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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 1 Olá amigos! Quero propor um desafio! Vamos estudar para o tão esperado concurso do Tribunal de Contas da União1 (TCU)? Os salários de R$ 9.144,04 para o cargo de Analista de Controle Externo chamam bastante atenção... e com certeza, não somente a sua! Mas também a de milhares de brasileiros que sonham com a aprovação em um concurso público. Nosso tempo é curtíssimo! O edital foi lançado dia 20 de julho e as provas serão realizadas dia 29 de setembro. Não temos nenhum tempo a perder! É hora de acelerar! Lembrem-se do que já dizia Mark Twain: “O segredo de progredir é começar. O segredo de começar é dividir as tarefas árduas e complicadas em tarefas pequenas e fáceis de executar, e depois começar pela primeira.” Vamos começar nossa tarefa? Vamos estudar? Vamos praticar? Vamos testar nossos conhecimentos? O Jornal O GLOBO deste último domingo no Rio de Janeiro trouxe em uma de suas principais manchetes o seguinte título: “Os craques dos concursos”, falando sobre os chamados concurseiros, gente que estuda e passa em vários processos de seleção. Segundo a matéria divulgada neste jornal, os concurseiros são uma legião de candidatos a empregos em empresas e órgãos públicos que, segundo cálculos da Associação Nacional de Proteção aos Concursos (Anpac), reúne 500 mil pessoas em todo o país. O que você acha sobre essas pessoas? São gênios, aliens? Não. São pessoas comuns, como você, que simplesmente se dedicam e se esforçam verdadeiramente em prol de seus objetivos. Estudam arduamente, fazem vários cursos, lêem vários livros, respondem vários exercícios, refazem provas anteriores... ou seja, não estão para brincadeiras! Você pode ter sucesso se realmente desejar e se comprometer com ele! Faça a sua parte! 1 Você sabe qual é o papel do TCU conferido pela Constituição Federal de 1988? Auxiliar o Congresso Nacional no exercício do controle externo. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 2 Nosso curso tratará da parte referente à Administração Pública, e será teórico e prático, ou seja, iremos estudar de forma simplificada a teoria e praticá-la em exercícios por meio de questões de concursos anteriores elaboradas pelo CESPE/UNB, que será a banca realizadora deste concurso. Vale ressaltar que sempre que não encontrarmos um vasto material sobre algum assunto a ser abordado elaborado pelo CESPE/UNB, para que seu estudo não seja prejudicado, usaremos questões de outras bancas para fins de complemento. Conforme sugestão de vários alunos ao longo dos diversos cursos que já ministramos no PONTO, iremos enfatizar o curso na realização de bastantes exercícios para que os conceitos possam ficar bem fixados e as dúvidas que apareçam possam ser sanadas. O curso será composto de 6 (seis) aulas on-line, onde trataremos sobre os seguintes assuntos: 1. Estruturação da máquina administrativa no Brasil desde 1930: dimensões estruturais e culturais. 2. As reformas administrativas e a redefinição do papel do Estado. Reforma do Serviço Civil (mérito, flexibilidade e responsabilização) e Plano Diretor para a Reforma do Aparelho do Estado de 1995. 3. Administração pública: do modelo racional-legal ao paradigma pós- burocrático. O Estado oligárquico e patrimonial, o Estado autoritário e burocrático, o Estado do bem-estar, o Estado regulador. 4. Estrutura e estratégia organizacional. 4. Cultura organizacional e mudança no setor público. Convergências e diferenças entre a gestão pública e a gestão privada. O paradigma do cliente na gestão pública. 5. Empreendedorismo governamental e novas lideranças no setor público. Processos participativos de gestão pública: conselhos de gestão, orçamento participativo, parceria entre governo e sociedade. & Testar os conhecimentos é uma das melhores formas de se preparar! ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 3 6. Governo eletrônico. Transparência da administração pública. Controle social e cidadania. 7. Novas tecnologias de gestão (reengenharia, qualidade, planejamento estratégico, Balanced ScoreCard) e tecnologias da informação e comunicação: impactos sobre a configuração das organizações públicas e sobre os processos de gestão. 8. Excelência nos serviços públicos. Gestão por resultados na produção de serviços públicos. Gestão de Pessoas por Competências. 9. Comunicação na gestão pública e gestão de redes organizacionais. 10. Administração de pessoal. Noções de SIAPE. 11. Administração de compras e materiais: processos de compras governamentais e gerência de materiais e estoques. Noções de SIASG. Vale ressaltar que a ordem do conteúdo a ser apresentado ficará a cargo da minha experiência como Professor. A formatação foi preparada para que você se sinta apto e estimulado a compreender e aproveitar da maneira adequada tudo o que lhe for apresentado, sentindo-se confiante a fazer uma boa prova sem nervosismos. É importante que você não sinta vergonha em expor suas dúvidas no nosso “fórum de debates”, uma vez que a dúvida de hoje pode aparecer em forma de questão no dia da prova! Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, os professores gostam muito de responder às dúvidas dos alunos, porque provam que eles estão estudando e se esforçando para fazer o seu melhor. Acerte no alvo! O fórum é uma das principais vantagens de um curso on-line. Em uma sala de aula, a troca de experiência tende a ser limitadíssima. Mas, quando se colocam as pessoas em um fórum de discussão, não existe inibição. É chato pedir a palavra para o professor e falar uma besteira. Entretanto, escrever uma besteira no fórum ninguém liga: faz parte do processo de aprendizagem. Esse talvez seja o principal ganho, o principal bônus. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 4 Porque sei que você tem muitas matérias para estudar e não pode perder tempo, minha grande missão é facilitar sua vida, de forma que você estude a coisa certa e da maneira certa. Antes de começar, para os que ainda não me conhecem, permitam-me uma breve apresentação! Meu nome é José Carlos Oliveira de Carvalho. Sou mestre em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (área de concentração: Auditoria). Especialista em Docência Superior pela FABES, graduei-me em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Atualmente, sou auditor- geral e técnico-pericial chefe (área contábil) do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, cedido pelo Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, onde sou auditor (concursado). Já ocupei os cargos de auditor- fiscal (concursado), de oficial do exército e de técnico em contabilidade (concursado) na Prefeitura do Rio de Janeiro. Leciono na Fundação Getúlio Vargas - FGV, e no Conselho Regional de Contabilidade do Rio de Janeiro – CRCRJ. Também sou auditor independente e consultor de empresas no Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Espírito Santo e Brasília. Há mais de 7 (sete) anos dedico grande parte do meu tempo em preparar candidatos para concursos. Comecei no Rio de Janeiro em 1999 e rapidamente passei a ministrar em diversos cursos preparatórios para concursos em mais de vinte capitais brasileiras as cadeiras de contabilidade geral, de custos, avançada e pública, administração geral e pública, recursos humanos, materiais, orçamento empresariale público, auditoria e perícia contábil. Minhas contribuições aos concurseiros incluem, ainda, dois livros de minha autoria publicados pela Editora Campus da Série Provas e Concursos: “Auditoria Geral e Pública – Teoria e Questões Comentadas” e “Orçamento e Finanças Públicas – Teoria e Questões Atuais”. Conforme vocês podem conferir nos “agradecimentos”, participei da obra “Administração Geral e Pública” do reconhecido autor Idalberto Chiavenato, também publicada pela Editora Campus da Série Provas e Concursos. Vamos começar? Preparados? ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 5 Vale ressaltar que se trata de material de uso pessoal, não podendo ser repassado a terceiros, em caráter gratuito ou oneroso, seja impresso, por e-mail ou qualquer outro meio de transmissão sob risco de violação do estabelecido na Lei n. º 9.610/1998 e no Código Penal. Desde já agradecemos a compreensão e estamos abertos para qualquer dúvida ou pendência, tanto sobre o material quanto para qualquer outro assunto relacionado ao concurso em questão. AULA DEMONSTRATIVA Nesta aula demonstrativa, comentaremos um pouco sobre as Formas de Administração Pública para que você possa conhecer meu trabalho e ter uma idéia de como serão ministradas as próximas 6 aulas que teremos. A explicação detalhada dos assuntos abordados nesta aula poderão ser encontrados durante nosso curso. Nos veremos por lá! Introdução: Em uma época de complexidades, mudanças e incertezas como a que atravessamos hoje, a Administração tornou-se uma das mais importantes áreas de atividade humana. Vivemos em uma civilização onde o esforço cooperativo do homem é a base fundamental da sociedade. Sendo assim, a tarefa básica da Administração é a de fazer coisas por meio de pessoas. Você sabe o que é Administração? A origem da palavra acentua que administração vem de: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 6 (Lembre-se de que daí vem ministério, ministrar) Quando você se eleva, comanda, lidera passa a ter subordinados. Você se eleva (lidera) em direção a uma empresa, organização. No mundo atual já não sobressaem os países dotados de tamanho ou vastidão territorial, possuidores de recursos naturais ou de imensas jazidas de matérias-primas. Hoje o negócio é outro. Os países mais bem-sucedidos são aqueles dotados de conhecimento e tecnologia e que sabem agregar valor e competir com produtos e serviços de melhor qualidade e menor preço. Custos baixos e elevada produtividade. Qualidade e Competitividade. Seja através de organizações públicas, privadas ou do terceiro setor, são as organizações que levam um país para a frente, e as próprias organizações dependem de administradores competentes e talentosos. É que a solução de muitos dos complexos problemas que afligem o mundo moderno reside hoje na administração, ou seja, na capacidade de gerir, aglutinar e utilizar recursos escassos, e fazê-lo de forma cada vez melhor, rumo à excelência. Isso é feito através de organizações que devem ser adequadamente administradas de maneira a extrair resultados extraordinários dos recursos utilizados. Neste cenário, avulta a figura do administrador, imprescindível no sucesso organizacional, e por decorrência, no êxito de cada país. Administrar significa interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação organizacional, por meio do planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da organização, a fim de alcançar tais objetivos da maneira mais adequada (eficiente). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 7 Formas de Administração Pública: A Administração Pública constitui um importante segmento da ciência da Administração. Ela representa o aparelhamento do Estado e funciona como o instrumento do governo para planejar, organizar, dirigir e controlar todas as ações administrativas, no sentido de dar plena e cabal satisfação das necessidades coletivas básicas. Como dizia Weber, a Administração Pública envolve todo o aparato administrativo com que nações, estados e municípios de moldam para cuidar do interesse coletivo e entregar à população uma ampla variedade de serviços públicos capazes de melhorar a qualidade de vida em geral. No fundo, o progresso e o desenvolvimento de uma nação passam obrigatoriamente pela Administração. Como bem lembrava Peter Drucker, não existem países ricos nem países pobres, mas sim países bem-administrados e países mal-administrados. Daí, a amplitude e grandeza com que se apresenta a Administração Pública. Para podermos entender melhor o que é a Administração Pública, vamos fazer uma breve reflexão sobre a Administração Pública no Brasil. Historicamente, a Administração Pública evoluiu através de três modelos básicos: 9 Patrimonialista 9 Burocrática 9 Gerencial humanos materiais financeiros informação tecnologia ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 8 Nesta aula demonstrativa, iremos apenas conceituar estes modelos: Administração Pública Patrimonialista - No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real. Os cargos são considerados prebendas2. A res publica não é diferenciada da res principis, ou seja, é uma forma da administração pública que se caracteriza pela privatização do Estado, pela interpermeabilidade dos patrimônios público e privado. O príncipe não faz clara distinção entre patrimônio público e seus bens privados. Assim, o patrimonialismo não se baseia na salvaguarda (proteção) do patrimônio público em relação aos interesses privados, muito pelo contrário, se baseia na malversão do patrimônio público. Em conseqüência, a corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de administração. No momento em que o capitalismo e a democracia se tornam dominantes, o mercado e a sociedade civil passam a se 2 Prebendas são benefícios fáceis. Dica: Esses três modelos são muito cobrados em concursos. Fique atento! Eles se sucedem no tempo sem que qualquer um deles seja totalmente abandonado. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 9 distinguir do Estado. Neste novo momento histórico, a administração patrimonialista torna-se uma exorbitância inaceitável. Administração Pública Burocrática - Surge na segunda metade do século XIX, na época do Estado liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. Vargas optou pela adoção de um modelo que pautasse pelo controle minucioso das atividades-meio. Para botar “ordem na casa” buscou referências no modelo burocrático idealizado por Max Weber, acreditando que a burocracia, dado seu caráter rígido e hierarquizado poderia ordenar a máquina administrativa. Dica: Está aí o 1º modelo estruturado de Administração Pública no Brasil! Constituem princípios orientadores do seu desenvolvimento a profissionalização, a idéia de carreira, a hierarquia funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal. Oscontroles administrativos visando evitar a corrupção e o nepotismo são sempre a priori. Parte-se de uma desconfiança prévia nos administradores públicos e nos cidadãos que a eles dirigem demandas. Por isso são sempre necessários controles rígidos dos processos, como por exemplo na admissão de pessoal, nas compras e no atendimento a demandas. Fique de olho: Prebendas e sinecuras são formas patrialistas de ocupação. Isto significa empregos que exigem pouco ou nenhum trabalho de quem o exerce. Cargo público concedido por nepotismo, a título de troca de favores políticos. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 10 Por outro lado, o controle - a garantia do poder do Estado - transforma- se na própria razão de ser do funcionário. Em conseqüência, o Estado volta-se para si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica, que é servir à sociedade. A qualidade fundamental da administração pública burocrática é a efetividade no controle dos abusos; seu defeito, a ineficiência, a auto-referência, a incapacidade de voltar-se para o serviço aos cidadãos vistos como clientes. Este defeito, entretanto, não se revelou determinante na época do surgimento da administração pública burocrática porque os serviços do Estado eram muito reduzidos. O Estado limitava-se a manter a ordem e administrar a justiça, a garantir os contratos e a propriedade. Importante: Se a burocracia tivesse funcionado, em tese as práticas patrimonialistas teriam sido suprimidas, o que parece não ter acontecido... São características da Burocracia: Normas e regulamentos, formalidade das comunicações, racionalidade e divisão do trabalho, impessoalidade nas relações, hierarquização da autoridade, rotina e procedimentos estandardizados, competência técnica e meritocracia, separação da propriedade, previsibilidade do funcionamento, etc. Dica: O conceito de burocracia para Max Weber é a organização eficiente por excelência e para conseguir essa eficiência, a burocracia precisa detalhar antecipadamente e nos mínimos detalhes como as coisas deverão ser feitas. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 11 Em nosso dia-a-dia, passamos a chamar de burocracia os defeitos do sistema, ou seja, suas disfunções, que foram o exagerado apego aos regulamentos, excesso de formalismo, resistência à mudanças, despersonalização do relacionamento, superconformidade às rotinas e procedimentos, etc. Administração Pública Gerencial - Emerge na segunda metade do século XX, como resposta, de um lado, à expansão das funções econômicas e sociais do Estado, e, de outro, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à adoção do modelo anterior. A eficiência da administração pública - a necessidade de reduzir custos e aumentar a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário - torna-se então essencial. A reforma do aparelho do Estado passa a ser orientada predominantemente pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços Burocracia: bom ou ruim? A burocracia (na teoria) é a organização perfeita por excelência, pois consegue prever todas as ocorrências possíveis e preparar a organização para enfrentá- las. As pessoas têm maiores benefícios em função de sua competência e dedicação, etc. Infelizmente, na prática apresentou alguns problemas: se levarmos em consideração suas características e exacerbá-las, há o risco de tornarem-se defeitos (excesso de apego às normas, substituição dos fins pelos meios, etc). Há, portanto, dois enfoques: na teoria (ótima, portanto) e na prática (normalmente sinônimo de ineficiência). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 12 públicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações. Dica: O chamado “modelo gerencial” começa a ser implantado em 1995, durante o governo FHC, com a edição do “Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado”. A administração pública gerencial constitui um avanço e até um certo ponto um rompimento com a administração pública burocrática. Isto não significa, entretanto, que negue todos os seus princípios. Pelo contrário, a administração pública gerencial está apoiada na anterior, da qual conserva, embora flexibilizando, alguns dos seus princípios fundamentais, como a admissão segundo rígidos critérios de mérito, a existência de um sistema estruturado e universal de remuneração, as carreiras, a avaliação constante de desempenho, o treinamento sistemático. Na administração pública gerencial a estratégia volta-se: para a definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir em sua unidade, para a garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à disposição para que possa atingir os objetivos contratados, e para o controle ou cobrança a posteriori dos resultados. Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no interior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer concorrência entre unidades internas. No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma, afirma-se que a administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou das organizações da sociedade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins). A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa de basear-se nos processos para concentrar-se nos resultados, e não na rigorosa profissionalização da administração pública, que continua um princípio fundamental. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 13 A administração pública gerencial inspira-se na administração de empresas, mas não pode ser confundida com esta última. Enquanto a receita das empresas depende dos pagamentos que os clientes fazem livremente na compra de seus produtos e serviços, a receita do Estado deriva de impostos, ou seja, de contribuições obrigatórias, sem contrapartida direta. Enquanto o mercado controla a administração das empresas, a sociedade - por meio de políticos eleitos - controla a administração pública. Enquanto a administração de empresas está voltada para o lucro privado, para a maximização dos interesses dos acionistas, esperando-se que, através do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a administração pública gerencial está explícita e diretamente voltada para o interesse público. Neste último ponto, como em muitos outros (profissionalismo, impessoalidade, etc.), a administração pública gerencial não se diferencia da administração pública burocrática. Na burocracia pública clássica existe uma noção muito clara e forte do interesse público. A diferença, porém, está no entendimento do significado do interesse público, que não pode ser confundido com o interesse do próprio Estado. Para a administração pública burocrática, o interesse público é freqüentemente identificado com a afirmação do poder do Estado. Ao atuarem sob este princípio, os administradores públicos terminam por direcionar uma parte substancial das atividades e dos recursos do Estado para o atendimento das necessidades da própria burocracia, identificada com o poder do Estado. O conteúdo das políticas públicas é relegado a um segundo plano. A administração pública gerencial negaessa visão do interesse público, relacionando-o com o interesse da coletividade e não com o do aparato do Estado. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 14 Veja como esse assunto pode ser cobrado em sua prova: Questão 01: (UnB/CESPE – TSE – Analista Judiciário – Administrativa – 2006) A administração pública gerencial A) é uma resposta, de um lado, à expansão das funções econômicas e sociais do Estado e, de outro, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial. B) surge na época do Estado liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. C) é baseada no efetivo controle dos abusos mas possui defeitos como ineficiência, auto-referência e incapacidade de voltar-se para o serviço aos cidadãos, vistos como clientes. D) permite que o aparelho do Estado funcione como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuam status de nobreza real. A corrupção e o nepotismo são inerentes a esse tipo de administração. QUESTÃO 46 Conforme estudamos, a administração pública gerencial emerge na segunda metade do século XX, como resposta, de um lado, à expansão das funções econômicas e sociais do Estado, e, de outro, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à adoção do modelo anterior. Comentário às outras alternativas: b) Não. Surge posteriormente. A administração burocrática é quem surge para combater a corrupção. c) Os defeitos apontados são pertinentes à burocracia. d) A definição refere-se ao sistema patrimonialista. A administração pública gerencial vê o cidadão como contribuinte de impostos e como cliente dos seus serviços. Os resultados da ação do Estado são considerados bons não porque os processos administrativos estão sob controle e são seguros, como quer a administração pública burocrática, mas porque as necessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 15 01. Resp: A Agora, analise a questão abaixo: Questão 02: (UnB/CESPE – TSE – Analista Judiciário – Administrativa – 2006) De acordo com os paradigmas pós- burocráticos, os governos devem ser descentralizados, competitivos, orientados para o A) produto, empreendedores e basicamente consumidores de serviços. B) mercado, empreendedores e basicamente prestadores de serviços. C) mercado, empreendedores e basicamente consumidores de serviços. D) produto, empreendedores e basicamente prestadores de serviços. O gerencialismo (paradigma pós-burocrático) é orientado para o mercado, A idéia predominante é de que tudo deve ser transferido a este, a exceção das atividades exclusivas do Estado. Assim, atividades como comunicação, transporte e cultura devem ser gerenciados pelo mercado. O Estado ficará responsável por atividades indelegáveis, tais como: segurança, função judicante (justiça) e legislativa. Por fim, a idéia de Estado consumidor é superada, sendo incorporada a noção de Estado prestador de serviço. Esta ideologia foi considerada, inclusive, na formatação de nossa Carta Magna, quando da substituição da expressão “Funcionário Público” pela de “Servidor Público” (servir o cliente da administração pública: o cidadão). 02. Resp: B Pensamento da Semana: “Deixar tudo para amanhã é como usar um cartão de crédito: muito divertido... até que chegue o momento de receber a conta.” Christopher Parker ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 16 E então? Aceita o desafio? Então comece agora mesmo seus estudos e faça parte do nosso time de vencedores! Entenda que você precisa realmente querer estudar. Isso faz toda a diferença. Dedique seu tempo, atenção e concentração e não se preocupe em ser apenas mais um entre milhares de pessoas que estão se inscrevendo para a prova do concurso. Faça a sua parte. Se você quiser, você pode e será um grande vitorioso! Bibliografia: CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos Novos Tempos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004 – 2ª Reimpressão. CHIAVENATO, Idalberto. Administração Geral e Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. GRANJEIRO, Wilson J. Administração Pública. Editora Vestcon. 10ª Edição – 2002. MINICUCCI, Agostinho. Psicologia Aplicada à Administração. São Paulo. Editora Atlas, 1995. Decreto nº 200/67 Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado Constituição de 88 Cadernos ENAP e MARE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 1 Olá alunos! Sejam bem vindos ao curso! Antes de iniciarmos a aula, gostaria que vocês prestassem bastante atenção nas dicas abaixo. Tenho certeza que serão muito úteis! Dicas para melhor aproveitar seus estudos: De acordo com MINICUCCI, na leitura de um texto e na sua utilização como obra de estudo, convém seguir uma fórmula denominada VILER, que é a seguinte: V – Visão geral do texto I – Interrogação L – Leitura E – Expressão R – Revisão V – Visão geral Um primeiro passo para ler bem um texto (lição) é dar uma vista d´olhos geral no texto, nos objetivos de aprendizagem propostos e voltar a atenção no que se vai ler, antes de uma leitura mais demorada. Uma leitura rápida compreende a leitura dos títulos do capítulo, os subtítulos, verificação das gravuras, os gráficos e as ilustrações. Se houver resumo, convém lê-lo antes de ler o texto. Convém, passar os olhos sobre a bibliografia recomendada. Enfim, uma leitura rápida do texto para ter uma visão geral do assunto. I – Interrogação Nós lembramos as coisas quando elas têm um significado específico aos nossos interesses. A melhor maneira de tirar proveito acerca do que se está lendo é fazer perguntas, questionar e levantar interrogações sobre o texto. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 2 As perguntas ajudam a concentrar a atenção na matéria do texto. Ao buscar respostas às perguntas se consegue que a mente não fique divagando, já que o assunto nos envolveu. Assim: O que significa o título do capítulo? Que questões sugerem os subtítulos? O que me interessa particularmente nesse texto? L – Ler O terceiro passo de Viler é ler. Se o estudante venceu os dois primeiros passos poderá ler com mais eficiência. Então: a) Irá ler para responder as perguntas que levantou. b) Irá analisar todas as ilustrações e saber por que razões elas foram colocadas no texto. c) Irá observar as palavras grifadas e que razão houve para isso. d) Irá assinalar (sublinhando) os pontos mais importantes ou que devam ser relidos. E - Expressar O quarto passo é expressão, comunicação, isto é, dizer, recitar, repetir o que foi lido. Isto quer dizer: retornar ao que já foi lido, seja resumindo oralmente, seja tomando notas de alguma forma. As experiências demonstram que, após duas semanas, os alunos esquecem cerca de 80% do que estudaram. Por outro lado, se repetirem ou expressarem de alguma forma o que leram, só esquecerão cerca de 20%, no mesmo período de tempo. R – Revisão A maioria dos alunos não revisa (não vê de novo) o aprendido. Revisar significa passar uma vista d´olhos naquilo que foi lido. Rever as anotações, os fatos, os resumos*. A revisão deverá obedecer aos seguintes passos:ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 3 a) Deve ser feita imediatamente depois da leitura. b) Deve ser feita periodicamente. c) Deve-se planejar uma revisão final. Vale ressaltar que se trata de material de uso pessoal, não podendo ser repassado a terceiros, em caráter gratuito ou oneroso, seja impresso, por e-mail ou qualquer outro meio de transmissão sob risco de violação do estabelecido na Lei n. º 9.610/1998 e no Código Penal. Desde já agradecemos a compreensão e estamos abertos para qualquer dúvida ou pendência, tanto sobre o material quanto para qualquer outro assunto relacionado ao concurso em questão. Informamos, ainda, que o material baseia-se nos Cadernos ENAP - Fundação Escola Nacional de Administração Pública nº 10, 19, 4, 1 e 15, no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado e nas obras BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos & SPINK, Peter. Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial e CHIAVENATO, Idalberto. Administração Geral e Pública, que você pode adquirir em qualquer livraria. & Ao final de cada leitura, elabore um resumo. O exercício de redigir o resumo atua como um reforço do material do texto. Você terá que consultar muitas vezes o texto, à medida que organiza seu resumo. Dessa forma, você poderá realizar uma revisão, aprofundando-se mais no texto e esclarecendo pontos duvidosos. Pelo resumo você recompõe o texto, de maneira sucinta (tirando o essencial) e esquemática (elaborando esquemas em tópicos principais do texto). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 4 Aula 01 – Estrutura da máquina administrativa, reformas administrativas e evolução da AP Sumário: 1. Estruturação da máquina administrativa no Brasil desde 1930: dimensões estruturais e culturais.................................................. 4 Vantagens da burocracia ............................................................. 8 2. As reformas administrativas e a redefinição do papel do Estado. Reforma do Serviço Civil (mérito, flexibilidade e responsabilização) e Plano Diretor para a Reforma do Aparelho do Estado de 1995......... 11 3. Administração Pública: do modelo racional-legal ao paradigma pós- burocrático. O Estado Oligárquico e patrimonial, o Estado autoritário e burocrático, o Estado do bemestar, o Estado regulador. ................. 21 4. Governança e Governabilidade ............................................... 27 5. Resumo............................................................................... 28 6. O paradigma do cliente na gestão pública ................................ 30 7. Questões de concursos anteriores:.......................................... 32 8. Gabarito:............................................................................. 32 9. Bibliografia .......................................................................... 41 1. Estruturação da máquina administrativa no Brasil desde 1930: dimensões estruturais e culturais Se partirmos da premissa que a administração pública tem como parâmetro o que conhecemos hoje, podemos afirmar que ela não era visível até 1930. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 5 A chamada Administração Pública Patrimonial caracterizava- se por representações da burguesia que se alternavam no poder, fenômeno este que ficou conhecido como Política do Café com leite. De acordo com Luiz Carlos Bresser Pereira, a característica que definia o governo nas sociedades pré-capitalistas e pré-democráticas era a privatização do Estado, ou a impermeabilidade dos patrimônios público e privado. “Patrimonialismo” significa a incapacidade ou a relutância de o príncipe distinguir entre o patrimônio público e seus bens privados. A administração do Estado pré-capitalista era uma administração patrimonialista. O Brasil era, na verdade, um federalismo aparente, onde prevaleciam os interesses destes pequenos grupos. Com o avanço da aliança liberal e a crise econômica causada pela queda da bolsa de Nova Iorque, os países desenvolvidos, deixaram de importar nosso café, principal produto em nossa pauta de exportação. O que se sucede, é uma crise de superprodução sem precedentes em nossa história que culmina com o golpe de 1937. A administração burocrática surge no quadro da aceleração da industrialização brasileira, em que o Estado assume papel decisivo, intervindo pesadamente no setor produtivo de bens e serviços. A partir da reforma empreendida no governo Vargas por Nabuco e Luiz Simões Lopes, a administração pública sofre um processo de racionalização que se traduziu no surgimento das primeiras carreiras burocráticas e na tentativa de adoção do concurso como forma de acesso ao serviço público. A implantação da administração pública burocrática é uma conseqüência clara da emergência de um capitalismo moderno no país. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 6 1 A Burocracia, Teoria Burocrática de Administração ou Modelo Racional-Legal surge como resposta à necessidade de um modelo organizacional que considerasse todas as variáveis envolvidas (processo, comportamento humano, estrutura etc.), e que pudesse ser aplicada a todos os tipos de organização (não se restringindo à indústria). Corresponde a uma forma de organização que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos fins (objetivos) pretendidos. Para compreender a Burocracia, Max Weber estudou os tipos de sociedade e autoridade: A – Sociedade tradicional, onde predominam as características patriarcais (a família, por exemplo); B – Sociedade carismática, onde predominam características místicas, arbitrárias e personalísticas (grupos revolucionários), e; C – Sociedade legal, racional ou burocrática, onde predominam normas impessoais e racionalidade na escolha dos meios e dos fins (grandes empresas, exércitos). 1 Democracia é o instrumento político que protege os direitos civis contra a tirania, que assegura os direitos sociais contra a exploração e que afirma os direitos públicos em oposição ao rent-seeking. Burocracia é a instituição administrativa que usa, como instrumento para combater o nepotismo e a corrupção – dois traços inerentes à administração patrimonialista – os princípios de um serviço público profissional e de um sistema administrativo impessoal, formal e racional. No início do século XX, Max Weber, um sociólogo alemão, publicou uma bibliografia a respeito das grandes organizações da sua época. Deu-lhes o nome de burocracia e passou a considerar o século XX como o século das burocracias, pois achava que essas eram as organizações características de uma nova época, plena de novos valores e de novas exigências. As burocracias surgiram a partir da época vitoriana como decorrência da necessidade que as organizações sentiram de ordem e de exatidão e das reivindicações dos trabalhadores por um tratamento justo e imparcial. O modelo burocrático de organização serviu como uma reação contra a crueldade, o nepotismo e os julgamentos tendenciosos e os parcialistas, típicos das práticas administrativas desumanas e injustas do início da Revolução Industrial. Rapidamente, a forma burocrática de Administração alastrou-se por todos os tipos de organização e o século XX representa o século da burocracia. Com o surgimento do capitalismo e da democracia1,estabeleceu-se uma distinção clara entre a res publica e bens privados. A democracia e a administração pública burocrática emergiram como as principais instituições que visavam a proteger o patrimônio público com a privatização do Estado. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 7 Weber estudou as organizações sob um ponto de vista estruturalista, preocupando-se com sua racionalidade, isto é, com a relação entre os meios e os recursos utilizados e os objetivos a serem alcançados pelas organizações burocráticas. A organização por excelência, para Weber, é a burocracia. Suas principais características são: 1 – Hierarquia da autoridade, herdada das organizações militares 2 – Caráter legal das normas e regulamentos – assim como a tradição legitima a autoridade patriarcal, a autoridade burocrática fundamenta-se em normas e regulamentos. É como se cada empresa possuísse uma constituição própria; 3 – Caráter formal das comunicações – na burocracia todas as comunicações são feitas por escrito, com vistas à comprovação e à padronização; 4 – Impessoalidade nas relações – a administração nas burocracias é efetuada sem considerar as pessoa como pessoas, mas como ocupantes de cargos e funções. A obediência é impessoal; não é prestada em consideração à pessoas do chefe, e sim do cargo que ocupa; 5 – Rotinas e procedimentos padronizados – a burocracia é uma organização que fixa regras e normas técnicas para desempenho do cargo, reeducando a conduta de seus membros; 6 – Meritocracia – a admissão, transferência e remoção dos funcionários são baseadas no mérito e na competência técnica, e não em critérios particulares e arbitrários. 7 – Especialização da administração – o que se deseja é a profissionalização de todos os membros, com distinção das atividades de gerência das de execução. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 8 Vantagens da burocracia As vantagens da burocracia, para Weber, são: 1. Racionalidade em relação ao alcance dos objetivos da organização; 2. Precisão na definição do cargo e na operação, pelo conhecimento exato dos deveres; 3. Rapidez nas decisões, pois cada um conhece o que deve ser feito e por quem e as ordens e papéis tramitam através de canais preestabelecidos. Vamos ver a definição de burocracia utilizada pelo CESPE: Questão 1: (Unb/CESPE – STM – Analista Judiciário – 2004) Julgue os itens a seguir sob a ótica da administração pública. Burocracia é um sistema social racional, ou um sistema social em que a divisão do trabalho é racionalmente realizada tendo em vista os fins visados. O que você acha? Está certo! Dica: Costumamos pensar em burocracia apenas como regras, formalismo e excesso de papelório, entretanto, para Weber, o termo burocracia significa a Organização por Excelência, ou seja, o melhor dos mundos! O que costumamos pensar sobre a palavra burocracia, é na verdade, o que deu errado, ou seja, suas disfunções, o que veremos logo adiante. Lembre disso!!! Disfunções (“defeitos”) da burocracia 1 – Internalização das regras e apego aos regulamentos - existe quando: cumprir as normas passa a ser mais importante que atingir os objetivos. A atividade-meio passa a ser o resultado a ser alcançado. O funcionário se torna um especialista em normas; 2 – Excesso de formalismo e papelório – a necessidade de documentar todas as comunicações conduz à tendência ao excesso de papelório; ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 9 3 – Resistência à mudanças – como tudo é padronizado e previsto com antecipação, o funcionário se acostuma a uma estabilidade, proporcionando-lhe segurança a respeito de seu trabalho. Qualquer mudança tende a ser interpretada como algo que desconhece, tornando- se indesejável. 4 – A base do processo decisorial – quem toma decisões é aquele que ocupa o posto hierárquico mais alto, mesmo que nada saiba sobre o tema. A “co-gestão” passa longe... 5 – Superconformidade às rotinas – com o tempo, as regras tendem a se tornar absolutas, sagradas, conduzindo a uma rigidez no comportamento do burocrata que restringe-se ao desempenho mínimo. Perde iniciativa, criatividade e inovação. 6 – Dificuldade no atendimento a clientes – todos os clientes são atendidos de forma padronizada, seguindo normas e rotinas internas, fazendo com que o público se irrite com a pouca atenção e o descaso. A burocracia fecha- se em si mesma. Dica:. É importante que você lembre na hora da prova que não existe organização totalmente racional, que o homem não é totalmente previsível, que a burocracia gerou excesso de formalismo e papelório, gerou grande resistência às mudanças e conflitos com o público. Em resumo, tendo em vista as práticas patrimonialistas (rent-seeking ou privatização do Estado - leia-se: usar a máquina administrativa com fins privados, escusos) correntes em nossa cultura, Vargas optou pela adoção de um modelo que pautasse pelo controle minucioso das atividades-meio. Ou seja, para “colocar ordem na casa”, buscou referências no modelo idealizado por Weber, acreditando que a burocracia, dado seu caráter rígido e hierarquizado, poderia ordenar a máquina administrativa em nosso País. Está, aí, o primeiro modelo estruturado de administração do Brasil. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 10 Para facilitar sua implementação, contou com o apoio do DASP2 - Departamento Administrativo do Setor Público, extinto há pouco tempo atrás sem, infelizmente, ter logrado êxito em sua missão (se a burocracia tivesse funcionado, em tese as práticas patrimonialistas teriam sido suprimidas, o que parece não ter ocorrido). Originalmente, o DASP tinha três objetivos: a) Centralizar a administração pública nas mãos do Governo Federal. b) Criar uma política de gestão de recursos humanos c) Promover uma racionalização dos métodos e procedimentos administrativos até então utilizados. Infelizmente o DASP não funcionou em toda a sua plenitude, devido à aspectos políticos e ao distanciamento entre planejamento e ação; na verdade, o DASP não se traduziu no elo de ligação esperado, transformando-se em um mero órgão técnico, teórico. Em termos práticos sua maior colaboração foi na implantação do sistema burocrático de administração, também conhecido como burocracia. 2 Mais precisamente em 1936 foi criado o Conselho Federal do Serviço Público Civil que, em 1938, foi substituído pelo DASP. Nessa época, em virtude da desconfiança total que havia no servidor público, o modelo burocrático revelava-se ser o mais adaptado. Com isso, Vargas almejava basicamente três coisas: criar uma estrutura administrativa organizada, uniforme, estabelecer uma política de pessoal com base no mérito (motivo pelo qual Joaquim Nabuco foi “convidado”) e acabar com o nepotismo e corrupção existentes. O DASP foi extinto em 1986, dando lugar à Secretaria de Administração Pública da Presidência da República (Sedap), que, em janeiro de 1989, foi extinta, sendo incorporada à Secretaria do Planejamento da Presidência da República. Em março de 1990, foi criada a Secretaria da Administração Federal da Presidência da República (SAF) , que, entre abril e dezembro de 1992, foi incorporada ao Ministério do Trabalho. Em Janeiro de 1995, com o início do Governo do Fernando Henrique Cardoso,a SAF transformou-se em Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – MARE. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 11 Analise a questão abaixo sobre o DASP: Questão 2: (Unb/CESPE – STJ – Analista Judiciário – 2004) A compreensão da evolução histórica da administração pública no Brasil pode auxiliar o entendimento da origem de muitos dos processos vivenciados atualmente pela administração pública no país. Acerca da evolução da administração pública, julgue os itens a seguir. A criação do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) foi uma importante iniciativa no processo de modernização do setor público no Brasil, inserindo no setor público o espírito gerencial e fazendo que a burocracia fosse repensada, tendo em vista o cliente e a qualidade na prestação dos serviços públicos. Resposta: Errado. O espírito gerencial e a adoção de um modelo com foco no cliente (gerencialismo) surgiu bem depois da criação do DASP. Na verdade, este Órgão foi criado para auxiliar na implantação da BUROCRACIA, do sistema de mérito, do profissionalismo, da formalidade das comunicações, etc. Infelizmente não funcionou adequadamente, uma vez que o modelo weberiano não chegou a funcionar 100% (se isso tivesse acontecido, as características patrimonialistas teriam acabado). 2. As reformas administrativas e a redefinição do papel do Estado. Reforma do Serviço Civil (mérito, flexibilidade e responsabilização) e Plano Diretor para a Reforma do Aparelho do Estado de 1995. 3 A crise do Estado implicou a necessidade de reformá-lo e reconstruí-lo; a globalização tornou imperativa a tarefa de redefinir suas funções. 3 Neste texto incluo extratos da obra de Luiz Carlos Bresser Pereira. No Brasil, a percepção da natureza da crise e, em seguida, da necessidade imperiosa de reformar o Estado ocorreu de forma acidentada e contraditória, em meio ao desenrolar da própria crise. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 12 Em 1942, com a superação da crise, o estado despe-se do papel de regulador da economia e assume uma postura desenvolvimentista, seguindo a esteira mundial. Essa nova feição culmina com o governo de Juscelino Kubistchek, (“50 anos em 5”) e caracteriza-se pela criação de órgãos de linha, staff4 e das primeiras entidades da administração indireta. A idéia dominante é que a participação maciça no estado no setor produtivo desenvolveria e dinamizaria a economia, e é nesse momento que se percebe a ineficiência da burocracia. O que se sucede ao longo dos anos são tentativas de se simplificar o modelo burocrático: a) 1956 Cria-se o COSB (Comissão de Simplificação da Burocracia) com o objetivo de desburocratizar a administração, descentralizando- a, ou seja, delegando competência às entidades da administração indireta. b) Este processo culmina com o Decreto-lei nº 200 de 1967, que elenca princípios que nortearão a conduta da administração indireta. Este Decreto-lei foi a primeira tentativa de reforma gerencial da administração Pública brasileira. A reforma iniciada pelo Decreto-Lei nº 200 foi uma tentativa de superação da rigidez burocrática, podendo ser considerada como um primeiro momento da administração gerencial no Brasil. Colocou-se toda ênfase na descentralização, mediante a autonomia da administração indireta, a partir do pressuposto da rigidez da administração direta e da maior eficiência da administração descentralizada. O decreto-lei promoveu a transferência das atividades de produção de bens e serviços para autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, consagrando e racionalizando uma situação que já se delineava na prática. Instituíram-se como princípios de racionalidade administrativa o planejamento e o orçamento, a descentralização e o controle dos resultados. 4 Staff = assessoria ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 13 Nas unidades descentralizadas foram utilizados empregos celetistas, submetidos ao regime privado de contratação e trabalho. O momento era de grande expansão das empresas estatais e das fundações. Através da flexibilização de sua administração buscava-se uma eficiência maior nas atividades econômicas do Estado, e se fortalecia a aliança política entre a alta tecnoburocracia estatal, civil e militar e a classe empresarial. O Decreto-lei nº 200 teve, porém, duas conseqüências inesperadas e indesejáveis. De um lado, por permitir a contratação de empregados sem concurso público, facilitou a sobrevivência de práticas patrimonialistas e fisiológicas. De outro, por não se preocupar com mudanças no âmbito da administração direta ou central, que era vista pejorativamente como “burocrática” ou rígida, deixou de realizar concursos e de desenvolver carreiras de altos administradores. O núcleo estratégico do estado foi, na verdade, enfraquecido indevidamente através da estratégia oportunista do regime militar que, ai invés de se preocupar com a formação de administradores públicos de alto nível selecionados através de concursos públicos, preferiu contratar os escalões superiores da administração através das empresas estatais. Analise a questão abaixo: Planejamento e orçamento Descentralização Controle dos resultados Dessa maneira, a reforma administrativa embutida no Decreto-lei nº 200 ficou pela metade e fracassou. A crise política do regime militar, que se iniciou em meados dos anos 70, agravou ainda mais a situação da administração pública, na medida em que a burocracia estatal foi identificada com o sistema autoritário em pleno processo de degeneração. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 14 Questão 3: (Unb/CESPE – STJ – Analista Judiciário – 2004) Acerca da evolução da administração pública, julgue os itens a seguir. Um dos grandes problemas do Decreto Lei n.º 200 de 1967 foi ignorar, em seus princípios fundamentais, questões relacionadas com o servidor público, como planos de classificação de cargos e desenvolvimento de sistema de mérito. Está errado. O Decreto 200/67 compreendeu uma das únicas reformas que funcionaram na história da administração pública. A inserção no ordenamento legal de princípios como planejamento (materializado, por exemplo, no orçamento-programa), descentralização (transferência de atribuições da administração direta para a indireta como mecanismo de valorização desta), delegação de competência (do Poder central para as esferas locais – União para Estados e Municípios), coordenação e controle foi benéfica e tem reflexos até hoje. c) Como o processo funcionou apenas na administração indireta, em 1970, uma nova tentativa de desburocratizar: a criação da SEMOR (Secretaria de Modernização da Reforma Administrativa), que também não conseguiu reduzir a máquina administrativa. d) 1979 PND – Programa Nacional de Desburocratização. Sua proposta política visava, através da administração pública, a “retirar o usuário da condição colonial de súdito para investi-lo na de cidadão, destinatário de toda a atividade do Estado”. (Beltrão) e) Na transição para o governo democrático que se iniciou em 1985, que tem como marco a Constituição de 1988, podemos dizer que houve um retrocesso, um engessamento na administração pública: surgiram entraves a criação eextinção de órgãos (a partir de então, apenas através de lei), perda de autonomia do executivo na organização da administração pública e mais, a extensão das regras que norteavam a administração direta, à administração indireta. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 15 A Constituição de 1988 ignorou completamente as novas orientações da administração pública. Os constituintes e, mais amplamente, a sociedade brasileira revelaram nesse momento uma incrível falta de capacidade de ver o novo. Perceberam apenas que a administração burocrática clássica, que começara a ser implantada no país nos anos 30, não havia sido plenamente instaurada. Viram que o Estado havia adotado estratégias descentralizadoras – as autarquias e fundações públicas – que não se enquadravam no modelo burocrático- profissional clássico. Notaram que essa descentralização havia aberto espaço para o clientelismo, principalmente nos estados e municípios – clientelismo que se acentuara após a redemocratização. Não perceberam que as formas mais descentralizadas e flexíveis da administração, que o Decreto-lei nº 200 havia consagrado, eram uma resposta à necessidade de o Estado administrar com eficiência as empresas e os serviços sociais. E decidiram completar a revolução burocrática antes de pensar nos princípios da moderna administração pública. Ao agirem assim aparentemente seguiram uma lógica linear compatível com a idéia de que primeiro seria necessário completar a revolução mecânica para só depois participar da revolução eletrônica. Contraditoriamente com seu espírito burocrático-legal, a Constituição de 88 permitiu que uma série de privilégios fossem consolidados ou criados. Privilégios que foram ao mesmo tempo um tributo pago ao patrimonialismo ainda presente na sociedade brasileira e uma conseqüência do corporativismo que recrudesceu com a abertura democrática, levando todos os atores sociais a defender seus interesses particulares como se fossem interesses gerais. O mais grave dos privilégios foi o estabelecimento de aposentadoria com remuneração integral sem nenhuma relação com o tempo de serviço prestado diretamente ao Estado, elevando violentamente o custo do sistema previdenciário estatal, representando um pesado ônus fiscal para a sociedade. A Constituição sacramentou os princípios de uma administração pública arcaica, burocrática ao extremo. Uma administração pública altamente centralizada, hierárquica e rígida, em que toda prioridade seria dada à administração direta, e não à indireta. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 16 Um segundo privilégio foi ter permitido que, de um golpe, mais de 400 mil funcionários celetistas de fundações e autarquias se transformassem em funcionários estatutários, detentores de estabilidade e aposentadoria integral. (este episódio ficou conhecido como “trem da alegria”) Na verdade, o retrocesso: Resultou de uma visão equivocada das forças democráticas que derrubaram o regime militar acerca da natureza da administração pública então vigente; Foi conseqüência da aliança política que as forças democráticas foram levadas a celebrar com o velho patrimonialismo, sempre pronto a se renovar para não mudar; Resultou do desentendimento da velha burocracia contra a reforma pela qual a administração central passara no regime militar: estava na hora de restabelecer a força do centro e a pureza do sistema burocrático; Relaciona-se com a campanha pela desestatização, que acompanhou toda a transição democrática: esse fato levou os contribuintes a intensificarem os controles estatais, que haviam ganho grande autonomia graças ao Decreto-lei nº 200. Em suma, considerando a evolução de nossa administração, podemos concluir que: • Para sanar a administração direta, criou-se a indireta, que devido à autonomia, cresceu artificialmente. • A falta de uma política de pessoal, levou a um inchaço de pessoal no setor público, na maioria não qualificado. • Havia uma concepção de que controle, segurança e padronização, gerariam bons resultados, ao invés do foco no atendimento às necessidades do cidadão. O retrocesso burocrático ocorrido em 1988 não pode ser atribuído ao suposto fracasso da descentralização e da flexibilização da administração pública que o Decreto-lei nº 200 teria promovido. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 17 • Na prática, o que aconteceu foi uma substituição do coronelismo pelo clientelismo (favorecimento de determinados grupos). A crise fiscal e a crise do modo de intervenção do Estado na economia e na sociedade começaram a ser percebidas em 1987. Foi nesse momento, depois do fracasso do Plano Cruzado, que a sociedade brasileira se deu conta, ainda que de forma imprecisa, de que estava vivendo fora do tempo, de que a volta ao nacionalismo e ao populismo dos anos 50 era algo inviável. Os Constituintes de 1988, porém, não perceberam a crise fiscal, muito menos a crise do aparelho do Estado. Só depois do episódio da hiperinflação, em 1990, no final do governo Sarney, a sociedade abriria os olhos para a crise. Em conseqüência, as reformas econômicas e o ajuste fiscal ganharam impulso no governo Collor. Esse governo (que acabou se perdendo em meio à corrupção generalizada) é que daria os passos decisivos no sentido de iniciar a reforma da economia e do Estado. Na área da administração pública as tentativas de reforma do governo Collor foram equivocadas. O fracasso deveu-se principalmente à tentativa desastrada de reduzir o aparelho do Estado, demitindo funcionários e eliminando órgãos, sem antes assegurar a legalidade das medidas através da reforma da Constituição. Afinal, além da redução drástica da remuneração dos servidores, sua intervenção na administração pública desorganizou ainda mais a já precária estrutura burocrática existente, desprestigiando os servidores públicos, de repente acusados de todos os males do país e identificados com o corporativismo5. Analise a questão a seguir: Questão 4: (Unb/CESPE – STM – Analista Judiciário – 2004) Julgue os itens a seguir sob a ótica da administração pública. O foco das ações do governo Collor concentrou-se no projeto de centralização da gestão dos serviços públicos. Errado. O governo Collor não pode ser associado à centralização da gestão. 5 Corporativismo – defesa dos interesses de grupos como se fossem da nação. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 18 No início do governo Itamar a sociedade brasileira começou a se dar conta da crise da administração pública. Havia, entretanto, ainda muita perplexidade e confusão. Um documento importante nesta fase é o estudo Estrutura e organização do Poder Executivo, realizado pelo Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec) para a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). A partir de 1995, com o governo Fernando Henrique, surge uma nova oportunidade para a reforma do Estado, em geral, e do aparelho do Estado e de seu pessoal, em particular. Essa reforma tem por dois objetivos: a curto prazo, facilitar o ajuste fiscal, particularmente nos estados e municípios, onde existe um claro problema de excesso de quadros; a médio prazo, tornar mais eficiente e moderna a administração pública, voltando-a para o atendimento dos cidadãos. A reforma administrativa implementada a partir de 1995, como Plano Diretor da Reforma do Estado, torna-se um marco em nossa história, vindo ratificar a importância da nova conotação de governo, que deixa de ser burocrático para se tornar um governo empreendedor. O governo empreendedor consiste, na verdade, em uma reorganização da máquina administrativa, através da redefinição do papel de estado: de desenvolvimentista e protecionista para empreendedor, visando descentralização e delegação de autoridade. O governo empreendedor sugere o deslocamento dando ênfase dos procedimentos para os resultados. Tal governo empreendedor ou administração pública gerencial inspira-se na administração privada, visando a satisfação de seu cliente (o cidadão!). No governo ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 19 empreendedor, os administradores gerenciam suas instituições ou seus órgãos como se fossem o dono do negócio; a idéia é de estimular o negócio, estimular seus empregados e seus funcionários, utilizando a Co-gestão( ou gestão participativa), onde todos são responsáveis pelo planejamento e pela execução; é “gerar receita, ao invés de efetuar despesas”, segundo Peter Drucker, em seu livro “Reinventando o Governo”. Uma das maneiras de mudarmos nosso governo desenvolvimentista para empreendedor seria através, por exemplo, da criação dos chamados títulos de inovação (fundos sem ônus para os contribuintes, adquiridos por empresários desejosos de contribuir para o engrandecimento da Nação...); este exemplo deu certo na Flórida, nos EUA. Uma outra maneira seria sobretaxarmos condutas ilícitas tal como foi feito na Flórida, onde pesadas multas foram aplicadas aos motoristas que causassem acidentes decorrentes da ingestão de bebidas alcoólicas. Em suma, este governo empreendedor, (administração pública gerencial) veio para ficar e foi ratificado, como já foi dito, pelo plano diretor da reforma do estado. A dificuldade na implantação reside no fato de que o servidor público existe para fazer o bem a todos (não sendo medido o esforço marginal), pois se na administração privada atender um único cliente a mais resultasse em uma relação custo- benefício desfavorável, é provável que isso não acontecesse; na administração pública, isto não acontece. Se para nós, um hospital público que tem capacidade para atender 1000 (mil) pessoas, fosse obrigado a dobrar o custo deste hospital para se atender mais uma pessoa, isto seria feito, pois a administração pública não pauta sua conduta pela relação custo-benefício, mas pela satisfação do cidadão. Dentro do governo empreendedor, surge um novo conceito de liderança: o administrador passa de gerente (controlador de resultados) para o líder, um motivador, um impulsionador, que substitui a força pelo comprometimento, pela lealdade. Embora tanto o líder como o gerente Segundo Peter Drucker, a implantação do governo empreendedor pressupõe três passos: a descoberta de sua missão, o estabelecimento de metas e redefinir os objetivos quando estes não forem alcançados. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 20 tenham o mesmo objetivo, que é o de maximizar o resultado, a maneira pela qual chegarão a este resultado será diferente. A necessidade de mudarmos o enfoque da administração para atendermos às necessidades do cidadão-cliente trouxe à tona o conceito de efetividade, ou seja, a satisfação das necessidades do cliente (ou a junção da eficácia com a eficiência num mesmo tempo). Temos como conceito de eficácia, o cumprimento dos objetivos previamente estabelecidos, enquanto que a eficiência se encontra relacionada com o como fazer (a quantidade de recursos que foram empregados e se foram ou não utilizados de maneira inteligente). Em suma, para sermos efetivos, precisamos ser eficazes e eficientes, atendendo às necessidades de nossos clientes. Para atingirmos a efetividade o governo criou as chamadas organizações sociais (as agências autônomas), que celebrariam contratos de gestão implementados pelo MARE (Ministério da Administração e Reforma do Estado) com o objetivo de “amarrarmos” resultados à conduta dos gestores públicos. Questão 5: (Unb/CESPE – STJ – Analista Judiciário – 2004) Acerca da evolução da administração pública, julgue os itens a seguir. A valorização do servidor, por meio do estímulo de sua capacidade empreendedora, sua criatividade e seu comportamento ético é uma das preocupações do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Está correto. Atingir objetivos Método Impacto ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 22 Conforme nos narra Fernando Luiz Abrucio7, em meados da década de 70, sobretudo a partir da crise do petróleo em 1973, uma grande crise econômica mundial pôs fim à era de prosperidade que se iniciara após a Segunda Guerra Mundial. Era o fim da “era dourada” — na precisa definição de Eric Hobsbawn (HOBSBAWN, 1995) —, período em que não só os países capitalistas desenvolvidos mas o bloco socialista e parte do Terceiro Mundo alcançaram altíssimas taxas de crescimento. A principal receita para o contínuo sucesso durante trinta anos foi a existência de um amplo consenso social a respeito do papel do Estado, o qual procurava garantir prosperidade econômica e bem-estar social. O tipo de Estado que começava a se esfacelar em meio à crise dos anos 70 tinha três dimensões (econômica, social e administrativa), todas interligadas. Dimensão Econômica – Keynesiana – ativa intervenção estatal na economia, procurava garantir emprego e atuar em setores estratégicos para o desenvolvimento nacional. Dimensão social – Welfare State ou Estado do Bem-Estar – produção de políticas públicas na área social para garantir as necessidades básicas da população. Em outras palavras, garantia dos direitos sociais. Ex: educação, saúde, habitação) Dimensão Administrativa – modelo burocrático de Weber – funcionamento interno do Estado – manter a impessoalidade, neutralidade e racionalidade do aparato governamental. 7 Fernando Luiz Abrucio - O impacto do modelo gerencial na Administração Pública. Um breve estudo sobre a experiência internacional recente. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 23 O modelo gerencial, em sua fase inicial, implica em administrar a res publica de forma semelhante ao setor privado, de forma eficiente, com a utilização de ferramentas que consigam maximizar a riqueza do acionista, ou a satisfação do usuário (considerando-se a realidade do serviço público). O modelo gerencial é melhor entendido considerando o cenário em que foi concebido: no plano econômico, dada a crise do petróleo na década de 70, esgotaram-se as condições que viabilizavam a manutenção do Welfare State (Estado de Bem-Estar Social), onde prevalecia o entendimento de que cabia ao Estado proporcionar uma gama enorme de serviços à população, respondendo esse por saúde, educação, habitação, etc. A partir daí, começa a ser difundida a idéia de devolução ao setor privado daqueles serviços que o Poder Público não tem condições de prestar com eficiência (privatizações), devendo o Estado desenvolver aquilo que cabe intrinsecamente a ele fazer (Diplomacia, Segurança, Fiscalização, etc). Ou seja, o que propôs, na verdade, foi a quebra de um paradigma, a redefinição do que caberia efetivamenteao Estado fazer e o que deveria ser delegado ao setor privado. Nesse sentido, buscar-se-á a adoção de uma postura mais empresarial, empreendedora, aberta a novas idéias e voltada para o incremento na geração de receitas e no maior controle dos gastos públicos. O Estado Mínimo volta a ganhar força... ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 24 Como referência, é possível citar a obra de Osborne & Gaebler, “Reinventando o Governo”, onde são destacados princípios a serem observados na construção deste modelo, tais como: 1. Formação de parcerias; 2. Foco em resultados; 3. Visão estratégica; 4. Estado catalisador, ao invés de remador; 5. Visão compartilhada; e 6. Busca da excelência. Dica: O modelo gerencial (puro, inicial), buscou responder com maior agilidade e eficiência os anseios da sociedade, insatisfeita com os serviços recebidos do setor público. Tal modelo, contudo, representou o início do Managerialism, que, atualmente, congrega ainda, duas correntes: o Consumerism e o Public Service Orientation - PSO. Se tivermos em mente um continuum, é possível inferir que o a administração gerencial evoluiu do Managerialism para o PSO, sem contudo ser possível afirmar que o PSO representa a versão final da administração gerencial. As principais diferenças podem ser percebidas no quadro abaixo, proposto por Fernando Luiz Abrúcio, no caderno n. º 10 da ENAP: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 25 Modelo gerencial puro Consumerism Public Service Orientation Economia/Eficiência Efetividade/Qualidade Accountability/Eqüidade Taxpayers (contribuintes) Clientes/Consumidores Cidadãos A preocupação primeira do modelo gerencial, conforme o quadro nos informa, foi o incremento da eficiência, tendo em vista as disfunções do modelo burocrático. Nessa fase, o usuário do serviço público é visto tão somente como o financiador do sistema. O objetivo é diminuir gastos e aumentar a eficiência governamental. No Consumerism, há o incremento na busca pela qualidade, decorrente da mudança do modo de ver o usuário do serviço, de mero para contribuinte para cliente consumidor de serviços públicos. Nesse momento, há uma alteração no foco da organização: a burocracia, que normalmente é auto-referenciada, ou seja, voltada para si mesma, passa a observar com maior cuidado a razão de sua existência: a satisfação de seu consumidor. Com isso, buscar-se-á conhecê-lo, por meio, dentre outras coisas, de pesquisas de opinião e procurar-se-á proporcionar um atendimento diferenciado com vistas ao atendimento de necessidades individualizadas. Na fase mais recente, o entendimento de que o usuário do serviço deve ser visto como cliente-consumidor perdeu força, principalmente porque a idéia de consumidor poderia levar a um atendimento melhor para alguns e pior para outros, num universo em que todos têm os mesmos Esta separação é teórica. Existe um bom grau de intercâmbio entre elas. Os modelos não são mutuamente excludentes. Há uma incorporação dos aspectos positivos de cada teoria, ou seja, uma incorporação de temas. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 26 direitos. É possível perceber isso quando levamos em consideração que clientes melhores organizados e estruturados teriam mais poder para pleitear mais ou melhores serviços, culminando em prejuízo para os menos estruturados. Por isso, nesta abordagem é preferível o uso do conceito de cidadão, que ao invés de buscar a sua satisfação, estaria voltado para a consecução do bem-comum. Com isso, o que se busca é a eqüidade, ou seja, o tratamento igual a todos os que se encontram em situações equivalentes. Dica: Neste conceito, os cidadãos teriam, além de direitos, obrigações perante à sociedade, tais como a fiscalização da res publica, vindo a cobrar, inclusive, que os maus gestores sejam responsabilizados (accountability) por atos praticados com inobservância da Legislação ou do interesse público. O paradigma gerencial contemporâneo, fundamentado nos princípios da confiança e da descentralização da decisão, exige formas flexíveis de gestão, horizontalização de estruturas, descentralização de funções, incentivos à criatividade. Contrapõe-se à ideologia do formalismo e do rigor técnico da burocracia tradicional. À avaliação sistemática, à recompensa pelo desempenho, e à capacitação permanente, que já eram características da boa administração burocrática, acrescentam-se os princípios da orientação para o cidadão- cliente, do controle por resultados, e da competição administrada. No presente momento, uma visão realista da reconstrução do aparelho do Estado em bases gerenciais deve levar em conta a necessidade de equacionar as assimetrias decorrentes da persistência de aspectos patrimonialistas na administração contemporânea, bem como dos excessos formais e anacronismos do modelo burocrático tradicional. Para isso, é fundamental ter clara a dinâmica da administração racional- legal ou burocrática. Não se trata simplesmente de descartá-la, mas sim de considerar os aspectos em que está superada, e as características que ainda se mantêm válidas como formas de garantir efetividade à administração pública. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCU PROFESSOR JOSÉ CARLOS www.pontodosconcursos.com.br 27 Veja como esses assuntos podem ser cobrados em sua prova: Questão 6: (Unb/CESPE – STJ – Analista Judiciário – 2004) Tendo em vista determinados aspectos gerais da administração pública, julgue os itens a seguir. A centralização do processo de tomada de decisão, o rígido controle sobre o desempenho e o foco em resultados são algumas das características do paradigma pós-burocrático. Errado. A descentralização e o controle de desempenho estão associados ao gerencialismo. 4. Governança e Governabilidade A reforma do Estado envolve múltiplos aspectos. O ajuste fiscal devolve ao Estado a capacidade de definir e implementar políticas públicas. Através da liberalização comercial, o Estado abandona a estratégia protecionista da substituição de importações. O programa de privatizações reflete a conscientização da gravidade da crise fiscal e da correlata limitação da capacidade do Estado de promover poupança forçada através das empresas estatais. Através desse programa transfere-se para o setor privado a tarefa da produção que, em princípio, este realiza de forma mais eficiente. Finalmente, através de um programa de publicização, transfere-se para o setor público não- estatal a produção dos serviços competitivos ou não-exclusivos de Estado, estabelecendo-se um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu financiamento e controle. O modelo gerencial tornou-se realidade no mundo desenvolvido quando, através da definição clara de objetivos para cada unidade da administração, da descentralização, da mudança de estruturas organizacionais e da adoção de valores e de comportamentos modernos no interior do Estado, se revelou mais capaz de promover o aumento da qualidade e da eficiência dos serviços sociais oferecidos pelo setor público. Publicização significa a descentralização para o setor público não-estatal da execução de serviços que não envolvem o exercício do poder de Estado, mas devem ser subsidiados pelo Estado, como é o caso dos serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO
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