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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos O GÊNERO TEXTUAL CRÕNICA COMO OBJETO DE ESTUDO NO ENSINO DE LEITURA E PRODUÇÃO ESCRITA Sueli Aparecida Dias Rebeschini1 Orientador: Prof. Dr. Vladimir Moreira2 1 Graduada em Letras com Pós-Graduação em “Leitura e Produção de Texto”. Professora da rede de ensino público do Paraná. Email: suelirebeschini@hotmail.com 2 UEL - Universidade Estadual de Londrina. Email: prof.vladimir@uol.com.br RESUMO Este artigo tem como título “O gênero textual crônica como objeto de estudo no ensino de leitura e produção escrita”. O objetivo é apresentar dados sobre a importância do trabalho em sala de aula com os gêneros discursivos textuais, especificamente o gênero textual crônica, partindo do conhecimento prévio do aluno, de forma a melhorar e ampliar a sua capacidade de compreensão na leitura e aprimorar sua capacidade de produção escrita. Diante da desmotivação dos nossos alunos com relação à leitura, apresentamos algumas metodologias que podem contribuir para desenvolver em nossos educandos o gosto pela leitura e transformá-los em leitores-sujeitos críticos e atuantes nas práticas de letramento da sociedade na qual estão inseridos. A etapa inicial do trabalho foi uma sondagem com os alunos do 2º ano do Ensino Médio, para verificação sobre seus hábitos de leitura, do conhecimento sobre o gênero crônica e dos autores que foram trabalhados: Fernando Sabino, Moacyr Scliar e Luis Fernando Veríssimo. Podemos ressaltar ainda a importância da contextualização do gênero em questão: a descrição do contexto de produção, ou seja, a esfera de comunicação em que o gênero emerge, o papel social do locutor e do interlocutor, a intenção e o suporte comunicativo. Foram privilegiadas atividades que pudessem desenvolver em nossos alunos as habilidades de leitura, oralidade, escrita e análise linguística. Palavras-chave: Gênero. Texto. Leitura. Crônica . ABSTRACT This article is entitled " The Chronic genre as an object of study in teaching reading and writing ." The objective is to present data on the importance of work in the classroom with the textual discourse genres , specifically chronic genre , starting from the student's prior knowledge , to improve and expand its ability to reading comprehension and improve their ability written production . Given the motivation of our students about reading , we present some methodologies that can contribute to developing in our students a love of reading and turn them into subject - readers and critics active in the literacy practices of the society in which they live. The initial stage of the work was a survey with students of 2nd year of high school to check on their reading habits , knowledge about gender and chronic authors who worked were : Fernando Sabino , MoacyrScliar and Luis Fernando Verissimo . We also emphasize the importance of contextualizing the genre in question : the description of the context of production , ie the communication sphere in which gender emerges , the social role of the speaker and the interlocutor , the intention and communicative support . Activities that could develop in our students the skills of reading, speaking , writing and linguistic analysis were privileged. Keywords: Genre. Text. Reading. Chronic. INTRODUÇÃO O presente artigo relata os resultados da Produção Didático-Pedagógica, material didático elaborado por mim, professora PDE 2013, como estratégias metodológicas do meu Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola que foi implementado no primeiro semestre de 2014 no Colégio Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva – Ensino Fundamental e Médio – Cafeara-Pr. O desenvolvimento deste trabalho é parte integrante do PDE, (Programa de Desenvolvimento Educacional) curso de capacitação destinado aos professores de educação básica da rede estadual ofertado pelo governo do Estado do Paraná, através da Secretaria de Estado da Educação (SEED), em parceria com Instituições de Ensino Superior (IES). Programa de capacitação este que nos possibilitou regressar às atividades acadêmicas e rever as nossas práticas pedagógicas por meio de estudos teóricos, discussões, reflexões e produções de materiais didáticos, além da participação como tutores no GTR (Grupo de Trabalho em Rede) que nos proporcionou uma grande aprendizagem, onde socializamos e compartilhamos as experiências dos trabalhos realizados com professores não só de Língua Portuguesa, mas de outras disciplinas como Educação Física e Arte que deram muitas contribuições para o bom desempenho deste trabalho de pesquisa. A leitura sempre foi o grande problema da educação em nosso país. O brasileiro não tem por cultura o hábito de ler, e a criança, na maioria das vezes, vai para a escola com pouco e, muitas vezes, sem nenhum contato com a leitura, o que pressupõe resultados bastante negativos no ensino-aprendizagem não só na disciplina de Língua Portuguesa, mas em todas as disciplinas escolares. Isso também pressupõe que o incentivo à leitura deve ser um projeto coletivo na escola, não só nas aulas de Língua Portuguesa. A leitura auxilia na aquisição de conhecimentos novos e são esses conhecimentos que garantem a liberdade de raciocínio. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), na década de 90, já apontavam que o ensino de Língua portuguesa fosse pautado pela concepção dos gêneros textuais. A partir de 2003, a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED) propôs aos profissionais da educação uma discussão para a elaboração das Diretrizes Curriculares Estaduais, defendendo a concepção de língua como discurso que se efetiva nas diferentes práticas sociais. O documento baseia-se em teorias sociointeracionistas e que a competência linguística de nosso aluno ocorrerá se lhe for proporcionado, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o caráter dinâmico dos gêneros discursivos. Após ampla discussão entre profissionais em educação, a SEED aprovou em 2008, as DIRETRIZES CURRICULARES ESTADUAIS. Há que se reconhecer que a escola, na maioria das vezes, privilegia a leitura como mero pretexto para atividades mecânicas e repetitivas, uma leitura desmotivada, que não leva em conta o conhecimento prévio do educando, não apresenta objetivos de leitura bem definidos, nem tampouco estratégias de leitura eficientes e planejadas que possibilitem ao aluno uma aprendizagem concreta. Tal realidade escolar tem formado leitores passivos, meros decodificadores que não fazem uso efetivo da leitura e escrita nas diferentes esferas sociais. Diante deste contexto, devemos rever tais práticas pedagógicas. As DCE definem que: “Sob essa perspectiva, o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa visa aprimorar os conhecimentos linguísticos e discursivos dos alunos, para que eles possam compreender os discursos que o cercam e terem condições de interagir com esses discursos. Para isso, é relevante que a língua seja percebida como uma arena em que diversas vozes sociais se defrontam, manifestando diferentes opiniões." (PARANÁ, 2008, P. 50) As DCE Paraná (2008) sugerem ainda que nas aulas de Línguas portuguesa, com base na concepção interacionista da linguagem, o professor deve atuar como mediador, provocando o aluno a realizar leituras significativas, na qual ele seja capaz de enxergar os implícitos, inferindo sentidos e percebendo as reais intenções que cada texto traz. Desse modo, o aluno será capaz de se posicionar diante do que lê. Porém, percebe-se que os alunos chegam ao Ensino Médiocom muita dificuldade na identificação, compreensão e produção dos diversos gêneros textuais, dentre eles, a crônica. Há que se reconhecer que a escola, na maioria das vezes, privilegia a leitura como mero pretexto para atividades mecânicas e repetitivas, uma leitura desmotivada, que não leva em conta o conhecimento prévio do educando, não apresenta objetivos de leitura bem definidos, nem tampouco estratégias de leituras eficientes e planejadas que possibilitem ao aluno uma aprendizagem concreta. É preciso reconhecer que a leitura está presente na vida dos jovens. Eles estão a todo momento em contato com a leitura nas redes sociais, músicas, filmes, blogs, chats, etc. e a fazem com grande prazer, pois se sentem e são sujeitos interativos daquilo que estão lendo. De acordo com as DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO PARANÁ (2008), a leitura deve ser vista como um ato dialógico, interlocutivo. O leitor, nesse contexto, tem o papel de interagir durante o processo da leitura, e para se efetivar como coprodutor, procura pistas formais, formula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência sociocultural. Ainda de acordo com as DCE (2008), o professor deve nos momentos de leitura propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante deles. O professor deve também atuar como mediador, dando condições para que o aluno atribua sentidos a sua leitura, visando a um sujeito crítico e atuante nas práticas de letramento da sociedade. Diante de tal contexto, realizamos um projeto de pesquisa escolar a fim de adquirirmos um embasamento teórico com relação aos gêneros discursivos, o texto e o leitor e especificamente o gênero textual crônica, objeto de estudo desta pesquisa. A partir das teorias estudadas, desenvolvemos uma Sequência Didática e aplicamos nas aulas de Língua Portuguesa, com alunos do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva - Ensino Fundamental e Médio, voltado à construção de um leitor crítico, competente e interativo, além de aprimorar sua escrita adquirida em suas práticas de leituras. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Como fonte de pesquisa, buscamos teorias sociointeracionistas, que nos orientassem a elaborar situações e estratégias de leitura e escrita que pudessem levar o aluno a se utilizar de seus conhecimentos prévios para a construção do sentido do texto. Como pormenoriza Kleiman: A compreensão de um texto se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão”. (KLEIMAN,2004,p.13) A LEITURA E O TEXTO A escola deve proporcionar aos alunos experiências de leitura que incremente o conhecimento de mundo e a competência linguística de nossos alunos e essas práticas de leitura não devem ser fragmentadas nem tampouco descontextualizadas. Magnani (2001) chama a atenção do problema que acontece nas escolas com relação à leitura, onde ela assume apenas as finalidades “utilitárias e imediatistas”, ler apenas para resolver exercícios de interpretação, exercícios linguísticos, para adquirir modelos de escrita, para trabalhar conteúdos das diversas disciplinas, para politizar, sensibilizar, entre outros, porém, todos esses objetivos não devem deixar de levar em conta a totalidade do texto. Ainda com relação ao problema da leitura de textos na escola, GERALDI (2002, p.169) questiona: “Os alunos, leitores e, portanto, interlocutores, leem para atender a legitimação social da leitura externamente constituída fora do processo em que estão eles, leitores/alunos, engajados. Com que legitimidade são eles convocados para essa relação?” Geraldi (2002) salienta ainda que a leitura na escola deve ser uma oportunidade de discurso ensino/aprendizagem, um diálogo de sentido acentuado da fala conjunta, de um com o outro procurando respostas. Koch (2003) afirma que a língua não existe fora dos sujeitos sociais que a falam e fora dos eventos discursivos nos quais eles modificam e impulsionam seus saberes linguísticos e sociocognitivos, ou seja, seus modelos de mundo. Estes modelos, porém, estão sempre sofrendo transformações, eles (re)constroem-se, pois a língua evolui tornando-se necessário buscar conhecimentos socialmente compartilhados e reconstruídos discursivamente, situar-se dentro do contexto histórico para que se possa efetuar os encadeamentos discursivos. Para Bakhtin (1981), a leitura de qualquer texto - entendida enquanto ato de compreensão ativa - leva o leitor a perceber as vozes que falam no texto, e a que formação ideológica elas se vinculam e a que tipos de interesse elas servem. Nessa perspectiva, qualquer discurso não é nunca a manifestação de uma só voz, mas um conceito polifônico que revela as várias formações discursivas presentes no texto, inclusive a do próprio leitor. “A leitura não é um ato isolado de um indivíduo diante do escrito do outro indivíduo. Implica não só a decodificação de sinais, mas também a compreensão do signo linguístico enquanto fenômeno social”. (MAGNANI, 2001.p.49). Significa o encontro do leitor com o texto, num determinado contexto social e essas relações modificam as histórias de leitura do texto e consequentemente do leitor. Do ponto de vista interacionista, a leitura pode ser considerada um processo de construção de sentidos, onde o próprio leitor terá uma reação dialógica com o texto. Diante disto, cabe ao professor em sala de aula, levar o aluno a perceber os sujeitos que existem em cada texto e tomar atitude responsiva diante dele. A leitura deve ser um hábito, pois abre espaço para o entender, o aprender e a pensar e que leva o aluno à suas próprias produções escritas. GÊNEROS TEXTUAIS O gênero textual já é tema de estudos desde a Antiguidade Clássica, porém, tomam novo formato ligado às práticas sociais com os estudos de Bakhtin, em que “todos os nossos enunciados se baseiam em formas-padrão e relativamente estáveis de estruturação de um todo”. (KOCH, 2003). E essa forma padrão é considerada Gênero textual. Os gêneros textuais são as diversidades de textos (verbais ou não verbais) que encontramos em vários ambientes de discurso da sociedade e tem uma função comunicativa. Segundo Melo (2009, p.54), “vários são os autores que tratam o texto como gênero. A teoria dos gêneros textuais entende que um texto não é apenas uma forma, mas uma materialidade que possui função comunicativa”. “Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão relacionadas com a utilização da língua. Não é de surpreender que o caráter e os modos dessa utilização sejam tão variados como as próprias esferas da atividade humana (...). O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo temático e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais – mas também, e,sobretudo, por sua construção composicional”.(BAKHTIN, 1992, p.179). Para Marcuschi (2002), ”gêneros são formas culturais e cognitivas de ação social corporificadas de modo particular na linguagem, ou seja, que para qualquer tipo de comunicação verbal ou não verbal nós utilizamos um gênero textual”. Assim sendo, toda vez que nos comunicamos, todos nossos enunciados se baseiam em uma forma padrão e de forma relativa estáveis de estruturação de um todo. Koch (2003, p.54) afirma que os gêneros constituem “tipos relativamente estáveis de enunciados”, marcados sócio-historicamente, pois estão diretamente ligados às diferentes situações e contextos sociais, e que cada uma dessas situações determina o gênero com suas características temáticas, composicionais e estilísticas próprias. Afirma ainda que “sendo as esferas de utilização da língua extremamente heterogêneas, também os gêneros apresentam grande heterogeneidade, incluindo desde o diálogo cotidiano à tese cientifica”. Ainda de acordo com Koch (2003), a concepção de gênero de Bakhtin não é estática, os gêneros estão sujeitos a mudanças decorrentes das transformações sociais e também de modificações do lugar atribuído ao ouvinte. Desta forma, em termos bakhtinianos, um gênero pode ser assim caracterizado: * São tipos de enunciados relativamente estáveis presentes em cada esfera de troca: os gêneros possuem uma forma de composição e um plano composicional. * Distinguem-se pelo conteúdo temático e pelo estilo. * Trata-se de entidades escolhidas tendo em vista as esferas de necessidade temática, o conjunto dos participantes e a intenção do locutor. A CRÔNICA Para o desenvolvimento deste trabalho, foi escolhido o gênero textual crônica, pois trata de temas do cotidiano, ora trazendo críticas sociais, ora enfocando o humor nas situações corriqueiras do homem na sociedade. Candido (1992) afirma que: “É importante insistir no papel da simplicidade, brevidade e graça próprias da crônica. Os professores tendem muitas vezes a incutir nos alunos uma ideia falsa de seriedade; uma noção duvidosa de que as coisas sérias são graves, pesadas, e que consequentemente a leveza é superficial. Na verdade, aprende-se muito quando se diverte, e aqueles traços constitutivos da crônica são um veículo privilegiado para mostrar de modo persuasivo muita coisa que, divertindo, atrai, inspira e faz amadurecer a nossa visão das coisas.” A palavra “crônica” está ligada etimologicamente ao termo khrónos, deus da mitologia grega que representa o tempo, por isso tal gênero textual recebeu este nome, por relatar fatos contemporâneos. Assim, a crônica assume o papel de registro da realidade social das comunidades humanas. Muitos dizem que o início da nossa história literária é inaugurado por uma crônica: a carta de Pero Vaz de Caminha, escrita na viagem de Pedro Alvares Cabral ao Brasil, na época de seu descobrimento. Carta esta que tinha a missão de relatar toda a trajetória dos viajantes e a contar o que se via na viagem e nos lugares inóspitos pelos quais passavam. De fato, podemos considerar tal relato como uma crônica histórica. Tal relato já apresentava características da crônica moderna, como situações do dia a dia, fatos corriqueiros como vestimentas, costumes dos indígenas etc. “Na maioria desses autores dos primeiros tempos, a crônica tem um ar de aprendizado de uma matéria nova e complicada, pelo grau de heterogeneidade e discrepância de seus componentes, exigindo também novos meios linguísticos de penetração e organização artística: é que nela afloram em meio ao material do passado, herança persistente da sociedade tradicional, as novidades burguesas trazidas pelo processo de modernização do país, de que o jornal era um dos instrumentos”. (ARRIGUCCI Jr,1987, p.57). A crônica é hoje reconhecida como um gênero literário que nasce da prática da escritura cotidiana e está estreitamente ligado ao jornalismo, pois foi a partir do desenvolvimento da imprensa no Brasil, na metade do século XIX, que ela começou a assumir a sua configuração atual. Tal relação entre o jornal e a crônica é exposta de forma detalhada pelo escritor Carlos Drummond de Andrade: A crônica é fruto do jornal, onde aparece entre notícias efêmeras. Trata-se de um gênero literário que se caracteriza por estar perto do dia-a-dia, seja nos temas ligados à vida cotidiana, seja na linguagem despojada e coloquial do jornalismo. Mais do que isso, surge inesperadamente como um instante de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. De extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por ir contra as tendências fundamentais do meio em que aparece (...). Se a notícia deve ser sempre objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Se o jornalista deve ser metódico e claro, o cronista costuma escrever pelo método da conversa fiada, do assunto-puxa-assunto, estabelecendo uma atmosfera de intimidade com o leitor. (DRUMMOND,1999,p.12-15) Podemos dizer que a crônica é bastante subjetiva na qual o cronista, de forma descompromissada, expressa suas ideias sob sua ótica dos acontecimentos da sociedade e possui uma linguagem quase despojada e coloquial. Trata sempre de temas como política, ética, amor, sexualidade, em que acontecimentos aparentemente banais são transformados em questões para grande meditação. Em Coutinho (1986), essa atitude “descompromissada” do cronista é entendida como uma estratégia discursiva, já que há um tom de conversa proporcionando o diálogo com o seu leitor. Ainda que suas opiniões não assumam um caráter de verdades a não serem contestadas, para não afugentar os leitores que delas discordam, será a sua habilidade a responsável por fazer o leitor assimilar, sem que o perceba, as ideias defendidas. RESULTADOS Para o desenvolvimento deste trabalho foi escolhido o gênero textual crônica por serem narrativas do cotidiano, nas quais o autor descreve os eventos de acordo com a sua visão crítica dos fatos e, muitas vezes, estabelece um diálogo com o leitor por meio de frases a ele dirigidas. Este diálogo pode ser visto como uma estratégia discursiva, uma forma de aproximar o leitor e fazê-lo assimilar, sem que perceba, as ideias defendidas pelo cronista. Podemos definir também que a escolha por tal gênero se deu por serem textos bastante leves, divertidos que atraem e inspiram. As crônicas escolhidas foram: A ÚLTIMA CRÔNICA, de Fernando Sabino, COBRANÇA, de Moacyr Scliar e a crônica A BOLA de Luis Fernando Veríssimo. Todas as atividades foram organizadas em uma Sequência Didática, dividida em oito oficinas que desenvolveram atividades de leitura, interpretação oral e escrita, análise linguística, estrutura composicional do texto e produção textual. No início da implementação do projeto em sala de aula, foi realizada uma sondagem sobre o nível de leitura dos alunos, suas preferências, frequência no hábito da leitura e percebi que apenas 20% dos alunos têm o hábito frequente de leitura, compram livros ou vão à biblioteca da escola ou à Biblioteca Municipal pegarem livros para ler. Os que leem eventualmente um livro ou textos de revistas ou jornais somaram 30% e 50% dos alunos disseram que leem eventualmente ou por obrigação, quando solicitados para realizar um trabalho de pesquisa ou para provas escolares. Foi constatado neste momento que teríamos um grande desafio pela frente. Apesar de um certo desinteresse dos alunos pela leitura, se mostraram bastante animados com o projeto que lhes foi apresentado. Nestasondagem, foi constatado também que os alunos que disseram gostar de ler, os pais possuem o 2º ou o 3º graus completos, também têm o hábito da leitura e possuem um nível sociocultural mais elevado e sempre tiveram contato em casa desde crianças com jornais, revistas e livros. Ao serem indagados sobre a importância da leitura para a aquisição de novos conhecimentos, todos foram unânimes em concordar que a leitura é o único caminho para uma aprendizagem concreta e efetiva. Todos os alunos disseram fazer parte de uma rede social e têm o hábito de ler e escrever na rede. Ao constatar este fato, criamos um grupo no Facebook para a troca de informações, textos, tarefas, avisos e todos participaram ativamente. Ainda no início da implementação do projeto, na fase diagnóstica, quando os alunos foram perguntados se conheciam o gênero textual crônica, todos disseram já ter lido, alguns se lembraram de crônicas conhecidas, mas a maioria não se lembrava da sua estrutura, características, veículos de circulação, etc. Após trabalhar a parte teórica da definição do gênero crônica, percebemos que muitos não compreenderam e só o fizeram após ser trabalhado a crônica de Fernando Sabino, “A última crônica”, pois com as atividades de leitura, interpretação oral e escrita, estrutura composicional do texto, produção e análise linguística eles puderam assimilar melhor as características do texto. O trabalho com esta crônica foi bastante tocante, percebemos alguns alunos bastante emocionados com o tema e deram vários depoimentos com relação ao preconceito e a discriminação, a valorização da família e a desigualdade social muito bem retratados na crônica de Sabino. Ao se trabalhar a biografia desses três escritores apresentamos um vídeo com uma entrevista de Moacyr Scliar e Luis Fernando Veríssimo falando sobre suas vidas, como iniciaram suas carreiras como escritores e cronistas e a total influência de Fernando Sabino no estilo de ambos. Os alunos gostaram muito de assistir a entrevista, passando a conhecê-los melhor, não ficando só na teoria escrita das biografias. A segunda crônica trabalhada foi “Cobrança”, de Moacyr Scliar. Os alunos divertiram-se muito com o elemento surpresa do texto em que o próprio marido era o cobrador da esposa e surtiram ótimos debates sobre o consumismo e a inadimplência em nosso país. Mais uma vez, demos total ênfase à interpretação oral e escrita do texto, análise linguística e estrutura composicional do texto como situação inicial, início do conflito, resolução do conflito e volta à situação final. A terceira e última crônica apresentada durante o projeto foi “A bola” de Luis Fernando Veríssimo, e, mais uma vez, lançamos a questão dos relacionamentos nas famílias e como a tecnologia vem tomando o lugar das relações familiares, pois a TV, a Internet, celulares e as redes sociais fazem com que não haja mais diálogo nas famílias. O resultado desse trabalho foi muito bom, pois a relação entre elas pode ser visualizada no exemplo em que a criança ganha uma bola, mas está tão acostumada com objetos tecnológicos que aquele simples objeto não mais lhe interessa; o pai, por sua vez, quer resgatar o convívio entre pai e filho, sem muito sucesso, que vem a ter relação com o ótimo convívio da família da crônica de Sabino, a simplicidade daquela família que aparece no bar para comemorar o aniversário da filha, o casal sem muita condição financeira de dar presentes, mas com uma atenção e amor um pelo outro admiráveis. E ainda mostra a relação familiar na crônica “Cobrança” na qual o consumismo exagerado da esposa gera um conflito familiar. Enfim, todas as questões abordadas nas crônicas são questões diárias que muitas pessoas não se dão conta, muitas vezes ignoram e foram muito bem discutidas durante o processo de implementação. São situações simples que fazem parte do crescimento humano da família, dos valores, da cultura. Durante o processo de trabalho com o gênero em questão, além das atividades de interpretação oral e escrita, estrutura composicional do texto e análise linguística, o trabalho de produção escrita dos alunos foi um momento primordial, haja vista que o objetivo deste foi a formação de leitores competentes e escritores proficientes. A cada crônica trabalhada foi pedida uma produção. A primeira foi uma paráfrase do texto “A última crônica”, a segunda produção escrita foi baseada em uma notícia de jornal e a terceira foi tema livre, na qual os alunos buscaram nos acontecimentos do seu dia a dia ou a partir de uma percepção de um acontecimento que o levasse a uma inspiração para a produção de uma crônica, além de uma paródia de uma das três crônicas, trabalhando-se assim, a transposição de gênero. Além das produções escritas, os alunos produziram vídeos com as encenações das crônicas e gravações cantadas das paródias, valorizando assim, o trabalho em grupo, além de desenvolver a expressão e a comunicação. Para a correção e posterior reestruturação das produções escritas dos alunos, usamos uma tabela de correção. CÓDIGO DE CORREÇÃO SÍMBOLO EXPLICAÇÃO (SIGNIFICADO) RP Repetição desnecessária de informações. Corte o que está em excesso. [ Faltou fechar o raciocínio / ideia. Complete. TC Texto / trecho confuso. Reelabore com mais clareza. CC Cópia / colagem. Construa com suas próprias palavras. EB Expressão muito batida, desgastada ou preconceituosa. Seja mais original. IN Incoerência / contradição com ideia(s) anterior(es). Reformule. IV Inadequação vocabular. Substitua por outras palavras. LP Falta elemento de ligação entre palavras, frases ou parágrafos. Reveja. EL Uso inadequado de elemento de ligação. Reavalie. NP Mudança de assunto. Inicie novo parágrafo. R Repetição da mesma palavra ou expressão. Substitua, corte ou reduza. [ ] Desnecessário. Corte. (?) Falta palavra ou pontuação. Complete. P Pontuação inadequada. Corte ou substitua. -F Fala de personagem. Comece novo parágrafo e use travessão. O Falha de ortografia. Encontre e corrija. A Falha de acentuação. Descubra e corrija. V Falha de conjugação do verbo: pessoa / número / modo / tempo. Ajuste. GN Falha na concordância de gênero e/ou número entre as palavras numeradas (1,2....). Corrija CP Falha na colocação pronominal CP Falha de outra natureza. Conversar com o professor. P L A N O D E C O N T E Ú D O P L A N O D E E X P R E S S Ã O A participação no GTR (Grupo de Trabalho em Rede) foi um período de muita aprendizagem pela troca de experiências entre os participantes e assim pudemos rever a nossa prática pedagógica, aperfeiçoando o que deu certo e corrigindo algumas falhas. No Grupo de Trabalho em rede que fui tutora, estavam inscritos quinze participantes (professores de Língua Portuguesa, de Língua Inglesa, Arte e Educação Física) e, destes quinze, doze concluíram o GTR. Os integrantes do grupo tiveram uma participação bastante ativa, interagindo constantemente nos fóruns com os demais participantes e relatando experiências nos diários que muito contribuíram para a realização deste trabalho de pesquisa. O primeiro momento do GTR foi apresentar o PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA aos participantes para leitura, análise e reflexão. Após essa leitura e reflexão, foram socializadas as observações referentes ao projeto de intervenção. Estas observações deveriam apontar a pertinência da problemática levantada na justificativa do projeto, a relevância dos objetivos elencados, as possibilidades de articulação, teórico-prática com o tema proposto,a contribuição deste estudo para a Educação Básica, além de refletir e analisar a realidade das escolas dos integrantes do grupo, comparando a proposta apresentada no projeto apontando se havia ou não situações semelhantes. Vamos relatar algumas observações dos professores no Fórum e Diário1. PROFESSOR A “Olá pessoal! Este projeto, realmente vem ao encontro das necessidades que a maioria dos alunos apresenta com relação a compreensão e reconhecimento dos diversos gêneros textuais. Muitos dos nossos alunos não apresentam interesse pela leitura, o que desfavorece ainda mais a situação de aprendizagem no que tange à produção de texto e criticidade. Os objetivos estão muito bem elencados com o intuito de despertar o interesse pela leitura, a compreensão dos diversos gêneros discursivos, em especial a crônica. O embasamento teórico está concatenado com a proposta a ser desenvolvida. Enfim, o Projeto em questão, bem como a implementação concomitantemente com as estratégias de ação, contribuirão para que os alunos possam interagir o conhecimento prévio com o conhecimento sistematizado de forma a desenvolver os próprios saberes.” PROFESSOR B “A justificativa da realização deste projeto está muito bem elaborada, pois a professora contempla documentos que fazem parte do contexto educacional e que direciona para a utilização de diversos gêneros textuais em sala de aula. Entretanto, ela percebe que os alunos ainda chegam ao Ensino Médio sem condições de compreender os gêneros textuais e contextualizá-los. Ela cita que a escola de certa maneira contribui para essa situação, porque muitas vezes a leitura é realizada apenas para atividades repetitivas e sem criatividade. Por isso, a professora justifica que a realização desse projeto pode contribuir para aprendizagem dos alunos, visto que estarão em contato com situações e estratégias de leitura e escrita e utilizarão os seus conhecimentos prévios para a construção do sentido do texto. Os objetivos elencados dão um sentido de um trabalho gradual, em que o aluno ao desenvolver as habilidades demonstradas chega ao objetivo específico, que é o de desenvolver no aluno o gosto pela leitura e proficiência na escrita, trabalhando o gênero crônica. Além disso, ao alcançar esses objetivos o aluno será capaz de transformar-se em um leitor-escritor crítico e atuante. Acrescento ainda que os objetivos são claros e coerentes e propõe uma sequência de ações bem detalhada. E essa é realmente a parte mais interessante. Se a professora conseguir atingir esses objetivos, certamente terá alunos motivados em sala e, consequentemente, conhecedores do gênero “Crônica”. Teoricamente a professora está pautada em contribuições de vários autores de livros que tratam sobre a questão da leitura na escola e relaciona que a leitura deve ser um hábito, que após concretizado, abre espaço para o entendimento e a aprendizagem que levem o aluno a pensar e construir suas próprias produções. Portanto, saliento e concordo com as indicações da professora para a realização deste trabalho, pois é fato que nossas escolas precisam fazer coisas novas que atraiam os alunos para a escola, e que estes, consigam desenvolver sua aprendizagem. A realização deste projeto tem muito a acrescentar para a Educação Básica, pois mostrará que um trabalho bem planejado e bem detalhado tem tudo para dar certo e servir de exemplo para que pensemos a educação de maneira diferenciada e como parte essencial para o desenvolvimento intelectual da nossa sociedade.” PROFESSOR C ““Despertar o interesse do estudante pela leitura”. “Apresentar ao aluno o mundo novo" que se descortina quando se lê. Conscientizar os estudantes da importância da leitura para a construção de vocabulário, fluência de escrita e fala e enriquecimento da cultura geral. Desconstruir a ideia, erroneamente difundida aos jovens de que ler e escrever é algo pesado, cansativo. Apresentar ao estudante uma forma leve de ler e escrever. Mostrar ao público alvo uma literatura que não está distante dele e de seus temas cotidianos. Fazer o aluno se reconhecer no texto, reconhecer seus amores, suas dores, dissabores, momentos de vida... e assim construir uma identidade com o que se está lendo. Mostrar aos estudantes das escolas públicas que a literatura está mais perto deles do que imaginam. Apresentar para os professores que o start para o gosto e o prazer em ler depende muito de como essa prática é apresentada aos alunos. Não podemos esperar que o público que tinha como castigo na escola ir até a biblioteca ler por obrigação passe a gostar facilmente do hábito de ler. Associar a leitura e a escrita com algo prazeroso e fácil será importante para um começo feliz na introdução de nossos jovens na prática do ler e escrever. Pelo exposto acima, credito que “o gênero textual crônica como objeto de estudo no ensino de leitura e produção escrita" seja uma alternativa adequada para obtermos sucesso em apresentarmos a Literatura aos alunos e criarmos uma identidade entre leitor e obra. A Crônica é, sem dúvida, o gênero literário mais indicado para essa tarefa. Os temas abordados por esse gênero farão a ponte entre a literatura e os jovens ficar bem mais curta e acessível, e a maneira como ela é escrita mostrará ao educando que escrever pode ser leve e prazeroso. Se assim acontecer a tarefa estará cumprida, mas acredito mais, acredito que para muitos estudantes será o ponto de partida para a aventura de conhecer outros gêneros literários. Para os alunos de Biologia entender a fecundação ele precisa conhecer o funcionamento das células. Então por que na Literatura ainda se insiste em começar com os Clássicos? Levando-se em conta que a clientela da escola pública, muitas vezes, não tem nem o hábito de ler gibis em casa, e por vezes tem pouco referencial histórico, como esperar que o mesmo público encare os Clássicos com naturalidade e entendimento? E como gostar do que não entendemos? Crônica, venha nos ajudar, ajudar nosso público a se interessar pela prática de ler e escrever!!!” No segundo momento do GTR os participantes deveriam ler e refletir a PRODUÇÃO DICÁTICO-PEDAGÓGICA, para possibilitar a troca de ideias e dos fundamentos teóricos e metodológicos. Posteriormente, socializaram no fórum de discussões e, no diário, suas observações pertinentes, e relataram seus pareceres no Diário. Para isso, seguiram os seguintes questionamentos: a) Você a usaria em suas aulas? b) Em sua avaliação, o público a que se destina terá facilidade de compreensão e aprendizagem usando esta produção? c) Em sua percepção, alguma proposta de atividade se destaca entre as outras? Qual e por quê? Seguem algumas considerações dos participantes no fórum e diário 2: PROFESSOR D “Olá Professora Sueli! Em reflexão após leitura da Produção Didático- Pedagógico, observo que vem ao encontro das necessidades do aluno do 2º ano do ensino médio, e de total importância ao desenvolvimento do Projeto de Intervenção Pedagógica a Leitura. Percebo uma proposta com encaminhamentos metodológicos claros, precisos e coerentes à problemática e à abordagem do tema em questão. Mesmo não sendo da área de Língua Portuguesa, porém faço uso dela todos os dias como milhões de brasileiros o fazem estou encantada com esse Projeto. Confesso que fiquei apreensiva quanto a participar tria de decidir por sair da zona de conforto, que o conhecimento já adquirido em Educação Física me proporciona. O fato de a nossa Língua Portuguesa ser tão mal tratada pelos seus usuários deve-se a vários fatores, mas sem dúvidas a falta de leitura sustenta essa situação. Observoo cuidado evidente quanto ao conhecimento prévio trazido pelo aluno, posicionando o professor como mediador entre o já sabido e o ainda não aprendido. Colocaria em destaque a aproximação entre escritor/leitor proporcionada ao aluno a partir da reflexão em que são evidenciadas também no cotidiano do aluno. Encurtando a distância existente entre a realidade vivida e o universo literário, levando o aluno a perceber que ele também pode produzir textos de qualidade como expressão do seu modo de pensar.” PROFESSOR E “O trabalho desenvolvido pela professora é um material muito bem elaborado e que eu usaria com toda a certeza em minhas aulas. Não é da minha área, mas poderia adequar algumas atividades para desenvolver em sala a partir do estudo do gênero textual escolhido pela professora. Também poderia trabalhar em conjunto com a professora de Língua Portuguesa, realizando um trabalho interdisciplinar. No meu entendimento o público a que se destina o trabalho terá facilidade de compreensão, pois a professora elaborou a metodologia detalhadamente e começando de um nível fácil até o nível em que pretende alcançar seus objetivos, ou seja, a metodologia parte do conhecimento prévio do aluno até o momento em que novos conhecimentos são buscados. Eu diria que as propostas estão em uma sequência lógica muito interessante e que dessa forma é difícil dizer qual se destaca, porém, o fato da professora propor o estudo das crônicas, a leitura e contextualização das mesmas e, ao final fazer uma encenação, é um fator que se destaca entre os demais, assim como uma atividade escrita no término do estudo. Esta atividade está contemplada na Oficina 4.” PROFESSOR F “Olá! Em relação à Produção Didático-pedagógica em análise, considero um trabalho muito pertinente, pois o gênero e as crônicas escolhidos, certamente irão ao encontro dos anseios dos alunos do 2º ano do Ensino Médio, visto que são textos propícios para a leitura dessa faixa etária. Eu já trabalhei com algumas dessas crônicas e, quando usei "A última crônica", de Fernando Sabino, houve certa comoção na sala de aula, pois a grande maioria dos alunos conseguiu perceber a doçura e a grandeza do texto em questão. Por isso, considero essa etapa de grande valor nessa investida. Mas, Moacyr Scliar e Luis Fernando Veríssimo também são, certamente, grandes nomes dentre os excelentes cronistas brasileiros. Gostaria de dar uma dica, pois temos a tendência de optar por nomes que são mais conhecidos ou mais trabalhados. Mas, vale a pena trabalhar e estabelecer pontes e comparações, com crônicas de Machado de Assis, Rachel de Queiroz e a contemporânea Martha Medeiros. São três gerações distintas de cronistas que, com certeza, enriquecerão essa proposta pedagógica. Abraços!” Na terceira e última etapa do GTR, os participantes fizeram uma reflexão e análise sobre os resultados parciais da implementação do projeto, haja vista que a aplicação no projeto na escola e o GTR aconteceram concomitantemente. Seguem alguns comentários dos professores ao analisarem o relato parcial da implementação: PROFESSOR G “Olá, Sueli! Tudo bem? Infelizmente, esse susto que você levou acontece com todos nós. É uma realidade: nossos alunos não têm o hábito da leitura. Escuto muito o seguinte: "Ai, professora, por que você só escolhe livro ou texto chato?". E isso, sem nem ao menos terem lido o que foi proposto. E, reverter essa realidade, é um jogo duro. Mas, sempre que usei a crônica, consegui bons resultados. Talvez por ser uma leitura mais rápida, mais próxima da nossa realidade, e acessível, não sei ao certo, mas, é sempre mais agradável e facilitadora, na hora em que temos de partir para a produção escrita. Gostei da sua percepção de criar uma página em uma rede social. Com certeza, seus alunos sentiram-se mais próximos de você. Boa sacada! Mais um artifício para levar boa leitura aos nossos aprendizes. A entrevista e a crônica escolhida, do Fernando Sabino, certamente devem ter sido estratégias certeiras, pois são pontos de aproximação com autores e textos tão encantadores quanto propícios. Tenho certeza de que sua investida terá ótimos resultados. Não deixe de nos contar tudo! Abraços.” PROFESSOR H “As atividades realizadas pela professora Sueli foram muito bem embasadas e elaboradas com êxito. A sondagem inicial foi muito importante, pois pode assim, perceber a realidade dos alunos e traçar estratégias fundamentais para a realização das oficinas, as quais foram muito bem preparadas e alcançaram os objetivos propostos. Uma vez que estamos inseridos numa sociedade cada vez mais voltada para a tecnologia, utilizar o facebook como um instrumento a mais para desenvolver a motivação e o gosto pela leitura e escrita foi uma estratégia que trouxe ótimos resultados pois o dia a dia da maioria dos nossos alunos é passar horas em frente ao computador, porém, sem usá-lo para fins educativos ou leituras prazerosas. Com esse projeto o aluno passa a descobrir que o computador passa a ser um aliado na sua aprendizagem.” Enfim, estes foram alguns relatos dos participantes do GTR e foram muito importantes durante a implementação do projeto na escola. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo objetivou mostrar que o trabalho com gêneros discursivos, especificamente o gênero textual crônica, pode ser uma excelente ferramenta nas aulas de Língua Portuguesa. Mostrar aos alunos de uma escola pública que a literatura está mais perto deles do que eles imaginam e fazê-los gostar de ler e escrever nem sempre é uma tarefa fácil. Não podemos esperar que o público que via a ida à biblioteca com o professor de Língua Portuguesa pegar um livro para ler como apenas mais uma das atividades massacrantes e torturantes da escola, passe a gostar facilmente da leitura e adquira o hábito de ler. Associar a leitura e a escrita como algo prazeroso e fácil é um passo que todo professor não só de Língua portuguesa, mas das demais disciplinas devem continuar tentando, sem desanimar, e para isso, sempre buscando metodologias diferentes e inovadoras. O trabalho com os gêneros discursivos, especificamente neste trabalho com o gênero textual crônica, é uma alternativa adequada para obtermos sucesso em apresentarmos a leitura e a produção escrita aos alunos. Ao considerar os conhecimentos prévios de cada aluno e criarmos uma identidade entre leitor e obra, estamos fazendo uma “ponte” entre a leitura e os alunos. Os temas abordados nas crônicas farão essa ponte ficar bem mais curta e acessível, e a maneira como ela é escrita mostrará aos alunos que ler e escrever podem ser leve e muito prazeroso. A participação no GTR (Grupo de trabalho em Rede) foi importante para todos os participantes, pois a troca de experiência entre os educadores por meio dos Fóruns e Diários foram sempre enriquecedores e muito contribuíram não só para o enriquecimento deste trabalho de pesquisa, mas também para todos os que participaram do Grupo, revendo erros e valorizando acertos em nossa prática pedagógica na sala de aula. Para a grande maioria do público alvo deste trabalho, este foi o ponto de partida para a aventura de conhecer outros gêneros textuais, e posteriormente conhecer os clássicos da literatura tão importantes para uma boa formação dos nossos alunos do Ensino Médio. Acreditamos que, por meio de uma leitura atual e motivadora, levando em conta o conhecimento prévio do nossos alunos, podemos transformá-los em leitores competentes e escritores proficientes. REFERÊNCIAS ANDRADE, Carlos Drummond de. “Uma prosa (inédita) com Carlos Drummond deAndrade”.Caros Amigos. São Paulo. n. 29, p. 12-15, ago. 1999. ARRIGUCCI JR. David. Fragmentos sobre a crônica. In: Enigma e comentário. São Paulo, Companhia das Letras, 1987. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem (trad. M. Lahud e Y. F. Vieira, 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1981 CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: A crônica: o gênero, sua fixação etransformações no Brasil. Campinas, Rio de Janeiro: Editora da Unicamp; Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992 COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil – relações e perspectivas. 3 ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, Niterói: EDUFF, 1986. V.6. DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO PARANÁ – Secretaria de Estado da Educação do Paraná – Língua Portuguesa GERALDI, João Wanderley. Postos de Passagem. (texto e linguagem)4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002. KLEIMAN, Ângela. Texto & Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 9 ed. Campinas: Pontes Editores, 2004 KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2003.
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