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Fundamentos 
Metodológicos do 
Ensino de História e 
Geografia
O livro didático 
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Adriana Aparecida Furlan 
Revisão Textual:
Profa. Vera Lídia de Sá Cicaroni
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• O livro didático em questão
• Uma visão crítica sobre o livro didático
• Livro didático de História e de Geografia
Para que os estudos propostos nesta unidade sobre o livro didático sejam melhor aproveitados, 
sugiro que pesquise material extra a que possa ter acesso em casa, na escola e em bibliotecas.
Propomos que seu olhar sobre o livro didático, tanto de Geografia quanto de História, busque 
associar o que discutimos nas unidades anteriores sobre a lógica de pensamento (formal ou 
dialética) à forma como a História e a Geografia são apresentadas e trabalhadas nos livros 
didáticos, conforme discutimos nas unidades sobre o ensino de História e de Geografia.
Nosso olhar deve estar direcionado para a compreensão da ideia de História que está 
apresentada nos livros, ou seja, se ela é colocada de forma a levar o aluno a entender que 
a História é escrita pelas pessoas em cada momento vivido e pode ser revista com o passar 
do tempo, na medida em que novas descobertas e estudos são realizados, ou se as verdades 
históricas são apontadas como absolutas. Por exemplo, ao estudarmos algum aspecto da 
História do Brasil, como a Inconfidência Mineira, por exemplo, devemos atentar para a 
forma como esse fato é apresentado: se está baseado em datas e personagens, apontando 
somente Tiradentes como mártir e descrevendo os acontecimentos como se tivessem ocorrido 
exatamente da forma apresentada, para que o aluno apenas obtenha as informações sobre 
o fato, ou se esse episódio da história é apresentado e debatido com questionamentos sobre 
como e por que ocorreu e se a imagem do “Tiradentes como um mártir da Inconfidência” é 
apresentada em mais de uma forma. 
 · Nesta unidade, discutiremos a questão do livro didático e de 
que forma ele pode contribuir para os estudos de História e de 
Geografia. Examinaremos, também, como o texto, os exercícios 
e as atividades colocadas no livro didático desenvolvem o 
raciocínio do aluno e se eles se baseiam na lógica formal, na 
lógica dialética ou alternam as duas lógicas, analisando de 
que forma isso influencia na formação do aluno.
O livro didático
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Unidade: O livro didático
Contextualização
Muito provavelmente nosso contato com os livros, didáticos ou não, vem desde os primórdios 
de nossa educação seja em casa ou na escola. Desde livros ilustrados com contos de fadas e 
historinhas animadas até os livros com que temos contato no nível superior da nossa educação, 
todos exerceram e exercem uma função em nossa formação intelectual.
Segundo o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), 
a escola é um lugar especial e também especial é o material escolar, que se pode definir 
como o conjunto de objetos envolvidos nas atividades-fim da escola. Tudo aquilo que ajuda 
a aprendizagem que cumpre à escola patrocinar—computadores, livros, cadernos, vídeos, 
canetas, mapas, lápis de cor, televisão, giz e lousa, entre outras coisas — é material escolar.
Dentre esses materiais, o que mais se destaca, além de lousa e giz, é o livro didático. É 
considerado didático, pelo INEP, o livro que vai ser utilizado em aulas e cursos e que, 
provavelmente, foi escrito, editado, vendido e comprado, tendo em vista essa utilização escolar 
e sistemática.
A qualidade dos conteúdos do livro didático precisa ser levada em conta nos processos de 
sua escolha e adoção, e, posteriormente, no estabelecimento das formas de sua leitura e uso, 
pois, se considerarmos que é através do livro didático que o aluno vai aprender, é preciso que 
os significados com que o livro lida sejam adequados ao tipo de aprendizagem com que a escola 
se compromete e em que o professor acredita.
Os significados que, em torno do livro didático, o aluno vai construir ou alterar, precisam, 
por um lado, corresponder aos padrões de conhecimento da sociedade para a qual a escola 
estabelece seu projeto de educação. Por outro lado, os significados que o livro veicula podem, 
também, questionar o conhecimento até então aceito como legítimo.
Dentro da proposta desta unidade, faremos, então, uma discussão teórica sobre o surgimento, 
a importância e o papel que o livro didático desempenha no processo de ensino-aprendizagem 
e passaremos para uma análise um pouco mais detalhada de alguns aspectos presentes nos 
livros didáticos de História e de Geografia.
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O livro didático em questão
Conforme o INPE (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), 
didático é o livro que vai ser utilizado em aulas e cursos e que, provavelmente, foi escrito, 
editado, vendido e comprado tendo em vista essa utilização escolar e sistemática. 
Assim, como sugere o adjetivo didático, que qualifica e define certo tipo de obra, o livro 
didático é instrumento específico para a relação de ensino e de aprendizagem formal. Muito 
embora não seja o único material de que professores e alunos vão se valer no processo de 
ensino e aprendizagem, ele pode ser decisivo para a qualidade do aprendizado resultante das 
atividades escolares, uma vez que este pode ser o único material de consulta para a preparação 
das aulas pelo professor.
Assim, para ser considerado didático, um livro precisa ser usado de forma sistemática no 
ensino-aprendizagem de um determinado objeto do conhecimento humano, geralmente já 
consolidado como disciplina escolar.
Dessa forma, o livro didático acabou por adquirir grande importância ou, até mesmo, 
tornou-se fundamental na escola brasileira. Dada essa grande importância, a sua escolha e 
a sua utilização precisam ser fundamentadas na competência dos professores que, com os 
alunos, vão fazer dele (livro) instrumento de aprendizagem (INEP, 1996). Mas nem sempre 
isso é verificado, ou seja, em muitos casos o professor pouco participa da escolha do livro 
didático com o qual irá trabalhar.
Teoricamente, os componentes do livro didático devem ser definidos em função da 
aprendizagem que ele patrocina. Para que um livro didático atenda às necessidades do professor, 
este deve, em princípio, estabelecer os objetivos pedagógicos que pretende alcançar e verificar 
se o discurso e forma de apresentação dos conteúdos no livro correspondem a esses objetivos. 
Na prática, o que se verifica é que o professor deve fazer adaptações em seus objetivos para 
que estes se ajustem ao discurso pedagógico presente no livro, que, nem sempre, corresponde 
aos anseios do professor e à sua visão sobre os objetivos pedagógicos e conteúdos apresentados 
nesse material. Dessa forma, se é através do livro didático que o aluno vai aprender, é preciso 
que os significados apresentados no livro sejam adequados ao tipo de aprendizagem que a 
escola e o professor almejam.
Os significados que, com base nos discursos presentes no livro didático, o aluno vai construir 
ou alterar precisam, por um lado, corresponder aos padrões de conhecimento da sociedade 
para a qual a escola estabelece seu projeto de educação. Por outro lado, os significados que o 
livro veicula podem, também, questionar o conhecimento até então aceito como legítimo ou 
colocado como verdade absoluta.
É necessário que, em qualquer dos casos, as informações endossadas ou sua contestação 
sejam fundamentadas e levem o aluno a desenvolver o raciocínio e as habilidades previamente 
estabelecidas pelo professor. Por exemplo, se o aluno acredita que Tiradentes foi o único e 
grande herói da Inconfidência Mineira, dificilmente mudará de opinião pela mera leitura de um 
texto que, simplesmente, informe sobre esse acontecimento, sem acrescentar questionamentos 
e outras versões do fato.
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Unidade: O livro didático
Trabalhar com o livro didático
requer planejamento em relação ao seu uso e aos conteúdos 
e comportamentos com que ele trabalha. É só a partir disso que se pode descobrir a melhor 
forma de estabelecer o necessário diálogo entre o que diz o livro e o que pensam os alunos. Se 
o livro for tido como o único material que apresenta a verdade (geralmente como absoluta) e se 
for trabalhado no sentido de reforçar o que ele apresenta, o professor e o aluno ficarão somente 
no nível da informação, ou seja, na aparência das coisas, sem chegarem à sua essência.
O conceito de livro didático bom ou ruim é bastante relativo, e isso dependerá sempre do 
ponto de vista de cada um, pois o que é ruim para uns pode ser bom para outros e vice-versa. 
Em geral, o bom livro didático diferencia-se do livro didático ruim pelo tipo de diálogo que 
estabelece com o professor durante o planejamento do curso. Não obstante, o livro didático 
bom, adequado e correto também pressupõe que o professor personifique o uso que dele faz 
na sala de aula. O livro didático ruim exige que o professor interfira de forma sistemática nos 
conteúdos e atividades propostos e considerados inadequados.
Muitas vezes, o livro didático é inadequado pela irrelevância do que diz, pela monotonia 
dos exercícios que propõe, pela falta de sentido das atividades que sugere. Nessa situação, 
cabe ao professor substituir exercícios e atividades ou, simplesmente, apontar a irrelevância 
do tópico. Substituição e comentário serão educativos na medida em que estarão fazendo o 
aluno participar, de forma consciente, de uma situação de leitura crítica e ativa de um texto 
(INEP, 1996).
O livro didático, por melhor que seja considerado, deve ser utilizado como material de trabalho 
auxiliar e adaptações devem ser feitas sempre que necessário, pois, como todo e qualquer livro, 
o didático também propicia diferentes leituras para diferentes leitores.
 
Uma visão crítica sobre o livro didático
Segundo Freitag et al. (2000), a problemática do livro didático insere-se em um contexto mais 
amplo, que perpassa o sistema educacional e envolve estruturas globais da sociedade brasileira: 
o Estado, o mercado e a indústria cultural.
O livro didático insere-se, assim, em uma grande maquinaria, na qual ele 
exerce um papel “insignificante” que, à medida que vai sendo elucidado, 
revela-se de importância estratégica para a existência e o funcionamento 
do sistema educacional como um todo, estendendo sua influência a amplos 
setores do mercado editorial bem como a instituições estatais. Funciona 
como instrumento de ensino no processo pedagógico em sala de aula; como 
fonte de lucro e renda para editores e como “cabide de empregos” para 
funcionários e técnicos dos organismos estatais (FREITAG et al., 2000, p. 127).
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A ideologia e suas intenções de submissão do pensamento são apresentadas, muitas 
vezes, como “mentiras que parecem verdades”. Em uma análise crítica ao escamoteamento 
da realidade e sua mitologização (transformação em mito), alguns autores observam, nos 
livros fantasiosos, a reprodução de modelos tradicionais de pensamento que mantêm o 
mesmo discurso e a mesma ideologia, conservadores do estado desigual das relações e 
oportunidades sociais (RANGEL, 2005, p.188).
Em muitos livros didáticos brasileiros podem ser citados como exemplos “as falácias ou 
mitos de riqueza, exuberância, cordialidade e paz, de modo que o amarelo simboliza o ouro, 
o azul a paz e o verde as matas abundantes, no intuito de formar uma “consciência cívica” de 
um país idealizado, cuja bandeira colorida exaltasse um sentimento positivo, incondicional.” 
(RANGEL, 2005, p.188).
O livro será reflexo de cada momento histórico por que passou (e passará) a sociedade 
brasileira. Como exemplos desse fato, vamos analisar as afirmações a seguir, elaboradas por 
Azevedo (s/d).
No que concerne ao livro didático, é importante ressaltar que em cada 
momento da nossa história foram formulados programas que atendessem 
necessidades específicas. No período varguista, a preocupação relativa 
ao livro didático era fomentar a produção para atender e suprir a carência 
existente no país. (Não existia material didático suficiente para ser distribuído 
aos alunos das escolas públicas da época). Dentro desse objetivo maior, 
Getúlio Vargas fez uso do livro didático de história como instrumento de 
transmissão do sentimento nacional.
Durante a ditadura militar brasileira uma nova política para o livro didático e 
para a educação de forma geral foi adotada. Foram feitos vários acordos – 
os acordos MEC/USAID5 – entre o Ministério da Educação e a Agência 
dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. “Pode-se afirmar 
que, com essa política, houve um retrocesso, pois os assessores 
dessa agência interferiam diretamente nos programas formulados para o livro 
didático brasileiro.” (AZEVEDO, s/d, p. 2).
Conforme Freitag et al. (2000), muitos concordam com o fato de que o livro didático 
deixa muito a desejar, mas é uma ferramenta indispensável em sala de aula. Consideram que 
“professores e alunos tornaram-se seus escravos, perdendo a autonomia e o senso crítico que o 
próprio processo de ensino-aprendizagem deveria criar.”
Nos últimos 20 anos, no Brasil, o livro didático ficou identificado com o 
livro descartável, de má qualidade, exclusivamente calcado no ensino 
programado de orientação behaviorista. Esse livro assumiu o controle da 
sala de aula, transformando-se em verdadeiro déspota do professor, do 
aluno e do processo de ensino-aprendizagem que se passa na escola 
(FREITAG et al., 2000, p.130).
Para além de refletir as políticas públicas para a educação e o momento da sociedade que 
o produz, o livro didático é concebido como um produto vendável, que proporciona ganhos 
ao seu autor e lucro para as editoras. Segundo Freitag et al. (2000), “o Estado, através de seu 
organismo especial, a FAE, torna-se comprador `cego´ de mais de 60% da produção editorial”.
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Unidade: O livro didático
Não temos dados, no momento, que comprovem as relações de compra e venda entre editoras 
e Estado, do ponto de vista da negociação em termos de escolha dos livros, mas imaginamos que 
deva haver um lobby de editoras e autores para que seus livros sejam comprados e distribuídos 
nas escolas de todo país (negociações que envolvem muito dinheiro) pelo MEC (Ministério da 
Educação e Cultura) gratuitamente. Nessa perspectiva, especulativa somente, podemos inferir 
que nem sempre o “melhor livro” será indicado, mas sim aquele que a editora apresentar dentro 
das propostas “pedagógicas” de orientação dos especialistas na área de conhecimento (História, 
Geografia, Matemática etc.) de organismos do MEC.
No processo decisório relativo a essa política pública, o Estado tem como 
parceiros representantes do setor privado, inserindo nessas esferas de decisão 
mecanismos de mercado no mínimo discutíveis quando da definição de gastos 
de recursos públicos. É impossível supor a ausência de tais grupos editoriais 
nos rumos do PNLD1, uma vez que o MEC não é produtor de obras didáticas. 
Mas o que é significativo para a discussão é a compra de milhões de livros 
didáticos, pelo Estado, de um número reduzido de editores, situação 
que vem se confirmando por um longo período (HÖFLING, 2000, p. 164).
Em relação ao papel assistencialista (ressaltamos que, no caso do livro didático, cumpre 
também uma doutrinação ideológica por parte do Estado) da concessão de material didático 
para as escolas da rede pública do país, Freitag et al. (2000) observa que “a concessão 
de livros e merenda funciona, pois, objetivamente, senão nas intenções do Estado, como 
forma de impedir a conscientização e a organização social”, para reverter a situação de 
desigualdade e injustiça
social.
 (...) Assim, fornecer material didático, transporte, merenda escolar e 
assistência à saúde é uma forma obrigatória de cumprir com o dever 
do Estado em matéria de educação. O
Estado deve assumir o compromisso de garantir o ensino fundamental 
gratuito e obrigatório e, ao mesmo tempo, o atendimento ao educando, 
através de programas suplementares. Nesses termos, a natureza dos 
programas de assistência ao estudante se altera: de caráter assistencial, 
conjuntural, adquirem, pelo preceito constitucional, caráter universalizante, 
obrigatório, destinados e garantidos a todos aqueles que têm, igualmente, 
direito ao acesso à educação, pelo menos em termos legais. 
A distribuição gratuita de livro didático tradicionalmente vem sendo 
entendida como uma das funções do Estado no que se refere ao 
fornecimento do material didático-pedagógico. Mesmo que seja possível 
uma interpretação mais elástica em relação a essa obrigatoriedade, o próprio 
governo considera seu empenho na compra e na distribuição gratuita de 
livros às escolas como tarefa essencial no atendimento à população escolar. 
(HÖFLING, 2000, p. 160)
Para alguns autores, não basta questionar somente a ideologia do livro didático, sua qualidade 
e importância, mas, sim, deve-se buscar reverter o processo de banalização e desqualificação do 
ensino no Brasil, do qual o livro didático é somente um aspecto (não menos importante).
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Livro didático de História e de Geografia
Assim como em todas as áreas do conhecimento trabalhadas na escola, os livros didáticos 
de História e de Geografia são reflexos do momento histórico e da sociedade (e sua visão de 
mundo) que os produziu.
Pereira (2004) faz uma breve retrospectiva para o caso do livro didático de Geografia. A 
autora afirma que:
Antes de 1930, o estudo da Geografia estava baseado apenas na 
memorização, característica também presente nos livros didáticos da 
época. Após 1930, a Geografia brasileira passou a receber influências 
dos princípios da escola Lablachiana: os livros didáticos tiveram seus 
textos modernizados e ilustrados com mapas, cartas e fotografias.
Com o Estado Novo, as ciências sociais tiveram sua influência diminuída 
e a Geografia passou a ter um caráter mais conservador do que 
habitualmente estabelecido, com os autores de livros didáticos submetendo-
se à vontade do Estado no tocante aos assuntos que deveriam aparecer 
no livro didático.
Na década de 1950, os novos livros didáticos de Geografia começaram 
a aparecer, apresentando os fenômenos geográficos de maneira mais 
dinâmica. Com o populismo dos anos 1960, houve um grande estímulo 
à produção de livros didáticos que, infelizmente, retomam o processo 
mnemônico. Nesse período é que surgem os cadernos de exercícios 
conhecidos como “livro do mestre”, o nosso popular “manual do professor”. 
Têm como principal consequência a perda de capacidade de reflexão e 
análise, bem como a automação dos professores. Esse é o quadro que 
perdura até os dias atuais. (PEREIRA, 2004, p.73)
A separação do espaço em físico, humano e econômico, como ainda se verifica em vários 
livros didáticos de Geografia, leva o aluno a aprender a realidade como fragmentada, na qual os 
fenômenos não apresentam relação entre si. Assim como os livros que conduzem à memorização 
de nomes de capitais, tipos de relevo, nomes de rios, taxas e índices, entre tantos outros, a visão 
fragmentada da realidade acaba por produzir o mesmo resultado, ou seja, o aluno desenvolverá 
um tipo de raciocínio baseado na lógica formal, a qual não o conduzirá ao desenvolvimento de 
habilidades mentais, como a observação e a relação, e ao questionamento.
Para que serve desenvolver no aluno uma visão fragmentada da realidade com base em conteúdos 
desconexos e que devem ser memorizados (e esquecidos somente após a avaliação)? Quem tem 
interesse em que o aluno não se torne um adulto questionador e atuante na sociedade em que vive?
Essas são questões sobre as quais, a partir da visão dos livros de Geografia pautados na 
memorização, devemos refletir.
As mesmas questões servem para uma reflexão sobre os livros didáticos de História. Memorizar 
nomes de heróis, fatos e datas cumpre a mesma função alienadora dos livros de Geografia que 
fragmentam o espaço e o conhecimento sobre ele (sem estabelecer qualquer tipo de relação 
entre os fenômenos).
12
Unidade: O livro didático
Zamboni (1998) nos chama a atenção para a necessidade de considerarmos que a História 
lida com interpretações do real, uma vez que este pode ser entendido sob tantos pontos de vista 
quanto forem aqueles que o observam, e essa interpretação muda dependendo do pesquisador/
historiador que analisa o fato e também do tempo e da sociedade em que ele vive.
Consideramos que a essência do conhecimento histórico são as ações humanas 
repletas de emoção, de sensibilidades, de contradições traduzidas no fato 
histórico. Concordamos com Pesavento ao afirmar que “todo fato histórico - e, 
como tal, fato passado - tem uma existência linguística, embora o seu referente 
(real) seja exterior ao discurso. Entretanto, o passado já nos chega enquanto 
discurso, uma vez que não é possível restaurar o real já vivido em sua 
integridade. Neste sentido, tentar reconstituir o real é reimaginar o imaginado, e 
caberia indagar se os historiadores, no seu resgate do passado, podem chegar 
a algo que não seja uma representação (...) 
 (...) Também é parte do conhecimento e do fato histórico o tratamento 
dado à cultura e ao documento. Como nos lembra Le Goff, o trabalho com 
o documento (...) escrito, arqueológico, figurativo, oral, que é interrogar os 
silêncios da História (...) algo que nos foi dado intencionalmente, ele é o produto 
de uma certa orientação da História, de que devemos fazer crítica, não só 
segundo as regras do método positivista, que obviamente continuam 
necessárias a um certo nível, mas também de uma maneira que eu qualificaria 
de quase ideológica. É preciso para explicar e reconhecer o documento o seu 
caráter sempre mais ou menos fabricado. (ZAMBONI, 1998)
Dessa forma, devemos sempre ter um olhar crítico sobre o material que temos disponível 
para nosso trabalho em sala de aula. É indispensável, também, conhecermos um pouco mais 
dos conteúdos a serem trabalhados nas aulas de História e Geografia, buscando sempre a 
leitura de autores que mostram pontos de vista diferentes. Quanto mais nos aprofundarmos nos 
temas a serem trabalhados, mais elementos teremos para realizar essa análise crítica. 
Embora, em muitos casos, o livro didático disponível para o nosso trabalho possa não ser 
aquele de que não gostaríamos, podemos “tirar proveito” dele se mantivermos em mente que o 
livro é um material de apoio para nosso trabalho e que não deve ser a única fonte de informação 
para nosso dia a dia na sala de aula.
Para finalizarmos nossa discussão, deixamos algumas questões para reflexão sobre o livro 
didático: por que o livro didático foi criado? Qual o papel que ele desempenha em nosso 
trabalho em sala de aula e na formação do aluno? Temos consciência de que o discurso tanto da 
História quanto da Geografia, presente nos livros didáticos, não é isento da ideologia de quem 
os produz? Podemos lidar com esse material de forma diferente da que temos lidado?
Independente da opinião que os pesquisadores e nós temos sobre o livro didático, ele faz 
parte da realidade escolar e, quanto mais discutirmos sobre ele, mais elementos teremos para 
dele fazer melhor uso (ou não usá-lo, se assim for possível).
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Material
Complementar
Leituras
FILGUEIRAS, J. M. Os processos de avaliação de livros didáticos na Comissão 
Nacional do Livro Didático. Disponível em: http://www.anpuhsp.org.br/sp/
downloads/CD%20XIX/PDF/Autores%20e%20Artigos/Juliana%20Miranda%20
Filgueiras.pdf
FREITAS, N. K. e RODRIGUES, M. H. O livro didático ao longo do tempo: 
a forma do conteúdo. Disponível em: http://biblioteca.udesc.br/arquivos/portal_
antigo/Seminario18/18SIC/PDF/074_Neli_Klix_Freitas.pdf
INEP. A questão do livro didático. Disponível em http://www.emaberto.inep.gov.
br/index.php/emaberto/article/viewFile/630/559
MEC. Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Disponível em: 
http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=668id%3D12391option%3Dcom_
contentview%3Darticle
RANGEL, M. Qualidade do livro didático: dos critérios da literatura 
acadêmica aos do Programa Nacional do Livro Didático. Disponível em: 
http://seer.bce.unb.br/index.php/linhascriticas/article/view/5369/4474
Vídeos
- O livro didático ontem e hoje (11min 36s)
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Il9kBKFN02A
- O livro didático em questão (2min 35 s)
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=HYY5euhgPMg
da de alguns aspectos presentes nos livros didáticos de História e de Geografia.
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Unidade: O livro didático
Referências
AZEVEDO, W. M. de. Livro didático: uma abordagem histórica e reflexões a respeito 
de seu uso em sala de aula. Disponível em: http://www.fucamp.edu.br/wp-content/
uploads/2010/10/7.Ede%C3%ADlson-Matias-de-Azevedo.pdf. Acesso em 15/05/2013.
CASSIANO, C. C. F. Aspectos políticos e econômicos da circulação do livro didático de 
História e suas implicações curriculares. História. São Paulo, 23 (1-2), 2004. Disponível 
em http://www.scielo.br/pdf/%0D/his/v23n1-2/a03v2312.pdf. Acesso em 03/05/2013.
HÖFLING, E. M. Notas para discussão quanto à implementação de programas de 
governo: Em foco o Programa Nacional do Livro Didático. Educação & Sociedade, ano 
XXI, nº 70, Abril/00.Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/es/v21n70/a09v2170.pdf. 
Acesso em 10/04/2013.
INEP. Livro didático: um (quase) manual de usuário. Disponível em: http://www.emaberto.
inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/1033/935. Acesso em 10/03/2013.
PEREIRA, C. M. R. B. Política pública e avaliação no Brasil: uma interpretação da 
avaliação do livro didático de geografia para o ensino fundamental. Dissertação de 
Mestrado. 2004. Disponível em: http://www4.fct.unesp.br/pos/geo/dis_teses/04/04_CAROLINA_
MACHADO_ROCHA_BUSH_PEREIRA.pdf Acesso em: 05/06/2013.
ZAMBONI E. Representações e Linguagens no Ensino de História. Revista Brasileira 
de História. vol. 18 n. 36 São Paulo 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S0102-01881998000200005&script=sci_arttext. Acesso em 15/06/2013.
15
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