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Revista do IGP Uma Discussão sobre o Fenômeno ...........3Needle Slap Locais de Crime: Fatores de Riscos e Prevenção..........8 Circunstâncias Juridicamente Relevantes em Perícias de Locais de Crimes contra a Vida e em Armas de Fogo ............................. 23 A Respeito do Número de Pontos Característicos Necessários à Afirmativa de Identidade .....................27 Nº - Janeiro 20114 Mediação de Conflitos Organizacionais .....................30 Perícias e Argumentação – Anotações Preliminares ..31 A Era da Automação na Genética Forense .................34 Papiloscopia: uma Verdadeira Ciência ........................38 Aspectos Técnicos sobre o Dígito Verificador em “Números de Chassi” e outras Informações sobre este Código ........................................................43 Aspectos Gerais e Toxicológicos de Derivados Anfetamínicos com Ênfase no 4-Bromo-2,5-Dimetoxi-Anfetamina (DOB) .................48 Proposta de Novas Figuras Anatômicas (bonecos) para o Departamento Médico-Legal ...........................53 Critérios Quantitativos e Qualitativos acerca de Pontos Característicos do Fragmento Papilar no Confronto Papiloscópico .......................................56 A Entomologia Forense como Ferramenta para Locais de Crime no Rio Grande do Sul .........................13 Extração de DNA em Impressões Digitais já Reveladas com Carbonato de Chumbo II, Óxido de Ferro II e Ninidrina ........................................17 1 O Diretor-Geral do Instituto-Geral de Perícias, Áureo Luiz Figueiredo Martins, ao término de seus 8 anos de gestão agradece aos servidores a colaboração e empenho diante das metas propostas para o crescimento e desenvolvimento do IGP, sendo esta quarta edição da Revista do IGP, criada em 2003, mais uma delas. Ao retirar-se da direção geral do Instituto-Geral de Perícias deixa como legado, em especial, a interiorização do IGP, com ênfase na criação das Coordenadorias Regionais de Perícias, com implantação de Postos de Criminalística e reforço dos Postos Médico-Legal e de Identifi cação; a implantação da carteira de identidade digital, agendamento eletrôni- co e emissão de atestados de antecedentes na internet; a modernização dos sistemas de informática com a implantação do PGP - Protocolo Geral de Perícias, com formatador de laudos e certifi cação digital; a recomposição do efetivo por concurso público, tendo sido nomeados 303 em 2004 e 2005 e 254 novos servidores em 2009 e 2010, totalizando 557; a elaboração de projeto executivo do complexo do IGP em Porto Alegre, no valor orçado em R$ 36.861.403,23, cadastrado no SICONV/SENASP/MJ em 12/07/2010, sob o nº 81.293/2010; a remuneração, com o tratamento isonômico entre servidores do quadro do IGP; o reconhecimento da Lei Britto e do risco de vida e criação da gratifi cação de produtividade pericial por intermédio da lei nº 13.487, de 01/07/2010, regulamentado pelo decreto nº 47.656, de 13/12/2010. Para o Diretor Áureo Martins os pontos fortes do crescimento do Instituto-Geral de Perícias durante a sua gestão concentram-se na interiorização dos serviços periciais, no investimento contínuo em tecnologia, na recomposição do efetivo, no investimento em capacitação para qualifi cação dos laudos periciais, na política de fortalecimento da Perícia Ofi cial Gaúcha com reconhecimento nacional do trabalho pericial do IGP-RS e na ampliação da frota de veículos e criação, em 2004, do Conselho Nacional dos Dirigentes- Gerais de Órgãos Periciais Forenses. Diante da experiência acumulada na trajetória percorrida, o Diretor Áureo Martins também sugere como pontos a melhorar o espaço físico adequado na Capital, a atualização do organograma do IGP, o aumento de recursos humanos, de estrutura física, de funções gratifi cadas e de viaturas nos Postos do Interior e a melhoria dos salários dos servidores, especialmente dos Auxiliares de Perícias. Em sua despedida, o Diretor Áureo Martins salienta que todas essas realizações ape- nas foram possíveis devido à dedicação e zelo de todos os diretores, chefes de divisões e servidores pelos interesses da instituição e também expressa o seguinte desejo: VIDA LONGA PARA A PERÍCIA OFICIAL GAÚCHA! A Direção-Geral Expediente Conselho Editorial Áureo Luiz Figueiredo Martins Eduardo Lima Silva Maria Cristina Bottizzo de Farias Rafael Silva do Nascimento Revisão Gabriela Carvalho Pinto Projeto Gráfi co Raquel Friedrich Diagramação Rafael Silva do Nascimento Jornalista Responsável Eduardo Lima Silva - Registro de Jornalista Profi ssional Diplomado No 9.981 (DRT/RS - Ministério do Trabalho) Formato Digital em arquivo PDF, disponível em http://www.igp.rs.gov.br International Standard Serial Number ISSN 1981-2780 Contato revista@igp.rs.gov.br Governadora do Estado do Rio Grande do Sul Yeda Rorato Crusius Secretário da Justiça e da Segurança Edson de Oliveira Goularte Instituto Geral de Perícias Rua Voluntários da Pátria, 1358 - 3º - Porto Alegre - RS - 90230-010 Diretor-Geral Áureo Luiz Figueiredo Martins Corregedor Velocino Camargo Neto Supervisora Técnica Maria Cristina Bottizzo de Farias Diretor Administrativo Eduardo Lima Silva Departamento de Criminalística Diretora Eliana Sarres Pessoa Departamento de Identifi cação Diretor Guilherme Ferreira Lopes Departamento Médico-Legal Diretora Débora Vargas de Lima Laboratório de Perícias Chefe Viviane Fassina Editorial 3 1. Introdução O exame de vestígios produzidos nos mostradores de escalas do painel de instrumentos teve suas origens nas inves- tigações de acidentes aéreos. A utilização desta metodologia no exame de automóveis em acidentes de trânsito é pouco difundida e utilizada pelos peritos, devido ao desconhecimen- to da metodologia, à carência de laboratórios equipados e à sobrecarga de trabalho. O exame do mostrador de escala de valores do velocíme- tro de veículos participantes em acidentes de trânsito pode ser um método simples e válido na determinação da velocidade de tráfego. Em colisões frontais de grande intensidade poderá ocorrer o fenômeno conhecido como needle slap, no qual o material do ponteiro do velocímetro, no momento do impacto, interage com o material do mostrador de escala, produzindo uma marca que poderá ser vista com ou sem o auxílio de equi- pamento de leitura. Essa metodologia, em alguns casos, poderá ser a única possível para determinar a velocidade do veículo participante do evento. 2. Funcionamento do Velocímetro e Normas Reguladoras Com diferentes materiais, cores e composições, necessá- rios para uma distinção entre o ponteiro e as escalas, o mostrador situado no painel de instrumentos do automóvel, o velocímetro, indica a velocidade do veículo para o condutor. Nesse instru- mento, costuma-se incluir também um hodômetro, que fornece a Uma Discussão sobre o Fenômeno Needle Slap Toresan, Wilson Juniora Departamento de Criminalística, Instituto Geral de Perícias, Secretaria da Justiça e da Segurança, Porto Alegre/RS Resumo O exame do mostrador de escala de valores do velocímetro de veículos participantes em acidentes de trânsito pode ser um método simples e válido na determinação da velocidade de tráfego. Em colisões frontais de grande intensidade poderá ocorrer o fenômeno conhecido como needle slap, no qual o material do ponteiro do velocímetro, no momento do impacto, interage com o material do mostrador de escala, produzindo uma marca que poderá ser vista com ou sem o auxílio de equipamento de leitura. Essa metodologia, em alguns casos, poderá ser a única possível para determinar a velocidade do veículo participante do evento. Casos reais são apresentados para a validação das conclusões. quilometragem percorrida e um indicador de rotações de motor. Atualmente, na maioria dos veículoscomerciais, os tipos de ve- locímetros mais usados são o magnético e o eletrônico (motor de passo). O tipo mais comum de velocímetro é dotado de um ponteiro sobre uma escala circular ou em arco, mas às vezes o indicador é digital. No Brasil, a Norma NBR 7817, da Associação Brasi- leira de Normas Técnicas (ABNT), fi xa as condições exigíveis para a aceitação e o recebimento de indicadores de medidores de velocidade (velocímetros), utilizados em veículos rodoviários automotores. 3. Metodologia Em colisões frontais de grande intensidade ocorrem de- sacelerações em um curto período de tempo. Nesses casos, os ponteiros do painel de instrumentos, que mostram a velocidade do veículo e a rotação do motor, podem interagir com o material constitutivo do mostrador de escala no momento da colisão, registrando a velocidade com que trafegava o veículo. As formas encontradas de registros são: depósito de tinta fl uorescente ou outros tipos de fragmentos de material do pon- teiro, marcas de abrasão (foto 1) e de deformação da superfície do mostrador de escala (foto 2). Esses registros poderão variar de intensidade e morfologia. Em veículos mais antigos poderá ocorrer o acúmulo de pó no material do mostrador de escala, que servirá como base para o registro do contato do ponteiro do velocímetro. 4 Como as variáveis envolvidas nos acidentes de trânsito possuem uma diversidade com elevado grau de complexidade, cada evento produzirá fenômeno como o do mostrador do painel de instrumentos. Como em todas as metodologias forenses, deve-se procu- rar outros vestígios que auxiliem a confi rmar e validar o valor registrado pelo fenômeno needle slap. A comparação entre a ro- tação do motor, a marcha utilizada pelo condutor e a velocidade registrada, e a aplicação dos tradicionais métodos de cálculo de velocidade para comparação dos valores deve ser, também, um objetivo sempre presente nos trabalhos periciais4, 7, 8, 9, 10, 11, 12. A presente metodologia tem sido aceita pelas cortes ame- ricanas e utilizada e divulgada por pesquisadores importantes no cenário internacional de trabalhos em acidentes de trânsito como em relatórios da NTSB2 (National Transportation Safety Board dos Estados Unidos) e pelo renomado especialista em reconstrução de acidentes de trânsito John Daily. 4. Casuística A experiência em realização de perícias em locais de aci- dente de trânsito tem propiciado encontrar o fenômeno needle slap em mostradores de painéis de instrumentos. A seguir apresentamos dois destes casos. Caso 1 Local: rodovia estadual RS 020, no município de Gra- vataí (foto 3). Data e horário: 08/06/2010 às 7 horas da manhã. Veículos: automóvel Chevrolet/Chevette e caminhão Mercedes-Benz (foto 4). Velocidade dos Veículos: – Caminhão Mercedes-Benz: 80 Km/h (análise de disco diagrama). – Automóvel Fiat/Ducato: 78 Km/h (cálculo dimen- sionando as marcas de derrapagem produzidas, yaw marks, ver foto 5, e análise por needle slap, ver foto 2 do item Metodologia). Estudo da dinâmica do evento: os exames periciais rea- lizados indicam que a ocorrência de tráfego se deu quando o caminhão trafegava no sentido Capital-Interior na rodovia estadual RS 020, no quilômetro 14, no Município de Gravataí, e colidiu contra o automóvel Chevrolet/Chevette, que invadiu a contramão de direção. Os setores anteriores dos veículos foram sedes da colisão. Os vestígios encontrados no local nos levam a inferir que o automóvel perdeu a estabilidade ao retornar da contramão de direção para a sua faixa de tráfego, iniciando Foto 1 – Marca de abrasão produzida pelo ponteiro do velocímetro (setas) Foto 2 – Marca de deformação da superfície do mostrador de escala (setas) Foto 3 – Via onde ocorreu o acidente Foto 4 – Veículos envolvidos no acidente de trânsito 5 um movimento de derrapagem e adentrando na contramão de direção novamente. O condutor do caminhão percebeu que o automóvel estava adentrando na contramão e utilizou o sistema de frenagem em localização anterior ao sítio de colisão, localizado na faixa de tráfego de sentido Capital-Interior. Após a colisão, o automóvel teve sua estrutura anterior esmagada ao fi car sob a região anterior do caminhão, que ainda arrastou o automóvel por aproximadamente 28 metros na direção do terreno marginal, localizado à esquerda da pista. Considerações sobre a velocidade do Chevrolet/Chevette: a fi gura 1 – seta (ver item Metodologia) revela que o ponteiro do mostrador de velocidade entrou em contato com o material constituinte das referidas escalas. Destaca-se a nitidez com que o material constituinte das escalas dos mostradores fi cou deformado. Foi possível aplicar outro método para estabelecer um valor comparativo no qual trafegava o veículo, confi rmando o valor estabelecido a partir do fenômeno neelde slap. Caso 2 Local: rodovia federal BR 290, quilômetro 160, no Foto 6 – Vista do quilômetro 160 da rodovia federal BR 290 Foto 10 – Van Kia/Besta Foto 7 – Automóvel Fiat/Ducato Foto 8 - Caminhão Mercedes-Benz Foto 9 – Detalhe do caminhão Mercedes-Benz Foto 5 – Marcas de derrapagem produzidas pelo automóvel 6 município de Arroio dos Ratos (foto 6). Data e horário: 16/01/2010 às 7 horas da manhã. Veículos: automóvel Fiat/Ducato (foto 7), caminhão Mercedes Benz 1938 (foto 8 e 9) e van Kia/Besta (foto 10). Velocidades dos veículos: – Caminhão Mercedes-Benz: 85 Km/h (análise de disco diagrama). – Van Kia/Besta: não determinada. – Automóvel Fiat/Ducato: 85 Km/h (análise por needle slap ver foto 11). Estudo da dinâmica do evento: os veículos caminhão Mercedes-Benz e Kia/Besta trafegavam na mesma direção e o veículo Fiat/Ducato na direção contrária. Os vestígios direcio- nam que a Kia/Besta tenha invadido a contramão de direção, colidindo o seu setor angular anterior esquerdo no setor pos- terior esquerdo do Fiat/Ducato. Devido à colisão, a Kia/Besta teve a sua roda dianteira esquerda fraturada e a desarticulação da ponta de eixo, não conferindo mais dirigibilidade ao veículo, deixando marcas de pneu e sulcagem no asfalto. O Fiat/Duca- to, devido à colisão sofrida próxima ao eixo traseiro esquerdo, saiu da pista, perdeu a dirigibilidade e a estabilidade, e invadiu a pista contrária, indo na direção do caminhão Mercedes-Benz. O caminhão tentou uma manobra evasiva para a direita, invadindo o acostamento, todavia não sendo possível evitar a colisão com o Fiat/Ducato na sua lateral esquerda. Após a colisão, com o movimento dos veículos, o Fiat/Ducato foi projetado para o lado no qual trafegava inicialmente, caindo no barranco ao lado da pista, imobilizando-se apoiado nas árvores. Considerações sobre a velocidade do Fiat/Ducato: a foto 11 revela que os ponteiros dos mostradores de velocidade e de rotações do motor entraram em contato com o material consti- tuinte das referidas escalas. Existe coerência entre a velocidade registrada (85 Km/h) e a rotação do motor (~2.800 RPM) para uma 5a marcha. Destaca-se a nitidez com que o material de cor vermelha dos ponteiros fi cou depositado no material consti- tuinte das escalas dos mostradores. Não foi possível aplicar outro método para estabelecer um valor comparativo no qual trafegava o veículo. 5. Conclusão O exame do mostrador de escala de valores do velocíme- tro de veículos participantes em acidentes de trânsito pode ser um método simples e válido na determinação da velocidade de tráfego. Esta metodologia, em alguns casos, poderá ser a única possível para determinar a velocidade do veículo participante do evento. A presente metodologia tem sido utilizada e divulgada por pesquisadores importantes no cenário internacional na área de acidentes de trânsito, como em relatórios da NTSB2 (National Transportation Safety Board dos Estados Unidos) e pelo renomado especialista em reconstruçãode acidentes de trânsito John Daily. O autor tem a opinião de que nenhuma metodologia deve ser usada sem critérios responsáveis, nem mesmos as mais tradicionais. Cada local de acidente de trânsito possuirá suas características e peculiaridades. Cabe ao perito, conhecedor das metodologias científi cas de reconstrução em acidentes de trânsito, analisar os problemas que lhe apresentam e decidir aplicar ou descartar as possibilidades existentes. Referências 1. NBR 7817. Indicador do Medidor de Velocidade (Ve- locímetro) e Distância (Hodômetro) de Veículos Rodoviários Automotores. ABNT, Mar/83. 2. Highway Accident Report, NTSB/HAR-03/02, PB2003-916202, Notation 7561. Ford Explorer Sport Colli- sion With Ford Windstar Minivan and Jeep Grand Cherokee on Interstate 95/495 Near Largo, Maryland February 1, 2002. NTSB - National Transportation Safety Board, Washington DC. 3. UNDERRIDE NETWORK – Victims First. Disponí- vel em: <http://www.underridenetwork.org/SafetyArticles/ SkidmarksofaDifferentSort/tabid/83/Default.aspx >. Acesso em: 15 março 2010, 16:00. 4. DAILY, John. Investigating the Aggravated Vehicular Homicide Case - A Guide for Wyoming Prosecutors. 5. MCCORMICK, Barnes Warnock and Papadakis, M. P. Aircraft Accident Reconstruction and Litigation. Lawyers & Judges, Third Edition, pg. 201. 6. TORESAN JUNIOR, Wilson. O Registro Permanente do Ponteiro do Velocímetro de Veículos Automotores, após um Evento de Colisão. Disponível em: <http://www.acrigs.com. br/Artigos.htm>. Acesso em: 16 março 2010, 15:10. 7. ________. Metodologias para Cálculos de Velocidades Foto 11 – O fenômeno needle slap no painel de instrumentos do automóvel Fiat/Ducato 7 em Acidentes de Trânsito com Motocicletas. Disponível em: <http://www.acrigs.com.br/Artigos/.pdf>. Acesso em: 16 março 2010, 15:10. 8. TORESAN JUNIOR, Wilson. Cálculo de Velocidade para Veículos Equipados com Sistemas de Freio ABS. Dispo- nível em: <http://www.acrigs.com.br/Artigos/.pdf>. Acesso em: 16 março 2010, 15:10. 9. BAKER, Keneth S., Traffi c Collision Investigation. Northwestern University Traffi c Institute, USA(1990). 10. FRICKE, Lynn B.. Traffi c Accident Reconstruction. Northwestern University Traffi c Institute, USA(1990). 11. NEGRINI NETO, O. e Kleinübing, R.. Dinâmica de Acidentes de Trânsito – Análises, Reconstruções e Prevenção. Millenium Editora, 2ª Edição, Campinas/SP 2006. 12. ARAGÃO, R. F. Acidentes de Trânsito – Aspectos Técnicos e Jurídicos. Millenium Editora, 3ª Edição, Campinas/ SP 2003. Agradecimentos: aos colegas da Equipe de Acidentes de Trânsito do Departamento de Criminalística do IGP/RS. Autor [a] Perito Criminal do Departamento de Criminalística do IGP/RS, Equipe de Acidentes de Trânsito da Seção de Enge- nharia Legal; Engenheiro Mecânico e Doutor em Engenharia. 8 1. Introdução A atividade criminalística, de caráter multidisciplinar e dinâmico, é realizada em qualquer ambiente físico que demande investigação. Ao desempenho da atividade é intrínseco um ele- vado número de agentes de risco físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos nocivos à saúde do profi ssional que labuta nessa área. Por ser realizada nos mais diversos tipos de ambientes e com uma variedade de materiais e objetos de difícil previsão, os levantamentos periciais em locais de crime contra a vida são os que apresentam maiores riscos à integridade física e à saúde destes profi ssionais. A legislação brasileira vigente atribui à Portaria nº 3214/78 do Ministério do Trabalho, contemplada pela Lei Federal nº 6514/77, as regras referentes à segurança e à saúde do trabalha- dor. Porém, de acordo com o item 1.1 da NR-1 desta portaria, os Peritos Criminais, por serem servidores públicos estatutários, não estão sujeitos aos preceitos estabelecidos na referida norma. Caberia ao próprio Estado empregador defi nir medidas de pro- teção em relação aos riscos a que seus servidores estão sujeitos, o que, na prática, não ocorre. Como não há obrigatoriedade legal de cumprimento da Lei nº 6514/77, não são realizados os devidos levantamentos dos riscos existentes nem a elaboração de programas de pre- venção de riscos ambientais, descritos na NR-9. Tampouco há a constituição das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPAs), cujo objetivo é trabalhar para “a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatí- vel permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador.” (BRASIL, 1978, NR-5, item 5.1). Isso implica que os Peritos Criminais tornam-se os únicos responsáveis pela manutenção de sua integridade física no desempenho de sua atividade laboral. O conhecimento dos riscos à que os agentes periciais estão expostos em seu ambiente de trabalho é fundamental para a garantia da saúde destes profi ssionais. Na literatura existente, é grande a gama de materiais que abordam os procedimentos a serem adotados pelos profi ssionais envolvidos em atividades criminalísticas. Porém, em sua quase totalidade, tais procedi- mentos objetivam apenas a parte técnica da ação, suprimindo as informações referentes à segurança laboral. Diante disto, torna-se primordial a realização de estudos sobre o tema da segurança no desempenho desta atividade, de modo a subsidiar os profi ssionais com informações que levem à adoção de atos seguros e que permitam a redução das expo- sições aos agentes de risco, preservando a integridade física e prevenindo os acidentes de trabalho. Neste artigo serão abordados apenas os temas relacionados com a segurança do Perito Criminal no desempenho do traba- lho em locais de crimes praticados contra a vida de pessoas, excluindo-se as atividades de preparação de materiais, desloca- mento da equipe, a execução de exames laboratoriais e os riscos inerentes às atividades de elaboração dos relatórios, que, apesar de importantes, apresentam riscos menores se comparados à atividade de levantamento pericial propriamente dita. 2. Estudo dos Locais de Ocorrência de Crimes Contra a Vida No desempenho de suas funções, o Perito Criminal depara- se constantemente com situações de eminente risco à sua inte- gridade física e também à sua própria vida. Há casos relatados de profi ssionais acometidos por doenças, que sofreram lesões ou vieram a óbito em decorrência da exposição incautelosa a fatores de riscos extremos que muitas vezes são desconhecidos ou negligenciados pelos agentes, afoitos pela elucidação dos casos investigados sob sua responsabilidade. Das atividades desenvolvidas por estes servidores, é im- plícito que as executadas in loco são as que acarretam grande quantidade de agentes de riscos à saúde dos profi ssionais. Destas atividades de campo, as que mais apresentam fontes de riscos aos Peritos Criminais são os denominados levantamentos periciais em sítios de prática de crimes contra a vida, assim conhecidos os locais de ocorrência de morte violenta, como homicídios, suicídios e os ditos acidentes, assim chamados os casos aonde a vítima vem a óbito em decorrência de incêndio, choque elétrico, Locais de Crime: Fatores de Riscos e Prevenção Dürks, Ricardo Tellóa Coordenadoria Regional de Perícias de Passo Fundo, Posto do Departamento de Criminalística, Instituto Geral de Perícias, Secretaria da Segurança Pública, Porto Alegre/RS 9 queda ou asfi xia involuntária. Podem-se considerar também locais de crime contra a vida os de ocorrência de tráfego que resultarem em vítima fatal, haja vista a presunção pelo Código de Trânsito Brasileiro que dessas ocorrências resultou crime de homicídio, de caráter no mínimo culposo. Da análise qualitativa dos locais de crimes contra a vida pode-se defi nir como três os grandes geradores de riscos aos profi ssionais que labutam na área pericial: as característicasdo local analisado, os materiais e objetos passíveis de serem encon- trados e as situações adversas devido a fatores fi siológicos. Cada um destes grupos geradores de riscos foi analisado com base na redação dada pela Portaria nº 3214 da Lei Federal nº 6514/77, estando os resultados obtidos listados nos itens a seguir. 3. Agentes de Riscos Devido às Características do Local Analisado São dois os tipos de ambientes passíveis de serem sítios de investigação pericial: os locais fechados e os abertos, cada qual apresentando agentes de riscos específi cos inerentes às suas características. Os locais fechados caracterizam-se por serem ambientes cobertos e de fácil isolamento, normalmente também de fácil acesso. Nestes locais é possível aos Peritos Criminais depararem- se com a existência de agentes de riscos químicos dispersos pelo ambiente, como poeiras, gases tóxicos e produtos químicos em geral, inclusive venenos, muitas vezes de difícil detecção prévia e classifi cação pelo profi ssional no estudo do local. Há também a possibilidade da existência de agentes de riscos biológicos em decorrência da presença de parasitas como piolhos, pulgas ou outros agentes transmissores de doenças que possam estar ali presentes. Em locais fechados observam-se também grandes quanti- dades de agentes de riscos mecânicos, a maior parte devido às condições estruturais do imóvel em questão, que podem acar- retar desabamento ou quedas de materiais, principalmente em edifi cações antigas, em ambientes de obras civis ou em imóveis incendiados. O risco de explosão e a existência de atmosfera IPVS (imediatamente perigosa à vida e à saúde: locais de alta concentração de contaminantes ou baixo teor de oxigênio) no ambiente devido à presença de gases potencialmente causadores destes fenômenos, apesar de em baixa probabilidade, também existe, assim como há o risco da presença de animais ferozes, peçonhentos ou venenosos que possam vir a atacar os profi s- sionais da área pericial no desempenho de suas atividades. Dentre os locais fechados, os que apresentam uma maior gama de agentes de riscos danosos à saúde dos Peritos Crimi- nais são as edifi cações sinistradas em decorrência de incêndios. Nestes locais sempre se observa a presença de altas temperaturas e agentes químicos como fumos, gases e vapores, e é constante também a presença de objetos potencialmente perigosos como estilhas vítreas, latas com cantos vivos, pregos soltos ou fi xa- dos em porções de madeira espalhadas pelo solo, entre outros materiais cortantes ou pontiagudos. Além destes, os riscos da ocorrência de choques elétricos e do colapso da estrutura em decorrência da diminuição de sua resistência devido à ação do calor são outros fatores de risco iminente à saúde e à integri- dade física dos servidores envolvidos na análise de ambientes incendiados. Os segundos tipos de locais passíveis de ser sede de exame pericial são os ditos locais abertos, que se caracterizam por não possuírem barreiras físicas que impeçam a presença e o assédio de terceiros ao sítio de interesse criminalístico, sendo, nesses casos, de fundamental importância a presença de um número de agentes policiais sufi ciente para fazer a delimitação da área investigada e a contenção dos populares de modo a manter a preservação do local. Estes locais podem ser classifi cados em três tipos diferentes: os ambientes urbanos, os localizados em áreas rurais e as vias de trânsito. Ambientes urbanos apresentam basicamente riscos mecâ- nicos em decorrência da possibilidade da presença de animais ferozes soltos nas cercanias. Em locais situados em áreas rurais há sempre a possibilidade da presença de animais peçonhentos e venenosos, além de riscos relacionados à topografi a do ambiente em análise, uma vez que grande parte deles é de difícil acesso e acabam por obrigar o perito a transitar por trilhas abertas em meio a árvores em áreas de mata, escalar ou descer barrancos, adentrar em áreas alagadas ou até mesmo atravessar cursos de água objetivando a chegada ao local de interesse criminalístico. As vias de tráfego, por sua vez, apresentam como maior risco à integridade física o próprio trânsito de veículos pelo local do fato. Além do risco mecânico de atropelamento, há também o risco da presença de fl uidos explosivos, infl amáveis e por vezes também tóxicos emanados de veículos que estão envolvidos na ocorrência investigada, principalmente quando se tratar de ocorrência de tráfego. A todos os locais abertos é intrínseca a exposição dos Peritos Criminais a agentes de riscos físicos como calor, frio e umidade, decorrentes das condições climáticas e das intempéries, assim como a presença de radiações não-ionizantes proveniente dos raios solares. O trabalho noturno nestes locais, devido à baixa iluminação existente, potencializa a exposição aos riscos ali presentes. Deparar-se com um ambiente hostil é uma possibilidade corriqueira que transforma o perito em alvo de desacatos ou violência física por parte de algum delinqüente, que vê na atuação do profi ssional um risco à sua liberdade. Do mesmo modo, pode ocorrer a exaltação de algum familiar ou pessoa ligada à vítima 10 ao acompanhar o trabalho pericial, pois, no desempenho de sua atividade, é necessário ao perito tomar certas atitudes que nem sempre são compreendidas por quem está emocionalmente envolvido com a vítima, como despir a vítima para proceder à análise perinecroscópica ou executar a movimentação do cadáver para prosseguir com a investigação. 4. Agentes de Riscos Devido a Materiais e Objetos Examinando locais de ocorrência de crimes contra a vida, o Perito Criminal encontra-se constantemente em contato com materiais orgânicos potencialmente fontes de riscos biológicos. Vísceras e outros fl uidos corpóreos emanados da vítima corri- queiramente se espalham por grande parte do local examinado, sendo difícil a não ocorrência do contato direto do profi ssional com estes agentes biológicos. Outra grande fonte de riscos são os objetos cortantes, perfurantes ou perfurocortantes presentes no local do crime, principalmente pregos, facas ou assemelhados e fragmentos vítreos. Além do risco mecânico da produção de ferimentos propriamente ditos, tais objetos se tornam fontes potenciais de riscos biológicos, pois podem estar contaminados com material orgânico da vítima ou com bactérias causadoras de doenças como o tétano. Análises de veículos automotores também acarretam riscos aos peritos, principalmente devido aos agentes químicos decorrentes da presença de óleos lubrifi cantes e combustíveis e dos riscos mecânicos devido à presença de cantos vivos nos diversos componentes constitutivos do veículo e na sua lataria. A presença de armas de fogo em locais de morte também representa grande risco tanto à integridade física dos Peritos Criminais quanto de terceiros que estejam nas imediações do local. É praxe estas armas de fogo encontrarem-se municiadas, muitas vezes estando também armadas e prontas para efetuar disparos, existindo aí um grande risco de ocorrência de um disparo acidental quando do seu manuseio. 5. Riscos Devido a Fatores Fisiológicos Atendimentos a locais de crime contra a vida sempre são realizados em regime de urgência, em caráter de pronto aten- dimento, exigindo do Perito Criminal elevado grau de atenção, observação e disposição física e mental, independentemente do local ou período do dia em que o serviço demanda ser realizado. A execução das atividades periciais traz intrínsecos agentes de riscos ergonômicos potencialmente causadores de estresse e fadiga física aos profi ssionais que labutam nessa área. O desempenho da atividade pericial, pela responsabilidade que lhe é cabida, e a complexidade demandada pelos exames realizados, inferem em elevado e contínuo nívelde atenção e de esforço intelectual e mental pelos Peritos Criminais, o que muitas vezes leva a quadros de estresse. A constante pressão psicológica intrínseca ao grau de res- ponsabilidade exigido, aliada às pressões externas causadas pela necessidade de uma resposta concreta e ágil aos demais órgãos de segurança aos quais a perícia criminal auxilia, e à sociedade em geral ansiosa por justiça, é outra fonte geradora de estresse, assim como a pressão muitas vezes gerada pela possível presença de populares emocionalmente perturbados com os fatos ocorridos nos sítios dos crimes investigados, que podem transformar em hostil o ambiente analisado. Outro potencial gerador de estresse e fadiga física é o regime de trabalho imposto aos Peritos Criminais, realizado em turnos de plantões que exigem do profi ssional disposição para trabalhar em qualquer horário do dia ou da noite e sob qualquer condição atmosférica. Também a própria execução dos trabalhos periciais, por si só, acarreta riscos ergonômicos aos profi ssionais, devido à as- sunção de posições desconfortáveis e de posturas prejudiciais ao organismo, mas necessárias para o bom andamento da atividade. Em situação de desgaste e tendo em vista a grande com- plexidade e a responsabilidade intrínsecas à atividade pericial, o profi ssional acaba muitas vezes canalizando sua atenção apenas à análise do sítio criminalístico, em detrimento da adoção de medidas necessárias à preservação de sua segurança, o que potencializa os riscos de acidentes. 6. Recomendações para a Segurança no Trabalho Pericial O desempenho da atividade pericial criminal de campo, pelos riscos inerentes aos locais e aos objetos citados nos itens anteriores deste trabalho, traz implícita a necessidade da utilização de equipamentos de proteção individuais (EPIs) indispensáveis à segurança pessoal. A constante exposição a fatores de risco, principalmente os de natureza biológica, torna o uso de determinados EPIs obrigatórios em todos os levantamentos realizados. Calçados fechados e macacões de pernas e mangas longas com punhos e tornozeleiras com elásticos são vestimentas de uso essencial em todos os exames realizados em locais de crimes contra a vida, pois os mesmos evitam o contato direto do Perito Criminal com materiais biológicos, além de reduzir a probabilidade da ocorrência de contágio por parasitas. O uso de luvas de procedimentos também é fundamental durante a realização do trabalho pericial pois, além de evitar a destruição de vestígios importantes que possam estar presentes no local (como impressões digitais), protegem o contato das mãos do profi ssional com as fontes de riscos biológicas, sendo 11 também importante no manuseio de substâncias potencialmente tóxicas. No trato com vísceras ou cadáveres em putrefação, é prudente que o profi ssional utilize luvas de PVC, mais espessas e resistentes que as retro citadas. Outrossim, ao preceder a exames periciais, é imprescindível que o Perito Criminal obtenha junto à autoridade policial soli- citante informações sufi cientes sobre as características do sítio criminalístico que possam indicar a possibilidade da existência de agentes de risco. De posse destas informações, o perito dispõe de subsídios para a escolha dos EPIs que serão necessários para o desempenho seguro da sua atividade. As próprias caracterís- ticas dos locais em questão, por si só, já defi nem a necessidade obrigatória da utilização de alguns EPIs. Em locais fechados, a real possibilidade da presença de atmosferas asfi xiantes, poeiras ou gases tóxicos confi nados, por exemplo, demanda a utilização de máscara de adução de ar. Do mesmo modo, a informação sobre a provável presença de gases combustíveis ou infl amáveis no local fornece requisi- tos para que o Perito Criminal tome as precauções necessárias quanto aos procedimentos passíveis de serem executados em ambientes com tal tipo de substância química, permitindo o seguro desempenho da atividade investigativa. Em ambientes onde haja a presença de entulhos é funda- mental a utilização de calçados de segurança fechados, prefe- rencialmente com o uso concomitante de palmilhas de aço ou similares, de modo a evitar a produção de ferimentos nos pés do profi ssional por pregos ou outros materiais perfurantes que podem estar ali presentes. Da mesma maneira, a realização de atividades em locais alagadiços requer o uso de vestimentas e calçados impermeáveis. Em ambientes fechados onde é verifi cada instabilidade estrutural da edifi cação, como em obras civis ou em imóveis sede de incêndio, é necessário fazer uso de capacetes de segu- rança, que protegem a cabeça do agente pericial contra impactos decorrentes da queda de objetos. Em edifi cações cuja estrutura se verifi ca instável, nos tra- balhos em altura ou em atividades desenvolvidas em ambientes externos de relevo acentuadamente íngreme, onde há o risco iminente de queda, é primordial a utilização de corda salva-vidas, equipamento trava-quedas e cinto de segurança. Em edificações incendiadas, a utilização de luvas de amianto também é de grande valia, haja vista que na necessária remoção dos escombros são grandes as chances do contato manual com estes materiais, que podem apresentar-se supera- quecidos. O uso de respiradores purifi cadores de ar, com fi ltro de classe P2, também é recomendado quando se verifi ca grande quantidade de fumaça ou partículas em suspensão no ambiente analisado. Também é de fundamental importância que se consul- te a concessionária de energia elétrica local para verifi car sobre o correto desligamento da eletricidade do imóvel e eliminar a possibilidade de ocorrência de choques elétricos. A execução de levantamentos periciais em ambientes abertos também demanda o uso de EPIs específi cos. Traba- lhos sob condições temporais adversas requerem a utilização de roupas apropriadas, como capa de chuva ou agasalhos. O uso de protetores solares, bonés ou chapéus com abas médias ou largas durante o período diurno é importante para evitar a incidência de raios solares quando em trabalhos a céu aberto. Em ambientes noturnos ou de parca iluminação, a utilização de lanternas potentes ou outros tipos de iluminação artifi cial é essencial não só para facilitar o trabalho pericial como também para auxiliar na segurança dos agentes. A presença do Perito Criminal em vias de trânsito exige o uso de coletes refl exivos, que facilitam a visualização dele pelos motoristas que estão trafegando pela via, principalmente à noite. É importante também que se faça uma boa sinalização do local e se controle o fl uxo de veículos, dessa forma reduzindo a probabilidades da ocorrência de atropelamentos. Além do uso dos EPIs acima citados, a atenção contínua ao ambiente e adoção de procedimentos simples também resultam em reduções signifi cativa dos riscos de acidentes que podem acometer os Peritos Criminais no desempenho de suas atividades. As movimentações realizadas devem ser efetuadas sempre com cautela. Em ambientes urbanos, a grande preocupação é com os esbarrões em objetos presentes no local. Em ambientes rurais, o deslocamento e as mudanças de nível acarretam em elevado risco de queda, sendo necessário que o perito sempre busque pontos de apoio devidamente resistentes e seguros antes da efetiva realização de tal ação. Também a presença inesperada de animais ferozes, peço- nhentos ou venenosos em ação de ataque aos Peritos Criminais pode ser evitada com a observação contínua das proximidades. Quando o local apresentar grande risco da presença destes tipos de animais, torna-se primordial a utilização de perneiras ou caneleiras que protejam o profi ssional de ataques aos seus membros inferiores. Quando há a necessidade de manusear objetos potencial- mente fontes de risco, sempre se deve tero máximo de cautela. No trato com materiais cortantes ou perfurantes, é indicado o uso de luvas de PVC, preferencialmente as com forração de malha, que apresentam maior resistência mecânica. Também, o conhecimento das principais armas de fogo passíveis de serem encontradas nos locais examinados, principalmente no tocante aos seus mecanismos de desarme e desmuniciamento, é essencial para a manutenção da segurança não só do Perito Criminal, mas de todos aqueles que se encontram no local onde este instrumento esteja presente. É importante também que o perito nunca compareça 12 sozinho ao local de interesse criminalístico, de modo a reduzir as chances de sofrer assédio violento por parte de terceiros, que podem trazer risco à integridade física do profi ssional. Em ambientes que potencialmente podem apresentar tal situação, é indispensável, além da presença de outros agentes policiais em número sufi ciente para garantir a segurança dos Peritos Criminais, o uso de coletes abalísticos com, no mínimo, nível II de proteção, além do porte de pelo menos uma arma de fogo para defesa pessoal. Apesar disso, torna-se fundamental que o Perito Criminal esteja ciente dos riscos aos quais está sujeito no desempenho de sua atividade, pois cabe a ele fazer a opção de não assumi- los caso verifi que que, mesmo com a adoção das medidas de segurança à sua disposição, ainda se sinta exposto à situação de risco iminente à sua vida ou à sua integridade física. Para isso, é importante que a refl exão e a discussão dos aspectos relaciona- dos à segurança no trabalho tornem-se uma prática contínua no dia a dia dos profi ssionais ligados à área pericial, sendo da mesma forma essencial a abordagem deste tema desde a formação do profi ssional nos cursos ministrados nas Academias de Polícia ou escolas assemelhadas. 7. Considerações Finais Através da pesquisa realizada, pôde-se constatar que o trabalho pericial desenvolvido em locais de crimes contra a vida envolve uma elevada gama de riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e mecânicos potencialmente causa- dores de danos à saúde e à integridade física dos profi ssionais que desempenham esta atividade. A identifi cação destes riscos através da delimitação dos ambientes, objetos e situações passíveis de serem encontradas pelos Peritos Criminais no desempenho de suas funções possibilitou a defi nição de procedimentos que podem ser adotados pelos profi ssionais e de EPIs necessários para a execução segura da atividade demandada. Como praticamente inexistem trabalhos que abordem a questão da segurança do trabalhador no desempenho da ativi- dade pericial criminal, são amplas as opções de estudos futuros a serem desenvolvidos sobre o tema. Além da questão dos riscos inerentes ao desempenho dos levantamentos periciais em locais de crimes contra a vida, que contemplam a maior gama de agentes de riscos dentre todas as atividades criminalísticas desenvolvidas, é interessante a pesquisa de riscos intrínsecos a outros procedimentos complementares à atividade de campo propriamente dita, como na preparação dos materiais, os decorrentes dos deslocamentos da equipe até o local dos fatos, os exames laboratoriais e as atividades administrativas, de pesquisa e de redação dos laudos periciais. É interessante também o estudo de riscos atrelados às atividades desenvolvidas pelos demais agentes vinculados à área pericial criminal, como os Médicos-legistas, os Auxiliares de Perícia, os Papiloscopistas e os Fotógrafos Criminalísticos. Referências Brasil. Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Ofi cial da União, Brasília, 23 dez. 1977. _____. Portaria nº 3.214, de 08 de junho de 1978, e altera- ções. Aprova as Normas Regulamentadoras – NR – do Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho. Ministério do Trabalho, Brasília, 06 jul. 1978. DOREA, Luiz Eduardo Carvalho; STUMVOLL, Victor Paulo; QUINTELA, Victor. Criminalística. 2. ed. Campinas: Millenium, 2003. (Tratado de Perícias Criminalísticas). ESPINDULA, Alberi. Perícia Criminal e Civil. 2. ed. Campinas: Millenium, 2006. REIS, Albani Borges dos. Metodologia Científi ca e Perí- cia Criminal. Campinas: Millenium, 2003. (Tratado de Perícias Criminalísticas). Autor [a] Engenheiro de Segurança do Trabalho – Perito Crimi- nal. Contato: ricardo-durks@igp.rs.gov.br 13 1. Introdução Os insetos já viviam na Terra antes do aparecimento dos dinossauros. Surgiram há cerca de 350 milhões de anos. Os artrópodes (grupo que engloba os insetos) foram os primeiros animais a colonizar a terra fi rme. Além disso, estima-se que 55% das espécies de seres vivos conhecidos e que 3 de cada 4 das espécies de animais existentes sejam de insetos. Distribuem-se por todo o globo terrestre, exceto nos pólos e oceanos. Toda essa abrangência temporal/espacial permitiu o domínio do planeta em número, biomassa e diversidade. Essas particularidades são demonstração do imenso sucesso evolutivo desse intrigante grupo animal e evidenciam a importância de conhecê-lo melhor em nosso meio. Apesar de toda a relevância biológica, não desfrutam de boa fama entre os Peritos Criminais que trabalham nos locais de crime. Talvez por estarem, os insetos, mormente ligados à imagem de “vermes” rastejantes e moscas-varejeiras sobre ca- dáveres humanos em decomposição e, principalmente, ao odor desagradável. Possivelmente por isso, pelo não treinamento e carência de dados confi áveis, não ocupam lugar de destaque entre os vestígios descritos e considerados nos trabalhos peri- ciais. Por outro lado, há Peritos e pesquisadores que examinam com especial atenção tais achados e admiram com entusiasmo essa interessante fase do ciclo da vida, em que tais animais agem como componentes vitais na seqüência de reciclagem natural de matéria orgânica. A Entomologia (ramo da Zoologia que estuda os insetos) possui uma área que deveria ser mais bem conhecida pelos Peritos Criminais que atuam em locais de crime contra a vida humana. A Entomologia Forense (EF) é a ciência que aplica o estudo dos insetos a procedimentos legais1. Atualmente, vem crescendo o interesse de Peritos, pesquisadores e público em geral pelo assunto, motivados pela natureza científi ca ou pelos seriados televisivos que tratam da temática, de maneira, muitas vezes, fantasiosa. Existem aplicações da EF que não incidem estritamen- te na área criminal/médico-legal, como a EF Urbana (dano por insetos em imóveis, p. ex.) e EF de Produtos Estocados (contaminação por insetos em produtos comerciais, p. ex.)2. O presente trabalho concentra o interesse nas aplicações nas áreas da Criminalística e da Medicina Legal, em que um corpo humano em decomposição pode tornar-se um verdadeiro ecossistema. Diferentes autores trazem como início do uso da Entomologia como ferramenta de apoio à elucidação de crimes um caso acontecido na China, durante o século XIII, no qual uma foice utilizada como arma mortal denunciou o autor do crime ao atrair moscas que buscavam os vestígios remanescentes da vítima no instrumento. 2. Ciclo de Vida Podemos citar de um modo geral, sem avançar nos detalhes que o assunto merece, que os principais freqüentadores de car- caças de animais em decomposição e de valor mais signifi cativo para a EF são os dípteros1 (grupo que engloba as moscas e os mosquitos), além dos coleópteros (besouros em geral), em um plano secundário. Dentre os dípteros, os que mais se destacam às vistas em locais de crime são as moscas da família Calliphoridae, que possuem um colorido metálico azul ou verde, as famosas moscas-varejeiras. Além delas, há também as moscas da família Muscidae,que inclui a mosca doméstica, e as moscas da família Sarcophagidae – um nome bastante sugestivo – representadas por animais com o dorso cinza e faixas longitudinais pretas, além de abdome em padrão xadrez de tons similares ao dorso. De maneira geral, fêmeas adultas colocam ovos sobre o cadáver, preferencialmente nos orifícios naturais ou em lesões provocadas por ações violentas. Os “vermes” nada mais são que formas larvais, um estágio ainda imaturo, que apresentam movimentação vermiforme e que são os responsáveis por obter o máximo de energia do corpo putrescente para seguir o ciclo até a vida adulta, passando antes pela fase de pupa, afastada da A Entomologia Forense como Ferramenta para Locais de Crime no Rio Grande do Sul Silva, Evandro Gomesa Seção de Levantamento de Locais, Departamento de Criminalística, Instituto Geral de Perícias, Secreta- ria da Segurança Pública, Porto Alegre/RS 14 carcaça (fi gura 1). Essa mudança relativamente rápida e intensa de forma, estrutura e hábitos que ocorre durante o ciclo de vida é conhecida como metamorfose. 3. No Mundo, Brasil e Rio Grande do Sul No mundo, principalmente em alguns países desenvolvidos da Europa, da América do Norte e Japão, já há metodologias estabelecidas, dados abrangentes e fi dedignos, além de pessoal habilitado para lidar com ocorrências que envolvam EF, o que permite o largo emprego de tal conhecimento como ferramenta na elucidação de casos que envolvam morte violenta. No Brasil, como um todo, a aplicação da EF ainda é incipiente, apesar de importantes avanços feitos por grupos de pesquisa acadêmica (com carcaças de animais em sua maioria), alguns poucos ligados às instituições de segurança pública. No Rio Grande do Sul, de forma geral, é quase inexistente, apesar do enorme potencial de recursos humanos e ambientais para seu pleno estudo/desen- volvimento, o que resulta no não aproveitamento de maneira satisfatória, pela escassez de uma base de dados confi áveis e pelo não treinamento de seus agentes, desse tipo de vestígio. Diversos fatores bióticos e abióticos infl uenciam a presença e o ciclo de vida dos insetos que freqüentam carcaças em putre- fação, além do próprio processo de decomposição cadavérica. Podemos citar: a riqueza/diversidade da entomofauna local, a espécie animal a qual pertence a carcaça, o clima de um modo geral, as características físicas do local onde ocorre tal intera- ção, a distribuição das chuvas, fotoperíodo e, principalmente, a temperatura3. Em razão desses fatores, não podemos extrapolar diretamente a base de dados, os estudos e as análises que são realizadas nos países mais desenvolvidos para o nosso país tro- pical. Também há outras difi culdades no caso do Brasil, onde encontramos enormes diferenças decorrentes das dimensões continentais que existem aqui. Particularmente, no Rio Grande do Sul, em função basicamente da latitude, há uma enorme variação sazonal nos fatores que infl uenciam diretamente a pre- sença e o ciclo de vida das espécies de interesse forense, o que torna complexa e imprecisa a utilização dos dados de locais do Brasil onde a EF está mais desenvolvida. É possível que nossos achados tenham mais em comum com os trabalhos realizados no Chile, Uruguai e na Argentina, do que com o restante do Brasil. Dentro do próprio Estado existem algumas diferenças consideráveis. As fi guras com mapas a seguir exemplifi cam. 4. Aplicações A aplicação clássica da EF é avaliar o chamado intervalo post mortem (IPM), que nada mais é do que estimar quando a morte ocorreu. Dado cuja importância tantas vezes se faz necessária, exigindo uma aproximação tão exata quanto possível. Sem dúvidas, um dos assuntos mais complexos da Medicina Legal4. Apesar dos fenômenos cadavéricos, mesmo quando estudados associados, levarem a um valor aproximado, indicando com pouca e relativa precisão uma “janela” para o IPM, grandes margens de erro nas estimativas são assumidas conforme avança o processo putrescente. Assim, a metodologia usual de cronotanagnose pode induzir a erros de estimativa nesses casos. As técnicas entomológicas têm potencial de avaliar com maior precisão o IPM em casos de longos lapsos temporais, agregando mais peso à prova pericial, onde outros vestígios, no mais das Figura 1 – Representação geral do ciclo de vida de mosca da família Calliphoridae, mais conhecida como mosca-varejeira Figura 2 – Precipitação média anual no RS. Fonte: SEMC – Atlas Eólico do Rio Grande do Sul – 2002. Elaboração SCP/DEPLAN 05/2004 15 vezes, acabam diluídos pelo tempo e não permitem estimativas com acurácia. O corpo humano em decomposição, enquanto ponto de convergência da investigação criminal, atrai um conjunto fau- nístico interessado em utilizá-lo como fonte de recursos. Nesse caso, o fascinante ciclo vital que move a reciclagem de matéria possui um elo que pode ser usado como um tipo de relógio biológico para estimar o IPM. Uma vez que o estudo do desen- volvimento do ciclo de vida da entomofauna cadavérica mostra uma sucessão de fases (fi gura 1), cada qual transcorrendo em um tempo determinado, não só em função da espécie biológica em estudo, mas também pelas condições biogeoclimáticas da região pesquisada, o tempo que progride após a morte pode ser, pelos mesmos critérios e precisão, determinado. Logo, uma base de dados abrangente da biologia das es- pécies de interesse forense que ocorrem em determinado local, durante as diferentes estações do ano, nas diversas paisagens do Estado, entre outras variáveis, seria requerida para possibilitar tais inferências. No Rio de Janeiro, por exemplo, assume-se que no primeiro dia da morte já ocorre ocupação do corpo por ento- mofauna cadavérica1. Durante os dias frios do rigoroso inverno gaúcho, por experiência própria dos Peritos que atendem locais de morte, sabe-se que podem transcorrer dias sem que nenhum representante de EF se “atreva” a colonizar o corpo. São bases informativas diferentes. A obra de Oliveira-Costa e colaboradores, a única do gê- nero no país, traz um apanhado de alguns usos práticos da EF, em casos particulares, que vão desde a identifi cação do morto por técnicas de DNA da vítima extraído dos insetos, passando pela forma como ocorreu a morte pela análise toxicológica das larvas ou pupário, pelo local onde teria ocorrido a morte, visto que algumas espécies são endêmicas, por identifi car se a morte foi violenta, pela análise de contaminantes de chumbo nas larvas em torno das feridas. Outras aplicações da EF também seriam possíveis, como avaliar a origem de entorpecentes (maconha) pela identifi cação dos insetos que são prensados junto com a droga e indicariam a área de cultivo, pelo efeito de endemismo, além de maus-tratos a crianças e incapazes pela verifi cação de larvas de dípteros encontradas no conteúdo das fraldas, o que indicaria um período de ausência de atenção básica e abandono. 5. Perspectivas Um levantamento preliminar entre os Peritos do IGP lotados em Porto Alegre e que atuam em locais de morte ou de atentado contra a vida humana mostrou que de 3 a 10% dos locais atendidos possuem potencial para a utilização de EF como ferramenta prática para descrição e ponderações nos trabalhos periciais. No entanto, a inexistência de treinamento e estudos basais e confi áveis reprime em parte a possibilidade de inferências relativas, já que seria mais um vestígio interessante a considerar. Entre nós, a EF já começa a ganhar projeção. Ademais, a divulgação dessa ciência no âmbito policial é quase inexistente e menos ainda na esfera dos tribunais. Por outro lado, a EF como um todo começa a se conso- lidar no país; enquanto algumas unidades da Federação estão com estudos mais adiantados, outros Estados estão iniciando seus projetos. As pesquisas nesses lugares são conduzidascom carcaças de animais, principalmente porcos domésticos. No entanto, já se conhece que a colonização do corpo pode ocor- Figura 3 – Hipsometria (altimetria) do RS. Fonte: EMBRAPA – www.relevobr.cnpm. embrapa.br. Acesso em: 15/10/2008. Elaboração SEPLAG/DEPLAN – 10/2008 Figura 4 – Temperatura média anual no RS. Fonte: Fonte: SEMC – Atlas Eólico do Rio Grande do Sul – 2002. Elaboração SCP/DEPLAN 05/2004 16 rer de maneira diferente, não sendo possível a correlação com alguns casos humanos. Visto o potencial exposto no presente trabalho, cabe ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul investir nesta área. Uma possibilidade existente e singular, além de ser pouco dispendiosa, é a criação de uma (ou mais) body farm, ou fazenda de corpos, que são locais destinados a deixar por conta de todos os fatores naturais a decomposição de corpos humanos5. Isso possibilitaria o acompanhamento e estudo in loco de todos os fenômenos bióticos e abióticos envolvidos no processo de decomposição. Os diferentes órgãos que compõem o IGP (além de instituições acadêmicas) poderiam realizar seus estudos nas suas áreas de abrangência, fato que geraria uma base de dados essencial para ser utilizada no futuro. Peculiaridades bioéticas e legais, uma vez observadas, não impedem o trabalho, visto que a escassez de dados sobre EF não permite grandes conclusões a respeito do tema. À parte as novas máquinas e dispositivos que surgem em nossa área de atuação quase que diariamente, nada foi desenvolvido que supere a perspicácia e poder de asso- ciação de inteligências multifatoriais que o ser humano possui. Quando isso vem acompanhado de tecnologia, as possibilidades tornam-se imensas, para dissabor daqueles que ficam contra a apresentação da verdade. Acreditamos que, levando em consideração tudo que foi colocado até aqui, os “vermes” rastejantes e moscas-varejeiras possam ser vistos de uma forma diferente, mais perspicaz, quando os encontrarmos novamente, visto que são geradores de abundantes associações. Referências 1. OLIVEIRA-COSTA J. Entomologia Forense: Quando os Insetos são Vestígios. Campinas, SP (2007), Millennium Editora. 2. LORD W.D. & STEVENSON J.R. 1986. Directory of forensic Entomologists. Def. Pest Mgmt. Info. Anal. Center(eds), Washington: Walter Reed Army Medical Center, 42 pp. 3. WALLA R., FRENCHA N. and K.L. MORGANA. Effects of Temperature on the Development and Abundance of the Sheep Blowfl y Lucilia sericata (Diptera: Calliphoridae). Bulletin of Entomological Research (1992), 82:125-131. 4. FRANÇA G. V. Medicina Legal. Rio de Janeiro, RJ (2008) 8ª Ed. Guanabara Koogan. 5. MERTENS J. Lessons From the Body Farm. Law En- forcement Technology Volume:30 Issue:6 Dated:June 2003 Pages:32 to 38. Ronnie Garrett (ed). Autor [a] Perito Criminal. 17 1. Introdução Dos métodos de identifi cação forenses, a análise das impressões digitais é a técnica mais antiga e melhor conhecida, sendo muitas vezes utilizados métodos com reveladores em pó para visualização por ser de fácil aplicação, barato e oferecer resultados imediatos. Recentemente, em razão do advento de procedimentos tecnológicos mais sensíveis e específi cos começou-se a usar o seqüenciamento de DNA como método auxiliar. As regiões de Short Tandem Repeats (STR), constituídas tipicamente de variações de 3 a 7 pares de base, promovem um meio efetivo para identifi cação pessoal. O seqüenciamento pode ser concluído amplifi cando o genoma de DNA usando a reação em cadeia de polimerase (PCR) (STEIN, 1996). Segundo Archer et al. (2005), as impressões digitais contêm, em concentrações variáveis, ácido palmítico, ácido esteárico, ácido tetradecanóico, ácido palmitoleico, ácido olei- co, escaleno e colesterol. Com o envelhecimento da impressão digital ocorre inicialmente um aumento na concentração dos ácidos graxos, supostamente devido à quebra dos ésteres e triglicerídeos em ácidos graxos, seguido pela diminuição da concentração por mecanismos de degradação. O padrão da variação da concentração de ácidos graxos saturados e insa- turados é aumentar, aproximadamente, durante quinze dias e depois diminuir, principalmente se forem armazenados fora do abrigo da luz. 2. Elementos Técnicos Os elementos técnicos foram chamados por Francis Galton de Minutiae e, pela defi nição de Codeço (1992), são Extração de DNA em Impressões Digitais já Reveladas com Carbonato de Chumbo II, Óxido de Ferro II e Ninidrina Luciana Brum Pinheiroa; Paulo Eduardo Raimannb Seção de Perícias Papiloscópicas, Departamento de Identifi cação, Instituto Geral de Perícias, Secretaria da Segurança Pública, Porto Alegre/RS Resumo Este trabalho tem como objetivo identifi car se existe DNA na impressão digital após a mesma ser revelada com Carbonato de Chumbo II, Óxido de Ferro II e Ninidrina, que são os reagentes químicos mais usados na papiloscopia para revelação de impressão digital. Essa investigação é de grande relevância para a ciência forense, não apenas como possibilidade de apreensão de novas tecnologias, mas também para saber se são práticas e mesmo viáveis para a utilização em campo pelos papiloscopistas que atuam diretamente na cena do crime. Para que não houvesse prejuízo de evidências, é preciso que se esclareça que foram submetidas ao exame de DNA as impres- sões latentes coletadas, e que após escaneamento e análise, verifi cou-se que não continham elementos sufi cientes – doze pontos característicos – que as tornariam passíveis de confronto, tendo sido descartadas. Palavras-chave: DNA, LCN, impressão digital, Papiloscopia Abstract This work aims to identify whether DNA can be found on a fi ngerprint after its revelation with the ninhydrin, Lead II carbonate and iron oxide II, which are chemicals used in papiloscopy for reavealing fi ngerprints. This research is very relevant to forensic science, not only as a possibility to seize new technologies, but also to know if it is practical and feasible for using in the fi eld, by papiloscopists that act directly on the crime scene. In order to not exist any injury on evidences, it must be cleared that the collected latent prints were submitted to DNA exami- nation and after scanning and analysis, it was found that they did not contain suffi cient elements – the twelve characteristic points, that would qualify for confrontation. Because of this, the possibility was discarded. Keywords: DNA, LCN, fi ngerprint, Papiloscopia 18 “elementos anatômicos existentes nas cristas papilares, va- riáveis na sua apresentação”; também baseado em Khedy (1968), “são certos acidentes que se encontram nas cristas papilares” – ponto, ilhota, cortada, início de linha, fi m de linha, bifurcação, confl uência, encerro, duplo encerro, desvio, arpão, travessão/emplame e cicatriz, que são elementos adotados pelo DI/IGP/RS. Carlos Khedy, em seus ensinamentos, deixa claro que “os Papiloscopistas têm a propriedade de estabelecer a identidade de uma impressão digital” (KHEDY, 1968). Não existe um método de base científi ca válido para o requerimento de um número mínimo de pontos característicos que devem estar presentes em duas impressões digitais a fi m de estabelecer uma identificação positiva (Comitê Internacional, 1973) (OLSEN, 1978). O desenho digital é a fi gura formada pelas cristas papi- lares da falange distal, ou seja, o datilograma ou impressão digital é a reprodução do desenho digital (KEHDY, 1957), visualizado na fi gura 1. O datilograma é constituído pela impressão das cristas papilares da falange distal. Nas linhas impressas encontramos os pontos característicos, particularidades morfológicas que permitem distinguir, entre si, as impressões digitais e peque- nas falhas, correspondentes aos poros, aberturas dos canais sudoríparos. As linhas impressas do datilograma estãosepa- radas por intervalos decorrentes dos sulcos interpapilares ou intercristais existentes no desenho digital. Temos também a classifi cação em tipos e subtipos. Embora os subtipos possam ser desdobrados em diversos outros, este sistema de classifi - cação apresenta-se limitado, de modo que a classifi cação de uma impressão digital em tipo, subtipo e outras diferenciações existentes não são sufi cientes para a afi rmativa de identidade de uma pessoa. Isso ocorre simplesmente porque, sendo o corpo humano simétrico, os desenhos digitais também o são, o que justifi ca a preferência de ocorrência de determinados tipos e subtipos de impressão digital, bem como a sua desobediência a métodos estatísticos (ARAÚJO, 1960). Para a afi rmativa de identidade de uma pessoa recorre-se, então, aos pontos característicos que, por serem acidentais nas impressões digitais, não obedecem a qualquer simetria. Além disso, os pontos característicos são imutáveis e se distribuem aleatoriamente em uma impressão digital, sendo passíveis, portanto, de análise estatística. A aplicação simultânea da chave de classifi cação (tipos fundamentais – identifi cação genérica; subtipos – identifi cação específi ca) e a análise dos pontos característicos (identifi cação individualizadora) tornaram a impressão digital o instrumento mais seguro, simples, barato e confi ável de identifi cação humana atualmente em uso (RIO GRANDE DO SUL, 2008). De uma maneira genérica, o procedimento que a perícia realiza pode ser sintetizado da seguinte forma: a) o Levanta- mento Pericial Papiloscópico, que é o conjunto de técnicas e procedimentos objetivando a localização, revelação, registro e coleta de impressões papilares. Hoje, o Levantamento Pe- ricial Papiloscópico realizado por Papiloscopistas consiste na descrição minuciosa do local, como vias de acesso, modus operandi, como se encontra o local, vestígios e indícios, ge- rando um documento chamado de Auto de Verifi cação do Emprego de Violência; b) em seguida se aplica o reagente pó ou químico, as impressões latentes são examinadas e o Papiloscopista analisa se há pontos sufi cientes para con- fronto; caso haja, é feita a coleta, acondicionando-as para o transporte em suportes próprios para impressões latentes; c) após isso, essas impressões são levadas ao laboratório, e em seguida são escaneadas e armazenadas na forma de arquivos, para segurança das impressões latentes. Caso haja suspeitos, sendo indicados por meio de ofício pela autoridade policial, é realizado o confronto das impressões coletadas com as pertencentes ao suspeito, sendo este o momento em que se busca encontrar doze pontos característicos idênticos entre as impressões questionadas e a constante de fi chas individuais datiloscópicas. Em não havendo suspeitos, a impressão latente é submetida ao sistema Automated Fingerprint Identifi cation System (AFIS) Criminal (RIO GRANDE DO SUL, 2008). Quando os fragmentos papiloscópicos coletados são submetidos à pesquisa no AFIS, o sistema pode reconhecer, por pontos de similaridade, que o fragmento questionado converge para a imagem da impressão digital de algum dedo da fi cha individual datiloscópica civil ou criminal que possui um número identifi cador, pertencente a alguém. Nesse caso, confronta-se o fragmento questionado (fi gura 2) com a ima- gem da impressão digital do dedo aposta na fi cha individual datiloscópica (fi gura 3) do Registro Geral (RG) e verifi ca-se Figura 1 – Foto de uma impressão digital antes da coleta (Manual Técnico de Datilosco- pia, IIFP, RJ, 2002) 19 se os mesmos apresentam pontos característicos coincidentes, em número sufi ciente para tornar inequívoca a constatação de que se trata da mesma impressão digital (RIO GRANDE DO SUL, 2008) 3. Short Tandem Repeats (STR) Marcadores short tandem repeats (STR) são regiões do DNA com seqüências que se repetem em tandem de tamanho de 2 a 5 pares de base (HAMMOND et al., 1994). São regiões alta- mente polimórfi cas e capazes de gerar genótipos de amostras com pouco material através das amplifi cações multiplex, isto é, várias regiões de STRs sendo amplifi cadas em conjunto, com um amplo tamanho de fragmentos de DNA produzidos (amplicons) usando a reação em cadeia da polimerase (PCR)(BUTLER et al., 2001). Atualmente, já existe também a técnica de STR no cro- mossomo Y onde é possível traçar a linhagem paterna de um indivíduo, e também um perfi l masculino no caso de análise de mistura de perfi s, muito comum em casos de estupro. Há também o exame do DNA mitocondrial, um DNA não nuclear, presente nestas organelas, que revela a linhagem materna, pois é transmitido em sua totalidade pela mãe para toda a sua prole. Porém, por estar em haploidia, a hereditariedade não é mende- liana, não proporcionando um poder de identifi cação individual elevado, quando comparado com o dos STRs. Recentemente, com o uso da técnica dos miniSTRs, que utiliza um conjunto primers, permite a obtenção de produtos de amplifi cação de tamanhos mais reduzidos, quando comparados com os amplicons produzidos pelos STRs de kits comerciais. Isso é devido à movimentação dos primers, para que estes fi quem o mais próximo possível das regiões de repetição do STR (WIEGAND et al., 2001; TSUKADA et al., 2002) para que os fragmentos amplifi cados possuam uma gama de tamanhos ideais para um determinado multiplex (BUTLER et al., 2003). Com as modernas tecnologias da PCR é possível detectar amostras de DNA mesmo em quantidades muito pequenas, como num simples contato cutâneo, no qual se pode transferir material sufi ciente de DNA para seqüenciamento STR onde as impressões digitais são possíveis fontes de extração de DNA para investigações forenses (SCHULZ e REICHERT, 2002). O desenvolvimento do sistema de múltiplos primers de STR permite a amplifi cação simultânea de mais de 10 locus STR em um único procedimento e possibilita obter material de qualquer fonte biológica (BALOGH et al., 2003). Em condições de laboratório torna-se mais fácil a extração de DNA, uma vez que trabalhando em locais de crime pode ha- ver contaminação do material coletado, como por exemplo, nas impressões digitais de várias pessoas; o DNA pode vir da saliva e outras células, mesmo com um simples toque. O método de identifi cação de DNA não deve substituir o método clássico do sistema Vucetich. Porém, o ideal seria que ambos se complemen- tassem para que a investigação pudesse proporcionar resultados mais seguros e confi áveis (SCHULZ e REICHERT, 2002). É ponto controverso na literatura se o uso de reveladores possa vir a ter efeito negativo na análise de impressão digital. A amplifi ção de DNA pode ser realizada no STR autossômico e no DNA mitocondrial de indivíduos que tocaram objetos independente do tempo de duração do toque. No caso forense as impressões digitais não são visíveis, por isso são utilizados Figura 2 – Fragmento de impressão digital questionado coletado em vidro móvel de porta lateral dianteira direita de um veículo – parte externa Figura 3 – Polegar direito da Ficha Individual datiloscópica de RG nº. 999999 Figuras retiradas de um Laudo Pericial Papiloscópico, de numeração confi dencial, elaborado pelo Departamento de Identifi cação – Seção de Perícias Papiloscópicas em Veículos – Porto Alegre/RS. 20 reagentes químicos; entretanto, este procedimento pode dimi- nuir a possibilidade de seqüenciamento de DNA (BALOGH et al., 2003). Quando as impressões digitais são apostas, não somente secreções glandulares são depositadas, mas também celulas epiteliais fi cam na superfície. Cada célula epitelial contém cerca de 5 ng de DNA nuclear que pode ser usado para amplifi cação por PCR. O sistema multiplex de STR genotipa múltiplos locus usando pequenas quantidades de DNA (aproximadamente 1ng/μl). A habilidadede extração de DNA por esse método é possível até o sexto dia após a aplicação do reagente (YU e WALLACE, 2007). De acordo com os estudos de Lowe et al. (apud PHIPPS e PETRICEVIC, 2007), os indivíduos podem ser diferenciados por sua tendência em depositar DNA quando em contato com algum objeto. Phipps e Petricevic (2007) demonstraram que a lavagem das mãos diminui o depósito de DNA na superfície tocada. Quanto mais tempo se passar desde a lavagem das mãos até o toque no objeto, maior a quantidade de DNA que pode ser transferida para o objeto tocado. Além disso, a mão dominante transfere, de modo estatisticamente signifi cativo, maior número de alelos do que os observados pelo toque da mão não dominan- te. Outros dados relevantes desta pesquisa mostram que: (1) as pessoas depositaram mais DNA das mãos dominantes do que não dominantes; (2) uma transferência secundária de DNA é possível, mas não provável; (3) a defi nição de Lowe para um bom “depositador” de DNA tornou-se inviável para pesquisa e, (4) o depósito de DNA por um indivíduo é um assunto complexo que depende tanto da característica do próprio DNA quanto das atividades realizadas por este indivíduo antes de tocar o objeto. Demir e Semizoglu (2003) escreveram métodos para pre- servar as impressões digitais em fi tas adesivas utilizando fontes de luzes forenses, cristais de violeta genciana, cianoacrilato e outros reveladores. Seus estudos mostraram que o DNA foi subseqüentemente extraído, amplifi cado e seqüenciado em 11 locus de STR. O uso de métodos de purifi cação pós-PCR au- menta em quatro vezes a intensidade do sinal fl uorescente em relação aos produtos não purifi cados. Dentre os métodos de purifi cação de PCR pode-se citar o de fi ltração, de membrana sílica gel e a hidrólise enzimática de componentes (SMITH e BALLANTYNE, 2007), bem como Chelex 100 5% e mem- brama concentradora Microcom Y M-100 (ZAMIR, COHEN e AZOURY, 2006). 4. Técnicas de Revelação de Impressões Latentes Existem três tipos de impressões papilares: visíveis, mode- ladas e latentes (ARAÚJO, 2008). Esta pesquisa tem interesse nestas últimas, cujas caracterizações serão mais aprofundadas. As impressões latentes são aquelas deixadas pelo suor em um substrato qualquer, imprimindo-lhe indelevelmente o desenho papilar. Tais impressões papilares são as mais comuns em um lo- cal de delito e a sua revelação só poderá ser efetuada mediante o emprego de técnicas adequadas, as quais se dividem em técnicas físicas e técnicas químicas. A primeira está atrelada à aderência de materiais inertes à parte aquosa das impressões papilares; enquanto a segunda está alicerçada na interação química de um reagente com componentes específi cos do suor presente nos desenhos papilares. Estas técnicas utilizam os reveladores sólidos (pós: Carbonato de Chumbo II, Óxido de Ferro II, negro de fumo, sudan III, fl or de enxofre, o licopódio e pós magnéticos), os reveladores líquidos (drogas e substâncias químicas: solução alcoólica de sudan III, solução de ácido pícrico, solução de ácido ósmico, ou preparados especiais, como reativo de Weighert e outros) e os reveladores gasosos (vapores de substâncias quí- micas: vapor de iodo, ácido clorídrico, nitrato de prata, éster de cianocrilato, ninidrina e análogos). Também não se pode deixar de citar as técnicas modernas baseadas em laser. As impressões latentes são as mais difíceis de serem encon- tradas em local de crime. Diferentes métodos físicos e químicos podem ser usados para visualizar esses tipos de impressões. Aplicar várias técnicas e usar mais que um reagente são fatores que aumentam a qualidade da impressão digital a ser examinada. Contudo, é importante não escolher ou usar o método errado que possa prejudicar a aplicação de uma outra técnica que pode ser usada depois (CIHANGIROGLU E SAYIGI, 2003). Para revelação latente, destacam-se como reveladores a ninidrina, o Carbonato de Chumbo II e o Óxido de Ferro II. A ninidrina foi descoberta em 1910, sendo também chamada de “púrpura de Ruhermann”, e seu nome ofi cial é hidrato de triketohidrindeno. O seu princípio de atuação é a reação com os aminoácidos contidos na impressão latente, sendo que a maior parte dos fl uidos corporais (leite, sêmen, suor, sangue, etc.) reagem com o composto químico da ninidrina, que após a aplicação apresenta uma cor violeta, e geralmente é utilizada em superfícies absorventes, porosas e especialmente em papéis. A sua composição química é etanol, xileno e ninidrina. O Carbo- nato de Chumbo II (PbCO3) e o Óxido de Ferro II (FeO) são usados como pós reveladores de impressões papilares, pois eles aderem às substâncias úmidas deixadas pelas secreções contidas nas papilas dérmicas; portanto, sua efi ciência está relacionada ao tempo em que a impressão foi produzida, apresentando os melhores resultados em impressões recentes, e geralmente são utilizados em superfícies lisas, às quais aderem melhor (ARAÚJO, 2008). Para análise dos dados coletados, serão levados em conta esses últimos reveladores, porém ressalta-se que há outros reagentes como amido black, DFO, microsil entre outros. A 21 ninidrina é usada mundialmente nos laboratórios de criminologia para revelação de impressões digitais em superfícies não porosas. Entretanto, um novo reagente, 1,2 – indanediona parece produ- zir revelação de maior qualidade comparada com os reagentes clássicos em superfícies porosas e materiais porosos sensíveis ao calor (YU e WALLACE, 2007). Sabe-se que quanto mais porosa seja a superfície, haverá mais aderência celular, com a qual se obtém maior quantidade de DNA. Entretanto, para a papiloscopia, quanto menor a po- rosidade da superfície, mais nítidas são as cristas da impressão digital (YU e WALLACE, 2007). Segundo Stein (1996), o material biológico contendo DNA, assim como o sangue e a saliva, não é afetado pelo uso do cianoacrilato, violeta genciana, ninidrina e carbonato amórfi co. A ninidrina reage com os aminoácidos encontrados nos resíduos das impressões latentes formando um componente violeta, tornando visíveis as cristas em tons avermelhados ou marrons (BARBARO et al., 2004). Na pesquisa de Peuziat e colaboradores (2003) observou-se que a ninidrina foi utilizada para analisar a impressão digital em superfícies porosas, porém com resultado inferior ao Tetróxido de rutênio e o cianoacrilato. Este estudo foi realizado com base em cartões magnéticos e notou-se que não houve danifi cações dos dados dos cartões pela análise da impressão digital. O estudo de Cihangiroglu e Sayigi (2003) que analisou a revelação de impressões em papel branco, papel fotográfi co e madeira, revelou que a ninidrina foi altamente efetiva nos dois primeiros e que o pó foi altamente efi ciente nas três superfícies tanto nos aspectos de conveniência de aplicação quanto na velocidade de revelação. Payne e colaboradores (2003), ainda ao analisar a revelação de impressões com Condor (revelador químico desenvolvido nos Estados Unidos), perceberam que as impressões em jornal tratado com ninidrina e DFO, e as impressões em papel branco e amarelo tratados com ninidrina foram de melhor proveito para detecção para o revelador químico; do contrário, muitas impressões consideradas difíceis em determinadas superfícies puderam ser reveladas com esta técnica. O uso de pincéis de aplicação de pós forenses pode ser fonte de contaminação de DNA se cuidados de descontaminação não forem providencia- dos. Segundo Proff et al. (2006), 86% dos pincéis testados em seu experimento foram fonte de contaminação com misturas de DNA obtidos em várias cenas de crime anteriores. 5. Conclusão Este trabalho apresenta uma proposta altamente relevante, visando uma possível ferramenta alternativa para a elucidação de casos forenses nos quais envolvam análise de impressões
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