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(1015-1176) Efeitos da Interposição do Recurso

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759.
760.
§ 79. EFEITOS DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO
Sumár io: 759. Efeitos básicos do  recurso: devolutivo  e  suspensivo. 760. Efeito
substitutivo. 761. Efeito translativo. 762. Efeito expansivo.
Efeitos básicos do recurso: devolutivo e suspensivo
Os  recursos  podem  ter,  em  princípio,  dois  efeitos  básicos:  o  devolutivo  e  o
suspensivo.  Pelo  primeiro,  reabre-se  a  oportunidade  de  reapreciar  e  novamente
julgar  questão  já  decidida;  e,  pelo  segundo,  impede-se  ao  decisório  impugnado
produzir seus naturais efeitos enquanto não solucionado o recurso interposto.
Em  regra,  nenhuma  questão,  depois  de  solucionada  em  juízo,  pode  ser
novamente  decidida,  porque  se  forma  em  torno  do  pronunciamento  jurisdicional  a
preclusão  pro  iudicato  (NCPC,  art.  505,  caput),261  requisito  necessário  a  que  o
processo caminhe sempre para frente, sem retrocesso, rumo à solução do  litígio. O
mecanismo  dos  recursos,  porém,  tem  sempre  a  força  de  impedir  a  imediata
ocorrência da preclusão e, assim, pelo efeito devolutivo, inerente ao sistema, dá-se o
restabelecimento do poder de apreciar a mesma questão, pelo mesmo órgão  judicial
que  a  decidiu  ou  por  outro  hierarquicamente  superior. Não  se  pode,  logicamente,
conceber um  recurso que não  restabeleça, no  todo ou  em parte,  a possibilidade de
rejulgamento. E nisso consiste o denominado efeito devolutivo dos recursos.
Já  o  efeito  suspensivo  (impedimento  da  imediata  execução  do  decisório
impugnado), que era a regra geral para o Código de 1973, passou a ser a exceção no
novo CPC, prevista apenas para a apelação (art. 1.012, caput).262 Assim é que o art.
995  dispõe  que  “os  recursos  não  impedem  a  eficácia  da  decisão,  salvo  disposição
legal  ou  decisão  judicial  em  sentido  diverso”. Apenas  excepcionalmente  a  decisão
será suspensa, “se da imediata produção de seus efeitos houver risco de dano grave,
de  difícil  ou  impossível  reparação,  e  ficar  demonstrada  a  probabilidade  de
provimento  do  recurso”  (parágrafo  único  do  art.  995).  Isto,  todavia,  dependerá
sempre de decisão do relator, caso a caso.
Efeito substitutivo
1241
(a)
(b)
761.
A par dos efeitos devolutivo e suspensivo, um outro efeito – o substitutivo – é
atribuído pelo art. 1.008 do NCPC263 aos  recursos em geral. Consiste ele na  força
do  julgamento  de  qualquer  recurso  de  substituir,  para  todos  os  efeitos,  a  decisão
recorrida,  nos  limites  da  impugnação.  Trata-se  de  um  derivativo  do  efeito
devolutivo. Se ao órgão ad quem é dado reexaminar e redecidir a matéria cogitada no
decisório impugnado, torna-se necessário que somente um julgamento a seu respeito
prevaleça  no  processo.  A  última  decisão,  portanto,  i.e.,  a  do  recurso,  é  que
prevalecerá.
Para  que  a  substituição  ocorra,  todavia,  hão  de  ser  observados  alguns
requisitos:
o recurso deverá ter sido conhecido e julgado pelo mérito; se o caso for de
não admissão do recurso, por questão preliminar, ou se o julgamento for de
anulação  do  julgado  recorrido,  não  haverá  como  o  decidido  no  recurso
substituir a decisão originária;
deverá  o  novo  julgamento  compreender  todo  o  tema  que  foi  objeto  da
decisão recorrida; se a impugnação tiver sido parcial, a substituição operará
nos limites da devolução apenas.
É irrelevante, in casu, que o recurso julgado pelo mérito tenha sido provido ou
improvido.  Em  qualquer  caso  (até mesmo  quando  de  fato  resulte  “confirmada”  a
decisão recorrida), o decidido na instância recursal é que prevalecerá e que irá fazer
coisa julgada.
É  possível,  outrossim,  que  a  mesma  matéria  seja  objeto  de  sucessivas
impugnações recursais no mesmo processo. Ocorrendo tal, cada julgamento substitui
o  precedente  e  apenas  o  último  prevalece  para  operar  a  coisa  julgada  e  para  sub-
meter-se a eventual  rescisória. No caso de a sentença  recorrida cogitar do mérito e
ter  acarretado  revogação  de  anterior  antecipação  de  tutela,  já  se  decidiu  que  a
cassação  do  julgado,  em  via  recursal,  “implica  o  restabelecimento  dos  efeitos  da
medida antecipatória”.264 Mesmo que não o diga expressamente, o efeito maior do
julgamento  substitutivo,  alcança  a  restauração  completa  do  status  quo,  inclusive  a
medida tutelar de urgência, no entendimento do TJMG.265
Efeito translativo
Por força do efeito devolutivo, em regra o recurso transfere o conhecimento da
causa  para  o  juízo  recursal  nos  limites  da  impugnação  formulada  pelo  recorrente,
1242
uma vez que se admite o ataque à decisão “no todo ou em parte” (NCPC, art. 1.002),
e  que  o  julgamento  do  tribunal  deva  substituir  a  decisão  impugnada  “no  que  tiver
sido objeto do recurso” (art. 1.008).
Reconhece-se que o  recurso, como desdobramento do direito de ação,  rege-se
pelo  princípio  dispositivo. Daí  que  cabe  à  parte  definir  o  objeto  da  impugnação,
limitando a devolução de conhecimento da causa ao tribunal àquilo que o recor-rente
lhe haja transferido por meio do efeito devolutivo.
Além, contudo, da transferência compreendida nos termos do recurso, exis-tem
matérias  de  que  o  tribunal  ad  quem  poderá  conhecer,  independentemente  da
devolução operada pela vontade impugnante do recorrente. Trata-se das questões de
ordem  pública,  como  aquelas  ligadas  às  condições  da  ação  e  aos  pressupostos
processuais, e outras que, por força de lei, os tribunais têm de apreciar e resolver ex
officio, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição (art. 485, § 3º).
A afetação de  tais  temas à cognição do  tribunal ad quem recebe da dou-trina a
denominação de efeito  translativo do  recurso, para diferenciar do  efeito devolutivo
provocado  pela  vontade  do  recorrente.  Enquanto  o  efeito  devolutivo  emana  do
princípio dispositivo  (que  impera  enquanto  se  acha  em  jogo  interesses disponíveis
da  parte),  o  efeito  translativo  (que  de  certa  forma  conecta-se  com  o  efeito
devolutivo)  é  uma  decorrência  direta  do  princípio  inquisitivo,  que  atua  no  direito
processual nos domínios do interesse coletivo, ultrapassando a esfera dos interesses
individuais em conflito no processo.
Essa eficácia  recursal, que é comum a  todos os  recursos,  inclusive o extraor-
dinário  e  o  especial,  faz  que,  uma  vez  conhecido  o  recurso,  o  tribunal  superior,
constatando  a  ausência  de  algum  pressuposto  processual,  de  alguma  condição  da
ação,  possa  apreciá-la  de  ofício.266  Em  outros  termos,  o  efeito  translativo,  que
amplia e complementa o efeito devolutivo, se apresenta como consectário do ca-ráter
publicista do processo contemporâneo, para permitir ao órgão de superior instância o
exame, mesmo  sem  constar  das  razões  ou  contrarrazões  recursais,  de  questões  de
ordem pública, nos termos dos arts. 485, § 3º, e 1.013, I a IV.
Não há, na Constituição  (que define os casos de admissibilidade dos  recursos
extraordinário  e  especial),  nada  que  vede  a  incidência  do  efeito  translativo  nos
domínios dos recursos excepcionais endereçados aos Tribunais Superiores. O que se
acha definido na Constituição  são os  casos de  admissibilidade de  tais  recursos. O
seu alcance e seus efeitos são matérias que se comportam na disciplina do Código de
Processo Civil e na legislação infraconstitucional que cuidam do tema.
1243
762.
O  efeito  translativo,  definido  na  lei  comum,  nada  tem  a  ver  com  o  poder  da
parte  de  definir  o  objeto  da  impugnação  recursal,  que  se  presta  para  justificar  a
exigência de prequestionamento dos temas cabíveis no objeto dos recursos especial e
extraordinário. O  efeito  em  questão  é  algo  que  existe  primariamente  na  esfera  de
atribuições  de  qualquer  órgão  jurisdicional  que  assuma  a  função  de  decidir  emqualquer processo, não importa o grau de jurisdição em que ele esteja tramitando.267
Por  isso,  “uma  vez  conhecido  o  recurso  extraordinário/especial,  poderá  o  tribunal
examinar todas as matérias que possam ser examinadas a qualquer tempo, inclusive
a prescrição, a decadência e as questões de ordem pública de que trata o § 3º, do art.
267 do CPC [NCPC, art. 485, § 3º]”.268
Embora não haja uniformidade de entendimento na jurisprudência do STF e do
STJ,  a  boa  doutrina  tem  prevalecido,  pelo menos  na  área  do STJ,  como  se  vê  do
seguinte aresto, que pode ser qualificado como emblemático:
“Em  virtude  da  sua  natureza  excepcional,  decorrente  das  limitadas
hipóteses de cabimento (Constituição, art. 105, III), o recurso especial tem
efeito  devolutivo  restrito,  subordinado  à  matéria  efetivamente
prequestionada, explícita ou implicitamente, no tribunal de origem.
2.  Todavia,  embora  com  devolutividade  limitada,  já  que  destinado,
fundamentalmente,  a  assegurar  a  inteireza  e  a  uniformidade  do  direito
federal  infraconstitucional,  o  recurso  especial  não  é  uma  via meramente
consultiva,  nem  um  palco  de  desfile  de  teses  meramente  acadêmicas.
Também na instância extraordinária o Tribunal está vinculado a uma causa
e, portanto, a uma situação em espécie (Súmula 456 do STF; Art. 257 do
RISTJ).
3. Assim, quando eventual nulidade processual ou  falta de condição
da  ação  ou  de  pressuposto  processual  impede,  a  toda  evidência,  que  o
julgamento do recurso cumpra sua função de ser útil ao desfecho da causa,
cabe  ao  tribunal,  mesmo  de  ofício,  conhecer  da  matéria,  nos  termos
previstos no art. 267, § 3º e no art. 301, § 4º do CPC. Nesses limites é de
ser  reconhecido  o  efeito  translativo  como  inerente  também  ao  recurso
especial”.269
Efeito expansivo
Outra  variação  do  efeito  devolutivo  do  recurso  é  o  denominado  efeito
expansivo,  que  é  explicitado  na  disciplina  da  apelação. O  efeito  em  questão,  que
1244
261
262
263
264
delimita a área de cognição e decisão dos Tribunais Superiores, na espécie, consiste
em  reconhecer que a devolução operada pelo  recurso “não  se  restringe às questões
resolvidas na sentença, compreendendo também as que poderiam ter sido deci-didas,
seja porque  suscitadas pelas partes,  seja porque conhecíveis de ofício  (§ 2º do art.
515/CPC) [NCPC, art. 1.013, § 2º]”.270
É possível, em doutrina, falar-se em duas dimensões para a expansão do efeito
recursal:  (i)  uma  no  plano  horizontal,  que  permite  a  abordagem  pelo  tribu-nal  ad
quem de questões novas, como as de ordem pública e os pedidos que não chegaram a
ser  enfrentados  pelo  julgado  recorrido  (art.  1.013,  §  2º);  e,  (ii)  outra  no  plano
vertical, que atinge as questões precedentes levantadas no processo e que interferem,
ou deveriam interferir, em caráter prejudicial, na decisão recorrida (art. 1.013, § 1º).
A regra cogitada foi traçada para o recurso de apelação, mas sua extensão para
os  recursos especial e extraordinário se  impõe, visto que  também nestes o  tribunal
ad quem, uma vez admitido o apelo, terá de “julgar o processo, aplicando o direito”
(NCPC, art. 1.034, caput).
Dessa  nova  disposição  legal  –  que manda  “julgar  o  processo”,  e  não  apenas
reexaminar  o  “julgamento  da  causa”  realizado  na  instância  de  origem  –,  decorre  a
necessidade de o Tribunal Superior apreciar, de ofício, os pressupostos processuais
e  as  condições  da  ação,  porque  verificada  sua  inobservância  não  será  possível  o
pronunciamento válido sobre o mérito do processo. Haverá, também, de enfren-tar e
decidir os pedidos que acaso não chegaram a ser apreciados pelo decisório recorrido,
sempre que  tal se  imponha para que a  resolução do mérito, agora a seu cargo, seja
completa. Faltando condições para que  isto  se dê, pelo menos o processo não  será
extinto na  instância  extraordinária ou  especial. Os  autos baixarão  ao  juízo  local,  a
fim  de  se  solucionarem  as  questões  remanescentes  ao  julgado  do  recurso
excepcional.271  O  tema  será  mais  extensamente  abordado  quando  se  analisar  o
recurso de apelação (item nº 767).
CPC/1973, art. 471, caput.
Mesmo no caso da apelação, o NCPC exclui do efeito suspensivo numerosas situações,
como, por exemplo, a da sentença que confirma, concede ou revoga tutela provisória e a
que julga improcedentes os embargos do executado (art. 1.012, § 1º, III e V).
CPC/1973, art. 512.
TJMG, 8ª Câm. Cível, Ap. 1.0024.08.196814-1/011, Rel. Des. Edgard Penna Amorim, ac.
1245
265
266
267
268
269
270
271
05.07.2012, DJe 17.07.2012.
TJMG, Apelação cit.
OLIVEIRA, Gleydson Kleber Lopes de. Recurso especial. São Paulo: RT, 2002, p. 342;
SOUZA,  Bernardo  Pimentel  de.  Introdução  aos  recursos  cíveis  e  à  ação  rescisória.
Brasília: Brasília Jurí-dica, 2000, p. 313; PESSOA, Roberto D’Orea. Juízo de mérito e
grau  de  cognição  nos  recursos  de  estrito  direito.  In: NERY  JR., Nelson; WAMBIER,
Teresa  Arruda  Alvim  (coords.).  Aspectos  polêmicos  e  atuais  dos  recursos  cíveis  e
assuntos afins. São Paulo: RT, 2006, v. 10, p. 502.
Em  relação  à  cognosvibilidade das questões de ordem pública no  âmbito dos  recursos
extraordinário e especial, “o quesito do prequestionamento pode ter-se por inexigível, até
em homenagem à lógica do processo e à ordem jurídica justa” (MANCUSO, Rodolfo de
Camargo. Recurso extraordinário e recurso especial. 10. ed. São Paulo: RT, 2007, p. 311).
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de direito processual
civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais. 5. ed. Salvador:
JusPodivm, 2008, v. 3, p. 281. Nesse sentido: GOES, Gisele Santos Fernandes. Recurso
especial,  extraordinário  e  embargos  de  divergência:  efeito  translativo  ou  correlação
recursal? Revista Dialética de Direito Processual, n. 22, São Paulo, p. 64, jan. 2005.
STJ,  1ª  T., REsp  609.144/SC, Rel. Min.  Teori Albino  Zavascki,  ac.  06.05.2004, DJU
24.05.2004, p. 197. No mesmo sentido: STJ, 1ª T., REsp 109.474/DF, Rel. Min. Humberto
Gomes de Barros, ac. 09.09.1997, DJU 20.10.1997, p. 52.978.
STJ,  4ª  T.,  REsp  136.550/MG,  Rel.  Min.  Cesar  Asfor  Rocha,  ac.  23.11.1999,  DJU
08.03.2000, p. 118. No mesmo sentido: STJ, 3ª T., REsp 536.964/RS, Rel. Min. Humberto
Gomes de Barros, ac. 04.05.2006, DJU 29.05.2006, p. 230.
A apelação devolve ao  tribunal as questões  impugnadas pelas partes, as apreciadas de
ofício (questões de ordem pública) “e aquelas suscitadas e não examinadas” (STJ, 2ª T.,
REsp 1.189.458/ RJ, Rel. Min. Humberto Martins, ac. 25.05.2010, DJe 07.06.2010). Diante
de pedidos sucessivos, “o Tribunal, ao julgar a apelação, deve observar os ditames do art.
515 do CPC [NCPC, art. 1.013, § 2º], podendo examinar as teses suscitadas e discutidas
no processo, mesmo que a sentença não as  tenha  julgado por  inteiro” (STJ, 2ª T., REsp
363.655/MS, Rel. Min. Eliana Calmon, ac. 19.09.2002, DJU 16.06.2003, p. 280).
1246
763.
§ 80. A APELAÇÃO
Sumár io:  763.  Conceito.  764.  O  novo  CPC  e  a  superação  das  dificuldades
conceituais do Código anterior em relação à sentença. 765. Apelação e decisões
incidentais excluídas das hipóteses de agravo de instrumento. 766. Interposição da
apelação. 767. Efeitos da apelação. 768. Questão  relevante a  respeito do efeito
devolutivo  da  apelação  contra  sentença  terminativa.  769.  Questão  de  fato  e
questão  de  direito.  770. Vinculação  do  tribunal  ao  dever  de  julgar  o mérito  na
hipótese do § 3º do art. 1.013. 770-A. Posição consolidada do STJ. 771. Prescrição
e decadência. 772. A apelação e as nulidades sanáveis do processo. 773. Tutela
provisória e o efeito suspensivo da apelação. 774. Recebimento da apelação. 775.
A irrecorribilidade da sentença proferida em conformidadecom súmula do STJ ou
do  STF.  776.  Juízo  de  retratação:  reexame  da  matéria  decidida  na  sentença
apelada  por  ato  de  seu  próprio  prolator.  777.  Deserção.  778.  Prazo  para
interposição da apelação. 779. Interposição de apelação antes do julgamento dos
embargos de declaração. 780. Julgamento em segunda instância.
Conceito
São  sentenças  finais  ou  simplesmente  “sentenças”  são  pronunciamentos
judiciais  que  encerram  a  fase  cognitiva  do  procedimento  comum,  bem  como
extinguem  a  execução.  Distingue  a  doutrina  entre  sentença  definitiva  e  sentença
terminativa,  conforme  o  encerramento  da  relação  processual  se  dê  com  ou  sem
julgamento do mérito da causa.
O Código de 1973, em seu texto originário, unificou os conceitos de sentença e
de  recurso cabível. Se se põe  termo ao processo, haja ou não decisão do mérito, o
caso será sempre de sentença  (CPC/1973, art. 162, § 1º). E o  recurso  interponível
também  será  sempre um  só: o de  apelação  (CPC/1973,  art. 513). O Código  atual
manteve a mesma sistemática do anterior (NCPC, art. 1.009).
Apelação,  portanto,  é  o  recurso  que  se  interpõe  das  sentenças  dos  juízes  de
primeiro grau de jurisdição para levar a causa ao reexame dos tribunais do segundo
grau,  visando  a  obter  uma  reforma  total  ou  parcial  da  decisão  impugnada,272  ou
mesmo sua invalidação.
São  apeláveis  tanto  as  sentenças  proferidas  em  procedimentos  contenciosos
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como as dos feitos de  jurisdição voluntária. Também nos procedimentos  incidentes
ou  acessórios,  como  habilitação,  restauração  de  autos  etc.,  a  apelação  é  o  recurso
cabível  contra  a  sentença  que  os  encerrar. O mesmo,  todavia,  não  ocorre  com  o
julgamento de simples incidentes do processo, a exemplo da exibição de documento
ou  coisa  e  das  tutelas  provisórias,  já  que  in  casu  ocorrem  apenas  decisões
interlocutórias.
O novo CPC e a superação das dificuldades conceituais do
Código anterior em relação à sentença
Depois da última reforma operada pela Lei nº 11.232, de 22.12.2005, o CPC de
1973 adotou como definição da sentença, em lugar de ato judicial que põe termo ao
processo, a de “ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267
e  269”. A  justificativa  para  a  nova  conceituação  adveio  da  circunstância  de  terem
sido unificados os procedimentos de conhecimento e de cumprimento da sentença, o
que  levou o  legislador a pensar que aquele ato decisório não poderia mais ser visto
como o que encerra o processo.
Esse  entendimento  tomou  como ponto de partida,  indevidamente, o objeto da
decisão,  entrando  em  colisão  com  o  sistema  recursal.  Neste,  a  apelação  não  era
usada para impugnar essa ou aquela matéria, mas toda e qualquer sentença, fosse de
mérito  ou  terminativa.  Com  a  conceituação  inovada  de  sentença,  criou--se  uma
dificuldade de custosa solução. É que nem sempre as matérias tomadas pela reforma
como  padrão  de  identificação  da  sentença  eram,  necessariamente,  solucionadas  em
ato judicial da espécie.
O novo CPC,  sem  embargo de  continuar  adotando o  caráter de procedimento
unitário para a cognição e a execução, logrou definir a sentença levando em conta as
fases  de  desenvolvimento  do  processo  unificado,  sem  embaraçar-se  com  o  objeto
decidido. Com  efeito,  para  a  lei  atual,  sentença  é  “o  pronunciamento  por meio  do
qual  o  juiz,  com  fundamento  nos  arts.  485  e  487,  põe  fim  à  fase  cognitiva  do
procedimento comum, bem como extingue a execução (art. 203, § 1º).273
Como se vê, a nova lei foi bastante clara e objetiva na conceituação. Assim, se
o  ato  decisório  é  proferido  durante  a marcha  processual,  sem  colocar  fim  à  fase
cognitiva ou à execução,  trata-se de decisão  interlocutória, que desafia o recurso de
agravo  de  instrumento. Se,  contudo,  a  decisão  finaliza  a  atividade  jurisdicional  da
primeira  instância,  é  sentença,  contra  a  qual  deve  ser  interposto  o  recurso  de
apelação.
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O entendimento é complementado pelo § 5º do art. 356,274 que determina que a
decisão  que  julga  parcialmente  o mérito,  de  forma  antecipada,  é  impugnável  por
meio  de  agravo  de  instrumento. Ou  seja,  a  decisão  que,  julgando  parcialmente  o
mérito,  não  coloca  fim  à  fase  de  cognição,  desafia  agravo  de  instrumento  e,  não,
apelação.  Ao  contrário,  a  decisão  que  extingue  o  processo  é  sempre  sentença,
apreciando ou não o mérito da causa. O recurso, portanto, será a apelação, qualquer
que sejam as questões decididas (NCPC, art. 1.009).
Apelação e decisões incidentais excluídas das hipóteses de agravo
de instrumento
O  NCPC  aboliu  a  figura  do  agravo  retido,  interposto  em  face  de  decisão
proferida pelo  juiz de primeiro grau, que, se não  fosse  reformada pelo magistrado,
era objeto de análise pelo  tribunal, caso o  recurso  fosse  reiterado em preliminar de
apelação ou de contrarrazões de apelação (art. 523 do CPC/1973).
A  nova  sistemática,  embora  semelhante  à  anterior,  afasta  a  necessidade  de
interposição  imediata  de  recurso,  para  impedir  a  preclusão.  Agora,  se  a  matéria
incidental decidida pelo magistrado a quo não constar do rol  taxativo do art. 1.015,
que  autoriza  a  interposição  de  agravo  de  instrumento,  a  parte  prejudicada  deverá
aguardar  a  prolação  da  sentença  para,  em  preliminar  de  apelação  ou  nas
contrarrazões,  requerer  a  sua  reforma  (art. 1.009, § 1º).275 Vale dizer,  a preclusão
sobre  a  matéria  somente  ocorrerá  se  não  for  posteriormente  impugnada  em
preliminar de apelação ou nas contrarrazões.
Se  a parte prejudicada pela decisão  interlocutória  for vencida na  ação, deverá
arguir  a matéria  em  preliminar  de  apelação,  sendo  a  parte  contrária  intimada  para
contrarrazoar.  Se,  contudo,  a  sentença  lhe  for  favorável,  a  impugnação  poderá
ocorrer em sede de contrarrazões de eventual apelação interposta pela parte contrária.
Nessa  última  hipótese,  o  vencedor manejaria,  na  verdade,  um  recurso  eventual  e
subordinado, visto que só seria apreciado caso o  recurso do vencido  fosse provido
para  reformar  a  sentença.  Ou  seja,  a  impugnação  do  apelado  teria  o  papel  de
condicionar o julgamento da pretensão do apelante ao prévio exame das preliminares
suscitadas nas contrarrazões da parte vencedora no decisório de primeiro grau.
Outrossim,  para  cumprir-se  o  contraditório,  sendo  a  matéria  suscitada  em
preliminar  de  contrarrazões,  o  apelante  será  intimado  para,  em  quinze  dias,
manifestar-se a respeito (art. 1.009, § 2º).276
Interposição da apelação
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(a)
(b)
(c)
(d)
O  recurso  de  apelação  será  interposto  contra  a  sentença  (art.  1.009,  caput).
Como  se  viu  (itens  nos  349  e  351,  vol.  I),  a  sistemática  atual  não  classifica  a
sentença em razão do conteúdo das questões nela decididas, mas, sim, em função do
momento  no  qual  foi  proferida.  Se  a  decisão  puser  fim  à  fase  cognitiva  do
procedimento  comum  ou  extinguir  a  execução  (art.  203,  §  1º),  desafiará  apelação.
Nessa esteira, ainda que a questão decidida em sentença seja daquelas  impugnáveis
por meio  de  agravo,  nos  termos  do  art.  1.015,  do NCPC,  deverá  ser  interposto  o
recurso de apelação para discuti-la (art. 1.009, § 3º).277
Imagine-se,  assim,  que  o  juiz  tenha  cassado  a  tutela  provisória  na  própria
sentença. Muito  embora  a matéria  conste  do  inciso  I,  do  art.  1.015,  como  sen-do
impugnável por meio de agravo de instrumento, deverá ser abrangida pela apelação.
Vale  dizer,  não  haverá  interposição  de  dois  recursos  distintos  contra  a  mesma
decisão. Nesse sentido, o § 5º do art. 1.013 é expresso: “o capítulo da sentença que
confirma, concede ourevoga a tutela provisória é impugnável na apelação”.278
O apelante deve manifestar seu recurso por meio de petição dirigida ao juiz de
primeiro grau, que conterá (art. 1.010):279
os nomes e a qualificação das partes (inciso I);
a exposição do fato e do direito (inciso II);
as razões do pedido de reforma ou de decretação de nulidade (inciso III); e
o pedido de nova decisão (inciso IV).
“A apelação deve ser interposta, obrigatoriamente, por petição, não se po-dendo
considerar tal aquela que é feita por cota lançada em espaço em branco dos autos”.280
A  jurisprudência  tem,  porém,  admitido  a  interposição  do  recurso  por  tele-
grama, desde que  atendidos os  requisitos  legais. E  a Lei nº 9.800, de 26.05.1999,
franqueou, também, o uso de fac-símile (ou “fax”) para todas as petições, inclusive
as dos  recursos, desde que se  faça chegar ao  tribunal, até cinco dias depois do  fim
do  respectivo  prazo,  o  original  da  peça  retransmitida magneticamente  (ver  item  nº
338 do vol. I).
O pedido de nova decisão pode referir-se a um novo pronunciamento de mérito
favorável ao apelante, ou apenas à invalidação da sentença por nulidade. “A falta das
razões do pedido de nova decisão impede o conhecimento da apelação”.281
Quanto  ao  prazo  para  interposição  do  recurso,  o  novo Código,  na  esteira  do
anterior, pôs fim à controvérsia que existia sobre o tema. Não basta ser despa-chada
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a petição dentro do prazo legal. É preciso que o recurso seja protocolado no Cartório
dentro do citado prazo. Se foi submetida a prévio despacho do juiz, é indispensável
que seja entregue em cartório antes do vencimento do prazo de recurso (NCPC, art.
1.003, § 3º).282
Documentos, em regra, só poderão acompanhar a petição da apelação, ou suas
contrarrazões,  quando  se  destinarem  a  provar  fatos  novos,  dentro  da  exceção
permitida pelos arts. 435 e 1.014.283
A doutrina preconizava que “nessa hipótese e somente nela é  lícito ao apelante
que  já  era  parte  no  processo  produzir  documentos  com  a  interposição  do  recurso.
Documentos que se refiram a fatos já alegados perante o órgão a quo devem ter sido
juntos  aos  autos  pelas  partes  nas  oportunidades  próprias,  consoante  as  regras  dos
arts. 434 e 435 do NCPC.284 O  terceiro prejudicado que apela, naturalmente, pode
sempre  instruir  o  recurso  com  os  documentos  de  que  disponha:  visto  que  não  era
parte, não teve qualquer oportunidade anterior de produzir prova, e contra ele não se
operou preclusão”285 (veja-se o nº 732 do vol. I).
A jurisprudência atual, todavia, adota posição mais liberal, entendendo que “as
restrições dos arts. 396 e 397  [NCPC, arts. 434 e 435]  só  se aplicam, a  rigor aos
documentos  tidos  como  pressupostos  da  causa,  de  sorte  que  quanto  aos  demais
podem  ser produzidos a qualquer  tempo, desde que não haja má-fé e  se  respeite a
regra do contraditório”.286
Efeitos da apelação
A apelação tem, ordinariamente, duplo efeito: o devolutivo e o suspensivo.
I – Efeito devolutivo
“A  apelação  devolverá  ao  tribunal  o  conhecimento  da  matéria  impugnada”
(NCPC,  art. 1.013,  caput).287 Visa  esse  recurso  a  obter  um  novo  pronunciamento
sobre a causa, com reforma total ou parcial da sentença do juiz de primeiro grau. As
questões de fato e de direito  tratadas no processo, sejam de natureza substancial ou
processual, voltam a ser conhecidas e examinadas pelo tribunal.
A apelação, no entanto, pode ser parcial ou total, conforme a impugnação atinja
toda a sentença ou apenas parte dela. Sendo parcial, a devolução abrangerá apenas a
matéria impugnada.288
Nem mesmo  a  circunstância  de  se  tratar  de matéria  de  ordem  pública  deve
ensejar  reexame  livre pela  instância  recursal. Se o  tema corresponde a um capítulo
distinto da  sentença e o  recurso ataca apenas outro capítulo, não  se pode deixar de
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reconhecer a  formação de coisa  julgada a  impedir o  rejulgamento pelo Tribunal no
tocante ao que não foi objeto de recurso. A matéria de ordem pública se devolve por
força de profundidade do efeito da apelação, quando figura como antecedente lógico
do  tema  deduzido  no  recurso  e,  quando,  além  disso,  não  esteja  afetada  pela  coisa
julgada.  É  importante  ter  em  conta  que  o  recurso  pode  compreender,  em
profundidade,  matérias  prejudiciais  não  tratadas  na  impugnação  formulada  pelo
recorrente. Não pode, todavia, desempenhar função rescisória diante dos capítulos da
sentença  já  transitados  em  julgado, mesmo  que  esteja  em  jogo  questão  de  ordem
pública,  pois  as  decisões  em  torno  de  questões  dessa  natureza  não  são  imunes  ao
princípio da coisa julgada.
Dentro  do  âmbito  da  devolução,  o  tribunal  apreciará  todas  as  questões  sus-
citadas  e  discutidas  no  processo,  ainda  que  não  tenham  sido  solucionadas  pela
sentença  recorrida, desde que  relativas ao capítulo  impugnado  (art. 1.013, § 1º).289-
290
Em matéria  de  efeito  devolutivo,  portanto,  urge  fazer  uma  distinção  entre  a
extensão e a profundidade da devolução:
(a) A extensão é limitada pelo pedido do recorrente, visto que nenhum  juiz ou
órgão  judicial pode prestar a  tutela  jurisdicional  senão quando  requerida pela parte
(art.  2º);291  por  isso,  o  art.  1.013  afirma  que  a  apelação  devolverá  ao  tribu-nal  a
“matéria impugnada”, o que quer dizer que, em seu julgamento, o acórdão deverá se
limitar a acolher ou rejeitar o que lhe for requerido pelo apelante (por exemplo: se se
requereu  a  reforma  parcial,  não  poderá  haver  a  reforma  total;  se  pediu  a
improcedência da demanda, não se poderá decretar a prescrição, contra a vontade do
apelante;  se pediu apenas a prescrição, não caberá a  improcedência da causa;  se  se
pediu  para  excluir  juros,  não  se  poderá  cancelar  correção monetária  ou multa,  e
assim por diante.
(b)  A  profundidade  abrange  os  antecedentes  lógico-jurídicos  da  decisão
impugnada,  de maneira  que,  fixada  a  extensão  do  objeto  do  recurso  pelo  reque-
rimento formulado pela parte apelante, todas as questões suscitadas no processo que
podem  interferir  assim  em  seu  acolhimento  como  em  sua  rejeição  terão  de  ser
levadas em conta pelo tribunal (art. 1.013, § 1º).292
Nessa ordem de ideias, qualquer que seja o pedido do recorrente, terá sempre o
tribunal  possibilidade  de  examinar  as  questões  pertinentes  aos  pressupostos
processuais  e  às  condições da  ação, visto que  são matérias de ordem pública  con-
dicionadoras  da  formação  e  desenvolvimento  válidos  do  processo,  bem  como  de
1252
qualquer  provimento  jurisdicional  de mérito  (motivo  pelo  qual  são  conhecíveis  e
solucionáveis a qualquer  tempo e grau de  jurisdição, a requerimento de parte ou de
ofício) (art. 485, § 3º).293-294
Não  são, portanto,  apenas  as questões preliminares que  se devolvem  implici-
tamente. São, também, todas as prejudiciais de mérito propostas antes da sentença e
que deveriam influir na acolhida ou rejeição do pedido, ainda que o juiz a quo não as
tenha enfrentado ou solucionado  (art. 1.013, § 1º). É o que se passa, por exemplo,
com a cumulação de pedidos conexos e consequentes. O  juiz, negando o primeiro,
deixa  de  examinar  os  demais.  Recorrendo  a  parte  vencida  e  logrando  reformar  a
sentença para acolher o primeiro pedido,  terá o  tribunal de completar o  julgamento
decidindo  os  demais  pedidos  conexos  prejudicados  pela  decisão  de  primeira
instância.  Por  exemplo:  pedia-se,  originariamente,  a  anulação  do  contrato,  a
condenação  a  perdas  e  danos,  e  restituição  do  bem  negociado,  e  lucros  cessantes.
Como a sentença denegou a anulação, todos os demais pedidos do autor nem sequer
foram  por  ela  cogitados. Ao  tribunal,  porém,  não  é  lícito  limitar  o  julgamento  da
apelação ao tema daanulação. Se entender que é o caso de acolhê-la, terá também de
prosseguir  na  análise  das  outras  pretensões  consequenciais  (perdas  e  danos,
restituição,  lucros  cessantes),  pouco  importando  que  tais  temas  não  tenham  sido
julgados na instância de origem.
Ainda, em matéria de profundidade do efeito devolutivo, o § 2º do art. 1.013295
cuida  do  caso  de  multiplicidade  de  fundamentos  para  o  pedido.  O  juiz  acolheu
apenas  um  e  deu  pela  procedência  da  ação.  Impugnada  a  sentença  em  apelação,  o
tribunal pode reconhecer a procedência do apelo quanto ao fundamento da sen-tença,
mas  deixar  de  dar-lhe  provimento,  porque  a  matéria  não  acolhida  pelo  juiz  de
primeiro  grau  se  apresenta  suficiente  para  assegurar  a  procedência  da  ação.  O
mesmo  pode  acontecer,  também,  com  a  defesa,  quando  se  fundamente  em  razões
múltiplas e seja acolhida em face de apenas uma delas.296
(c) Efeito  translativo: competência originária do  tribunal para  julgar  em  ins-
tância única o mérito da causa
Se o juiz extingue o processo sem julgamento de mérito, naturalmente o objeto
da  sentença  ficou  restrito  a  questão  preliminar. Recorrendo  a  parte  para  impugnar
tão somente o conteúdo do decisório de primeiro grau, não poderia, a nosso ver, o
tribunal, depois de cassada a sentença, passar a julgar o mérito da causa, sem que a
parte o  tivesse  requerido. Aí  já não  se  trataria de  se aprofundar no  julgamento das
questões  que  lhe  foram  devolvidas  pelo  recurso,  mas  de  ampliar  o  seu  objeto,
dando-lhe extensão maior do que lhe emprestara o requerimento da parte.
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Sempre entendemos que era preciso estar atento para não ofender o princípio da
disponibilidade  da  tutela  jurisdicional  e  o  da  adstrição  do  julgamento  ao  pedido
(princípio da congruência).
Entretanto, o § 3º do art. 1.013 permite que o  tribunal, ao  julgar o  recurso de
apelação, decida desde  logo o mérito da causa,  sem aguardar o pronunciamento do
juízo  de  primeiro  grau,  quando:  (i)  reformar  sentença  que  não  tenha  resolvido  o
mérito; (ii) decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites
do  pedido  ou  da  causa  de  pedir;  (iii)  constatar  a  omissão  no  exame  de  um  dos
pedidos;  e  (iv)  decretar  a  nulidade  por  falta  de  fundamentação.  Tal  técnica  se
estendeu  para  o  caso  de  o  tribunal  reformar  a  sentença  que  houver  reconhecido  a
decadência  ou  a  prescrição,  quando  for  possível  o  exame  das  demais  questões
debatidas, sem retorno do processo ao juízo de primeiro grau (art. 1.013, § 4º).297-298
Isso,  porém,  ainda  sob  nosso  ponto  de  vista,  não  queria  dizer  que  a  questão  de
mérito  não  suscitada  na  apelação  pudesse  ser  inserida  de  ofício  pelo  tribunal  no
julgamento do recurso. O objeto do recurso quem define é o recorrente. Sua exten-
são mede-se pelo pedido nele formulado. A profundidade da apreciação do pedido é
que  pode  ir  além  das matérias  lembradas  nas  razões  recursais;  nunca,  porém,  o
próprio objeto do apelo. No entanto, como  já  informamos, o entendimento do STJ,
formado no  regime do Código de 1973, era muito  liberal ao permitir o  julgamento
do mérito no caso ora em apreciação e, ao que parece, o NCPC  inclina-se pela  tese
do  julgamento da  “causa madura”,  sem  expressa  exigência de  esgotamento do pri-
meiro grau de  jurisdição, a seu respeito. Entretanto, continuávamos pensando que a
exegese  da  regra  legal merecia  uma  releitura  em  face  das  normas  fundamentais,
como intentávamos demonstrar no item nº 770 adiante.
(d) Vedação de suscitar  novas questões de fato
Quanto às questões de fato, a regra é que a apelação fica restrita às alegadas e
provadas no processo antes da sentença. O recurso devolve o conhecimento da causa
tal qual foi apreciada pelo juiz de primeiro grau. Pode, todavia, ter ocorrido impos-
sibilidade de suscitação do fato pelo interessado, antes da sentença. Assim provada a
ocorrência de força maior, poderá o apelante apresentar fato novo perante o tribunal
(art. 1.014).299 Caberá, todavia, ao recorrente provar não só o fato como o motivo de
força maior que o impediu de argui-lo no momento processual adequado.300
Não cabe ao juiz a quo interferir na questão do fato novo, nem impedir a subida
do recurso que nele se baseie. A questão será inteiramente apreciada e decidida pelo
tribunal ad quem.
1254
(a)
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
(e) A reformatio in pejus não é admitida, embora omisso o Código. A dou-trina
é uniforme em repelir o julgamento do tribunal que piore a situação do apelante, sem
que tenha a outra parte também recorrido. Como lembra Rogério Lauria Tucci, “não
se  pode  perder  de  vista  que,  tanto  quanto  o  juiz  de  primeira  instância,  o  órgão
colegiado de segundo grau, apesar de  investido dos mesmos poderes para conhecer
do processo e da  lide, não pode manifestar-se sobre o que não constituía objeto do
pedido – do ‘pedido de nova decisão’... e, outrossim, que, com a instituição do apelo
incidental sob a rubrica de recurso adesivo, previsto no art. 500... [NCPC, art. 997],
já não mais pode subsistir qualquer dúvida sobre a vedação da  reforma para pior”,
pois, como observa Barbosa Moreira, “a  função do  recurso adesivo é  justamente a
de levar ao conhecimento do tribunal matéria que, só por força do recurso principal,
não se devolveria”.301 Sobre a parte da sentença que não  foi objeto de  recurso pelo
adversário do apelante, e que even-tualmente poderia ser alterada em prejuízo deste,
incidiu  a  coisa  julgada,  diante  de  inércia  daquele  a  que  a  reforma  da  sentença
favoreceria. Assim, não há que  se pensar  em  reformatio  in pejus,  já que qualquer
providência dessa natureza esbarraria na res iudicata.
II – Efeito suspensivo
A  apelação  normalmente  suspende  os  efeitos  da  sentença,  seja  esta  condena-
tória, declaratória ou constitutiva. “Efeito suspensivo, assim, consiste na suspensão
da eficácia natural da sentença, isto é, dos seus efeitos normais”.302
Via  de  regra,  a  apelação  tem  o  duplo  efeito  suspensivo  e  devolutivo.  Há
exceções, no entanto. O § 1º do art. 1.012303 enumera seis casos em que o efeito de
apelação  é  apenas  devolutivo,  de  maneira  que  é  possível  a  execução  provisória
enquanto estiver pendente o recurso. Assim, será recebida só no efeito devolutivo a
sentença que:
homologa a divisão ou demarcação de terras (inciso I);
condena a pagar alimentos (inciso II);
extingue  sem  resolução do mérito ou  julga  improcedentes os embargos do
executado (inciso III);
julga procedente o pedido de instituição de arbitragem (inciso IV);
confirma, concede ou revoga tutela provisória (inciso V);
decreta a interdição (inciso VI).
Mesmo  nas  hipóteses  expressamente  previstas  em  que  a  apelação  tem  efeito
1255
(a)
(b)
768.
apenas devolutivo, diante das particularidades da causa, demonstrando o apelante a
probabilidade  de  provimento  do  recurso,  evidenciada  pela  relevância  de  sua  fun-
damentação,  e havendo  risco de dano grave ou de difícil  reparação, pode o  relator
determinar  a  suspensão  da  eficácia  da  sentença  (art.  1.012,  §  4º).304 Para  tanto,  o
apelante formulará o requerimento em petição separada, com a seguinte destinação:
o pedido será dirigido ao tribunal, se feito no período compreendido entre a
interposição  da  apelação  e  sua  distribuição. Nessa  hipótese,  será  sorteado
um relator para apreciá-lo, ficando ele prevento para a apelação;
endereçar-se-á  ao  relator  da  apelação,  se  já  distribuída  no  tribunal  (art.
1.012, § 3º).305
O pedido de  suspensão  terá de demonstrar:  (i) a probabilidade de provimento
do recurso; e (ii) a ocorrência de risco de “dano grave ou de difícil reparação” (§ 4º).
Em outros termos, caberá ao apelante demonstrara configuração do fumus boni iuris
e do periculum in mora, em grau que não permita aguardar o normal julgamento do
recurso.
Nos  casos  em  que  a  apelação  não  é  recebida  no  efeito  suspensivo,  o  apelado
poderá  promover  o  pedido  de  cumprimento  provisório  do  julgado,  logo  após  a
publicação da sentença (art. 1.012, § 2º).306
Questão relevante a respeito do efeito devolutivo da apelação
contra sentença terminativa
Conforme visto no item nº 767 retro, o § 3º do art. 1.013 do NCPC, a exemplo
do  que  já  ocorria  no Código  de  1973  (art.  515,  §  3º),  permite  que  o  tribunal,  ao
julgar o  recurso de apelação, decida desde  logo o mérito da causa,  sem aguardar o
pronunciamento  do  juízo  de  primeiro  grau,  quando:  (i)  reformar  sentença que não
tenha  resolvido  o  mérito;  (ii)  decretar  a  nulidade  da  sentença  por  não  ser  ela
congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir (sentenças ultra ou extra
petita);  (iii)  constatar  a  omissão  no  exame  de  um  dos  pedidos;  e  (iv)  decretar  a
nulidade por  falta de  fundamentação. Essa  técnica  também se estendeu para o caso
de  o  tribunal  reformar  a  sentença  que  houver  reconhecido  a  decadência  ou  a
prescrição, quando for possível o exame das demais questões debatidas, sem retorno
do processo ao juízo de primeiro grau (art. 1.013, § 4º).
O novo Código, destarte, ampliou a possibilidade de  julgamento de mérito da
causa pelo tribunal, bastando que esta esteja “em condições de imediato julgamento”.
1256
É  o  que  se  costuma  chamar  de  “causa madura”,  entendida  como  tal  aquela  cujo
objeto  já  foi suficientemente debatido na  instância de origem, mesmo que nela não
se tenha decidido o mérito.
Não basta, portanto, que a questão de mérito a decidir seja apenas de direito; é
necessário que o processo esteja maduro para a solução do mérito da causa. Mesmo
que não haja prova a ser produzida, não poderá o Tribunal enfrentá-lo no julgamento
da  apelação  formulada  contra  a  sentença  terminativa,  se  uma  das  partes  ainda  não
teve  oportunidade  processual  adequada  para  debater  a  questão  de mérito.  Estar  o
processo  em  condições  de  imediato  julgamento  significa,  em  outras  palavras,  não
apenas envolver o mérito da causa questão só de direito que se deve levar em conta,
mas  também  a necessidade de  cumprir o  contraditório. Tomem-se  como  exemplos
os  casos  de  extinção  por  indeferimento  da  inicial,  ou  os  ocorridos  na  fase  de
saneamento antes de completar o debate sobre o mérito e sobre as provas cabíveis.
Em casos como estes, obviamente, o processo não  terá ainda alcançado o momento
apropriado  para  o  julgamento  do mérito.  Os  autos  terão  de  retornar  ao  juízo  de
origem a fim de que o debate e a instrução probatória se completem.
Se,  todavia, o debate  amplo  já  se deu  em primeiro grau  entre os  litigantes, o
Tri-bunal estará em condições de  julgar o mérito, e deverá  fazê-lo, sempre que  for
afastada a preliminar causadora da sentença  terminativa, e que a parte  interessada o
requeira.
Nisso não há ofensa à garantia do duplo grau de  jurisdição, mesmo porque  tal
garantia  não  é  absoluta  nem  figura  expressamente  entre  as  que  a  Constituição
considera inerentes ao devido processo legal.307
O NCPC  incluiu, expressamente, em  tal possibilidade, as sentenças  incomple-
tas, como as citra petita e as que acolhem preliminar de mérito, sem solucionar as
demais questões de fundo propostas pelas partes (art. 1.013, § 3º, II). Se o tribunal
está autorizado a  julgar o mérito da causa, quando o  juiz extingue o processo  sem
apreciá-lo,  razão  não  há  para  impedi-lo  de  assim  agir  quando  o  juiz  tenha  senten-
ciado  apenas  sobre  parte  das  questões  de  fundo.  O  fim  de  economia  processual
justificador da regra do art. 1.013, § 3º, está tão presente no caso da apelação contra
sentença terminativa quanto na sentença definitiva parcial ou incompleta.
A regra estatuída pelo § 3º do art. 515 do CPC/1973, e mantida no § 3º do art.
1.013 do NCPC,  tem sido estendida analogicamente pelo STJ ao recurso ordinário,
no  caso  de  extinção  de  mandado  de  segurança  de  competência  originária  dos
tribunais de segundo grau de jurisdição.308 O STF, todavia, entende não ser aplicável
1257
769.
(a)
(b)
770.
a  medida  ao  recurso  ordinário  interposto  contra  acórdão  do  STF  em  relação  a
mandado  de  segurança,  para  prestigiar  a  competência  definida,  na  espécie,  no
próprio texto constitucional, evitando-se, assim, o salto de grau de jurisdição.309
Questão de fato e questão de direito
No regime do Código de 1973, para o mecanismo de  julgamento pelo  tribunal
sobre  o  mérito  ainda  não  resolvido  na  primeira  instância,  estabeleciam-se  dois
requisitos (art. 515, § 3º):
versar a causa apenas sobre questão de direito; e
processo maduro para julgamento de mérito.
Se houvesse instrução probatória, mesmo encerrada, não se aplicaria, portanto,
a regra do art. 515, § 3º. Haveria questão de fato a acertar, mediante apreciação do
quadro  probatório  controvertido.  Instalou-se,  entretanto,  divergência  a  respeito  da
possibilidade  de  considerar-se  questão  de  direito  aquela  estabelecida  na  causa  em
que a instrução probatória já se completara (causa madura). Para o STJ, finalmente,
na aplicação do § 3º do art. 515, “caso propiciado o contraditório e a ampla defesa,
com  regular e completa  instrução do processo, deve  [o  tribunal]  julgar o mérito da
causa, mesmo que para tanto seja necessária apreciação do acervo probatório”.310
O NCPC  não  repetiu  o  requisito  da  questão  de  direito, mantendo,  apenas,  a
necessidade de o processo estar “em condições de imediato julgamento” (art. 1.013,
§ 3º). Com isso, superada restou a divergência, prevalecendo a orientação já traçada
pelo STJ.
Vinculação do tribunal ao dever de julgar o mérito na hipótese
do § 3º do art. 1.013
À  época  do Código  de  1973,  o  §  3º  do  art.  515  dizia  que  naqueles  casos  “o
tribunal  pode  julgar  desde  logo  a  lide”.  A  inserção,  de  imediato,  gerou  séria
polêmica  entre  os  processualistas:  ao  falar  a  lei  em  “poder”  o  Tribunal,  no
julgamento da  apelação  contra  a  sentença  terminativa,  enfrentar o mérito da  causa,
estar-se-ia criando uma faculdade ou um dever para o juízo de segundo grau?
O  entendimento predominante  era no  sentido de poder-se  extrair  as  seguintes
conclusões: (i) o  referido dispositivo não criou  simples  faculdade para o Tribunal,
que  tem o dever de enfrentar o mérito da causa, quando configurados os  requisitos
1258
legais para tanto; (ii) o julgamento de mérito, no entanto, deveria ser pleiteado pelo
recorrente,  para  que  se  tornasse  objeto  da  devolução  operada  pela  apelação  ao
Tribunal ad quem.
O novo CPC aderiu à exegese dominante, uma vez que dispôs, expressamente,
no  §  3º  do  art.  1.013,  que,  “se  o  processo  estiver  em  condições  de  imediato
julgamento,  o  tribunal  deve  decidir  desde  logo  o mérito”. Não  obstante,  é  de  se
ressaltar o prestígio que o NCPC dedica aos princípios constitucionais do processo,
enunciados com ênfase no rol de suas normas fundamentais, onde merecem destaque
o princípio dispositivo  (art. 2º) e a garantia do contraditório efetivo  (arts. 9º e 10).
Com isso, veda o julgamento sobre questões não propostas pela parte e as decisões
sobre  questões  não  previamente  submetidas  à  audiência  de  ambas  as  partes,  bem
como as decisões com base em fundamento a respeito do qual não se lhes tenha dado
oportunidade de se manifestar, ainda quando se trate de matéria sobre a qual se deva
decidir de ofício.
Ora,  se  a  parte  vencida  recorre  pedindo  apenas  a  anulação  ou  cassação  da
sentença que extinguiu o processo sem apreciação do mérito, não nos parecelícito ao
tribunal o enfrentamento de questão de mérito que não  tenha  integrado o pedido do
recorrente e, por isso, não tenha passado pelo contraditório da apelação.311
Deve-se  ressaltar, sempre, que “a devolutividade da apelação e, de  resto, a de
qualquer recurso é definida pela parte recorrente”.312 Se a profundidade com que se
examinam as questões recursais é definida pela  lei (art. 1.013, § 1º), a extensão do
efeito devolutivo cabe exclusivamente à parte. “A extensão é,  repita-se,  fixada pelo
recorrente,  nas  razões  de  seu  apelo”.313 A  lei,  aliás,  exige  que  da  petição  recursal
conste  o  “pedido  de  nova  decisão”  e  “a  exposição  do  fato  e  do  direito”,  que  o
justifiquem (CPC, art. 1.010, II e IV).
Daí por que “o Tribunal, concordando ser caso de análise do mérito, somente
poderá dele conhecer após dar provimento ao apelo na parte que impugna a sentença
termi-nativa,  na  hipótese  de  o  apelante  requerê-lo  expressamente  em  suas  razões
recursais”.314
Ao  se  atribuir  ao  Tribunal,  em  exegese  ao  §  3º  do  art.  1.013,  o  poder  de
proferir decisão de mérito sobre tema (o mérito) que não foi objeto de requerimento
e  de-bate  no  procedimento  recursal,  estar-seá  afrontando  direito  das  partes,
sobretudo do litigante que vier a experimentar derrota.315
Em  sentido  contrário, pensa Cândido Dinamarco que o Tribunal, mesmo  jul-
gando o mérito  sem pedido do apelante e contra  sua posição no  litígio, não haverá
1259
770-A.
(a)
“quebra do due process of law, nem exclusão do contraditório, porque o julgamento
feito pelo Tribunal incidirá sobre o processo precisamente no ponto em que incidiria
a  sentença  do  juiz  inferior”.316  É  certo  que,  já  estando  maduro  o  processo  para
sentença de mérito, o retorno dos autos para que o juiz de primeiro grau decidisse o
mérito, não  se  reabrirá  instrução e debate no  juízo a quo. Mas a parte sucumbente
terá opor-tunidade de  rediscutir  a  causa perante o  tribunal,  enriquecendo o debate,
com nova argumentação. É certo,  também, que o duplo grau de  jurisdição pode ser
suprimido  pela  lei. Mas  isto  deverá  ser  feito  por  dispositivo  expresso  e  de  fundo
razoável. Não  é  aceitável,  todavia,  que  podendo  o  apelante  definir  a  extensão  do
recurso, venha o Tribunal a decidir questão que  intencionalmente a parte recorrente
não  quis  incluir  na  devolução  recursal.  Cabendo-lhe  o  poder  legal  de  fixar  o
conteúdo da apelação  (art. 1.013, caput), não é de aplicar-se o § 3º do mesmo art.
1.013,  quando  o  recurso  contra  a  sentença  terminativa  não  contenha  pedido  de
apreciação do mérito da causa.
Mais benemérita de acolhida se me afigura a  lição do próprio mestre Cândido
Dinamarco quando recomenda, em princípio, o prevalecimento da disposição contida
no art. 1.013 caput, em  relação  também aos casos  regidos por  seu § 3º “em nome
das  razões  sistemáticas  inerentes  à  regra  da  correlação  entre  a  decisão  e  o  pedido
(arts.  128  e  460)  [NCPC,  arts.  141  e  492]”.317 Releva  notar,  porém,  que  a Corte
Especial  do  STJ  enfrentou  e  solucionou  a  divergência  instalada  entre  a  2ª  e  a  4ª
Turma, assentando que “a regra do art. 515, § 3º, do CPC [NCPC, art. 1.013, § 3º]
deve  ser  interpretada  em  consonância  com  a preconizada pelo  art. 330,  I, do CPC
[NCPC, art. 355,  I],  razão pela qual, ainda que a questão seja de direito e de  fato,
não havendo necessidade de produzir prova (causa madura), poderá o Tribunal julgar
desde  logo  a  lide,  no  exame  da  apelação  interposta  contra  a  sentença  que  julgara
extinto o processo sem resolução de mérito”.318
Posição consolidada do STJ
Através de  julgamento da Corte Especial, o STJ consolidou seu entendimento
acerca da apelação contra sentença terminativa pronunciada diante de “causa madura”
para  enfrentamento  do mérito,  de  forma  originária  pelo  tribunal  de  segundo  grau.
Superando  todas  as  objeções  doutrinárias  lembradas  nos  itens  767  e  770,  retro,
aquela Alta Corte firmou as seguintes teses:319
“A novidade representada pelo § 3º do art. 515 do Código de Processo Civil
[§  3º  do  art.  1.013  do NCPC]  nada mais  é  do  que  um  atalho,  legitimado
1260
(b)
(c)
(d)
(e)
(f)
771.
pela  aptidão  a  acelerar  os  resultados  do  processo  e  desejável  sempre  que
isso for feito sem prejuízo a qualquer das partes”.
A medida “constituiu mais um  lance da  luta do  legislador contra os males
do  tempo e representa a ruptura com um velho dogma, o do duplo grau de
jurisdição,  que  por  sua  vez  só  se  legitima  quando  for  capaz  de  trazer
benefícios, não demoras desnecessárias”.
“Diante da  expressa possibilidade de o  julgamento da  causa  ser  feito pelo
tribunal  que  acolher  a  apelação  contra  sentença  terminativa,  é  ônus  de
ambas  as partes prequestionar  em  razões ou  contrarrazões  recursais  todos
os pontos que depois pretendam  levar ao Supremo Tribunal Federal ou ao
Superior Tribunal de Justiça. Elas o farão, do mesmo modo como fariam se
a apelação houvesse sido interposta contra uma sentença de mérito.”
Constando  o  sistema  de  norma  expressa  do  direito  positivo,  em  sua
observância  “não  se  vislumbra  o  menor  risco  de  mácula  à  garantia
constitucional do due process of law, porque a  lei é do conhecimento geral
e a ninguém aproveita a alegação de desconhecê-la, ou de não ter previsto a
ocorrência de fatos que ela autoriza (LICC, art. 3º)”.
“A doutrina admite aplicação do art. 515, § 3º, do CPC [art. 1.013, § 3º, do
NCPC] aos Agravos de Instrumento.”
“Por  fim,  de  essencial  relevância  destacar  que  a  jurisprudência  do  STJ
admite a não aplicação da  teoria da causa madura quando for prejudicada a
produção de provas pela parte de forma exauriente.”
Prescrição e decadência
À época do Código de 1973, a inovação do § 3º do art. 515 eliminava, de vez,
uma controvérsia que de  longa data  se mantinha na  jurisprudência. Questionava-se
sobre a extensão do efeito devolutivo no caso de a  sentença apelada  ter acolhido a
prescrição  ou  a  decadência.  Havia  uma  corrente  mais  volumosa  que  negava  ao
Tribunal a possibilidade de, afastada a prejudicial extintiva, prosseguir no exame de
mérito ainda não decidido em primeira instância,320 para não violar o duplo grau de
jurisdição.
A corrente minoritária, contudo, decidia que, sendo de mérito o  julgado acerca
da  prescrição  ou  da  decadência,  os  juízes  do  recurso,  ao  rejeitar  a  prejudicial,
poderiam prosseguir ao julgamento da causa.321
Após a Lei nº 10.352, de 26.12.2001, o dissídio perdeu a  razão de ser. Se até
1261
772.
no  caso  de  decisão  terminativa  o  julgamento  da  apelação  poderia  avançar  sobre  o
mérito ainda não  julgado no  juízo de origem, com muito mais  razão  seria possível
fazê-lo  diante  da  reforma  das  sentenças  baseadas  em  prejudicial  de  prescrição  e
decadência, que já pertencem ao mérito da causa.322
O  novo  Código  reforçou  esse  entendimento  esposado  ao  tempo  do  Código
anterior,  estabelecendo  no  §  4º  do  art.  1.013:  “quando  reformar  sentença  que
reconheça  a  decadência  ou  a  prescrição,  o  tribunal,  se  possível,  julgará  o mérito,
examinando as demais questões, sem determinar o  retorno do processo ao  juízo de
primeiro grau”.
Naturalmente,  será  necessário  atentar  para  o  estágio  do  processo  em  que  se
acolheu a prejudicial, bem como sobre a necessidade de provas ainda por colher para
se examinar o restante das questões de mérito. A causa pode ainda não se encontrar
madura para julgamento dessas novas questões. A lei prevê acolhida da prescrição e
da decadência até na decisão de  indeferimento da petição  inicial. Em qualquer caso
de aplicação do § 4º do art. 1.013 o Tribunal  terá de  ficar atento para não violar o
contraditório  e  nãoimpedir  o  direito  das  partes  à  ampla  defesa. Nesse  sentido,  é
importante ressaltar que o NCPC previu, na hipótese de rejeição da prescrição e da
decadência, o julgamento do mérito pelo tribunal, “se possível”, e não genericamente
em qualquer hipótese.
A apelação e as nulidades sanáveis do processo
A Lei nº 11.276, de 07.02.2006, à época do Código anterior, acrescentou o § 4º
do  art.  515  para  tentar  salvar  as  sentenças  afetadas  por  nulidades  processuais
sanáveis. Previa o dispositivo que, “constatando a ocorrência de nulidade sanável, o
tribunal poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as
partes;  cumprida  a  diligência,  sempre  que  possível  prosseguirá  o  julgamento  da
apelação”.
O  novo  CPC  repetiu  o  dispositivo,  ampliando  sua  aplicação  para  qualquer
recurso  ou  processo  de  competência  originária  do  tribunal,  uma  vez  que  a  regra
correspondente  está  localizada  no  Capítulo  referente  à  ordem  dos  processos  no
tribunal. Dispõe o § 1º do art. 938 que, “constatada a ocorrência de vício  sanável,
inclusive aquele que possa ser conhecido de ofício, o relator determinará a realização
ou  a  renovação  do  ato  processual,  no  próprio  tribunal  ou  em  primeiro  grau  de
jurisdição,  intimadas  as  partes”.  E  o  §  2º  determina  que,  cumprida  a  diligência,
sempre que possível, o relator prosseguirá no julgamento do recurso.
1262
773.
A  diligência  funda-se  no  princípio  de  economia  processual.  Preocupa-se  em
evitar a anulação de sentenças ou de  recursos, quando o vício detectado mostrar-se
sanável. Em  lugar  de  frustrar  o  recurso  com  a  imediata  decretação  de  nulidade,  o
tribunal  converterá  o  julgamento  em  diligência,  determinando  a  realização  do  ato
faltante  ou  a  renovação  do  ato  defeituoso,  intimando-se  as  partes  para  as
providências cabíveis.323
Somente se não for sanada a nulidade é que seu pronunciamento será feito pelo
tribunal. Superado o defeito, o  recurso será apreciado normalmente em seu mérito.
Sempre  que  possível,  portanto,  serão  evitados  a  invalidação  e  o  retrocesso  do
processo a estágios anteriores à sentença, com repetição de atos e decisões no juízo
de origem.
As  nulidades  sanáveis  de  que  cogita  o  §  2º  do  art.  938  tanto  podem  ser
suscitadas pela parte como conhecidas de ofício pelo tribunal. O que importa é a sua
sanabilidade,  a  tempo  de  salvar  a  sentença,  para  seu  reexame  no  julgamento  do
recurso que já alcançou o tribunal.
Alguns  exemplos  de  nulidades  sanáveis:  havendo  litisconsórcio  necessário,  a
sentença ou o recurso foram intimados apenas a um ou alguns deles; o advogado que
subscreveu  o  recurso  não  juntou  o  competente  substabelecimento;  o  preparo  do
recurso ficou  incompleto, mas o apelante não foi  intimado a completá-lo; o recurso
subiu  sem  ter  dado  oportunidade  ao  apelado  para  contrarrazões;  o  apelado  juntou
documento novo às contrarrazões sem ouvida do apelante; a apelação foi processada
sem que o juiz decidisse os embargos declaratórios tempestivamente interpostos etc.
Tutela provisória e o efeito suspensivo da apelação
Ao  elenco  dos  casos  em  que  a  apelação  não  tem  efeito  suspensivo  (NCPC,
art.  1.012),324  destaca-se  o  inciso  V,  que  contempla  a  sentença  que  “confirma,
concede ou revoga tutela provisória”.
Isso quer dizer que, existindo medida provisória  (conservativa, cautelar ou de
evidência)  já deferida nos moldes dos  arts. 300  e 311,  e que venha  a  ser mantida
pela sentença, a apelação terá de ser recebida apenas no efeito devolutivo, de maneira
a não pôr em dúvida a subsistência do provimento antecipatório.
O texto do art. 1.012, V, cogita da sentença que confirma, concede ou revoga a
tutela provisória. Mas não deve ser diferente o efeito da apelação em caso de a tutela
ser deferida na própria sentença. Uma vez que a tutela provisória não tem momento
prefixado em lei para deferimento, e pode acontecer em qualquer fase do processo e
1263
774.
em qualquer grau de jurisdição, não há motivo para negar ao juiz a possibilidade de
decidi-la  em  capítulo  da  própria  sentença,  desde  que  o  faça  apoiado  nos  seus
pressupostos. E, se a sentença for expressa a respeito de tal provimento, a apelação
acaso manejada haverá de ser recebida apenas no efeito devolutivo.
À época do Código anterior,  já havia  jurisprudência sobre a possibilidade de a
sentença  conter  capítulos  distintos  para  o  mérito  e  a  antecipação  de  tutela.325  O
inconveniente, não enfrentado pelo  legislador,  situava-se no aspecto dos efeitos da
apelação,  ora  devolutivo  e  suspensivo,  ora  apenas  devolutivo,  questão  essa  que
desapareceu  diante  da  inserção  do  inciso VII  no  art.  520  do  CPC/1973,  que  foi
repetido no inciso V do art. 1.012 do NCPC.326 Em qualquer caso, portanto, em que
a  sentença mantenha  (ou  defira  ou  revogue)  a  tutela  provisória,  a  apelação  não  a
suspenderá.
Não  se há, contudo, de pensar que, doravante, o  simples  fato de o  juiz  julgar
procedente uma demanda  já o  autoriza,  imediatamente,  a deferir  a  antecipação dos
efeitos  da  sentença,  sem  aguardar  o  julgamento  da  apelação  eventualmente
interposta.  Em  qualquer  circunstância  em  que  se  atenda  a  requerimento  da  tutela
provisória, ter-seá sempre de observar os requisitos dos arts. 300 e 311.
Recebimento da apelação
I – Pelo juiz de primeiro grau
A  petição  da  apelação  é  dirigida  ao  juiz  prolator  da  sentença  impugnada. No
sistema do Código anterior, ao recebê-la deveria o juiz declarar os efeitos do recurso
(art. 518). O novo Código alterou profundamente essa sistemática, uma vez que ao
juiz  de  primeiro  grau  coube,  apenas,  processar  o  recurso,  abrindo  vista  à  parte
contrária para contrarrazoar. Depois de  realizada essa  formalidade, “os autos  serão
remetidos ao tribunal pelo juiz, independentemente do juízo de admissibilidade” (art.
1.010, § 3º).327
O  recebimento da apelação e a declaração de seus efeitos, portanto, são  feitos
única e exclusivamente pelo tribunal ad quem.
Assim,  interposta  a  apelação,  o  juiz  intimará  o  apelado  para  apresentar  con-
trarrazões,  no  prazo  de  quinze  dias  (art.  1.010,  §  1º).328 Se o  recorrido  interpuser
apelação  adesiva,  o  apelante  será  intimado  para  apresentar  resposta  (art.  1.010,  §
2º).329 Realizadas essas formalidades, o juiz remeterá os autos ao tribunal (§ 3º).
Convém lembrar que uma vez prolatada a sentença e interposto o recurso, o juiz
não  tem, em  regra, como  rever ou modificar o  julgado.330 Todavia, casos especiais
1264
775.
há  em  que  o  próprio  código  permite  o  juízo  de  retratação,  como,  v.g.,  o  do
indeferimento da petição inicial (art. 331 e § 1º)331 e o da improcedência liminar do
pedido (art. 332, § 3º)332 (a respeito dessa sistemática, ver itens nos 564 a 568 do v.
I).
II – Pelo tribunal ad quem
Recebido o  recurso no  tribunal,  será ele  imediatamente distribuído ao  relator,
que deverá: (i) pronunciar-se sobre sua admissibilidade, ou não, e seus efeitos (arts.
932,  III, e 1.012, § 3º,  II);  (ii) decidi-lo monocraticamente,  se  for o caso; ou,  (ii)
elaborar  seu voto para  julgamento do  recurso pelo órgão  colegiado  (art. 1.011).333
Sobre as hipóteses em que o relator poderá julgar monocraticamente a apelação, veja
o item nº 606, retro.
Da decisão do  relator que  admite ou não o  recurso, ou que o  julga monocra-
ticamente, caberá agravo interno para o colegiado (art. 1.021).
Quanto  aos  efeitos  do  recurso,  omitindo  o  relator  declaração  a  respeito,  a
decisão que recebe a apelação deve ser tida como portadora do duplo efeito legal.334
Já se decidiu que “julgados pela mesma sentença ações conexas, uma comportando
recurso em seus dois efeitos,outra no devolutivo apenas, será aplicável o princí-pio
processual  do  maior  benefício  e,  assim,  atribuído  a  tal  recurso,  para  ambas  as
demandas,  também  o  efeito  suspensivo”.335  No  entanto,  é  mais  razoável  a  tese
segundo  a  qual  nada  impede  que  uma  decisão  recorrida  se  submeta  por  partes  a
efeitos recursais distintos. Assim, se numa só sentença são  julgadas duas causas, o
recurso  interposto  pode  suspender  o  efeito  dado  a  uma  delas  e  não  o  fazer  em
relação  a  outra,  se  diversa  é  a  eficácia  particular  que  a  lei  prevê  para  as  duas
situações congregadas: deferida, por exemplo, tutela provisória e julgada procedente,
ao mesmo tempo, a ação principal, a apelação única suspenderá a execução da parte
relativa ao mérito da causa, mas não impedirá a efetivação da medida preventiva.336
A irrecorribilidade da sentença proferida em conformidade com
súmula do STJ ou do STF
À época do Código anterior, a Lei nº 11.276, de 07.02.2006, acrescentou o § 1º
ao art. 518 do CPC/1973, adotando o princípio da denominada  súmula  impeditiva,
segundo o qual “o juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver
em  conformidade  com  súmula  do  Superior  Tribunal  de  Justiça  ou  do  Supremo
Tribunal Federal”.337
A Exposição de Motivos do Ministro da Justiça, que acompanhou a proposta de
1265
alteração  do  art.  518  do CPC/1973,  a  justificou  como  uma  adequação  salutar  que
contribuiria para a redução do número excessivo de impugnações sem possibilidade
de êxito. Trata-se da figura que se  tornou conhecida na  linguagem processual como
“súmula  impeditiva” e que guarda uma certa simetria com a orientação da “súmula
vinculante”, preconizada pela Emenda Constitucional nº 45, de 30.12.2004.
Essa  regra não  foi mantida pelo novo CPC, mas  foi substituída pelos amplos
poderes  dados  ao  relator  no  tribunal,  dentre  os  quais  se  inclui  o  de  decidir
monocraticamente os recursos, para dar ou negar-lhes provimento, quando a decisão
recorrida  ou  o  apelo  forem  contrários  a  súmulas  do  STJ,  STF  ou  do  próprio
tribunal;  ou  a  acórdãos  proferidos  pelo  STJ  e  STF  em  julgamento  de  recursos
repetitivos;  bem  como  a  entendimento  firmado  em  incidente  de  resolução  de
demandas repetitivas ou de assunção de competência (NCPC, art. 932, IV e V).
O  raciocínio determinante  é no  sentido de que,  se  se  admite que uma  súmula
vincule  juízes  e  tribunais,  impedindo-os  de  julgamento  que  a  contrarie,  válido  é,
também,  impedir  a  parte  de  exigir,  invariavelmente,  que  a  apelação  seja  sempre
julgada  pelo  órgão  colegiado  de  segunda  instância.  O  que  se  destaca  é  a  grande
relevância  que  o NCPC  confere  à  jurisprudência  sumulada  pelos  dois mais  altos
tribunais do país. Nos dois casos está em jogo o mesmo valor, qual seja, o prestígio
da Súmula do STJ e do STF pela ordem jurídica.
Afinal, a regra dos incisos IV e V do art. 932 do NCPC não é nada mais do que
a previsão de uma hipótese de sumarização do regime do duplo grau de jurisdição. É
bom  lembrar que o  trancamento ou o provimento da apelação pelo  relator,  in casu,
pressupõe  inteira  fidelidade  da  sentença  à  súmula  do STJ,  do STF  ou  do  próprio
tribunal. É preciso que a decisão seja toda ela assentada na súmula, e não apenas em
parte, de modo que  se esta  serviu  tão  só de argumento utilizado pelo  sentenciante,
para  solucionar  parte  das  questões  deduzidas  no  processo,  havendo  outros  dados
influentes  na  motivação  do  julgado,  não  será  o  caso  de  julgar  o  recurso
monocraticamente. Fora do  tema da súmula,  restariam questões passíveis de ampla
discussão recursal, sem risco de contradizer a matéria sumulada.
Quanto à hipótese de equívoco do relator em considerar a sentença adequável ao
entendimento da súmula, não acarretará ele uma irremediável supressão do direito da
parte de  acesso  ao  colegiado. É que,  segundo o  art. 1.021 do NCPC,  cabe  agravo
interno contra a decisão monocrática proferida pelo relator.
Mediante o  adequado manejo do  agravo  interno, portanto,  a parte prejudicada
pela  equivocada  aplicação  de  súmula  para  sumarizar  a  decisão  de  segundo  grau,
1266
776.
777.
encontraria  remédio  eficiente  para  corrigir  o  error   in  iudicando  cometido
monocraticamente pelo relator e fazer chegar o apelo ao exame do órgão colegiado.
Juízo de retratação: reexame da matéria decidida na sentença
apelada por ato de seu próprio prolator
Publicada a sentença, tem-se como encerrada a tarefa de acertamento a cargo do
juiz. Torna-se, por isso, inalterável o decisório por ato do respectivo julgador, a não
ser que haja  erro material ou de  cálculo  a  corrigir ou que  tenham  sido  interpostos
embargos  de  declaração  para  eliminar  obscuridade,  contradição  ou  omissão  da
sentença (art. 494 do NCPC).338 A possibilidade de reforma do conteúdo do julgado
depende de interposição do recurso de apelação e somente competirá ao Tribunal de
segundo grau,  em  regra. O  efeito devolutivo do  recurso, na  espécie,  redundará  no
deslocamento da causa para o órgão judicante hierarquicamente superior. A apelação,
de regra, é um recurso reiterativo, e não iterativo.
Há, no entanto, alguns casos excepcionais em que,  interposta a apelação, a  lei
abre oportunidade ao juiz para rever sua sentença, podendo, assim, impedir a subida
do processo ao tribunal. Quando, por exemplo, a decisão consistir em indeferimento
da  petição  inicial,  o  art.  331  do  NCPC339  faculta  ao  juiz,  diante  da  apelação
formulada  pelo  autor,  reformar  sua  própria  sentença,  no  prazo  de  cinco  dias.
Somente se o  juízo de retratação não ocorrer é que os autos serão encaminhados ao
tribunal. Se o juiz se retratar, a apelação ficará sem objeto.
Também  na  hipótese  de  processos  seriados,  em  que  o  juiz  é  autorizado  a
proferir sentença de improcedência in limine litis do pedido, antes mesmo da citação
do  réu  (art. 332),340 há previsão  legal de que, ocorrendo  apelação do  autor,  terá o
juiz  a  faculdade  de,  em  cinco  dias,  “retratar-se”.  Nesse  caso,  determinará  o
prosseguimento do processo (art. 332, §§ 3º e 4º).341
Por  fim, o NCPC  também admitiu a  retratação do  juiz na apelação  interposta
contra a decisão que  julga o processo,  sem  resolução de mérito  (art. 485, § 7º).342
Trata-se, pois, de mais um caso em que o  juízo de  retratação em primeiro grau  se
torna possível, no curso da apelação.
Deserção
Denomina-se  deserção  o  efeito  produzido  sobre  o  recurso  pelo  não
cumprimento do requisito do preparo no prazo devido. Sem o pagamento das custas
devidas, o  recurso  torna-se descabido, provocando a coisa  julgada sobre a sentença
1267
778.
apelada.343
O art. 1.007 do NCPC344 abrandou o rigor da deserção, admitindo, inclusive, o
pagamento  em  dobro  do  preparo  e  do  porte  de  remessa  e  retorno,  quando  o
recorrente interpuser o recurso sem o seu devido recolhimento (§ 4º) (sobre o tema,
ver item nº 752 retro).
Segundo a sistemática atual, que retirou do juiz de primeiro grau a competência
para realizar, em  toda a extensão, o  juízo de admissibilidade da apelação, caberá ao
relator a decretação ou não da deserção. Poder-se-ia argumentar que, para as partes,
seria mais  fácil  que  a  análise  e  o  saneamento  da  falta  ou  deficiência  do  preparo
ficasse a cargo do  juiz a quo e, não, do relator. A  lei, no entanto, não excepcionou
nenhuma parcela do juízo de admissibilidade, relegando-o, por completo, à instância
superior. Se fosse dado ao juiz inadmitir o recurso por deserção, também teria de ser
competente  para  indeferi-lo  nos  casos  de  intempestividade  ou  de  manifesto
descabimento. Ademais,  com  a  adoção do protocolo  integrado  (art. 929, parágrafo
único), a parte não teria maior dificuldadeem regularizar o recolhimento do preparo
e  do  porte  de  remessa  e  retorno,  já  que  poderia  fazê-lo  na  comarca  de  origem  e
encaminhar  o  comprovante  ao  tribunal,  sem  necessidade  de  deslocamento  do
advogado para a capital. Por outro  lado, ao se  tolerar que o  juiz pudesse decretar a
deserção, estar-se-ia num dilema grave, pois o Código não prevê recurso contra essa
espécie de decisão,  já que não a menciona no rol do art. 1.015, e  tampouco haveria
como o apelante suscitar o questionamento em preliminar de apelação (art. 1.009, §
1º), afinal, a decisão, na espécie, seria ato posterior àquele recurso.
Prazo para interposição da apelação
O prazo  legal  é de quinze dias,  tanto para  apelar  como para  contra-arrazoar  a
apelação  (art.  1.003,  §  5º,  do NCPC).345 Em  verdade,  o NCPC  estabeleceu  prazo
único  para  todos  os  recursos,  excetuados,  apenas,  os  embargos  de  declaração. Se,
todavia, o prazo é ultrapassado em razão de obstáculo do serviço forense, não pode a
parte  ficar  prejudicada,  dado  que,  durante  o  embaraço  judicial,  não  flui  nenhum
prazo.346
O  prazo  vence-se,  outrossim,  em  cartório.  De  sorte  que,  “sem  embargo  de
haver sido despachada no prazo legal, a apelação fica prejudicada pelo retardamento
da respectiva juntada, por culpa da parte interessada”.347 Mas “não fica prejudicada a
apelação entregue em cartório no prazo legal, embora despachada tardiamente”.348
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779.
780.
Interposição de apelação antes do julgamento dos embargos de
declaração
Como já visto no item nº 743 retro, o STJ editou a Súmula nº 418, à época do
Código anterior,  reconhecendo  ser  inadmissível o  recurso especial  interposto antes
da  publicação  do  acórdão  dos  embargos  de  declaração,  sem  posterior  ratificação.
Muito  embora o  entendimento  sumulado versasse  sobre o  recurso  especial,  aquela
Corte Superior o aplicava indiscriminadamente, também, à apelação.349 A orientação
justificava-se pelo fato de que, à semelhança do que ocorre com o recurso especial, o
apelo dirige-se contra o pronunciamento último do juiz de primeiro grau, razão pela
qual a decisão dos embargos  integra a sentença,  fazendo-se necessária a  ratificação
da apelação.350
Ainda  à  época  do  Código  anterior,  esse  entendimento  era  questionado  pela
doutrina,  na  medida  em  que  existem  diferenças  substanciais  entre  o  objetivo  da
apelação  e do  recurso  especial, o que  afastaria  a  aplicação  analógica da Súmula  às
duas espécies recursais. Enquanto o recurso ao tribunal superior visa a estabilização
da  jurisprudência, sendo vedado o simples  reexame das provas, a apelação busca a
correção da justiça da sentença, ampliando a extensão da impugnação.
O NCPC  solucionou a controvérsia, afastando a necessidade de  ratificação de
qualquer recurso interposto antes da publicação do julgamento dos embargos, se eles
forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do  julgamento anterior (art. 1.024, §
5º). Por outro lado, caso haja modificação da decisão recorrida, o embargado que já
tiver  interposto  outro  recurso  contra  a  decisão  originária  poderá  complementar  ou
alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no prazo de quinze dias (art.
1.024, § 4º).
Julgamento em segunda instância
O tribunal ad quem, antes de apreciar a apelação, deverá decidir os agravos de
instrumento porventura interpostos no mesmo processo (NCPC, art. 946).351
A  competência  funcional  para  julgar  o  recurso  é  de  câmara  ou  turma  do
tribunal, mas  o  voto  é  tomado  apenas  de  três  juízes,  que  formam  a  denominada
“turma julgadora” (art. 941, § 2º).352 Há, porém, possibilidade de o relator, em casos
de  relevante  questão  de  direito,  com  grande  repercussão  social,  sem  repetição  em
múltiplos processos, propor seja o recurso julgado por um colegiado maior previsto
no  regimento  interno,  dando  lugar  ao  incidente  de  assunção  de  competência  (art.
947) (v. o item nº 605).
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Fluxograma  nº  28 – Apelação (arts. 1.009 a 1.014)
AMARAL SANTOS, Moacyr. Primeiras  linhas de direito processual  civil.  4.  ed. São
Paulo: Max Limonad, 1973, v. III, n. 708.
CPC/1973, art. 162, § 1º.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, sem correspondência.
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CPC/1973, sem correspondência.
CPC/1973, art. 514.
STJ, 1ª T., REsp 1.065.412/RS, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 10.11.2009, DJe 14.12.2009.
STF, RE 68.710, Rel. Min. Amaral Santos, RTJ  56/112; STJ, REsp 62.466-5/RJ, Rel. Min.
Eduardo  Ribeiro,  ac.  28.08.1995,  DJU  09.10.1995,  p.  33.553;  STJ,  1ª  T.,  REsp
1.065.412/RS, Rel. Min. Luiz Fux, ac. 10.11.2009, DJe 14.12.2009.
CPC/1973, art. 506, parágrafo único.
CPC/1973, arts. 397 e 517.
CPA/1973, arts. 396 e 397.
BARBOSA MOREIRA,  José  Carlos.  Op.  cit.,  p.  206.  O  STF  decidiu  que  “a  norma
excludente  da  suscitação  de  novas  questões  de  fato,  na  apelação,  não  impede  que  se
juntem documentos às razões, para que os aprecie a instância recursal” (RE 75.946, Rel.
Min. Rodrigues Alckmin, RTJ   67/852).  “A  juntada  de  documentos  com  a  apelação  é
possível, desde que  respeitado o contraditório e  inocorrente a má-fé, com  fulcro no art.
397 do CPC [NCPC, art. 435]” (STJ, 4ª T., AgRg no REsp 785.422/DF, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, ac. 05.04.2011, DJe 12.04.2011).
STJ, 4ª T., REsp 431.716/PB, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. 22.10.2002,
DJU 19.12.2002, p. 370; STJ, 4ª T., AgRg no REsp 785.422/DF, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, ac. 05.04.2011, DJe 12.04.2011.
CPC/1973, art. 515.
Se o recurso se restringe a um determinado ponto, “não é  lícito à Superior Instância se
pronunciar  sobre  assunto  extravagante  ao  âmbito  do  pedido  de  nova  decisão”  (TJMG,
Apel.  13.444,  D.  Jud. MG,  de  27.04.1960).  Pela  mesma  razão,  “não  pode  o  tribunal
pronunciar, no seu julgamento, nulidade não arguida na respectiva interposição” (STF, RE
77.360,  Rel. Min.  Xavier  de  Albuquerque,  D.  Jud. MG  de  26.04.1974).  “A  apelação
transfere  ao  conhecimento  do  tribunal  a  matéria  impugnada,  nos  limites  dessa
impugnação,  salvo matérias  examináveis  de  ofício  pelo  juiz”  (STJ, REsp  48.357/MG,
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, ac. 13.02.1996, DJU 15.04.1996, p. 11.537). No
mesmo sentido: STJ, REsp 52.991-3/SP, Rel. Min. Barros Monteiro, ac. 04.10.1994, DJU
14.11.1994, p. 30.962; STJ, REsp 7.143-0/ES, Rel. Min. César Rocha, ac. 16.06.1993, DJU
16.08.1993,  p.  15.955;  STJ,  2ª  T.,  REsp  761.534/PR,  Rel.  Min.  Castro  Meira,  ac.
01.10.2009, DJe 09.10.2009.
CPC/1973, art. 515, § 1º.
Segundo  antigo  entendimento,  quando  o  julgamento  de  primeiro  grau  houvesse  se
restringindo  a  questões  preliminares,  não  poderia  o  tribunal,  por  força  da  apelação,
apreciar desde logo o mérito da causa, sob pena de abolir o duplo grau de jurisdição (STF,
RE 71.515, 72.352, 73.716 e Ação Resc. 1.006, RTJ  60/207, 60/828, 62/535 e 86/71; STJ,
REsp 28.515-3/RJ, Rel. Min. Dias Trindade, ac. 03.11.1992, DJU 23.11.1992, p. 21.891;
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STJ, REsp 34.391-8/RJ, Rel. Min. Hélio Mosimann, ac. 15.03.1995, DJU 03.04.1995, p.
8.122. No mesmo sentido: BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código
de Processo Civil, vol. V, n. 244, p. 444; MARQUES, José Frederico. Manual de direito
processual civil, vol. III, p. 620). Esse entendimento, entretanto, foi superado quando a Lei
nº 10.352/2001 acrescentou o § 3º ao art. 515 ao CPC/1973, cujo teor foi conservado pelo
NCPC, art. 1.013, § 3º. O alcance, porém, da nova regra deve ser definido em harmonia
com  o  caput  do  artigo,  onde  se  define  o

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