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Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 1 DIABETES MELLITUS É um grupo de distúrbios metabólicos de diversas etiologias, que se manifesta clinicamente por hiperglicemia crônica. Pode se desenvolver de acordo com uma secreção ou produção insuficiente de insulina pelas células beta pancreáticas; ou por resistência periférica à insulina, impedindo que o corpo este hormônio de forma adequada. HOMEOSTASE DA GLICOSE A glicose possui papel central na fisiologia metabólica, como na formação do piruvato por oxidação da glicólise, e no armazenamento na forma de glicogênio, amido ou sacarose. Dessa forma, passa por uma regulação hormonal para que desempenhe o seu papel de acordo com as necessidades do corpo. Tal regulação é feita a partir da insulina e do glucagon, ambos secretados pelas ilhotas pancreáticas. Além disso, faz parte de vias metabólicas, como a via das pentoses – importante na regeneração de NADP+ em NADPH para dar continuidade ao metabolismo da glicose; e também na formação da ribose-5-fosfato, importante componente do material genético celular. Por fim, o rim realiza a reabsorção de glicose através dos túbulos renais, por um mecanismo de fosforilação enzimática. Quando o corpo está em estado de hiperglicemia crônica, como no caso do diabetes, o rim ultrapassa o seu limiar renal (acima de 170-180mg/dL) e a glicose começa a ser eliminada pela urina. SÍNTESE E PROCESSAMENTO DA INSULINA 1. Transcrição e tradução proteica. 2. Armazenamento proteico no RER. 3. Formação da pré-pró-insulina no RER -> molécula muito grande. 4. No REL: clivagem, formando a pró-insulina = insulina + peptídeo C; a partir da remoção de um segmento de 23 aminoácidos da extremidade aminoterminal e a realização de uma ligação dissulfeto. 5. No CG: clivagem adicional, gerando insulina + peptídeo C. 6. Armazenamento de ambos substratos em vesículas até que o estímulo para sua secreção seja realizado. Obs.: o peptídeo C não possui função fisiológica pré-estabelecida, mas a sua detecção em pacientes diabéticos é importante para saber o quanto de insulina está sendo produzida, uma vez que, principalmente na diabetes tipo II, as lesões pancreáticas comprometem gradualmente a produção do hormônio em questão. No DM1, o peptídeo C é baixo; já no DM2, pode ser alto ou baixo. REGULAÇÃO DA SECREÇÃO DA INSULINA: PELA GLICOSE Este processo ocorre na célula beta da ilhota de Langerhans. 1. Aumento da glicemia sanguínea. 2. Glicose entra na célula beta a partir do transportador Glut-2. 3. Há fosforilação da glicose pela hexoquinase, com posterior oxidação e formação de ATP. 4. ATP gerado bloqueia os canais de K+ ATP dependentes. 5. Despolarização da célula. 6. Abertura dos canais de Ca²+ voltagem dependentes -> biossinalização 7. Aumento da concentração de cálcio intracelular. 8. Fusão dos grânulos de secreção contendo a insulina com a membrana celular. 9. Liberação do hormônio na corrente sanguínea. Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 2 TIPOS DE TRANSPORTADORES DA GLICOSE GLUT-1 Localização: sangue; barreira hematoencefálica; coração, em menor extensão Não é insulino-dependente. GLUT-2 Localização: fígado, pâncreas, intestino delgado. Não é insulino-dependente. Possui alto Km, e baixa afinidade. GLUT-3 Localização: cérebro, neurônios e espermatozoides. Não é insulino-dependente. Possui baixo Km, e alta afinidade. GLUT-4 Localização: músculo esquelético, tecido adiposo, coração. Insulino-dependente!!! Após a regulação feita pela insulina, a glicose pode formar glicogênio, transformar-se em piruvato ou dar origem aos ácidos graxos. REGULAÇÃO DA EXPRESSÃO GENICA DA INSULINA – cascata MAP-cinases. 1. Insulina se liga a subunidade alfa do seu receptor e induz mudança conformacional. 2. Fosforilação dos resíduos de tirosina nas duas subunidades beta. 3. Ativação do domínio de tirosina-cinase, que catalisa outras fosforilações de proteínas alvo – cascata fosforilativa formando uma rota de sinalização. 4. Ativação da glicogênio-sintase, estimulando a síntese de glicogênio a partir da glicose. 5. Proteína-cinase B (PKB) estimula o acoplamento do transportador Glut-4 à membrana celular, aumentando a captação de glicose pelos tecidos. Obs.: um problema no receptor de insulina não ativa a cascata. Obs2.: todas as células apresentam receptores de insulina e de glicose. Para o canal da glicose ser aberto, é necessário que seja previamente ativado pelo receptor da insulina. Estado alimentado – fígado lipogênico Refeição rica em calorias – glicose, ácidos graxos e aminoácidos em alta quantidade vão para o fígado. 1. Insulina estimula captação de glicose pelos tecidos. 2. Parte da glicose é exportada para o encéfalo, e parte para os tecidos adiposo e muscular. 3. No fígado: excesso de glicose oxidado a acetil-Coa -> síntese de ácidos graxos, que são exportados como triacilgliceróis em VLDL’s para os tecidos adiposo e muscular. 4. NADPH necessário para a síntese de lipídios é obtido através da via das pentoses-fosfato. 5. Excesso de aminoácidos convertido em piruvato e acetil-Coa -> síntese de ácidos graxos. 6. Gorduras da dieta se deslocam na forma de quilomícron via sistema linfático, do intestino para o músculo e para o tecido adiposo. A insulina é um hormônio anabólico, e induz a transformação de glicose em glicogênio no fígado, sendo um hormônio hipoglicemiante. Tal processo ocorre no período pós-prandial. Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 3 Estado jejum – fígado glicogênico Algumas horas sem alimento – fígado como principal fonte de glicose para o encéfalo. 1. Degradação do glicogênio hepático. 2. Glicose-1-fosfato -> Glicose-6-fosfato -> Glicose livre na corrente sanguínea. 3. Gliconeogênese a partir de aminoácidos da degradação de proteínas e glicerol oriundos da degradação de TAGs. 4. Fígado utiliza ácidos graxos como combustível principal. 5. Excesso de acetil-Coa não participa do Ciclo de Krebs, pois os intermediários do CK são proteínas e estão sendo utilizados na gliconeogenese, provocando a parada do CK. Assim, o excesso de acetil- Coa não é metabolizado e é convertido em corpos cetônicos, que são exportados para outros tecidos (encéfalo depende desse combustível na falta de fornecimento de glicose). O glucagon, a adrenalina, o cortisol e o GH são hormônios anabólicos, que possuem papel hiperglicemiante, induzindo a quebra de glicogênio em glicose. Tal processo geralmente ocorre no período de jejum. METABOLISMO DA GLICOSE NO DM Após a depleção dos estoques de carboidratos, as proteínas se tornam uma fonte importante de glicose – gliconeogenese a partir de aminoácidos glicogenicos. 1. A degradação proteica gera aminoácidos glicogenicos. 2. A ureia é transportada para o rim e excretada na urina. 3. Os intermediários do CK são desviados para a gliconeogenese. 4. A glicose é exportada para o encéfalo via corrente sanguínea. 5. Os ácidos graxos são oxidados como combustível, produzindo acetil-Coa. 6. A falta de oxaloacetato impede a entrada de acetil-CoA no CK 7. O acúmulo de acetil-Coa favorece a síntese de corpos cetônicos – via corrente sanguínea para o encéfalo, que os utiliza como combustível. CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DO DM TIPO 1A: deficiência de insulina por destruição autoimune das células beta mediados por células como linfócitos T e macrófagos, que pode ser comprovada por meio de exames laboratoriais. TIPO 1B: deficiência de insulina de natureza idiopática. DM TIPO 2: perda progressiva da produção de insulina, combinada a resistência à insulina. DM GESTACIONAL: hiperglicemia degraus variados, diagnosticado durante a gestação, na ausência de critérios de DM prévio. OUTROS TIPOS: monogênicos (MODY); diabetes neonatal; secundário a endocrinopatias; secundário a doenças do pâncreas exócrino; secundário a infecções; secundário a medicamentos. Diabetes Mellitus Tipo 1 Tipo 2 Início da Doença Crianças e Adolescentes Usualmente > 40 anos Surgimento Abrupto Gradual Causa Hereditária*/Autoimune Hereditária/Obesidade % Diabéticos 5-10% dos pacientes 90-95% dos pacientes Concentração de Insulina Muito baixa/ausente Normal-Baixa-Alta Obesidade Rara 85% dos casos Histórico Familiar Menos Comum* Mais Comum Cetose Mais Comum Menos Comum Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 4 DM TIPO I Etiopatologia Doença autoimune poligênica que culmina na destruição seletiva das células beta pancreáticas a partir do linfócitos T citotóxicos, provocando deficiência completa na produção de insulina. DM Tipo IA: presença de anticorpos nos exames laboratoriais. DM Tipo IB: autoanticorpos não detectáveis – causa idiopática. Tipos de anticorpos Anti-ilhota (ICA); Anti-insulina; Anti-descarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD) Anti-tirosina-fosfatase IA-2 e IA-2B Anti-transportador de Zinco (Znt8) Fisiopatologia A destruição autoimune das células beta leva a uma diminuição da insulina secretada pelo pâncreas, assim, o receptor de insulina não é ativado e as vesículas contendo Glut-4 não se fundem a membrana plasmática da célula. Logo, não há captação de glicose para o meio intracelular, provocando um quadro de hiperglicemia no paciente. Como não ocorre a entrada de glicose na célula, inicia-se o processo de gliconeogenese no fígado a partir da mobilização de ácidos graxos e aminoácidos. Dessa forma, ocorre o emagrecimento do paciente devido à mobilização de gorduras; e o excesso de lipólise causa o acúmulo de acetil-Coa, que são convertidos em corpos cetônicos pelos hepatócitos. Os corpos cetônicos (acetoacetato; beta- hidroxibutirato e acetona) são utilizados como fonte de energia pelo coração, músculo esquelético, rim e cérebro, contudo, quando em grandes quantidades, são tóxicos para o organismo, e o paciente desenvolve um quadro de cetoacidose diabética. Manifestações Clínicas Cetoacidose Diabética Hálito cetônico e eliminação de corpos cetônicos na urina, identificados por EAS. Glicosúria Eliminação de glicose na urina – glicemia muito alta leva o rim a ultrapassar o limiar renal (170-180 mg/dL). Em indivíduos normais, o rim reabsorve cerca de 100% de glicose. Poliúria A alta concetração de glicose no TCP faz com que a água tente diluir o filtrado, e ela também é secretada em grandes quantidades. Polidipsia Excesso de sede devido ao fato de a hiperglicemia provocar a migração da água para dentro dos vasos, simulando um quadro de desidratação e ativando os centros da sede. A desidratação pode levar a um caso de choque hipovolêmico em condições de diabetes descompensado. Polifagia Falta de ATP celular devido a não mobilização da glicose para o MIC leva a ativação dos centros da fome. Cansaço Excessivo e visão turva Célula sem energia. Náuseas e vômitos Desequilíbrio eletrolítico devido a diurese osmótica. Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 5 Obs.: paciente infantil ou diabetes descompensado Hálito cetótico; respiração de kusmaull; náusea e vomito; dor abdominal (abdome agudo); desidratação; edema cerebral. Inspiração longa e ruidosa – tempo de pausa – expiração rápida – pausa. Diagnóstico Tríade dos “polis” – poliúria + polifagia + polidipsia, associada ao emagrecimento. Cetoacidose diabética descompensada, identificada muitas vezes por hálito cetônico. Candidíase vaginal de repetição – abundancia de glicose. Tratamento Insulinoterapia, educação em diabetes, dieta, exercícios físicos, monitoramento da glicemia. As injeções serão sempre aplicadas no subcutâneo, pois além de menos doloroso, apresenta menor risco de infecções e aumenta o tempo de absorção da insulina. Existe insulina de ação rápida, intermediária (NPH) e de longa duração. Também existem análogos de insulina de ação ultrarrápida (lispro). Inovações no tratamento – aparelho que mede a glicemia e libera na corrente sanguínea a quantidade necessária de insulina; canetas de insulina em substituição às agulhas; mensuração da glicemia no telefone. Existe uma bombinha que é colocada presa a barriga do paciente, capaz de regular a taxa de glicose e assim, regular a quantidade de insulina que deve ser colocada no corpo do paciente. Pacientes com qualquer tipo de DM podem necessitar de tratamento com insulina em algum estágio da doença. Insulinas rápidas e ultrarrápidas – utilizadas assim que a pessoa vai comer. Como haverá um pico de glicemia na corrente sanguínea, é necessário que haja uma insulina de rápida absorção. Insulinas intermediárias e prolongadas – utilizadas para manter o nível basal de insulina para atividade normal. Esquemas de Insulinoterapia Esquema 01: duas aplicações – mais usado, menos confiável, pois depende muito da rotina Após acordar: insulina rápida + prolongada – a rápida sustenta do café da manhã ao almoço. Antes de dormir: insulina rápida + prolongada – sustenta durante a noite Esquema 02: múltiplas aplicações – mais confiável, porém mais caro. Administração de insulina antes do café da manhã, do almoço, do jantar, e antes de dormir. Esquema 03: infusão contínua Bombinhas são utilizadas o tempo todo, para que o aparelho meça a glicemia. Sempre haverá um nível Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 6 basal de inulina, e as rápidas serão utilizadas apenas em momentos de alimentação. O esquema 01 é um método que exige uma rotina vigorosa – dieta rigorosa na contagem de carboidratos somada a pratica de exercícios físicos de acordo com os níveis de insulina aplicados. Se a pessoa dormir mais que o esperado, entra em hipoglicemia. DM TIPO II Etiopatologia Doença poligênica influenciada por herança familiar e fatores ambientais, gerando resistência periférica a insulina, que leva a disfunção das células beta pancreáticas devido ao seu excesso de atividade. Fisiopatologia Um quadro constante de hiperglicemia gera hipersensibilidade da célula aos receptores de insulina, que param de excretar os receptores de Glut-4 para a superfície. Assim, a célula interpreta hiporresponsividade a insulina (uma vez que mesmo em altas concentrações de glicose serica, não há acoplamento do glut-4 a membrana) e, inicialmente, há hiperinsulinemia compensatória, contudo, posteriormente há disfunção e/ou redução das células beta pancreáticas, o que leva a um déficit de secreção e produção de insulina, que caracteriza um hipoinsulinismo. O grande problema é que o hipoinsulinismo é relativo, pois os exames de detecção de insulina podem estar altos ou normais, uma vez que neste quadro de deficiência na biossinalização para o Glut- 4 se acoplar a membrana nem a glicose e nem a insulina são captadas pela célula, e ambas continuam na corrente sanguínea; assim, há comprometimento da detecção precoce do diagnóstico de DM2. Ao contrário do DM1, o quadro de DM2 pode ser revertido enquanto não houver destruição das células beta – muitas pessoas com alterações iniciais da glicemia conseguem reverter os níveis glicêmicos para o normal com perda de 5 a 10% do peso corporal. A insulina diminui de acordo com a progressão da DM2. Não há produção de corpos cetônicos no DM2, já que a deficiência na mobilização do GLUT é parcial, logo, ainda há entrada de glicose na célula, masela é deficitária. Como há presença de insulina, os hormônios contrarregulatórios ou catabólicos são inibidos, então ainda há a quebra de Fatores de Risco Fatores genéticos/hereditários – mais importantes da DM2 do que na DM1. DM2 ocorre com frequência em uma mesma família. Idade acima de 45 anos – avanço da idade relacionado a diminuição do metabolismo. No entanto, nos últimos anos houve incidência de DM2 em jovens obesos. Obesidade – glicemia sempre alta Sedentarismo – a realização de atividades físicas aumenta a mobilização de Glut-4 para a membrana celular (alta demanda energética), favorecendo a captação de glicose pela célula. História prévia de diabetes gestacional (neonato <4kg) Hipertensão arterial ou histórico de doenças cardiovasculares. Síndrome do ovário policístico. Triglicérides <35mg/dL. Manifestações Clínicas Poliúria, polifagia e polidipsia. Impotência sexual – estreitamento das artérias no diabetes descompensado (insuficiência circulatória). Cansaço e desanimo; Obesidade; Perda de peso (minoria) – devido a quebra de proteínas de lipídeos. Pressão arterial alta – hiperglicemia leva mais água para os vasos. Problemas na cicatrização e quadros infecciosos na pele. Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 7 Diagnóstico Assintomático – geralmente o paciente descobre a condição ao verificar glicemia elevada em exames de rotina. Lesões de órgãos alvo – complicações como retinopatia diabética. Ancatose nigricans – manchas escuras que acontecem nas nobras (nuca, axila ou virilha). Também acontecem em pacientes com câncer de pulmão o do TGI. Contudo, como o diabetes é mais comum, ao se observar as manchas desconfia-se primeiramente do DM2. Estado hiperosmolar não cetótico Glicemia maior que 600mg/dL. Além de já haver muita glicose na circulação, o fígado ainda realiza gliconeogenese. Ausência de cetonemia, diferenciando de cetoacidose. Frequentemente há distúrbio de consciência que pode levar ao coma, devido ao desequilíbrio osmótico do organismo. Tratamento Ao ser diagnosticado com DM2, antes dos medicamentos, é necessário que se faça tratamento preventivo: - Dieta rigorosa; - Atividades físicas a fim de aumentar ao mobilização de Glut-4; - Suspender o consumo de álcool (aumenta a glicemia); - Suspender o uso do tabaco (aumenta a intolerância a insulina); - Exames anuais de rastreio - Metformina -> utilizada apenas em pacientes de alto risco – obesos com quadro muito avançado. Outros medicamentos: - Acarbose -> medicamentos que atuam no intestino, inibindo a enzima responsável pela absorção de glicose, retardando a absorção e atenuando os picos glicemicos. (efeitos colaterais + ganho de peso) - Secretagogos -> ação pancreática – é necessário que haja produção mínima de insulina (medição da quantidade de peptídeo C). Estimula a secreção de insulina - Metformina -> atua em células periféricas (tecido adiposo e muscular): facilita ação da insulina e diminui a resistência; aumenta a expressão de Glut-4, melhora o perfil lipídico e emagrece. Já foi utilizado erroneamente para emagrecimento. A mudança no estilo de vida reduz o diabetes em até 60% dos casos; enquanto os medicamentos só alteram 30%. Controle Auto-mensuração diária da glicemia aplicada. HB glicada – quando há pico de glicemia, há glicosilação de hemácias (apresentam meia-vida de 120 dias). Logo, é possível ver como foi a glicemia da pessoa há dois ou três meses. Importante para ver se o indivíduo está respondendo ao tratamento, ou se está realizando-o de forma ideal. No entanto, a HB glicada recebe interferência de insuficiência renal crônica, dislipidemias e consumo de álcool para aumentar, e de anemia, hemorragia e gravidez para diminuir. Frutosamina – albumina glicada (utilizada nos casos de interferência na hb glicada). Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 8 DM GESTACIONAL Etiopatologia Intolerância a glicose com início ou diagnóstico durante a gestação devido a um efeito anti-insulina dos hormônios presentes na gravidez, como estrógeno, progesterona, HCG e HPL – tal efeito conduz a uma resistência a insulina, que provoca o quadro de DM Gestacional. Fisiopatologia O metabolismo da mulher está mais alto devido a influencia dos hormônios gestacionais, caracterizando uma condição diabetogenica – a placenta produz hormônios hiperglicemiantes (hormônio lactamico placentário – HPL; e Gonadotrofina – HCG) e enzimas que degradam a insulina. Dessa forma, ocorre aumento compensatório na produção de insulina, gerando resistência à insulina e, caso o quadro evolua, há disfunção das células beta, semelhante a DM2. A reversão do quadro é comum após o parto, contudo, se a lesão pancreática for muito extensa, a paciente pode continuar diabética. 10 a 63% das pacientes podem desenvolver DM em 5 a 16 anos após o parto, devido à resistência a insulina já evidente. Fatores de Risco Idade materna avançada Sobrepeso, obesidade ou ganho de peso excessivo na gravidez atual Deposição central de gordura corporal História familiar de DM em parentes de primeiro grau Crescimento fetal excessivo, polidramnio, hipertensão ou pré-eclampsia na gravidez atual Antecedentes obstétricos de abortos de repetição, malformações, morte fetal ou neonatal, macrossomia ou DMG Síndrome de ovários policísticos Baixa estatura (inferior a 1,5m) Diagnóstico Glicemia aleatória alterada (sem jejum); >200mg/dL Sintomas de hiperglicemia Exame de TOTG (teste oral de intolerância a glicose) pré-natal alterado. Geralmente é realizado entre 24 e 28 semanas de gestação. Glicemia 2h após TOTG >200mg/dL Hemoglobina glicada > 6,5% Há controvérsias se a hb glicada é um método de diagnóstico ou de controle, uma vez que é um teste de que recebe muitas interferências, podendo estar alto sem que a pessoa seja diabética ou baixo se a pessoa for, de fato, diabética. Uma das complicações materno-fetal é o bebe gigante (<4kg), que tem mais chances de desenvolver DM2. O bebe é maior que o normal já que recebe mais glicose da mãe, e esta fica estocada na forma de ácidos graxos. Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 9 Tratamento Dietoterapia e estímulo a pratica de exercícios físicos. Caso não haja diminuição dos níveis de glicemia, recomenda-se o uso apenas de insulinoterapia, uma vez que a maioria dos medicamentos não pode ser utilizada em gestantes. OUTROS TIPOS DE DIABETES Maturity Onset Diabetes of the Young (MODY) Acomete indivíduos com menos de 25 anos e não obesos. Caracteriza-se por defeito na secreção de insulina, no entanto, sem causar dependência da mesma. Herança Autossômica Dominante. Diabetes Insipidus (DI) Síndrome poliúrica decorrente da deficiência total ou parcial na síntese de vasopressina OU diminuição da sensibilidade renal a esse hormônio. Caracterizado por DI central ou nefrogênico. 1. Quantidade insuficiente de vasopressina – DIC ou DIN. Pode ser devido à destruição da parte posterior da hipófise, secretora de ADH. 2. Falha da resposta renal a vasopressina circulante – DIN Pode ser devido ao uso de drogas ou por patologias renais. O paciente acometido por DI apresenta poliúria, polidipsia constante e insaciável, nictúria (aumento do volume de excreção urinária a noite), ou enurese (excreção involuntária de urina durante o sono). 3. Defeitos no receptor de vasopressina (V2R) ou no receptor de aquaporina (AQP2) Diabetes insípidus herdado. 4. Ingestão abundante de líquidos que leva a anormalidade no centro regulador da sede, no hipotálamo. Diabetes Insipidus Gestacional Excessiva degradaçãode ADH, uma vez que há hiperprodução de vasopressinase pela placenta durante a gravidez. COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS A hiperglicemia provoca a eliminação de glicose pela urina (glicosúria); secreção aumentada do filtrado (poliúria) uma vez que a água tenta diluir a alta concentração de glicose no TCP; excesso de sede (polidipsia) devido ao fato da diurese osmótica provocar desidratação e polifagia, uma vez que a falta de ATP por falta de mobilização da glicose leva a sensação de fome constante. As complicações se devem, principalmente, a glicação não enzimática. Que causa espessamento das membranas basais de capilares sanguíneos – gerando danos tanto microvasculares quanto macrovasculares, o que podem levar a cegueira, insuficiência renal e infarto, por exemplo. Hiperglicose intracelular Excesso de glicose dentro da célula – ocorre devido à ação dos outros Gluts que não são insulinodependentes e estão presentes nas células do fígado, cristalino, nervos periféricos, rins e hemácias. A glicose, em excesso no sangue, entra na célula e é transformada em Sorbitol-Frutose LIC (o sorbitol não é solúvel, portanto, fica dentro da célula). Isso provoca o influxo de água, provocando lesão celular e edema. Catarata: acúmulo de sorbitol nas lentes oculares. Hemácias: diminuição do transporte de oxigênio. Neuropatia diabética: distúrbio sensitivo em neurônios sensitivos, que causa diminuição dos impulsos nervosos – gerando perda de sensibilidade – maior resistência à dor (não sente). Letícia Souza – 70A FCMMG P2 Bioquímica Clínica – Diabetes Mellitus 10 Retinopatia diabética: rompimento dos capilares dilatados 50% dos pacientes após 10 anos de diabetes descompensado apresentam retinopatia diabética – cegueira e deslocamento de retina. A cegueira ocorre principalmente entre os 20 e os 74 anos. Tratamento: Laserterapia e cirurgias oculares Tratamento preventivo: exame anual de fundo de olho e controle da hipertensão e glicemia. Alterações vasculares: Enrijecimento das artérias, levando a dificuldade no processo de cicatrização de feridas. Macroangiopatia diabética: processo muito comum nos pés (pé diabético) – o indivíduo não sente que machucou devido à neuropatia diabética e tem dificuldade de levar sangue para essa região, levando ao estado de necrose – amputação. Prevenção: Manter a unha dos pés curtas; higienização; controle médico e acompanhamento; tratamento das possíveis feridas; uso de sapatos confortáveis; cuidado ao calçar o sapato para que não tenha algo dentro que machuque o pé. Nefropatia diabética: hiperglicemia crônica lesa os vasos e causa glomerulopatia, com eliminação de proteínas na urina – eleva pressão hidrostática e diminui a pressão oncótica – edema no membro inferior. 1º estágio: proteinúria 2º estágio: azotemia (alta concentração de produtos nitrogenados, como ureia, creatina) – glomérulo esclerose. 3º estágio: insuficiência renal – hemodiálise – transplante renal. 65% das mortes de pacientes diabéticos são decorrentes de doenças cardíacas. 73% desenvolvem hipertensão arterial. VALORES DE GLICOSE PLASMÁTICA Glicose em jejum (mg/dL) Glicose 2h após sobrecarga com 75g de glicose (mg/dL) Glicose ao acaso HbA1c (%) Observações Normoglicemia < 100 < 140 - < 5,7 Nota de corte OMS: 110mg/dL Pré-diabetes ou risco de DM ≥ 100 e <126* ≥ 140 e <200** - ≥ 5,7 e <6,5 Positividade de qualquer parâmetro confirma o diagnóstico de pré-DM Diabetes estabelecido ≥ 126 ≥ 200 ≥ 200 com sintomas de hiperglicemia ≥ 6,5 Positividade de qualquer parâmetro confirma diagnóstico de DM. Ausencia de sintomas de hiperglicemia – repetição de testes. * Categoria também conhecida como glicemia de jejum alterada. * Categoria também conhecida como intolerância oral à glicose.
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