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Capítulo 5 - Precipitação 5 PRECIPITAÇÃO 5.1 Introdução A precipitação constitui-se no principal componente do ciclo hidrológico. É através da precipitação que se dá a entrada de água na bacia hidrográfica e seu comportamento no espaço e no tempo é um dos principais responsáveis pelas respostas hidrológicas da bacia. Portanto, as taxas de escoamento superficial e infiltração de água no solo, estão intimamente relacionadas às características da precipitação. A precipitação é vital para a sobrevivência na Terra. A agricultura é a atividade produtiva de maior susceptibilidade às oscilações comportamentais do regime das chuvas e à ocorrência de fenômenos climáticos associados à precipitação, como granizo, neve e geada. É essencial que se estabeleçam condições adequadas para manter a água no solo, disponível para as plantas e reabastecendo nascentes, tornando possível a exploração sustentável do meio. Existem também situações nas quais a precipitação pode se tornar perigosa, produzindo perdas, inclusive de vidas humanas, e ambientais, destacando-se a erosão e o transporte de sedimentos. A minimização dos efeitos negativos da precipitação começa com uma boa interação entre as atividades humanas e a natureza, com destaque para o manejo integrado de bacias hidrográficas, com o objetivo final de melhor aproveitar o recurso água que a cada dia torna-se mais escassa. Este capítulo tem por finalidade fornecer subsídios técnicos para um bom entendimento das características das precipitações, associadas, na maioria das vezes, às chuvas nas condições tropicais e subtropicais. Alguns aspectos gerais sobre a atmosfera da Terra e formação e tipo das precipitações serão apresentadas e discutidas. Uma abordagem sobre chuvas intensas também será desenvolvida, assim como a influência da cobertura vegetal sobre a precipitação. Técnicas para espacialização e mapeamento da chuva serão apresentadas e discutidas, assim como para o monitoramento de chuvas. Por fim, algumas considerações sobre erosividade e sua forma de cálculo e importância serão descritas. 5.2 Noções gerais sobre a atmosfera terrestre A atmosfera terrestre constitui-se numa camada gasosa que envolve o planeta, formada por uma mistura de gases cuja composição varia em função do tempo, posição geográfica, altitude e estação do ano. Todas as reações físico-químicas que Capítulo 5 - Precipitação tornam possível a vida na Terra ocorrem ao longo das diferentes camadas da atmosfera. Sua constituição basicamente é a seguinte: a) ar seco (constituição fixa, em %): - Nitrogênio (N2): 78,084% - Oxigênio (O2): 20,948% - Argônio (Ar): 0,934% - Neônio (Ne): 1,8x10-3 % - Hélio (He): 5,2x10-4 % - Metano (CH4): 2x10-4 - Criptônio (Ko): 1,14x10-4 % - Hidrogênio (H2): 5x10-5 % - Xenônio (Xe): 8,7x10-6 % b) gás carbônico (CO2): 0,033% c) vapor d’água (H2O): 0 – 7% d) Ozônio (O3): 0 – 0,01% e) Dióxido de Enxofre (SO2): 0 – 10-4 % f) Dióxido de Nitrogênio (NO2): 0 – 10-6 % g) Aerossóis: partículas sólidas em suspensão de origem orgânica e inorgânica. O vapor d’água presente na atmosfera, por conseqüência da evaporação da superfície e transpiração das plantas, está constantemente presente em quantidades que variam de quase zero nas regiões desérticas até 7% em florestas tropicais e equatoriais e algumas regiões litorâneas. A atmosfera é estratificada em camadas, sendo dividida em alta e baixa atmosfera. A primeira possui influência apenas indireta na formação da precipitação e consequentemente, no ciclo hidrológico. A baixa atmosfera, portanto, é a que interessa para a hidrologia, e é dividida em 3 camadas: - Tropopausa: camada que separa a estratosfera da troposfera. - Estratosfera: possui espessura variável com pequena variação vertical de temperatura. É na estratosfera que se encontra a camada de ozônio (O3) que protege a Terra de raios ultravioletas. - Troposfera: também apresenta espessura variável (18 km na região equatorial e 9 km nos pólos) sendo o principal meio de transporte de massa e energia, responsável direta pelo ciclo hidrológico. Portanto, a hidrometeorologia concentra seus estudos nesta camada da atmosfera. Capítulo 5 - Precipitação Deve-se salientar que há um gradiente decrescente de temperatura com a altitude, produzindo em média, redução de 1oC a cada 180 m de altitude. Nas partes mais elevadas da troposfera, a temperatura pode atingir –50º C. Além da temperatura, há redução da pressão atmosférica com a altitude, devido à redução da concentração da camada de gases à medida que se afasta da Terra, verificando-se por conseqüência, menor concentração de oxigênio, gerando uma situação de ar rarefeito, típico das regiões de altas cadeias de montanhas. 5.2.1 Circulação geral da atmosfera É basicamente na troposfera que ocorrem os fenômenos meteorológicos de maior interesse para a hidrologia. Nela existe uma circulação contínua de massas de ar, tanto no sentido horizontal (ventos) como no vertical (correntes de ar). A circulação das massas de ar obedece à existência de gradientes de pressão, podendo-se identificar as seguintes zonas: a) Faixa equatorial de baixas pressões: formação da zona de convergência intertropical, com ventos fracos e chuvas intensas (ar quente e úmido); b) Faixa subtropical de altas pressões: latitudes aproximadas de 30º N/S, com ventos alísios em direção ao Equador; c) Faixa polar de baixas pressões: latitudes aproximadas de 60º N/S, recebendo ventos de origem polar (frentes frias intensas); d) Calotas polares de altas pressões A Figura 5.1 ilustra as zonas terrestres com o comportamento da pressão e direção de ventos. Os gradientes de pressão ocorrem devido a um aquecimento desigual da atmosfera terrestre. Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.1 Representação das zonas terrestres com indicação da direção predominante dos ventos e comportamento da pressão atmosférica. Nas regiões de latitudes médias (30º N/S) há convergência dos ventos presentes nestas latitudes, com os de origem polar, formando as chamadas zonas de convergência extratropicais (hemisférios Norte e Sul), com encontro do ar quente e úmido com o ar frio e seco, formando as chamadas frentes, as quais são eventos meteorológicos importantes para estas regiões, caracterizando de forma marcante, o comportamento do ciclo hidrológico nas mesmas, com chuvas de longa duração e média a baixa intensidade. É importante destacar também algumas definições para o melhor entendimento da precipitação: a) Umidade atmosférica: representa o teor de vapor d’água na atmosfera, que embora em pequenas quantidades quando comparado a outros gases é de suma importância para formação das precipitações, pois é quem determina as características termodinâmicas do ar. A quantidade máxima de vapor d’água que o ar pode conter varia diretamente com a temperatura, sendo denominada de tensão de saturação. Calota polar (alta pressão) Latitude 60o (baixa pressão) Latitude 60o (baixa pressão) Calota polar (alta pressão) Latitude 30o (alta pressão) Latitude 30o (alta pressão) Equador 0o (baixa pressão) Ventos de Leste Ventos de Oeste Alísios de Nordeste Ventos de Oeste Ventos de Leste Alísios de Sudeste Zona de Convergência Intertropical Zona de Convergência Extratropical Capítulo 5 - Precipitação b) Umidade relativa: expressa a quantidade atual de vapor d’água em relação à quantidade máxima que o ar atmosférico pode conter neste instante. ( ) 100 es e%UR t t t ×= (1) Em que, URt, et e estsão, respectivamente, a umidade relativa, as quantidades atual e máxima de vapor d’água da atmosfera no instante t. O parâmetro et é determinado por: pape t −= (2) Em que p e pa são, respectivamente a pressão atmosférica e a pressão do ar seco. c) Ponto de orvalho: é a temperatura na qual o ar úmido, mantendo a mesma pressão, sofre saturação. d) Ponto de condensação: é a temperatura que adquire o ar úmido quando, evoluindo adiabaticamente (sem troca de calor), atinge um nível em que et = est. A Figura 5.2 representa uma curva de saturação hipotética destacando-se os pontos descritos acima e seu comportamento padrão. Figura 5.2 Curva de saturação representando alguns pontos de interesse do processo de precipitação. O ponto B representa uma situação atmosférica de supersaturação, que naturalmente tende a deslocá-lo até a curva de saturação, em busca de uma situação de equilíbrio. Este trajeto representa ocorrência da precipitação num dia quente e Pr es sã o de va po r Temperatura TA TC TB Curva de saturação A B C ea es2 es1 Capítulo 5 - Precipitação úmido, pois o sistema busca “desafogar” esta condição de supersaturação provocada por aumento da temperatura. O ponto A representa uma situação de insaturação, ou seja, as condições atmosféricas não são favoráveis à precipitação. A partir deste ponto duas situações podem ocorrer para que haja precipitação: um resfriamento do sistema ou aumento da pressão de vapor. Ambos promoverão precipitação, sendo o primeiro característico de formação de orvalho e o segundo por aumento do vapor d`água, oriundo, por exemplo, de uma frente fria. A umidade atmosférica apresenta o seguinte comportamento regional: - Tende a decrescer com o aumento de latitude, porém, como a UR é uma função inversa da temperatura, esta tende a aumentar; - Máxima sobre os oceanos, decrescendo à medida que avança para o interior dos continentes; - Decresce com a elevação e é maior sobre áreas vegetadas do que sobre solo descoberto; Ocorre também uma variação temporal da seguinte forma: - É máxima no verão e mínima no inverno1. - Variação diária: mínima ao nascer do sol e máxima por volta de 2 horas, ocorrendo o inverso com a UR. 5.2.2 Processos de transporte de energia Todos os processos climáticos são regidos por fluxos de energia. A radiação é a principal delas, pois é a energia solar que ativa o ciclo hidrológico. A radiação se apresenta nas formas: - Solar: de ondas curtas e alta intensidade energética; - Terrestre: possuem comprimento de onda alta e baixa intensidade energética; Além da radiação, a condução e a convecção são as outras formas de transmissão de calor presentes, uma vez que o ar próximo da superfície terrestre se aquece, transmitindo o fluxo de energia. As principais características da condução e convecção são: - Condução: fluxo de energia através da matéria, por atividade molecular interna (sem movimento de massa); vapor d’água e CO2 são os principais absorventes de energia e a transmitem por contato; 1 Para tipos climáticos Cwa, Cwb e Aw pela classificação de Köppen, característicos de grande parte do Brasil. Capítulo 5 - Precipitação - Convecção: devido ao aquecimento do ar, este apresenta redução na sua densidade. O ar nas proximidades da superfície terrestre tende a tornar-se mais leve, porém, devido às irregularidades da superfície, este aquecimento ocorre de forma desigual, resultando no aparecimento de forças ascendentes que elevam o ar mais quente. Na ascensão, o ar expande e esfria; quando sua densidade se iguala à do ambiente, cessa o processo de elevação. 5.2.3 Distribuição vertical da temperatura O gradiente de temperatura na troposfera é de 6,5 oC km-1. Na estratosfera, as condições são aproximadamente isotérmicas. O gradiente vertical de temperatura influi nas condições de estabilidade atmosférica, da seguinte forma: - Gradiente de temperatura da transformação adiabática seca: a taxa de decréscimo da temperatura de uma partícula de ar insaturado que se eleva adiabaticamente é de 1oC a cada 100 m de altitude. - Gradiente de temperatura da transformação adiabática saturada: o ar saturado com vapor d’água se condensa, liberando calor latente de vaporização, fazendo com que a taxa de resfriamento seja reduzida (0,54 oC/100 m) nas camadas inferiores da atmosfera, tendendo ao valor da adiabática seca em grandes altitudes, devido à diminuição do vapor d’água. Para que o processo seja adiabático é necessário que o produto da condensação permaneça no sistema ao longo da ascensão, ou seja, que não ocorra precipitação (não há troca de energia com o meio externo). 5.3 Aspectos característicos da precipitação 5.3.1 Tipos de precipitação Precipitação é toda forma de umidade oriunda da atmosfera que se deposita sobre a superfície terrestre. Destacam-se as seguintes formas: a) Chuva: é a principal forma de precipitação, especialmente em regiões tropicais e subtropicais. A precipitação atinge a superfície na forma líquida e todos os processos gerados por esta situação correspondem a um dos principais ramos aplicados da hidrologia. b) Granizo: situação em que a precipitação ocorre na forma de pedras irregulares de gelo, com tamanho mínimo de 5 mm. Capítulo 5 - Precipitação c) Neve: é uma forma de precipitação na qual há formação de flocos de gelo com formatos normalmente hexagonais, em nuvens muito frias (abaixo de 0o C). É importante destacar que a neve em regiões muito frias tem um papel de suma importância para a agricultura, que é de manter as sementes protegidas do frio intenso até a primavera, uma vez que o gelo é isolante térmico. d) Orvalho: esta é uma forma de precipitação na qual a água contida na forma de vapor na atmosfera sofre condensação e precipita nas diferentes superfícies. Isto ocorre porque corpos sólidos têm maior capacidade de perda de calor para atmosfera, sofrendo resfriamento. O ar úmido, ao atingir estas superfícies frias, também sofre resfriamento, o qual, se for suficiente para atingir a curva de saturação, proporciona o processo de condensação (ponto A em direção ao C na Figura 5.2). e) Geada: a formação de geada é semelhante ao do orvalho. No entanto, neste caso, o ponto de orvalho na curva de saturação é abaixo de zero, havendo um processo de sublimação, com a água precipitando-se na forma de gelo. Na Tabela 5.1 destacam-se algumas características físicas dos principais tipos de precipitação em regiões tropicais. Tabela 5.1 Características físicas de alguns tipos de precipitação. Tipo de precipitação Intensidade (mm/h) Diâmetro médio das gotas (mm) Velocidade de queda para os diâmetros médios (m/s) Nevoeiro 0,25 0,2 -- Chuva leve 1 a 5 0,45 2,0 Chuva forte 15 a 20 1,5 5,5 Tempestade 100 3,0 8,0 5.3.2 Formação das chuvas A umidade atmosférica é o elemento básico e embora seja necessário, não é suficiente para formação da chuva, havendo necessidade da existência de outros requisitos, tais como: mecanismos de resfriamento do ar, presença de núcleos higroscópicos para que haja condensação do vapor e um mecanismo de crescimento das gotas. Capítulo 5 - Precipitação Os principais núcleos de condensação são partículas de sal (oriundas dos oceanos), pólen, argila, cristais de gelo e partículas provenientes de processos industriais, como ácido nítrico e ácido sulfúrico, as quais, quando em concentrações elevadas, promovem formação de precipitações ácidas, comuns em algumas regiões industriais. O ar úmidodas camadas inferiores aquecido por condução sofre ascensão adiabática até atingir a condição de saturação (nível de condensação), por resfriamento. A partir deste nível, em condições atmosféricas favoráveis e com existência de núcleos higroscópicos, o vapor d`água sofre condensação, formando minúsculas gotas em torno desses núcleos, que são mantidas em suspensão até que, por um processo de crescimento, adquira tamanho suficiente para vencer as forças de ascensão que exercem resistência às gotas, e então precipitar. Os principais processos de crescimento das gotas são: - Coalescência: o aumento se deve ao contato com outras gotas através da colisão (turbulência do ar, forças elétricas e movimento Browniano). Na queda, gotas maiores alcançam as menores, incorporando-as e por ação da resistência do ar, são “partidas”, liberando outras gotas menores e assim por diante (Figura 5.3). - Difusão: o ar, após atingir o nível de condensação, continua evoluindo e difundindo o vapor supersaturado e sua conseqüente condensação em torno das gotículas, as quais aumentam seu tamanho. Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.3 Representação do processo de coalescência (Adaptado de Lutgens & Tarbuck, 1989). As gotículas que constituem as nuvens possuem tamanhos que variam de 0,01 a 0,03 mm de diâmetro. As gotas de chuva propriamente ditas apresentam diâmetros bem superiores, variando de 0,5 a 2,0 mm, podendo atingir valores de até 5 mm. Isto propicia volumes de 106 vezes maiores e elevada energia cinética. No caso de nuvens frias, que produzem precipitação na forma de neve, a teoria de formação das nuvens foi elaborada pelo pesquisador norueguês Thorn Bergeron e pode ser resumida da seguinte forma: gotículas de água suspensas no ar podem se encontrar em estado líquido, mesmo a temperaturas menores que 0 oC. Ao entrarem em contato com partículas sólidas, conhecidas como núcleos de congelamento, similares a cristais de gelo, as gotículas se solidificam. O fator físico principal que explica o fenômeno é de que a pressão de vapor nos cristais de gelo (núcleos de congelamento) é inferior à de minúsculas gotas frias, com temperatura menor que 0 oC, pelo fato dos cristais de gelo serem formados por ligações mais fortes (< entropia) que na forma líquida, ocorrendo migração intensa de gotículas para os cristais, que crescem à medida que incorporam mais moléculas de água. Assim, podem atingir Gotícula maior no interior da nuvem Gota grande “liberando” gotícula Gotículas pequenas no interior da nuvem Capítulo 5 - Precipitação tamanhos grandes para precipitarem, ocorrendo aumento dos cristais à medida que descem no interior das nuvens. Por fim, o movimento do ar rompe os cristais, produzindo novos núcleos de congelamento, formando os flocos de neve. É importante mencionar que a existência destes núcleos de congelamento na atmosfera é restrita a algumas regiões do Planeta, com latitudes acima de 30º N/S e ou altitudes superiores a 3000 m. 5.3.3 Tipos de chuvas O esfriamento adiabático é a principal causa da condensação e o responsável pela maioria das precipitações. Assim sendo, o movimento vertical (correntes) das massas de ar é um requisito importante e em função das condições que o produz, as precipitações se classificam em Ciclônicas, Orográficas e Convectivas. 5.3.3.1 Precipitações Ciclônicas São associadas a movimentos de massas de ar de regiões de alta pressão para regiões de baixa pressão, conforme comentado no item sobre circulação atmosférica. Classificam-se em: a) Não Frontal: convergência horizontal de massas de ar para regiões de baixa pressão, promovendo, na seqüência, elevação. Esquematicamente, na Figura 5.4 tem-se: Figura 5.4 Formação de chuva ciclônica do tipo não frontal. b) Frontal: resulta da ascensão do ar quente sobre o ar frio na zona de contato entre duas massas de características diferentes, situação comum nas zonas de convergência extratropical, com encontro do ar frio polar com o ar quente e úmido. São freqüentes próximo às latitudes de 30º. Esquematicamente, na Figura 5.5, tem-se: Ar Frio Ar quente Precipitação Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.5 Formação de chuva ciclônica do tipo frontal oriunda de um fenômeno meteorológico conhecido como Frente. Uma característica fundamental das precipitações frontais é que estas são de longa duração e intensidade de baixa a moderada, cobrindo grandes áreas, sendo fundamental para o manejo de grandes bacias hidrográficas e responsáveis, em grande parte, pela recarga de aqüíferos, mas também por inundações de grande magnitude em grandes bacias. Na região Sudeste do Brasil, durante o verão, podem ocorrer ambas as situações, com chuvas provenientes de um sistema não frontal, normalmente vindo da Amazônia, e um sistema frontal, havendo grande concentração de chuvas. Além disto, pode ocorrer o fenômeno das zonas de convergência do Atlântico Sul, o qual é intensificado nesta região, provocando grandes e concentrados volumes de chuvas. 5.3.3.2 Precipitações Orográficas Resultam da ascensão mecânica de massas de ar úmido sobre barreiras naturais tais como montanhas. Normalmente, apresentam alta intensidade. No Brasil, as principais precipitações orográficas ocorrem na região do Vale do Paraíba e litoral de São Paulo, devido à Serra da Mantiqueira e Serra do Mar, que geram barreiras de difícil transposição às massas de ar úmido e quente, concentrando a precipitação nestas regiões. Na Figura 5.6 tem-se um esquema típico da ocorrência de chuvas orográficas. Frente Fria Ar Frio Ar Quente Precipitação Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.6 Esquema geral da ocorrência de uma chuva orográfica. 5.3.3.3 Precipitações Convectivas São típicas de regiões tropicais. Sua explicação básica consiste no aquecimento diferenciado da superfície terrestre, provocando aquecimento desigual das camadas atmosféricas, o que produz estratificação térmica da atmosfera, que fica instável. Qualquer perturbação romperá este equilíbrio, provocando a ascensão brusca e violenta do ar quente, capaz de atingir grandes altitudes. São precipitações de grande intensidade, curta duração e concentradas em pequenas áreas, sendo importantes para o manejo em pequenas bacias hidrográficas. Esta também é o principal tipo de precipitação de interesse para estudos de conservação do solo, pois possui elevada energia cinética e consequentemente, elevada erosividade. Na Figura 5.7 apresenta-se um esquema da ocorrência de chuvas convectivas, adaptado de Brooks et al. (1997). Figura 5.7 Esquema geral da ocorrência de uma chuva convectiva. Elevação do Ar Frio Ar Quente e Seco Radiação Solar Alta temperatura e umidade Turbulência e Instabilidade Cristais de Gelo Capítulo 5 - Precipitação 5.3.4 Monitoramento da precipitação 5.3.4.1 Monitoramento por Estações Meteorológicas A medida das precipitações é um processo relativamente simples, consistindo no recolhimento da quantidade de água precipitada sobre determinada área podendo ser feita por aparelhos totalizadores (pluviômetros) ou registradores contínuos (pluviógrafos). De um modo geral, os pluviômetros de postos meteorológicos oficiais são lidos em intervalos de 24 horas, quase sempre às 9:00 horas da manhã, indicados para quantificar chuvas diárias.Os pluviógrafos fornecem um gráfico, conhecido como pluviograma, onde são registradas continuamente as alturas de chuva em função do tempo. O pluviômetro constitui-se de um cilindro cuja área de captação deve ser conhecida, sendo o mais utilizado o Ville de Paris, com área de 400 cm2. Devem ser instalados a uma altura de 1,5 m da superfície do solo, com uma distância mínima de construções e outros objetos de grande porte, como árvores, considerando uma distância horizontal superior a duas vezes a altura do objeto. Na Figura 5.8 está mostrado o pluviógrafo utilizado na Estação Meteorológica localizada no Campus da UFLA, pertencente ao 5o Distrito de Meteorologia, sediado em Belo Horizonte (Foto de José Maria Lima). Na seqüência, exemplo de um pluviograma, mostrando o comportamento temporal da precipitação. Nota-se que o aparelho possui capacidade máxima de registro de 9 mm e toda vez que se atinge este nível, um sistema do tipo “monjolo” deságua o copo, zerando a precipitação. Se a chuva continuar haverá novo enchimento do copo e posterior eliminação e assim sucessivamente. Pode-se observar também que quanto mais intensa for a precipitação, mais rápido será o registro e, portanto, os picos estarão mais próximos. Chuvas menos intensas promovem enchimento lento do copo, com picos menos “verticais”. A leitura mínima que se pode obter via pluviograma é 0,20 mm em 5 minutos. Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.8 Fotos mostrando partes de um pluviógrafo (a) e um pluviograma (b). Atualmente, existem estações meteorológicas compactas que fornecem o total precipitado num determinado intervalo de tempo, que pode variar desde 1 segundo a até horas, de acordo com o interesse. Numa situação desta, pode-se também obter um pluviograma, inclusive com maior precisão, haja vista que o equipamento fornece informações digitais. O valor mínimo de leitura é de 0,25 mm e os dados são armazenados numa memória do tipo data logger que podem ser descarregas por meio de um microcomputador e manuseada através de planilha eletrônica. A Figura 5.9 mostra um exemplo de uma mini-estação climatológica compacta que fornece vários parâmetros climáticos importantes para a hidrologia aplicada. a) b) Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.9 Estação climatológica completa com suprimento de energia fornecido por um painel solar. A densidade da rede pluviométrica é função das condições climáticas da região e do objetivo da observação. Para pesquisas, exige-se densidade maior. A seguir tem- se uma orientação sobre a área de cobertura de uma estação meteorológica. - Regiões Áridas: 1 para 300000 km2 - Regiões Tropicais e Temperadas: 1 para 50000 km2 - Regiões Frias (polares): 1 para 100000 km2 5.3.4.2 Monitoramento por radar meteorológico a) Aspectos Gerais A palavra RADAR é da expressão inglesa RAdio Detection And Ranging, que diz respeito à técnica de aplicação de ondas eletromagnéticas para detectar a presença e as características de um objeto. O desenvolvimento dessa técnica teve, como principal motivação, a II Guerra Mundial. Tem sido motivo de contínuo desenvolvimento. Os principais componentes de um sistema de radar são: Capítulo 5 - Precipitação a) Antena: a mais aplicada é do tipo parabólica, fixada a um pedestal, onde existe um sistema mecânico responsável por sua movimentação. A posição da antena, dada por sensores localizados no pedestal, determina a direção de propagação do sinal transmitido e recebido pelo sistema (Figura 5.10). Figura 5.10 Antena parabólica usada em radares meteorológicos. A referência de posicionamento da antena no plano horizontal é o norte geográfico (0° = Norte, 90° = Leste, 180° = Sul e 27 0° = Oeste) e, na vertical, a referência é o plano tangente à normal da superfície terrestre (0°) até ao zênite (90°). Com essas referências, obtêm-se os ângulos de azimute e elevação, respectivamente. A forma da superfície côncava é parabólica e, no foco da mesma, localiza-se o alimentador (Figura 5.11), que é responsável pela interface entre a linha de transmissão (guias de onda) com a superfície parabólica refletora. Pela propriedade física de uma superfície refletora parabólica, um sinal originado no foco irá propagar numa direção paralela ao eixo da parábola e os sinais que atingirem a mesma, provenientes de uma direção paralela ao eixo da superfície, serão concentrados no alimentador. Essa capacidade de concentração da energia é denominada ganho, sendo expresso em dB (decibéis). Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.11 Sentido de propagação dos sinais em uma antena parabólica usada em radares meteorológicos. b) Radome: A grande superfície da antena oferece uma alta resistência ao vento. Visando proteger o mecanismo de movimentação da antena assim como sua rotação uniforme, utiliza-se um domo esférico de fibra de vidro para isolar a antena das intempéries do tempo, principalmente do vento e é praticamente transparente à energia eletromagnética. Na Figura 5.12a apresenta-se um radome de radar meteorológico. c) Transmissor: O transmissor convencional de um radar utiliza um dispositivo denominado magnetron para converter pulsos elétricos de corrente contínua de alta voltagem e uma determinada duração em pulsos de energia eletromagnética com a mesma duração de uma determinada freqüência, geralmente na faixa de microondas, de acordo com a banda de operação. Na Figura 5.12b apresenta-se um transmissor usado em radar meteorológico. Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.12 Instalação do radome (a) e transmissor de um radar meteorológico (b). d) Receptor: Radares convencionais utilizam um receptor de rádio clássico, do tipo superheteródino, de alta sensibilidade, sintonizado na mesma freqüência de transmissão. O receptor do radar está localizado junto ao transmissor e está conectado na linha de transmissão através de uma chave TR. A função da chave TR é isolar o receptor da magnetron no momento em que um pulso é gerado. Isso evita que o receptor seja danificado pela alta potência da energia eletromagnética contida no pulso. Quando não existem pulsos sendo gerados (intervalo entre pulsos), o receptor está ligado à linha de transmissão e, conseqüentemente, na antena. e) Visualização das informações: o método mais simples para visualizar o sinal recebido pelo sistema de radar é através de um osciloscópio. O início da varredura do osciloscópio é sincronizado com o sinal do oscilador principal (PRF), ou seja, a varredura é iniciada ao mesmo tempo em que um pulso no radar é gerado. Um outro sistema de visualização é composto de um tubo de raios catódicos (CRT) em forma de círculo. O centro do tubo representa a localização do radar. A varredura é sincronizada com a PRF, iniciando-se no centro e terminando na extremidade do CRT e, ao mesmo tempo, a direção da varredura é sincronizada com o azimute da antena, em tempo real. O armazenamento das informações por meio desse sistema é possível através de técnica fotográfica com um alto tempo de exposição, que permitisse a antena completar uma volta em torno do seu eixo. a) b) Capítulo 5 - Precipitação b) Princípios de funcionamento de um radar O princípio de funcionamento do radar meteorológico é análogo ao sistema de navegação de um morcego. O morcego emite sons de alta freqüência que ao serem interceptados por obstáculos retornam ao seu ouvido. Quanto mais rápido o som retornar, mais perto estará o obstáculo e quanto mais distante este estiver, mais demorado será o retorno.Desta forma, o morcego é capaz de avaliar a distância ao obstáculo e se desviar do mesmo antes da colisão. No radar meteorológico são empregadas, ao invés de som, ondas eletromagnéticas de alta energia para se alcançar grandes distâncias. As ondas eletromagnéticas ao passarem por uma nuvem, causam em cada gota, uma ressonância na freqüência da onda incidente, de modo a produzir ondas eletromagnéticas, irradiando em todas as direções. Parte desta energia, gerada pelo volume total de gotas iluminado pelo feixe de onda do radar, volta ao prato do radar e sabendo-se o momento em que o feixe de onda foi emitido e quanto tempo depois o sinal retornou, determina-se a distância do alvo ao radar. A intensidade do sinal de retorno está ligada ao tamanho e distribuição das gotas no volume iluminado pelo radar. Além disso, sabe-se qual a elevação da antena e o azimute correspondente. Deste modo, pode-se determinar, com precisão, a região do espaço onde está chovendo. Para uma mesma elevação e azimute são transmitidos cerca de 200 pulsos de alta energia e, assim sendo, a mesma região do espaço é amostrada 200 vezes. Em seguida é feita uma média do sinal de retorno. Este processo é bastante rápido já que as ondas eletromagnéticas viajam na velocidade da luz (300.000 km/s). A duração de cada pulso determina a resolução dos dados do radar. O valor médio desta resolução, para diferentes radares, é da ordem de 500 metros. O radar não mede diretamente chuva. O radar recebe um determinado nível de retorno dos alvos de chuva denominado refletividade, que possui relação física com o espectro de gotas observado. Assim, pode-se determinar a partir deste espectro, uma relação entre a refletividade do radar e a taxa de precipitação correspondente. Para a maioria dos radares meteorológicos o limite inferior da taxa de precipitação é de 1 mm/h, a uma distância de 190 km. Uma característica importante dos radares meteorológicos modernos é o software para tratamento do grande volume de dados de refletividade gerados. Esse software gera, em tempo real, o mapa de chuva a um nível de altura constante. Os dados de chuva na área do radar são interpolados num nível de altura constante entre Capítulo 5 - Precipitação 1,5 e 18,0 km de altura, numa área de 360 x 360 km, com uma resolução de 2 x 2 km. Esta resolução espacial eqüivale a 32400 postos pluviométricos numa área de 152.000 km2, aproximadamente. De posse da velocidade e da direção de deslocamento da chuva é possível extrapolar os campos de precipitação, no tempo e no espaço e, desta forma, obter a previsão antecipada de até 3 horas, numa determinada área, situação importante em se tratando de alerta para órgãos especiais, como a defesa civil do município, minimizando catástrofes e perdas de vida humana e material. Existe a possibilidade da ocorrência de alguns eventos meteorológicos que, juntamente com os efeitos dos fenômenos de refração, podem resultar na produção, pelo radar, de informações distorcidas. Como exemplos desses fenômenos, podem-se citar: a) formação de precipitações a baixas altitudes (nevoeiros acentuados, algumas nuvens menos elevadas), as quais podem, eventualmente, não ser detectadas pelo feixe do radar; b) presença de ventos laterais, fazendo com que uma chuva observada pelo radar venha a acontecer em um local diferente do indicado pelo aparelho; c) Ecos de Terreno: varreduras com a antena do radar em baixa elevação são susceptíveis a bloqueios e interferências no sinal de microondas, em regiões próximas à localização do radar, devido a obstáculos naturais e artificiais, ocasionada pela dispersão de sinais de microondas emitidos pela antena de formato parabólico, chamados de lóbulos secundários. Essas interferências, que ocasionam ecos falsos, variam de acordo com a localização do equipamento e possuem posição e intensidade de reflexão com pouca variação. d) Propagação anômala: a propagação de microondas está sujeita às condições atmosféricas, que em determinadas situações, causam o curvamento do feixe de microondas emitido pela antena do radar, ocasionando reflexão do solo em distâncias que variam até próximo ao alcance máximo de varredura. Monitoramento da chuva Na Figura 5.13 tem-se uma fotografia do radar meteorológico de São Paulo e na seqüência, mapas de uma chuva monitorada pelo mesmo em evento do dia 01/02/2003, às 20h37min (Figuras 5.14 e 5.15). Na Figura 5.16 está apresentado um mapa produzido pelo radar meteorológico de Maceió, AL. Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.13 Radar meteorológico de São Paulo. mm/h Figura 5.14 Área coberta pelo radar, com destaque para a chuva sobre a capital (Fonte: www.saisp.br). Capítulo 5 - Precipitação Figura 5.15 Mapa de precipitação ampliado sobre a região metropolitana de São Paulo (Fonte: www.saisp.br). Figura 5.16 Imagem gerada pelo radar, no dia 21/02/06, na escala de 30 km na cidade de Maceió, AL. Capítulo 5 - Precipitação 5.3.5 Grandezas características da chuva a) Altura pluviométrica (h): representa a altura da lâmina de água precipitada, caso a mesma fosse recolhida numa superfície horizontal, sendo expressa, geralmente, em mm ou cm e polegadas nos países de língua inglesa. Pode-se referir a um chuva isolada ou o total ocorrido num dado intervalo de tempo. b) Tempo de duração (t): é o período de tempo contado desde o início até o final da precipitação (horas ou minutos). c) Intensidade de precipitação (I): é uma grandeza intensiva e instantânea, representando a variação da lâmina precipitada num intervalo infinitesimal de tempo ( dt dhI = ). Em termos práticos é mais interessante trabalhar com a intensidade média de precipitação, relativa a um intervalo discreto de tempo ( t∆ ), o qual está associado a um problema de natureza prática. d) Freqüência: é o número de ocorrências de uma determinada precipitação no decorrer de um período de tempo especificado, definida no capítulo anterior. A grandeza, associada à freqüência, normalmente aplicada, é o tempo de retorno. Exemplo de Aplicação 5.1 Do pluviograma da Figura 5.8b, pede-se extrair as seguintes informações: a) Total precipitado entre o início e final da chuva; b) Duração da chuva; c) Intensidade média da chuva; d) Intensidade máxima associada aos tempos de 10, 30, 60, 120 e 240 minutos, bem como o intervalo em que cada uma ocorre. Solução: a) Total precipitado entre 09:00 e 05:30 do dia seguinte: 108 mm; b) Duração: 20 horas c) Intensidade Média: 5,4 mm/h d) Uma análise mais detalhada possibilita identificar as intensidades médias máximas para diferentes intervalos de tempo. Em termos práticos, toma-se o pluviograma, verificando-se os picos de chuva no mesmo. Quanto mais próximos, maiores as intensidades. Portanto, para resolver a letra d do exercício, pode-se dirigir os esforços para o intervalo de tempo entre as 17:00 e 21:00, onde, com certeza estarão as maiores intensidades para até 4 horas de duração da chuva. Capítulo 5 - Precipitação ∆ t (min) Altura máxima de chuva (mm) Imédia máxima (mm/h) Intervalo de Ocorrência 10 8,0 48 19:30 – 19:40 30 10,3 20,6 19:20 – 19:50 60 16,6 16,6 18:00 - 19:00 120 31,2 15,6 18:00 – 20:00 240 41,2 10,3 17:00 – 20:00 É interessante mencionar que quanto menor o intervalo de tempo, maior a intensidade; contudo, menor a lâmina precipitada. A aplicação principal deste estudo está associada, principalmente, ao estudo de chuvas intensas, ainda a ser apresentado e detalhado. 5.3.6 Preenchimento de Falhas É comum a existência de falhas ou interrupções nos registros das estações climatológicas, sendo atribuídas a problemas técnicos ou ausência do observador. Para se obter séries contínuas, queé um requisito indispensável quando se necessita, por exemplo, desenvolver um estudo relativo ao regime hidrológico de um rio, há necessidade de que se disponha de uma série completa de dados. Para o caso da precipitação, a técnica adotada é conhecida como Preenchimento de Falhas. No entanto, é recomendável que as metodologias apresentadas a seguir sejam aplicadas para preencher falhas em séries históricas decendiais, quinzenais, mensais ou anuais. Para precipitações diárias, especialmente as máximas diárias, não se recomenda utilização destas técnicas devido à elevada variabilidade espacial da chuva, influenciada por condições locais específicas, como efeitos orográficos e uso específico do solo em uma dada região. 5.3.6.1 Métodos Aplicados ao Preenchimento de Falhas a) Regressão Linear: consiste em utilizar regressões linear simples ou múltipla. Na regressão linear simples as precipitações do posto com falhas são correlacionadas com a de um posto vizinho, sem falhas, da seguinte forma: XbaY ⋅+= (3) Em que Y são os dados da estação que se deseja preencher a falha e X, os da estação vizinha. Capítulo 5 - Precipitação No caso de regressão múltipla as informações pluviométricas do posto Y são correlacionadas com as correspondentes observações de vários postos vizinhos, da seguinte forma: CXa...XaXaY nn2211 +⋅++⋅+⋅= (4) Em que n é o número de postos considerados; a1, a2,..., an são coeficientes a serem estimados pela regressão; X1, X2,..., Xn são as observações registradas nos postos vizinhos. Outra alternativa pode ser uma relação do tipo potencial: na n 3a 3 2a 2 1a 1o X...XXXaY ⋅⋅⋅⋅= (5) Esta equação é linearizada por meio do uso de logaritmos dos valores das variáveis envolvidas. b) Média aritmética de estações vizinhas: consiste de uma média dos dados oriundos das estações vizinhas. Este critério é válido somente para regiões consideradas hidrologicamente homogêneas. n P P n 1i i x ∑ = = (6) Este método pode ser empregado desde que as precipitações anuais normais das estações envolvidas não difiram em mais de 10%. Precipitação anual normal é um valor médio de um período mínimo de 30 anos. c) Método do vetor de ponderação regional: consiste em um método simplificado utilizado para preenchimento de falhas de dados mensais ou anuais. Para um grupo de postos, são selecionados pelo menos três que possuam, no mínimo, dez anos de informações. Para um posto X, que apresenta falhas, as mesmas são preenchidas da seguinte forma: ++= C C x B B x A A x x PN NP N NP N N 3 1P (7) Em que Px é a precipitação a ser estimada do posto X; PA, PB, PC são precipitações correspondentes ao mês ou ano que se deseja preencher, observadas Capítulo 5 - Precipitação nas estações vizinhas; NA, NB, NC são as respectivas precipitações médias nas três estações vizinhas e Nx é a precipitação média do posto X. d) Método da ponderação regional com base em regressões lineares: é uma combinação da ponderação regional e da regressão linear. Consiste em estabelecer regressões lineares entre o posto com dados a serem preenchidos (Y) e cada um dos postos vizinhos, X1, X2, ..., Xn. De cada regressão linear, obtém-se o coeficiente de correlação (r), e estabelecem-se fatores de peso para cada posto. yxn2yx1yx yxj xj r...rr r W +++ = (8) Sendo Wxj o fator de peso entre os postos Y e Xj; ryxj o coeficiente de correlação entre os postos Y e Xj e n, número total de postos vizinhos considerados. Assim, o valor a preencher no posto Y é obtido por: xnn2x21x1 WX...WXWXY ⋅++⋅+⋅= (9) Exemplo de Aplicação 5.2 A tabela abaixo apresenta os totais anuais precipitados em duas localidades na Bacia Hidrográfica do Alto Rio Grande, Carvalhos e Aiuruoca. Efetuar o preenchimento de todos os valores não disponíveis no período mediante regressão linear. Aplicando-se regressão linear aos dados tem-se: YCarv = 466,68 +0,7378XAiur r2 =0,70 Yaiu =558,53 +0,6242 XCarv r2 =0,70 Capítulo 5 - Precipitação Ano Total anual Ano Total anual Carvalhos Aiuruoca Carvalhos Aiuruoca 1969 1617 1574 1985 1735 2098 1970 1149 1222 1986 1704 1971 1403 1987 1994 1851 1972 1644 1988 1621 1778 1973 1232 1989 1667 1697 1974 1570 1405 1990 1386 1368 1975 1361 1182 1991 1800 1804 1976 1848 1992 1715 1882 1977 1259 1993 1295 1408 1978 1758 1625 1994 1719 1979 1697 1480 1995 1468 1980 1831 1998 1996 1337 1923 1981 1892 1742 1997 972 1632 1982 2070 2203 1998 1034 1983 3190 1999 1410 1303 1984 1208 1037 Assim, a partir da aplicação das equações tem-se: Ano Total anual Ano Total anual Carvalhos Aiuruoca Carvalhos Aiuruoca 1969 1617 1574 1985 1735 2098 1970 1149 1222 1986 1704 1622 1971 1502 1403 1987 1994 1851 1972 1680 1644 1988 1621 1778 1973 1376 1232 1989 1667 1697 1974 1570 1405 1990 1386 1368 1975 1361 1182 1991 1800 1804 1976 1848 1712 1992 1715 1882 1977 1259 1345 1993 1295 1408 1978 1758 1625 1994 1735 1719 1979 1697 1480 1995 1550 1468 1980 1831 1998 1996 1337 1923 1981 1892 1742 1997 972 1632 1982 2070 2203 1998 1034 1204 1983 2820 3190 1999 1410 1303 1984 1208 1037 Capítulo 5 - Precipitação 155 5.3.7 Verificação da homogeneidade dos dados: curva dupla acumulada ou dupla massa Consiste em se construir um gráfico em coordenadas cartesianas ortogonais, no qual em um dos eixos são colocados os totais anuais acumulados de um determinado posto e, no outro, a média acumulada dos totais anuais de todos os postos da região, considerada homogênea sob o ponto de vista meteorológico. O objetivo é verificar se os valores do posto em questão foram bem medidos, uma vez que erros podem ocorrer devido à alteração do local de instalação do aparelho. Outra aplicação consiste do estudo da homogeneidade hidrológica de diferentes regiões. Para isto, os dados da estação que se deseja verificar devem constituir uma reta em relação aos valores médios das outras estações. Se houver alteração da reta, significa que os dados não foram corretamente medidos ou são hidrologicamente diferentes. Matematicamente, podem-se avaliar as observações atuais da seguinte forma: o o a a PM MP ⋅= (21) Em que Pa é o valor da observação atual, produzida por uma mudança de local, exposição ou erro de leitura; Po é o valor a ser corrigido; Ma é o coeficiente angular da reta no período mais recente e Mo, o coeficiente angular da reta no período de observação de Po. A Figura 5.18 representa uma curva dupla acumulada. Figura 5.18 Representação de uma curva de dupla massa. Por esta Figura observa-se que os dados atuais saíram da reta de dados mais antigos, significando que houve mudanças importantes nas leituras dos totais A Dados mais recentes Média dos postos vizinhos To ta is a n u a is do po st o X Dados mais antigos B C O Capítulo 5 - Precipitação 156 acumulados. O coeficiente angular anterior (dado por OAC) é diferente do atual (dado por OBC). Ao se aplicar equação 21, corrige-se os valores atuais com base nestes coeficientes angulares. Exemplo: Se uma reta de dupla massa foi criada com base nos pontos (0,0) e (1200,1400), e esta mesma reta, atualmente apresenta (0,0) e (1100,1200), qual será o valorcorrigido de uma leitura de 1400 mm feita atualmente. Ma = 1400/1200 = 1,17 Mo = 1200/1100 = 1,09 Po = 1400 mm Pa = 1502,8 mm é o valor corrigido para a leitura atual. 5.3.8 Precipitação média sobre uma bacia hidrográfica Devido à variabilidade espacial das precipitações há necessidade de se estimar a precipitação média sobre uma bacia hidrográfica, com vistas à aplicação de um modelo hidrológico, por exemplo. Apresentam-se a seguir os métodos mais usuais para esta estimativa. a) Média aritmética: é o método mais simples, aplicável para regiões com boa distribuição de aparelhos, área de relevo plano ou suave e regime pluviométrico mais uniforme possível. n P P n 1i i∑ = = (22) b) Polígonos de Thiessen: este método trabalha com a distribuição espacial dos postos, sendo a média obtida pela ponderação do valor da precipitação de um posto pela sua área de influência. As áreas de influência são aquelas dos polígonos formados pelas mediatrizes dos segmentos de reta que ligam estações adjacentes. Consiste de um método, na sua essência, geométrico. Assim, tem-se: ∑ ∑ ⋅ = = = n 1i i n 1i ii A AP P (23) Embora mais exato que o anterior, ainda apresenta limitações, por não considerar influências orográficas. A Figura 5.19 exemplifica este método para a bacia hidrográfica do Alto Rio Grande à montante do reservatório de Camargos/CEMIG, considerando alguns postos meteorológicos da região. Capítulo 5 - Precipitação 157 Estação Carvalhos Estação Bom Jardim Estação Aiuruóca Estação Cruzília Estação Fazenda Paraiba Estação Andrelândia Estação Ibituruna Estação Fazenda Laranjeiras Estação Madre de Deus Estação Vila Rio das Mortes Estação Carrancas Figura 5.19 Polígonos de Thiessen para a região Alto Rio Grande à montante do reservatório de Camargos/CEMIG, com as respectivas áreas de atuação dos postos pluviométricos. c) Método das Isoietas: consiste inicialmente no traçado das curvas de igual precipitação (isoietas), do que depende basicamente toda a precisão dos resultados. Para obtenção de melhores resultados, o hidrólogo deve, ao traçar as isoietas, considerar todo o conhecimento que o mesmo possuir sobre a área em questão, como influência do relevo (efeitos orográficos) e se possível, a morfologia do temporal (no caso de chuvas intensas); caso contrário o método resultará numa ponderação semelhante ao proposto por Thiessen. A isoieta pode ser traçada com base em métodos de interpolação, os quais serão apresentados no tópico 5.5. A precipitação média será: Capítulo 5 - Precipitação 158 ∑ ⋅∑ + = = = + n 1i i i n 1i 1ii A A 2 PP P (24) d) Krigagem: consiste em determinar a média espacial da variável precipitação sobre uma determinada área, a partir de um estudo prévio de dependência espacial da mesma. Neste caso, busca-se o valor gerado pela krigagem em blocos, a qual pode ser obtida com técnicas de simulação, sendo conhecida como krigagem por simulação. Esta é uma técnica numérica de solução da integral dupla que descreve a krigagem em blocos. Neste caso, é possível a consideração de efeitos orográficos, seja de forma indireta ou aplicando-se técnicas de co-krigagem considerando a altitude como uma variável secundária, as quais podem melhorar os resultados, especialmente se a variável primária estiver consideravelmente menos amostrada que a secundária e houver boa correlação estatística entre as mesmas. 5.4 Chuvas Intensas 5.4.1 Definição Chuva intensa é toda chuva cuja lâmina precipitada ou sua intensidade supere um valor mínimo que é função do tempo de duração da chuva, conforme Tabela 5.2, apresentada a seguir. Tabela 5.2 Valores mínimos de lâmina precipitada (mm) ou de intensidade de precipitação (mm h-1) que caracterizam as chuvas intensas em função do tempo de duração (td). td (min) 5 10 20 30 60 90 120 180 240 Lâmina (mm) 10 12 17 20 25 28,5 30 33 34,8 Intensidade média (mm h-1) 120 72 51 40 25 19 15 11 8,7 Observa-se que a intensidade média de precipitação decresce com o aumento do tempo de duração, ao passo que, a lâmina precipitada aumenta. A Tabela anterior relaciona apenas intensidade com duração, sem mencionar freqüência. Há de se considerar ainda que tanto a intensidade quanto a lâmina precipitada dependem da freqüência com que os valores ocorrem. Os valores mais elevados de precipitação ocorrem com menor freqüência. Em Hidrologia, a forma mais usual de se expressar a freqüência é através do tempo de retorno (TR), que foi definido no capítulo anterior. Capítulo 5 - Precipitação 159 5.4.2 Importância A ocorrência de uma chuva intensa ocasiona uma lâmina precipitada cujo valor é superior ao normal. Esta lâmina pode promover escoamento superficial direto de grande magnitude, além de erosão e transporte de sedimentos. Estes são os problemas que a drenagem do solo, a drenagem superficial e as práticas conservacionistas se propõem a solucionar. Para isto, a chuva intensa é o elemento básico para o dimensionamento destas estruturas (barragens de terra, canais, terraços, bacias de contenção e outras). 5.4.3 Critérios para fixação da freqüência e da duração da chuva a) Freqüência A lâmina precipitada (ou intensidade) de uma chuva além de depender da sua duração, depende também da freqüência de ocorrência da chuva. Assim é que, para uma mesma duração, quanto maior a intensidade da chuva, menor será a freqüência, ou, maior será o tempo de retorno. A freqüência a ser adotada para a chuva depende da natureza da estrutura e da segurança que a mesma irá propiciar. Em termos práticos, os TRs recomendados são: - drenagem do solo: 5, 10 e excepcionalmente 25 anos; - galerias de águas pluviais: 5, 10 e no máximo 50 anos; - drenos de encosta: mesmos valores para drenagem do solo; - terraços: 5 a 10 anos; - barragens de terra: 50, 100 e em caso de risco de vida, 1000 anos. Maiores detalhes sobre fixação de critérios de projetos serão discutidos no capítulo sobre Vazões Máximas. b) Duração A fixação da duração da chuva é dependente da natureza da estrutura e de sua finalidade. Assim, distinguem-se duas situações: - drenagem superficial de águas pluviais - drenagem do solo ou acumulação de águas pluviais para posterior infiltração a) Drenagem superficial de águas pluviais Neste caso, as estruturas devem ser dimensionadas para conduzir o volume de água gerado pelas chuvas simultaneamente à sua ocorrência, ou seja, a vazão resultante do escoamento superficial direto (enxurrada) deve fluir pela estrutura simultaneamente à sua ocorrência. Esta vazão aumenta gradativamente desde o início Capítulo 5 - Precipitação 160 do escoamento superficial, como conseqüência do aumento da área de contribuição para a vazão até o instante em que toda a bacia de captação estiver contribuindo simultaneamente para a vazão, na seção da estrutura. A área de contribuição é máxima quando corresponder à própria área de captação ou a área a ser drenada. A intensidade varia com o tempo de duração. Desta forma, a situação crítica quase sempre se verifica quando o tempo de duração da chuva for igual ao tempo necessário para que toda a área de drenagem esteja contribuindo para a vazão na seção de controle, o qual é denominado tempo de concentração da área. Este tempo depende do tamanho da área de drenagem e de características físicas da mesma (rede de drenagem, declividade, cobertura vegetal, etc). Existem vários métodos para estimativa do tempo de concentração da bacia de drenagem, os quais serão abordados no capítulo sobre Vazões Máximas. O dimensionamento deterraços com gradiente e canais escoadouros são exemplos de aplicação de drenagem superficial. b) Drenagem do solo Neste caso, o tempo de duração da chuva é tomado igual ao tempo disponível para drenar a água excedente, o qual geralmente varia de 1 a 5 dias. Nesta situação, é de suma importância a análise de sensibilidade da cultura à falta de oxigênio, do valor econômico do solo e da cultura. Para terraço em nível ou de retenção e bacias de captação, o tempo de duração da chuva a ser considerado deve ser tal que permita infiltrar a parcela da lâmina precipitada que escorreu até o final do mesmo. No caso de drenagem de várzeas com lençol freático próximo à superfície, para aproveitamento agrícola, é fundamental analisar a cultura, tanto do ponto de vista econômico quanto fisiológico para suportar o ambiente redutor. Isto significa que a ocorrência de uma chuva posterior deve se verificar na situação em que o terraço esteja totalmente vazio. Esta condição é função de dois fatores: da parcela da lâmina precipitada que escoa até o terraço e da capacidade de infiltração do solo no terraço. 5.4.4 Equação de Chuvas Intensas 5.4.4.1 Ajuste com base em pluviogramas A intensidade de precipitação está associada à duração e à freqüência da chuva, sendo expressa, de forma empírica, por um modelo matemático geral, do tipo: ( )ndo m m,m tt TRCI + ⋅ = (25) Capítulo 5 - Precipitação 161 Em que Im,m (mm h-1) é a intensidade média máxima da precipitação, td é o tempo de duração (min), TR, o tempo de retorno (anos), C, m, to e n são os parâmetros que devem ser obtidos com base em dados locais. A forma de determinação destes parâmetros normalmente é feita empregando- se o método de regressão múltipla não-linear de Gauss-Newton. Este método possui característica de trabalhar com cálculos de maneira iterativa, partindo-se de um valor inicial arbitrário. Os cálculos são feitos até que haja minimização dos erros, os quais serão fixados de acordo com o interesse. Para isto, vários aplicativos computacionais disponíveis são capazes de realizar este tipo de trabalho. Além de métodos computacionais, os parâmetros podem ser ajustados pelo processo de regressão linear, linearizando-se a equação 25 por meio de série de transformações logarítmicas. A primeira transformação pode ser promovida fixando-se o valor de TR no numerador da seguinte forma: mTRCA ⋅= (26) A equação 25 pode ser reescrita da seguinte forma: ( )ndom,m tt AI + = (27) Aplicando-se novamente logaritmo à equação 27, obtém-se: ( ) ( ) ( )tdtlognAlogIlog om,m +⋅−= (28) Por sucessivas regressões, testando-se valores para to (somando-os aos valores de td), será obtido um valor para A e n e, consequentemente, um coeficiente de correlação entre log (Im,m) e log (to+td), para cada TR avaliado. A seguir, toma-se o maior coeficiente de correlação (r) obtido e adota-se A, n e to correspondentes a este melhor ajuste, independentemente de TR. Dentre as regressões para cada TR, escolhe-se o maior coeficiente correlação e então o to definitivo. O valor de n pode ser obtido pela média dos valores extraídos da melhor regressão de cada TR. Da mesma forma, os valores de C e m são obtidos por regressão linear após a linearização da equação 26, tomando-se o melhor ajuste para todos os TR, ficando da seguinte forma: ( ) ( ) ( )TRlogmClogAlog ⋅+= (29) Exemplo de Aplicação 5.3 A análise de uma série de pluviogramas das chuvas mais intensas ocorridas numa região permitiu a constituição das séries parciais das intensidades médias máximas para as chuvas com duração entre 5 e 120 minutos. A partir dessas séries, Capítulo 5 - Precipitação 162 obtiveram-se os valores da média e do desvio padrão dos dados, os quais são apresentados a seguir. Resumo dos dados e dos resultados. td (min) 5 10 20 30 40 50 60 75 100 120 Média – Im,m (mm h-1) 120 100 90 80 70 60 55 50 40 30 Desvio padrão (mm h-1) 30 25 20 17,9 17 16,1 14,1 12,2 10 10 Ajustando-se a distribuição Gumbel, considerando TRs iguais a 5, 10, 20, 50 e 100 anos, obtém-se os dados da tabela a seguir. XTR TR YTR KTR 5* 10* 20* 30* 40* 50* 60* 75* 100* 120* 5 1,50 0,72 142 118 104 93 82 72 65 59 47 37 10 2,25 1,30 159 133 116 103 92 81 73 66 53 43 20 2,97 1,87 176 147 127 113 102 90 81 73 59 49 50 3,90 2,59 198 165 142 126 114 102 92 82 66 56 100 4,60 3,14 214 178 153 136 123 110 99 88 71 61 * Tempo de duração (minutos). Para cada TR foram ajustadas regressões, considerando diferentes valores para to até alcançar o valor que produziu os melhores resultados (maior R2), que neste caso, foi de 25 minutos. Os resultados obtidos para A, n e r são: TR A n r 5 2080 -0,786 -0,991 10 2225 -0,774 -0,993 20 2372 -0,765 -0,994 50 2576 -0,756 -0,995 100 2719 -0,750 -0,996 Com regressão linear entre os valores de TR e A (equação 29), os valores de C e m estimados foram: C = 1806; m = 0,0898; r = 0,9994 Assim, pode-se montar a seguinte equação de chuvas intensas para o exemplo, sendo válida para TR entre 5 e 100 anos e td entre 5 e 120 minutos. ( ) 766,0d 0898,0 m,m t25 TR1806I + ⋅ = Capítulo 5 - Precipitação 163 5.4.4.2 Ajuste com base no princípio da desagregação de chuvas Quando não se dispõe de pluviogramas, situação mais comum, a alternativa para se gerar informações para chuvas intensas é a aplicação de relações entre lâminas precipitadas em diferentes tempos. Estudos realizados neste sentido comprovam que estas relações permanecem praticamente constantes não só para diferentes tempos de recorrência, como também, para diferentes regiões. Com base neste princípio, as chuvas podem ser estimadas a partir da chuva diária (registrada pelo pluviômetro) em intervalos de tempo tão pequenos quanto 5 minutos. Este princípio é denominado de Desagregação de Chuvas. Neste caso, constitui-se uma série histórica de valores de precipitação máxima diária anual, ajustando-se a distribuição de probabilidades de Gumbel. Estudos relacionando a chuva de 24 horas (que é registrada pelo pluviógrafo, sem fixação do início da contagem do tempo) e a chuva de um dia (registrada pelo pluviômetro, cujo intervalo de 24 horas é sempre fixo) permitiram obter a seguinte relação média representativa: 14,1 h h dia 1 h24 = (30) Esta relação é um valor médio e geralmente, é constante, com variação muito pequena. No Brasil, estudos relacionando alturas de chuvas para diferentes tempos de duração, permitiram produzir as seguintes relações para a cidade de São Paulo (Tabela 5.3): Tabela 5.3 Valores das constantes de desagregação para chuvas intensas. (ht1/ht2) h24/hdia h12/h24 h10/h24 h8/h24 h6/h24 h1/h24 h0,5/h1 h25/h30* h20/h30 h15/h30 h10/h30 h5/h30 K 1,14 0,85 0,82 0,78 0,72 0,42 0,74 0,91 0,81 0,70 0,54 0,34 * Tempo em minutos Exemplo de Aplicação 5.4 A partir da série de valores de precipitações máximas diárias anuais para Lavras (aproximadamente 74 valores), foram obtidos os seguintes parâmetros estatísticos para a distribuição de probabilidades de Gumbel: - Média = 80,98 mm dia-1 - Desvio padrão = 30,08 mm dia-1 Utilizando-se a citada distribuição e trabalhando com TRs iguais a 2, 10, 20, 50 e 100 anos e as constantes da Tabela 5.3, gera-se a seguinte planilha: Capítulo 5 - Precipitação 164 TR YTR KTR XTR h24 h6 h1 h0,5 h20 h15 h10 H5 2 0,37 -0,16 76,4 86,7 62,4 36,4 26,9 21,8 18,8 14,5 9,2 10 2,25 1,30 120,1 136,9 98,6 57,5 42,6 34,5 29,8 23,0 14,5 20 2,97 1,87 137,2 156,4 112,6 65,7 48,6 39,4 34,0 26,2 16,5 50 3,90 2,59 158,9 181,1130,4 76,1 56,3 45,6 39,4 30,4 19,1 100 4,60 3,14 175,4 199,9 144,0 84,0 62,2 50,4 43,5 33,6 21,2 XTR: precipitação máxima diária (mm dia-1); h24: precipitação máxima de 24 horas; h6: precipitação máxima de 6 horas; h1: precipitação máxima de 1 hora; h0,5: precipitação máxima de 30 minutos; h20: precipitação máxima de 20 minutos; h15: precipitação máxima de 15 minutos; h10: precipitação máxima de 10 minutos; h5: precipitação máxima de 5 minutos. Com os dados do quadro anterior é possível determinar a equação de chuvas intensas para tempos de duração entre 5 e 1440 minutos, para os tempos de retorno de 2, 10, 20, 50 e 100 anos. Os valores da lâmina para os tempos de duração entre 60 e 360 minutos, para cada tempo de retorno, serão obtidos a partir da curva h(mm) x td (min), utilizando-se os dados da planilha acima. Este gráfico, normalmente é construído em escala logarítmica para o eixo dos X (correspondente ao tempo de duração), para redução de variabilidade. O quadro abaixo apresenta os resultados para os valores de TR trabalhados, tendo sido obtido melhores ajustes das regressões para to de 7 minutos. TR A n r 2 544,00 -0,6426 -0,9999 10 941,44 -0,6723 -0,9992 20 1027,52 -0,6581 -0,9997 50 1195,02 -0,6591 -0,9996 100 1296,54 -0,6527 -0,9999 Da mesma forma anterior, chega-se à equação 29, ajustada da seguinte forma: ( ) ( )TR log21866,07066,2A log ⋅+= E, portanto, obtém-se: C = 508,8369; m = 0,218766; n = -0,65696; r = 0,9705 A equação de chuvas intensas fica assim ajustada da seguinte forma: ( ) 6569,0d 2188,0 m,m t7 TR84,508I + ⋅ = Capítulo 5 - Precipitação 165 5.4.5 Método de Bell para estimativa de chuvas intensas O método de Bell (1969) consiste de uma equação constituída por 5 parâmetros, cuja característica principal é a sua regionalização, ou seja, pode-se ajustá-la com base em dados de algumas estações e gerar um modelo para a região destas estações. O modelo tem a seguinte estrutura: ( ) ( )( ) ( ) ( )2,603bd21TR,dt hataaTRlnah ⋅−⋅⋅+⋅= (31) Em que h(td,TR) é a chuva (mm), a, a1, a2, a3 e b são parâmetros regionais de ajuste do modelo e h(60,2) corresponde a uma precipitação intensa com duração de 60 minutos e TR de 2 anos. O método de ajuste empregado é o de Gauss-Newton. Alguns autores destacam o ajuste deste modelo para o Brasil como um todo, obtendo-se a seguinte equação: ( ) ( )( ) ( ) ( )2,6031,0dTR,dt h39,0t38,070,0TRln31,0h ⋅−⋅⋅+⋅= (32) Para regiões do Estado de Minas Gerais, foram feitos os seguintes ajustes: - Norte de Minas: ( ) ( )( ) ( ) ( )2,60178,0dTR,dt h44,0t38,0134,2TRln818,0h ⋅−⋅⋅+⋅= (33) - Sul de Minas: ( ) ( )( ) ( ) ( )2,60116,0dTR,dt h422,0t38,0821,3TRln75,1h ⋅−⋅⋅+⋅= (34) - Centro: ( ) ( )( ) ( ) ( )2,60219,0dTR,dt h45,0t38,050,1TRln72,0h ⋅−⋅⋅+⋅= (35) - Leste: ( ) ( )( ) ( ) ( )2,60098,0dTR,dt h41,0t38,061,4TRln088,2h ⋅−⋅⋅+⋅= (36) -Triângulo Mineiro: ( ) ( )( ) ( ) ( )2,60198,0dTR,dt h445,0t38,0873,1TRln70,0h ⋅−⋅⋅+⋅= (37) Capítulo 5 - Precipitação 166 5.5 Mapeamento da Precipitação 5.5.1 Importância O mapeamento de grandezas climáticas tem sido uma das áreas da hidrologia aplicada que tem recebido grande atenção dos pesquisadores, tanto trabalhando na busca por melhoria de aspectos metodológicos, aprimorando técnicas, quanto gerando produtos (mapas) de uso e aplicação imediata e prática. Mapas de chuvas e erosividade são fundamentais para aplicação em locais desprovidos de monitoramento “in situ” da precipitação, possibilitando que sejam elaborados projetos hidráulicos e conservacionistas com boa precisão e segurança. O advento de recursos computacionais tem sido o suporte para a geração destes produtos. Técnicas estatísticas que antes não eram aplicadas pelas dificuldades impostas por cálculos complexos e em grande quantidade, são facilmente resolvidos com recursos computacionais disponíveis. A geoestatística é uma delas, demandando situações trabalhosas para aplicação de seu interpolador, principalmente em grandes escalas, com grande quantidade de dados. Outra técnica que tem recebido destaque consiste da aplicação de redes neurais, possibilitando bons resultados no tocante à geração de mapas de grandezas climáticas. A importância do geoprocessamento (Sistema de Informações Geográficas – SIG) como técnica para produzir mapas a partir do tratamento e gerenciamento de dados, é grande, podendo, inclusive incorporar a geoestatística. Na atualidade, provavelmente seja muito difícil trabalhar com hidrologia aplicada sem o conhecimento destas técnicas. A produção de mapas com grandezas climáticas zoneadas permite aos diversos setores da sociedade desenvolver técnicas e estudos apropriados, sendo o primeiro passo para a execução racional de projetos no âmbito de uma região, estado ou país. 5.5.2 Algumas técnicas utilizadas na interpolação espacial e mapeamento 5.5.2.1 Inverso da distância Consiste de uma média ponderada pelo inverso da distância entre a localidade que se deseja estimar a precipitação e as localidades vizinhas, das quais são conhecidos os valores da variável. Pode-se trabalhar com vários expoentes para a distância, sendo relatado em alguns trabalhos, valores entre 1 e 4. Contudo, já foi constatado que o melhor desempenho (menores erros) foi obtido quando se usou o expoente 2, ou seja, o inverso do quadrado da distância. Matematicamente, tem-se: Capítulo 5 - Precipitação 167 ∑ ∑ = = = m 1i ni m 1i in i d 1 P d 1 P (38) Em que, Pi é a precipitação nos pontos vizinhos, conhecida; di é a distância euclidiana da respectiva estação ao ponto a ser estimado; n, o expoente da distância e m, o número de estações utilizadas. Este interpolador apresenta alguns problemas estatísticos importantes, sendo o principal deles, o fato de ser tendencioso, ou seja, a soma dos pesos pode não ser 1. Esta é uma característica fundamental dos interpoladores espaciais que deve ser verificada. 5.5.2.2 Interpolador geoestatístico (krigagem) Esta é uma metodologia de interpolação de valores que tem mostrado bons resultados no tocante à estimativa de precipitações, conforme alguns trabalhos recentes. Isto é possível graças às suas características estatísticas, pois se constitui de um interpolador cuja variância é mínima e a média é não-tendenciosa, ou seja, a soma dos pesos de krigagem é sempre igual a 1. Estas premissas estatísticas formam o embasamento da geoestatística, que é uma ferramenta que considera a influência da posição (localização) das amostras, ou seja, que a variável num ponto tem influência no valor da variável em outro ponto. Quando isto ocorre, diz-se que há dependência espacial e a parcela do erro aleatório, associada à posição, passa a ser controlada. Desta forma, tem-se duas conseqüências quando se compara a geoestatística com a estatística clássica, a qual considera que as amostras são independentes no espaço: - Se o número de amostras for o mesmo que o da estatística clássica, haverá redução de erro na estimativa, pois uma vez detectada existência de dependência espacial, pode-se controlar parcela do erro aleatório que a estatística clássica não considera. Assim, tem-se que: Estatística Clássica: aES eXX += Geoestatística: aES `eSXX ++= , onde S + e’a equivale a ea e S é modelado pela geoestatística - Se fixarmos um erro igual para ambas estatísticas pode-se reduzir o número de amostras quando a geoestatística for aplicada. Isto é bastantesignificativo, pois haverá um custo menor para a realização do trabalho. Capítulo 5 - Precipitação 168 A semivariância de uma variável é calculada por: ( ) ( )∑ −⋅ ⋅ =γ = + N 1i 2 hii XXN2 1h (39) Partindo-se desta equação, determinam-se todas as possíveis combinações entre os pontos amostrados, construindo-se o semivariograma experimental. Este representa uma relação entre a variância e a posição, ou seja, apenas a distância é que determinará a variância entre os pontos a partir do semivariograma experimental, sendo possível ajustar um modelo teórico ao mesmo, conforme esquematizado pela Figura 5.20, a qual ilustra um modelo teórico de semivariograma com seus componentes. Figura 5.20 Representação geral de um semivariograma e seus parâmetros. Algumas observações se fazem necessárias: - A dependência espacial somente é verificada até o raio do alcance. A partir desta distância, não mais se verifica a dependência espacial, valendo-se os princípios da estatística clássica; - O efeito pepita diz respeito a um “ruído”, ou seja, erro associado à pequena escala, onde quanto maior seu valor, menor a estrutura de dependência espacial. Isto não significa que não haja dependência espacial, mas que é necessário reduzir a distância entre as amostras para detectá-la; - O patamar reflete quanto há de dependência espacial nos dados; quanto maior seu valor, maior a dependência. Os principais modelos de semivariograma aplicados ao estudo de precipitação são: Distância • • • • • • Efeito Pepita (Co) Patamar Alcance (a) ( )hγ C1 Capítulo 5 - Precipitação 169 - Esférico: ( ) ⋅− ⋅⋅+=γ 3 1o a h 2 1 a h 2 3CCh (40) Válido para 0 < h < a (somente é válido da distância 0 até o alcance); - Exponencial: ( ) ⋅− −⋅+=γ a h3 exp1CCh 1o (41) - Gaussiano: −=γ − 2a/2h e1C)h( Os modelos de semivariograma podem ser ajustados pelos seguintes métodos: - Intuitivamente, ou seja, os parâmetros do semivariograma são determinados “a olho”; - Mínimos quadrados ponderados, haja vista que um ponto do semivariograma experimental é formado por várias combinações diferentes de pontos separados pela mesma distância, possuindo determinado peso; - Máxima verossimilhança que consiste de uma metodologia de ajuste do semivariograma baseado num modelo multi-variado normal. Neste caso, não são os pontos do semivariograma que produzem o ajuste, mas as características da base de dados, assumindo normalidade bivariada. Quando os dados aproximam-se desta situação, o ajuste é de boa qualidade estatística; quando não, recomenda-se outra metodologia. A análise comparativa dos melhores ajustes de semivariogramas é desenvolvida com base em alguns resultados de avaliações estatísticas, especificamente a validação cruzada ou a estimativa da variável para alguns locais que não fizeram parte da análise de continuidade espacial, sendo esta última tecnicamente mais aceitável. A verificação do grau de dependência espacial também consiste de uma análise importante pois reflete o quanto a variável em questão pode ser explicada pela geoestatística. A krigagem constitui-se no interpolador geoestatístico, obtido em função do modelo de semivariograma (equações 40 e 41). A estimativa da variável é feita calculando-se os pesos de cada localidade da vizinhança do ponto a ser predito, sendo pesos estatísticos e não apenas geométricos. Isto é feito da seguinte forma: Capítulo 5 - Precipitação 170 [ ] [ ] [ ]λ=⋅− BA 1 (42) O objetivo desta equação matricial é calcular os pesos de krigagem. Cada membro significa: [A]-1 = matriz de semivariância, obtida pelo cálculo de semivariância usando a distância entre os pontos da vizinhança (todas as possíveis combinações) e o modelo de semivariância, substituindo-se a distância no modelo; [B] = matriz de semivariância, obtida pelo cálculo de semivariância usando as distâncias entre os pontos da vizinhança e o ponto para o qual se deseja estimar a variável, usando o mesmo modelo de semivariância ajustado; [ λ ] = matriz de pesos, obtido pela multiplicação das matrizes inversa de A e a matriz B. Uma vez determinado os pesos de cada vizinhança, estima-se a variável para o ponto da seguinte forma: ∑ ⋅λ= = n 1i iix PP (43) Px é a precipitação estimada para o ponto x; n é o número de pontos na vizinhança de krigagem e Pi é a precipitação de cada vizinhança. Uma observação importante: as técnicas de interpolação podem ser aplicadas para fins de preenchimento espacial de falhas, constituindo-se numa opção metodológica adicional. Capítulo 5 - Precipitação 171 5.5.3 Aplicações 5.5.3.1 Chuvas Intensas a) Interpolação de Parâmetros Alguns trabalhos recentes, comparando os interpoladores, têm demonstrado que a krigagem geoestatística gera maior precisão. Mello et al. (2003), compararam os interpoladores inverso do quadrado da distância e krigagem para interpolação de parâmetros das equações de chuvas intensas para várias localidades do estado de São Paulo. A comparação de precisão foi feita avaliando-se os parâmetros estimados pelas metodologias em relação aos valores originais de localidades não utilizadas no estudo, algo fundamental quando se deseja avaliar a precisão de modelos. Primeiramente, na Figura 5.21 são apresentados os semivariogramas ajustados para cada parâmetro, tendo o modelo exponencial prevalecido nos ajustes para os parâmetros K, B e C e o modelo esférico, para o parâmetro a. Figura 5.21 Semivariogramas ajustados para os parâmetros da equação de chuvas intensas para o estado de São Paulo. A seguir, são apresentados os respectivos modelos ajustados. ( ) ⋅− −⋅+=γ 93074 h3 exp1120000140000h (44) ( ) ⋅− −⋅+=γ 92400 h3 exp115,2937,15h (45) Distância (m) 10 20 30 40 50 0,003 0,0045 0,006 0,0075 0,009 0 100000 200000 300000 400000 Parâmetro K Parâmetro a Parâmetro C 50000 100000 150000 200000 250000 300000 0 0,0002 0,0004 0,0006 0,0008 0 100000 200000 300000 400000 Parâmetro B Se m iv a riâ n ci a Capítulo 5 - Precipitação 172 ( ) ⋅− −⋅+=γ 92400 h3 exp10034,0004,0h (46) ( ) ⋅− ⋅⋅=γ 3 103600 h5,0 103600 h5,10006,0h (47) É interessante destacar os bons ajustes obtidos, demonstrando que estas variáveis apresentam estrutura de continuidade espacial. Além disto, foi obtido alcance da ordem de 100 km, valor este interessante do ponto de vista do planejamento agroclimático, e encontrado por outros pesquisadores em estudos que trataram de chuvas com duração de 60 minutos. Na Tabela 5.4 são apresentados os resultados da comparação entre as metodologias estudadas, verificando-se predomínio considerável da krigagem sobre o inverso do quadrado da distância, tendo-se o erro de estimativa comoreferência. Ca pí tu lo 5 - Pr e ci pi ta çã o 17 3 Ta be la 5. 4 Es ta çõ es m et eo ro ló gi ca s (co lu n a Ci da de ) te st ad as be m co m o as vi zi n ha n ça s em pr eg ad as em ca da u m a de la s e er ro s m éd io s pr op or ci on ad os pe lo s m ét od os de in te rp ol a çã o. Ci da de Es ta çã o 1 Es ta çã o 2 Es ta çã o 3 Es ta çã o 4 Es ta çã o 5 Es ta çã o 6 E I QD (% ) E K rig . (% ) Bo itu va Itú El ia s Fa u st o Pi ra ci ca ba Vi n he do Ta pi ra í Co sm óp ol is 10 , 5 11 , 5 Bo tu ca tu 2 Bo tu ca tu 1 Ita tin ga Sa n ta M . Se rr a G u ar eí Ba rr a Bo n ita Ta tu í 27 , 8 28 , 4 Ca ça pa va Ta u ba té Sa n ta Br an ca Sã o Jo sé do s Ca m po s Sã o Be n to do Sa pu ca í Sa le só po lis Ap ar ec id a 8, 4 6, 4 Cu ba tã o 2 Sa n to An dr é Cu ba tã o 1 M au á S. Be rn ar do Ca m po M og i d as Cr u ze s Bi rit ib a M iri m 6, 9 6, 0 D ou ra do Ar ar aq u ar a Bo ra ce ia Ba rr a Bo n ita Sa n ta M . Se rr a Ita jú M at ão 9, 7 8, 6 G u ar u já Cu ba tã o Sa n to An dr é S. Be rn ar do do Ca m po M au á M og i d as Cr u ze s Bi rit ib a M iri m 13 , 9 13 , 1 Ita n ha ém Ita rir i Ju qu iti ba Ita pe ce ric a da Se rr a Cu ba tã o S. Be rn ar do do Ca m po Sa n to An dr é 5, 5 3, 8 Ita po ra n ga Ita ra ré Ti m bu rí Pi ra jú Bu ri Ág u as Sa n ta Bá rb ar a Ap ia í 26 , 7 23 , 1 Iti ra pi n a 2 Iti ra pi n a 1 Pi ra ci ca ba Le m e Sã o Ca rlo s M og i G u aç u Co sm óp ol is 12 , 9 9, 1 Li n s Jú lio M es qu ita R eg in óp ol is Ba rb os a Qu ei ró s M u n do N ov o (G ra ça ) Ib iti n ga 41 , 0 37 , 0 M ar tin óp ol is R an ch ar ia Pr es id en te Be rn ar de s Lu té ci a Qu ei ró s G u ar ar ap es Ba rb os a 23 , 6 20 , 2 Pa ra n ap a n em a Ita tin ga Bu ri G u ar eí Bo tu ca tu 1 Pi ra jú Ta tu í 4, 4 5, 2 Pe dr o To le do Ju qu iti ba Ita rir i Ita pe ce ric a da Se rr a Co tia Ta pi ra í Ib iú n a 20 , 2 13 , 4 Pi ac a tu G u ar ar ap es Qu ei ró s R an ch ar ia La ví n ia Ba rb os a Lu té ci a 15 , 3 13 , 0 IQ D = In ve rs o do Qu ad ra do da D is tâ n ci a ; K rig . = kr ig a ge m ; B o tu ca tu 1= Es ta çã o Bo tu ca tu ; B o tu ca tu 2 = Es ta çã o Ba irr o An hú m a s; Cu ba tã o 1= Es ta çã o Pi a ça gu e ra ; C u ba tã o 2 = Es ta çã o Te rc e iro Pl an o da Se rr a N o va ; Iti ra pi n a 1 = Es ta çã o Vi sc o n de de R io Cl a ro ; Iti ra pi n a 2 = Es ta çã o G ra ún a ; a di st ân ci a e n tre as es ta çõ es e a re sp ec tiv a ci da de a u m en ta n o se n tid o de 1 pa ra 6. Capítulo 5 - Precipitação 174 b) Mapeamento Alguns estudos foram realizados para o estado de Minas Gerais no tocante ao mapeamento de chuvas intensas por meio do interpolador geoestatístico. Alguns modelos de semivariograma foram testados além de métodos de ajuste dos mesmos. Na Figura 5.22a apresentam-se os semivariogramas ajustados para o estudo da chuva intensa no Estado de Minas Gerais, considerando duração de 30 minutos e tempo de retorno de 5 anos. Esta parametrização é importante, pois é comum sua aplicação ao dimensionamento de terraços para condução da enxurrada. Analisando- se os resultados do grau de dependência e validação cruzada, além do ajustamento do modelo aos pontos do semivariograma, o modelo exponencial ajustado pelo método dos Mínimos Quadrados Ponderados (MQP) pode ser apontado como o melhor para descrever a continuidade espacial desta situação de chuvas intensas em Minas Gerais. Na Figura 5.22b é possível avaliar os semivariogramas teóricos ajustados à situação de chuvas intensas com duração de 1440 minutos e TR de 5 anos, situação importante em termos de drenagem do solo. 0 e+00 2 e+05 4 e+05 6 e+05 8 e+05 0 20 40 60 Distância (m) Se m iv ar iâ n ci a 0 e+00 1 e+05 2 e+05 3 e+05 4 e+05 5 e+05 6 e+05 0. 20 0. 25 0. 30 0. 35 0. 40 0. 45 0. 50 0. 55 distance se m iv a ria n ce a) b) Figura 5.22 Semivariogramas ajustados para chuvas intensas com 30 minutos de duração e tempo de retorno de 5 anos (a) e 1440 minutos e tempo de retorno de 5 anos (b), para o Estado de Minas Gerais. Na Figura 5.23a tem-se o mapa de chuvas intensas produzido para duração de 30 e 1440 minutos e tempo de retorno de 5 anos para o Estado de Minas Gerais e na Figura 5.23b para chuvas intensas de 1440 minutos com a mesma recorrência. A aplicação de tais mapas está associada ao fornecimento de subsídios primários para Capítulo 5 - Precipitação 175 dimensionamentos hidráulicos, especialmente de estruturas coletoras do excesso de chuva e drenagem do solo. Figura 5.23 Mapas de chuvas intensas de 30 (a) e 1440 minutos (b) de duração e tempo de retorno de 5 anos para o Estado de Minas Gerais, na forma de isolinhas, em mm/h. Capítulo 5 - Precipitação 176 A seguir, está apresentado o mapeamento de uma chuva provável para o Sul de Minas Gerais, visando subsidiar a agricultura irrigada na região. Da mesma forma anterior, a geoestatística foi aplicada para geração dos mapas. Na Figura 5.24 tem-se semivariogramas de ajuste da variável em questão e na seqüência (Figura 5.25), o mapa da região com a distribuição espacial da precipitação provável associada a 75% de probabilidade e para a segunda quinzenade dezembro, também na forma de isolinhas. 0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 350000 0 10 0 20 0 30 0 40 0 50 0 60 0 Distância (m) Se m iv a riâ n ci a Figura 5.24 Semivariogramas ajustados para chuva provável a 75% de probabilidade associada à segunda quinzena de dezembro para o Estado de Minas Gerais. Capítulo 5 - Precipitação 177 Figura 5.25 Mapa de chuva provável associada à segunda quinzena de dezembro e probabilidade de 75% para o Sul do Estado de Minas Gerais, na forma de isoietas, em mm. 5.6 Relação Florestas e Precipitação: princípios básicos A influência das florestas pode ser analisada sob dois aspectos: - No total precipitado na bacia hidrográfica; - Influência das florestas e áreas silvestres associadas, sobre a interceptação, redistribuição e incidência da precipitação no solo. O primeiro aspecto, embora motive discussões polêmicas, especialmente nos dias atuais, aceita-se que a mera presença da floresta não afeta necessariamente a precipitação sobre uma bacia especificamente. O segundo aspecto é, sem dúvida nenhuma, de comprovada importância para o estabelecimento do balanço hídrico, influenciando diretamente o ciclo hidrológico na bacia hidrográfica. 5.6.1 Interceptação A estimativa da parcela da precipitação que é interceptada pela cobertura vegetal é fato relevante e tem sido objeto de várias pesquisas e constatações Capítulo 5 - Precipitação 178 experimentais e práticas. O esquema da Figura 5.26 permite visualizar a influência da floresta na interceptação e redistribuição da precipitação. Figura 5.26 Representação esquemática da influência da cobertura vegetal no ciclo hidrológico. 5.6.1.1 Modelagem da interceptação Com base no esquema da Figura 5.26, tem-se: EsTPP ie += (48) Perda por interceptação ( )ETPPPPI itet +−=−= (49) Observações: - Pt: deve ser obtido colocando-se de 2 a 4 pluviômetros a cerca de 1 a 2 km da floresta; - Pi: para sua medição recomenda-se um número maior de pluviômetros, normalmente 18 para cada 2 externos, bem distribuídos e periodicamente relocados dentro da floresta; - EsT: é obtida por medição através da colocação de dispositivos coletores, cuidadosamente instalados ao redor dos troncos de árvores, selecionados ao acaso. Para algumas espécies e dependendo da idade, esta parcela é desprezível. Evapotranspiração - ET Precipitação total Incidente(Pt) Interceptação pela cobertura vegetal (I) Precipitação interna (Pi) Água interceptada Absorção pelas plantas Evaporação Escoamento pelos troncos (EsT) Precipitação efetiva que atinge o solo (Pe) Capítulo 5 - Precipitação 179 A parcela interceptada é variável, sendo função de muitos fatores, destacando- se: - Total precipitado e intensidade da chuva; - Tipo de floresta (conífera ou folhosa); - Densidade de povoamento, idade e estação do ano (principalmente folhosas); - Condições de vento Sabe-se que a cobertura vegetal tem uma capacidade máxima de retenção. Então, no início das precipitações as quantidades interceptadas são maiores, tendendo a um valor constante igual à evaporação, quando é alcançada esta capacidade. O vento pode atuar tanto no sentido de aumento quanto de diminuição da interceptação. De um modo geral existem os seguintes aspectos: - Coníferas interceptam mais que as folhosas; - Quanto maior a densidade foliar maior a interceptação; - A quantidade interceptada aumenta com a idade até certo ponto, depois diminui; - O percentual da interceptação reduz com o aumento da intensidade de precipitação; - O EsT aumenta com a intensidade de precipitação; - A interceptação reduz não só o total da precipitação que atinge o solo, como também a intensidade da precipitação em até 20%; Dados obtidos sobre o comportamento da precipitação interna e escoamento pelos troncos, por Lima (1975), por 2 anos consecutivos, para Eucaliptos (E. saligna) e Pinus (Pinus caricaba) na região de Piracicaba, SP, geraram as seguintes relações: 530,0PT890,0PIE −⋅= (50) 570,0PT938,0PIP −⋅= (51) 060,0PT053,0EsTE −⋅= (52) 139,0PT025,0EsTP −⋅= (53) Em que PIE é a precipitação interna no Eucalipto, PIP, a precipitação interna no Pinus, EsTE e EsTP são os escoamentos pelos troncos para eucaliptos e pinus, respectivamente. Em alguns trabalhos sob condição de Mata Atlântica, foram obtidos resultados importantes associando PE e Pt: tE P8670,07162,2P ⋅+−= (54) Capítulo 5 - Precipitação 180 tI P8386,00725,1P ⋅+−= (55) tP0225,02552,0EsT ⋅+−= (56) Pesquisadores têm verificado que sob condição de Mata Atlântica, houve interceptação de 18,3% da precipitação incidente na floresta, com baixa participação do escoamento pelo tronco. Já para as condições da Floresta Amazônica, foi obtida a seguinte equação: tI P8724,0P ⋅= (57) Resultados têm mostrado interceptação variando de 12,9% a 25,8% pela Floresta Amazônica. Estes resultados ainda constituem situações preliminares, necessitando de estudos mais detalhados, especialmente no contexto da distribuição espacial no interior da floresta e o impacto efetivo que diferentes coberturas vegetais podem produzir no ciclo hidrológico, na forma de interceptação. Na Figura 5.27 é possível observar um pluviômetro no interior de uma nativa na região da Serra da Mantiqueira, sendo possível estudar o comportamento da interceptação deste tipo de cobertura vegetal. Figura 5.27 Pluviômetro instalado dentro de um remanescente de Mata Atlântica na região da Serra da Mantiqueira. Capítulo 5 - Precipitação 181 5.7 Erosividade das Chuvas 5.7.1 Definições A erosividade das chuvas diz respeito à capacidade da chuva de produzir erosão pelo impacto direto de gotas sobre a superfície do solo, gerando um fenômeno conhecido como salpicamento. Portanto, a erosividade está intimamente associada à energia cinética das gotas e à intensidade das chuvas. A energia cinética das gotas pode ser calculada por meio de equações empíricas que a relacionam à precipitação total ou a uma intensidade média da precipitação, e cada região apresenta um modelo diferente, de acordo com seu regime de chuvas característico. Vários pesquisadores têm trabalhado nos últimos anos visando a estudos de correlação entre a intensidade máxima da precipitação, associada a vários intervalos de tempo (10, 20, 30 e 60 minutos), e a produção de sedimentos. Os trabalhos desenvolvidos apresentaram uma melhor correlação com a intensidade de 30 minutos e este parâmetro tem sido utilizado no cálculo da erosividade da chuva. Os modelos apresentados a seguir são os mais comumente empregados para estimativa da Energia Cinética, sendo, respectivamente, desenvolvidos por Wischmeier & Smith (1958) e Wagner & Massambani (1988): ( )Ilog0873,0119,0Ec 10⋅+= (58) ( )Ilog0645,0153,0Ec 10⋅+= (59) Em que Ec é a energia cinética, em MJ ha-1 mm-1 e I, a intensidade média da chuva, em mm h-1. Um dos critérios mais aplicados para o estabelecimento de chuvas erosivas foi desenvolvido por De Maria (1994), considerando como chuvas não erosivas aquelas menores que 10 mm, desde que tenham intensidade máxima em dez minutos menor que 24 mm h-1, ou energia cinética abaixo de 3,6 MJ ha-1. A erosividade pode ser calculada para um evento exclusivamente ou para um total diário, mensal ou anual. A determinação daerosividade, em termos práticos, é feita extraindo-se o valor máximo de 30 minutos consecutivos de um pluviograma ou da mesma forma, dispondo-se de valores oriundos de estações climatológicas compactas com totais precipitados a cada intervalo de tempo; quanto menor este intervalo, maior a precisão na estimativa. A soma dos valores produzidos por todos os eventos num dado mês ou ano constituirá na erosividade total no período respectivo. Capítulo 5 - Precipitação 182 Exemplo de Aplicação 5.5 Estimar a erosividade da chuva ocorrida em 11/12/2002 no município de Lavras (MG), monitorada por uma estação climatológica compacta, utilizando a equação 59 para estimativa da energia cinética e o critério apresentado para separação de chuvas erosivas. Hora Lâmina no intervalo (mm) Intensidade (mm h-1) Ec (MJ ha-1 mm-1) Lâmina 30’ (mm) Intensidade de 30’ consecutivos (mm h-1) 15:20 1,02 6,12 0 15:30 3,56 21,36 0 15:40 9,65 57,9 0,2667 14,23 28,46 15:50 4,83 28,98 0,2473 18,04 36,08 16:00 3,56 21,36 0 18,04 36,08 16:10 1,27 7,62 0 9,66 19,32 16:20 0,51 3,06 0 5,34 10,68 16:30 1,52 9,12 0 3,30 6,6 16:40 1,02 6,12 0 3,05 6,1 16:50 2,03 12,18 0 4,57 9,14 17:00 2,03 12,18 0 5,08 10,16 17:10 4,32 25,92 0,2442 8,38 16,76 17:20 1,27 7,62 0 7,62 15,24 17:30 0,76 4,56 0 6,35 12,70 17:40 0,51 3,06 0 2,54 5,08 17:50 0,25 1,50 0 1,52 3,04 18:00 0,25 1,50 0 1,01 2,02 18:10 0,51 3,06 0 1,01 2,02 18:20 0,51 3,06 0 1,27 2,54 18:30 0,25 1,50 0 1,27 2,54 18:40 0,25 1,50 0 1,01 2,02 A intensidade máxima consecutiva de 30 minutos é 36,08 mm/h, provocada pela soma dos eventos das 15:30, 15:40 e 15:50 (ou 15:40, 15:50 e 16:00). A precipitação total foi de 39,88 mm em 200 minutos, produzindo uma intensidade média de 12 mm h-1. Além disto, observa-se que, pelo critério de Maria (1994), esta chuva foi considerada erosiva em apenas 3 situações (a intensidade máxima supera 24 mm h-1 em 10 minutos). Capítulo 5 - Precipitação 183 A energia cinética do evento é obtida multiplicando-se os valores calculados da coluna 4 pelo respectivo total precipitado (coluna 2), proporcionando o valor da energia cinética para o evento: 0,2667 x 9,65 + 0,2473 x 4,83 + 0,2442 x 4,32 = 4,8231 MJ ha-1. A erosividade do evento (EI30), portanto, será igual a: EI30 = 4,8231 x 36,08 mm h-1 =174,02 MJ mm (ha h)-1. 5.7.2 Índice de Fournier A erosividade mensal da chuva pode ser estimada com base num índice conhecido como Índice de Fournier, o qual pode ser associado à erosividade por uma equação de regressão simples, específica para uma localidade. Esta situação pode ser aplicada quando não se dispõe de dados de pluviogramas para se estudar o potencial erosivo da chuva, uma vez que este índice depende apenas do comportamento total da chuva. A definição do Índice de Fournier é dada por: P pRc 2 = (60) Em que Rc é o coeficiente de chuva (mm); p, a precipitação média do respectivo mês (mm); e P, a precipitação média anual (mm). Para isto, é necessária a existência de séries históricas com pelo menos 10 anos para obtenção do valor médio do respectivo mês e anual. Para séries menores, não haverá boa consistência da estimativa da erosividade. Na Tabela 5.5 são apresentadas algumas equações que estimam EI30 em função de Rc, com os respectivos autores. Tabela 5.5 Equações para cálculo de EI30 em função do Índice de Fournier para algumas localidades brasileiras. Local Equação (MJ mm ha-1 mês-1) Fonte Campinas - SP ( ) 841,030 Rc73,68EI ⋅= Lombardi Neto & Moldenhauer (1992) Goiânia - GO Rc69,3015,216EI30 ⋅+= Silva et al. (1997) Lavras - MG 6030,030 Rc92,125EI ⋅= Val (1985) Leste de MG 7982,030 Rc385,121EI ⋅= Oliveira (2006) Juazeiro - BA 763,69Rc307,42EI30 +⋅= Silva (2004) Mococa - SP 691,030 Rc173,111EI ⋅= Carvalho (1987) Nova Friburgo -RJ 991,67Rc856,33EI30 +⋅= Carvalho et al. (2005) Seropédica - RJ 866,64Rc138,38EI30 +⋅= Carvalho et al. (2005) Sete Lagoas - MG 230 Rc232,0Rc35,433,25EI ⋅−⋅+= Marques et al. (1998) Capítulo 5 - Precipitação 184 O mapeamento da erosividade, seguindo os mesmos princípios destacados anteriormente para precipitação, consiste também de uma aplicação importante dos conceitos até aqui apresentados. Na Figura 5.28 apresenta-se um mapa de erosividade média anual para o Estado de Minas Gerais, utilizando como interpolador, a krigagem simples. O mapa está na forma de curvas isoerodentes, ou seja, curvas de igual erosividade. O modelo de semivariograma adotado foi o exponencial ajustado por máxima verossimilhança, tendo-se como referência a validação cruzada e o grau de dependência espacial. Pelo mapa, é possível observar que a região leste de Minas Gerais, prolongando-se pelo centro e oeste do Estado, é a região com maiores valores de EI30 anual, ou seja, são áreas onde os problemas associados à erosão hídrica são naturalmente mais destacados, principalmente se a cobertura vegetal for escassa. Estas observações demonstram como o mapa da Figura 5.28 pode ser aplicado, sendo uma ferramenta com alto poder de informação para planejamento regionalizado. Figura 5.28 Mapa de erosividade anual (MJ mm ha-1 ano-1) para o Estado de Minas Gerais (mapa de isoerodentes). Capítulo 5 - Precipitação 185 5.8 Referências Bibliográficas CARVALHO, D. F. de; MONTEBELLER, C.A.; FRANCO, E.M.; VALCARCE, R. BERTOL, I. Padrões de precipitação e índices de erosividade para as chuvas de Seropédica e Nova Friburgo, RJ. 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