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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6
Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
 
 
 
O GÊNERO TEXTUAL CRÕNICA COMO OBJETO DE ESTUDO NO 
ENSINO DE LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA 
 
Sueli Aparecida Dias Rebeschini1 
Orientador: Prof. Dr. Vladimir Moreira2 
 
 
 
1
 Graduada em Letras com Pós-Graduação em “Leitura e Produção de Texto”. Professora da rede de 
ensino público do Paraná. Email: suelirebeschini@hotmail.com 
2
 UEL - Universidade Estadual de Londrina. Email: prof.vladimir@uol.com.br 
 
 
 
RESUMO 
Este artigo tem como título “O gênero textual crônica como objeto de estudo no ensino de leitura e 
produção escrita”. O objetivo é apresentar dados sobre a importância do trabalho em sala de aula 
com os gêneros discursivos textuais, especificamente o gênero textual crônica, partindo do 
conhecimento prévio do aluno, de forma a melhorar e ampliar a sua capacidade de compreensão na 
leitura e aprimorar sua capacidade de produção escrita. Diante da desmotivação dos nossos alunos 
com relação à leitura, apresentamos algumas metodologias que podem contribuir para desenvolver 
em nossos educandos o gosto pela leitura e transformá-los em leitores-sujeitos críticos e atuantes 
nas práticas de letramento da sociedade na qual estão inseridos. A etapa inicial do trabalho foi uma 
sondagem com os alunos do 2º ano do Ensino Médio, para verificação sobre seus hábitos de leitura, 
do conhecimento sobre o gênero crônica e dos autores que foram trabalhados: Fernando Sabino, 
Moacyr Scliar e Luis Fernando Veríssimo. Podemos ressaltar ainda a importância da contextualização 
do gênero em questão: a descrição do contexto de produção, ou seja, a esfera de comunicação em 
que o gênero emerge, o papel social do locutor e do interlocutor, a intenção e o suporte comunicativo. 
Foram privilegiadas atividades que pudessem desenvolver em nossos alunos as habilidades de 
leitura, oralidade, escrita e análise linguística. 
Palavras-chave: Gênero. Texto. Leitura. Crônica 
. 
 
ABSTRACT 
This article is entitled " The Chronic genre as an object of study in teaching reading and writing ." The 
objective is to present data on the importance of work in the classroom with the textual discourse 
genres , specifically chronic genre , starting from the student's prior knowledge , to improve and 
expand its ability to reading comprehension and improve their ability written production . Given the 
motivation of our students about reading , we present some methodologies that can contribute to 
developing in our students a love of reading and turn them into subject - readers and critics active in 
the literacy practices of the society in which they live. The initial stage of the work was a survey with 
students of 2nd year of high school to check on their reading habits , knowledge about gender and 
chronic authors who worked were : Fernando Sabino , MoacyrScliar and Luis Fernando Verissimo . 
We also emphasize the importance of contextualizing the genre in question : the description of the 
context of production , ie the communication sphere in which gender emerges , the social role of the 
speaker and the interlocutor , the intention and communicative support . Activities that could develop 
in our students the skills of reading, speaking , writing and linguistic analysis were privileged. 
Keywords: Genre. Text. Reading. Chronic. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O presente artigo relata os resultados da Produção Didático-Pedagógica, 
material didático elaborado por mim, professora PDE 2013, como estratégias 
metodológicas do meu Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola que foi 
implementado no primeiro semestre de 2014 no Colégio Estadual Presidente Arthur 
da Costa e Silva – Ensino Fundamental e Médio – Cafeara-Pr. 
O desenvolvimento deste trabalho é parte integrante do PDE, (Programa de 
Desenvolvimento Educacional) curso de capacitação destinado aos professores de 
educação básica da rede estadual ofertado pelo governo do Estado do Paraná, 
através da Secretaria de Estado da Educação (SEED), em parceria com Instituições 
de Ensino Superior (IES). Programa de capacitação este que nos possibilitou 
regressar às atividades acadêmicas e rever as nossas práticas pedagógicas por 
meio de estudos teóricos, discussões, reflexões e produções de materiais didáticos, 
além da participação como tutores no GTR (Grupo de Trabalho em Rede) que nos 
proporcionou uma grande aprendizagem, onde socializamos e compartilhamos as 
experiências dos trabalhos realizados com professores não só de Língua 
Portuguesa, mas de outras disciplinas como Educação Física e Arte que deram 
muitas contribuições para o bom desempenho deste trabalho de pesquisa. 
 A leitura sempre foi o grande problema da educação em nosso país. O 
brasileiro não tem por cultura o hábito de ler, e a criança, na maioria das vezes, vai 
para a escola com pouco e, muitas vezes, sem nenhum contato com a leitura, o que 
pressupõe resultados bastante negativos no ensino-aprendizagem não só na 
disciplina de Língua Portuguesa, mas em todas as disciplinas escolares. Isso 
também pressupõe que o incentivo à leitura deve ser um projeto coletivo na escola, 
não só nas aulas de Língua Portuguesa. A leitura auxilia na aquisição de 
conhecimentos novos e são esses conhecimentos que garantem a liberdade de 
raciocínio. 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), na década de 90, já 
apontavam que o ensino de Língua portuguesa fosse pautado pela concepção dos 
gêneros textuais. A partir de 2003, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná 
 
 
(SEED) propôs aos profissionais da educação uma discussão para a elaboração das 
Diretrizes Curriculares Estaduais, defendendo a concepção de língua como discurso 
que se efetiva nas diferentes práticas sociais. O documento baseia-se em teorias 
sociointeracionistas e que a competência linguística de nosso aluno ocorrerá se lhe 
for proporcionado, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o caráter dinâmico dos 
gêneros discursivos. Após ampla discussão entre profissionais em educação, a 
SEED aprovou em 2008, as DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS. 
Há que se reconhecer que a escola, na maioria das vezes, privilegia a leitura 
como mero pretexto para atividades mecânicas e repetitivas, uma leitura 
desmotivada, que não leva em conta o conhecimento prévio do educando, não 
apresenta objetivos de leitura bem definidos, nem tampouco estratégias de leitura 
eficientes e planejadas que possibilitem ao aluno uma aprendizagem concreta. 
Tal realidade escolar tem formado leitores passivos, meros decodificadores 
que não fazem uso efetivo da leitura e escrita nas diferentes esferas sociais. Diante 
deste contexto, devemos rever tais práticas pedagógicas. As DCE definem que: 
“Sob essa perspectiva, o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa visa 
aprimorar os conhecimentos linguísticos e discursivos dos alunos, para que 
eles possam compreender os discursos que o cercam e terem condições de 
interagir com esses discursos. Para isso, é relevante que a língua seja 
percebida como uma arena em que diversas vozes sociais se defrontam, 
manifestando diferentes opiniões." (PARANÁ, 2008, P. 50) 
As DCE Paraná (2008) sugerem ainda que nas aulas de Línguas 
portuguesa, com base na concepção interacionista da linguagem, o professor deve 
atuar como mediador, provocando o aluno a realizar leituras significativas, na qual 
ele seja capaz de enxergar os implícitos, inferindo sentidos e percebendo as reais 
intenções que cada texto traz. Desse modo, o aluno será capaz de se posicionar 
diante do que lê. 
Porém, percebe-se que os alunos chegam ao Ensino Médiocom muita 
dificuldade na identificação, compreensão e produção dos diversos gêneros textuais, 
dentre eles, a crônica. Há que se reconhecer que a escola, na maioria das vezes, 
privilegia a leitura como mero pretexto para atividades mecânicas e repetitivas, uma 
leitura desmotivada, que não leva em conta o conhecimento prévio do educando, 
 
 
não apresenta objetivos de leitura bem definidos, nem tampouco estratégias de 
leituras eficientes e planejadas que possibilitem ao aluno uma aprendizagem 
concreta. 
É preciso reconhecer que a leitura está presente na vida dos jovens. Eles 
estão a todo momento em contato com a leitura nas redes sociais, músicas, filmes, 
blogs, chats, etc. e a fazem com grande prazer, pois se sentem e são sujeitos 
interativos daquilo que estão lendo. 
 De acordo com as DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO 
BÁSICA DO PARANÁ (2008), a leitura deve ser vista como um ato dialógico, 
interlocutivo. O leitor, nesse contexto, tem o papel de interagir durante o processo da 
leitura, e para se efetivar como coprodutor, procura pistas formais, formula 
hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu 
conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência sociocultural. 
Ainda de acordo com as DCE (2008), o professor deve nos momentos de 
leitura propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a 
perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante 
deles. O professor deve também atuar como mediador, dando condições para que o 
aluno atribua sentidos a sua leitura, visando a um sujeito crítico e atuante nas 
práticas de letramento da sociedade. 
Diante de tal contexto, realizamos um projeto de pesquisa escolar a fim de 
adquirirmos um embasamento teórico com relação aos gêneros discursivos, o texto 
e o leitor e especificamente o gênero textual crônica, objeto de estudo desta 
pesquisa. A partir das teorias estudadas, desenvolvemos uma Sequência Didática e 
aplicamos nas aulas de Língua Portuguesa, com alunos do 2º ano do Ensino Médio 
do Colégio Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva - Ensino Fundamental e 
Médio, voltado à construção de um leitor crítico, competente e interativo, além de 
aprimorar sua escrita adquirida em suas práticas de leituras. 
 
 
 
 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
Como fonte de pesquisa, buscamos teorias sociointeracionistas, que nos 
orientassem a elaborar situações e estratégias de leitura e escrita que pudessem 
levar o aluno a se utilizar de seus conhecimentos prévios para a construção do 
sentido do texto. Como pormenoriza Kleiman: 
A compreensão de um texto se caracteriza pela utilização de 
conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o 
conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de 
diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o 
textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido 
do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de 
conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo 
interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o conhecimento prévio do 
leitor não haverá compreensão”. (KLEIMAN,2004,p.13) 
 
A LEITURA E O TEXTO 
 
A escola deve proporcionar aos alunos experiências de leitura que incremente 
o conhecimento de mundo e a competência linguística de nossos alunos e essas 
práticas de leitura não devem ser fragmentadas nem tampouco descontextualizadas. 
Magnani (2001) chama a atenção do problema que acontece nas escolas com 
relação à leitura, onde ela assume apenas as finalidades “utilitárias e imediatistas”, 
ler apenas para resolver exercícios de interpretação, exercícios linguísticos, para 
adquirir modelos de escrita, para trabalhar conteúdos das diversas disciplinas, para 
politizar, sensibilizar, entre outros, porém, todos esses objetivos não devem deixar 
de levar em conta a totalidade do texto. 
Ainda com relação ao problema da leitura de textos na escola, GERALDI 
(2002, p.169) questiona: “Os alunos, leitores e, portanto, interlocutores, leem para 
atender a legitimação social da leitura externamente constituída fora do processo em 
que estão eles, leitores/alunos, engajados. Com que legitimidade são eles 
convocados para essa relação?” 
 
 
Geraldi (2002) salienta ainda que a leitura na escola deve ser uma 
oportunidade de discurso ensino/aprendizagem, um diálogo de sentido acentuado da 
fala conjunta, de um com o outro procurando respostas. 
Koch (2003) afirma que a língua não existe fora dos sujeitos sociais que a 
falam e fora dos eventos discursivos nos quais eles modificam e impulsionam seus 
saberes linguísticos e sociocognitivos, ou seja, seus modelos de mundo. Estes 
modelos, porém, estão sempre sofrendo transformações, eles (re)constroem-se, pois 
a língua evolui tornando-se necessário buscar conhecimentos socialmente 
compartilhados e reconstruídos discursivamente, situar-se dentro do contexto 
histórico para que se possa efetuar os encadeamentos discursivos. 
Para Bakhtin (1981), a leitura de qualquer texto - entendida enquanto ato de 
compreensão ativa - leva o leitor a perceber as vozes que falam no texto, e a que 
formação ideológica elas se vinculam e a que tipos de interesse elas servem. Nessa 
perspectiva, qualquer discurso não é nunca a manifestação de uma só voz, mas um 
conceito polifônico que revela as várias formações discursivas presentes no texto, 
inclusive a do próprio leitor. 
“A leitura não é um ato isolado de um indivíduo diante do escrito do outro 
indivíduo. Implica não só a decodificação de sinais, mas também a compreensão do 
signo linguístico enquanto fenômeno social”. (MAGNANI, 2001.p.49). 
Significa o encontro do leitor com o texto, num determinado contexto social e 
essas relações modificam as histórias de leitura do texto e consequentemente do 
leitor. Do ponto de vista interacionista, a leitura pode ser considerada um processo 
de construção de sentidos, onde o próprio leitor terá uma reação dialógica com o 
texto. Diante disto, cabe ao professor em sala de aula, levar o aluno a perceber os 
sujeitos que existem em cada texto e tomar atitude responsiva diante dele. 
A leitura deve ser um hábito, pois abre espaço para o entender, o aprender e 
a pensar e que leva o aluno à suas próprias produções escritas. 
 
GÊNEROS TEXTUAIS 
 
O gênero textual já é tema de estudos desde a Antiguidade Clássica, porém, 
tomam novo formato ligado às práticas sociais com os estudos de Bakhtin, em que 
 
 
“todos os nossos enunciados se baseiam em formas-padrão e relativamente 
estáveis de estruturação de um todo”. (KOCH, 2003). E essa forma padrão é 
considerada Gênero textual. 
Os gêneros textuais são as diversidades de textos (verbais ou não verbais) 
que encontramos em vários ambientes de discurso da sociedade e tem uma função 
comunicativa. 
Segundo Melo (2009, p.54), “vários são os autores que tratam o texto como 
gênero. A teoria dos gêneros textuais entende que um texto não é apenas uma 
forma, mas uma materialidade que possui função comunicativa”. 
“Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão 
relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os 
modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade 
humana (...). O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada 
uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático e por seu estilo verbal, ou 
seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos 
e gramaticais – mas também, e,sobretudo, por sua construção composicional”.(BAKHTIN, 1992, p.179). 
Para Marcuschi (2002), ”gêneros são formas culturais e cognitivas de ação 
social corporificadas de modo particular na linguagem, ou seja, que para qualquer 
tipo de comunicação verbal ou não verbal nós utilizamos um gênero textual”. 
Assim sendo, toda vez que nos comunicamos, todos nossos enunciados se 
baseiam em uma forma padrão e de forma relativa estáveis de estruturação de um 
todo. 
Koch (2003, p.54) afirma que os gêneros constituem “tipos relativamente 
estáveis de enunciados”, marcados sócio-historicamente, pois estão diretamente 
ligados às diferentes situações e contextos sociais, e que cada uma dessas 
situações determina o gênero com suas características temáticas, composicionais e 
estilísticas próprias. Afirma ainda que “sendo as esferas de utilização da língua 
extremamente heterogêneas, também os gêneros apresentam grande 
heterogeneidade, incluindo desde o diálogo cotidiano à tese cientifica”. 
 
 
Ainda de acordo com Koch (2003), a concepção de gênero de Bakhtin não é 
estática, os gêneros estão sujeitos a mudanças decorrentes das transformações 
sociais e também de modificações do lugar atribuído ao ouvinte. 
Desta forma, em termos bakhtinianos, um gênero pode ser assim 
caracterizado: 
* São tipos de enunciados relativamente estáveis presentes em cada esfera 
de troca: os gêneros possuem uma forma de composição e um plano composicional. 
* Distinguem-se pelo conteúdo temático e pelo estilo. 
* Trata-se de entidades escolhidas tendo em vista as esferas de 
necessidade temática, o conjunto dos participantes e a intenção do locutor. 
 
A CRÔNICA 
 
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi escolhido o gênero textual crônica, 
pois trata de temas do cotidiano, ora trazendo críticas sociais, ora enfocando o 
humor nas situações corriqueiras do homem na sociedade. Candido (1992) afirma 
que: 
“É importante insistir no papel da simplicidade, brevidade e graça próprias 
da crônica. Os professores tendem muitas vezes a incutir nos alunos uma 
ideia falsa de seriedade; uma noção duvidosa de que as coisas sérias são 
graves, pesadas, e que consequentemente a leveza é superficial. Na 
verdade, aprende-se muito quando se diverte, e aqueles traços constitutivos 
da crônica são um veículo privilegiado para mostrar de modo persuasivo 
muita coisa que, divertindo, atrai, inspira e faz amadurecer a nossa visão 
das coisas.” 
 
A palavra “crônica” está ligada etimologicamente ao termo khrónos, deus da 
mitologia grega que representa o tempo, por isso tal gênero textual recebeu este 
nome, por relatar fatos contemporâneos. Assim, a crônica assume o papel de 
registro da realidade social das comunidades humanas. 
Muitos dizem que o início da nossa história literária é inaugurado por uma 
crônica: a carta de Pero Vaz de Caminha, escrita na viagem de Pedro Alvares 
Cabral ao Brasil, na época de seu descobrimento. Carta esta que tinha a missão de 
relatar toda a trajetória dos viajantes e a contar o que se via na viagem e nos lugares 
inóspitos pelos quais passavam. De fato, podemos considerar tal relato como uma 
 
 
crônica histórica. Tal relato já apresentava características da crônica moderna, como 
situações do dia a dia, fatos corriqueiros como vestimentas, costumes dos indígenas 
etc. 
“Na maioria desses autores dos primeiros tempos, a crônica tem um ar de 
aprendizado de uma matéria nova e complicada, pelo grau de heterogeneidade e 
discrepância de seus componentes, exigindo também novos meios linguísticos de 
penetração e organização artística: é que nela afloram em meio ao material do 
passado, herança persistente da sociedade tradicional, as novidades burguesas 
trazidas pelo processo de modernização do país, de que o jornal era um dos 
instrumentos”. (ARRIGUCCI Jr,1987, p.57). 
A crônica é hoje reconhecida como um gênero literário que nasce da prática 
da escritura cotidiana e está estreitamente ligado ao jornalismo, pois foi a partir do 
desenvolvimento da imprensa no Brasil, na metade do século XIX, que ela começou 
a assumir a sua configuração atual. Tal relação entre o jornal e a crônica é exposta 
de forma detalhada pelo escritor Carlos Drummond de Andrade: 
A crônica é fruto do jornal, onde aparece entre notícias efêmeras. Trata-se 
de um gênero literário que se caracteriza por estar perto do dia-a-dia, seja 
nos temas ligados à vida cotidiana, seja na linguagem despojada e coloquial 
do jornalismo. Mais do que isso, surge inesperadamente como um instante 
de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. De 
extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por ir contra as 
tendências fundamentais do meio em que aparece (...). Se a notícia deve 
ser sempre objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a 
linguagem jornalística deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista 
e lírica. Se o jornalista deve ser metódico e claro, o cronista costuma 
escrever pelo método da conversa fiada, do assunto-puxa-assunto, 
estabelecendo uma atmosfera de intimidade com o leitor. 
(DRUMMOND,1999,p.12-15) 
 
Podemos dizer que a crônica é bastante subjetiva na qual o cronista, de 
forma descompromissada, expressa suas ideias sob sua ótica dos acontecimentos 
da sociedade e possui uma linguagem quase despojada e coloquial. Trata sempre 
de temas como política, ética, amor, sexualidade, em que acontecimentos 
aparentemente banais são transformados em questões para grande meditação. 
Em Coutinho (1986), essa atitude “descompromissada” do cronista é 
entendida como uma estratégia discursiva, já que há um tom de conversa 
proporcionando o diálogo com o seu leitor. Ainda que suas opiniões não assumam 
 
 
um caráter de verdades a não serem contestadas, para não afugentar os leitores 
que delas discordam, será a sua habilidade a responsável por fazer o leitor 
assimilar, sem que o perceba, as ideias defendidas. 
 
 
 
RESULTADOS 
 
Para o desenvolvimento deste trabalho foi escolhido o gênero textual crônica 
por serem narrativas do cotidiano, nas quais o autor descreve os eventos de acordo 
com a sua visão crítica dos fatos e, muitas vezes, estabelece um diálogo com o leitor 
por meio de frases a ele dirigidas. Este diálogo pode ser visto como uma estratégia 
discursiva, uma forma de aproximar o leitor e fazê-lo assimilar, sem que perceba, as 
ideias defendidas pelo cronista. Podemos definir também que a escolha por tal 
gênero se deu por serem textos bastante leves, divertidos que atraem e inspiram. 
As crônicas escolhidas foram: A ÚLTIMA CRÔNICA, de Fernando Sabino, 
COBRANÇA, de Moacyr Scliar e a crônica A BOLA de Luis Fernando Veríssimo. 
Todas as atividades foram organizadas em uma Sequência Didática, dividida 
em oito oficinas que desenvolveram atividades de leitura, interpretação oral e 
escrita, análise linguística, estrutura composicional do texto e produção textual. 
No início da implementação do projeto em sala de aula, foi realizada uma 
sondagem sobre o nível de leitura dos alunos, suas preferências, frequência no 
hábito da leitura e percebi que apenas 20% dos alunos têm o hábito frequente de 
leitura, compram livros ou vão à biblioteca da escola ou à Biblioteca Municipal 
pegarem livros para ler. Os que leem eventualmente um livro ou textos de revistas 
ou jornais somaram 30% e 50% dos alunos disseram que leem eventualmente ou 
por obrigação, quando solicitados para realizar um trabalho de pesquisa ou para 
provas escolares. Foi constatado neste momento que teríamos um grande desafio 
pela frente. Apesar de um certo desinteresse dos alunos pela leitura, se mostraram 
bastante animados com o projeto que lhes foi apresentado. 
Nestasondagem, foi constatado também que os alunos que disseram gostar 
de ler, os pais possuem o 2º ou o 3º graus completos, também têm o hábito da 
leitura e possuem um nível sociocultural mais elevado e sempre tiveram contato em 
casa desde crianças com jornais, revistas e livros. 
Ao serem indagados sobre a importância da leitura para a aquisição de novos 
conhecimentos, todos foram unânimes em concordar que a leitura é o único caminho 
para uma aprendizagem concreta e efetiva. 
 
 
Todos os alunos disseram fazer parte de uma rede social e têm o hábito de 
ler e escrever na rede. Ao constatar este fato, criamos um grupo no Facebook para a 
troca de informações, textos, tarefas, avisos e todos participaram ativamente. 
Ainda no início da implementação do projeto, na fase diagnóstica, quando os 
alunos foram perguntados se conheciam o gênero textual crônica, todos disseram já 
ter lido, alguns se lembraram de crônicas conhecidas, mas a maioria não se 
lembrava da sua estrutura, características, veículos de circulação, etc. 
Após trabalhar a parte teórica da definição do gênero crônica, percebemos 
que muitos não compreenderam e só o fizeram após ser trabalhado a crônica de 
Fernando Sabino, “A última crônica”, pois com as atividades de leitura, interpretação 
oral e escrita, estrutura composicional do texto, produção e análise linguística eles 
puderam assimilar melhor as características do texto. 
O trabalho com esta crônica foi bastante tocante, percebemos alguns alunos 
bastante emocionados com o tema e deram vários depoimentos com relação ao 
preconceito e a discriminação, a valorização da família e a desigualdade social muito 
bem retratados na crônica de Sabino. 
Ao se trabalhar a biografia desses três escritores apresentamos um vídeo 
com uma entrevista de Moacyr Scliar e Luis Fernando Veríssimo falando sobre suas 
vidas, como iniciaram suas carreiras como escritores e cronistas e a total influência 
de Fernando Sabino no estilo de ambos. Os alunos gostaram muito de assistir a 
entrevista, passando a conhecê-los melhor, não ficando só na teoria escrita das 
biografias. 
A segunda crônica trabalhada foi “Cobrança”, de Moacyr Scliar. Os alunos 
divertiram-se muito com o elemento surpresa do texto em que o próprio marido era o 
cobrador da esposa e surtiram ótimos debates sobre o consumismo e a 
inadimplência em nosso país. Mais uma vez, demos total ênfase à interpretação oral 
e escrita do texto, análise linguística e estrutura composicional do texto como 
situação inicial, início do conflito, resolução do conflito e volta à situação final. 
A terceira e última crônica apresentada durante o projeto foi “A bola” de Luis 
Fernando Veríssimo, e, mais uma vez, lançamos a questão dos relacionamentos nas 
famílias e como a tecnologia vem tomando o lugar das relações familiares, pois a 
 
 
TV, a Internet, celulares e as redes sociais fazem com que não haja mais diálogo 
nas famílias. 
O resultado desse trabalho foi muito bom, pois a relação entre elas pode ser 
visualizada no exemplo em que a criança ganha uma bola, mas está tão 
acostumada com objetos tecnológicos que aquele simples objeto não mais lhe 
interessa; o pai, por sua vez, quer resgatar o convívio entre pai e filho, sem muito 
sucesso, que vem a ter relação com o ótimo convívio da família da crônica de 
Sabino, a simplicidade daquela família que aparece no bar para comemorar o 
aniversário da filha, o casal sem muita condição financeira de dar presentes, mas 
com uma atenção e amor um pelo outro admiráveis. E ainda mostra a relação 
familiar na crônica “Cobrança” na qual o consumismo exagerado da esposa gera um 
conflito familiar. 
Enfim, todas as questões abordadas nas crônicas são questões diárias que 
muitas pessoas não se dão conta, muitas vezes ignoram e foram muito bem 
discutidas durante o processo de implementação. São situações simples que fazem 
parte do crescimento humano da família, dos valores, da cultura. 
Durante o processo de trabalho com o gênero em questão, além das 
atividades de interpretação oral e escrita, estrutura composicional do texto e análise 
linguística, o trabalho de produção escrita dos alunos foi um momento primordial, 
haja vista que o objetivo deste foi a formação de leitores competentes e escritores 
proficientes. A cada crônica trabalhada foi pedida uma produção. A primeira foi uma 
paráfrase do texto “A última crônica”, a segunda produção escrita foi baseada em 
uma notícia de jornal e a terceira foi tema livre, na qual os alunos buscaram nos 
acontecimentos do seu dia a dia ou a partir de uma percepção de um acontecimento 
que o levasse a uma inspiração para a produção de uma crônica, além de uma 
paródia de uma das três crônicas, trabalhando-se assim, a transposição de gênero. 
Além das produções escritas, os alunos produziram vídeos com as 
encenações das crônicas e gravações cantadas das paródias, valorizando assim, o 
trabalho em grupo, além de desenvolver a expressão e a comunicação. Para a 
correção e posterior reestruturação das produções escritas dos alunos, usamos uma 
tabela de correção. 
 
 
 
CÓDIGO DE CORREÇÃO 
SÍMBOLO EXPLICAÇÃO (SIGNIFICADO) 
RP Repetição desnecessária de informações. Corte o que está em 
excesso. 
[ Faltou fechar o raciocínio / ideia. Complete. 
TC Texto / trecho confuso. Reelabore com mais clareza. 
CC Cópia / colagem. Construa com suas próprias palavras. 
EB Expressão muito batida, desgastada ou preconceituosa. Seja 
mais original. 
IN Incoerência / contradição com ideia(s) anterior(es). Reformule. 
IV Inadequação vocabular. Substitua por outras palavras. 
LP Falta elemento de ligação entre palavras, frases ou parágrafos. 
Reveja. 
EL Uso inadequado de elemento de ligação. Reavalie. 
NP Mudança de assunto. Inicie novo parágrafo. 
 
 
R Repetição da mesma palavra ou expressão. Substitua, corte ou 
reduza. 
[ ] Desnecessário. Corte. 
(?) Falta palavra ou pontuação. Complete. 
P Pontuação inadequada. Corte ou substitua. 
-F Fala de personagem. Comece novo parágrafo e use travessão. 
O Falha de ortografia. Encontre e corrija. 
A Falha de acentuação. Descubra e corrija. 
V Falha de conjugação do verbo: pessoa / número / modo / tempo. 
Ajuste. 
GN Falha na concordância de gênero e/ou número entre as palavras 
numeradas (1,2....). Corrija 
CP Falha na colocação pronominal 
CP Falha de outra natureza. Conversar com o professor. 
P
L
A
N
O
 D
E
 C
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T
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Ú
D
O
 
P
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A
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P
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E
S
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O
 
 
 
 
 
 
A participação no GTR (Grupo de Trabalho em Rede) foi um período de muita 
aprendizagem pela troca de experiências entre os participantes e assim pudemos 
rever a nossa prática pedagógica, aperfeiçoando o que deu certo e corrigindo 
algumas falhas. 
No Grupo de Trabalho em rede que fui tutora, estavam inscritos quinze 
participantes (professores de Língua Portuguesa, de Língua Inglesa, Arte e 
Educação Física) e, destes quinze, doze concluíram o GTR. Os integrantes do grupo 
tiveram uma participação bastante ativa, interagindo constantemente nos fóruns com 
os demais participantes e relatando experiências nos diários que muito contribuíram 
para a realização deste trabalho de pesquisa. 
O primeiro momento do GTR foi apresentar o PROJETO DE INTERVENÇÃO 
PEDAGÓGICA aos participantes para leitura, análise e reflexão. Após essa leitura e 
reflexão, foram socializadas as observações referentes ao projeto de intervenção. 
Estas observações deveriam apontar a pertinência da problemática levantada na 
justificativa do projeto, a relevância dos objetivos elencados, as possibilidades de 
articulação, teórico-prática com o tema proposto,a contribuição deste estudo para a 
Educação Básica, além de refletir e analisar a realidade das escolas dos integrantes 
do grupo, comparando a proposta apresentada no projeto apontando se havia ou 
não situações semelhantes. Vamos relatar algumas observações dos professores no 
Fórum e Diário1. 
 
PROFESSOR A 
“Olá pessoal! 
Este projeto, realmente vem ao encontro das necessidades que a maioria dos 
alunos apresenta com relação a compreensão e reconhecimento dos diversos 
gêneros textuais. Muitos dos nossos alunos não apresentam interesse pela leitura, o 
que desfavorece ainda mais a situação de aprendizagem no que tange à produção 
de texto e criticidade. Os objetivos estão muito bem elencados com o intuito de 
despertar o interesse pela leitura, a compreensão dos diversos gêneros discursivos, 
em especial a crônica. O embasamento teórico está concatenado com a proposta a 
ser desenvolvida. Enfim, o Projeto em questão, bem como a implementação 
 
 
concomitantemente com as estratégias de ação, contribuirão para que os alunos 
possam interagir o conhecimento prévio com o conhecimento sistematizado de 
forma a desenvolver os próprios saberes.” 
 
PROFESSOR B 
“A justificativa da realização deste projeto está muito bem elaborada, pois a 
professora contempla documentos que fazem parte do contexto educacional e que 
direciona para a utilização de diversos gêneros textuais em sala de aula. Entretanto, 
ela percebe que os alunos ainda chegam ao Ensino Médio sem condições de 
compreender os gêneros textuais e contextualizá-los. Ela cita que a escola de certa 
maneira contribui para essa situação, porque muitas vezes a leitura é realizada 
apenas para atividades repetitivas e sem criatividade. 
Por isso, a professora justifica que a realização desse projeto pode contribuir 
para aprendizagem dos alunos, visto que estarão em contato com situações e 
estratégias de leitura e escrita e utilizarão os seus conhecimentos prévios para a 
construção do sentido do texto. 
Os objetivos elencados dão um sentido de um trabalho gradual, em que o 
aluno ao desenvolver as habilidades demonstradas chega ao objetivo específico, 
que é o de desenvolver no aluno o gosto pela leitura e proficiência na escrita, 
trabalhando o gênero crônica. Além disso, ao alcançar esses objetivos o aluno será 
capaz de transformar-se em um leitor-escritor crítico e atuante. 
Acrescento ainda que os objetivos são claros e coerentes e propõe uma 
sequência de ações bem detalhada. E essa é realmente a parte mais interessante. 
Se a professora conseguir atingir esses objetivos, certamente terá alunos motivados 
em sala e, consequentemente, conhecedores do gênero “Crônica”. 
Teoricamente a professora está pautada em contribuições de vários autores 
de livros que tratam sobre a questão da leitura na escola e relaciona que a leitura 
deve ser um hábito, que após concretizado, abre espaço para o entendimento e a 
aprendizagem que levem o aluno a pensar e construir suas próprias produções. 
Portanto, saliento e concordo com as indicações da professora para a 
realização deste trabalho, pois é fato que nossas escolas precisam fazer coisas 
novas que atraiam os alunos para a escola, e que estes, consigam desenvolver sua 
 
 
aprendizagem. A realização deste projeto tem muito a acrescentar para a Educação 
Básica, pois mostrará que um trabalho bem planejado e bem detalhado tem tudo 
para dar certo e servir de exemplo para que pensemos a educação de maneira 
diferenciada e como parte essencial para o desenvolvimento intelectual da nossa 
sociedade.” 
PROFESSOR C 
““Despertar o interesse do estudante pela leitura”. “Apresentar ao aluno o 
mundo novo" que se descortina quando se lê. Conscientizar os estudantes da 
importância da leitura para a construção de vocabulário, fluência de escrita e fala e 
enriquecimento da cultura geral. Desconstruir a ideia, erroneamente difundida aos 
jovens de que ler e escrever é algo pesado, cansativo. Apresentar ao estudante uma 
forma leve de ler e escrever. Mostrar ao público alvo uma literatura que não está 
distante dele e de seus temas cotidianos. Fazer o aluno se reconhecer no texto, 
reconhecer seus amores, suas dores, dissabores, momentos de vida... e assim 
construir uma identidade com o que se está lendo. 
Mostrar aos estudantes das escolas públicas que a literatura está mais perto 
deles do que imaginam. Apresentar para os professores que o start para o gosto e o 
prazer em ler depende muito de como essa prática é apresentada aos alunos. Não 
podemos esperar que o público que tinha como castigo na escola ir até a biblioteca 
ler por obrigação passe a gostar facilmente do hábito de ler. Associar a leitura e a 
escrita com algo prazeroso e fácil será importante para um começo feliz na 
introdução de nossos jovens na prática do ler e escrever. 
Pelo exposto acima, credito que “o gênero textual crônica como objeto de 
estudo no ensino de leitura e produção escrita" seja uma alternativa adequada para 
obtermos sucesso em apresentarmos a Literatura aos alunos e criarmos uma 
identidade entre leitor e obra. A Crônica é, sem dúvida, o gênero literário mais 
indicado para essa tarefa. Os temas abordados por esse gênero farão a ponte entre 
a literatura e os jovens ficar bem mais curta e acessível, e a maneira como ela é 
escrita mostrará ao educando que escrever pode ser leve e prazeroso. Se assim 
acontecer a tarefa estará cumprida, mas acredito mais, acredito que para muitos 
 
 
estudantes será o ponto de partida para a aventura de conhecer outros gêneros 
literários. Para os alunos de Biologia entender a fecundação ele precisa conhecer o 
funcionamento das células. Então por que na Literatura ainda se insiste em começar 
com os Clássicos? Levando-se em conta que a clientela da escola pública, muitas 
vezes, não tem nem o hábito de ler gibis em casa, e por vezes tem pouco referencial 
histórico, como esperar que o mesmo público encare os Clássicos com naturalidade 
e entendimento? E como gostar do que não entendemos? Crônica, venha nos 
ajudar, ajudar nosso público a se interessar pela prática de ler e escrever!!!” 
No segundo momento do GTR os participantes deveriam ler e refletir a 
PRODUÇÃO DICÁTICO-PEDAGÓGICA, para possibilitar a troca de ideias e dos 
fundamentos teóricos e metodológicos. Posteriormente, socializaram no fórum de 
discussões e, no diário, suas observações pertinentes, e relataram seus pareceres 
no Diário. Para isso, seguiram os seguintes questionamentos: 
a) Você a usaria em suas aulas? 
b) Em sua avaliação, o público a que se destina terá facilidade de 
compreensão e aprendizagem usando esta produção? 
c) Em sua percepção, alguma proposta de atividade se destaca entre as 
outras? Qual e por quê? 
Seguem algumas considerações dos participantes no fórum e diário 2: 
PROFESSOR D 
“Olá Professora Sueli! Em reflexão após leitura da Produção Didático-
Pedagógico, observo que vem ao encontro das necessidades do aluno do 2º ano do 
ensino médio, e de total importância ao desenvolvimento do Projeto de Intervenção 
Pedagógica a Leitura. Percebo uma proposta com encaminhamentos metodológicos 
claros, precisos e coerentes à problemática e à abordagem do tema em questão. 
Mesmo não sendo da área de Língua Portuguesa, porém faço uso dela todos os 
dias como milhões de brasileiros o fazem estou encantada com esse Projeto. 
Confesso que fiquei apreensiva quanto a participar tria de decidir por sair da zona de 
 
 
conforto, que o conhecimento já adquirido em Educação Física me proporciona. O 
fato de a nossa Língua Portuguesa ser tão mal tratada pelos seus usuários deve-se 
a vários fatores, mas sem dúvidas a falta de leitura sustenta essa situação. Observoo cuidado evidente quanto ao conhecimento prévio trazido pelo aluno, posicionando 
o professor como mediador entre o já sabido e o ainda não aprendido. Colocaria em 
destaque a aproximação entre escritor/leitor proporcionada ao aluno a partir da 
reflexão em que são evidenciadas também no cotidiano do aluno. Encurtando a 
distância existente entre a realidade vivida e o universo literário, levando o aluno a 
perceber que ele também pode produzir textos de qualidade como expressão do seu 
modo de pensar.” 
 
PROFESSOR E 
“O trabalho desenvolvido pela professora é um material muito bem elaborado 
e que eu usaria com toda a certeza em minhas aulas. Não é da minha área, mas 
poderia adequar algumas atividades para desenvolver em sala a partir do estudo do 
gênero textual escolhido pela professora. Também poderia trabalhar em conjunto 
com a professora de Língua Portuguesa, realizando um trabalho interdisciplinar. 
No meu entendimento o público a que se destina o trabalho terá facilidade de 
compreensão, pois a professora elaborou a metodologia detalhadamente e 
começando de um nível fácil até o nível em que pretende alcançar seus objetivos, ou 
seja, a metodologia parte do conhecimento prévio do aluno até o momento em que 
novos conhecimentos são buscados. 
Eu diria que as propostas estão em uma sequência lógica muito interessante 
e que dessa forma é difícil dizer qual se destaca, porém, o fato da professora propor 
o estudo das crônicas, a leitura e contextualização das mesmas e, ao final fazer uma 
encenação, é um fator que se destaca entre os demais, assim como uma atividade 
escrita no término do estudo. Esta atividade está contemplada na Oficina 4.” 
 
PROFESSOR F 
 
 
“Olá! Em relação à Produção Didático-pedagógica em análise, considero um 
trabalho muito pertinente, pois o gênero e as crônicas escolhidos, certamente irão ao 
encontro dos anseios dos alunos do 2º ano do Ensino Médio, visto que são textos 
propícios para a leitura dessa faixa etária. Eu já trabalhei com algumas dessas 
crônicas e, quando usei "A última crônica", de Fernando Sabino, houve certa 
comoção na sala de aula, pois a grande maioria dos alunos conseguiu perceber a 
doçura e a grandeza do texto em questão. Por isso, considero essa etapa de grande 
valor nessa investida. Mas, Moacyr Scliar e Luis Fernando Veríssimo também são, 
certamente, grandes nomes dentre os excelentes cronistas brasileiros. Gostaria de 
dar uma dica, pois temos a tendência de optar por nomes que são mais conhecidos 
ou mais trabalhados. Mas, vale a pena trabalhar e estabelecer pontes e 
comparações, com crônicas de Machado de Assis, Rachel de Queiroz e a 
contemporânea Martha Medeiros. São três gerações distintas de cronistas que, com 
certeza, enriquecerão essa proposta pedagógica. Abraços!” 
Na terceira e última etapa do GTR, os participantes fizeram uma reflexão e 
análise sobre os resultados parciais da implementação do projeto, haja vista que a 
aplicação no projeto na escola e o GTR aconteceram concomitantemente. Seguem 
alguns comentários dos professores ao analisarem o relato parcial da 
implementação: 
PROFESSOR G 
“Olá, Sueli! Tudo bem? Infelizmente, esse susto que você levou acontece com 
todos nós. É uma realidade: nossos alunos não têm o hábito da leitura. Escuto muito 
o seguinte: "Ai, professora, por que você só escolhe livro ou texto chato?". E isso, 
sem nem ao menos terem lido o que foi proposto. E, reverter essa realidade, é um 
jogo duro. Mas, sempre que usei a crônica, consegui bons resultados. Talvez por ser 
uma leitura mais rápida, mais próxima da nossa realidade, e acessível, não sei ao 
certo, mas, é sempre mais agradável e facilitadora, na hora em que temos de partir 
para a produção escrita. Gostei da sua percepção de criar uma página em uma rede 
social. Com certeza, seus alunos sentiram-se mais próximos de você. Boa sacada! 
Mais um artifício para levar boa leitura aos nossos aprendizes. A entrevista e a 
 
 
crônica escolhida, do Fernando Sabino, certamente devem ter sido estratégias 
certeiras, pois são pontos de aproximação com autores e textos tão encantadores 
quanto propícios. Tenho certeza de que sua investida terá ótimos resultados. Não 
deixe de nos contar tudo! Abraços.” 
PROFESSOR H 
“As atividades realizadas pela professora Sueli foram muito bem embasadas 
e elaboradas com êxito. A sondagem inicial foi muito importante, pois pode assim, 
perceber a realidade dos alunos e traçar estratégias fundamentais para a realização 
das oficinas, as quais foram muito bem preparadas e alcançaram os objetivos 
propostos. Uma vez que estamos inseridos numa sociedade cada vez mais voltada 
para a tecnologia, utilizar o facebook como um instrumento a mais para desenvolver 
a motivação e o gosto pela leitura e escrita foi uma estratégia que trouxe ótimos 
resultados pois o dia a dia da maioria dos nossos alunos é passar horas em frente 
ao computador, porém, sem usá-lo para fins educativos ou leituras prazerosas. Com 
esse projeto o aluno passa a descobrir que o computador passa a ser um aliado na 
sua aprendizagem.” 
Enfim, estes foram alguns relatos dos participantes do GTR e foram muito 
importantes durante a implementação do projeto na escola. 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O presente artigo objetivou mostrar que o trabalho com gêneros discursivos, 
especificamente o gênero textual crônica, pode ser uma excelente ferramenta nas 
aulas de Língua Portuguesa. Mostrar aos alunos de uma escola pública que a 
literatura está mais perto deles do que eles imaginam e fazê-los gostar de ler e 
escrever nem sempre é uma tarefa fácil. Não podemos esperar que o público que 
via a ida à biblioteca com o professor de Língua Portuguesa pegar um livro para ler 
como apenas mais uma das atividades massacrantes e torturantes da escola, passe 
a gostar facilmente da leitura e adquira o hábito de ler. Associar a leitura e a escrita 
como algo prazeroso e fácil é um passo que todo professor não só de Língua 
portuguesa, mas das demais disciplinas devem continuar tentando, sem desanimar, 
e para isso, sempre buscando metodologias diferentes e inovadoras. 
 O trabalho com os gêneros discursivos, especificamente neste trabalho com 
o gênero textual crônica, é uma alternativa adequada para obtermos sucesso em 
apresentarmos a leitura e a produção escrita aos alunos. Ao considerar os 
conhecimentos prévios de cada aluno e criarmos uma identidade entre leitor e obra, 
estamos fazendo uma “ponte” entre a leitura e os alunos. Os temas abordados nas 
crônicas farão essa ponte ficar bem mais curta e acessível, e a maneira como ela é 
escrita mostrará aos alunos que ler e escrever podem ser leve e muito prazeroso. 
A participação no GTR (Grupo de trabalho em Rede) foi importante para 
todos os participantes, pois a troca de experiência entre os educadores por meio dos 
Fóruns e Diários foram sempre enriquecedores e muito contribuíram não só para o 
enriquecimento deste trabalho de pesquisa, mas também para todos os que 
participaram do Grupo, revendo erros e valorizando acertos em nossa prática 
pedagógica na sala de aula. 
 Para a grande maioria do público alvo deste trabalho, este foi o ponto de 
partida para a aventura de conhecer outros gêneros textuais, e posteriormente 
conhecer os clássicos da literatura tão importantes para uma boa formação dos 
nossos alunos do Ensino Médio. 
 
 
Acreditamos que, por meio de uma leitura atual e motivadora, levando em 
conta o conhecimento prévio do nossos alunos, podemos transformá-los em leitores 
competentes e escritores proficientes. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ANDRADE, Carlos Drummond de. “Uma prosa (inédita) com Carlos Drummond 
deAndrade”.Caros Amigos. São Paulo. n. 29, p. 12-15, ago. 1999. 
ARRIGUCCI JR. David. Fragmentos sobre a crônica. In: Enigma e comentário. 
São Paulo, Companhia das Letras, 1987. 
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 
1992. 
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem (trad. M. Lahud e Y. F. 
Vieira, 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1981 
CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: A crônica: o gênero, sua fixação 
etransformações no Brasil. Campinas, Rio de Janeiro: Editora da Unicamp; 
Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992 
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil – relações e perspectivas. 3 ed. Rio de 
Janeiro: José Olímpio, Niterói: EDUFF, 1986. V.6. 
DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO PARANÁ – Secretaria 
de Estado da Educação do Paraná – Língua Portuguesa 
GERALDI, João Wanderley. Postos de Passagem. (texto e linguagem)4 ed. São 
Paulo: Martins Fontes, 2002. 
KLEIMAN, Ângela. Texto & Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 9 ed. 
Campinas: Pontes Editores, 2004 
KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2 ed. São Paulo: 
Cortez, 2003.

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