC 00  (R1) - O que podemos destacar?
 
Podemos dizer que este CPC representa em seu âmago uma verdadeira guinada em relação aos objetivos dos demonstrativos.
 
Se antes o foco era principalmente o Fisco, hoje ele não é mais o "protagonista" das informações.
 
Senão, vejamos:
 
As demonstrações contábeis são elaboradas visando a atender aos diversos usuários interessados, sem privilegiar algum em especial (CPC 00 R1 - Introdução - Página 3);
 
As demonstrações contábeis da estrutura conceitual não devem ser alteradas por exigências de qualquer usuário (CPC 00 R1 - Introdução - Página 3).
 
Ou seja, o escopo principal a ser alcançado passou a ser mais amplo e geral.
 
1.1 - Relatório contábil-financeiro de propósito geral
 
São aqueles destinados à investidores e credores em geral (usuários primários) que não têm condições de solicitar informações de forma direta à entidade (CPC 00 R1 - OB5 - Página 8). 
 
Esses relatórios auxiliam aos usuários primários na mensuração do valor da entidade, sem ser seu objetivo principal fornecer esse dado (CPC 00 R1 - OB7 - Página 8)  .
 
1.2 - Informação Contábil Financeira útil ou relevante
 
1.2.1 – Características Qualitativas Fundamentais
 
As características qualitativas fundamentais para que a informação contábil sejam úteis são relevância e representação fidedigna. (CPC 00  R1 – QC6 - Página 14)
 
 Por informação relevante, entende-se por “aquela capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários.” (CPC 00  R1 – QC6 - Página 15)
 
A informação é representada de forma fidedigna quando é “completa, neutra e livre de erro”. (CPC 00  R1 - QC12 - Página 15)
 
1.2.2 – Características Qualitativas de Melhoria
 
Comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade são características “que melhoram a utilidade da informação que é relevante e que é representada com fidedignidade” (CPC 00  R1 - QC19 - Página 17) 
 
Comparabilidade – “é a característica que permite que os usuários identifiquem e compreendam similaridades dos itens e diferenças entre eles ... A comparação requer no mínimo dois itens.”
(CPC 00 R1 – QC21 - Página 17)
 
Verificabilidade – “A verificabilidade ajuda a assegurar aos usuários que a informação representa fidedignamente o fenômeno econômico que se propõe representar.” A informação apresentada deve ser perfeitamente verificável. Exemplo: o balanço representa um valor de Caixa e ao se verificar fisicamente, a informação é exatamente aquela apresentada no balanço.
(CPC 00 R1 – QC27 - Página 18)
 
Tempestividade – “...ter informação disponível para tomadores de decisão a tempo de poder influenciá-los em suas decisões.”
(CPC 00 R1 – QC29 - Página 18)
 
Compreensibilidade – “Classificar, caracterizar e apresentar a informação com clareza e concisão torna-a compreensível.”
(CPC 00 R1 – QC30 - Página 18)
 
2 - Elementos das Demonstrações Contábeis - Reconhecimento
 
Chama-se de elemento da demonstração contábil ao grupamento de informações relacionadas à "efeitos patrimoniais e financeiros das transações e outros eventos"  
(CPC 00 R1 - Cap. 4 Item 2 - Página 22). 
 
Por exemplo, no Balanço Patrimonial esses grupamentos seriam o Ativo, o Passivo e o Patrimônio Líquido (CPC 00 R1 - Cap. 4 Item 4 - Página 23).
 
Na Demonstração de Resultados seriam as Receitas e Despesas (CPC 00 R1 - Cap. 4 Item 2 - Página 22).
 
Naturalmente as informações para serem relevantes aos usuários precisam ser também organizadas em subclassificações.
 
Segundo o CPC 00, " ativos e passivos podem ser classificados por sua natureza ou função nos negócios da entidade, a fim de mostrar as informações da maneira mais 
útil aos usuários para fins de tomada de decisões econômicas."   (CPC 00 R1 - Cap. 4 Item 3 - Página 22)
 
2.1 - Balanço Patrimonial - Elementos de Posição Patrimonial e Financeira
 
Como já mencionado anteriormente, os elementos do Balanço Patrimonial são o Ativo, o Passivo e o Patrimônio Líquido.
 
Assim são definidos esses elementos no CPC por suas características essenciais:
 
"(a) ativo é um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade; 
 
(b) passivo é uma obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos; 
 
(c) patrimônio líquido é o interesse residual nos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos."
(CPC 00 - Cap. 4 Item 4.4 - Página 23 - Vide também Itens 4.44 à 4.46; 4.57 à 4.65)
 
Ao se classificar um item em um desses grupamentos, deve-se levar em conta não somente a formalidade legal, mas sim também " sua essência subjacente e realidade econômica". É o que se costuma falar, a prevalecência da essência sobre a forma.
(CPC 00 R1 - Cap. 4 Item 4.6 - Página 23).
 
Nesta questão da essência sobre a forma, temos um exemplo dado no CPC que transcrevo na íntegra relacionado ao ativo (meu destaque em negrito):
 
"Muitos ativos, como, por exemplo, contas a receber e imóveis, estão associados a direitos legais, incluindo o direito de propriedade. Ao determinar a existência do ativo, o direito de propriedade não é essencial. Assim, por exemplo, um imóvel objeto de arrendamento mercantil será um ativo, caso a entidade controle os benefícios econômicos que são esperados que fluam da propriedade. Embora a capacidade de a entidade controlar os benefícios econômicos normalmente resulte da existência de direitos legais, o item pode, contudo, satisfazer à definição de ativo mesmo quando não houver controle legal. Por exemplo, o conhecimento (know-how) obtido por meio da atividade de desenvolvimento de produto pode satisfazer à definição de ativo quando, mantendo esse conhecimento (know-how) em segredo, a entidade controlar os benefícios econômicos que são esperados que fluam desse ativo."  
(CPC 00 R1 - Cap. 4 Item 4.12 - Página 24) 
 
Percebe-se que a conceituação jurídica de posse e propriedade neste respeito não seria o único determinante ao se classificar esse item no Ativo da empresa. O conceito inclusive extrapola a materialidade do bem.
 
No Simpósio Internacional sobre o Ensino da Contabilidade baseado em IFRS, realizado no Rio de Janeiro em 2011, foi dado um exemplo interessante. Comparou-se duas propriedades na África. Uma propriedade comum, sem construção e com pouco ou nenhum acesso à faunanativa, com uma outra semelhante, mas que teria acesso à fauna. Naturalmente a propriedade com acesso à fauna (leões, elefantes...) teria um valor/interesse maior que a outra, mesmo que ambas tivessem as mesmas dimensões e características gerais. Esse seria um ativo que pelos padrões anteriores não seriam mensurados nos demonstrativos, mas que podem significar uma diferença significativa entre o potencial de exploração econômica das duas propriedades.

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