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ACIDENTE DE TRANSITO

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Revista do IGP
Uma Discussão sobre o Fenômeno ...........3Needle Slap
Locais de Crime: Fatores de Riscos e Prevenção..........8
Circunstâncias Juridicamente Relevantes
em Perícias de Locais de Crimes
contra a Vida e em Armas de Fogo ............................. 23
A Respeito do Número de Pontos Característicos
Necessários à Afirmativa de Identidade .....................27
Nº - Janeiro 20114
Mediação de Conflitos Organizacionais .....................30
Perícias e Argumentação – Anotações Preliminares ..31
A Era da Automação na Genética Forense .................34
Papiloscopia: uma Verdadeira Ciência ........................38
Aspectos Técnicos sobre o Dígito Verificador em
“Números de Chassi” e outras Informações
sobre este Código ........................................................43
Aspectos Gerais e Toxicológicos de Derivados
Anfetamínicos com Ênfase no
4-Bromo-2,5-Dimetoxi-Anfetamina (DOB) .................48
Proposta de Novas Figuras Anatômicas (bonecos)
para o Departamento Médico-Legal ...........................53
Critérios Quantitativos e Qualitativos acerca de
Pontos Característicos do Fragmento Papilar
no Confronto Papiloscópico .......................................56
A Entomologia Forense como Ferramenta para
Locais de Crime no Rio Grande do Sul .........................13
Extração de DNA em Impressões Digitais
já Reveladas com Carbonato de Chumbo II,
Óxido de Ferro II e Ninidrina ........................................17
1
O Diretor-Geral do Instituto-Geral de Perícias, Áureo Luiz Figueiredo Martins, ao 
término de seus 8 anos de gestão agradece aos servidores a colaboração e empenho diante 
das metas propostas para o crescimento e desenvolvimento do IGP, sendo esta quarta 
edição da Revista do IGP, criada em 2003, mais uma delas.
Ao retirar-se da direção geral do Instituto-Geral de Perícias deixa como legado, em 
especial, a interiorização do IGP, com ênfase na criação das Coordenadorias Regionais de 
Perícias, com implantação de Postos de Criminalística e reforço dos Postos Médico-Legal 
e de Identifi cação; a implantação da carteira de identidade digital, agendamento eletrôni-
co e emissão de atestados de antecedentes na internet; a modernização dos sistemas de 
informática com a implantação do PGP - Protocolo Geral de Perícias, com formatador 
de laudos e certifi cação digital; a recomposição do efetivo por concurso público, tendo 
sido nomeados 303 em 2004 e 2005 e 254 novos servidores em 2009 e 2010, totalizando 
557; a elaboração de projeto executivo do complexo do IGP em Porto Alegre, no valor 
orçado em R$ 36.861.403,23, cadastrado no SICONV/SENASP/MJ em 12/07/2010, 
sob o nº 81.293/2010; a remuneração, com o tratamento isonômico entre servidores do 
quadro do IGP; o reconhecimento da Lei Britto e do risco de vida e criação da gratifi cação 
de produtividade pericial por intermédio da lei nº 13.487, de 01/07/2010, regulamentado 
pelo decreto nº 47.656, de 13/12/2010.
Para o Diretor Áureo Martins os pontos fortes do crescimento do Instituto-Geral 
de Perícias durante a sua gestão concentram-se na interiorização dos serviços periciais, 
no investimento contínuo em tecnologia, na recomposição do efetivo, no investimento 
em capacitação para qualifi cação dos laudos periciais, na política de fortalecimento da 
Perícia Ofi cial Gaúcha com reconhecimento nacional do trabalho pericial do IGP-RS e na 
ampliação da frota de veículos e criação, em 2004, do Conselho Nacional dos Dirigentes-
Gerais de Órgãos Periciais Forenses.
Diante da experiência acumulada na trajetória percorrida, o Diretor Áureo Martins 
também sugere como pontos a melhorar o espaço físico adequado na Capital, a atualização 
do organograma do IGP, o aumento de recursos humanos, de estrutura física, de funções 
gratifi cadas e de viaturas nos Postos do Interior e a melhoria dos salários dos servidores, 
especialmente dos Auxiliares de Perícias.
Em sua despedida, o Diretor Áureo Martins salienta que todas essas realizações ape-
nas foram possíveis devido à dedicação e zelo de todos os diretores, chefes de divisões e 
servidores pelos interesses da instituição e também expressa o seguinte desejo:
VIDA LONGA PARA A PERÍCIA OFICIAL GAÚCHA!
A Direção-Geral
Expediente
Conselho Editorial
Áureo Luiz Figueiredo Martins
Eduardo Lima Silva
Maria Cristina Bottizzo de Farias
Rafael Silva do Nascimento
Revisão
Gabriela Carvalho Pinto
Projeto Gráfi co
Raquel Friedrich
Diagramação
Rafael Silva do Nascimento
Jornalista Responsável
Eduardo Lima Silva - Registro de 
Jornalista Profi ssional Diplomado No 9.981 
(DRT/RS - Ministério do Trabalho) 
Formato
Digital em arquivo PDF, disponível 
em http://www.igp.rs.gov.br
International Standard Serial Number 
ISSN 1981-2780
Contato
revista@igp.rs.gov.br
Governadora do Estado do Rio Grande 
do Sul
Yeda Rorato Crusius
Secretário da Justiça e da Segurança
Edson de Oliveira Goularte
Instituto Geral de Perícias
Rua Voluntários da Pátria, 1358 - 3º - Porto 
Alegre - RS - 90230-010
 
 Diretor-Geral
Áureo Luiz Figueiredo Martins
 Corregedor
Velocino Camargo Neto
 Supervisora Técnica
Maria Cristina Bottizzo de Farias
 Diretor Administrativo
Eduardo Lima Silva
Departamento de Criminalística
 Diretora
Eliana Sarres Pessoa
Departamento de Identifi cação
 Diretor
Guilherme Ferreira Lopes
Departamento Médico-Legal
 Diretora
Débora Vargas de Lima
Laboratório de Perícias
 Chefe
Viviane Fassina
Editorial
3
1. Introdução
O exame de vestígios produzidos nos mostradores de 
escalas do painel de instrumentos teve suas origens nas inves-
tigações de acidentes aéreos. A utilização desta metodologia 
no exame de automóveis em acidentes de trânsito é pouco 
difundida e utilizada pelos peritos, devido ao desconhecimen-
to da metodologia, à carência de laboratórios equipados e à 
sobrecarga de trabalho.
O exame do mostrador de escala de valores do velocíme-
tro de veículos participantes em acidentes de trânsito pode ser 
um método simples e válido na determinação da velocidade 
de tráfego. Em colisões frontais de grande intensidade poderá 
ocorrer o fenômeno conhecido como needle slap, no qual o 
material do ponteiro do velocímetro, no momento do impacto, 
interage com o material do mostrador de escala, produzindo 
uma marca que poderá ser vista com ou sem o auxílio de equi-
pamento de leitura. Essa metodologia, em alguns casos, poderá 
ser a única possível para determinar a velocidade do veículo 
participante do evento.
2. Funcionamento do Velocímetro e Normas Reguladoras
 Com diferentes materiais, cores e composições, necessá-
rios para uma distinção entre o ponteiro e as escalas, o mostrador 
situado no painel de instrumentos do automóvel, o velocímetro, 
indica a velocidade do veículo para o condutor. Nesse instru-
mento, costuma-se incluir também um hodômetro, que fornece a 
Uma Discussão sobre o Fenômeno Needle Slap
Toresan, Wilson Juniora 
Departamento de Criminalística, Instituto Geral de Perícias, Secretaria da Justiça e da Segurança, 
Porto Alegre/RS
Resumo
O exame do mostrador de escala de valores do velocímetro de veículos participantes em acidentes de trânsito pode ser um 
método simples e válido na determinação da velocidade de tráfego. Em colisões frontais de grande intensidade poderá ocorrer o 
fenômeno conhecido como needle slap, no qual o material do ponteiro do velocímetro, no momento do impacto, interage com o 
material do mostrador de escala, produzindo uma marca que poderá ser vista com ou sem o auxílio de equipamento de leitura. Essa 
metodologia, em alguns casos, poderá ser a única possível para determinar a velocidade do veículo participante do evento. Casos 
reais são apresentados para a validação das conclusões.
quilometragem percorrida e um indicador de rotações de motor. 
Atualmente, na maioria dos veículoscomerciais, os tipos de ve-
locímetros mais usados são o magnético e o eletrônico (motor 
de passo). O tipo mais comum de velocímetro é dotado de um 
ponteiro sobre uma escala circular ou em arco, mas às vezes o 
indicador é digital.
 No Brasil, a Norma NBR 7817, da Associação Brasi-
leira de Normas Técnicas (ABNT), fi xa as condições exigíveis 
para a aceitação e o recebimento de indicadores de medidores 
de velocidade (velocímetros), utilizados em veículos rodoviários 
automotores.
3. Metodologia
Em colisões frontais de grande intensidade ocorrem de-
sacelerações em um curto período de tempo. Nesses casos, os 
ponteiros do painel de instrumentos, que mostram a velocidade 
do veículo e a rotação do motor, podem interagir com o material 
constitutivo do mostrador de escala no momento da colisão, 
registrando a velocidade com que trafegava o veículo. 
As formas encontradas de registros são: depósito de tinta 
fl uorescente ou outros tipos de fragmentos de material do pon-
teiro, marcas de abrasão (foto 1) e de deformação da superfície 
do mostrador de escala (foto 2). Esses registros poderão variar 
de intensidade e morfologia. Em veículos mais antigos poderá 
ocorrer o acúmulo de pó no material do mostrador de escala, 
que servirá como base para o registro do contato do ponteiro 
do velocímetro.
4
Como as variáveis envolvidas nos acidentes de trânsito 
possuem uma diversidade com elevado grau de complexidade, 
cada evento produzirá fenômeno como o do mostrador do 
painel de instrumentos.
Como em todas as metodologias forenses, deve-se procu-
rar outros vestígios que auxiliem a confi rmar e validar o valor 
registrado pelo fenômeno needle slap. A comparação entre a ro-
tação do motor, a marcha utilizada pelo condutor e a velocidade 
registrada, e a aplicação dos tradicionais métodos de cálculo de 
velocidade para comparação dos valores deve ser, também, um 
objetivo sempre presente nos trabalhos periciais4, 7, 8, 9, 10, 11, 12.
A presente metodologia tem sido aceita pelas cortes ame-
ricanas e utilizada e divulgada por pesquisadores importantes 
no cenário internacional de trabalhos em acidentes de trânsito 
como em relatórios da NTSB2 (National Transportation Safety 
Board dos Estados Unidos) e pelo renomado especialista em 
reconstrução de acidentes de trânsito John Daily.
4. Casuística
A experiência em realização de perícias em locais de aci-
dente de trânsito tem propiciado encontrar o fenômeno needle 
slap em mostradores de painéis de instrumentos.
A seguir apresentamos dois destes casos.
Caso 1
 
Local: rodovia estadual RS 020, no município de Gra-
vataí (foto 3).
Data e horário: 08/06/2010 às 7 horas da manhã.
Veículos: automóvel Chevrolet/Chevette e caminhão 
Mercedes-Benz (foto 4).
Velocidade dos Veículos:
– Caminhão Mercedes-Benz: 80 Km/h (análise de 
disco diagrama).
– Automóvel Fiat/Ducato: 78 Km/h (cálculo dimen-
sionando as marcas de derrapagem produzidas, yaw 
marks, ver foto 5, e análise por needle slap, ver foto 2 do 
item Metodologia).
Estudo da dinâmica do evento: os exames periciais rea-
lizados indicam que a ocorrência de tráfego se deu quando 
o caminhão trafegava no sentido Capital-Interior na rodovia 
estadual RS 020, no quilômetro 14, no Município de Gravataí, 
e colidiu contra o automóvel Chevrolet/Chevette, que invadiu a 
contramão de direção. Os setores anteriores dos veículos foram 
sedes da colisão. Os vestígios encontrados no local nos levam 
a inferir que o automóvel perdeu a estabilidade ao retornar da 
contramão de direção para a sua faixa de tráfego, iniciando 
Foto 1 – Marca de abrasão produzida pelo ponteiro do velocímetro (setas) Foto 2 – Marca de deformação da superfície do mostrador de escala (setas)
Foto 3 – Via onde ocorreu o acidente Foto 4 – Veículos envolvidos no acidente de trânsito
5
um movimento de derrapagem e adentrando na contramão 
de direção novamente. O condutor do caminhão percebeu 
que o automóvel estava adentrando na contramão e utilizou o 
sistema de frenagem em localização anterior ao sítio de colisão, 
localizado na faixa de tráfego de sentido Capital-Interior. Após 
a colisão, o automóvel teve sua estrutura anterior esmagada 
ao fi car sob a região anterior do caminhão, que ainda arrastou 
o automóvel por aproximadamente 28 metros na direção do 
terreno marginal, localizado à esquerda da pista.
Considerações sobre a velocidade do Chevrolet/Chevette: 
a fi gura 1 – seta (ver item Metodologia) revela que o ponteiro 
do mostrador de velocidade entrou em contato com o material 
constituinte das referidas escalas. Destaca-se a nitidez com 
que o material constituinte das escalas dos mostradores fi cou 
deformado. Foi possível aplicar outro método para estabelecer 
um valor comparativo no qual trafegava o veículo, confi rmando 
o valor estabelecido a partir do fenômeno neelde slap.
Caso 2
Local: rodovia federal BR 290, quilômetro 160, no 
Foto 6 – Vista do quilômetro 160 da rodovia federal BR 290
Foto 10 – Van Kia/Besta
Foto 7 – Automóvel Fiat/Ducato Foto 8 - Caminhão Mercedes-Benz
Foto 9 – Detalhe do caminhão Mercedes-Benz
Foto 5 – Marcas de derrapagem produzidas pelo automóvel
6
município de Arroio dos Ratos (foto 6).
Data e horário: 16/01/2010 às 7 horas da manhã.
Veículos: automóvel Fiat/Ducato (foto 7), caminhão 
Mercedes Benz 1938 (foto 8 e 9) e van Kia/Besta 
(foto 10).
Velocidades dos veículos: 
– Caminhão Mercedes-Benz: 85 Km/h (análise de 
disco diagrama).
– Van Kia/Besta: não determinada.
– Automóvel Fiat/Ducato: 85 Km/h (análise por needle 
slap ver foto 11).
Estudo da dinâmica do evento: os veículos caminhão 
Mercedes-Benz e Kia/Besta trafegavam na mesma direção e o 
veículo Fiat/Ducato na direção contrária. Os vestígios direcio-
nam que a Kia/Besta tenha invadido a contramão de direção, 
colidindo o seu setor angular anterior esquerdo no setor pos-
terior esquerdo do Fiat/Ducato. Devido à colisão, a Kia/Besta 
teve a sua roda dianteira esquerda fraturada e a desarticulação 
da ponta de eixo, não conferindo mais dirigibilidade ao veículo, 
deixando marcas de pneu e sulcagem no asfalto. O Fiat/Duca-
to, devido à colisão sofrida próxima ao eixo traseiro esquerdo, 
saiu da pista, perdeu a dirigibilidade e a estabilidade, e invadiu a 
pista contrária, indo na direção do caminhão Mercedes-Benz. O 
caminhão tentou uma manobra evasiva para a direita, invadindo 
o acostamento, todavia não sendo possível evitar a colisão com 
o Fiat/Ducato na sua lateral esquerda. Após a colisão, com o 
movimento dos veículos, o Fiat/Ducato foi projetado para o 
lado no qual trafegava inicialmente, caindo no barranco ao lado 
da pista, imobilizando-se apoiado nas árvores.
Considerações sobre a velocidade do Fiat/Ducato: a foto 
11 revela que os ponteiros dos mostradores de velocidade e de 
rotações do motor entraram em contato com o material consti-
tuinte das referidas escalas. Existe coerência entre a velocidade 
registrada (85 Km/h) e a rotação do motor (~2.800 RPM) para 
uma 5a marcha. Destaca-se a nitidez com que o material de cor 
vermelha dos ponteiros fi cou depositado no material consti-
tuinte das escalas dos mostradores. Não foi possível aplicar 
outro método para estabelecer um valor comparativo no qual 
trafegava o veículo.
5. Conclusão
O exame do mostrador de escala de valores do velocíme-
tro de veículos participantes em acidentes de trânsito pode ser 
um método simples e válido na determinação da velocidade de 
tráfego. Esta metodologia, em alguns casos, poderá ser a única 
possível para determinar a velocidade do veículo participante 
do evento.
A presente metodologia tem sido utilizada e divulgada por 
pesquisadores importantes no cenário internacional na área de 
acidentes de trânsito, como em relatórios da NTSB2 (National 
Transportation Safety Board dos Estados Unidos) e pelo renomado 
especialista em reconstruçãode acidentes de trânsito John Daily.
O autor tem a opinião de que nenhuma metodologia deve 
ser usada sem critérios responsáveis, nem mesmos as mais 
tradicionais. Cada local de acidente de trânsito possuirá suas 
características e peculiaridades. Cabe ao perito, conhecedor 
das metodologias científi cas de reconstrução em acidentes de 
trânsito, analisar os problemas que lhe apresentam e decidir 
aplicar ou descartar as possibilidades existentes.
Referências
1. NBR 7817. Indicador do Medidor de Velocidade (Ve-
locímetro) e Distância (Hodômetro) de Veículos Rodoviários 
Automotores. ABNT, Mar/83.
2. Highway Accident Report, NTSB/HAR-03/02, 
PB2003-916202, Notation 7561. Ford Explorer Sport Colli-
sion With Ford Windstar Minivan and Jeep Grand Cherokee 
on Interstate 95/495 Near Largo, Maryland February 1, 2002. 
NTSB - National Transportation Safety Board, Washington DC.
3. UNDERRIDE NETWORK – Victims First. Disponí-
vel em: <http://www.underridenetwork.org/SafetyArticles/
SkidmarksofaDifferentSort/tabid/83/Default.aspx >. Acesso 
em: 15 março 2010, 16:00. 
4. DAILY, John. Investigating the Aggravated Vehicular 
Homicide Case - A Guide for Wyoming Prosecutors. 
5. MCCORMICK, Barnes Warnock and Papadakis, M. P. 
Aircraft Accident Reconstruction and Litigation. Lawyers & 
Judges, Third Edition, pg. 201.
6. TORESAN JUNIOR, Wilson. O Registro Permanente 
do Ponteiro do Velocímetro de Veículos Automotores, após um 
Evento de Colisão. Disponível em: <http://www.acrigs.com.
br/Artigos.htm>. Acesso em: 16 março 2010, 15:10.
7. ________. Metodologias para Cálculos de Velocidades 
Foto 11 – O fenômeno needle slap no painel de instrumentos do automóvel Fiat/Ducato
7
em Acidentes de Trânsito com Motocicletas. Disponível em: 
<http://www.acrigs.com.br/Artigos/.pdf>. Acesso em: 16 
março 2010, 15:10.
8. TORESAN JUNIOR, Wilson. Cálculo de Velocidade 
para Veículos Equipados com Sistemas de Freio ABS. Dispo-
nível em: <http://www.acrigs.com.br/Artigos/.pdf>. Acesso 
em: 16 março 2010, 15:10.
9. BAKER, Keneth S., Traffi c Collision Investigation. 
Northwestern University Traffi c Institute, USA(1990).
10. FRICKE, Lynn B.. Traffi c Accident Reconstruction. 
Northwestern University Traffi c Institute, USA(1990).
11. NEGRINI NETO, O. e Kleinübing, R.. Dinâmica de 
Acidentes de Trânsito – Análises, Reconstruções e Prevenção. 
Millenium Editora, 2ª Edição, Campinas/SP 2006.
12. ARAGÃO, R. F. Acidentes de Trânsito – Aspectos 
Técnicos e Jurídicos. Millenium Editora, 3ª Edição, Campinas/
SP 2003.
Agradecimentos: aos colegas da Equipe de Acidentes de 
Trânsito do Departamento de Criminalística do IGP/RS.
Autor
[a] Perito Criminal do Departamento de Criminalística do 
IGP/RS, Equipe de Acidentes de Trânsito da Seção de Enge-
nharia Legal; Engenheiro Mecânico e Doutor em Engenharia.
8
1. Introdução
A atividade criminalística, de caráter multidisciplinar e 
dinâmico, é realizada em qualquer ambiente físico que demande 
investigação. Ao desempenho da atividade é intrínseco um ele-
vado número de agentes de risco físicos, químicos, biológicos, 
ergonômicos e mecânicos nocivos à saúde do profi ssional que 
labuta nessa área. Por ser realizada nos mais diversos tipos de 
ambientes e com uma variedade de materiais e objetos de difícil 
previsão, os levantamentos periciais em locais de crime contra 
a vida são os que apresentam maiores riscos à integridade física 
e à saúde destes profi ssionais.
A legislação brasileira vigente atribui à Portaria nº 3214/78 
do Ministério do Trabalho, contemplada pela Lei Federal nº 
6514/77, as regras referentes à segurança e à saúde do trabalha-
dor. Porém, de acordo com o item 1.1 da NR-1 desta portaria, 
os Peritos Criminais, por serem servidores públicos estatutários, 
não estão sujeitos aos preceitos estabelecidos na referida norma. 
Caberia ao próprio Estado empregador defi nir medidas de pro-
teção em relação aos riscos a que seus servidores estão sujeitos, 
o que, na prática, não ocorre. 
Como não há obrigatoriedade legal de cumprimento da 
Lei nº 6514/77, não são realizados os devidos levantamentos 
dos riscos existentes nem a elaboração de programas de pre-
venção de riscos ambientais, descritos na NR-9. Tampouco há a 
constituição das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes 
(CIPAs), cujo objetivo é trabalhar para “a prevenção de acidentes 
e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatí-
vel permanentemente o trabalho com a preservação da vida e 
a promoção da saúde do trabalhador.” (BRASIL, 1978, NR-5, 
item 5.1). Isso implica que os Peritos Criminais tornam-se os 
únicos responsáveis pela manutenção de sua integridade física 
no desempenho de sua atividade laboral.
O conhecimento dos riscos à que os agentes periciais estão 
expostos em seu ambiente de trabalho é fundamental para a 
garantia da saúde destes profi ssionais. Na literatura existente, 
é grande a gama de materiais que abordam os procedimentos 
a serem adotados pelos profi ssionais envolvidos em atividades 
criminalísticas. Porém, em sua quase totalidade, tais procedi-
mentos objetivam apenas a parte técnica da ação, suprimindo 
as informações referentes à segurança laboral.
Diante disto, torna-se primordial a realização de estudos 
sobre o tema da segurança no desempenho desta atividade, de 
modo a subsidiar os profi ssionais com informações que levem 
à adoção de atos seguros e que permitam a redução das expo-
sições aos agentes de risco, preservando a integridade física e 
prevenindo os acidentes de trabalho.
Neste artigo serão abordados apenas os temas relacionados 
com a segurança do Perito Criminal no desempenho do traba-
lho em locais de crimes praticados contra a vida de pessoas, 
excluindo-se as atividades de preparação de materiais, desloca-
mento da equipe, a execução de exames laboratoriais e os riscos 
inerentes às atividades de elaboração dos relatórios, que, apesar 
de importantes, apresentam riscos menores se comparados à 
atividade de levantamento pericial propriamente dita.
2. Estudo dos Locais de Ocorrência de Crimes Contra a 
Vida 
No desempenho de suas funções, o Perito Criminal depara-
se constantemente com situações de eminente risco à sua inte-
gridade física e também à sua própria vida. Há casos relatados 
de profi ssionais acometidos por doenças, que sofreram lesões 
ou vieram a óbito em decorrência da exposição incautelosa a 
fatores de riscos extremos que muitas vezes são desconhecidos 
ou negligenciados pelos agentes, afoitos pela elucidação dos 
casos investigados sob sua responsabilidade.
Das atividades desenvolvidas por estes servidores, é im-
plícito que as executadas in loco são as que acarretam grande 
quantidade de agentes de riscos à saúde dos profi ssionais. Destas 
atividades de campo, as que mais apresentam fontes de riscos aos 
Peritos Criminais são os denominados levantamentos periciais 
em sítios de prática de crimes contra a vida, assim conhecidos 
os locais de ocorrência de morte violenta, como homicídios, 
suicídios e os ditos acidentes, assim chamados os casos aonde a 
vítima vem a óbito em decorrência de incêndio, choque elétrico, 
Locais de Crime: Fatores de Riscos e Prevenção
Dürks, Ricardo Tellóa 
Coordenadoria Regional de Perícias de Passo Fundo, Posto do Departamento de Criminalística, Instituto 
Geral de Perícias, Secretaria da Segurança Pública, Porto Alegre/RS
9
queda ou asfi xia involuntária. Podem-se considerar também 
locais de crime contra a vida os de ocorrência de tráfego que 
resultarem em vítima fatal, haja vista a presunção pelo Código 
de Trânsito Brasileiro que dessas ocorrências resultou crime de 
homicídio, de caráter no mínimo culposo.
Da análise qualitativa dos locais de crimes contra a vida 
pode-se defi nir como três os grandes geradores de riscos aos 
profi ssionais que labutam na área pericial: as característicasdo 
local analisado, os materiais e objetos passíveis de serem encon-
trados e as situações adversas devido a fatores fi siológicos. Cada 
um destes grupos geradores de riscos foi analisado com base na 
redação dada pela Portaria nº 3214 da Lei Federal nº 6514/77, 
estando os resultados obtidos listados nos itens a seguir.
 3. Agentes de Riscos Devido às Características do Local 
Analisado
São dois os tipos de ambientes passíveis de serem sítios 
de investigação pericial: os locais fechados e os abertos, cada 
qual apresentando agentes de riscos específi cos inerentes às 
suas características.
Os locais fechados caracterizam-se por serem ambientes 
cobertos e de fácil isolamento, normalmente também de fácil 
acesso. Nestes locais é possível aos Peritos Criminais depararem-
se com a existência de agentes de riscos químicos dispersos pelo 
ambiente, como poeiras, gases tóxicos e produtos químicos em 
geral, inclusive venenos, muitas vezes de difícil detecção prévia 
e classifi cação pelo profi ssional no estudo do local. Há também 
a possibilidade da existência de agentes de riscos biológicos em 
decorrência da presença de parasitas como piolhos, pulgas ou 
outros agentes transmissores de doenças que possam estar ali 
presentes.
Em locais fechados observam-se também grandes quanti-
dades de agentes de riscos mecânicos, a maior parte devido às 
condições estruturais do imóvel em questão, que podem acar-
retar desabamento ou quedas de materiais, principalmente em 
edifi cações antigas, em ambientes de obras civis ou em imóveis 
incendiados. O risco de explosão e a existência de atmosfera 
IPVS (imediatamente perigosa à vida e à saúde: locais de alta 
concentração de contaminantes ou baixo teor de oxigênio) no 
ambiente devido à presença de gases potencialmente causadores 
destes fenômenos, apesar de em baixa probabilidade, também 
existe, assim como há o risco da presença de animais ferozes, 
peçonhentos ou venenosos que possam vir a atacar os profi s-
sionais da área pericial no desempenho de suas atividades.
Dentre os locais fechados, os que apresentam uma maior 
gama de agentes de riscos danosos à saúde dos Peritos Crimi-
nais são as edifi cações sinistradas em decorrência de incêndios. 
Nestes locais sempre se observa a presença de altas temperaturas 
e agentes químicos como fumos, gases e vapores, e é constante 
também a presença de objetos potencialmente perigosos como 
estilhas vítreas, latas com cantos vivos, pregos soltos ou fi xa-
dos em porções de madeira espalhadas pelo solo, entre outros 
materiais cortantes ou pontiagudos. Além destes, os riscos da 
ocorrência de choques elétricos e do colapso da estrutura em 
decorrência da diminuição de sua resistência devido à ação do 
calor são outros fatores de risco iminente à saúde e à integri-
dade física dos servidores envolvidos na análise de ambientes 
incendiados.
Os segundos tipos de locais passíveis de ser sede de exame 
pericial são os ditos locais abertos, que se caracterizam por não 
possuírem barreiras físicas que impeçam a presença e o assédio 
de terceiros ao sítio de interesse criminalístico, sendo, nesses 
casos, de fundamental importância a presença de um número 
de agentes policiais sufi ciente para fazer a delimitação da área 
investigada e a contenção dos populares de modo a manter a 
preservação do local. Estes locais podem ser classifi cados em 
três tipos diferentes: os ambientes urbanos, os localizados em 
áreas rurais e as vias de trânsito.
Ambientes urbanos apresentam basicamente riscos mecâ-
nicos em decorrência da possibilidade da presença de animais 
ferozes soltos nas cercanias. Em locais situados em áreas rurais 
há sempre a possibilidade da presença de animais peçonhentos e 
venenosos, além de riscos relacionados à topografi a do ambiente 
em análise, uma vez que grande parte deles é de difícil acesso e 
acabam por obrigar o perito a transitar por trilhas abertas em 
meio a árvores em áreas de mata, escalar ou descer barrancos, 
adentrar em áreas alagadas ou até mesmo atravessar cursos de 
água objetivando a chegada ao local de interesse criminalístico.
As vias de tráfego, por sua vez, apresentam como maior 
risco à integridade física o próprio trânsito de veículos pelo 
local do fato. Além do risco mecânico de atropelamento, há 
também o risco da presença de fl uidos explosivos, infl amáveis 
e por vezes também tóxicos emanados de veículos que estão 
envolvidos na ocorrência investigada, principalmente quando 
se tratar de ocorrência de tráfego.
A todos os locais abertos é intrínseca a exposição dos 
Peritos Criminais a agentes de riscos físicos como calor, frio e 
umidade, decorrentes das condições climáticas e das intempéries, 
assim como a presença de radiações não-ionizantes proveniente 
dos raios solares. O trabalho noturno nestes locais, devido à 
baixa iluminação existente, potencializa a exposição aos riscos 
ali presentes.
Deparar-se com um ambiente hostil é uma possibilidade 
corriqueira que transforma o perito em alvo de desacatos ou 
violência física por parte de algum delinqüente, que vê na atuação 
do profi ssional um risco à sua liberdade. Do mesmo modo, pode 
ocorrer a exaltação de algum familiar ou pessoa ligada à vítima 
10
ao acompanhar o trabalho pericial, pois, no desempenho de sua 
atividade, é necessário ao perito tomar certas atitudes que nem 
sempre são compreendidas por quem está emocionalmente 
envolvido com a vítima, como despir a vítima para proceder à 
análise perinecroscópica ou executar a movimentação do cadáver 
para prosseguir com a investigação.
4. Agentes de Riscos Devido a Materiais e Objetos
Examinando locais de ocorrência de crimes contra a vida, 
o Perito Criminal encontra-se constantemente em contato com 
materiais orgânicos potencialmente fontes de riscos biológicos. 
Vísceras e outros fl uidos corpóreos emanados da vítima corri-
queiramente se espalham por grande parte do local examinado, 
sendo difícil a não ocorrência do contato direto do profi ssional 
com estes agentes biológicos.
Outra grande fonte de riscos são os objetos cortantes, 
perfurantes ou perfurocortantes presentes no local do crime, 
principalmente pregos, facas ou assemelhados e fragmentos 
vítreos. Além do risco mecânico da produção de ferimentos 
propriamente ditos, tais objetos se tornam fontes potenciais de 
riscos biológicos, pois podem estar contaminados com material 
orgânico da vítima ou com bactérias causadoras de doenças 
como o tétano.
Análises de veículos automotores também acarretam 
riscos aos peritos, principalmente devido aos agentes químicos 
decorrentes da presença de óleos lubrifi cantes e combustíveis 
e dos riscos mecânicos devido à presença de cantos vivos nos 
diversos componentes constitutivos do veículo e na sua lataria.
A presença de armas de fogo em locais de morte também 
representa grande risco tanto à integridade física dos Peritos 
Criminais quanto de terceiros que estejam nas imediações do 
local. É praxe estas armas de fogo encontrarem-se municiadas, 
muitas vezes estando também armadas e prontas para efetuar 
disparos, existindo aí um grande risco de ocorrência de um 
disparo acidental quando do seu manuseio.
5. Riscos Devido a Fatores Fisiológicos
Atendimentos a locais de crime contra a vida sempre são 
realizados em regime de urgência, em caráter de pronto aten-
dimento, exigindo do Perito Criminal elevado grau de atenção, 
observação e disposição física e mental, independentemente do 
local ou período do dia em que o serviço demanda ser realizado. 
A execução das atividades periciais traz intrínsecos agentes de 
riscos ergonômicos potencialmente causadores de estresse e 
fadiga física aos profi ssionais que labutam nessa área.
O desempenho da atividade pericial, pela responsabilidade 
que lhe é cabida, e a complexidade demandada pelos exames 
realizados, inferem em elevado e contínuo nívelde atenção e 
de esforço intelectual e mental pelos Peritos Criminais, o que 
muitas vezes leva a quadros de estresse.
A constante pressão psicológica intrínseca ao grau de res-
ponsabilidade exigido, aliada às pressões externas causadas pela 
necessidade de uma resposta concreta e ágil aos demais órgãos 
de segurança aos quais a perícia criminal auxilia, e à sociedade em 
geral ansiosa por justiça, é outra fonte geradora de estresse, assim 
como a pressão muitas vezes gerada pela possível presença de 
populares emocionalmente perturbados com os fatos ocorridos 
nos sítios dos crimes investigados, que podem transformar em 
hostil o ambiente analisado.
Outro potencial gerador de estresse e fadiga física é o 
regime de trabalho imposto aos Peritos Criminais, realizado em 
turnos de plantões que exigem do profi ssional disposição para 
trabalhar em qualquer horário do dia ou da noite e sob qualquer 
condição atmosférica.
Também a própria execução dos trabalhos periciais, por si 
só, acarreta riscos ergonômicos aos profi ssionais, devido à as-
sunção de posições desconfortáveis e de posturas prejudiciais ao 
organismo, mas necessárias para o bom andamento da atividade.
Em situação de desgaste e tendo em vista a grande com-
plexidade e a responsabilidade intrínsecas à atividade pericial, o 
profi ssional acaba muitas vezes canalizando sua atenção apenas 
à análise do sítio criminalístico, em detrimento da adoção de 
medidas necessárias à preservação de sua segurança, o que 
potencializa os riscos de acidentes.
6. Recomendações para a Segurança no Trabalho Pericial
O desempenho da atividade pericial criminal de campo, 
pelos riscos inerentes aos locais e aos objetos citados nos 
itens anteriores deste trabalho, traz implícita a necessidade 
da utilização de equipamentos de proteção individuais (EPIs) 
indispensáveis à segurança pessoal.
A constante exposição a fatores de risco, principalmente 
os de natureza biológica, torna o uso de determinados EPIs 
obrigatórios em todos os levantamentos realizados. Calçados 
fechados e macacões de pernas e mangas longas com punhos e 
tornozeleiras com elásticos são vestimentas de uso essencial em 
todos os exames realizados em locais de crimes contra a vida, 
pois os mesmos evitam o contato direto do Perito Criminal 
com materiais biológicos, além de reduzir a probabilidade da 
ocorrência de contágio por parasitas.
O uso de luvas de procedimentos também é fundamental 
durante a realização do trabalho pericial pois, além de evitar a 
destruição de vestígios importantes que possam estar presentes 
no local (como impressões digitais), protegem o contato das 
mãos do profi ssional com as fontes de riscos biológicas, sendo 
11
também importante no manuseio de substâncias potencialmente 
tóxicas. No trato com vísceras ou cadáveres em putrefação, é 
prudente que o profi ssional utilize luvas de PVC, mais espessas 
e resistentes que as retro citadas.
Outrossim, ao preceder a exames periciais, é imprescindível 
que o Perito Criminal obtenha junto à autoridade policial soli-
citante informações sufi cientes sobre as características do sítio 
criminalístico que possam indicar a possibilidade da existência de 
agentes de risco. De posse destas informações, o perito dispõe 
de subsídios para a escolha dos EPIs que serão necessários para 
o desempenho seguro da sua atividade. As próprias caracterís-
ticas dos locais em questão, por si só, já defi nem a necessidade 
obrigatória da utilização de alguns EPIs.
Em locais fechados, a real possibilidade da presença de 
atmosferas asfi xiantes, poeiras ou gases tóxicos confi nados, 
por exemplo, demanda a utilização de máscara de adução de 
ar. Do mesmo modo, a informação sobre a provável presença 
de gases combustíveis ou infl amáveis no local fornece requisi-
tos para que o Perito Criminal tome as precauções necessárias 
quanto aos procedimentos passíveis de serem executados em 
ambientes com tal tipo de substância química, permitindo o 
seguro desempenho da atividade investigativa.
Em ambientes onde haja a presença de entulhos é funda-
mental a utilização de calçados de segurança fechados, prefe-
rencialmente com o uso concomitante de palmilhas de aço ou 
similares, de modo a evitar a produção de ferimentos nos pés 
do profi ssional por pregos ou outros materiais perfurantes que 
podem estar ali presentes. Da mesma maneira, a realização de 
atividades em locais alagadiços requer o uso de vestimentas e 
calçados impermeáveis.
Em ambientes fechados onde é verifi cada instabilidade 
estrutural da edifi cação, como em obras civis ou em imóveis 
sede de incêndio, é necessário fazer uso de capacetes de segu-
rança, que protegem a cabeça do agente pericial contra impactos 
decorrentes da queda de objetos.
Em edifi cações cuja estrutura se verifi ca instável, nos tra-
balhos em altura ou em atividades desenvolvidas em ambientes 
externos de relevo acentuadamente íngreme, onde há o risco 
iminente de queda, é primordial a utilização de corda salva-vidas, 
equipamento trava-quedas e cinto de segurança.
Em edificações incendiadas, a utilização de luvas de 
amianto também é de grande valia, haja vista que na necessária 
remoção dos escombros são grandes as chances do contato 
manual com estes materiais, que podem apresentar-se supera-
quecidos. O uso de respiradores purifi cadores de ar, com fi ltro 
de classe P2, também é recomendado quando se verifi ca grande 
quantidade de fumaça ou partículas em suspensão no ambiente 
analisado. Também é de fundamental importância que se consul-
te a concessionária de energia elétrica local para verifi car sobre 
o correto desligamento da eletricidade do imóvel e eliminar a 
possibilidade de ocorrência de choques elétricos.
A execução de levantamentos periciais em ambientes 
abertos também demanda o uso de EPIs específi cos. Traba-
lhos sob condições temporais adversas requerem a utilização 
de roupas apropriadas, como capa de chuva ou agasalhos. O 
uso de protetores solares, bonés ou chapéus com abas médias 
ou largas durante o período diurno é importante para evitar a 
incidência de raios solares quando em trabalhos a céu aberto. 
Em ambientes noturnos ou de parca iluminação, a utilização 
de lanternas potentes ou outros tipos de iluminação artifi cial é 
essencial não só para facilitar o trabalho pericial como também 
para auxiliar na segurança dos agentes. 
A presença do Perito Criminal em vias de trânsito exige 
o uso de coletes refl exivos, que facilitam a visualização dele 
pelos motoristas que estão trafegando pela via, principalmente 
à noite. É importante também que se faça uma boa sinalização 
do local e se controle o fl uxo de veículos, dessa forma reduzindo 
a probabilidades da ocorrência de atropelamentos.
Além do uso dos EPIs acima citados, a atenção contínua ao 
ambiente e adoção de procedimentos simples também resultam 
em reduções signifi cativa dos riscos de acidentes que podem 
acometer os Peritos Criminais no desempenho de suas atividades.
As movimentações realizadas devem ser efetuadas sempre 
com cautela. Em ambientes urbanos, a grande preocupação é 
com os esbarrões em objetos presentes no local. Em ambientes 
rurais, o deslocamento e as mudanças de nível acarretam em 
elevado risco de queda, sendo necessário que o perito sempre 
busque pontos de apoio devidamente resistentes e seguros antes 
da efetiva realização de tal ação. 
Também a presença inesperada de animais ferozes, peço-
nhentos ou venenosos em ação de ataque aos Peritos Criminais 
pode ser evitada com a observação contínua das proximidades. 
Quando o local apresentar grande risco da presença destes 
tipos de animais, torna-se primordial a utilização de perneiras 
ou caneleiras que protejam o profi ssional de ataques aos seus 
membros inferiores.
Quando há a necessidade de manusear objetos potencial-
mente fontes de risco, sempre se deve tero máximo de cautela. 
No trato com materiais cortantes ou perfurantes, é indicado o 
uso de luvas de PVC, preferencialmente as com forração de 
malha, que apresentam maior resistência mecânica. Também, 
o conhecimento das principais armas de fogo passíveis de 
serem encontradas nos locais examinados, principalmente no 
tocante aos seus mecanismos de desarme e desmuniciamento, 
é essencial para a manutenção da segurança não só do Perito 
Criminal, mas de todos aqueles que se encontram no local onde 
este instrumento esteja presente.
É importante também que o perito nunca compareça 
12
sozinho ao local de interesse criminalístico, de modo a reduzir 
as chances de sofrer assédio violento por parte de terceiros, 
que podem trazer risco à integridade física do profi ssional. Em 
ambientes que potencialmente podem apresentar tal situação, 
é indispensável, além da presença de outros agentes policiais 
em número sufi ciente para garantir a segurança dos Peritos 
Criminais, o uso de coletes abalísticos com, no mínimo, nível 
II de proteção, além do porte de pelo menos uma arma de fogo 
para defesa pessoal.
Apesar disso, torna-se fundamental que o Perito Criminal 
esteja ciente dos riscos aos quais está sujeito no desempenho 
de sua atividade, pois cabe a ele fazer a opção de não assumi-
los caso verifi que que, mesmo com a adoção das medidas de 
segurança à sua disposição, ainda se sinta exposto à situação de 
risco iminente à sua vida ou à sua integridade física. Para isso, é 
importante que a refl exão e a discussão dos aspectos relaciona-
dos à segurança no trabalho tornem-se uma prática contínua no 
dia a dia dos profi ssionais ligados à área pericial, sendo da mesma 
forma essencial a abordagem deste tema desde a formação do 
profi ssional nos cursos ministrados nas Academias de Polícia 
ou escolas assemelhadas.
7. Considerações Finais
Através da pesquisa realizada, pôde-se constatar que o 
trabalho pericial desenvolvido em locais de crimes contra a 
vida envolve uma elevada gama de riscos físicos, químicos, 
biológicos, ergonômicos e mecânicos potencialmente causa-
dores de danos à saúde e à integridade física dos profi ssionais 
que desempenham esta atividade. A identifi cação destes riscos 
através da delimitação dos ambientes, objetos e situações 
passíveis de serem encontradas pelos Peritos Criminais no 
desempenho de suas funções possibilitou a defi nição de 
procedimentos que podem ser adotados pelos profi ssionais 
e de EPIs necessários para a execução segura da atividade 
demandada.
Como praticamente inexistem trabalhos que abordem a 
questão da segurança do trabalhador no desempenho da ativi-
dade pericial criminal, são amplas as opções de estudos futuros 
a serem desenvolvidos sobre o tema.
Além da questão dos riscos inerentes ao desempenho dos 
levantamentos periciais em locais de crimes contra a vida, que 
contemplam a maior gama de agentes de riscos dentre todas as 
atividades criminalísticas desenvolvidas, é interessante a pesquisa 
de riscos intrínsecos a outros procedimentos complementares 
à atividade de campo propriamente dita, como na preparação 
dos materiais, os decorrentes dos deslocamentos da equipe 
até o local dos fatos, os exames laboratoriais e as atividades 
administrativas, de pesquisa e de redação dos laudos periciais. É 
interessante também o estudo de riscos atrelados às atividades 
desenvolvidas pelos demais agentes vinculados à área pericial 
criminal, como os Médicos-legistas, os Auxiliares de Perícia, os 
Papiloscopistas e os Fotógrafos Criminalísticos.
Referências
Brasil. Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o 
Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, 
relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Ofi cial da 
União, Brasília, 23 dez. 1977.
_____. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978, e altera-
ções. Aprova as Normas Regulamentadoras – NR – do Capítulo 
V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo 
à Segurança e Medicina do Trabalho. Ministério do Trabalho, 
Brasília, 06 jul. 1978.
DOREA, Luiz Eduardo Carvalho; STUMVOLL, Victor 
Paulo; QUINTELA, Victor. Criminalística. 2. ed. Campinas: 
Millenium, 2003. (Tratado de Perícias Criminalísticas).
ESPINDULA, Alberi. Perícia Criminal e Civil. 2. ed. 
Campinas: Millenium, 2006.
REIS, Albani Borges dos. Metodologia Científi ca e Perí-
cia Criminal. Campinas: Millenium, 2003. (Tratado de Perícias 
Criminalísticas).
Autor
[a] Engenheiro de Segurança do Trabalho – Perito Crimi-
nal. Contato: ricardo-durks@igp.rs.gov.br
13
1. Introdução
Os insetos já viviam na Terra antes do aparecimento dos 
dinossauros. Surgiram há cerca de 350 milhões de anos. Os 
artrópodes (grupo que engloba os insetos) foram os primeiros 
animais a colonizar a terra fi rme. Além disso, estima-se que 55% 
das espécies de seres vivos conhecidos e que 3 de cada 4 das 
espécies de animais existentes sejam de insetos. Distribuem-se 
por todo o globo terrestre, exceto nos pólos e oceanos. Toda essa 
abrangência temporal/espacial permitiu o domínio do planeta 
em número, biomassa e diversidade. Essas particularidades são 
demonstração do imenso sucesso evolutivo desse intrigante 
grupo animal e evidenciam a importância de conhecê-lo melhor 
em nosso meio.
Apesar de toda a relevância biológica, não desfrutam de 
boa fama entre os Peritos Criminais que trabalham nos locais 
de crime. Talvez por estarem, os insetos, mormente ligados à 
imagem de “vermes” rastejantes e moscas-varejeiras sobre ca-
dáveres humanos em decomposição e, principalmente, ao odor 
desagradável. Possivelmente por isso, pelo não treinamento e 
carência de dados confi áveis, não ocupam lugar de destaque 
entre os vestígios descritos e considerados nos trabalhos peri-
ciais. Por outro lado, há Peritos e pesquisadores que examinam 
com especial atenção tais achados e admiram com entusiasmo 
essa interessante fase do ciclo da vida, em que tais animais agem 
como componentes vitais na seqüência de reciclagem natural 
de matéria orgânica.
A Entomologia (ramo da Zoologia que estuda os insetos) 
possui uma área que deveria ser mais bem conhecida pelos 
Peritos Criminais que atuam em locais de crime contra a vida 
humana. A Entomologia Forense (EF) é a ciência que aplica o 
estudo dos insetos a procedimentos legais1. Atualmente, vem 
crescendo o interesse de Peritos, pesquisadores e público em 
geral pelo assunto, motivados pela natureza científi ca ou pelos 
seriados televisivos que tratam da temática, de maneira, muitas 
vezes, fantasiosa.
Existem aplicações da EF que não incidem estritamen-
te na área criminal/médico-legal, como a EF Urbana (dano 
por insetos em imóveis, p. ex.) e EF de Produtos Estocados 
(contaminação por insetos em produtos comerciais, p. ex.)2. 
O presente trabalho concentra o interesse nas aplicações nas 
áreas da Criminalística e da Medicina Legal, em que um corpo 
humano em decomposição pode tornar-se um verdadeiro 
ecossistema. Diferentes autores trazem como início do uso da 
Entomologia como ferramenta de apoio à elucidação de crimes 
um caso acontecido na China, durante o século XIII, no qual 
uma foice utilizada como arma mortal denunciou o autor do 
crime ao atrair moscas que buscavam os vestígios remanescentes 
da vítima no instrumento.
2. Ciclo de Vida
Podemos citar de um modo geral, sem avançar nos detalhes 
que o assunto merece, que os principais freqüentadores de car-
caças de animais em decomposição e de valor mais signifi cativo 
para a EF são os dípteros1 (grupo que engloba as moscas e os 
mosquitos), além dos coleópteros (besouros em geral), em um 
plano secundário. Dentre os dípteros, os que mais se destacam às 
vistas em locais de crime são as moscas da família Calliphoridae, 
que possuem um colorido metálico azul ou verde, as famosas 
moscas-varejeiras. Além delas, há também as moscas da família 
Muscidae,que inclui a mosca doméstica, e as moscas da família 
Sarcophagidae – um nome bastante sugestivo – representadas 
por animais com o dorso cinza e faixas longitudinais pretas, 
além de abdome em padrão xadrez de tons similares ao dorso.
De maneira geral, fêmeas adultas colocam ovos sobre o 
cadáver, preferencialmente nos orifícios naturais ou em lesões 
provocadas por ações violentas. Os “vermes” nada mais são 
que formas larvais, um estágio ainda imaturo, que apresentam 
movimentação vermiforme e que são os responsáveis por obter 
o máximo de energia do corpo putrescente para seguir o ciclo 
até a vida adulta, passando antes pela fase de pupa, afastada da 
A Entomologia Forense como Ferramenta para Locais de Crime no Rio 
Grande do Sul
Silva, Evandro Gomesa
Seção de Levantamento de Locais, Departamento de Criminalística, Instituto Geral de Perícias, Secreta-
ria da Segurança Pública, Porto Alegre/RS
14
carcaça (fi gura 1). Essa mudança relativamente rápida e intensa 
de forma, estrutura e hábitos que ocorre durante o ciclo de vida 
é conhecida como metamorfose. 
3. No Mundo, Brasil e Rio Grande do Sul
No mundo, principalmente em alguns países desenvolvidos 
da Europa, da América do Norte e Japão, já há metodologias 
estabelecidas, dados abrangentes e fi dedignos, além de pessoal 
habilitado para lidar com ocorrências que envolvam EF, o que 
permite o largo emprego de tal conhecimento como ferramenta 
na elucidação de casos que envolvam morte violenta. No Brasil, 
como um todo, a aplicação da EF ainda é incipiente, apesar de 
importantes avanços feitos por grupos de pesquisa acadêmica 
(com carcaças de animais em sua maioria), alguns poucos ligados 
às instituições de segurança pública. No Rio Grande do Sul, de 
forma geral, é quase inexistente, apesar do enorme potencial de 
recursos humanos e ambientais para seu pleno estudo/desen-
volvimento, o que resulta no não aproveitamento de maneira 
satisfatória, pela escassez de uma base de dados confi áveis e 
pelo não treinamento de seus agentes, desse tipo de vestígio.
Diversos fatores bióticos e abióticos infl uenciam a presença 
e o ciclo de vida dos insetos que freqüentam carcaças em putre-
fação, além do próprio processo de decomposição cadavérica. 
Podemos citar: a riqueza/diversidade da entomofauna local, a 
espécie animal a qual pertence a carcaça, o clima de um modo 
geral, as características físicas do local onde ocorre tal intera-
ção, a distribuição das chuvas, fotoperíodo e, principalmente, a 
temperatura3. Em razão desses fatores, não podemos extrapolar 
diretamente a base de dados, os estudos e as análises que são 
realizadas nos países mais desenvolvidos para o nosso país tro-
pical. Também há outras difi culdades no caso do Brasil, onde 
encontramos enormes diferenças decorrentes das dimensões 
continentais que existem aqui. Particularmente, no Rio Grande 
do Sul, em função basicamente da latitude, há uma enorme 
variação sazonal nos fatores que infl uenciam diretamente a pre-
sença e o ciclo de vida das espécies de interesse forense, o que 
torna complexa e imprecisa a utilização dos dados de locais do 
Brasil onde a EF está mais desenvolvida. É possível que nossos 
achados tenham mais em comum com os trabalhos realizados 
no Chile, Uruguai e na Argentina, do que com o restante do 
Brasil. Dentro do próprio Estado existem algumas diferenças 
consideráveis. As fi guras com mapas a seguir exemplifi cam.
4. Aplicações
A aplicação clássica da EF é avaliar o chamado intervalo post 
mortem (IPM), que nada mais é do que estimar quando a morte 
ocorreu. Dado cuja importância tantas vezes se faz necessária, 
exigindo uma aproximação tão exata quanto possível. Sem 
dúvidas, um dos assuntos mais complexos da Medicina Legal4. 
Apesar dos fenômenos cadavéricos, mesmo quando estudados 
associados, levarem a um valor aproximado, indicando com 
pouca e relativa precisão uma “janela” para o IPM, grandes 
margens de erro nas estimativas são assumidas conforme 
avança o processo putrescente. Assim, a metodologia usual de 
cronotanagnose pode induzir a erros de estimativa nesses casos. 
As técnicas entomológicas têm potencial de avaliar com maior 
precisão o IPM em casos de longos lapsos temporais, agregando 
mais peso à prova pericial, onde outros vestígios, no mais das 
Figura 1 – Representação geral do ciclo de vida de mosca da família Calliphoridae, mais 
conhecida como mosca-varejeira
Figura 2 – Precipitação média anual no RS. Fonte: SEMC – Atlas Eólico do Rio 
Grande do Sul – 2002. Elaboração SCP/DEPLAN 05/2004
15
vezes, acabam diluídos pelo tempo e não permitem estimativas 
com acurácia.
O corpo humano em decomposição, enquanto ponto de 
convergência da investigação criminal, atrai um conjunto fau-
nístico interessado em utilizá-lo como fonte de recursos. Nesse 
caso, o fascinante ciclo vital que move a reciclagem de matéria 
possui um elo que pode ser usado como um tipo de relógio 
biológico para estimar o IPM. Uma vez que o estudo do desen-
volvimento do ciclo de vida da entomofauna cadavérica mostra 
uma sucessão de fases (fi gura 1), cada qual transcorrendo em 
um tempo determinado, não só em função da espécie biológica 
em estudo, mas também pelas condições biogeoclimáticas da 
região pesquisada, o tempo que progride após a morte pode ser, 
pelos mesmos critérios e precisão, determinado.
Logo, uma base de dados abrangente da biologia das es-
pécies de interesse forense que ocorrem em determinado local, 
durante as diferentes estações do ano, nas diversas paisagens do 
Estado, entre outras variáveis, seria requerida para possibilitar 
tais inferências. No Rio de Janeiro, por exemplo, assume-se que 
no primeiro dia da morte já ocorre ocupação do corpo por ento-
mofauna cadavérica1. Durante os dias frios do rigoroso inverno 
gaúcho, por experiência própria dos Peritos que atendem locais 
de morte, sabe-se que podem transcorrer dias sem que nenhum 
representante de EF se “atreva” a colonizar o corpo. São bases 
informativas diferentes.
A obra de Oliveira-Costa e colaboradores, a única do gê-
nero no país, traz um apanhado de alguns usos práticos da EF, 
em casos particulares, que vão desde a identifi cação do morto 
por técnicas de DNA da vítima extraído dos insetos, passando 
pela forma como ocorreu a morte pela análise toxicológica das 
larvas ou pupário, pelo local onde teria ocorrido a morte, visto 
que algumas espécies são endêmicas, por identifi car se a morte 
foi violenta, pela análise de contaminantes de chumbo nas larvas 
em torno das feridas. Outras aplicações da EF também seriam 
possíveis, como avaliar a origem de entorpecentes (maconha) 
pela identifi cação dos insetos que são prensados junto com a 
droga e indicariam a área de cultivo, pelo efeito de endemismo, 
além de maus-tratos a crianças e incapazes pela verifi cação de 
larvas de dípteros encontradas no conteúdo das fraldas, o que 
indicaria um período de ausência de atenção básica e abandono.
5. Perspectivas
Um levantamento preliminar entre os Peritos do IGP 
lotados em Porto Alegre e que atuam em locais de morte ou 
de atentado contra a vida humana mostrou que de 3 a 10% 
dos locais atendidos possuem potencial para a utilização de 
EF como ferramenta prática para descrição e ponderações nos 
trabalhos periciais. No entanto, a inexistência de treinamento e 
estudos basais e confi áveis reprime em parte a possibilidade de 
inferências relativas, já que seria mais um vestígio interessante 
a considerar. Entre nós, a EF já começa a ganhar projeção. 
Ademais, a divulgação dessa ciência no âmbito policial é quase 
inexistente e menos ainda na esfera dos tribunais.
Por outro lado, a EF como um todo começa a se conso-
lidar no país; enquanto algumas unidades da Federação estão 
com estudos mais adiantados, outros Estados estão iniciando 
seus projetos. As pesquisas nesses lugares são conduzidascom 
carcaças de animais, principalmente porcos domésticos. No 
entanto, já se conhece que a colonização do corpo pode ocor-
Figura 3 – Hipsometria (altimetria) do RS. Fonte: EMBRAPA – www.relevobr.cnpm.
embrapa.br. Acesso em: 15/10/2008. Elaboração SEPLAG/DEPLAN – 10/2008
Figura 4 – Temperatura média anual no RS. Fonte: Fonte: SEMC – Atlas Eólico do 
Rio Grande do Sul – 2002. Elaboração SCP/DEPLAN 05/2004
16
rer de maneira diferente, não sendo possível a correlação com 
alguns casos humanos. Visto o potencial exposto no presente 
trabalho, cabe ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul 
investir nesta área. Uma possibilidade existente e singular, além 
de ser pouco dispendiosa, é a criação de uma (ou mais) body farm, 
ou fazenda de corpos, que são locais destinados a deixar por 
conta de todos os fatores naturais a decomposição de corpos 
humanos5. Isso possibilitaria o acompanhamento e estudo in 
loco de todos os fenômenos bióticos e abióticos envolvidos no 
processo de decomposição. Os diferentes órgãos que compõem 
o IGP (além de instituições acadêmicas) poderiam realizar seus 
estudos nas suas áreas de abrangência, fato que geraria uma base 
de dados essencial para ser utilizada no futuro. Peculiaridades 
bioéticas e legais, uma vez observadas, não impedem o trabalho, 
visto que a escassez de dados sobre EF não permite grandes 
conclusões a respeito do tema.
À parte as novas máquinas e dispositivos que surgem 
em nossa área de atuação quase que diariamente, nada foi 
desenvolvido que supere a perspicácia e poder de asso-
ciação de inteligências multifatoriais que o ser humano 
possui. Quando isso vem acompanhado de tecnologia, as 
possibilidades tornam-se imensas, para dissabor daqueles 
que ficam contra a apresentação da verdade. Acreditamos 
que, levando em consideração tudo que foi colocado até 
aqui, os “vermes” rastejantes e moscas-varejeiras possam 
ser vistos de uma forma diferente, mais perspicaz, quando 
os encontrarmos novamente, visto que são geradores de 
abundantes associações.
Referências
1. OLIVEIRA-COSTA J. Entomologia Forense: Quando 
os Insetos são Vestígios. Campinas, SP (2007), Millennium 
Editora.
2. LORD W.D. & STEVENSON J.R. 1986. Directory of 
forensic Entomologists. Def. Pest Mgmt. Info. Anal. Center(eds), 
Washington: Walter Reed Army Medical Center, 42 pp.
3. WALLA R., FRENCHA N. and K.L. MORGANA. 
Effects of Temperature on the Development and Abundance 
of the Sheep Blowfl y Lucilia sericata (Diptera: Calliphoridae). 
Bulletin of Entomological Research (1992), 82:125-131.
4. FRANÇA G. V. Medicina Legal. Rio de Janeiro, RJ (2008) 
8ª Ed. Guanabara Koogan.
5. MERTENS J. Lessons From the Body Farm. Law En-
forcement Technology Volume:30 Issue:6 Dated:June 2003 
Pages:32 to 38. Ronnie Garrett (ed).
Autor
[a] Perito Criminal.
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1. Introdução
Dos métodos de identifi cação forenses, a análise das 
impressões digitais é a técnica mais antiga e melhor conhecida, 
sendo muitas vezes utilizados métodos com reveladores em pó 
para visualização por ser de fácil aplicação, barato e oferecer 
resultados imediatos. Recentemente, em razão do advento 
de procedimentos tecnológicos mais sensíveis e específi cos 
começou-se a usar o seqüenciamento de DNA como método 
auxiliar. As regiões de Short Tandem Repeats (STR), constituídas 
tipicamente de variações de 3 a 7 pares de base, promovem 
um meio efetivo para identifi cação pessoal.
O seqüenciamento pode ser concluído amplifi cando o 
genoma de DNA usando a reação em cadeia de polimerase 
(PCR) (STEIN, 1996).
Segundo Archer et al. (2005), as impressões digitais 
contêm, em concentrações variáveis, ácido palmítico, ácido 
esteárico, ácido tetradecanóico, ácido palmitoleico, ácido olei-
co, escaleno e colesterol. Com o envelhecimento da impressão 
digital ocorre inicialmente um aumento na concentração dos 
ácidos graxos, supostamente devido à quebra dos ésteres e 
triglicerídeos em ácidos graxos, seguido pela diminuição da 
concentração por mecanismos de degradação. O padrão da 
variação da concentração de ácidos graxos saturados e insa-
turados é aumentar, aproximadamente, durante quinze dias e 
depois diminuir, principalmente se forem armazenados fora 
do abrigo da luz.
2. Elementos Técnicos
Os elementos técnicos foram chamados por Francis 
Galton de Minutiae e, pela defi nição de Codeço (1992), são 
Extração de DNA em Impressões Digitais já Reveladas com Carbonato 
de Chumbo II, Óxido de Ferro II e Ninidrina
Luciana Brum Pinheiroa; Paulo Eduardo Raimannb
Seção de Perícias Papiloscópicas, Departamento de Identifi cação, Instituto Geral de Perícias, Secretaria da 
Segurança Pública, Porto Alegre/RS
Resumo
Este trabalho tem como objetivo identifi car se existe DNA na impressão digital após a mesma ser revelada com Carbonato de 
Chumbo II, Óxido de Ferro II e Ninidrina, que são os reagentes químicos mais usados na papiloscopia para revelação de impressão digital.
Essa investigação é de grande relevância para a ciência forense, não apenas como possibilidade de apreensão de novas tecnologias, mas 
também para saber se são práticas e mesmo viáveis para a utilização em campo pelos papiloscopistas que atuam diretamente na cena do crime.
Para que não houvesse prejuízo de evidências, é preciso que se esclareça que foram submetidas ao exame de DNA as impres-
sões latentes coletadas, e que após escaneamento e análise, verifi cou-se que não continham elementos sufi cientes – doze pontos 
característicos – que as tornariam passíveis de confronto, tendo sido descartadas.
Palavras-chave: DNA, LCN, impressão digital, Papiloscopia
Abstract
This work aims to identify whether DNA can be found on a fi ngerprint after its revelation with the ninhydrin, Lead II carbonate 
and iron oxide II, which are chemicals used in papiloscopy for reavealing fi ngerprints.
This research is very relevant to forensic science, not only as a possibility to seize new technologies, but also to know if it is 
practical and feasible for using in the fi eld, by papiloscopists that act directly on the crime scene.
In order to not exist any injury on evidences, it must be cleared that the collected latent prints were submitted to DNA exami-
nation and after scanning and analysis, it was found that they did not contain suffi cient elements – the twelve characteristic points, 
that would qualify for confrontation. Because of this, the possibility was discarded.
Keywords: DNA, LCN, fi ngerprint, Papiloscopia
18
“elementos anatômicos existentes nas cristas papilares, va-
riáveis na sua apresentação”; também baseado em Khedy 
(1968), “são certos acidentes que se encontram nas cristas 
papilares” – ponto, ilhota, cortada, início de linha, fi m de linha, 
bifurcação, confl uência, encerro, duplo encerro, desvio, arpão, 
travessão/emplame e cicatriz, que são elementos adotados 
pelo DI/IGP/RS.
Carlos Khedy, em seus ensinamentos, deixa claro que “os 
Papiloscopistas têm a propriedade de estabelecer a identidade 
de uma impressão digital” (KHEDY, 1968). Não existe um 
método de base científi ca válido para o requerimento de um 
número mínimo de pontos característicos que devem estar 
presentes em duas impressões digitais a fi m de estabelecer 
uma identificação positiva (Comitê Internacional, 1973) 
(OLSEN, 1978).
O desenho digital é a fi gura formada pelas cristas papi-
lares da falange distal, ou seja, o datilograma ou impressão 
digital é a reprodução do desenho digital (KEHDY, 1957), 
visualizado na fi gura 1.
O datilograma é constituído pela impressão das cristas 
papilares da falange distal. Nas linhas impressas encontramos 
os pontos característicos, particularidades morfológicas que 
permitem distinguir, entre si, as impressões digitais e peque-
nas falhas, correspondentes aos poros, aberturas dos canais 
sudoríparos. As linhas impressas do datilograma estãosepa-
radas por intervalos decorrentes dos sulcos interpapilares ou 
intercristais existentes no desenho digital. Temos também a 
classifi cação em tipos e subtipos. Embora os subtipos possam 
ser desdobrados em diversos outros, este sistema de classifi -
cação apresenta-se limitado, de modo que a classifi cação de 
uma impressão digital em tipo, subtipo e outras diferenciações 
existentes não são sufi cientes para a afi rmativa de identidade de 
uma pessoa. Isso ocorre simplesmente porque, sendo o corpo 
humano simétrico, os desenhos digitais também o são, o que 
justifi ca a preferência de ocorrência de determinados tipos e 
subtipos de impressão digital, bem como a sua desobediência 
a métodos estatísticos (ARAÚJO, 1960).
Para a afi rmativa de identidade de uma pessoa recorre-se, 
então, aos pontos característicos que, por serem acidentais nas 
impressões digitais, não obedecem a qualquer simetria. Além 
disso, os pontos característicos são imutáveis e se distribuem 
aleatoriamente em uma impressão digital, sendo passíveis, 
portanto, de análise estatística. A aplicação simultânea da chave 
de classifi cação (tipos fundamentais – identifi cação genérica; 
subtipos – identifi cação específi ca) e a análise dos pontos 
característicos (identifi cação individualizadora) tornaram a 
impressão digital o instrumento mais seguro, simples, barato 
e confi ável de identifi cação humana atualmente em uso (RIO 
GRANDE DO SUL, 2008).
De uma maneira genérica, o procedimento que a perícia 
realiza pode ser sintetizado da seguinte forma: a) o Levanta-
mento Pericial Papiloscópico, que é o conjunto de técnicas e 
procedimentos objetivando a localização, revelação, registro 
e coleta de impressões papilares. Hoje, o Levantamento Pe-
ricial Papiloscópico realizado por Papiloscopistas consiste 
na descrição minuciosa do local, como vias de acesso, modus 
operandi, como se encontra o local, vestígios e indícios, ge-
rando um documento chamado de Auto de Verifi cação do 
Emprego de Violência; b) em seguida se aplica o reagente 
pó ou químico, as impressões latentes são examinadas e o 
Papiloscopista analisa se há pontos sufi cientes para con-
fronto; caso haja, é feita a coleta, acondicionando-as para o 
transporte em suportes próprios para impressões latentes; c) 
após isso, essas impressões são levadas ao laboratório, e em 
seguida são escaneadas e armazenadas na forma de arquivos, 
para segurança das impressões latentes. Caso haja suspeitos, 
sendo indicados por meio de ofício pela autoridade policial, 
é realizado o confronto das impressões coletadas com as 
pertencentes ao suspeito, sendo este o momento em que se 
busca encontrar doze pontos característicos idênticos entre 
as impressões questionadas e a constante de fi chas individuais 
datiloscópicas. Em não havendo suspeitos, a impressão latente 
é submetida ao sistema Automated Fingerprint Identifi cation System 
(AFIS) Criminal (RIO GRANDE DO SUL, 2008).
Quando os fragmentos papiloscópicos coletados são 
submetidos à pesquisa no AFIS, o sistema pode reconhecer, 
por pontos de similaridade, que o fragmento questionado 
converge para a imagem da impressão digital de algum dedo 
da fi cha individual datiloscópica civil ou criminal que possui 
um número identifi cador, pertencente a alguém. Nesse caso, 
confronta-se o fragmento questionado (fi gura 2) com a ima-
gem da impressão digital do dedo aposta na fi cha individual 
datiloscópica (fi gura 3) do Registro Geral (RG) e verifi ca-se 
Figura 1 – Foto de uma impressão digital antes da coleta (Manual Técnico de Datilosco-
pia, IIFP, RJ, 2002)
19
se os mesmos apresentam pontos característicos coincidentes, 
em número sufi ciente para tornar inequívoca a constatação 
de que se trata da mesma impressão digital (RIO GRANDE 
DO SUL, 2008)
3. Short Tandem Repeats (STR)
Marcadores short tandem repeats (STR) são regiões do DNA 
com seqüências que se repetem em tandem de tamanho de 2 a 
5 pares de base (HAMMOND et al., 1994). São regiões alta-
mente polimórfi cas e capazes de gerar genótipos de amostras 
com pouco material através das amplifi cações multiplex, isto é, 
várias regiões de STRs sendo amplifi cadas em conjunto, com um 
amplo tamanho de fragmentos de DNA produzidos (amplicons) 
usando a reação em cadeia da polimerase (PCR)(BUTLER et 
al., 2001).
Atualmente, já existe também a técnica de STR no cro-
mossomo Y onde é possível traçar a linhagem paterna de um 
indivíduo, e também um perfi l masculino no caso de análise 
de mistura de perfi s, muito comum em casos de estupro. Há 
também o exame do DNA mitocondrial, um DNA não nuclear, 
presente nestas organelas, que revela a linhagem materna, pois 
é transmitido em sua totalidade pela mãe para toda a sua prole. 
Porém, por estar em haploidia, a hereditariedade não é mende-
liana, não proporcionando um poder de identifi cação individual 
elevado, quando comparado com o dos STRs.
Recentemente, com o uso da técnica dos miniSTRs, que 
utiliza um conjunto primers, permite a obtenção de produtos de 
amplifi cação de tamanhos mais reduzidos, quando comparados 
com os amplicons produzidos pelos STRs de kits comerciais. Isso é 
devido à movimentação dos primers, para que estes fi quem o mais 
próximo possível das regiões de repetição do STR (WIEGAND 
et al., 2001; TSUKADA et al., 2002) para que os fragmentos 
amplifi cados possuam uma gama de tamanhos ideais para um 
determinado multiplex (BUTLER et al., 2003).
Com as modernas tecnologias da PCR é possível detectar 
amostras de DNA mesmo em quantidades muito pequenas, 
como num simples contato cutâneo, no qual se pode transferir 
material sufi ciente de DNA para seqüenciamento STR onde as 
impressões digitais são possíveis fontes de extração de DNA 
para investigações forenses (SCHULZ e REICHERT, 2002).
O desenvolvimento do sistema de múltiplos primers de STR 
permite a amplifi cação simultânea de mais de 10 locus STR em 
um único procedimento e possibilita obter material de qualquer 
fonte biológica (BALOGH et al., 2003).
Em condições de laboratório torna-se mais fácil a extração 
de DNA, uma vez que trabalhando em locais de crime pode ha-
ver contaminação do material coletado, como por exemplo, nas 
impressões digitais de várias pessoas; o DNA pode vir da saliva 
e outras células, mesmo com um simples toque. O método de 
identifi cação de DNA não deve substituir o método clássico do 
sistema Vucetich. Porém, o ideal seria que ambos se complemen-
tassem para que a investigação pudesse proporcionar resultados 
mais seguros e confi áveis (SCHULZ e REICHERT, 2002).
É ponto controverso na literatura se o uso de reveladores 
possa vir a ter efeito negativo na análise de impressão digital. 
A amplifi ção de DNA pode ser realizada no STR autossômico 
e no DNA mitocondrial de indivíduos que tocaram objetos 
independente do tempo de duração do toque. No caso forense 
as impressões digitais não são visíveis, por isso são utilizados 
Figura 2 – Fragmento de impressão digital questionado coletado em vidro móvel de porta 
lateral dianteira direita de um veículo – parte externa
Figura 3 – Polegar direito da Ficha Individual datiloscópica de RG nº. 999999
Figuras retiradas de um Laudo Pericial Papiloscópico, de numeração confi dencial, elaborado pelo Departamento de Identifi cação – Seção de Perícias Papiloscópicas em Veículos – Porto Alegre/RS.
20
reagentes químicos; entretanto, este procedimento pode dimi-
nuir a possibilidade de seqüenciamento de DNA (BALOGH 
et al., 2003).
Quando as impressões digitais são apostas, não somente 
secreções glandulares são depositadas, mas também celulas 
epiteliais fi cam na superfície. Cada célula epitelial contém cerca 
de 5 ng de DNA nuclear que pode ser usado para amplifi cação 
por PCR. O sistema multiplex de STR genotipa múltiplos locus 
usando pequenas quantidades de DNA (aproximadamente 
1ng/μl). A habilidadede extração de DNA por esse método 
é possível até o sexto dia após a aplicação do reagente (YU e 
WALLACE, 2007).
De acordo com os estudos de Lowe et al. (apud PHIPPS 
e PETRICEVIC, 2007), os indivíduos podem ser diferenciados 
por sua tendência em depositar DNA quando em contato com 
algum objeto. Phipps e Petricevic (2007) demonstraram que a 
lavagem das mãos diminui o depósito de DNA na superfície 
tocada. Quanto mais tempo se passar desde a lavagem das mãos 
até o toque no objeto, maior a quantidade de DNA que pode ser 
transferida para o objeto tocado. Além disso, a mão dominante 
transfere, de modo estatisticamente signifi cativo, maior número 
de alelos do que os observados pelo toque da mão não dominan-
te. Outros dados relevantes desta pesquisa mostram que: (1) as 
pessoas depositaram mais DNA das mãos dominantes do que 
não dominantes; (2) uma transferência secundária de DNA é 
possível, mas não provável; (3) a defi nição de Lowe para um bom 
“depositador” de DNA tornou-se inviável para pesquisa e, (4) 
o depósito de DNA por um indivíduo é um assunto complexo 
que depende tanto da característica do próprio DNA quanto das 
atividades realizadas por este indivíduo antes de tocar o objeto.
Demir e Semizoglu (2003) escreveram métodos para pre-
servar as impressões digitais em fi tas adesivas utilizando fontes 
de luzes forenses, cristais de violeta genciana, cianoacrilato e 
outros reveladores. Seus estudos mostraram que o DNA foi 
subseqüentemente extraído, amplifi cado e seqüenciado em 11 
locus de STR. O uso de métodos de purifi cação pós-PCR au-
menta em quatro vezes a intensidade do sinal fl uorescente em 
relação aos produtos não purifi cados. Dentre os métodos de 
purifi cação de PCR pode-se citar o de fi ltração, de membrana 
sílica gel e a hidrólise enzimática de componentes (SMITH e 
BALLANTYNE, 2007), bem como Chelex 100 5% e mem-
brama concentradora Microcom Y M-100 (ZAMIR, COHEN 
e AZOURY, 2006).
4. Técnicas de Revelação de Impressões Latentes
Existem três tipos de impressões papilares: visíveis, mode-
ladas e latentes (ARAÚJO, 2008). Esta pesquisa tem interesse 
nestas últimas, cujas caracterizações serão mais aprofundadas. 
As impressões latentes são aquelas deixadas pelo suor em um 
substrato qualquer, imprimindo-lhe indelevelmente o desenho 
papilar. Tais impressões papilares são as mais comuns em um lo-
cal de delito e a sua revelação só poderá ser efetuada mediante o 
emprego de técnicas adequadas, as quais se dividem em técnicas 
físicas e técnicas químicas. A primeira está atrelada à aderência 
de materiais inertes à parte aquosa das impressões papilares; 
enquanto a segunda está alicerçada na interação química de um 
reagente com componentes específi cos do suor presente nos 
desenhos papilares. Estas técnicas utilizam os reveladores sólidos 
(pós: Carbonato de Chumbo II, Óxido de Ferro II, negro de 
fumo, sudan III, fl or de enxofre, o licopódio e pós magnéticos), 
os reveladores líquidos (drogas e substâncias químicas: solução 
alcoólica de sudan III, solução de ácido pícrico, solução de ácido 
ósmico, ou preparados especiais, como reativo de Weighert e 
outros) e os reveladores gasosos (vapores de substâncias quí-
micas: vapor de iodo, ácido clorídrico, nitrato de prata, éster de 
cianocrilato, ninidrina e análogos). Também não se pode deixar 
de citar as técnicas modernas baseadas em laser.
As impressões latentes são as mais difíceis de serem encon-
tradas em local de crime. Diferentes métodos físicos e químicos 
podem ser usados para visualizar esses tipos de impressões. 
Aplicar várias técnicas e usar mais que um reagente são fatores 
que aumentam a qualidade da impressão digital a ser examinada. 
Contudo, é importante não escolher ou usar o método errado 
que possa prejudicar a aplicação de uma outra técnica que pode 
ser usada depois (CIHANGIROGLU E SAYIGI, 2003).
Para revelação latente, destacam-se como reveladores a 
ninidrina, o Carbonato de Chumbo II e o Óxido de Ferro II. 
A ninidrina foi descoberta em 1910, sendo também chamada 
de “púrpura de Ruhermann”, e seu nome ofi cial é hidrato de 
triketohidrindeno. O seu princípio de atuação é a reação com 
os aminoácidos contidos na impressão latente, sendo que a 
maior parte dos fl uidos corporais (leite, sêmen, suor, sangue, 
etc.) reagem com o composto químico da ninidrina, que após a 
aplicação apresenta uma cor violeta, e geralmente é utilizada em 
superfícies absorventes, porosas e especialmente em papéis. A 
sua composição química é etanol, xileno e ninidrina. O Carbo-
nato de Chumbo II (PbCO3) e o Óxido de Ferro II (FeO) são 
usados como pós reveladores de impressões papilares, pois eles 
aderem às substâncias úmidas deixadas pelas secreções contidas 
nas papilas dérmicas; portanto, sua efi ciência está relacionada 
ao tempo em que a impressão foi produzida, apresentando 
os melhores resultados em impressões recentes, e geralmente 
são utilizados em superfícies lisas, às quais aderem melhor 
(ARAÚJO, 2008).
Para análise dos dados coletados, serão levados em conta 
esses últimos reveladores, porém ressalta-se que há outros 
reagentes como amido black, DFO, microsil entre outros. A 
21
ninidrina é usada mundialmente nos laboratórios de criminologia 
para revelação de impressões digitais em superfícies não porosas. 
Entretanto, um novo reagente, 1,2 – indanediona parece produ-
zir revelação de maior qualidade comparada com os reagentes 
clássicos em superfícies porosas e materiais porosos sensíveis 
ao calor (YU e WALLACE, 2007).
Sabe-se que quanto mais porosa seja a superfície, haverá 
mais aderência celular, com a qual se obtém maior quantidade 
de DNA. Entretanto, para a papiloscopia, quanto menor a po-
rosidade da superfície, mais nítidas são as cristas da impressão 
digital (YU e WALLACE, 2007).
Segundo Stein (1996), o material biológico contendo DNA, 
assim como o sangue e a saliva, não é afetado pelo uso do 
cianoacrilato, violeta genciana, ninidrina e carbonato amórfi co.
A ninidrina reage com os aminoácidos encontrados nos 
resíduos das impressões latentes formando um componente 
violeta, tornando visíveis as cristas em tons avermelhados ou 
marrons (BARBARO et al., 2004).
Na pesquisa de Peuziat e colaboradores (2003) observou-se 
que a ninidrina foi utilizada para analisar a impressão digital em 
superfícies porosas, porém com resultado inferior ao Tetróxido 
de rutênio e o cianoacrilato. Este estudo foi realizado com base 
em cartões magnéticos e notou-se que não houve danifi cações 
dos dados dos cartões pela análise da impressão digital.
O estudo de Cihangiroglu e Sayigi (2003) que analisou a 
revelação de impressões em papel branco, papel fotográfi co e 
madeira, revelou que a ninidrina foi altamente efetiva nos dois 
primeiros e que o pó foi altamente efi ciente nas três superfícies 
tanto nos aspectos de conveniência de aplicação quanto na 
velocidade de revelação.
Payne e colaboradores (2003), ainda ao analisar a revelação 
de impressões com Condor (revelador químico desenvolvido 
nos Estados Unidos), perceberam que as impressões em jornal 
tratado com ninidrina e DFO, e as impressões em papel branco 
e amarelo tratados com ninidrina foram de melhor proveito 
para detecção para o revelador químico; do contrário, muitas 
impressões consideradas difíceis em determinadas superfícies 
puderam ser reveladas com esta técnica. O uso de pincéis de 
aplicação de pós forenses pode ser fonte de contaminação de 
DNA se cuidados de descontaminação não forem providencia-
dos. Segundo Proff et al. (2006), 86% dos pincéis testados em 
seu experimento foram fonte de contaminação com misturas 
de DNA obtidos em várias cenas de crime anteriores.
5. Conclusão
Este trabalho apresenta uma proposta altamente relevante, 
visando uma possível ferramenta alternativa para a elucidação 
de casos forenses nos quais envolvam análise de impressões

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