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Língua Portuguesa - Elias Santana - Folha de Resposta

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SIMULADO PCDF
SIMULADO PCDF – LÍNGUA PORTUGUESABaseado no formato de prova aplicado pela banca Cespe
Elias Santana
Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Respectiva Literatura – pela Universidade de Brasília. Possui 
mestrado pela mesma instituição, na área de concentração “Gramática – Teoria e Análise”, com enfoque em 
ensino de gramática. Foi servidor da Secretaria de Educação do DF, além de professor em vários colégios e 
cursos preparatórios. Ministra aulas de gramática, redação discursiva e interpretação de textos. Ademais, é 
escritor, com uma obra literária já publicada. Por essa razão, recebeu Moção de Louvor da Câmara Legis-
lativa do Distrito Federal.
LÍNGUA PORTUGUESA
1 Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, 
várias questões de alta transcendência, sem que a dispari-
dade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. 
A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, 
5 alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o 
luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e 
aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de 
uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro 
ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo 
10 amigavelmente os mais árduos problemas do universo. 
 � Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os 
que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto perso-
nagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no deba-
te não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse 
15 homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta 
e cinquenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não 
sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia 
nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo 
que a discussão é a forma polida do instinto batalhador, 
20 que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava 
que os serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, 
eram a perfeição espiritual e eterna. Como desse esta mesma 
resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e 
desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina 
25 (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu:
 � – Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.
 � Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este 
casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas 
trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a 
30 cair na natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente 
os quatro amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o 
acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão 
impossível, pela multiplicidade das questões que se dedu-
ziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela incon-
35 sistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao 
Jacobina alguma opinião, uma conjetura, ao menos.
 � – Nem conjetura, nem opinião, redarguiu ele; uma 
ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, 
eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso 
40 contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais 
clara demonstração acerca da matéria de que se trata. Em pri-
meiro lugar, não há uma só alma, há duas...
 � – Duas? 
 � – Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz 
45 duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra 
que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem 
ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. 
Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma 
exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos 
50 homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, 
em que um simples botão de camisa é a alma exterior de 
uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, 
uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, 
etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir 
55 a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, 
metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das 
metades, perde naturalmente metade da existência; e casos 
há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da 
existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma exterior 
60 aquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia a 
morrer. "Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um 
punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a 
perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, 
é preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma...
Machado de Assis. O espelho.
1 Na linha 3, a forma verbal “trouxesse” poderia ser substituí-
da por lhes trouxesse, o que conferiria ao texto maior valor 
enfático, sem prejudicar a correção gramatical e o sentido 
original.
2 O pronome “cuja” (l.5), cujo referente é “sala” (l.4), tem a 
finalidade de introduzir oração de valor explicativo.
3 Caso a vírgula após “velas” (l.5) seja suprimida, poder-se-
-ia inferir que, na sala, há outras velas com luzes que não se 
fundem com o luar.
4 Segundo as informações do segundo período do texto, é pos-
sível inferir que há mais de um “luar” (l.6).
5 Na linha 8, o verbo “estavam” é classificado como de ligação.
6 A palavra “árduos” (l.10) é acentuada segundo a mesma regra 
de “bactéria” e “necessário”.
SIMULADO PCDF – LÍNGUA PORTUGUESABaseado no formato de prova aplicado pela banca Cespe
7 O adjunto adverbial “calado” (l.13) indica o modo como se 
comportava o quinto personagem.
8 A vírgula após “anos” (l.16) poderia ser substituída por um 
ponto final, desde que houvesse o ajuste de maiúsculas e mi-
núsculas. 
9 A expressão “a perfeição espiritual e eterna” (l.22) faz refe-
rência a “instinto batalhador” (l.19).
10 A conjunção “que” (l.24) introduz uma oração que funciona 
como complemento verbal de “demonstrar” (l.24).
11 A oração “se era capaz” (l.24) possui valor condicional.
12 Na linha 25, percebe-se uma agramaticalidade, uma vez que o pro-
nome “ele” foi usado como complemento verbal de “chamava”.
13 O trecho “ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos” 
poderia ser assim reescrito: ponto no qual se dividiram os 
quatro amigos.
14 Na linha 32, o vocábulo “mas” possui valor adversativo.
15 O pronome “se” (l.33) indica reflexividade.
16 Na linha 38, o verbo “pode” poderia ser flexionado no plural. 
Com isso, há a manutenção da correção gramatical, mas o 
sentido original é alterado.
17 A palavra “como” (l.38) foi usada para indicar conformidade.
18 O trecho “mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-
-lhes um caso de minha vida” (l.39-40) poderia ser assim 
reescrito: caso queiram, todavia, me ouvir calados, posso 
informá-los de um caso da minha vida.
19 Haveria manutenção da correção gramatical e do sentido ori-
ginal caso a forma “de que” (l.41) fosse substituída por a qual.
20 O trecho “em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas” 
(l.41-42) poderia ser assim reescrito: não tem uma só alma; 
tem duas, em primeiro lugar.
21 Na linha 45, a vírgula após “fora” poderia ser substituída por 
ponto e vírgula.
22 Se, na linha 46, for empregado sua antes de “vontade”, o em-
prego do sinal indicativo de crase é facultativo.
23 Na linha 48, é possível substituir “se” por caso.
24 A forma verbal “há” (l.50) pode ser substituída por pode ha-
ver, sem prejuízo à correção gramatical.
25 As expressões “a alma exterior de uma pessoa” (l.51-52), 
“transmitir a vida” (l.54-55) e “os seus ducados” (l.60) de-
sempenham a mesma função sintática nas orações em que 
ocorrem.
1 Aurélia estava ocupada em reunir os diversos casais e 
enviá-los ao meio da sala; desembargadores de todo o tope 
e calibre, conselheiros carunchosos, viscondes mofados, 
marqueses carranças: tudo tratava de executar-se da melhor 
5 vontade, que era o meio de tomar mais leve a penitência.
 � Nisto chegou-se a Lísia Soares ao braço de Fernando. A 
travessa trazia nos lábios um sorrisomaligno; o olhar belisca-
va como um alfinete.
 � — Está muito entretida com os outros e não se lembra de 
10 si — disse ela.
 � — Como? — perguntou Aurélia voltando-se.
 � — Não disfarce. A justiça começa por casa; aqui está seu 
marido. Dê o exemplo.
 � Aurélia compreendeu a vingança da amiga, 
15 despeitada por não valsar com o Alfredo Moreira.
 � Desde a primeira vez que apareceu na sociedade, depois 
do luto de sua mãe, Aurélia que, apesar da palavra afouta e viva, 
tinha o casto recato de sua pessoa, resolveu não valsar para não 
arriscar-se a encontrar um desses pares que põem ao vivo a com-
20 paração poética da trepadeira enroscada ao tronco musgoso.
 � Declarou, portanto, que não sabia valsar e que nun-
ca poderia aprender porque o giro rápido causava-lhe ver-
tigem. Havia nesta segunda parte um fundo de verdade. 
Quando valsava no colégio com as amigas, sentia tão vivo 
25 prazer nessa dança impetuosa que deixava-se arrebatar e, des-
prezando o compasso da música, volvia uma velocidade pro-
digiosa até que o atordoamento a obrigava a sentar.
 � Convencida de que ela não sabia realmente valsar, Lí-
sia lembrou-se de tomar uma desforra, obrigando-a a fazer 
30 triste figura na sala, ou então a retratar-se de sua esquisitice 
e acabar com a tal valsa dos casados. O que mais estimulara 
a moça fora a suspeita de que Aurélia fizera aquilo por mal-
dade, e só para privá-la de dançar com o Moreira.
 � Nisto era injusta. A razão que movera Aurélia, não 
35 sei; mas que ela nesse momento não se lembrava da existên-
cia da Lísia e do Moreira, disso posso dar certeza.
 � — Não seja má, Lísia! — disse Aurélia, com um modo 
queixoso, que não ocultava de todo o fino motejo do olhar.
 � — Nada, minha cara; você não dispensa ninguém, tenha 
40 paciência.
 � — Eu não sei valsar!
 � — Aí é que está a graça. Meu pai também não sabia.
 � — Ela sabe, era meu par no colégio — observou uma 
senhora.
45 — Há de dançar.
 � — Pena de talião — dizia um velho advogado gotoso 
que voltava da valsa tão estafado como nunca o deixara a 
mais complicada defesa do júri.
 � — Caso de justa represália! — acudiu um velho 
50 diplomata que fizera sua carreira em eterna disponibilidade, 
sem trocadilhos.
SIMULADO PCDF – LÍNGUA PORTUGUESABaseado no formato de prova aplicado pela banca Cespe
 � — A coroa cede ante a opinião! — orava um ministro 
para quem coroa e opinião no Brasil eram a chapa e o cunho 
da mesma moeda em que se recebia o salário.
55 As senhoras insistiam para se despicarem da entrega que 
lhes fizera a dona da casa; as moças por pirraça; e os rapazes 
pelo desejo de quebrar o encanto a Aurélia e terem-na daí em 
diante como par certo de valsa.
 � — Não é preciso essa revolução. Eu me submeto — 
60 disse Aurélia, curvando gentilmente a cabeça.
 � Dirigindo-se ao marido, que estava defronte e a quem a 
Lísia não consentira que se retirasse, tomou-lhe resolutamen-
te o braço e deixou-se conduzir ao meio da sala.
 � — Por que se constrange? Não quer valsar; eu tomo 
65 sobre mim a recusa — segredou Seixas.
 � — É questão de vaidade. Compreende a força que tem 
para nós, mulheres, este nosso ponto de honra? — tornou Au-
rélia também à meia voz.
 � — Neste momento, não; não compreendo.
70 — Veja a Lísia como está saboreando o meu vexame de 
não saber valsar, e o fiasco que me espera? Demais...
 � Sua voz teve uma nota vibrante.
 � — Demais, o senhor pode pensar que tenho medo.
 � Aurélia pousara a mão no ombro do marido, e, imprimindo 
75 ao talhe um movimento gracioso e ondulado, como o arfar da 
borboleta que palpita no seio do cacto, colocou-se diante de 
seu cavalheiro e entregou-lhe a cintura mimosa.
 � Era a primeira vez, e já tinham mais de seis meses de 
casados; era a primeira vez que o braço de Seixas enlaçava 
80 a cintura de Aurélia. Explica-se, pois, o estremecimento que 
ambos sofreram ao mútuo contato, quando essa cadeia viva 
os surpreendeu.
José de Alencar. Senhora.
26 As palavras “má” (l.37), “aí” (l.42) e Há (l.45) são acentuadas 
de acordo com a mesma regra.
27 Na linha 80, o vocábulo “pois” poderia ser substituído por 
porquanto ou por uma vez que, sem trazer ao texto prejuí-
zos sintáticos ou semânticos.
28 As expressões “mais leve” (l.5) e “como par certo de valsa 
(l.58) exercem a mesma função sintática nos períodos em que 
ocorrem.
29 Na linha 47, o advérbio “estafado” indica o modo como o 
advogado voltou da valsa.
30 Observa-se uma agramaticalidade nas linhas 18 e 19 do texto: 
a forma pronominal “se”, em “arriscar-se”, deveria estar em 
posição proclítica.
31 Na linha 14, a retirada da vírgula alteraria o sentido original 
do texto.
32 Apesar da coloquialidade, é possível notar que o vocábulo 
“que”, na linha 16, funciona como um pronome relativo.
33 Na linha 6, é adequado inserir um acento grade no vocábulo 
“a”, uma vez que antecede um substantivo próprio feminino.
34 “A mais complicada defesa do júri” (l.47-48) funciona, na 
oração em que se insere, como complemento do verbo “dei-
xara (l.47).
35 Na linha 80, pode-se substituir “o estremecimento” por os 
tremores, sem ferir a correção gramatical do texto.
36 Na linha 34, a forma verbal “movera” poderia ser substituída 
por havia movido.
37 Pelos sentidos do texto, percebe-se que o discurso direto das 
linhas 43 e 44 foi proferido por Aurélia, o que indica que ela 
era o par de dança do pai de Lísia.
38 O pronome “se”, nas linhas 54 e 80, possui a mesma classi-
ficação.
39 Infere-se do texto que Seixas demorou para enlaçar a cintura 
de sua esposa porque ela sentia vertigens ao dançar.
40 O texto é predominantemente narrativo, apesar de algumas 
passagens descritivas.
 MINEIRINHO
1 É, suponho que é em mim, como um dos representan-
tes de nós, que devo procurar por que está doendo a morte 
de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os 
treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes. 
5 Perguntei a minha cozinheira o que pensava sobre o assunto. 
Vi no seu rosto a pequena convulsão de um conflito, o mal-
-estar de não entender o que se sente, o de precisar trair sensa-
ções contraditórias por não saber como harmonizá-las. Fatos 
irredutíveis, mas revolta irredutível também, a violenta com
10 paixão da revolta. Sentir-se dividido na própria perplexidade 
diante de não poder esquecer que Mineirinho era perigoso e 
já matara demais; e no entanto nós o queríamos vivo. [...]
 � Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o 
segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa 
15 alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem 
de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração 
batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trê-
mula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no 
décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me 
20 assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.
 � Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada 
por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me 
salvo. Nós, os sonsos essenciais. Para que minha casa fun-
cione, exijo de mim como primeiro dever que eu seja sonsa, 
SIMULADO PCDF – LÍNGUA PORTUGUESABaseado no formato de prova aplicado pela banca Cespe
25 que eu não exerça a minha revolta e o meu amor, guardados. 
Se eu não for sonsa, minha casa estremece. [...]
 � Em Mineirinho se rebentou o meu modo de viver. [...] Sua 
assustada violência. Sua violência inocente — não nas conse-
quências, mas em si inocente como a de um filho de quem o 
30 pai não tomou conta. Tudo o que nele foi violência é em nós 
furtivo, e um evita o olhar do outro para não corrermos o risco 
de nos entendermos. Para que a casa não estremeça. A vio-
lência rebentada em Mineirinho que só outra mão de homem, 
a mão da esperança, pousandosobre sua cabeça aturdida e 
35 doente, poderia aplacar e fazer com que seus olhos surpreen-
didos se erguessem e enfim se enchessem de lágrimas. [...]
 � A justiça prévia, essa não me envergonharia. Já era tem-
po de, com ironia ou não, sermos mais divinos; se adivinha-
mos o que seria a bondade de Deus é porque adivinhamos 
40 em nós a bondade, aquela que vê o homem antes de ele ser 
um doente do crime. Continuo, porém, esperando que Deus 
seja o pai, quando sei que um homem pode ser o pai de outro 
homem. E continuo a morar na casa fraca. Essa casa, cuja 
porta protetora eu tranco tão bem, essa casa não resistirá à 
45 primeira ventania que fará voar pelos ares uma porta tran-
cada. [...] o que me sustenta é saber que sempre fabricarei um 
deus à imagem do que eu precisar para dormir tranquila e que 
outros furtivamente fingirão que estamos todos certos e que 
nada há a fazer. [...] Feito doidos, nós o conhecemos, a esse 
50 homem morto onde a grama de radium se incendiara. Mas só 
feito doidos, e não como sonsos, o conhecemos. [...] Até que 
viesse uma justiça um pouco mais doida. Uma que levasse 
em conta que todos temos que falar por um homem que se 
desesperou porque neste a fala humana já falhou, ele já é tão 
55 mudo que só o bruto grito desarticulado serve de sinalização. 
Uma justiça prévia que se lembrasse de que nossa grande luta 
é a do medo, e que um homem que mata muito é porque teve 
muito medo. Sobretudo uma justiça que se olhasse a si pró-
pria, e que visse que nós todos, lama viva, somos escuros, 
60 e por isso nem mesmo a maldade de um homem pode ser 
entregue à maldade de outro homem: para que este não possa 
cometer livre e aprovadamente um crime de fuzilamento.
 � Uma justiça que não se esqueça de que nós todos somos 
perigosos, e que na hora em que o justiceiro mata, ele não 
65 está mais nos protegendo nem querendo eliminar um crimi-
noso, ele está cometendo o seu crime particular, um longa-
mente guardado. [...]
Clarice Lispector (Disponível em ip.usp.br. Adaptado.)
41 A oração “por que está doendo a morte de um facínora” pre-
sente nas linhas 2 e 3 funciona como complemento direto do 
verbo “procurar”.
42 No trecho “suponho que é em mim, como um dos represen-
tantes de nós, que devo procurar por que está doendo a morte 
de um facínora. E por que é que mais me adianta contar os 
treze tiros que mataram Mineirinho do que os seus crimes” 
(l.1-4), os termos destacados possuem funções distintas.
43 O trecho “Perguntei a minha cozinheira o que pensava so-
bre o assunto” (l.5) poderia ser assim reescrito: perguntei à 
minha cozinheira sobre o que pensava acerca do assunto.
44 Na linha 12, a forma verbal “matara” indica que tal ação foi 
praticada anteriormente a outra ação.
45 A gradação existente no segundo parágrafo é responsável por 
transmitir ao leitor a mudança de sentimentos pelas quais a 
autora passou.
46 Na linha 15, o adjunto adverbial “desassossegada” releva o 
modo como o quarto tiro em Mineirinho deixou a autora do 
texto.
47 A primeira vírgula da linha 24 e a vírgula da linha 26 foram 
empregadas por razões distintas.
48 A conjunção integrante “que”, na linha 39, introduz o com-
plemento do verbo “adivinhamos”.
49 Na linha 40, “de ele” poderia ser substituído por “dele”, sem 
prejuízo para a correção gramatical.
50 Na linha 47, o emprego do sinal indicativo de crase é obrigatório.
POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL 
DEPARTAMENTO DE GESTÃO DE PESSOAS
FOLHA DE RESPOSTAS
Questão 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Gabarito
Questão 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Gabarito
Questão 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Gabarito
Questão 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Gabarito
Questão 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
Gabarito

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