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759. 760. § 79. EFEITOS DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO Sumár io: 759. Efeitos básicos do recurso: devolutivo e suspensivo. 760. Efeito substitutivo. 761. Efeito translativo. 762. Efeito expansivo. Efeitos básicos do recurso: devolutivo e suspensivo Os recursos podem ter, em princípio, dois efeitos básicos: o devolutivo e o suspensivo. Pelo primeiro, reabre-se a oportunidade de reapreciar e novamente julgar questão já decidida; e, pelo segundo, impede-se ao decisório impugnado produzir seus naturais efeitos enquanto não solucionado o recurso interposto. Em regra, nenhuma questão, depois de solucionada em juízo, pode ser novamente decidida, porque se forma em torno do pronunciamento jurisdicional a preclusão pro iudicato (NCPC, art. 505, caput),261 requisito necessário a que o processo caminhe sempre para frente, sem retrocesso, rumo à solução do litígio. O mecanismo dos recursos, porém, tem sempre a força de impedir a imediata ocorrência da preclusão e, assim, pelo efeito devolutivo, inerente ao sistema, dá-se o restabelecimento do poder de apreciar a mesma questão, pelo mesmo órgão judicial que a decidiu ou por outro hierarquicamente superior. Não se pode, logicamente, conceber um recurso que não restabeleça, no todo ou em parte, a possibilidade de rejulgamento. E nisso consiste o denominado efeito devolutivo dos recursos. Já o efeito suspensivo (impedimento da imediata execução do decisório impugnado), que era a regra geral para o Código de 1973, passou a ser a exceção no novo CPC, prevista apenas para a apelação (art. 1.012, caput).262 Assim é que o art. 995 dispõe que “os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso”. Apenas excepcionalmente a decisão será suspensa, “se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso” (parágrafo único do art. 995). Isto, todavia, dependerá sempre de decisão do relator, caso a caso. Efeito substitutivo 1241 (a) (b) 761. A par dos efeitos devolutivo e suspensivo, um outro efeito – o substitutivo – é atribuído pelo art. 1.008 do NCPC263 aos recursos em geral. Consiste ele na força do julgamento de qualquer recurso de substituir, para todos os efeitos, a decisão recorrida, nos limites da impugnação. Trata-se de um derivativo do efeito devolutivo. Se ao órgão ad quem é dado reexaminar e redecidir a matéria cogitada no decisório impugnado, torna-se necessário que somente um julgamento a seu respeito prevaleça no processo. A última decisão, portanto, i.e., a do recurso, é que prevalecerá. Para que a substituição ocorra, todavia, hão de ser observados alguns requisitos: o recurso deverá ter sido conhecido e julgado pelo mérito; se o caso for de não admissão do recurso, por questão preliminar, ou se o julgamento for de anulação do julgado recorrido, não haverá como o decidido no recurso substituir a decisão originária; deverá o novo julgamento compreender todo o tema que foi objeto da decisão recorrida; se a impugnação tiver sido parcial, a substituição operará nos limites da devolução apenas. É irrelevante, in casu, que o recurso julgado pelo mérito tenha sido provido ou improvido. Em qualquer caso (até mesmo quando de fato resulte “confirmada” a decisão recorrida), o decidido na instância recursal é que prevalecerá e que irá fazer coisa julgada. É possível, outrossim, que a mesma matéria seja objeto de sucessivas impugnações recursais no mesmo processo. Ocorrendo tal, cada julgamento substitui o precedente e apenas o último prevalece para operar a coisa julgada e para sub- meter-se a eventual rescisória. No caso de a sentença recorrida cogitar do mérito e ter acarretado revogação de anterior antecipação de tutela, já se decidiu que a cassação do julgado, em via recursal, “implica o restabelecimento dos efeitos da medida antecipatória”.264 Mesmo que não o diga expressamente, o efeito maior do julgamento substitutivo, alcança a restauração completa do status quo, inclusive a medida tutelar de urgência, no entendimento do TJMG.265 Efeito translativo Por força do efeito devolutivo, em regra o recurso transfere o conhecimento da causa para o juízo recursal nos limites da impugnação formulada pelo recorrente, 1242 uma vez que se admite o ataque à decisão “no todo ou em parte” (NCPC, art. 1.002), e que o julgamento do tribunal deva substituir a decisão impugnada “no que tiver sido objeto do recurso” (art. 1.008). Reconhece-se que o recurso, como desdobramento do direito de ação, rege-se pelo princípio dispositivo. Daí que cabe à parte definir o objeto da impugnação, limitando a devolução de conhecimento da causa ao tribunal àquilo que o recor-rente lhe haja transferido por meio do efeito devolutivo. Além, contudo, da transferência compreendida nos termos do recurso, exis-tem matérias de que o tribunal ad quem poderá conhecer, independentemente da devolução operada pela vontade impugnante do recorrente. Trata-se das questões de ordem pública, como aquelas ligadas às condições da ação e aos pressupostos processuais, e outras que, por força de lei, os tribunais têm de apreciar e resolver ex officio, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição (art. 485, § 3º). A afetação de tais temas à cognição do tribunal ad quem recebe da dou-trina a denominação de efeito translativo do recurso, para diferenciar do efeito devolutivo provocado pela vontade do recorrente. Enquanto o efeito devolutivo emana do princípio dispositivo (que impera enquanto se acha em jogo interesses disponíveis da parte), o efeito translativo (que de certa forma conecta-se com o efeito devolutivo) é uma decorrência direta do princípio inquisitivo, que atua no direito processual nos domínios do interesse coletivo, ultrapassando a esfera dos interesses individuais em conflito no processo. Essa eficácia recursal, que é comum a todos os recursos, inclusive o extraor- dinário e o especial, faz que, uma vez conhecido o recurso, o tribunal superior, constatando a ausência de algum pressuposto processual, de alguma condição da ação, possa apreciá-la de ofício.266 Em outros termos, o efeito translativo, que amplia e complementa o efeito devolutivo, se apresenta como consectário do ca-ráter publicista do processo contemporâneo, para permitir ao órgão de superior instância o exame, mesmo sem constar das razões ou contrarrazões recursais, de questões de ordem pública, nos termos dos arts. 485, § 3º, e 1.013, I a IV. Não há, na Constituição (que define os casos de admissibilidade dos recursos extraordinário e especial), nada que vede a incidência do efeito translativo nos domínios dos recursos excepcionais endereçados aos Tribunais Superiores. O que se acha definido na Constituição são os casos de admissibilidade de tais recursos. O seu alcance e seus efeitos são matérias que se comportam na disciplina do Código de Processo Civil e na legislação infraconstitucional que cuidam do tema. 1243 762. O efeito translativo, definido na lei comum, nada tem a ver com o poder da parte de definir o objeto da impugnação recursal, que se presta para justificar a exigência de prequestionamento dos temas cabíveis no objeto dos recursos especial e extraordinário. O efeito em questão é algo que existe primariamente na esfera de atribuições de qualquer órgão jurisdicional que assuma a função de decidir emqualquer processo, não importa o grau de jurisdição em que ele esteja tramitando.267 Por isso, “uma vez conhecido o recurso extraordinário/especial, poderá o tribunal examinar todas as matérias que possam ser examinadas a qualquer tempo, inclusive a prescrição, a decadência e as questões de ordem pública de que trata o § 3º, do art. 267 do CPC [NCPC, art. 485, § 3º]”.268 Embora não haja uniformidade de entendimento na jurisprudência do STF e do STJ, a boa doutrina tem prevalecido, pelo menos na área do STJ, como se vê do seguinte aresto, que pode ser qualificado como emblemático: “Em virtude da sua natureza excepcional, decorrente das limitadas hipóteses de cabimento (Constituição, art. 105, III), o recurso especial tem efeito devolutivo restrito, subordinado à matéria efetivamente prequestionada, explícita ou implicitamente, no tribunal de origem. 2. Todavia, embora com devolutividade limitada, já que destinado, fundamentalmente, a assegurar a inteireza e a uniformidade do direito federal infraconstitucional, o recurso especial não é uma via meramente consultiva, nem um palco de desfile de teses meramente acadêmicas. Também na instância extraordinária o Tribunal está vinculado a uma causa e, portanto, a uma situação em espécie (Súmula 456 do STF; Art. 257 do RISTJ). 3. Assim, quando eventual nulidade processual ou falta de condição da ação ou de pressuposto processual impede, a toda evidência, que o julgamento do recurso cumpra sua função de ser útil ao desfecho da causa, cabe ao tribunal, mesmo de ofício, conhecer da matéria, nos termos previstos no art. 267, § 3º e no art. 301, § 4º do CPC. Nesses limites é de ser reconhecido o efeito translativo como inerente também ao recurso especial”.269 Efeito expansivo Outra variação do efeito devolutivo do recurso é o denominado efeito expansivo, que é explicitado na disciplina da apelação. O efeito em questão, que 1244 261 262 263 264 delimita a área de cognição e decisão dos Tribunais Superiores, na espécie, consiste em reconhecer que a devolução operada pelo recurso “não se restringe às questões resolvidas na sentença, compreendendo também as que poderiam ter sido deci-didas, seja porque suscitadas pelas partes, seja porque conhecíveis de ofício (§ 2º do art. 515/CPC) [NCPC, art. 1.013, § 2º]”.270 É possível, em doutrina, falar-se em duas dimensões para a expansão do efeito recursal: (i) uma no plano horizontal, que permite a abordagem pelo tribu-nal ad quem de questões novas, como as de ordem pública e os pedidos que não chegaram a ser enfrentados pelo julgado recorrido (art. 1.013, § 2º); e, (ii) outra no plano vertical, que atinge as questões precedentes levantadas no processo e que interferem, ou deveriam interferir, em caráter prejudicial, na decisão recorrida (art. 1.013, § 1º). A regra cogitada foi traçada para o recurso de apelação, mas sua extensão para os recursos especial e extraordinário se impõe, visto que também nestes o tribunal ad quem, uma vez admitido o apelo, terá de “julgar o processo, aplicando o direito” (NCPC, art. 1.034, caput). Dessa nova disposição legal – que manda “julgar o processo”, e não apenas reexaminar o “julgamento da causa” realizado na instância de origem –, decorre a necessidade de o Tribunal Superior apreciar, de ofício, os pressupostos processuais e as condições da ação, porque verificada sua inobservância não será possível o pronunciamento válido sobre o mérito do processo. Haverá, também, de enfren-tar e decidir os pedidos que acaso não chegaram a ser apreciados pelo decisório recorrido, sempre que tal se imponha para que a resolução do mérito, agora a seu cargo, seja completa. Faltando condições para que isto se dê, pelo menos o processo não será extinto na instância extraordinária ou especial. Os autos baixarão ao juízo local, a fim de se solucionarem as questões remanescentes ao julgado do recurso excepcional.271 O tema será mais extensamente abordado quando se analisar o recurso de apelação (item nº 767). CPC/1973, art. 471, caput. Mesmo no caso da apelação, o NCPC exclui do efeito suspensivo numerosas situações, como, por exemplo, a da sentença que confirma, concede ou revoga tutela provisória e a que julga improcedentes os embargos do executado (art. 1.012, § 1º, III e V). CPC/1973, art. 512. TJMG, 8ª Câm. Cível, Ap. 1.0024.08.196814-1/011, Rel. Des. Edgard Penna Amorim, ac. 1245 265 266 267 268 269 270 271 05.07.2012, DJe 17.07.2012. TJMG, Apelação cit. OLIVEIRA, Gleydson Kleber Lopes de. Recurso especial. São Paulo: RT, 2002, p. 342; SOUZA, Bernardo Pimentel de. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Brasília Jurí-dica, 2000, p. 313; PESSOA, Roberto D’Orea. Juízo de mérito e grau de cognição nos recursos de estrito direito. In: NERY JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coords.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e assuntos afins. São Paulo: RT, 2006, v. 10, p. 502. Em relação à cognosvibilidade das questões de ordem pública no âmbito dos recursos extraordinário e especial, “o quesito do prequestionamento pode ter-se por inexigível, até em homenagem à lógica do processo e à ordem jurídica justa” (MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Recurso extraordinário e recurso especial. 10. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 311). DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 5. ed. Salvador: JusPodivm, 2008, v. 3, p. 281. Nesse sentido: GOES, Gisele Santos Fernandes. Recurso especial, extraordinário e embargos de divergência: efeito translativo ou correlação recursal? Revista Dialética de Direito Processual, n. 22, São Paulo, p. 64, jan. 2005. STJ, 1ª T., REsp 609.144/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, ac. 06.05.2004, DJU 24.05.2004, p. 197. No mesmo sentido: STJ, 1ª T., REsp 109.474/DF, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, ac. 09.09.1997, DJU 20.10.1997, p. 52.978. STJ, 4ª T., REsp 136.550/MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, ac. 23.11.1999, DJU 08.03.2000, p. 118. No mesmo sentido: STJ, 3ª T., REsp 536.964/RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, ac. 04.05.2006, DJU 29.05.2006, p. 230. A apelação devolve ao tribunal as questões impugnadas pelas partes, as apreciadas de ofício (questões de ordem pública) “e aquelas suscitadas e não examinadas” (STJ, 2ª T., REsp 1.189.458/ RJ, Rel. Min. Humberto Martins, ac. 25.05.2010, DJe 07.06.2010). Diante de pedidos sucessivos, “o Tribunal, ao julgar a apelação, deve observar os ditames do art. 515 do CPC [NCPC, art. 1.013, § 2º], podendo examinar as teses suscitadas e discutidas no processo, mesmo que a sentença não as tenha julgado por inteiro” (STJ, 2ª T., REsp 363.655/MS, Rel. Min. Eliana Calmon, ac. 19.09.2002, DJU 16.06.2003, p. 280). 1246 763. § 80. A APELAÇÃO Sumár io: 763. Conceito. 764. O novo CPC e a superação das dificuldades conceituais do Código anterior em relação à sentença. 765. Apelação e decisões incidentais excluídas das hipóteses de agravo de instrumento. 766. Interposição da apelação. 767. Efeitos da apelação. 768. Questão relevante a respeito do efeito devolutivo da apelação contra sentença terminativa. 769. Questão de fato e questão de direito. 770. Vinculação do tribunal ao dever de julgar o mérito na hipótese do § 3º do art. 1.013. 770-A. Posição consolidada do STJ. 771. Prescrição e decadência. 772. A apelação e as nulidades sanáveis do processo. 773. Tutela provisória e o efeito suspensivo da apelação. 774. Recebimento da apelação. 775. A irrecorribilidade da sentença proferida em conformidadecom súmula do STJ ou do STF. 776. Juízo de retratação: reexame da matéria decidida na sentença apelada por ato de seu próprio prolator. 777. Deserção. 778. Prazo para interposição da apelação. 779. Interposição de apelação antes do julgamento dos embargos de declaração. 780. Julgamento em segunda instância. Conceito São sentenças finais ou simplesmente “sentenças” são pronunciamentos judiciais que encerram a fase cognitiva do procedimento comum, bem como extinguem a execução. Distingue a doutrina entre sentença definitiva e sentença terminativa, conforme o encerramento da relação processual se dê com ou sem julgamento do mérito da causa. O Código de 1973, em seu texto originário, unificou os conceitos de sentença e de recurso cabível. Se se põe termo ao processo, haja ou não decisão do mérito, o caso será sempre de sentença (CPC/1973, art. 162, § 1º). E o recurso interponível também será sempre um só: o de apelação (CPC/1973, art. 513). O Código atual manteve a mesma sistemática do anterior (NCPC, art. 1.009). Apelação, portanto, é o recurso que se interpõe das sentenças dos juízes de primeiro grau de jurisdição para levar a causa ao reexame dos tribunais do segundo grau, visando a obter uma reforma total ou parcial da decisão impugnada,272 ou mesmo sua invalidação. São apeláveis tanto as sentenças proferidas em procedimentos contenciosos 1247 764. como as dos feitos de jurisdição voluntária. Também nos procedimentos incidentes ou acessórios, como habilitação, restauração de autos etc., a apelação é o recurso cabível contra a sentença que os encerrar. O mesmo, todavia, não ocorre com o julgamento de simples incidentes do processo, a exemplo da exibição de documento ou coisa e das tutelas provisórias, já que in casu ocorrem apenas decisões interlocutórias. O novo CPC e a superação das dificuldades conceituais do Código anterior em relação à sentença Depois da última reforma operada pela Lei nº 11.232, de 22.12.2005, o CPC de 1973 adotou como definição da sentença, em lugar de ato judicial que põe termo ao processo, a de “ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269”. A justificativa para a nova conceituação adveio da circunstância de terem sido unificados os procedimentos de conhecimento e de cumprimento da sentença, o que levou o legislador a pensar que aquele ato decisório não poderia mais ser visto como o que encerra o processo. Esse entendimento tomou como ponto de partida, indevidamente, o objeto da decisão, entrando em colisão com o sistema recursal. Neste, a apelação não era usada para impugnar essa ou aquela matéria, mas toda e qualquer sentença, fosse de mérito ou terminativa. Com a conceituação inovada de sentença, criou--se uma dificuldade de custosa solução. É que nem sempre as matérias tomadas pela reforma como padrão de identificação da sentença eram, necessariamente, solucionadas em ato judicial da espécie. O novo CPC, sem embargo de continuar adotando o caráter de procedimento unitário para a cognição e a execução, logrou definir a sentença levando em conta as fases de desenvolvimento do processo unificado, sem embaraçar-se com o objeto decidido. Com efeito, para a lei atual, sentença é “o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução (art. 203, § 1º).273 Como se vê, a nova lei foi bastante clara e objetiva na conceituação. Assim, se o ato decisório é proferido durante a marcha processual, sem colocar fim à fase cognitiva ou à execução, trata-se de decisão interlocutória, que desafia o recurso de agravo de instrumento. Se, contudo, a decisão finaliza a atividade jurisdicional da primeira instância, é sentença, contra a qual deve ser interposto o recurso de apelação. 1248 765. 766. O entendimento é complementado pelo § 5º do art. 356,274 que determina que a decisão que julga parcialmente o mérito, de forma antecipada, é impugnável por meio de agravo de instrumento. Ou seja, a decisão que, julgando parcialmente o mérito, não coloca fim à fase de cognição, desafia agravo de instrumento e, não, apelação. Ao contrário, a decisão que extingue o processo é sempre sentença, apreciando ou não o mérito da causa. O recurso, portanto, será a apelação, qualquer que sejam as questões decididas (NCPC, art. 1.009). Apelação e decisões incidentais excluídas das hipóteses de agravo de instrumento O NCPC aboliu a figura do agravo retido, interposto em face de decisão proferida pelo juiz de primeiro grau, que, se não fosse reformada pelo magistrado, era objeto de análise pelo tribunal, caso o recurso fosse reiterado em preliminar de apelação ou de contrarrazões de apelação (art. 523 do CPC/1973). A nova sistemática, embora semelhante à anterior, afasta a necessidade de interposição imediata de recurso, para impedir a preclusão. Agora, se a matéria incidental decidida pelo magistrado a quo não constar do rol taxativo do art. 1.015, que autoriza a interposição de agravo de instrumento, a parte prejudicada deverá aguardar a prolação da sentença para, em preliminar de apelação ou nas contrarrazões, requerer a sua reforma (art. 1.009, § 1º).275 Vale dizer, a preclusão sobre a matéria somente ocorrerá se não for posteriormente impugnada em preliminar de apelação ou nas contrarrazões. Se a parte prejudicada pela decisão interlocutória for vencida na ação, deverá arguir a matéria em preliminar de apelação, sendo a parte contrária intimada para contrarrazoar. Se, contudo, a sentença lhe for favorável, a impugnação poderá ocorrer em sede de contrarrazões de eventual apelação interposta pela parte contrária. Nessa última hipótese, o vencedor manejaria, na verdade, um recurso eventual e subordinado, visto que só seria apreciado caso o recurso do vencido fosse provido para reformar a sentença. Ou seja, a impugnação do apelado teria o papel de condicionar o julgamento da pretensão do apelante ao prévio exame das preliminares suscitadas nas contrarrazões da parte vencedora no decisório de primeiro grau. Outrossim, para cumprir-se o contraditório, sendo a matéria suscitada em preliminar de contrarrazões, o apelante será intimado para, em quinze dias, manifestar-se a respeito (art. 1.009, § 2º).276 Interposição da apelação 1249 (a) (b) (c) (d) O recurso de apelação será interposto contra a sentença (art. 1.009, caput). Como se viu (itens nos 349 e 351, vol. I), a sistemática atual não classifica a sentença em razão do conteúdo das questões nela decididas, mas, sim, em função do momento no qual foi proferida. Se a decisão puser fim à fase cognitiva do procedimento comum ou extinguir a execução (art. 203, § 1º), desafiará apelação. Nessa esteira, ainda que a questão decidida em sentença seja daquelas impugnáveis por meio de agravo, nos termos do art. 1.015, do NCPC, deverá ser interposto o recurso de apelação para discuti-la (art. 1.009, § 3º).277 Imagine-se, assim, que o juiz tenha cassado a tutela provisória na própria sentença. Muito embora a matéria conste do inciso I, do art. 1.015, como sen-do impugnável por meio de agravo de instrumento, deverá ser abrangida pela apelação. Vale dizer, não haverá interposição de dois recursos distintos contra a mesma decisão. Nesse sentido, o § 5º do art. 1.013 é expresso: “o capítulo da sentença que confirma, concede ourevoga a tutela provisória é impugnável na apelação”.278 O apelante deve manifestar seu recurso por meio de petição dirigida ao juiz de primeiro grau, que conterá (art. 1.010):279 os nomes e a qualificação das partes (inciso I); a exposição do fato e do direito (inciso II); as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade (inciso III); e o pedido de nova decisão (inciso IV). “A apelação deve ser interposta, obrigatoriamente, por petição, não se po-dendo considerar tal aquela que é feita por cota lançada em espaço em branco dos autos”.280 A jurisprudência tem, porém, admitido a interposição do recurso por tele- grama, desde que atendidos os requisitos legais. E a Lei nº 9.800, de 26.05.1999, franqueou, também, o uso de fac-símile (ou “fax”) para todas as petições, inclusive as dos recursos, desde que se faça chegar ao tribunal, até cinco dias depois do fim do respectivo prazo, o original da peça retransmitida magneticamente (ver item nº 338 do vol. I). O pedido de nova decisão pode referir-se a um novo pronunciamento de mérito favorável ao apelante, ou apenas à invalidação da sentença por nulidade. “A falta das razões do pedido de nova decisão impede o conhecimento da apelação”.281 Quanto ao prazo para interposição do recurso, o novo Código, na esteira do anterior, pôs fim à controvérsia que existia sobre o tema. Não basta ser despa-chada 1250 767. a petição dentro do prazo legal. É preciso que o recurso seja protocolado no Cartório dentro do citado prazo. Se foi submetida a prévio despacho do juiz, é indispensável que seja entregue em cartório antes do vencimento do prazo de recurso (NCPC, art. 1.003, § 3º).282 Documentos, em regra, só poderão acompanhar a petição da apelação, ou suas contrarrazões, quando se destinarem a provar fatos novos, dentro da exceção permitida pelos arts. 435 e 1.014.283 A doutrina preconizava que “nessa hipótese e somente nela é lícito ao apelante que já era parte no processo produzir documentos com a interposição do recurso. Documentos que se refiram a fatos já alegados perante o órgão a quo devem ter sido juntos aos autos pelas partes nas oportunidades próprias, consoante as regras dos arts. 434 e 435 do NCPC.284 O terceiro prejudicado que apela, naturalmente, pode sempre instruir o recurso com os documentos de que disponha: visto que não era parte, não teve qualquer oportunidade anterior de produzir prova, e contra ele não se operou preclusão”285 (veja-se o nº 732 do vol. I). A jurisprudência atual, todavia, adota posição mais liberal, entendendo que “as restrições dos arts. 396 e 397 [NCPC, arts. 434 e 435] só se aplicam, a rigor aos documentos tidos como pressupostos da causa, de sorte que quanto aos demais podem ser produzidos a qualquer tempo, desde que não haja má-fé e se respeite a regra do contraditório”.286 Efeitos da apelação A apelação tem, ordinariamente, duplo efeito: o devolutivo e o suspensivo. I – Efeito devolutivo “A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada” (NCPC, art. 1.013, caput).287 Visa esse recurso a obter um novo pronunciamento sobre a causa, com reforma total ou parcial da sentença do juiz de primeiro grau. As questões de fato e de direito tratadas no processo, sejam de natureza substancial ou processual, voltam a ser conhecidas e examinadas pelo tribunal. A apelação, no entanto, pode ser parcial ou total, conforme a impugnação atinja toda a sentença ou apenas parte dela. Sendo parcial, a devolução abrangerá apenas a matéria impugnada.288 Nem mesmo a circunstância de se tratar de matéria de ordem pública deve ensejar reexame livre pela instância recursal. Se o tema corresponde a um capítulo distinto da sentença e o recurso ataca apenas outro capítulo, não se pode deixar de 1251 reconhecer a formação de coisa julgada a impedir o rejulgamento pelo Tribunal no tocante ao que não foi objeto de recurso. A matéria de ordem pública se devolve por força de profundidade do efeito da apelação, quando figura como antecedente lógico do tema deduzido no recurso e, quando, além disso, não esteja afetada pela coisa julgada. É importante ter em conta que o recurso pode compreender, em profundidade, matérias prejudiciais não tratadas na impugnação formulada pelo recorrente. Não pode, todavia, desempenhar função rescisória diante dos capítulos da sentença já transitados em julgado, mesmo que esteja em jogo questão de ordem pública, pois as decisões em torno de questões dessa natureza não são imunes ao princípio da coisa julgada. Dentro do âmbito da devolução, o tribunal apreciará todas as questões sus- citadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas pela sentença recorrida, desde que relativas ao capítulo impugnado (art. 1.013, § 1º).289- 290 Em matéria de efeito devolutivo, portanto, urge fazer uma distinção entre a extensão e a profundidade da devolução: (a) A extensão é limitada pelo pedido do recorrente, visto que nenhum juiz ou órgão judicial pode prestar a tutela jurisdicional senão quando requerida pela parte (art. 2º);291 por isso, o art. 1.013 afirma que a apelação devolverá ao tribu-nal a “matéria impugnada”, o que quer dizer que, em seu julgamento, o acórdão deverá se limitar a acolher ou rejeitar o que lhe for requerido pelo apelante (por exemplo: se se requereu a reforma parcial, não poderá haver a reforma total; se pediu a improcedência da demanda, não se poderá decretar a prescrição, contra a vontade do apelante; se pediu apenas a prescrição, não caberá a improcedência da causa; se se pediu para excluir juros, não se poderá cancelar correção monetária ou multa, e assim por diante. (b) A profundidade abrange os antecedentes lógico-jurídicos da decisão impugnada, de maneira que, fixada a extensão do objeto do recurso pelo reque- rimento formulado pela parte apelante, todas as questões suscitadas no processo que podem interferir assim em seu acolhimento como em sua rejeição terão de ser levadas em conta pelo tribunal (art. 1.013, § 1º).292 Nessa ordem de ideias, qualquer que seja o pedido do recorrente, terá sempre o tribunal possibilidade de examinar as questões pertinentes aos pressupostos processuais e às condições da ação, visto que são matérias de ordem pública con- dicionadoras da formação e desenvolvimento válidos do processo, bem como de 1252 qualquer provimento jurisdicional de mérito (motivo pelo qual são conhecíveis e solucionáveis a qualquer tempo e grau de jurisdição, a requerimento de parte ou de ofício) (art. 485, § 3º).293-294 Não são, portanto, apenas as questões preliminares que se devolvem implici- tamente. São, também, todas as prejudiciais de mérito propostas antes da sentença e que deveriam influir na acolhida ou rejeição do pedido, ainda que o juiz a quo não as tenha enfrentado ou solucionado (art. 1.013, § 1º). É o que se passa, por exemplo, com a cumulação de pedidos conexos e consequentes. O juiz, negando o primeiro, deixa de examinar os demais. Recorrendo a parte vencida e logrando reformar a sentença para acolher o primeiro pedido, terá o tribunal de completar o julgamento decidindo os demais pedidos conexos prejudicados pela decisão de primeira instância. Por exemplo: pedia-se, originariamente, a anulação do contrato, a condenação a perdas e danos, e restituição do bem negociado, e lucros cessantes. Como a sentença denegou a anulação, todos os demais pedidos do autor nem sequer foram por ela cogitados. Ao tribunal, porém, não é lícito limitar o julgamento da apelação ao tema daanulação. Se entender que é o caso de acolhê-la, terá também de prosseguir na análise das outras pretensões consequenciais (perdas e danos, restituição, lucros cessantes), pouco importando que tais temas não tenham sido julgados na instância de origem. Ainda, em matéria de profundidade do efeito devolutivo, o § 2º do art. 1.013295 cuida do caso de multiplicidade de fundamentos para o pedido. O juiz acolheu apenas um e deu pela procedência da ação. Impugnada a sentença em apelação, o tribunal pode reconhecer a procedência do apelo quanto ao fundamento da sen-tença, mas deixar de dar-lhe provimento, porque a matéria não acolhida pelo juiz de primeiro grau se apresenta suficiente para assegurar a procedência da ação. O mesmo pode acontecer, também, com a defesa, quando se fundamente em razões múltiplas e seja acolhida em face de apenas uma delas.296 (c) Efeito translativo: competência originária do tribunal para julgar em ins- tância única o mérito da causa Se o juiz extingue o processo sem julgamento de mérito, naturalmente o objeto da sentença ficou restrito a questão preliminar. Recorrendo a parte para impugnar tão somente o conteúdo do decisório de primeiro grau, não poderia, a nosso ver, o tribunal, depois de cassada a sentença, passar a julgar o mérito da causa, sem que a parte o tivesse requerido. Aí já não se trataria de se aprofundar no julgamento das questões que lhe foram devolvidas pelo recurso, mas de ampliar o seu objeto, dando-lhe extensão maior do que lhe emprestara o requerimento da parte. 1253 Sempre entendemos que era preciso estar atento para não ofender o princípio da disponibilidade da tutela jurisdicional e o da adstrição do julgamento ao pedido (princípio da congruência). Entretanto, o § 3º do art. 1.013 permite que o tribunal, ao julgar o recurso de apelação, decida desde logo o mérito da causa, sem aguardar o pronunciamento do juízo de primeiro grau, quando: (i) reformar sentença que não tenha resolvido o mérito; (ii) decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir; (iii) constatar a omissão no exame de um dos pedidos; e (iv) decretar a nulidade por falta de fundamentação. Tal técnica se estendeu para o caso de o tribunal reformar a sentença que houver reconhecido a decadência ou a prescrição, quando for possível o exame das demais questões debatidas, sem retorno do processo ao juízo de primeiro grau (art. 1.013, § 4º).297-298 Isso, porém, ainda sob nosso ponto de vista, não queria dizer que a questão de mérito não suscitada na apelação pudesse ser inserida de ofício pelo tribunal no julgamento do recurso. O objeto do recurso quem define é o recorrente. Sua exten- são mede-se pelo pedido nele formulado. A profundidade da apreciação do pedido é que pode ir além das matérias lembradas nas razões recursais; nunca, porém, o próprio objeto do apelo. No entanto, como já informamos, o entendimento do STJ, formado no regime do Código de 1973, era muito liberal ao permitir o julgamento do mérito no caso ora em apreciação e, ao que parece, o NCPC inclina-se pela tese do julgamento da “causa madura”, sem expressa exigência de esgotamento do pri- meiro grau de jurisdição, a seu respeito. Entretanto, continuávamos pensando que a exegese da regra legal merecia uma releitura em face das normas fundamentais, como intentávamos demonstrar no item nº 770 adiante. (d) Vedação de suscitar novas questões de fato Quanto às questões de fato, a regra é que a apelação fica restrita às alegadas e provadas no processo antes da sentença. O recurso devolve o conhecimento da causa tal qual foi apreciada pelo juiz de primeiro grau. Pode, todavia, ter ocorrido impos- sibilidade de suscitação do fato pelo interessado, antes da sentença. Assim provada a ocorrência de força maior, poderá o apelante apresentar fato novo perante o tribunal (art. 1.014).299 Caberá, todavia, ao recorrente provar não só o fato como o motivo de força maior que o impediu de argui-lo no momento processual adequado.300 Não cabe ao juiz a quo interferir na questão do fato novo, nem impedir a subida do recurso que nele se baseie. A questão será inteiramente apreciada e decidida pelo tribunal ad quem. 1254 (a) (b) (c) (d) (e) (f) (e) A reformatio in pejus não é admitida, embora omisso o Código. A dou-trina é uniforme em repelir o julgamento do tribunal que piore a situação do apelante, sem que tenha a outra parte também recorrido. Como lembra Rogério Lauria Tucci, “não se pode perder de vista que, tanto quanto o juiz de primeira instância, o órgão colegiado de segundo grau, apesar de investido dos mesmos poderes para conhecer do processo e da lide, não pode manifestar-se sobre o que não constituía objeto do pedido – do ‘pedido de nova decisão’... e, outrossim, que, com a instituição do apelo incidental sob a rubrica de recurso adesivo, previsto no art. 500... [NCPC, art. 997], já não mais pode subsistir qualquer dúvida sobre a vedação da reforma para pior”, pois, como observa Barbosa Moreira, “a função do recurso adesivo é justamente a de levar ao conhecimento do tribunal matéria que, só por força do recurso principal, não se devolveria”.301 Sobre a parte da sentença que não foi objeto de recurso pelo adversário do apelante, e que even-tualmente poderia ser alterada em prejuízo deste, incidiu a coisa julgada, diante de inércia daquele a que a reforma da sentença favoreceria. Assim, não há que se pensar em reformatio in pejus, já que qualquer providência dessa natureza esbarraria na res iudicata. II – Efeito suspensivo A apelação normalmente suspende os efeitos da sentença, seja esta condena- tória, declaratória ou constitutiva. “Efeito suspensivo, assim, consiste na suspensão da eficácia natural da sentença, isto é, dos seus efeitos normais”.302 Via de regra, a apelação tem o duplo efeito suspensivo e devolutivo. Há exceções, no entanto. O § 1º do art. 1.012303 enumera seis casos em que o efeito de apelação é apenas devolutivo, de maneira que é possível a execução provisória enquanto estiver pendente o recurso. Assim, será recebida só no efeito devolutivo a sentença que: homologa a divisão ou demarcação de terras (inciso I); condena a pagar alimentos (inciso II); extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado (inciso III); julga procedente o pedido de instituição de arbitragem (inciso IV); confirma, concede ou revoga tutela provisória (inciso V); decreta a interdição (inciso VI). Mesmo nas hipóteses expressamente previstas em que a apelação tem efeito 1255 (a) (b) 768. apenas devolutivo, diante das particularidades da causa, demonstrando o apelante a probabilidade de provimento do recurso, evidenciada pela relevância de sua fun- damentação, e havendo risco de dano grave ou de difícil reparação, pode o relator determinar a suspensão da eficácia da sentença (art. 1.012, § 4º).304 Para tanto, o apelante formulará o requerimento em petição separada, com a seguinte destinação: o pedido será dirigido ao tribunal, se feito no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição. Nessa hipótese, será sorteado um relator para apreciá-lo, ficando ele prevento para a apelação; endereçar-se-á ao relator da apelação, se já distribuída no tribunal (art. 1.012, § 3º).305 O pedido de suspensão terá de demonstrar: (i) a probabilidade de provimento do recurso; e (ii) a ocorrência de risco de “dano grave ou de difícil reparação” (§ 4º). Em outros termos, caberá ao apelante demonstrara configuração do fumus boni iuris e do periculum in mora, em grau que não permita aguardar o normal julgamento do recurso. Nos casos em que a apelação não é recebida no efeito suspensivo, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório do julgado, logo após a publicação da sentença (art. 1.012, § 2º).306 Questão relevante a respeito do efeito devolutivo da apelação contra sentença terminativa Conforme visto no item nº 767 retro, o § 3º do art. 1.013 do NCPC, a exemplo do que já ocorria no Código de 1973 (art. 515, § 3º), permite que o tribunal, ao julgar o recurso de apelação, decida desde logo o mérito da causa, sem aguardar o pronunciamento do juízo de primeiro grau, quando: (i) reformar sentença que não tenha resolvido o mérito; (ii) decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir (sentenças ultra ou extra petita); (iii) constatar a omissão no exame de um dos pedidos; e (iv) decretar a nulidade por falta de fundamentação. Essa técnica também se estendeu para o caso de o tribunal reformar a sentença que houver reconhecido a decadência ou a prescrição, quando for possível o exame das demais questões debatidas, sem retorno do processo ao juízo de primeiro grau (art. 1.013, § 4º). O novo Código, destarte, ampliou a possibilidade de julgamento de mérito da causa pelo tribunal, bastando que esta esteja “em condições de imediato julgamento”. 1256 É o que se costuma chamar de “causa madura”, entendida como tal aquela cujo objeto já foi suficientemente debatido na instância de origem, mesmo que nela não se tenha decidido o mérito. Não basta, portanto, que a questão de mérito a decidir seja apenas de direito; é necessário que o processo esteja maduro para a solução do mérito da causa. Mesmo que não haja prova a ser produzida, não poderá o Tribunal enfrentá-lo no julgamento da apelação formulada contra a sentença terminativa, se uma das partes ainda não teve oportunidade processual adequada para debater a questão de mérito. Estar o processo em condições de imediato julgamento significa, em outras palavras, não apenas envolver o mérito da causa questão só de direito que se deve levar em conta, mas também a necessidade de cumprir o contraditório. Tomem-se como exemplos os casos de extinção por indeferimento da inicial, ou os ocorridos na fase de saneamento antes de completar o debate sobre o mérito e sobre as provas cabíveis. Em casos como estes, obviamente, o processo não terá ainda alcançado o momento apropriado para o julgamento do mérito. Os autos terão de retornar ao juízo de origem a fim de que o debate e a instrução probatória se completem. Se, todavia, o debate amplo já se deu em primeiro grau entre os litigantes, o Tri-bunal estará em condições de julgar o mérito, e deverá fazê-lo, sempre que for afastada a preliminar causadora da sentença terminativa, e que a parte interessada o requeira. Nisso não há ofensa à garantia do duplo grau de jurisdição, mesmo porque tal garantia não é absoluta nem figura expressamente entre as que a Constituição considera inerentes ao devido processo legal.307 O NCPC incluiu, expressamente, em tal possibilidade, as sentenças incomple- tas, como as citra petita e as que acolhem preliminar de mérito, sem solucionar as demais questões de fundo propostas pelas partes (art. 1.013, § 3º, II). Se o tribunal está autorizado a julgar o mérito da causa, quando o juiz extingue o processo sem apreciá-lo, razão não há para impedi-lo de assim agir quando o juiz tenha senten- ciado apenas sobre parte das questões de fundo. O fim de economia processual justificador da regra do art. 1.013, § 3º, está tão presente no caso da apelação contra sentença terminativa quanto na sentença definitiva parcial ou incompleta. A regra estatuída pelo § 3º do art. 515 do CPC/1973, e mantida no § 3º do art. 1.013 do NCPC, tem sido estendida analogicamente pelo STJ ao recurso ordinário, no caso de extinção de mandado de segurança de competência originária dos tribunais de segundo grau de jurisdição.308 O STF, todavia, entende não ser aplicável 1257 769. (a) (b) 770. a medida ao recurso ordinário interposto contra acórdão do STF em relação a mandado de segurança, para prestigiar a competência definida, na espécie, no próprio texto constitucional, evitando-se, assim, o salto de grau de jurisdição.309 Questão de fato e questão de direito No regime do Código de 1973, para o mecanismo de julgamento pelo tribunal sobre o mérito ainda não resolvido na primeira instância, estabeleciam-se dois requisitos (art. 515, § 3º): versar a causa apenas sobre questão de direito; e processo maduro para julgamento de mérito. Se houvesse instrução probatória, mesmo encerrada, não se aplicaria, portanto, a regra do art. 515, § 3º. Haveria questão de fato a acertar, mediante apreciação do quadro probatório controvertido. Instalou-se, entretanto, divergência a respeito da possibilidade de considerar-se questão de direito aquela estabelecida na causa em que a instrução probatória já se completara (causa madura). Para o STJ, finalmente, na aplicação do § 3º do art. 515, “caso propiciado o contraditório e a ampla defesa, com regular e completa instrução do processo, deve [o tribunal] julgar o mérito da causa, mesmo que para tanto seja necessária apreciação do acervo probatório”.310 O NCPC não repetiu o requisito da questão de direito, mantendo, apenas, a necessidade de o processo estar “em condições de imediato julgamento” (art. 1.013, § 3º). Com isso, superada restou a divergência, prevalecendo a orientação já traçada pelo STJ. Vinculação do tribunal ao dever de julgar o mérito na hipótese do § 3º do art. 1.013 À época do Código de 1973, o § 3º do art. 515 dizia que naqueles casos “o tribunal pode julgar desde logo a lide”. A inserção, de imediato, gerou séria polêmica entre os processualistas: ao falar a lei em “poder” o Tribunal, no julgamento da apelação contra a sentença terminativa, enfrentar o mérito da causa, estar-se-ia criando uma faculdade ou um dever para o juízo de segundo grau? O entendimento predominante era no sentido de poder-se extrair as seguintes conclusões: (i) o referido dispositivo não criou simples faculdade para o Tribunal, que tem o dever de enfrentar o mérito da causa, quando configurados os requisitos 1258 legais para tanto; (ii) o julgamento de mérito, no entanto, deveria ser pleiteado pelo recorrente, para que se tornasse objeto da devolução operada pela apelação ao Tribunal ad quem. O novo CPC aderiu à exegese dominante, uma vez que dispôs, expressamente, no § 3º do art. 1.013, que, “se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito”. Não obstante, é de se ressaltar o prestígio que o NCPC dedica aos princípios constitucionais do processo, enunciados com ênfase no rol de suas normas fundamentais, onde merecem destaque o princípio dispositivo (art. 2º) e a garantia do contraditório efetivo (arts. 9º e 10). Com isso, veda o julgamento sobre questões não propostas pela parte e as decisões sobre questões não previamente submetidas à audiência de ambas as partes, bem como as decisões com base em fundamento a respeito do qual não se lhes tenha dado oportunidade de se manifestar, ainda quando se trate de matéria sobre a qual se deva decidir de ofício. Ora, se a parte vencida recorre pedindo apenas a anulação ou cassação da sentença que extinguiu o processo sem apreciação do mérito, não nos parecelícito ao tribunal o enfrentamento de questão de mérito que não tenha integrado o pedido do recorrente e, por isso, não tenha passado pelo contraditório da apelação.311 Deve-se ressaltar, sempre, que “a devolutividade da apelação e, de resto, a de qualquer recurso é definida pela parte recorrente”.312 Se a profundidade com que se examinam as questões recursais é definida pela lei (art. 1.013, § 1º), a extensão do efeito devolutivo cabe exclusivamente à parte. “A extensão é, repita-se, fixada pelo recorrente, nas razões de seu apelo”.313 A lei, aliás, exige que da petição recursal conste o “pedido de nova decisão” e “a exposição do fato e do direito”, que o justifiquem (CPC, art. 1.010, II e IV). Daí por que “o Tribunal, concordando ser caso de análise do mérito, somente poderá dele conhecer após dar provimento ao apelo na parte que impugna a sentença termi-nativa, na hipótese de o apelante requerê-lo expressamente em suas razões recursais”.314 Ao se atribuir ao Tribunal, em exegese ao § 3º do art. 1.013, o poder de proferir decisão de mérito sobre tema (o mérito) que não foi objeto de requerimento e de-bate no procedimento recursal, estar-seá afrontando direito das partes, sobretudo do litigante que vier a experimentar derrota.315 Em sentido contrário, pensa Cândido Dinamarco que o Tribunal, mesmo jul- gando o mérito sem pedido do apelante e contra sua posição no litígio, não haverá 1259 770-A. (a) “quebra do due process of law, nem exclusão do contraditório, porque o julgamento feito pelo Tribunal incidirá sobre o processo precisamente no ponto em que incidiria a sentença do juiz inferior”.316 É certo que, já estando maduro o processo para sentença de mérito, o retorno dos autos para que o juiz de primeiro grau decidisse o mérito, não se reabrirá instrução e debate no juízo a quo. Mas a parte sucumbente terá opor-tunidade de rediscutir a causa perante o tribunal, enriquecendo o debate, com nova argumentação. É certo, também, que o duplo grau de jurisdição pode ser suprimido pela lei. Mas isto deverá ser feito por dispositivo expresso e de fundo razoável. Não é aceitável, todavia, que podendo o apelante definir a extensão do recurso, venha o Tribunal a decidir questão que intencionalmente a parte recorrente não quis incluir na devolução recursal. Cabendo-lhe o poder legal de fixar o conteúdo da apelação (art. 1.013, caput), não é de aplicar-se o § 3º do mesmo art. 1.013, quando o recurso contra a sentença terminativa não contenha pedido de apreciação do mérito da causa. Mais benemérita de acolhida se me afigura a lição do próprio mestre Cândido Dinamarco quando recomenda, em princípio, o prevalecimento da disposição contida no art. 1.013 caput, em relação também aos casos regidos por seu § 3º “em nome das razões sistemáticas inerentes à regra da correlação entre a decisão e o pedido (arts. 128 e 460) [NCPC, arts. 141 e 492]”.317 Releva notar, porém, que a Corte Especial do STJ enfrentou e solucionou a divergência instalada entre a 2ª e a 4ª Turma, assentando que “a regra do art. 515, § 3º, do CPC [NCPC, art. 1.013, § 3º] deve ser interpretada em consonância com a preconizada pelo art. 330, I, do CPC [NCPC, art. 355, I], razão pela qual, ainda que a questão seja de direito e de fato, não havendo necessidade de produzir prova (causa madura), poderá o Tribunal julgar desde logo a lide, no exame da apelação interposta contra a sentença que julgara extinto o processo sem resolução de mérito”.318 Posição consolidada do STJ Através de julgamento da Corte Especial, o STJ consolidou seu entendimento acerca da apelação contra sentença terminativa pronunciada diante de “causa madura” para enfrentamento do mérito, de forma originária pelo tribunal de segundo grau. Superando todas as objeções doutrinárias lembradas nos itens 767 e 770, retro, aquela Alta Corte firmou as seguintes teses:319 “A novidade representada pelo § 3º do art. 515 do Código de Processo Civil [§ 3º do art. 1.013 do NCPC] nada mais é do que um atalho, legitimado 1260 (b) (c) (d) (e) (f) 771. pela aptidão a acelerar os resultados do processo e desejável sempre que isso for feito sem prejuízo a qualquer das partes”. A medida “constituiu mais um lance da luta do legislador contra os males do tempo e representa a ruptura com um velho dogma, o do duplo grau de jurisdição, que por sua vez só se legitima quando for capaz de trazer benefícios, não demoras desnecessárias”. “Diante da expressa possibilidade de o julgamento da causa ser feito pelo tribunal que acolher a apelação contra sentença terminativa, é ônus de ambas as partes prequestionar em razões ou contrarrazões recursais todos os pontos que depois pretendam levar ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça. Elas o farão, do mesmo modo como fariam se a apelação houvesse sido interposta contra uma sentença de mérito.” Constando o sistema de norma expressa do direito positivo, em sua observância “não se vislumbra o menor risco de mácula à garantia constitucional do due process of law, porque a lei é do conhecimento geral e a ninguém aproveita a alegação de desconhecê-la, ou de não ter previsto a ocorrência de fatos que ela autoriza (LICC, art. 3º)”. “A doutrina admite aplicação do art. 515, § 3º, do CPC [art. 1.013, § 3º, do NCPC] aos Agravos de Instrumento.” “Por fim, de essencial relevância destacar que a jurisprudência do STJ admite a não aplicação da teoria da causa madura quando for prejudicada a produção de provas pela parte de forma exauriente.” Prescrição e decadência À época do Código de 1973, a inovação do § 3º do art. 515 eliminava, de vez, uma controvérsia que de longa data se mantinha na jurisprudência. Questionava-se sobre a extensão do efeito devolutivo no caso de a sentença apelada ter acolhido a prescrição ou a decadência. Havia uma corrente mais volumosa que negava ao Tribunal a possibilidade de, afastada a prejudicial extintiva, prosseguir no exame de mérito ainda não decidido em primeira instância,320 para não violar o duplo grau de jurisdição. A corrente minoritária, contudo, decidia que, sendo de mérito o julgado acerca da prescrição ou da decadência, os juízes do recurso, ao rejeitar a prejudicial, poderiam prosseguir ao julgamento da causa.321 Após a Lei nº 10.352, de 26.12.2001, o dissídio perdeu a razão de ser. Se até 1261 772. no caso de decisão terminativa o julgamento da apelação poderia avançar sobre o mérito ainda não julgado no juízo de origem, com muito mais razão seria possível fazê-lo diante da reforma das sentenças baseadas em prejudicial de prescrição e decadência, que já pertencem ao mérito da causa.322 O novo Código reforçou esse entendimento esposado ao tempo do Código anterior, estabelecendo no § 4º do art. 1.013: “quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau”. Naturalmente, será necessário atentar para o estágio do processo em que se acolheu a prejudicial, bem como sobre a necessidade de provas ainda por colher para se examinar o restante das questões de mérito. A causa pode ainda não se encontrar madura para julgamento dessas novas questões. A lei prevê acolhida da prescrição e da decadência até na decisão de indeferimento da petição inicial. Em qualquer caso de aplicação do § 4º do art. 1.013 o Tribunal terá de ficar atento para não violar o contraditório e nãoimpedir o direito das partes à ampla defesa. Nesse sentido, é importante ressaltar que o NCPC previu, na hipótese de rejeição da prescrição e da decadência, o julgamento do mérito pelo tribunal, “se possível”, e não genericamente em qualquer hipótese. A apelação e as nulidades sanáveis do processo A Lei nº 11.276, de 07.02.2006, à época do Código anterior, acrescentou o § 4º do art. 515 para tentar salvar as sentenças afetadas por nulidades processuais sanáveis. Previa o dispositivo que, “constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência, sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação”. O novo CPC repetiu o dispositivo, ampliando sua aplicação para qualquer recurso ou processo de competência originária do tribunal, uma vez que a regra correspondente está localizada no Capítulo referente à ordem dos processos no tribunal. Dispõe o § 1º do art. 938 que, “constatada a ocorrência de vício sanável, inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, o relator determinará a realização ou a renovação do ato processual, no próprio tribunal ou em primeiro grau de jurisdição, intimadas as partes”. E o § 2º determina que, cumprida a diligência, sempre que possível, o relator prosseguirá no julgamento do recurso. 1262 773. A diligência funda-se no princípio de economia processual. Preocupa-se em evitar a anulação de sentenças ou de recursos, quando o vício detectado mostrar-se sanável. Em lugar de frustrar o recurso com a imediata decretação de nulidade, o tribunal converterá o julgamento em diligência, determinando a realização do ato faltante ou a renovação do ato defeituoso, intimando-se as partes para as providências cabíveis.323 Somente se não for sanada a nulidade é que seu pronunciamento será feito pelo tribunal. Superado o defeito, o recurso será apreciado normalmente em seu mérito. Sempre que possível, portanto, serão evitados a invalidação e o retrocesso do processo a estágios anteriores à sentença, com repetição de atos e decisões no juízo de origem. As nulidades sanáveis de que cogita o § 2º do art. 938 tanto podem ser suscitadas pela parte como conhecidas de ofício pelo tribunal. O que importa é a sua sanabilidade, a tempo de salvar a sentença, para seu reexame no julgamento do recurso que já alcançou o tribunal. Alguns exemplos de nulidades sanáveis: havendo litisconsórcio necessário, a sentença ou o recurso foram intimados apenas a um ou alguns deles; o advogado que subscreveu o recurso não juntou o competente substabelecimento; o preparo do recurso ficou incompleto, mas o apelante não foi intimado a completá-lo; o recurso subiu sem ter dado oportunidade ao apelado para contrarrazões; o apelado juntou documento novo às contrarrazões sem ouvida do apelante; a apelação foi processada sem que o juiz decidisse os embargos declaratórios tempestivamente interpostos etc. Tutela provisória e o efeito suspensivo da apelação Ao elenco dos casos em que a apelação não tem efeito suspensivo (NCPC, art. 1.012),324 destaca-se o inciso V, que contempla a sentença que “confirma, concede ou revoga tutela provisória”. Isso quer dizer que, existindo medida provisória (conservativa, cautelar ou de evidência) já deferida nos moldes dos arts. 300 e 311, e que venha a ser mantida pela sentença, a apelação terá de ser recebida apenas no efeito devolutivo, de maneira a não pôr em dúvida a subsistência do provimento antecipatório. O texto do art. 1.012, V, cogita da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória. Mas não deve ser diferente o efeito da apelação em caso de a tutela ser deferida na própria sentença. Uma vez que a tutela provisória não tem momento prefixado em lei para deferimento, e pode acontecer em qualquer fase do processo e 1263 774. em qualquer grau de jurisdição, não há motivo para negar ao juiz a possibilidade de decidi-la em capítulo da própria sentença, desde que o faça apoiado nos seus pressupostos. E, se a sentença for expressa a respeito de tal provimento, a apelação acaso manejada haverá de ser recebida apenas no efeito devolutivo. À época do Código anterior, já havia jurisprudência sobre a possibilidade de a sentença conter capítulos distintos para o mérito e a antecipação de tutela.325 O inconveniente, não enfrentado pelo legislador, situava-se no aspecto dos efeitos da apelação, ora devolutivo e suspensivo, ora apenas devolutivo, questão essa que desapareceu diante da inserção do inciso VII no art. 520 do CPC/1973, que foi repetido no inciso V do art. 1.012 do NCPC.326 Em qualquer caso, portanto, em que a sentença mantenha (ou defira ou revogue) a tutela provisória, a apelação não a suspenderá. Não se há, contudo, de pensar que, doravante, o simples fato de o juiz julgar procedente uma demanda já o autoriza, imediatamente, a deferir a antecipação dos efeitos da sentença, sem aguardar o julgamento da apelação eventualmente interposta. Em qualquer circunstância em que se atenda a requerimento da tutela provisória, ter-seá sempre de observar os requisitos dos arts. 300 e 311. Recebimento da apelação I – Pelo juiz de primeiro grau A petição da apelação é dirigida ao juiz prolator da sentença impugnada. No sistema do Código anterior, ao recebê-la deveria o juiz declarar os efeitos do recurso (art. 518). O novo Código alterou profundamente essa sistemática, uma vez que ao juiz de primeiro grau coube, apenas, processar o recurso, abrindo vista à parte contrária para contrarrazoar. Depois de realizada essa formalidade, “os autos serão remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente do juízo de admissibilidade” (art. 1.010, § 3º).327 O recebimento da apelação e a declaração de seus efeitos, portanto, são feitos única e exclusivamente pelo tribunal ad quem. Assim, interposta a apelação, o juiz intimará o apelado para apresentar con- trarrazões, no prazo de quinze dias (art. 1.010, § 1º).328 Se o recorrido interpuser apelação adesiva, o apelante será intimado para apresentar resposta (art. 1.010, § 2º).329 Realizadas essas formalidades, o juiz remeterá os autos ao tribunal (§ 3º). Convém lembrar que uma vez prolatada a sentença e interposto o recurso, o juiz não tem, em regra, como rever ou modificar o julgado.330 Todavia, casos especiais 1264 775. há em que o próprio código permite o juízo de retratação, como, v.g., o do indeferimento da petição inicial (art. 331 e § 1º)331 e o da improcedência liminar do pedido (art. 332, § 3º)332 (a respeito dessa sistemática, ver itens nos 564 a 568 do v. I). II – Pelo tribunal ad quem Recebido o recurso no tribunal, será ele imediatamente distribuído ao relator, que deverá: (i) pronunciar-se sobre sua admissibilidade, ou não, e seus efeitos (arts. 932, III, e 1.012, § 3º, II); (ii) decidi-lo monocraticamente, se for o caso; ou, (ii) elaborar seu voto para julgamento do recurso pelo órgão colegiado (art. 1.011).333 Sobre as hipóteses em que o relator poderá julgar monocraticamente a apelação, veja o item nº 606, retro. Da decisão do relator que admite ou não o recurso, ou que o julga monocra- ticamente, caberá agravo interno para o colegiado (art. 1.021). Quanto aos efeitos do recurso, omitindo o relator declaração a respeito, a decisão que recebe a apelação deve ser tida como portadora do duplo efeito legal.334 Já se decidiu que “julgados pela mesma sentença ações conexas, uma comportando recurso em seus dois efeitos,outra no devolutivo apenas, será aplicável o princí-pio processual do maior benefício e, assim, atribuído a tal recurso, para ambas as demandas, também o efeito suspensivo”.335 No entanto, é mais razoável a tese segundo a qual nada impede que uma decisão recorrida se submeta por partes a efeitos recursais distintos. Assim, se numa só sentença são julgadas duas causas, o recurso interposto pode suspender o efeito dado a uma delas e não o fazer em relação a outra, se diversa é a eficácia particular que a lei prevê para as duas situações congregadas: deferida, por exemplo, tutela provisória e julgada procedente, ao mesmo tempo, a ação principal, a apelação única suspenderá a execução da parte relativa ao mérito da causa, mas não impedirá a efetivação da medida preventiva.336 A irrecorribilidade da sentença proferida em conformidade com súmula do STJ ou do STF À época do Código anterior, a Lei nº 11.276, de 07.02.2006, acrescentou o § 1º ao art. 518 do CPC/1973, adotando o princípio da denominada súmula impeditiva, segundo o qual “o juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal”.337 A Exposição de Motivos do Ministro da Justiça, que acompanhou a proposta de 1265 alteração do art. 518 do CPC/1973, a justificou como uma adequação salutar que contribuiria para a redução do número excessivo de impugnações sem possibilidade de êxito. Trata-se da figura que se tornou conhecida na linguagem processual como “súmula impeditiva” e que guarda uma certa simetria com a orientação da “súmula vinculante”, preconizada pela Emenda Constitucional nº 45, de 30.12.2004. Essa regra não foi mantida pelo novo CPC, mas foi substituída pelos amplos poderes dados ao relator no tribunal, dentre os quais se inclui o de decidir monocraticamente os recursos, para dar ou negar-lhes provimento, quando a decisão recorrida ou o apelo forem contrários a súmulas do STJ, STF ou do próprio tribunal; ou a acórdãos proferidos pelo STJ e STF em julgamento de recursos repetitivos; bem como a entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência (NCPC, art. 932, IV e V). O raciocínio determinante é no sentido de que, se se admite que uma súmula vincule juízes e tribunais, impedindo-os de julgamento que a contrarie, válido é, também, impedir a parte de exigir, invariavelmente, que a apelação seja sempre julgada pelo órgão colegiado de segunda instância. O que se destaca é a grande relevância que o NCPC confere à jurisprudência sumulada pelos dois mais altos tribunais do país. Nos dois casos está em jogo o mesmo valor, qual seja, o prestígio da Súmula do STJ e do STF pela ordem jurídica. Afinal, a regra dos incisos IV e V do art. 932 do NCPC não é nada mais do que a previsão de uma hipótese de sumarização do regime do duplo grau de jurisdição. É bom lembrar que o trancamento ou o provimento da apelação pelo relator, in casu, pressupõe inteira fidelidade da sentença à súmula do STJ, do STF ou do próprio tribunal. É preciso que a decisão seja toda ela assentada na súmula, e não apenas em parte, de modo que se esta serviu tão só de argumento utilizado pelo sentenciante, para solucionar parte das questões deduzidas no processo, havendo outros dados influentes na motivação do julgado, não será o caso de julgar o recurso monocraticamente. Fora do tema da súmula, restariam questões passíveis de ampla discussão recursal, sem risco de contradizer a matéria sumulada. Quanto à hipótese de equívoco do relator em considerar a sentença adequável ao entendimento da súmula, não acarretará ele uma irremediável supressão do direito da parte de acesso ao colegiado. É que, segundo o art. 1.021 do NCPC, cabe agravo interno contra a decisão monocrática proferida pelo relator. Mediante o adequado manejo do agravo interno, portanto, a parte prejudicada pela equivocada aplicação de súmula para sumarizar a decisão de segundo grau, 1266 776. 777. encontraria remédio eficiente para corrigir o error in iudicando cometido monocraticamente pelo relator e fazer chegar o apelo ao exame do órgão colegiado. Juízo de retratação: reexame da matéria decidida na sentença apelada por ato de seu próprio prolator Publicada a sentença, tem-se como encerrada a tarefa de acertamento a cargo do juiz. Torna-se, por isso, inalterável o decisório por ato do respectivo julgador, a não ser que haja erro material ou de cálculo a corrigir ou que tenham sido interpostos embargos de declaração para eliminar obscuridade, contradição ou omissão da sentença (art. 494 do NCPC).338 A possibilidade de reforma do conteúdo do julgado depende de interposição do recurso de apelação e somente competirá ao Tribunal de segundo grau, em regra. O efeito devolutivo do recurso, na espécie, redundará no deslocamento da causa para o órgão judicante hierarquicamente superior. A apelação, de regra, é um recurso reiterativo, e não iterativo. Há, no entanto, alguns casos excepcionais em que, interposta a apelação, a lei abre oportunidade ao juiz para rever sua sentença, podendo, assim, impedir a subida do processo ao tribunal. Quando, por exemplo, a decisão consistir em indeferimento da petição inicial, o art. 331 do NCPC339 faculta ao juiz, diante da apelação formulada pelo autor, reformar sua própria sentença, no prazo de cinco dias. Somente se o juízo de retratação não ocorrer é que os autos serão encaminhados ao tribunal. Se o juiz se retratar, a apelação ficará sem objeto. Também na hipótese de processos seriados, em que o juiz é autorizado a proferir sentença de improcedência in limine litis do pedido, antes mesmo da citação do réu (art. 332),340 há previsão legal de que, ocorrendo apelação do autor, terá o juiz a faculdade de, em cinco dias, “retratar-se”. Nesse caso, determinará o prosseguimento do processo (art. 332, §§ 3º e 4º).341 Por fim, o NCPC também admitiu a retratação do juiz na apelação interposta contra a decisão que julga o processo, sem resolução de mérito (art. 485, § 7º).342 Trata-se, pois, de mais um caso em que o juízo de retratação em primeiro grau se torna possível, no curso da apelação. Deserção Denomina-se deserção o efeito produzido sobre o recurso pelo não cumprimento do requisito do preparo no prazo devido. Sem o pagamento das custas devidas, o recurso torna-se descabido, provocando a coisa julgada sobre a sentença 1267 778. apelada.343 O art. 1.007 do NCPC344 abrandou o rigor da deserção, admitindo, inclusive, o pagamento em dobro do preparo e do porte de remessa e retorno, quando o recorrente interpuser o recurso sem o seu devido recolhimento (§ 4º) (sobre o tema, ver item nº 752 retro). Segundo a sistemática atual, que retirou do juiz de primeiro grau a competência para realizar, em toda a extensão, o juízo de admissibilidade da apelação, caberá ao relator a decretação ou não da deserção. Poder-se-ia argumentar que, para as partes, seria mais fácil que a análise e o saneamento da falta ou deficiência do preparo ficasse a cargo do juiz a quo e, não, do relator. A lei, no entanto, não excepcionou nenhuma parcela do juízo de admissibilidade, relegando-o, por completo, à instância superior. Se fosse dado ao juiz inadmitir o recurso por deserção, também teria de ser competente para indeferi-lo nos casos de intempestividade ou de manifesto descabimento. Ademais, com a adoção do protocolo integrado (art. 929, parágrafo único), a parte não teria maior dificuldadeem regularizar o recolhimento do preparo e do porte de remessa e retorno, já que poderia fazê-lo na comarca de origem e encaminhar o comprovante ao tribunal, sem necessidade de deslocamento do advogado para a capital. Por outro lado, ao se tolerar que o juiz pudesse decretar a deserção, estar-se-ia num dilema grave, pois o Código não prevê recurso contra essa espécie de decisão, já que não a menciona no rol do art. 1.015, e tampouco haveria como o apelante suscitar o questionamento em preliminar de apelação (art. 1.009, § 1º), afinal, a decisão, na espécie, seria ato posterior àquele recurso. Prazo para interposição da apelação O prazo legal é de quinze dias, tanto para apelar como para contra-arrazoar a apelação (art. 1.003, § 5º, do NCPC).345 Em verdade, o NCPC estabeleceu prazo único para todos os recursos, excetuados, apenas, os embargos de declaração. Se, todavia, o prazo é ultrapassado em razão de obstáculo do serviço forense, não pode a parte ficar prejudicada, dado que, durante o embaraço judicial, não flui nenhum prazo.346 O prazo vence-se, outrossim, em cartório. De sorte que, “sem embargo de haver sido despachada no prazo legal, a apelação fica prejudicada pelo retardamento da respectiva juntada, por culpa da parte interessada”.347 Mas “não fica prejudicada a apelação entregue em cartório no prazo legal, embora despachada tardiamente”.348 1268 779. 780. Interposição de apelação antes do julgamento dos embargos de declaração Como já visto no item nº 743 retro, o STJ editou a Súmula nº 418, à época do Código anterior, reconhecendo ser inadmissível o recurso especial interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação. Muito embora o entendimento sumulado versasse sobre o recurso especial, aquela Corte Superior o aplicava indiscriminadamente, também, à apelação.349 A orientação justificava-se pelo fato de que, à semelhança do que ocorre com o recurso especial, o apelo dirige-se contra o pronunciamento último do juiz de primeiro grau, razão pela qual a decisão dos embargos integra a sentença, fazendo-se necessária a ratificação da apelação.350 Ainda à época do Código anterior, esse entendimento era questionado pela doutrina, na medida em que existem diferenças substanciais entre o objetivo da apelação e do recurso especial, o que afastaria a aplicação analógica da Súmula às duas espécies recursais. Enquanto o recurso ao tribunal superior visa a estabilização da jurisprudência, sendo vedado o simples reexame das provas, a apelação busca a correção da justiça da sentença, ampliando a extensão da impugnação. O NCPC solucionou a controvérsia, afastando a necessidade de ratificação de qualquer recurso interposto antes da publicação do julgamento dos embargos, se eles forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior (art. 1.024, § 5º). Por outro lado, caso haja modificação da decisão recorrida, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária poderá complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no prazo de quinze dias (art. 1.024, § 4º). Julgamento em segunda instância O tribunal ad quem, antes de apreciar a apelação, deverá decidir os agravos de instrumento porventura interpostos no mesmo processo (NCPC, art. 946).351 A competência funcional para julgar o recurso é de câmara ou turma do tribunal, mas o voto é tomado apenas de três juízes, que formam a denominada “turma julgadora” (art. 941, § 2º).352 Há, porém, possibilidade de o relator, em casos de relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos, propor seja o recurso julgado por um colegiado maior previsto no regimento interno, dando lugar ao incidente de assunção de competência (art. 947) (v. o item nº 605). 1269 272 273 274 275 276 277 Fluxograma nº 28 – Apelação (arts. 1.009 a 1.014) AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras linhas de direito processual civil. 4. ed. São Paulo: Max Limonad, 1973, v. III, n. 708. CPC/1973, art. 162, § 1º. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, sem correspondência. 1270 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 289 290 CPC/1973, sem correspondência. CPC/1973, art. 514. STJ, 1ª T., REsp 1.065.412/RS, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 10.11.2009, DJe 14.12.2009. STF, RE 68.710, Rel. Min. Amaral Santos, RTJ 56/112; STJ, REsp 62.466-5/RJ, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, ac. 28.08.1995, DJU 09.10.1995, p. 33.553; STJ, 1ª T., REsp 1.065.412/RS, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 10.11.2009, DJe 14.12.2009. CPC/1973, art. 506, parágrafo único. CPC/1973, arts. 397 e 517. CPA/1973, arts. 396 e 397. BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Op. cit., p. 206. O STF decidiu que “a norma excludente da suscitação de novas questões de fato, na apelação, não impede que se juntem documentos às razões, para que os aprecie a instância recursal” (RE 75.946, Rel. Min. Rodrigues Alckmin, RTJ 67/852). “A juntada de documentos com a apelação é possível, desde que respeitado o contraditório e inocorrente a má-fé, com fulcro no art. 397 do CPC [NCPC, art. 435]” (STJ, 4ª T., AgRg no REsp 785.422/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, ac. 05.04.2011, DJe 12.04.2011). STJ, 4ª T., REsp 431.716/PB, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. 22.10.2002, DJU 19.12.2002, p. 370; STJ, 4ª T., AgRg no REsp 785.422/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, ac. 05.04.2011, DJe 12.04.2011. CPC/1973, art. 515. Se o recurso se restringe a um determinado ponto, “não é lícito à Superior Instância se pronunciar sobre assunto extravagante ao âmbito do pedido de nova decisão” (TJMG, Apel. 13.444, D. Jud. MG, de 27.04.1960). Pela mesma razão, “não pode o tribunal pronunciar, no seu julgamento, nulidade não arguida na respectiva interposição” (STF, RE 77.360, Rel. Min. Xavier de Albuquerque, D. Jud. MG de 26.04.1974). “A apelação transfere ao conhecimento do tribunal a matéria impugnada, nos limites dessa impugnação, salvo matérias examináveis de ofício pelo juiz” (STJ, REsp 48.357/MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. 13.02.1996, DJU 15.04.1996, p. 11.537). No mesmo sentido: STJ, REsp 52.991-3/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, ac. 04.10.1994, DJU 14.11.1994, p. 30.962; STJ, REsp 7.143-0/ES, Rel. Min. César Rocha, ac. 16.06.1993, DJU 16.08.1993, p. 15.955; STJ, 2ª T., REsp 761.534/PR, Rel. Min. Castro Meira, ac. 01.10.2009, DJe 09.10.2009. CPC/1973, art. 515, § 1º. Segundo antigo entendimento, quando o julgamento de primeiro grau houvesse se restringindo a questões preliminares, não poderia o tribunal, por força da apelação, apreciar desde logo o mérito da causa, sob pena de abolir o duplo grau de jurisdição (STF, RE 71.515, 72.352, 73.716 e Ação Resc. 1.006, RTJ 60/207, 60/828, 62/535 e 86/71; STJ, REsp 28.515-3/RJ, Rel. Min. Dias Trindade, ac. 03.11.1992, DJU 23.11.1992, p. 21.891; 1271 291 292 293 294 295 296 297 STJ, REsp 34.391-8/RJ, Rel. Min. Hélio Mosimann, ac. 15.03.1995, DJU 03.04.1995, p. 8.122. No mesmo sentido: BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil, vol. V, n. 244, p. 444; MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil, vol. III, p. 620). Esse entendimento, entretanto, foi superado quando a Lei nº 10.352/2001 acrescentou o § 3º ao art. 515 ao CPC/1973, cujo teor foi conservado pelo NCPC, art. 1.013, § 3º. O alcance, porém, da nova regra deve ser definido em harmonia com o caput do artigo, onde se define o
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