Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Universidade Lúrio Faculdade de Engenharia Licenciatura em Engenharia Geológica III Nível, II Semestre Hidrogeologia Ocorrência de Águas Subterrâneas em Moçambique Os estudantes: O Docente: Gizelda Figuereido Casimiro Buraimo Litos Celestino Narciso Alexandre Sitoe Pemba, Novembro de 2018 Página 2 de 20 Índice de conteúdos 1. Resumo.................................................................................................................................... 3 2. Introdução .............................................................................................................................. 4 3. Objectivos ............................................................................................................................... 4 4. Localização geográfica de Moçambique .............................................................................. 5 5. Enquadramento geológico de Moçambique ........................................................................ 6 6. Fisiografia de Moçambique: Relevo, Clima e Hidrografia ................................................ 8 6.1. Relevo .............................................................................................................................. 8 6.2. Clima ............................................................................................................................... 8 6.3. Hidrografia ..................................................................................................................... 9 7. Hidrogeologia: conceituação geral ..................................................................................... 10 7.1. As águas subterrâneas ................................................................................................. 10 7.2. Os aquíferos .................................................................................................................. 11 7.2.1. Aquífero cativo ou confinado ............................................................................... 11 7.2.2. Aquífero semiconfinado........................................................................................ 11 7.2.3. Aquífero livre ou freático ..................................................................................... 12 7.2.4. Aquífero suspenso ................................................................................................. 12 8. Hidrogeologia de Moçambique........................................................................................... 12 8.1. Províncias Hidrogeológicas de Moçambique ................................................................. 13 8.1.1. Águas subterrâneas na Província Hidrogeológica do “Complexo de Base” ... 13 8.1.2. Águas subterrâneas na Província Hidrogeológica de “Terrenos vulcânicos”. 14 8.1.3. Província Hidrogeológica da “Bacia Sedimentar do Médio Zambeze e de Maniamba”...... …………………………………………………………………………….15 8.1.4. Província Hidrogeológica da “Bacia Sedimentar do Rovuma” ........................ 16 8.1.5. Província Hidrogeológica da “Bacia Sedimentar de Moçambique (Norte do Save)” ……………………………………………………………………………………..16 8.1.6. Província Hidrogeológica da “Bacia Sedimentar de Moçambique (Sul do Save)” ……………………………………………………………………………………..16 9. Exploração de Águas Subterrâneas em Moçambique...................................................... 17 9.1. Pesquisa de Águas Subterrâneas ................................................................................ 17 9.2. Mecanismos de exploração de águas subterrâneas em Moçambique ..................... 18 10. Conclusão .......................................................................................................................... 19 11. Referências bibliográficas ............................................................................................... 20 Página 3 de 20 1. Resumo O presente trabalho teve como objectivo central caracterizar as águas subterrâneas em Moçambique. Fez-se uma caracterização geográfica de Moçambique, onde foi descrita a sua fisiografia em termos de relevo, clima e hidrografia. Seguidamente, foi feita uma caracterização geológica de Moçambique, evidenciando, portanto, as unidades litológicas que o constituem. Efectuou-se uma descrição geral de águas subterrâneas, com o propósito de facilitar a compreensão do assunto em epígrafe e prosseguiu-se para as Províncias hidrogeológicas de Moçambique, destacando, sobretudo, as características intrínsecas das águas subterrâneas que ocorrem ao longo das formações geológicas no País. E, identificou-se as técnicas de pesquisa de águas subterrâneas, sobretudo, as que são usadas no contexto Moçambicano, bem como as técnicas de exploração destas águas ao nível do país. Palavras-chave: Águas Subterrâneas, Aquífero, Província hidrogeológica, Moçambique. Página 4 de 20 2. Introdução Moçambique situa-se na costa oriental da África Austral e é banhado pelo Oceano Índico a leste. Faz fronteira a norte com Tanzânia, Malawi e Zâmbia a noroeste, Zimbabwe a oeste e Suazilândia e África do Sul a sudoeste. Moçambique, em termos geológicos, compreende: Formações Pré-câmbricas do Complexo de Base, Formações Sedimentares Meso-cenozóicas, Formações Sedimentares do Karoo e Rochas Intrusivas e Extrusivas do Pós-Karoo. Moçambique apresenta diversas Províncias Hidrogeológicas, a saber: Complexo de Base, Terrenos vulcânicos, Bacia Sedimentar do Médio Zambeze, Bacia Sedimentar de Maniamba, Bacia Sedimentar do Rovuma, Bacia Sedimentar de Moçambique, a Norte do Save e Bacia Sedimentar de Moçambique, a Sul do Save. As águas subterrâneas ocorrem nos poros, fissuras e vazios sob a superfície do terreno, tanto na zona não saturada quanto na zona saturada subjacente. 3. Objectivos 3.1. Geral Efectuar o estudo de ocorrência de águas subterrâneas em Moçambique. 3.2. Específicos Efectuar uma caracterização fisiográfica de Moçambique; Fazer uma caracterização geológica de Moçambique; Identificar as principais províncias hidrogeológicas de Moçambique. Página 5 de 20 4. Localização geográfica de Moçambique Moçambique situa-se na costa oriental da África Austral, entre os paralelos 10º27’S e 26º52’S e os meridianos 30º12’E e 40º51’E, com uma área de cerca de 800.000 Km2. Moçambique é banhado pelo Oceano Índico a leste. Faz fronteira a norte com Tanzânia, Malawi e Zâmbia a noroeste, Zimbabwe a oeste e Suazilândia e África do Sul a sudoeste. Fig. 1: Localização geográfica de Moçambique [Fonte: adaptado de Bouman e Ferro, 1987]. REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE Página 6 de 20 5. Enquadramento geológico de Moçambique Em 1987, Bouman e Ferro, sustentam que Moçambique, em termos geológicos, compreende: Formações Pré-câmbricas do Complexo de Base (57% de área total do país), Formações Sedimentares Meso-cenozóicas (35%), Formações Sedimentares do Karoo (5%) e Rochas Intrusivas e Extrusivas do Pós-Karoo (3%). As rochas do Complexo de Base ocupam a Província de Manica, a parte ocidental da Província de Sofala e quase toda região a Norte do Rio Zambeze. A parte do Cratão do Zimbabwe é constituída essencialmente por xistos verdes arcaicos. A parte restante é incluída no Mozambique Belt, constituída basicamentepor rochas proterozóicas de alto grau de metamorfismo como gnaisses, Complexos gnaisse-granito-migmatíticos, incluindo localmente metassedimentos, séries charnoquíticas e rochas básicas e intermediárias do Complexo gabro anortosítico de Tete. No que concerne à evolução crustal, o Pós-câmbrico é caracterizado pelo desmembramento do Supercontinente Gondwana. Numa primeira fase (do período Pérmico a Jurássico), o Continente fendeu-se ao longo de zonas de orientação E-W, dando origem a afundamentos profundos que foram preenchidos por sedimentos continentais do Karoo, como é o caso das Faixas do Limpopo e do Zambeze (Bacia do Médio Zambeze). O Karoo foi marcado finalmente marcado por um período de intensa actividade vulcânica, com extrusões basálticas e riolíticas. A sequência vulcânica consta de diversas enxurradas de lavas sobrepostas, ao longo das margens do Complexo de Base, das Faixas do Limpopo e do Zambeze. Ao longo destas margens depara-se com uma série de afloramentos, dos quais, a Cadeia dos Libombos, no Sudoeste do País é a mais importante. Após o vulcanismo do Karoo, prosseguiu uma actividade ígnea ao longo dos Cratões do Zimbabwe e do Kaapvaal e do Sistema dos Rifts da África Oriental, que produziu rochas muito diversificadas, em termos de composição quanto génese, bem como idade. Depois desta actividade vulcânica, prosseguiu um período relativamente calmo, no qual se deu o levantamento da parte Oriental do Continente Africano, que por consequência, as rochas vulcânicas foram profundamente meteorizadas e erodidas e posteriormente recobertas por Página 7 de 20 sedimentos continentais. Por outro lado, as subsidências que se verificaram ao longo dos afundamentos orientados segundo N-S, associados ao Sistema dos Rifts da África Oriental e ao longo do eixo do Canal de Moçambique deram lugar à formação de duas Bacias Sedimentares, separadas de idade Meso-cenozóica, a Sul, a Bacia de Moçambique e a Nordeste, a Bacia do Rovuma. A evolução do Sistema de Rifts da África Oriental e a dos eventos tectónicos a ele associados, controlaram em grande parte a sedimentação Pós-Karoo, por isso, as Formações Sedimentares do Karoo e do Pós-Karoo foram intensamente falhadas do que dobradas, apresentando estruturas levemente arqueadas. Os vales do Rift bem desenvolvidos são o Graben do Chire- Urema e o Graben do Funhalouro-Mabote. Fig. 2: Unidades litológicas de Moçambique [Fonte: Bouman e Ferro, 1987]. Página 8 de 20 6. Fisiografia de Moçambique: Relevo, Clima e Hidrografia 6.1. Relevo Segundo Bouman e Ferro (1987), Moçambique é caracterizado morfologicamente, pela existência de 4 unidades distintas: planícies costeiras, planaltos médios, altiplanaltos e zonas montanhosas. As planícies costeiras caracterizam-se por relevos moderados, cujas cotas crescem para o interior até altitudes de 200 metros ou mais. A linha de costa é caracterizada por uma faixa compreendendo: praias, dunas recentes e lagunas interiores, no Sul; mangal, depressões pantanosas e cordões litorais de pequeno porte, no Centro; mangal e pequenas dunas alternando com costas um pouco escarpadas, no Norte. Por exemplo, a planície de Incomati (Sul), Búzi (Centro) e Lúrio (Norte). Os planaltos médios ocorrem no Centro e Norte do país, variando de 200 a 500 metros de altitude. Por exemplo, os planaltos médios de Lichinga e Moçambicano (Zambézia e Nampula). Os altiplanaltos, em semelhança com os planaltos médios, também ocorrem no centro e Norte do país, variando de 500 a 1000 metros de altitude. Por exemplo, os altiplanaltos de Mueda, Chimoio e Maravia (Tete-Zimbabwe). As zonas montanhosas ocupam a parte interior do país. Apresentam formas de relevo com altitudes superiores a 1000 metros, ocorrem sobretudo nas Províncias de Niassa, Zambézia, Tete e Manica. Por exemplo, o monte Binga com 2436 metros de altitude. 6.2. Clima As precipitações restringem-se principalmente a estação quente, entre Outubro ou Novembro e Abril. As regiões costeiras e setentrionais (60%) têm clima tropical chuvoso; as regiões interiores das zonas central e sul dos terrenos sedimentares (28%) apresentam clima seco de savana; uma pequena área em redor da fronteira onde o Rio Limpopo entra no país (2%), possui clima desértico seco; e regiões altas (10%), apresentam clima temperado húmido. Nas terras baixas, a temperatura aumenta para o Norte e para o interior. As temperaturas médias anuais são de 23ºC ao longo da costa sul, de 25ºC nas planícies do Alto Changane, de 26ºC ao Página 9 de 20 longo da costa norte, e de mais de 26ºC junto ao troço do Médio Zambeze próximo a cidade de Tete. Nas terras altas se observam temperaturas médias anuais de 20ºC como na Vila de Manica e de 18ºC em Lichinga. A radiação solar média situa-se em geral entre 18 e 20 MJ/m2/dia. A precipitação média anual é de 968 mm. As isoietas já estudadas mostram uma diminuição geral da precipitação do Norte para o Sul, e da Costa para o Interior. Esta tendência não se observa, contudo, nas terras altas, onde se localizam as zonas de maior pluviosidade. O coeficiente da variação da precipitação anual é superior a 30% a Sul do Rio Save e Centro da Bacia do Zambeze. Noutras partes do país, situa-se, geralmente, entre 20 a 30%. A evaporação potencial média anual varia entre 1200 a 1800 mm. O balanço hídrico calculado com base em médias mensais, mostra um excesso nas áreas com mais de 800 mm de precipitação, podendo ser superior a 400 mm por ano nas regiões montanhosas. 6.3. Hidrografia Bouman e Ferro, em 1987, afirmam que Moçambique pode ser considerado um país privilegiado no que diz respeito aos recursos de águas superficiais. O escoamento médio anual ascende 213x109 m3/ano, dos quais 97x109 m3/ano têm origem nas precipitações ocorridas no território nacional. O Rio Zambeze contribui com metade do escoamento total, mas apenas 17% deste é proveniente de Moçambique. O coeficiente do escoamento médio é de 12.8%, mas varia de 1.5% para os rios que atravessam planícies de erosão do Sul (Limpopo e Incomati) até 26% para o Rio Licungo que nasce nas terras altas e chuvosas da Zambézia. A estação das chuvas contribui com 70% do escoamento anual. A maior parte dos rios tem regime torrencial. As inundações graves são muito comuns nos troços finais dos rios do Centro (Zambeze, Púnguè e Búzi) e do Sul (Limpopo, Incomati, Umbeluzi e Maputo). Os rios são classificados de acordo com o seu regime: permanentes, sazonais e temporários. Os rios permanentes possuem correntes durante todo ano, mas pode acontecer que em anos excepcionalmente secos não tenham fluxo superficial no final da estação seca, por exemplo, os Rios Limpopo, Lúrio, Messalo, Save. Página 10 de 20 Os rios sazonais têm água corrente durante a estação de chuvas e deixam de ter noutros períodos. Os rios temporários apenas têm água durante e imediatamente após as grandes chuvas. Fig. 3: Principais rios de Moçambique [Fonte: adaptado de Bouman e Ferro, 1987]. 7. Hidrogeologia: conceituação geral 7.1. As águas subterrâneas Segundo Custódio e Cardoso (2008), citados por Aboo (2013), a água subterrânea é a água que ocorre nos poros, fissuras e vazios sob a superfície do terreno, tanto na zona não saturada quanto na zona saturada subjacente. Página 11 de 20 As águas subterrâneas constituem o segundo maior reservatório de água doce do planeta Terra e o seu estudo reveste-se de grande interesse para as mais diversas actividades humanas. Em vastas áreas do globo, as águas utilizadas são exclusivamente subterrâneas, captadas através de nascentes naturais, poços, furos e minas. Uma parte importanteda água que chega à superfície terrestre em forma de chuva ou de neve escorre em torrente ou nos rios. Parte desta infiltra-se no solo, outra parte é devolvida à atmosfera em forma de vapor de água ou por transpiração das plantas. A parte restante, infiltra-se no subsolo sob efeito da gravidade, dando origem às águas subterrâneas. 7.2. Os aquíferos Segundo Custódio e Llamas (2001), citados por Aboo (2013), um aquífero é uma unidade geológica que permite o armazenamento e a circulação de água através de seus poros ou fissuras, a qual pode ser extraída em quantidades economicamente significativas através de poços ou furos para atender necessidades do homem. Então, após a infiltração, a água que não fica retida no solo por capilaridade atinge a zona saturada das formações geológicas subjacentes, onde se movimenta e pode ser captada, nos aquíferos. São considerados quatro tipos de aquíferos (figura 4) quanto ao grau de confinamento: 7.2.1. Aquífero cativo ou confinado É um aquífero limitado superior e inferiormente por camadas impermeáveis. Nestes aquíferos, o peso das camadas confinantes exerce uma grande pressão sobre a água, por isso quando se abre um furo a água sobe acima do limite superior do aquífero (nível piezométrico). Os aquíferos confinados devem dispor de uma zona não confinada da qual possa ser alimentado, caso contrário, a água armazenada será fóssil. 7.2.2. Aquífero semiconfinado É um aquífero limitado por uma camada impermeável e por uma semipermeável ou por duas semipermeáveis, que favorecem a recepção ou a perda água. Página 12 de 20 7.2.3. Aquífero livre ou freático É um aquífero limitado inferiormente por uma camada impermeável ou semipermeável e não limitado superiormente. O limite superior do aquífero freático é definido pela superfície livre. 7.2.4. Aquífero suspenso É um caso particular do aquífero livre, em que o aquífero se forma por cima duma camada impermeável de pequena extensão. Fig. 4: Tipos de aquíferos [Fonte: Aboo, 2013]. 8. Hidrogeologia de Moçambique A Carta Hidrogeológica de Moçambique evidencia escassez de recursos em águas subterrâneas de qualidade aceitável. Cerca de 75% de águas subterrâneas do País corresponde ao Complexo de Base, aos Terrenos vulcânicos e pelo menos 25% corresponde as Bacias Sedimentares. Entretanto, 40% dos aquíferos mais produtivos das Bacias Sedimentares contem Página 13 de 20 águas salobras e apenas 17% da superfície do País se dispõe de água subterrânea cujos caudais e mineralizações se situam respectivamente, acima de 3 m3/h e abaixo de 1500 mg/l. 8.1. Províncias Hidrogeológicas de Moçambique Uma Província Hidrogeológica abrange grandes áreas, que possuem características geológicas, climáticas e hidrogeológicas comuns e localização geográfica e idade de formação diferentes. 8.1.1. Águas subterrâneas na Província Hidrogeológica do “Complexo de Base” Nesta Província, em geral, os aquíferos são pouco produtivos, descontínuos e de extensão limitada. A produtividade depende principalmente, da espessura e textura do material que constitui o manto de alteração meteórica. A ocorrência de água subterrânea está associada a zonas de fraqueza crustal. A sua compartimentação e desintegração em blocos limitados por juntas, rupturas e diáclases estão na origem da formação dos aquíferos. Estas zonas de fraqueza Bouma e Ferro (1987), afirma que Moçambique apresenta diversas Províncias Hidrogeológicas, nomeadamente: Complexo de Base (Pré-Câmbrico), Terrenos vulcânicos (Karoo e Pós-Karoo), Bacia Sedimentar do Médio Zambeze (Karoo), Bacia Sedimentar de Maniamba (Karoo), Bacia Sedimentar do Rovuma (Meso-cenozóico), Bacia Sedimentar de Moçambique, a Norte do Save (Meso-cenozóico) e Bacia Sedimentar de Moçambique, a Sul do Save (Meso-cenozóico). Fig. 3: Províncias Hidrogeológicas de Moçambique [Fonte: Bouma e Ferro, 1987]. Página 14 de 20 estão relacionadas com as estruturas geológicas tais como: dobras, falhas e fracturas, cuja permeabilidade é relativamente alta. Além disso, a ocorrência de rochas heterogéneas de grão grosseiro e de rochas calcárias, bem como a existência de contacto entre rochas de natureza e composição diferentes, facilitam os Fenómenos de Meteorização. Os aquíferos resultantes são predominantemente lineares e limitados. As dimensões médias destes aquíferos são de 1 a 2 Km de comprimento, 40 a 100 m de largura e 25 a 40 m de espessura. Os aquíferos mais produtivos estão relacionados com a existência de mármores e anortositos, devido ao tipo de porosidade que apresentam. E todos outros tipos de rochas do Complexo de Base dão origem a aquíferos de produtividade fraca ou nula. Constituem excepção dos aquíferos que se desenvolvem ao longo de filões, nas zonas de contacto destes com rochas encaixantes, geralmente, bastante fracturadas. As águas subterrâneas das formações de Complexo de Base são em geral, de boa qualidade, possuindo mineralização total inferior a 600 mg/l. Em áreas em que se verifica as evaporações elevadas podem se encontrar águas com águas com mineralizações mais altas, como acontece nas faixas costeiras das Províncias do Norte (500-1000 mg/l) e no vale do Zambeze. A dureza total de água é muito variável, mas é normalmente compreendida de média a alta. Das amostras analisadas, 36% corresponde a águas brandas (<150 ppm de CaCO3), 45% de águas moderamente duras (150-300 ppm de CaCO3), 6% de águas duras (300-450 ppm de CaCO3) e 13% de águas muito duras (>450 ppm de CaCO3). A água que ocorre, por exemplo, nos mármores, é muito dura (>600 ppm de CaCO3). O pH das águas subterrâneas provenientes das formações do Complexo de Base, variam, em geral, entre 7 a 8.3. 8.1.2. Águas subterrâneas na Província Hidrogeológica de “Terrenos vulcânicos” Em termos hidrogeológicos, os Terrenos vulcânicos são bastante semelhantes ao Complexo de Base. Os aquíferos estão quase sempre relacionados com a existência de fracturas primárias e secundárias, já que o manto de alteração meteórica é geralmente menos desenvolvido do que das formações do Complexo de Base e raramente chega a 10 m de espessura. Nos terrenos basálticos, este pode ser mais desenvolvido, mas como se trata de material argiloso é pouco permeável e funciona como aquícludo. O perfil estratigráfico pode incluir diversos materiais (argilas, cinzas vulcânicas e rochas fracturadas) correspondentes a diferentes períodos de Página 15 de 20 meteorização e erosão que se fizeram sentir entre as distintas fases de erupção e de repouso. Pelo metamorfismo de contacto, as rochas sedimentares adjacentes tornam-se impermeáveis, como acontece com os Grés de Lupata. Os Basaltos são considerados, entre as rochas vulcânicas como as mais produtivas, do ponto de vista hidrogeológico, mas, apesar disso, os caudais dos furos que interceptam tais rochas são bastante fracos. Os Riolitos são pouco promissores quanto à existência de águas subterrâneas, mas em zonas excepcionalmente fracturadas por falhas de grande intensidade e amplitude, podem tornar-se mais produtivos que os basaltos, visto que, os produtos de alteração e de enchimento das zonas de falha são menos argilosos. A qualidade de água subterrânea proveniente dos Riolitos é bastante boa, possuindo mineralização inferior a 500 mg/l e baixa dureza (<10 ppm de CaCO3). A sua composição é de NaCl e Na(CO3)2. 8.1.3. Província Hidrogeológica da “Bacia Sedimentar do Médio Zambeze e de Maniamba” As características hidrogeológicas das rochas sedimentares do Karoo são conhecidas em algumasáreas à volta do Zumbo, Chipima, Boroma e Changara. Da Bacia de Maniamba, apenas se tem conhecimento de um furo efectuado. A sequência sedimentar é dominada por rochas de textura fina, de baixa permeabilidade. As zonas de contacto com as rochas vulcânicas e as zonas com muitos afloramentos têm também caudais fracos. A qualidade de água subterrânea presente nas formações do Karoo é bastante variável. A maior parte dos furos possui água com mineralização entre 400 a 800 mg/l, mas nas regiões de Changara e Moatize é frequente atingir concentrações mais altas na ordem de 1400 a 2500 mg/l. A água que ocorre nos sedimentos do Karoo inferior chega, por vezes, a ter mineralização superior a 7000 mg/l, como acontece na área de Chipima. Página 16 de 20 8.1.4. Província Hidrogeológica da “Bacia Sedimentar do Rovuma” A hidrogeologia da Bacia Sedimentar do Rovuma, é mal conhecida, excepto na zona litoral, à volta das principais cidades e povoações. As perspectivas relativas, às águas subterrâneas são limitadas devido a predominância de margas, mais ou menos impermeáveis, contendo águas salobras. Os aquíferos mais produtivos da zona litoral correm riscos de salinização. As áreas mais favoráveis estão limitadas a parte Norte da Bacia e aos vales aluvionares, especialmente na zona de contacto entre as formações da Bacia Sedimentar e as de Complexo de Base. 8.1.5. Província Hidrogeológica da “Bacia Sedimentar de Moçambique (Norte do Save)” A Bacia Sedimentar de Moçambique a Norte do Rio Save não é muito favorável à valorização e desenvolvimento de águas subterrâneas, excepto nos vales aluvionares principais e no Delta do Zambeze. As perspectivas relativas, quer aos caudais ou à qualidade de água aumentam para a costa. Os Grés arcósicos, se bem que possuem textura grosseira, têm baixa permeabilidade podem conter águas bastante salobras, cuja mineralização excede por vezes, aos 8500 mg/l. As formações geológicas de Grudja e de Chiringoma, sobrepostas pela formação de Mazamba, têm produtividades baixas a moderadas. A qualidade de água é variável, sendo normalmente afectada pela água altamente mineralizada do Grés de Sena. Os Grés continentais de Mazamba são comparáveis aos Grés de Sena e apenas ligeiramente mais produtivos. A permeabilidade aumenta provavelmente, para costa. 8.1.6. Província Hidrogeológica da “Bacia Sedimentar de Moçambique (Sul do Save)” A Bacia Sedimentar de Moçambique, a Sul do Rio Save é a Província hidrogeológica de Moçambique mais conhecida. As características hidrogeológicas da área não são muito favoráveis para o aproveitamento das águas subterrâneas, excepto em alguns vales aluvionares na faixa dunar e na região dos aquíferos profundos. Mais que a metade da área tem sérios problemas com águas subterrâneas altamente mineralizadas, especialmente na faixa central entre os Rios Maputo e Save. As altas concentrações de sal são devido a existência de água de formação salgada, as condições semi-áridas do clima ou as inundações marinhas. Página 17 de 20 9. Exploração de Águas Subterrâneas em Moçambique 9.1. Pesquisa de Águas Subterrâneas As investigações relativas às águas subterrâneas, para definir a localização de sondagem ou planear novos campos de furos, podem incluir estudos de Gabinete , compreendendo a recolha e análise de: dados existentes, estudos prévios (mapas, levantamentos geológicos, interpretação de fotografias aéreas ou imagens de satélite, levantamentos geofísicos, sondagens de pesquisa e ensaios de furos). A complexidade do terreno, a distribuição dos aquíferos, caudal exigido, a recarga e a disponibilidade dos fundos, tempo, pessoal, equipamentos e conhecimentos, são factores importantes que determinam a selecção das investigações mais indicadas. O uso de fotografias aéreas é essencial para áreas onde existem rochas duras não alteradas. Nas áreas onde predominam rochas duras meteorizadas, os levantamentos geoeléctricos são imprescindíveis. Em Moçambique, o uso de técnicas geofísicas resultam num aumento da proporção dos sucessos de 30 a 80%. Como exemplos: Os valores de resistividade inferiores a 30 Ω.m, correspondem a camadas argilosas alteradas e impermeáveis ou camadas com água salobra; Os valores entre 30 a 60 Ω.m, correspondem muitas vezes à camada alteradas, arenosas, mais produtivas, contendo água doce; Os valores acima de 60 Ω.m, correspondem quase sempre à estratos arenosos secos ou rochas ligeiramente alteradas. Como regra geral, zonas com a espessura de alteração compreendida entre 30 a 40 m, são consideradas boas para construção de furos, se se verificar que a camada alterada não é total ou predominantemente argiloso. As técnicas mais qualitativas de pesquisa recorrendo ao método magnético foram ensaiados à volta de Maputo e tiveram sucessos na determinação das partes mais profundas da cobertura solta, existente por cima das rochas consolidadas. Página 18 de 20 Os métodos de pesquisa recorrendo aos processos de refracção sísmica foram recentemente introduzidas, e estes são frequentemente usados em regiões onde ocorrem rochas duras do Complexo de Base. 9.2. Mecanismos de exploração de águas subterrâneas em Moçambique Os mecanismos mais comuns para exploração de águas subterrâneas são os poços escavados, os furos, captações de nascentes e galerias de infiltração. Os parâmetros hidrogeológicos que determinam a escolha do tipo de construção são: a profundidade em que se encontra o lençol freático e o aquífero, a espessura e a extensão do aquífero, o rebaixamento máximo aceitável do nível do aquífero e as potencialidades da formação aquífera. A construção de poços escavados deve ser revestida com anéis de betão, protegida com lajes do mesmo material e equipada com bombas manuais. Os poços escavados são relativamente baratos e fáceis de construir, desde que as formações aquíferas não se encontrem a mais de 15 m de profundidade. Os poços escavados são geralmente de fraca produtividade, entre 5 a 10 m3/dia. Em zonas isoladas, junto à pequenos grupos de casas, estes podem ser equipados apenas de baldes e cordas. A construção de furos deve ser reservada aos locais em que a toalha freática ou formação aquífera esteja a profundidades superiores a 20 m, ou aquela em que se encontra em rochas compactadas. Este tipo de construção é preferido quando se trata de abastecer mais de 500 pessoas ou se o furo estiver equipado com moto-bombas e por sua vez, esteja ligado a um tanque elevado. A captação de nascentes é uma alternativa barata e segura comparativamente aos furos, nas áreas onde estas ocorram em zonas de exsudação. Este processo de captação, é particularmente indicada se a água poder ser transmitida por gravidade. A captação de nascentes pode ser muito simples, se apenas existir um único ponto de captação de água. As galerias de infiltração também se pode adaptar à áreas em que existe fluxo de água subterrânea, pouco profundo ou subsuperficial, como nos vales de rios sazonais e semi-permanentes. Página 19 de 20 10. Conclusão Moçambique é caracterizado morfologicamente, pela existência de quatro unidades distintas: planícies costeiras, planaltos médios, altiplanaltos e zonas montanhosas: as planícies costeiras caracterizam-se por relevos moderados, cujas cotas crescem para o interior até altitudes de 200 metros ou mais; os planaltos médios ocorrem no Centro e Norte do país, variando de 200 a 500 metros de altitude; os altiplanaltos, em semelhança com os planaltos médios, também ocorrem no centro e Norte do país, variando de 500 a 1000 metros de altitude; e as zonas montanhosas ocupam a parte interiordo país. Apresentam formas de relevo com altitudes superiores a 1000 metros. As temperaturas médias anuais são de 23ºC ao longo da costa sul, de 25ºC nas planícies do Alto Changane, de 26ºC ao longo da costa norte, e de mais de 26ºC junto ao troço do Médio Zambeze próximo a cidade de Tete e a precipitação média anual é de 968 mm. O escoamento médio anual ascende 213x109 m3/ano, dos quais 97x109 m3/ano têm origem nas precipitações ocorridas no território nacional. As rochas do Complexo de Base ocupam a Província de Manica, a parte ocidental da Província de Sofala e quase toda região a Norte do Rio Zambeze. A sequência vulcânica consta de diversas enxurradas de lavas sobrepostas, ao longo das margens do Complexo de Base, das Faixas do Limpopo e do Zambeze. Cerca de 75% de águas subterrâneas do País corresponde ao Complexo de Base, aos Terrenos vulcânicos e pelo menos 25% corresponde as Bacias Sedimentares. Moçambique apresenta diversas Províncias Hidrogeológicas, nomeadamente: Complexo de Base, Terrenos vulcânicos, Bacia Sedimentar do Médio Zambeze, Bacia Sedimentar de Maniamba, Bacia Sedimentar do Rovuma, Bacia Sedimentar de Moçambique, a Norte do Save e Bacia Sedimentar de Moçambique, a Sul do Save. Estas Províncias, para além de serem geograficamente diferentes, divergem-se também em alguns parâmetros hidrogeológicos, tais como: o quimismo, resíduo seco, dureza, dependendo das formações geológicas sobre as quais circulam. Página 20 de 20 11. Referências bibliográficas Aboo, V. (2013); Consumo de Águas Minerais Naturais e de Nascente - Causas e Impacte para o Meio Ambiente: Estudo de Caso da Cidade de Nampula, 2009-2011; Porto; Bouman e Ferro (1987); Projecto da Carta Hidrogeológica de Moçambique ; Maputo.
Compartilhar