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O contratualismo em Locke

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Ciência Política 
 
 
 
 
O CONTRATUALISMO EM JOHN LOCKE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
 
Introdução ...........................................................................................................................................2 
 
Objetivos ..............................................................................................................................................3 
 
1. O Contrato Social .......................................................................................................................3 
1.1. A teoria da sociedade propriedade privada ..........................................................................5 
1.2.Representação política ...........................................................................................................6 
2. Ideais de liberdade e igualdade ................................................................................................6 
2.1.O Segundo Tratado sobre o Governo...................................................................................6 
2.2. Liberdade, Igualdade e Propriedade...................................................................................7 
 
Exercícios .............................................................................................................................................8 
 
Resumo ................................................................................................................................................9 
 
Gabarito ...............................................................................................................................................9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução 
John Locke (1632-1704) foi um importante filósofo que vivenciou de perto a 
transição de um modelo de estado absolutista para um estado parlamentar por meio 
da Revolução Inglesa do século XVII. Suas contribuições são fundamentais para a 
construção do pensamento político moderno. 
 Tradicionalmente, é visto pelo senso comum como o “pai do liberalismo 
político”. Apesar de Locke lançar as bases teóricas, para a fundamentação do 
pensamento liberal, devemos estar cientes que o termo – liberal – surge apenas na 
primeira metade do século XIX. Assim Locke, e outros pensadores do contexto, não se 
declaravam como liberais. Mas, é evidente a conexão que há entre a idealização 
teórica do pensamento político em Locke e o liberalismo. 
Na sua principal obra, “Segundo Tratado sobre o Governo Civil”, Locke 
estabelece sua noção de contrato social, diferente da proposta formulada 
anteriormente por Thomas Hobbes. 
 Para que possamos compreender a noção de contrato social em Locke é 
necessário antes discorrer sobre as concepções do autor sobre alguns conceitos 
básicos. Por isso, na primeira parte dessa apostila, abordaremos a origem e o papel 
do Estado, assim como seu parecer acerca da ideia de propriedade privada. 
Na segunda parte iremos discorrer sobre os conceitos de liberdade e igualdade 
através da visão contratual do autor, procurando estabelecer vínculos com as bases 
do pensamento liberal clássico. 
 
Objetivos 
• Identificar os fundamentos teóricos constitutivos do contrato social em 
John Locke. 
• Analisar os conceitos de propriedade privada, liberdade e igualdade 
segundo o ideal contratual de John Locke. 
 
1. O contrato social em Locke 
O contrato social, proposto por diversos pensadores, buscava explicar, 
teoricamente, as razões que levam os indivíduos a formarem o Estado e manter 
determinada ordem social. John Locke também parte desta concepção, acreditando 
 
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que os indivíduos isolados em um estado natural, unem-se mediante um “contrato 
social” para constituir a sociedade civil. 
Para o filósofo, o indivíduo precede o Estado no sentido de que existem direitos 
individuais que estão além da existência de um governo. 
 
FIQUE ATENTO! 
 
 
 
 
 
 
 
Segundo o autor, o estado de natureza humana não se define a partir de um 
ambiente selvagem, no qual a desordem e o medo prevaleçam. No estado de natureza 
humana, em Locke, havia relativa paz. Nesse estado de natureza todos estão em 
situação de igualdade e desfrutam de liberdade incontrolável, sendo cada um juiz em 
causa próprio, o que pode gerar riscos para a estabilidade social. 
 
IMPORTANTE! 
 
 
 
 
Assim, Locke entende que em um estado de natureza os “homens” são iguais 
e detêm iguais direitos a vida, a liberdade e à propriedade. Mas se a humanidade é 
livre e vive em igualdade porque seria necessário a criação de um governo? 
Jusnaturalismo na definição de Thomas Hobbes, temos a 
seguinte constatação: “Uma Lei de Natureza (lex naturalis) 
é um preceito ou regra geral, estabelecido pela razão, 
mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo o que 
possa para destruir a sua própria vida ou privá-lo dos meios 
necessários para preservar ou omitir aquilo que pense 
melhor contribuir para a preservação. Mas para Locke, os 
direitos naturais decorrerão da Lei Natural, esta seria um 
imperativo da razão, eterno e imutável, evidente e 
inteligível para todos os homens”. 
 
Locke descreve o estado de natureza humano como um 
estado no qual os indivíduos têm total liberdade para 
regular suas ações e dispor de suas posses. É também um 
estado de igualdade, em que é recíproco todo poder, não 
tendo ninguém com mais direito e privilégios. 
 
 
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É preciso que exista um acordo com o consenso entre as pessoas para que 
ocorra a renúncia da liberdade natural e se tornem uma sociedade civil cujos objetivos 
são o conforto, segurança, paz e proteção da propriedade. 
Segundo Melo (2008) é importante salientar que mesmo o estado de natureza 
sendo relativamente pacífico, não está isento de inconvenientes, como a violação da 
propriedade privada. Assim, a ideia do contrato social é preservar a propriedade e a 
liberdade como direitos naturais de todos os seres humanos. Nesse contexto, o povo 
faz um contrato social com o governante, o que marca a passagem do estado natural 
para a sociedade política e civil. 
 
FIQUE ATENTO! 
 
 
 
 
 
Locke possui uma concepção jusnaturalista, dessa forma após firmado o 
contrato social os direitos permanecem para limitar o poder do Estado. Existe o direito 
a insurreição aplicado quando o Estado estabelecido não assegura aos cidadãos o 
direito à vida, a liberdade e a propriedade, cabe a estes o direito de rebelião. Nesse 
caso, é legitimo a derrubada de governos. No próximo item vamos aprofundar nossa 
discussão em torno do conceito de propriedade privada para Locke. 
 
1.1. A teoria da propriedade privada 
Como vimos, para John Locke, a propriedade já é um aspecto presente no 
estado de natureza humano, ou seja, é uma instituição anterior a formação do Estado 
e que, portanto, não pode ser violado por este. 
Aliás, o abandono do estado natural e a idealização do pacto social em Locke, 
tem como principal finalidade a preservação da propriedade. Em um sentido mais 
amplo é tudo aquilo que pertence ao indivíduo, sua vida, sua liberdade e seus bens. 
 
 
A formação do Estado seria então fruto da racionalidade e 
do consentimento popular, segundo Locke, a única 
maneira pela qual uma pessoa pode abdicar de sua 
liberdade natural é concordando com outros indivíduos 
em juntar-se e unir-se em uma comunidade, para viverem 
de forma confortável, segura e pacífica. Dessa forma a 
sociedade e seus integrantes gozariam, seguros, de sua 
propriedadecontra aqueles que dela não fazem parte. 
 
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IMPORTANTE! 
 
 
 
 
SAIBA MAIS! 
 
 
 
 
 
 
1.2. Representação política 
Para Locke, independente da forma que esse governo estabelecido assuma, 
este não poderia fugir de sua principal finalidade, conservar a propriedade privada. 
Ao definir a forma de governo, cabe a população escolher o legislativo, poder 
este que segundo Locke, é superior aos demais poderes. Dessa forma, há uma clara 
separação entre o poder legislativo, de um lado e o executivo e federativo de outo. 
Nada impede que um mesmo magistrado possa exercê-los. 
Para o filósofo a soberania residia no povo e na garantia de seus direitos, não 
no soberano. 
 
 
 
 
 
 
Para aprofundar seus estudos sugerimos a leitura do texto 
de Leonel Itaussu Almeida Mello, que descreve de forma 
didática os princípios que caracterizam a noção de 
contrato social para John Locke. 
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o 
individualismo liberal. In: Os clássicos da política, org. 
Franscisco C. Weffort, Ática, São Paulo 2008. 
 
O trabalho, na perspectiva de Locke, é o fundamento 
originário da propriedade. Segundo o autor, como a terra 
fora dada por Deus, em comum a todas as pessoas, ao 
incorporar o trabalho à matéria bruta que se encontrava 
em estado natural passa a ser sua propriedade privada, 
estabelecendo sobre ela um direito próprio. 
 
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FIQUE ATENTO! 
 
 
 
Para Locke, os principais fundamentos da sociedade civil são: 
• O livre consentimento dos indivíduos para os estabelecimentos da sociedade; 
• O livre consentimento da comunidade para a formação do governo; 
• A proteção dos direitos de propriedade pelo governo pela sociedade; 
• O controle do executivo pelo legislativo; 
• O controle do governo pela sociedade. 
 
2. Ideais de liberdade e igualdade 
Os conceitos de liberdade e igualdade são fundamentais nas ciências políticas. 
Apesar disso, são termos que possuem interpretações e significados distintos. 
Visando complementar nossa exposição acerca do contratualismo em Locke é 
importante descrever a concepção de liberdade e igualdade proposto pelo presente 
pensador. 
 
2.1. O Segundo Tratado sobre o Governo 
O pai de Locke foi um advogado que lutou a favor do Parlamento na Guerra 
Civil. Locke ingressou num instituto universitário de Oxford, o Christ Church College. 
O período em que viveu foi marcado por uma guerra civil que originou na morte de 
Carlos I e na Revolução Gloriosa de 1688. 
O Segundo Tratado versa sobre o governo civil e também foi uma resposta às 
posições absolutistas de Hobbes. Ele foi publicado em 1690, considerado 
fundamental para o liberalismo e o pensamento constitucional contra o absolutismo 
europeu, influenciou o pensamento iluminista que embasou as revoluções e 
independências 
Sua obra define que poder é a capacidade de editar leis e utilizar a força para 
aplicar na defesa da sociedade civil. Também ressalta o direito da rebelião limitando 
o poder do estado. 
Dessa forma, demonstra o fundamento do poder do governo do rei Guilherme 
de Orange ressaltando sua legitimidade na vontade do povo e justifica a deposição do 
Nesse sistema político, o legislativo, ou qualquer parte dele 
compõem-se de representantes escolhidos pelo povo, os 
quais voltam depois para o estado ordinário de súditos e só 
podem tomar parte no legislativo mediante nova escolha. 
 
 
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governo de Carlos I frisando que a ordem legal poderia ser rompida apenas quando 
houvesse fortes razões. 
 
2.2. Liberdade, Igualdade e Propriedade 
Os homens abandonam a sua liberdade total para proteger a propriedade, 
compreendida como tudo o que os indivíduos possuem (vida, liberdade e bens). As 
leis estabelecidas não cerceariam as liberdades individuais. Na concepção de John 
Locke, o Estado deveria ser fundamentado por uma legislação que proteja os direitos 
naturais do indivíduo. A proteção desses direitos é a mais importante expressão de 
liberdade. 
Constituída a sociedade civil, o objetivo do governo será proteger a 
propriedade. Os poderes naturais do homem com o contrato se transformam em 
poderes políticos na sociedade civil. 
Esse governo da maioria surgido após o contrato é apontado por Locke como o 
governo dos proprietários de terras e bens, pois são eles que estão interessados 
verdadeiramente em proteger a propriedade. Suas ideias são observadas na prática 
quando ocorre a Revolução Gloriosa que consolida o poder parlamentar formada por 
proprietário 
Para a tradição liberal o conceito de igualdade se refere a oposição entre 
liberdade e poder. Até mesmo porque o conceito de liberdade está explicitado 
também na noção de igualdade. É necessário conceber os homens como iguais para 
vê-los como livres. 
Para Locke (1978) todos são iguais, no sentido de que ninguém está sujeito a 
subordinação de qualquer poder. Quando este princípio é rompido, as sociedades 
comportam-se contra os próprios ditames da razão, nesse caso a liberdade e a 
igualdade são quebradas e dissolvidas. O Estado de perfeita igualdade seria aquele 
em que são recíprocos todo o poder, ou seja, ninguém tem mais poder e direitos que 
qualquer outro indivíduo. 
Para Locke (1978) a acumulação ilimitada de propriedade privada gerada a 
partir da invenção do dinheiro. Ele admite a desigualdade que ocasiona o 
desequilíbrio social, o que não é o objetivo do pacto social. 
Os que não possuem bens não participam do poder político, também estavam 
excluídos das cercanias da cidadania as mulheres. A ideia lockeana acredita que todos 
nascem iguais, mas posteriormente aparecem as desigualdades, dessa forma aqueles 
que possuem como propriedade apenas sua vida não pode participar da sociedade 
política. 
Para impedir a intromissão dos governantes na propriedade privada Locke 
justifica que ele existia no estado de natureza, antes da organização da sociedade, por 
isso, ninguém pode tomar a propriedade sem o consentimento do seu proprietário. 
 
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Exercícios 
1. Leia o trecho abaixo: 
“Através dos princípios de um direito natural preexistente ao Estado, de um 
Estado baseado no consenso, de subordinação do poder executivo ao poder 
legislativo, de um poder limitado, de direito de resistência, Locke expôs as 
diretrizes fundamentais do Estado liberal.” Bobbio. 
Segundo John Locke, quais seriam os direitos naturais que devem assegurados 
pelo Estado: 
a. Participação política por via direta, liberdade, e igualdade social. 
b. Direito à vida, a liberdade e à propriedade privada. 
c. Direito a educação de qualidade e segurança. 
d. Direito de auto representação política, igualdade e fraternidade. 
e. Participação política por via indireta com restrições a propriedade privada. 
 
2. Segundo John Locke, a formação de um governo (Estado) tem origem: 
 
a. A partir da de um contrato no qual os cidadãos trocam sua liberdade por 
segurança. 
b. Da necessidade de uma distribuição mais igualitária de todas as riquezas 
produzidas pelos indivíduos. 
c. Através de um consentimento daqueles que detêm a propriedade privada, 
legislando em benefício unicamente de si próprios. 
d. Da necessidade de assegurar a inviolabilidade das leis naturais. 
e. Nenhuma das alternativas anteriores. 
 
3. Segundo John Locke o Estado deveria ser fundamentado por uma 
legislação que proteja os direitos naturais do indivíduo. Mas caso o governo 
não cumpra esse objetivo: 
 
a. Cabe aos próprios atores políticos alterar a legislação, buscando a garantia 
dos direitos a vida, liberdade e propriedade. 
b. Cabe aos cidadãos aceitar as ponderações estatais.c. Cabe aos cidadãos se rebelarem e derrubar o governo, através do direito de 
rebelião. 
d. Cabe ao cidadão julgar por conta própria como forma de garantir seu direito 
à propriedade privada. 
e. Nenhuma das alternativas anteriores. 
 
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Gabarito 
1. A alternativa correta é a B – O direito à vida, a liberdade e à propriedade 
privada antecede a formação do Estado, por isso devem ser garantidos pelo 
governo a ser estabelecido. 
2. A alternativa correta é a D – Visando o julgamento imparcial os indivíduos, 
em consenso popular, criam o Estado como forma de garantir suas 
liberdades, dos quais se destaca a inviolabilidade da propriedade privada. 
3. A alternativa correta é a C – O governo, que mesmo formado a partir de um 
consenso popular, não garanti o direto, à vida, à liberdade e à propriedade 
privada deve ser derrubado. 
Resumo 
Nesta unidade conhecemos o contrato social estabelecido por John Locke, 
considerado um dos precursores do pensamento liberal. Vimos que o filósofo partiu 
de um ideal que consiste em leis naturais que precedem a formação do Estado. 
Dessa forma, os indivíduos através de um consentimento unânime formam o 
Estado, cuja principal finalidade é garantir esses direitos (vida, liberdade, propriedade 
privada). Ou seja, a origem de um governo é justificada por necessidade e 
conveniência. 
Refletimos sobre a concepção de propriedade privada para Locke, que a 
considera, em um sentido mais amplo, tudo aquilo que pertence ao indivíduo, sua 
vida, sua liberdade e seus bens. 
Nesse sentido, também podemos observar que para o autor, o conceito de 
liberdade se refere a autonomia humana sobre suas próprias ações no mundo e de 
suas posses. Além disso, a igualdade é entendida como igualdade perante as leis, o 
que não quer dizer que igualdade social. 
 
 
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Referências bibliográficas 
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. LeBooks Editora, 2018. 
MELLO, Leonel Itaussu Almeida. John Locke e o individualismo liberal. In: Os clássicos da política, org. Franscisco 
C. Weffort, Ática, São Paulo 2008.

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