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Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: 1415-6938 editora@uniderp.br Universidade Anhanguera Brasil Borghetti Antunes, Mariana; da Costa Manso, Viviane Maria; Vasconcellos S. Andrade, Nataly Análise dos sinais e sintomas da incontinência urinária de esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. 15, núm. 1, 2011, pp. 83-95 Universidade Anhanguera Campo Grande, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26019329007 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto 83 Ensaios e Ciência Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 Mariana Borghetti Antunes Faculdade Anhanguera de Taubaté marb_fisio@yahoo.com.br Viviane Maria da Costa Manso Faculdade Anhanguera de São José vicostamanso@yahoo.com.br Nataly Vasconcellos S. Andrade Universidade de São Paulo - USP nataly@usp.br ANÁLISE DOS SINAIS E SINTOMAS DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO EM MULHERES DE 25 A 50 ANOS PRATICANTES DE ATIVIDADES FÍSICAS EM ACADEMIAS RESUMO Atualmente sabe-se que a prática de exercícios físicos é benéfica para a saúde. Todavia, quando praticada excessivamente pode favorecer o desenvolvimento de Incontinência Urinária de Esforço, desordem que acomete principalmente mulheres. Objetivo: Demonstrar os sinais e sintomas da Incontinência Urinária de Esforço em mulheres de 25 a 50 anos, praticantes de atividades físicas em academias. Materiais e Métodos: Estudo transversal de Análise Quantitativa e Levantamento de dados através de 2 questionários, aplicados em uma amostra de 50 mulheres. Resultados: Foi verificada uma incidência de sintomas de perda urinária ao esforço em 36% das mulheres, totalizando 18 entre as 50. Das 18 mulheres que perdem urina ao esforço 94,44% relataram perda durante o exercício. Conclusão: Os achados desse estudo sugeriram que a prática regular de exercícios físicos pode predispor os sinais e sintomas de Incontinência Urinária de Esforço. Palavras-Chave: incontinência urinária de esforço; atividade física; assoalho pélvico. ABSTRACT It is known today that physical exercises practice is benefic to health. However, when practiced in excess it can favor the development of Stress Urinary Incontinence, a disorder that affects specially women. Objective: Demonstrate the signals and symptoms of Stress Urinary Incontinence in women between 25 to 50 years old, who practice physical activities in gyms. Material and Method: Transversal, Quantitative Analysis Study and Data Survey through two questionnaires applied in on a sample of 50 women. Results: It was verified urinary loss incidence in 36% of the women totalizing 18 among the 50. The 18 women that lose urine from stress 17, that is, 94.44% related loss during physical exercise. Conclusion: the findings of this study suggest that the regular practice of physical exercises can predispose the appearance of signals and symptoms of Stress Urinary Incontinence. Keywords: stress urinary incontinence; physical activities; pelvic floor. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 1/11/2010 Avaliado em: 27/4/2011 Publicação: 31 de agosto de 2011 84 Análise dos sinais e sintomas da incontinência urinária de esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 1. INTRODUÇÃO Atualmente a prática de exercícios físicos nas academias vem se tornando um hábito cada vez mais comum entre as mulheres. O número de pessoas que praticam atividades físicas é crescente, e muitas mulheres passaram a incluir essa prática em sua rotina (SILVA; MORAES, 2006). Sabe-se que a prática regular de exercícios físicos aeróbicos, de fortalecimento muscular e de flexibilidade promove benefícios na prevenção e tratamento de doenças cardíacas, Hipertensão Arterial Sistêmica, Obesidade, Osteoporose, entre outras. Os exercícios também influenciam nos aspectos emocionais, proporcionando bem– estar psicológico e reduzindo sintomas como ansiedade, estresse e depressão (CAETANO et al., 2007). Apesar dos benefícios comprovados na qualidade de vida das mulheres, alguns autores referem a prática excessiva de atividades físicas como um fator de risco para o desenvolvimento de Incontinência Urinária (BARROS et al., 2007; BARACHO; ELZA, 2007). Foi demonstrado em pesquisas que os sintomas de perda urinária eram comuns entre mulheres atletas com idade média de 22,8 anos. A mesma pesquisa estimou valores de incidência de 51.9% (CAETANO et al., 2007). Até 1998 era referida apenas como um sintoma. Após esse período passou a ser considerada como uma doença nas classificações international de doenças (CID/ OMS). Atualmente a International Continence Society (ICS) define a Incontinência Urinária como uma perda involuntária de urina que é um problema social e higiênico (DOCKTER et al., 2007; AVELLANET et. al., 2003; BARROS et al., 2007). A Incontinência Urinária apresenta fatores de risco numerosos e o impacto na qualidade de vida é substancial (MARINHO et al., 2006). Estudos apontam que a prevalência de Incontinência Urinária em mulheres entre 15 e 64 anos varia de 10 a 55% (DOCKTER et al., 2007). Entre jovens nulíparas que praticam atividade física intensa como atletas, dançarinas e militares, com idade média entre 19,9 e 31,8 anos os estudos apontam índices de 28 a 51% (HIGA et al., 2008). A literatura demonstra os três tipos mais comuns da doença: A Incontinência Urinária de Esforço, Incontinência Urinária de Urgência e a Incontinência Urinária Mista, que é a associação entre a de Esforço e de Urgência (DOCKTER et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2007). Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de Incontinência Urinária feminina descritos nas literaturas são: exercícios físicos idade, obesidade, paridade, tipos de parto, uso de anestesia no parto, peso do recém-nascido, menopausa, cirurgias ginecológicas, constipação intestinal, doenças crônicas, fatores hereditários, uso de Mariana Borghetti Antunes, Viviane Maria da Costa Manso, Nataly Vasconcellos S. Andrade 85 Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 drogas, tabagismo, consumo de cafeína, entre outros (HIGA et al., 2005). Alguns estudos Norte-Americanos apontam que existem maiores índices de Incontinência Urinária entre mulheres brancas (23 a 32%) quando comparadas as da raça negra (16 a 18%); essa condição pode se estabelecer devido a diferenças anátomo-pélvicas, pois o colo da Bexiga pode ser mais alto e a Uretra mais longa, e também devido a resistência Intra-Uretral e diferença de força muscular do Períneo (MARINHO et al., 2006). O tipo de Incontinência Urinária mais comum é a de Esforço, caracterizada pela perda de urina ao tossir, espirrar ou realizar esforço físico (BARROS et al., 2007). Foi descrito em pesquisa que cerca de 50% da população feminina incontinente apresenta Incontinência de Esforço, 30 a 40% Mista e 10 a 20% apresenta de Urgência (MARINHO et al., 2006). Em estudo comparativo efetuado concluiu-seque a prevalência de Incontinência Urinária de Esforço em mulheres que se exercitavam regularmente atingiu um valor de 47% (SILVA et al., 2005). As estruturas do Assoalho Pélvico atuam para que durante as situações de esforço físico, como a prática de atividades físicas, a transmissão da pressão abdominal incida sobre a uretra da maneira correta, impedindo a perda de urina e garantindo o mecanismo de continência através da contração dos músculos do Assoalho Pélvico (BARROS et al., 2007; DALY et al., 2009). Uma das teorias que demonstra a ocorrência de Incontinência Urinária de esforço em mulheres praticantes de atividades físicas afirma que, embora as mesmas tenham os músculos do Assoalho Pélvico e Abdominal fortes, a atividade física árdua e por períodos de tempo prolongado levaria ao aumento da pressão abdominal, predispondo a perda de urina. Outros autores acreditam que as atletas têm sobrecarga, estiramento e enfraquecimento do assoalho pélvico devido a prática constante de atividades físicas, e por conseqüência a perda de urina ao esforço (ARAÚJO et al., 2008; HERSCHORN et al., 2004). A Incontinência Urinária leva muitas mulheres a abandonar a prática regular de exercícios físicos com intenção de evitar os episódios de perda de urina, portanto passam a restringir suas atividades cotidianas, o que gera diminuição da qualidade de vida (CAETANO et al., 2007; MOURÃO et al., 2008). Devido a todos os fatores acima, o objetivo deste estudo foi realizar uma análise dos sinais e sintomas da incontinência urinária de esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias. 86 Análise dos sinais e sintomas da incontinência urinária de esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 2. METODOLOGIA Trata-se de um estudo transversal, de Pesquisa de Campo, Epidemiológico, de Análise Quantitativa e Levantamento de dados por meio de entrevistas para verificar a prevalência da Incontinência Urinária de Esforço em mulheres praticantes de atividades físicas em academias. Os critérios de inclusão selecionados para a pesquisa foram pessoas do sexo feminino, com faixa etária entre 25 e 50 anos; que sejam praticantes de atividades físicas em academias da cidade de Taubaté-SP por tempo mínimo de um ano, que tenham vida sexual ativa e não tenham iniciado o período de climatério ou a menopausa. Os critérios de exclusão para o grupo foram gestantes; mulheres que estejam fora da faixa etária inclusa; que tenham histórico de cirurgias ginecológicas prévias; episiotomizadas e que apresentem constipação intestinal grave. O estudo foi realizado com a utilização de dois questionários, sendo o ICIQ-SF, padronizado, traduzido e validado para a língua portuguesa contendo perguntas abertas para obter dados relativos à possível disfunção esfincteriana e um questionário específico elaborado pelas pesquisadoras com perguntas abertas e fechadas para levantamento de dados pessoais, relacionados aos hábitos cotidianos e possível disfunção esfincteriana. Participou da pesquisa uma amostra alvo constituída por 50 mulheres praticantes de atividades físicas regularmente em cinco academias da cidade de Taubaté, SP, sendo dez em cada academia. As entrevistadas serão informadas a respeito dos detalhes da pesquisa, seus objetivos e dados pertinentes aos procedimentos utilizados para o estudo. As mesmas tiveram a garantia de sigilo e confidencialidade dos dados coletados através do Termo de Consentimento. A pesquisa fora aprovada tem aprovação do Comitê de Ética de Pesquisa da Anhanguera Educacional sob número 261. 3. RESULTADOS Foram abordadas 50 mulheres, sendo que a idade média das mesmas foi de 36,96 anos variando entre 25 e 50 anos. A média de peso foi de 54,8 kg, altura de 1,40 m e a média de IMC de 20,04. Quanto ao número de gestações entre a amostra, a média foi de 1,32, o que corresponde a 64%. Dentre o valor total 20% relatou 1 gestação, 26% relatou 2, 14% referiram 3, 2% referiu 4 gestações e 2% afirmou 5 ou mais gestações. Em relação ao tipo Mariana Borghetti Antunes, Viviane Maria da Costa Manso, Nataly Vasconcellos S. Andrade 87 Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 de parto realizado foi relatada 1 cesárea por 28%, 2 cesáreas por 22%, 3 partos cesáreas por 12% e apenas 2% da amostra referiu 4 cesáreas. Do total das mulheres apenas 8% afirmou fórceps. Não houve nenhum parto vaginal, sendo esse um dos critérios de exclusão. O Gráfico 1 mostra o tipo de exercício realizado pelas mulheres entrevistadas. As mulheres se exercitam regularmente em academias por tempo mínimo de um ano. Do total seis praticavam exercícios aeróbicos (12%), quatro praticavam localizada 8%, três praticavam musculação (6%), duas relataram fazer ginástica (4%), e 2% praticavam dança. O maior dado encontrado foi o de mulheres que se exercitam em mais de uma modalidade, que totalizaram 34 (68%), sendo que a maioria pratica aeróbica e ginástica, outras ginástica e musculação. 12,00% 8,00% 6,00% 4,00% 0,00% 2,00% 0,00% 0,00% 68,00% 0% 20% 40% 60% 80% AE R Ó BI CO LO C A L IZ AD A MU S C UL AÇ ÃO G I NÁ S T IC A AR TE S MA R C IA IS DA NÇ A PI L A TE S C O RR ID A MA IS D E 1 M OD AL ID AD E T IPO DE E XE RC ÍC IO PRAT IC ADO Gráfico 1. Tipo de atividade física praticada pela amostra. O Gráfico 2 mostra o tempo de prática da atividade física. Das 50 mulheres, 27 (54%) relataram freqüentar a academia de 1 a 5 anos, 12 relataram que fazer atividades de 5 a 10 anos (24%), 4 (8%) freqüentavam entre 10 e 15 anos, 1 freqüentava entre 25 e 30 anos e 2 (4%) praticavam atividades em academias há mais de 30 anos. 88 Análise dos sinais e sintomas da incontinência urinária de esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 54,00% 24,00% 8,00% 2,00% 6,00% 2,00% 4,00% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 1 A 5 ANOS 5 A 10 ANOS 10 A 15 ANOS 15 A 20 ANOS 20 A 25 ANOS 25 A 30 ANOS MAIS DE 30 ANOS T EMPO DE PRÁT IC A DE E XE RC ÍC IO Gráfico 2. Tempo de prática de exercícios físicos em academias. Em relação a freqüência semanal da prática de atividades físicas observou-se que 1 mulher freqüenta 2 vezes por semana (2%), 14 freqüentam 3 dias por semana (28%), 9 mulheres em 4 dias semanais (18%), 10 mulheres freqüentam 5 dias semanais (20%) e a maioria que são 16 mulheres, vão a academia 6 dias por semana (32%). O Gráfico 3 mostra a perda de urina. Verificou-se que 64% nunca tiveram episódios de perda urinária, ou seja, a maioria da amostra, o que corresponde a um total de 32 mulheres, porém constatou-se que 36% referiram escape de urina durante as atividades físicas, o que totaliza 18 mulheres. Gráfico 3. Escape de urina durante os exercícios físicos. Foi questionada a quantidade de urina que as mulheres perdem durante os episódios e a maioria, 26% relatou perder uma pequena quantidade, 8% moderada quantidade e 2% grande quantidade. Em relação à qualidade de vida das mulheres acometidas por sinais e sintomas de Incontinência Urinária de Esforço observou-se em escala analógica, com pontuação 34,00% 66,00% 0% 20% 40% 60% 80% SIM NÃO TEMPO DE ESCAPE DURANTE O EXERCÍCIO Mariana Borghetti Antunes, Viviane Maria daCosta Manso, Nataly Vasconcellos S. Andrade 89 Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 graduada de 0 a 10, que a maioria, 16.67%, relataram nota 0, ou seja não interfere. 22.22%, referiram 1 ponto, 5.56% referiu nota 2, 16.67% nota 3, 5.56% nota 5, 11. 11% referiu nota 6, 5.56% nota 7 e 11% nota 9, o que demonstrou que a perda urinária não interfere muito na qualidade de vida das mesmas. No Gráfico 4 tem-se a relação entre a perda de urina e a situação que provoca o escape. Das 18 mulheres que afirmaram perda urinária, 94.44%, ou seja, 17 apresentaram escape apenas durante a prática de exercícios e 1 relatou escape nessa situação e em situação adicional. 0,00% 0,00% 0,00% 94,44% 0,00% 0,00% 0,00% 5,56% 0% 50% 100% QUANDO PE RDE URINA Gráfico 4. Relação entre a perda de urina e a situação que provoca o escape. O Gráfico 5 ilustra a perda de urina e a modalidade de atividade física praticada pela amostra. Das 18 mulheres que apresentaram escape de urina no exercício 70.59%, ou seja, 12 mulheres perdem urina em mais de uma modalidade de atividade, 17.65% o que totaliza 3 mulheres que perdem urina durante os aeróbicos, 5.885 (1 mulher) perdeu durante localizada e ginástica. 17,65% 5,88% 0,00% 5,88% 0,00% 0,00%0,00% 0,00% 70,59%0% 20% 40% 60% 80% AE RÓ BI CO LO C A L IZ AD A MU S C UL AÇ ÃO G I NÁ S T IC A AR TE S MA R C IA IS DA NÇ A PI L A T E S C O RR ID A MA IS D E 1 M OD AL ... EM QUE E XE RC ÍC IO PE RDE UR INA Gráfico 5. Modalidade de exercício que desencadeia a perda de urina. 90 Análise dos sinais e sintomas da incontinência urinária de esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 Foi verificado no total da amostra quantas mulheres urinam como forma preventiva, antes de iniciar as atividades. Observou-se que 60% faziam uso dessa estratégia, o que totaliza 30 mulheres. Após a análise de cada um dos dados foram correlacionadas algumas variáveis através de estatística simples. Inicialmente verificou-se a correlação entre o tipo de atividade física praticada e a perda de urina. Notou-se que 76.47% perderam urina durante a prática de mais de uma modalidade, o que sugere que quanto maior for o número de modalidades praticadas, maior é a incidência de Incontinência Urinária de Esforço (Gráfico 6). 17,65% 0,00% 0,00% 5,88% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 76,47% 0% 20% 40% 60% 80% AE RÓ BI CO LO C A L IZ AD A MU S C UL AÇ ÃO G I NÁ S T IC A AR T E S MA R C IA IS DA NÇ A P I L A TE S C O RR ID A MA IS D E 1 M O. .. T IPO DE AT IVIDADE F ÍS IC A X PE RDA UR INÁR IA Gráfico 6. Modalidade de exercício praticado e perda de urina. A relação entre a freqüência da perda e o número de partos sugeriu que 34.38 % das mulheres que tiveram 1 parto relataram perda uma vez por semana ou menos, 40.63% das que tiveram 2 partos relataram perda duas ou três vezes por semana, 21.88% tiveram 3 filhos e referiram perda diariamente e 3.13% tiveram 4 filhos e relataram perda de urina diversas vezes ao dia. Relacionou-se também a perda de urina à freqüência semanal de exercícios físicos das entrevistadas. Notou-se que as mulheres que praticam atividades físicas 6 vezes por semana tiveram o maior índice de perda de urina durante as atividades físicas, totalizando 35.29%. Das que praticam 5 dias semanais 23.53% tiveram perda, 17.65% das que praticam de 3 a 4 vezes por semana tiveram perda e 5.88% das que praticam apenas 2 dias semanais tiveram perda (Gráfico 7). Mariana Borghetti Antunes, Viviane Maria da Costa Manso, Nataly Vasconcellos S. Andrade 91 Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 0,00% 5,88% 17,65%17,65% 23,53% 35,29% 0% 10% 20% 30% 40% 1 DIA 2 DIAS 3 DIAS 4 DIAS 5 DIAS 6 DIAS F RE QUÊNC IA S EMANAL DA PRÁT IC A X PE RDA UR INÁR IA Gráfico 7. Relação entre freqüência semanal de exercícios e perda urinária. O Gráfico 8 mostra a relação existente entre a perda de urina e o hábito de urinar preventivamente. Observou-se que das 18 mulheres que perdem urina durante o exercício, 82.35% delas urinam preventivamente, porém todas continuam perdendo urina da mesma forma (100%). 82,35% 100,00% 0% 50% 100% UR INAM PRE VE NTIVAME NTE CONTINUAM P E RDE NDO UR INAR PRE VE NT IVAMENTE X PE RDA DE UR INA Gráfico 8. Relação entre perda urinária e o hábito de urinar preventivamente. 4. DISCUSSÃO A Incontinência Urinária de Esforço é uma condição caracterizada por perda de urina ao tossir, espirrar ou realizar esforço físico (BARROS et al., 2007). A Incontinência consiste na perda de urina involuntária e acarreta substancial impacto na qualidade de vida das mulheres acometidas. É considerado um problema social e higiênico, causa alterações psicológicas e emocionais desencadeando a perda do estímulo para a realização das atividades de vida diárias e sociais (DOCKTER et al., 2007). 92 Análise dos sinais e sintomas da incontinência urinária de esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 Os dados obtidos através dos dois questionários aplicados em geral estão em concordância com os conceitos descritos nas literaturas, porém houve variáveis que contrastaram. Foi possível verificar que 34% da amostra apresentaram sinais e sintomas de Incontinência Urinária de Esforço e referiram escape durante o exercício físico. Esse dado demonstra que a prática de atividades físicas pode ser um fator de risco importante para o desenvolvimento da Incontinência Urinária, conforme também descrito por Barros et al. (2007) e Santo (2009). A pesquisa feita por Caetano et al. (2007) sugeriu que os sintomas de perda urinária eram comuns entre mulheres atletas e os índices estimados foram de 51,9% de prevalência de perda urinária. A freqüência de perda urinária demonstrou altos índices, e a maioria das mulheres (26%) afirmaram que perdem urina pelo menos uma vez por semana. De acordo com Baracho (2007) a incidência de Incontinência Urinária de Esforço aumenta consideravelmente de acordo com a freqüência de impacto sobre o períneo e pode tornar também freqüentes também os episódios de perda. Das 18 mulheres que perderam urina, 94.44% afirmaram que a ocorrência dos episódios é freqüente apenas durante a prática de atividades físicas, fato que está em conformidade com as pesquisas realizadas por Higa et al. (2008). De acordo com Marinho et al. (2006) a perda urinária pode acarretar relevante impacto na qualidade de vida das mulheres acometidas. Tal informação contrasta com os índices encontrados no presente estudo. Em relação ao quanto à perda urinária interferiu na vida diária das mulheres acometidas os dados sugeriram que apesar da ocorrência dos sinais e sintomas a maioria das mulheres afirmou que a perda interfere de pouco a moderada na qualidade de vida. Foi possível verificar que a maior parcela da amostra (54%) referiu praticar atividades por um período entre 1 e 5 anos e 24% pratica de 5 a 10 anos, o que demonstra que essas mulheres sofrem sobrecarga constante no períneo pelo aumento da pressão intra-abdominal durante longos períodos de tempo. Tal fato apresentouuma relação diretamente proporcional às relações obtidas por Araújo (2009) que apresentou em estudo efetuado em 2008 a ocorrência de sintomas de perda urinária em mulheres praticantes de atividades físicas e afirmou que embora o períneo e abdome das mesmas fossem fortes, o exercício físico árduo e por períodos de tempo prolongado predispõe o surgimento de Incontinência Urinária de Esforço. Foi verificada uma relação direta entre a freqüência semanal da prática de atividades e a perda de urina durante o exercício físico. Essa proporção demonstrou que quanto maior foi a freqüência semanal de exercícios, maior foi também a quantidade de Mariana Borghetti Antunes, Viviane Maria da Costa Manso, Nataly Vasconcellos S. Andrade 93 Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 episódios de perda relatados. A maior porcentagem encontrada de perda foi de 35.29%, em mulheres que freqüentam as academias 6 dias por semana. A porcentagem de perda diminuiu diretamente conforme a freqüência semanal também diminuiu. Esses dados sugerem que não houve divergências em relação aos estudos efetuados por Lopes et al. (2006) e Araújo et al. (2008). Também chamou a atenção que existiu uma forte correlação entre a modalidade de atividade física praticada e a incidência dos sinais e sintomas de perda urinária. A maior parte da amostra, que relatou praticar no mínimo duas modalidades, teve o maior índice, seguido pelas mulheres que praticavam exercícios aeróbicos e a ginástica. As literaturas apontam que existe uma grande incidência de mulheres que praticam aeróbicos e musculação de maneira combinada e as mesmas apresentaram uma perda de urina significativa, conforme descrito por Araújo e Caetano (2008). Ainda de acordo com Silva e Morais (2006), a atividade em academias inclui exercícios que exigem contração abdominal máxima, como os aeróbicos, a ginástica, a musculação, entre outros. O presente estudo demonstrou que quanto maior o número de modalidades praticadas maior é a propensão a perda urinária, conforme também elucidado pelos referidos autores. Foi possível verificar uma relação entre a paridade e a freqüência de perda urinária. Das 32 mulheres que tiveram partos (sejam Cesáreas e Fórceps), 11 tiveram perda durante exercício uma vez por semana ou menos, ou seja, a maior parcela de mulheres, o que demonstra que a paridade é um fator predisponente para a perda de urina. Tal fato já foi descrito por Oliveira et al. (2007) e Marinho et al. (2006). Ao avaliar a proporção entre o hábito de urinar preventivamente e a perda urinária, Caetano et al. (2007), analisaram que o número de mulheres que urina preventivamente como forma de evitar a perda é importante. A maioria delas utiliza essa estratégia, porém os autores observaram que não existia uma relação entre essas variáveis e afirmaram que as mesmas continuaram perdendo urina mesmo com essa estratégia. O presente estudo também esclareceu que não existe uma relação significativa. Das mulheres que relataram perda durante o exercício 100% continuam sendo incontinentes mesmo urinando preventivamente. Foi notório que a perda ocorreu independentemente do uso da estratégia citada. 94 Análise dos sinais e sintomas da incontinência urinária de esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde • Vol. 15, Nº. 1, Ano 2011 • p. 83-95 5. CONCLUSÃO A análise da prevalência dos sinais e sintomas de Incontinência Urinária de Esforço em mulheres de 25 a 50 anos praticantes de atividades físicas em academias demonstrou importante significância. Com os dados coletados foi possível concluir que essas mulheres apresentam diminuição da força muscular do períneo, o que torna o mecanismo de continência deficitário, e influencia na capacidade de contração da musculatura. Conclui- se também que as mesmas não realizam trabalho muscular no assoalho pélvico no exato momento da prática de exercícios. AGRADECIMENTOS A orientadora Profª. Viviane Maria da Costa Manso por sua dedicação, empenho, competência e constante incentivo á pesquisa. Ao Prof. Ricardo Saad pela preocupação e auxílio na realização da análise estatística dos dados da pesquisa. Ao Prof. Joseide Silva que em muito contribuiu nesse projeto através da análise estatística dos dados, bem como auxiliando na realização da compreensão dos resultados. REFERÊNCIAS BARROS, Jaqueline Diniz; LUCENA, Antônio Carlos Tavares de; ANSELMO, Caroline Wanderley Souto Ferreira. Incontinência Urinária de esforço em atletas do sexo feminino: Uma revisão da literatura. An. Fac. Med. Univ. Fed. Pernambuco, Recife, v. 52, n. 2, 2007. Disponível em: <http://www.anaisdemedicina.revistaonline.org>. Acesso em: 29 mar. 2009. ARAÚJO, Maíta Poli de; OLIVEIRA, Emerson de; ZUCCHI, Eliana Monteiro; TREVISANI, Virginia Fernandes Moça; GIRÃO, Manoel João Batista Castello; SARTORI, Marair Gracio Ferreira. Relação entre Incontinência Urinária em mulheres atletas corredoras de longas distâncias e distúrbios alimentares. Rev. Assoc. Med. Bras, São Paulo, v.54, n.2, mar./abr. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 28 mar. 2009. AVELLANET, Mercê.; FITER Meritxel; CIRERA, Eva; COLL, Maragarida. Prevalence of urinary incontinence in Andorra: Impact of women’s health. BMC Women’s Health, Principality of Andorra, 2003. Disponível em: <http://www.biomed.central.com>. Acesso em: 28 mar. 2009. CAETANO, Aletha Silva; TAVARES, Maria da Consolação Gomes Cunha Fernandes; LOPES, Maria Helena Baena de Moraes. Incontinência Urinária e a prática de atividades físicas. Rev. Bras. Med. Esporte. Niterói, n. 4, jul./ago. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 29 mar. 2009. DOCKTER, Mary. Prevalence of Urinary Incontinence: a comparative study of collegiate female athlets and non- athletic controls. Journal of women’s health prysical therapy, 2007. 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Coordenadora e docente do curso de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera de São José. Nataly Vasconcellos S. Andrade Graduação em Fisioterapia pela Universidade Cidade de São Paulo. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (2008). Especialização em Fisiologia do Exercício, Aparelho Locomotor no Esporte pela Universidade Federal de São Paulo (2003) e Ortopedia e Traumatologia pela Universidade Cidade de São Paulo (2003).
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