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LITERATURA E PRODUÇÃO DE TEXTO EM LÍNGUA INGLESA APRESENTAÇÃO CURRÍCULO LATTES Professora Mestre Sâmia Leticia Cardoso dos Santos ● Doutoranda em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Especialista em Neuropedagogia pelo Instituto Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí. ● Especialista em Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro Universitário Cidade Verde (UniFCV). ● Graduada em Letras Português-Inglês pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Professora do Ensino Básico. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/3482945991061023 Possui ampla experiência na área educacional, desde o Ensino Fundamental até o Superior. Atualmente, é professora da rede pública e privada de ensino. Professor Fabio Henrique Cardoso da Silva ● Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). ● Pós-graduado em Especialização em Ensino e Aprendizagem de Línguas – UEM – Turma 2017 – 2019 ● Professor do Ensino Básico Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1689935044122952 Possui vasta experiência na área educacional, incluindo educação infantil e anos do ensino fundamental e médio. Atua há vários anos como professor nos sistemas de ensino da Oxford University Press e International School. http://lattes.cnpq.br/3482945991061023 http://lattes.cnpq.br/1689935044122952 APRESENTAÇÃO DA APOSTILA Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), é uma alegria tê-lo(a) na disciplina de Literatura e Produção Textual em Língua Inglesa e convido-o(a) a juntos irmos em busca de compreender a importância da leitura e da escrita em língua inglesa para nós, professores, bem como para nossos alunos Para isso, na Unidade I apresentaremos as Práticas de Leitura, abordando algumas concepções de leitura a partir de diversos autores, em seguida, apresentaremos as etapas leituras e alguns exemplos concretos de atividades em língua inglesa. Para finalizar essa unidade, discutiremos, mais especificamente, sobre as práticas de leitura no ensino de língua inglesa, descrevendo alguns métodos de leitura. Na Unidade II, apresentaremos a prática da leitura por meio dos gêneros literários em sala de aula. Depois, exemplificamos os diversos gêneros literários - lírico, épico e dramático, suas características, bem como as formas que devem ser trabalhados nas aulas de língua inglesa. Em seguida, na Unidade III, intitulada Produção Escrita, traremos três concepções de linguagem. Posteriormente, discutiremos a respeito das concepções de escrita, utilizando exemplos em língua inglesa, associando-as ao ensino de língua inglesa. Para finalizar essa unidade, destacamos a importância dos gêneros textuais para que a escrita em língua inglesa aconteça de uma forma significativa, prazerosa e eficaz. Por fim, na Unidade IV, abordaremos os conceitos de texto e textualidade, exemplificando os contextos por meio de enunciados, textos, questões, entre outros em língua inglesa. Ao longo da apostila, você, estudante, notará que, embora essas concepções sejam voltadas para o ensino da nossa língua, ou seja, a língua portuguesa, ao apresentarmos esses aportes teóricos voltamos as exemplificações e as contribuições para o ensino de uma segunda língua, no nosso caso a língua inglesa. Portanto, as línguas podem ter particularidades diferentes, mas, em muitos momentos, teorias, métodos e didáticas, elas se aproximam. Muito obrigado e bom estudo! UNIDADE I PRÁTICAS DE LEITURA Professora Mestre Sâmia Cardoso Professor Especialista Fabio Cardoso Plano de Estudo: ● Concepções de leitura; ● As etapas de leitura; ● Prática de leitura no Ensino de Língua Inglesa. Objetivos de Aprendizagem: • Entender algumas concepções de leitura. • Compreender as quatro etapas do processo de leitura. • Estabelecer a importância da prática de leitura no ensino de Língua Inglesa. INTRODUÇÃO Olá, caros estudantes, Nesta unidade, temos como objetivo abordar a leitura dentro do processo de ensino-aprendizagem no ensino de Língua Inglesa. Inicialmente, descrevemos quatro importantes concepção de leitura, destacando suas características e explorando alguns exemplos de atividades a fim de que você, estudante, consiga compreender de forma didática como cada uma dessas concepções ocorre na prática. Posteriormente, apresentamos quatro etapas de leitura - decodificação, compreensão, interpretação e retenção, definindo-as e associando uma com as outras, com o objetivo de entender que a leitura só ocorre de maneira significativa, se cumprir todas as etapas de leitura. Por fim, apresentamos a importância das práticas de leitura no ensino de língua inglesa, ressaltando algumas estratégias de leitura as quais podem auxiliar os professores em sala de aula, para que possam desenvolver uma leitura significativa, prazerosa e produtiva, proporcionando um desenvolvimento com relação à LI. Bons estudos!!! 1 CONCEPÇÃO DE LEITURA Imagem do Tópico: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-little-children-reading- books-while-731273989 A leitura não é um assunto novo no que diz respeito à aprendizagem de língua inglesa (doravante LI). Entretanto, nós, professores e futuros professores, precisamos saber que o ensino-aprendizagem de qualquer língua estrangeira (LE) apresenta processos constituídos por práticas que envolvem diversos aspectos os quais dependem de fatores linguísticos (gramaticais e estruturais) e extralinguísticos (discursivo- pragmáticos). Diante disso, a leitura é uma habilidade que envolve tanto os elementos linguísticos visíveis na superfície do texto quanto os extralinguísticos, ou seja, o conhecimento de mundo dos leitores, suas práticas comunicativas, sua história, sua cultura com o objetivo de construir sentidos plausíveis no evento de comunicação já que é uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos lingüísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo (KOCH, 2006, p. 11). Kleiman (1995, p.13) colabora com essa concepção ao afirmar que “a compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida”. Assim, “a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto”. Portanto, ao utilizar diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura passa a ser compreendida como um processo interativo. https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-little-children-reading-books-while-731273989 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/cute-little-children-reading-books-while-731273989 Ainda para essa concepção, Garcez (2001) destaca que a leitura é um processo complexo e abrangente de decodificação e de compreensão do mundo, bem como não envolve apenas os elementos linguísticos, mas também da experiência pessoal de cada leitor. A partir dessa pequena contextualização a respeito de leitura, abordaremos as três concepções de leitura: (i) foco no texto, (ii) foco no leitor, (iii) foco na interação texto- autor-leitor. Concepção de leitura: foco no texto Para essa concepção, o sujeito é “assujeitado pelo sistema, caracterizado por uma espécie de não consciência'''. O texto é compreendido como um “simples produto da codificação de um emissor decodificado pelo leitor/ouvinte”,exigindo apenas que este conheça o código (linguagem) utilizado. O leitor somente realiza uma atividade de reconhecimento. (KOCH; ELIAS, 2006, p. 10). Nas palavras das autoras A leitura é uma atividade que exige do leitor o foco no texto, em sua linearidade, uma vez que ‘tudo está dito no dito’...nesta concepção, cabe-lhe o reconhecimento dos sentidos das palavras e estruturas do texto….o leitor é caracterizado por realizar uma atividade de reconhecimento, de reprodução. (KOCH; ELIAS, 2006, p. 10). Sendo assim, as propostas de leitura fundamentadas nessa concepção têm o texto como centro, atribuindo à leitura um papel de decodificação de signos linguísticos. Logo, o leitor apenas identifica a informação presente no texto. Na imagem abaixo, conseguimos compreender como ocorre essa concepção de leitura. A seguir, demonstraremos algumas atividades a fim de exemplificar essa concepção com foco no texto. Reading: Figura 1 - Atividade 1 Fonte: THAVES, Bob; THAVES, Tom, 2012. Disponível em https://frankandernest.com/,. Acesso em 30 maio de 2021. Answer the questions: 1- What are the nouns present in the comic strip? 2 - What is the comparative form present in the comic strip? Nas duas questões presentes na atividade anterior, observamos que o leitor encontra a resposta ao realizar a decodificação do texto, pois os “nouns” (substantivos) presente são: “computer games” e “life”. Já a forma comparativa é marcada pela expressão “as good as”. Concepção de leitura: foco no leitor Nesta concepção, o leitor é visto como ativo, pois utiliza as informações não linguísticas do texto, o seu conhecimento extralinguístico e a sua capacidade de inferir, somando informações de outros textos. Segundo Kato (1985 p. 57), “a leitura não passa a ser vista como um processo que extrai o sentido final do texto, este é o elemento que delimita a gama de interpretações possíveis, algumas das quais pode não ter sido https://frankandernest.com/ planejada pelo autor”. De acordo com a imagem a seguir, essa concepção parte do leitor para o texto. Na segunda atividade, notamos que as propostas de leitura norteadas por essa concepção estão associadas ao levantamento de hipóteses, ao reconhecimento geral do texto, desconsiderando as habilidades de decodificação do código linguístico. Conforme verificamos na atividade a seguir: Reading and answer: The lion and the mouse A lion, tired of hunting, slept stretched out under the good shade of a tree. Mice came strolling over him and he woke up. Everyone managed to escape, except one, which the lion trapped under his paw. Both the mouse asked and begged that the lion gave up on crushing him and let him go. Some time later the lion was trapped in a hunters' net. Failing to let go, he made the entire forest tremble with his roars of rage. At that, the mouse appeared, and with its sharp teeth he gnawed at the ropes and released the lion. Moral: One good deed wins another. 1. What is the moral of the fable? 2. What did you learn from the moral of the fable? 3. Have you ever experienced something similar described in the fable? Na atividade a respeito da fábula, verificamos que o leitor precisa realizar uma leitura por meio de inferências, atribuindo sentido ao texto de acordo com seu conhecimento prévio sobre o assunto abordado. Portanto, para responder a Questão 1 o leitor precisa conhecer o que são as morais presentes no gênero fábula, bem como identificar e compreender a moral presente na fábula anterior. Em seguida, a Questão 2 apresenta um questionamento pessoal, assim o leitor precisará relacionar o texto a sua vivência, a fim de responder o que aprendeu com a moral encontrada na fábula lida. Por fim, na Questão 3, notamos que, o leitor precisará expressar a sua experiência pessoal, isto é, descrever se em algum momento de sua vida viveu algo semelhante ao descrito na fábula. Concepção de leitura: foco na interação autor-texto-leitor Partindo do próprio nome dado a essa concepção, também reconhecida como “interacional (dialógica) da língua”, diferentemente das duas concepções apresentadas anteriormente, os leitores são compreendidos como “atores/construtores sociais, sujeitos ativos que – dialogicamente – se constroem e são construídos no texto considerando o próprio lugar da interação e da construção de interlocutores” (KOCH; ELIAS, 2006, p. 10- 11). Assim, para essa concepção, “a interdependência equilibrada entre informação contida no texto e os conhecimentos prévios do leitor é a condição essencial para a compreensão” (MAURER, 1988, p. 265) Dessa forma, o sentido de um texto é construído por meio da interação entre texto e sujeitos. Logo, a leitura é uma atividade interativa bastante complexa de produção de sentidos, a qual se realiza através dos elementos linguísticos presentes na superfície do texto e da sua organização, bem como necessidade da mobilização de vários conhecimentos no interior do evento comunicativo.. A partir do texto “Black Awareness Day in Brazil” desenvolvemos algumas questões as quais consideram a essa concepção de leitura. Vejamos: Black Awareness Day in Brazil Why is there still systemic racism and discrimination against Black people in this country? By irony of fate, today, in Brazil, we celebrate Black Awareness Day – which is also called Black Consciousness Day. Yesterday, a Black man was Beaten to death at a retail store. So the question that Begs an answer is how many more lives have to Be taken until our leaders make a real change? The death of the 40-year-old male bears a striking resemblance to George Floyd case in the United States. The American victim claimed for his life and whispered “I can’t breathe” hoping that the police officer would take his knee off his throat. While getting beaten up, the Brazilian husband said to his wife “help me”. Unfortunately, their attempts were in vain. As Martin Luther King said in 1963, “I had a dream.” Every day I wake up and hope that this dream finally came true. Fonte: SILVA, Daniel. Inglês no teclado. Disponível em https://inglesnoteclado.com.br/2020/11/texto-em- ingles-sobre-racismo-e-exercicios-com-respostas.htmlAcesso em 03 maio de 2021. 1. According to the text, is there still racism in Brazil today? What is your opinion about this? 2. The text presents a position regarding the Black Consciousness Day in Brazil. Do you agree with this position? 3. What other forms of descrimination are there in Brazil? Na Questão 1, o leitor deve considerar o texto, isto é, o racismo presente no Brasil ainda hoje, bem como deve expor a sua opinião sobre esse assunto. Em seguida, na Questão 2, é abordado a posição adotada no texto a respeito do “Dia da Consciência Negra” a fim de que o leitor opine se concorda ou não com esse posicionamento a favor dessa data tão significativa para o nosso país. Na última questão, o leitor deve expor as demais formas de descriminação existentes no Brasil. Portanto, a leitura é um processo https://inglesnoteclado.com.br/2020/11/texto-em-ingles-sobre-racismo-e-exercicios-com-respostas.html https://inglesnoteclado.com.br/2020/11/texto-em-ingles-sobre-racismo-e-exercicios-com-respostas.html no qual o leitor desenvolve um trabalho ativo para a compreensão e interpretação do texto a partir do texto e dos seus conhecimentos anteriores à leitura. Essa concepção de leitura com foco na interação autor-texto-leitor vem de encontro com o que os Parâmetro Curricular Nacional defende A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividadeque implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.(BRASIL, 1997, p. 41). Concepção leitura: foco no discurso A leitura é vista como um processo discursivo, no qual o autor e o leitor são entendidos como produtores de sentido do texto. Assim, Com a incorporação das noções da pragmática, outra guinada é observada. O foco passa a ser não mais sobre o que o texto diz em função da interação do leitor com os dados linguísticos, mas sobre o que o autor quis dizer, isto é, suas intenções. Nessa visão, o ato de ler passa a ser visto como um ato comunicativo. (KATO, 1999, p. 114-115) Essa concepção advém da Análise do Discurso francesa cujo objeto de estudo é o discurso. Sendo assim, a leitura é determinada pela formação discursiva - momento sócio-histórico - do leitor e do autor, bem como pelos sentidos do texto. Além disso, o texto materializa o discurso, e este nunca será interpretado da mesma forma por diferentes leitores. O esquema a seguir representa a concepção de leitura discursiva. Com o objetivo de exemplificarmos uma atividade norteada pela concepção de leitura com o foco no discurso, apresentamos a seguinte atividade. Reading: Figura 2 - First text: Figura 3 - Second text Answer: 1. In the first text, which brand is advertised? How did you get this information? 2. What are the verbal and non-verbal elements that make up the first text? 3. What is the purpose of the first advertisement? 4. In the second text, what brand is being advertised? How did you get this information? 5. Is the purpose of the first text similar to the second text? 6. Why didn’t the second burger inside the box? What is the meaning effect created from the big Whopper? Na atividade anterior, a leitura com foco no discurso deve ser realizada por intermédio do professor. As três primeiras questões se referem ao primeiro texto, a propaganda da empresa de fast food Mc Donalds. Notamos que os leitores precisam realizar a leitura do texto verbal e não verbal, bem como utilizar seus conhecimentos prévios (culturais, históricos e sociais) para responder às questões 1, 2 e 3 compreendendo qual marca é anunciada e quais recursos - as cores da marca (vermelho e amarelo), a logo, as inscrições timbradas no fundo da foto com a inscrição de comemoração de 50 anos do Hambúrguer “Big Mac”, bem como a imagem deste no centro da propaganda. Em contrapartida, no segundo texto, a empresa anunciada é do mesmo segmento alimentício, a famosa empresa de fast food “Burger King”, concorrente da empresa Mc Donalds, conforme questionado na Questão 4. Para obter a resposta dessa questão, os leitores precisam identificar a marca por meio da logo, das cores e a menção de um dos nomes de seus hambúrgueres. Na Questão 5, é questionado se o objetivo da primeira propaganda é similar a segunda, podemos afirmar que não, uma vez que a empresa “Mc Donalds” apenas anuncia e comemora um dos seus hambúrgueres mais famosos, porém a "Burger King” faz uma crítica a sua concorrente, e se coloca acima dela com relação a qualidade, pois o hambúrguer “Whopper” qualificado de “bobo” para ironizar a concorrência e, consequentemente, valorizar o tamanho, já que não cabe na caixa da concorrência, a caixa do hambúrguer “Big Mac”. 2 AS ETAPAS DE LEITURA https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-diversity-kid-lay-down-on-1054521569 Para uma visão psicolinguística, o processo de leitura possui quatro etapas - decodificação, compreensão, interpretação e retenção. Decodificação A primeira etapa de leitura é chamada de decodificação. Seu nome caracteriza a ação do leitor, isto é, decodifica o signo linguístico, “sem ela, todo o processo fica emperrado e não permite que as demais etapas se concretizem. Nessa etapa, ocorre o reconhecimento do código escrito e sua ligação com o significado pretendido no texto”. (MENEGASSI, 2010, p. 10). Entretanto, o autor salienta que o simples reconhecimento das palavras e a relação com o significado não caracteriza uma leitura. Por isso, “a decodificação, para ser considerada como uma etapa no processo de leitura, deve ser aliada à compreensão, iniciando o processo de apreensão de significados. Decodificação mal feita implica compreensão mal sucedida” (MENEGASSI, 1995, p. 87). Compreensão A compreensão de texto caracteriza-se como a segunda etapa do processo de leitura. Para compreender um texto, é preciso captar a temática do texto e resumi-lo. “Para que isso aconteça, o leitor deve conseguir reconhecer as informações e os tópicos principais do texto, assim como, também, dominar as regras sintáticas e semânticas da https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-diversity-kid-lay-down-on-1054521569 língua usada”.(MENEGASSI, 2010, p. 12). Na compreensão, Menegassi (1995) descreve três níveis diferentes. O nível literal de compreensão ocorre quando o leitor se detém exclusivamente ao texto, à “leitura superficial” das ideias ali contidas. Nesse nível o leitor não faz inferências. O nível inferencial de compreensão permite que se façam incursões no texto, reiterando informações que nem sempre estão em nível superficial. O uso de inferências permite ao leitor uma expansão nos seus esquemas cognitivos, pois ampliará sua capacidade de buscar novas informações a partir do que não está implícito. A não realização do ato de inferenciação pode ocasionar compreensão limitada, não possibilitando, muitas vezes, a apreensão dos conteúdos do texto. O nível interpretativo de compreensão já é mais elevado do que os anteriores, pois o leitor começa a deixar o texto, a expandir sua leitura. Em realidade, esse nível permite que se faça a ligação dos conteúdos que o texto apresenta aos conhecimentos que o leitor possui, dando início à terceira etapa do processo de leitura (MENEGASSI, 1995, p. 87-88) Podemos observar que os níveis vão possibilitando que a compreensão de um texto evolua. Por exemplo, primeiro, no nível literal, há uma leitura superficial. Em seguida, no nível inferencial de compreensão, o leitor faz inferências ampliando os sentidos do texto. Por fim, no nível interpretativo de compreensão, “o leitor começa a deixar o texto, a expandir sua leitura. Em realidade, esse nível permite que se faça a ligação dos conteúdos que o texto apresenta aos conhecimentos que o leitor possui, dando início à terceira etapa do processo de leitura”. (MENEGASSI, 1995, p. 88). Interpretação A interpretação, terceira etapa de leitura, “é a etapa de utilização da capacidade crítica do leitor, o momento em que analisa, reflete e julga as informações que lê” (MENEGASSI, 2010, p. 17). Sendo assim, para que o leitor consiga realizar a interpretação, é preciso que ele já tenha feito anteriormente a compreensão. Nesse etapa de leitura, O leitor, ao compreender, faz uso de seus conhecimentos anteriores, que se interligam aos conteúdos que o texto apresenta. No momento em que o leitor alia os conhecimentos que possui aos conteúdos que o texto oferece, ele amplia seu cabedal de conhecimentos e de informações, reformulando conceitos e ampliando seus esquemas sobre a temática do texto. (MENEGASSI, 1995, p. 88). Para que haja a produção de interpretações, as inferências são essenciais. Elas são ligações de sentido entre o leitor e o texto, bem como entre o texto e o leitor. Como verificamos no quadro a seguir. Quadro 1 - Representação esquemática na produção de interpretações Fonte: (MENEGASSI, 2010, p. 18). RetençãoA última etapa do processo de leitura, chamada de retenção,“é responsável pelo armazenamento das informações mais importantes na memória do leitor. Para isso ocorrer, a retenção pode se dar em dois níveis”. (MENEGASSI, 2010, p. 20). Essa etapa tem dois níveis, Para Menegassi (2010, p. 20), O primeiro é resultado do processamento da compreensão, isto é, o leitor não precisa fazer uso da interpretação. Nele, o leitor armazena na memória a temática e as informações principais do texto lido, sem analisá-las. O segundo nível de retenção (...) advinda da interpretação, é sempre maior do que a da compreensão, uma vez que são alterados os conhecimentos prévios do leitor, (...) com o acréscimo de informações resultadas de um julgamento realizado pelo leitor, sobre o texto lido, o que altera seu ponto de vista sobre o tema e possibilita a construção de um novo texto. A partir dessas quatro etapas do processo de leitura, cabe a nós, professores de língua inglesa, estudarmos os textos trabalhados em sala de aula e estabelecermos objetivos claros e definidos em cada processo de leitura, a fim de que, no final do processo de leitura de um texto, consigamos levar nossos alunos a obterem a retenção das informações. 3 PRÁTICA DE LEITURA NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-pretty-woman-teacher-on-english-678737923 Ao abordarmos as práticas de leitura no Ensino de Língua Inglesa, precisamos retornar aos documentos oficiais a fim de compreendermos os direcionamentos no que diz respeito ao ensino de LI. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a aprendizagem de leitura em Língua Estrangeira pode ajudar o desenvolvimento integral do letramento do aluno. A leitura tem função primordial na escola e aprender a ler em outra língua pode colaborar no desempenho do aluno como leitor em sua língua materna (BRASIL, 1998, p. 20). A leitura em língua inglesa, assim como em outras línguas, depende de vários fatores: conhecimento do código linguístico, dos gêneros textuais a serem lidos, dos temas presentes no texto; O professor, mediador do conhecimento, deve auxiliar aos alunos na construção dos objetivos a serem alcançados na leitura, para que assim definam o nível de compreensão que precisam ou desejam atingir. Para que isso ocorra, abordaremos a seguir algumas estratégias utilizadas por leitores diante de textos em língua inglesa. ● “Prediction”: pode ser tanto um nível de leitura quanto uma pré-leitura, ou seja, o leitor irá predizer informações que muito provavelmente estará no texto. Assim o leitor poderá predizer elementos linguísticos, ideias, conceitos que o texto apresentará, função social do gênero lido entre outros. https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-pretty-woman-teacher-on-english-678737923 ● “Skimming”: significa “olhada” geral, rápida por todo o texto para apreender o que for compreensível à primeira vista, com objetivo de realizar uma compreensão global do assunto e do enfoque que lhe é dado, através das informações não- verbais, dos títulos, subtítulos, início e fim de parágrafos, entre outros, permitindo reconhecer o gênero e fazer algumas predições. ● “Scanning”: busca de informações específicas em locais do texto já previstos, como por exemplo, os principais aspectos presentes na introdução, as características das personagens, tempo, espaço e conflito presentes no desenvolvimento de uma narrativa, nesta estratégia de leitura, ainda busca informações pontuais. ● Exploração do lay-out: o leitor precisa observar aspectos relacionados à estrutura do texto (disposição na página, título, subtítulos, autor, data de publicação, fonte e referência bibliográfica, entre outros), bem como os elementos não lingüísticos (fotos, desenhos, gráficos). ● O vocábulo, a dedução e o contexto: trata-se de localizar as palavras repetidas, as palavras-chave, as palavras cognatas e as palavras derivadas, assim o leitor poderá relacioná-las a seus conhecimentos linguísticos anteriores e ao contexto no qual elas apareceram, estabelecendo um sentido a essas palavras. ● A flexibilidade: refere-se à flexibilidade no modo e no ritmo que lê, considerando o tipo de texto e o objetivo da leitura. Isto ocorre porque os textos requerem leituras diferentes. ● Seletividade: diz respeito à capacidade do leitor selecionar, num texto, aspectos importantes tais como: palavras, parágrafos, seções, porções que considera importantes para compreender melhor sem ter que ler o texto na íntegra. ● A organização textual: diz respeito à estrutura de um texto que permite recorrer a uma estratégia importante na construção de seu significado. O leitor precisa compreender a parte composicional, isto é, introdução, desenvolvimento e conclusão; a fim de compreender e analisar as relações que se estabelecem entre elas; organizar o conteúdo global; entender a intenção comunicativa do texto. E, por fim, realizar uma interpretação crítica do texto. ● Sequência cronológica: como o próprio nome já a define, refere-se à observação cronológica dos eventos presentes no texto, a qual permite construir a coesão textual. Reconhecendo que a compreensão leitora é um processo complexo de construção e de negociação de significados, uma vez que o leitor precisará transitar entre o seu mundo - conhecimento cultural, social e histórico, e o mundo do autor, por meio da materialidade do texto. Essas estratégias auxiliarão os leitores no processo de leitura, já que, muitas vezes, os leitores não terão conhecimento de todos os vocabulários, nem de todas as estruturas gramaticais presentes em um determinado texto em LI, logo para que haja interpretação, poderá utilizar algumas dessas estratégias. SAIBA MAIS Fonte: Vasquez. Natanael Wilberto Juarez. Skimming, Scanning. Disponível em .https://www.mindomo.com/pt/mindmap/skimming-scanning-fb6961acb16e423d8b01fd16640471c7. Acesso em 06 de maio de 2021. #SAIBA MAIS# REFLITA “Não temo dizer que inexiste validade no ensino em que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz.” Fonte: Pedagogia da Autonomia; 51ª edição; Editora Paz & Terra; página 26. Paulo Freire. https://www.mindomo.com/pt/mindmap/skimming-scanning-fb6961acb16e423d8b01fd16640471c7 #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, abordamos a leitura dentro do processo de ensino-aprendizagem no ensino de Língua Inglesa. Primeiramente, descrevemos quatro importantes concepção de leitura - (i) foco no texto, (ii) foco no leitor, (iii) foco na interação texto-autor-leitor, (iv) foco no discurso, destacando suas características e explorando alguns exemplos de atividades para que você, estudante, conseguisse compreender de forma didática como cada uma dessas concepções ocorre na prática. A partir dessas atividades, concluímos que a materialidade, ou seja, o texto, poderá ser explorado de diversas formas, de acordo com os objetivos propostos pelo professor. É válido destacarmos que, embora a concepção com foco no discurso seja mais interativa e eficaz, o professor precisa ter a sensibilidade de explorar determinados textos com base na real necessidade de sua sala de aula, pois uma concepção precisará de uma maior domínio da língua inglesa comparada a outra concepção. Em seguida, estudamos as quatro etapas de leitura - decodificação, compreensão, interpretação e retenção, definindo-as e associando uma com as outras, com o objetivo de entender que a leitura só ocorre de maneira significativa,se cumprirmos todas as etapas de leitura, assim cabe aos professores compreender que a leitura deve ser realizada como um processo, e em cada etapa, é preciso mobilizar alguns recursos diferentes até chegar na etapa final. Por fim, compreendemos a importância das práticas de leitura no ensino de língua inglesa, ressaltando algumas estratégias de leitura - skimming, scanning, prediction, seletividade, as quais podem auxiliar os professores em sala de aula, considerando que, muitas vezes, os alunos não terão domínio de todos os elementos linguístico, já que a LI não é sua língua materna, e estes ainda estão em processo de aquisição de linguagem dessa segunda língua. LEITURA COMPLEMENTAR ESP: O USO DAS ESTRATÉGIAS DE LEITURA PARA COMPREENSÃO DE TEXTOS EM LÍNGUA INGLESA Alane de Jesus Souza, Aline de Almeida Brito Evaldo Ferreira Resumo: Este artigo objetiva relatar os resultados de um minicurso ofertado à comunidade acadêmica. Serão aplicadas atividades que compreendam o contexto nacional e global, através da abordagem ESP. Espera-se que os cursistas leiam e compreendam provas de proficiência de programas de pós-graduação stricto sensu em língua inglesa. Palavras-chave: Minicurso, ESP, provas de proficiência, pós-graduação, língua inglesa. Fonte: SOUZA Alane; BRITO Aline; FERREIRA Evaldo — ESP: O USO DAS ESTRATÉGIAS DE LEITURA PARA COMPREENSÃO DE TEXTOS EM LÍNGUA INGLESA. Anais do Congresso Nacional Universidade, EAD e Software Livre, v. 1, n. 9 (2018). Disponível em http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:vkrAIlzV8y0J:www.periodicos.letras.ufmg.br/ind ex.php/ueadsl/article/view/13932+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br Acesso em 07 de maio de 2021. http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:vkrAIlzV8y0J:www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/ueadsl/article/view/13932+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:vkrAIlzV8y0J:www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/ueadsl/article/view/13932+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br LIVRO • Título: Ler e compreender os sentidos do texto. • Autoras: Ingedora V. Koch, Vanda Maria Elias. • Editora Contexto • Sinopse: Este livro apresenta pensamento sistematizado como uma ponte entre teorias sobre texto e leitura e práticas docentes. Pensado e idealizado para professores da educação básica. As autoras destacam a importância e a complexidade do ato de ler, portanto exige do leitor muito mais do que o conhecimento a respeito dos elementos linguísticos, mobilizando diversas estratégias a fim de construir sentidos do texto. FILME/VÍDEO • Título: Central do Brasil • Ano: 1998 Central do Brasil é um filme franco-brasileiro de 1998 dirigido por Walter Salles, e estrelado por Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira. Ambientado no Brasil, o enredo gira em torno de Dora, uma professora aposentada que trabalha como escritora de cartas para pessoas analfabetas na Estação Central do Brasil, a qual ajuda Josué a encontrar seu pai no Nordeste, pois sua mãe morreu atropelada por um ônibus. Esse filme destaca o poder da leitura. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação - Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa - 1º e 2º Ciclos do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997, p. 41. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. GARCEZ, L. H. do C. Técnicas de redação: o que é preciso para saber escrever bem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. KATO, M. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1999. KATO, M. O aprendizado da leitura. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1985. KLEIMAN, A. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado da Letras, 1995. KOCH, I. G.V. Introdução à Linguística Textual: Trajetória e grandes temas. São Paulo: Martins Fontes, 2006. KOCH, I. G. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. MAURER, J. L. Compreensão de linguagem escrita: aspectos do papel do leitor. In: BOHN, H. I.; VANDRESEN, P. (Org.). 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UNIDADE II A LEITURA POR MEIO DOS TEXTOS LITERÁRIOS Professora Mestre Sâmia Cardoso Professor Especialista Fabio Cardoso Plano de Estudo: ● Razões para o uso da literatura em sala de aula; ● Gênero épico; ● Gênero lírico; ● Gênero dramático. Objetivos de Aprendizagem: • Compreender os tipos de texto literário e como usá-los em sala de aula, • Estabelecer a importância do trabalho com a literatura para a aquisição de linguagem. INTRODUÇÃO Olá, caros estudantes, Nesta unidade temos como intuito apresentarmos os tipos de textos literários e suas especificidades de trabalho em sala de aula. Inicialmente, destacamos a importância de se trabalhar com o texto literário/artístico em língua estrangeira durante as aulas e como este trabalho é importante para fornecer recursos valiosos para a aquisição de linguagem. Em seguida, buscamos apresentar os gêneros literários, demonstrando possíveis formas de se trabalhar o texto literário em sala, incentivando os alunos à compreensão, prática, reflexão e comparação com a própria língua. O primeiro gênero literário que buscamos trabalhar é o gênero épico. Demonstraremos as possibilidades, as discussões e as estratégias para que o trabalho com os livros seja o mais eficaz possível para os alunos. O segundo gênero literário é o gênero lírico. Este talvez seja o tipo literário mais comum e é aquele que vemos mais regularmente em sala de aula. Neste gênero demonstraremos como o uso de poemas, poesias, rimas, músicas etc, podem ser enriquecedoras para as aulas de LI. Por fim, apresentamos o gênero dramático e veremos que o trabalho com os textos dramáticos não necessariamente nos obriga a ler clássicos em inglês arcaico, embora culturalmente seja enriquecedor, mas sim utilizar as particularidades do gênero como uma forma de prática textual e oral. Bons estudos! 1 RAZÕES PARA O USO DA LITERATURA EM SALA DE AULA https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/education-learning-concept-opening-book- textbook-1491910001 Muitas vezes é complexo para nós professores refletirmos e pensarmos de maneira crítica sobre nossas práticas profissionais. É muito comum uma certa ansiedade por isso e, assim, ficamos reféns de nossas zonas de conforto evitando desafios maiores para não disparar mais gatilhos ansiosos. Entretanto, vamos apresentar algumas formas de inserir a literatura ao desenvolver desta unidade, com o intuito de demonstrar ser possível o uso de literatura de uma forma menos tradicional em nossas aulas. E, além disso, devemos pensar que muitas vezes é melhor trabalharmos um pouco de literatura com os estudantes do que absolutamente nada. Pensando nisso,buscamos encontrar elementos que pudessem primeiramente apresentar os motivos para a realização da literatura em sala de aula. Baseados em “Why teach literature in the foreign language classroom?” de Jonathan P. A. Sell (2005), comentamos essas razões a seguir: 1. Modelo linguístico. O texto literário pode prover bons modelos linguísticos de escrita, expressões diferenciadas, rimas etc. https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/education-learning-concept-opening-book-textbook-1491910001 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/education-learning-concept-opening-book-textbook-1491910001 2. Competência linguística. A literatura consegue expandir as competências dos alunos que já possuem algum conhecimento básico na língua. 3. Enriquecimento cultural. O uso da literatura promove a expansão da consciência e compreensão cultural. 4. Treinamento mental. A literatura pode treinar a mente e a sensibilidade. 5. Autenticidade. Literatura é material genuinamente autêntico e não textos artificiais muitas vezes escritos ou selecionados para contextos específicos no texto. 6. Notabilidade. A literatura, especialmente poesia e música, tem como característica o fato de poderem ser memoráveis. Por isso, utilizar-se desses recursos em sala de aula pode ser fonte para um rico acervo linguístico. 7. Aberto a interpretação. O texto literário é capaz de gerar discussões e é aberto a análise dos alunos gerando interação entre os alunos. 8. Material motivacional. A literatura é ferramenta para engajar e motivar os alunos a lidar com questões e situações subjetivas que podem ser do interesse dos alunos. 9. Ritmo. Poemas apresentam uma cadeia rítmica capaz de apresentar aos alunos os ritmos da linguagem. 10. Conveniência. O recurso necessário é geralmente um material simples que pode ser fotocopiado e entregue aos alunos. Por outro lado, há também adversidades no trabalho com a literatura em sala de aula, uma vez que, a depender da proficiência dos alunos na língua, podem ocorrer dificuldades acima do esperado para a turma, o que dificulta o processo de aprendizagem. Outro contratempo ao uso de literatura em sala de aula nos dias de hoje tem sido o quão as novas tecnologias modificaram as práticas culturais atuais e o consumo delas. É evidente que a literatura jamais deixará de existir, porém é notável que a cada ano o hábito de leitura tradicional se torna incomum, ou seja, aquele hábito de consumir livros da forma como nós consumimos vai sendo substituído por outras formas de consumir arte. Nesse sentido, temos que ter a visão de que, como professores de uma geração ávida por novidades e repleta de recursos o tempo todo, é preciso buscar confluência entre os textos literários e não-literários para tentar proporcionar ao nosso aluno uma experiência repleta de possibilidades. Como define Rossner (1983), Se você é um professor sensato, você usa todo tipo de recurso que é possível. No entanto, a diferença entre o discurso convencional e o discurso literário é que no convencional você pode antecipar, pegar atalhos; quando lê algum trecho, digamos, você geralmente sabe algo sobre o assunto do trecho e pode usar esse conhecimento enquanto faz a leitura naturalmente com o intuito de interpretar o texto. Isso é um procedimento natural de leitura: todos fazemos isso. A quantidade de informação que geralmente extraímos de algo que lemos é mínima, na verdade, isso ocorre porque nós simplesmente buscamos no trecho algo que encaixe num conhecimento prévio que já possuímos. Entretanto, não é possível fazer isso com a literatura porque precisamos encontrar evidências as quais sejam representativas de alguma nova realidade. Então, com o discurso literário, os processos reais para fazer sentido estão nas evidências. É necessário empregar procedimentos interpretativos diferentes daqueles requisitados num processo normal de leitura. (ROSSNER, 1983, p. 35, tradução nossa,). 1 No decorrer desta unidade, buscaremos estratégias para o ensino com os gêneros épico, lírico e dramático, tentando estabelecer práticas possíveis e realizáveis para o trabalho com estes em sala de aula. 1 If you’re a sensible teacher you use every resource that comes to hand. But the difference between conventional discourse and literature is that in conventional discourse you can anticipate, you can take short cuts; when reading a passage, let’s say, you often know something about the topic the passage deals with, and you can use that knowledge while reading naturally in order to find out what’s going on in the passage. This is a natural reading procedure: we all do it. The amount of information we normally take out of something we read is minimal, actually, because we simply take from the passage what fits the frame of reference we have already established before reading. Now you can’t do that with literature . . . because you’ve got to find the evidence, as it were, which is representative of some new reality. So, with literary discourse the actual procedures for making sense are much more in evidence. You’ve got to employ interpretative procedures in a way which isn’t required of you in the normal reading process. (ROSSNER, 1983, p. 35) 2 GÊNERO ÉPICO https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-books-quill-pen-vintage-inkwell- 1947616498 Há de se considerar, ao longo dos anos, que o acesso à informação e o avanço tecnológico têm modificado a forma com a qual lidamos com o texto escrito. Percebemos que a velocidade com a qual os textos surgem, modificam-se e se estabelecem socialmente é igualmente proporcional a sua necessidade em sala de aula. Atualmente, nossos alunos consomem literatura de diversas formas, porém cada vez menos da maneira tradicional. E é um desafio buscar despertar este desejo para uma atividade cada vez menos comum entre eles. Ao nos depararmos em como trabalhar com o livro em sala de aula, podemos muitas vezes nos preocupar em como levar essa realização concretamente para jovens que podem estar alheios a essa materialidades. Por isso, é preciso que essa inserção seja atrativa, cativante e sedutora para os alunos, no sentido de despertar interesse sobre o assunto do material lido. Em anos iniciais, é importante que o trabalho com o texto narrativo seja lúdico, prazeroso e divertido; a escolha de materiais vibrantes, coloridos, curtos, e de fácil compreensão torna-se essencial para obter êxito no trabalho com o texto narrativo em sala de aula. Outro dado importante é considerar diversas formas de fazer a leitura do texto. Muitas vezes, os alunos sozinhos não terão autonomia para ler e compreender o texto, https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-books-quill-pen-vintage-inkwell-1947616498 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/old-books-quill-pen-vintage-inkwell-1947616498 por isso, a figura do professor, neste momento, é importante. Além disso, não limitar essa leitura para apenas um dia, ou uma vez. O texto literário pode ser dividido e lido em diversas aulas, lido em um momento específico, sendo retomado a cada aula. Assim, os alunos têm acesso ao mesmo vocabulário, ampliando o reconhecimento das palavras e sua aquisição de forma natural. O professor dos anos iniciais deve explorar as imagens e o texto não-verbal. Procure atividades as quais os alunos também podem buscar o lúdico, como desenho de alguma ação dos personagens. É importante preparar questões de pre-reading, while-reading e post-reading com o intuito de praticar o entendimento dos alunos sobre aquilo que leem. A leitura de um texto narrativo não pode ser por si mesmo. Deve haver fins pedagógicos bem definidos pelo professor para que o trabalho com o texto não seja visto pelo aluno como uma atividade sem razão de existir. O mesmo deve nortear o trabalho com os anos finais. Coma diferença que, para os alunos desta faixa de idade, o texto narrativo deve fazer sentido para sua realidade e o trabalho já pode ser mais autônomo no sentido de acreditar que os alunos conseguem uma maior compreensão do texto sozinhos. De acordo com Polidorio (2004), O uso de short stories mostrou reações positivas porque os alunos gostavam de descobrir o que aconteceria ao fim da história e isso fazia com que eles se concentrassem na leitura. Eles gostaram de discutir o tema das short stories. A participação dos alunos nas aulas com os textos foi maior do que em aulas sem eles. O que foi possível perceber que 50% dos alunos estavam interessados na leitura e discussão. (POLIDORIO, 2004, p. 96, tradução nossa)2 E como então determinar o melhor texto/livro para se trabalhar com os alunos? Como fazer a escolha levando em conta as necessidades dos alunos? Inicialmente, o professor precisa se perguntar sobre as possibilidades de que o material seja acessível para todos alunos; em seguida, qual o tema do material e como ele contribui para a 2 The use of short stories showed positive reactions because students liked to find out what would happen in the end of a story and this made them concentrate on the reading. They liked to discuss the theme of the short stories. Students’ participation in the lessons with the short stories was bigger than in the lessons without the short stories. It was possible to see that 50% of them were interested in the reading and discussion. (POLIDORIO, 2004, p. 96). realidade social/econômica daquela turma. Aí, sim, buscar um livro que possa responder positivamente a essas perguntas. Após nos perguntarmos criticamente sobre os efeitos do uso do texto narrativo em sala de aula, podemos buscar esses materiais em editoras, por meio de seus catálogos, ou até mesmo nos clássicos. Por exemplo, os alunos dos anos iniciais da educação básica desenvolvem trabalho com os contos de fada em língua portuguesa como recurso para aprenderem diversas disciplinas, por que não trabalhar os mesmos contos em língua inglesa? Ou contos adaptados, com finais diferentes para criar fatos novos, novas discussões, entre outras possibilidades? Em relação a essa interdisciplinaridade, Rodrigues (2015, p. 27) diz que, Ao inserir literatura nas aulas de LE, o professor também pode trabalhar interdisciplinarmente a relação de sua disciplina com a de outras áreas, como por exemplo: Língua Portuguesa, Artes, História. Atividades articuladas e interdisciplinares que contribuam para a percepção maior do aluno, fazendo-o perceber que disciplinas diferentes também se relacionam. Assim, concluímos que não há motivos para que o professor evite o uso de textos narrativos em sala de aula, muito pelo contrário, o uso de livros de forma contínua pode ser exatamente o fator necessário para despertar aulas mais dinâmicas, fluidas e engajadoras. 3 GÊNERO LÍRICO https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-enjoying-reading-writing-poetry- concept-1629395236 Após refletirmos sobre o uso do texto narrativo como um recurso valioso para as aulas de língua inglesa, passamos a discutir o uso dos textos líricos, ou seja, talvez aquele que mais utilizamos em nossas aulas, pois envolve poesias, músicas, versos, que podem facilitar o trabalho do professor em sala de aula. O trabalho com o texto poético ou musical já é uma realidade comum no trabalho dos professores de língua estrangeira porque o ritmo, as rimas, a cadência dos versos são facilitadores para a aquisição linguística de maneira geral. Em relação ao caráter interpretativo, o trabalho com o gênero lírico também exige que os alunos reflitam sobre as possibilidades do texto artístico. Desse modo, os alunos precisam compreender todas as nuances do texto poético e não somente aquilo que está grafado. A compreensão do gênero lírico pode ser feita de diversas formas, sendo elas coletivamente em sala, individualmente, em discussões usando a língua alvo, entre outras. O gênero lírico permite o trabalho com recurso pouco utilizado nos diálogos, que é a constante presença de rima. Essa característica de estilo promove uma atividade de memorização e expansão de vocabulário importante, pela qual os alunos podem perceber a medida em que o texto é trabalhado em sala. https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-enjoying-reading-writing-poetry-concept-1629395236 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-enjoying-reading-writing-poetry-concept-1629395236 Nesse sentido, é perceptível que quando trabalhamos com músicas ou interpretação de poesia em sala de aula, os alunos assumem um papel claro de destaque ao agirem sobre o texto e buscarem suas particularidades. É importante que este processo seja feito com mediação, colaboração e auxílio do professor para que o aluno possa agir sobre o texto, desde que seu sentido seja preservado, ou seja, não se pode aceitar qualquer interpretação sobre os textos apenas porque pretendemos uma participação ativa dos nossos alunos. É preciso que haja coerência e evidências para comprovar as possíveis deduções. O uso de canções no ensino de inglês é visto como um fator muito positivo, como afirmam Santos & Pauluk (2002) [...] o uso de canções no ensino de inglês possui diferentes alvos. Além dos aspectos linguísticos como aquisição de vocabulário, compreensão da gramática e expressão oral e escrita, entre outros, podem ser propostos alguns de natureza cultural. As canções como forma de expressão cultural, veiculam valores estéticos, ideológicos, morais, religiosos, etc. Elas possuem, em seus conteúdos, as marcas do tempo e lugar da sua criação. (SANTOS; PAULUK, 2002, p. 6) Determinada a relevância do trabalho com o gênero lírico, o quanto este pode contribuir para o desenvolvimento de nossas aulas, é preciso pensar como inserir esse texto artístico durante as aulas de língua inglesa, uma vez que elas não devem ocorrer sem um propósito bem definido e um planejamento adequado. O trabalho com o texto lírico pode trazer excelentes resultados caso seja preparado pelo professor como um recurso dentro de uma sequência didática. Dessa forma, o professor deve fazer um trabalho de pre-reading, buscando apresentar o aluno ao assunto do texto trabalhado. Algumas atividades com músicas ou poesias podem ser feitos exercícios de while- reading, como por exemplo completar trechos do texto conforme ouvem a canção ou leem, ou, ainda, escolherem as palavras que eles acreditam que se encaixam na letra e conferir depois. Uma atividade como essa proporciona o agir crítico do aluno já sendo impelido a fazer a interpretação dos versos aos quais estão sendo expostos. Por fim, o professor deve apresentar atividades de post-reading na qual os alunos devem estar expostos a uma conclusão do assunto trabalhado, seja esse um “gancho” para uma próxima atividade, uma eventual produção artística dos alunos etc. Então, após apresentarmos as possibilidades do trabalho com o gênero lírico, temos como objetivo para o próximo tópico apresentar como viável o uso de textos dramáticos também nas aulas de língua inglesa. 4 GÊNERO DRAMÁTICO https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-actress-mouse-costume-461394385 Após as reflexões em relação aos diferentes gêneros (épico e lírico), chegamos ao gênero dramático, este talvez seja o tipo de texto menos utilizado em sala de aula atualmente. Se o trabalho com o texto literário já ocorre com pouca regularidade, o uso de peças de teatro ocorre ainda menos, porque se trata de um gênero considerado complexo, com vocabulário e diálogos considerados de difícil compreensão também. Mais uma vez, pretendemos demonstrar a relevância do uso do texto dramático em salade aula, suas possibilidades e o quanto é possível engajar nossos alunos a ler clássicos como Shakespeare e, além disso, propor até mesmo a encenação como forma de praticar a língua inglesa em uma representação artística e cultural. Já discutimos, nos tópicos anteriores, o fato de a literatura ser fonte de cultura, porque por meio dela os alunos entram em contato com um universo diferente do seu, incluindo hábitos, atitudes ante às situações apresentadas, linguagem etc. Por outro lado, temos em Shakespeare um exemplo de obras que apresentam temas universais, que ultrapassam o tempo e atingem até hoje relevância como feminismo em “Taming of https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-actress-mouse-costume-461394385 the shrew” (A megera domada), a traição em “Macbeth” ou o amor como em Romeu e Julieta. Ler uma obra shakespeariana pode ser um desafio caso pensemos em utilizar o texto original, no entanto, o professor deve se sentir seguro para trabalhar com a linguagem, o vocabulário e as estruturas que são diferentes das utilizadas atualmente. Por isso, sugerimos que o trabalho com a obra seja com as versões mais recentes, o que permitiria que os alunos ainda tivessem contato com o texto literário, porém não causaria nenhum tipo de anacronismo durante as aulas. Em relação a esta autonomia, Silvério defende que, Deve, portanto, o profissional responsável pela disciplina refletir a respeito de novos caminhos a serem adotados na sala de aula, aproximando-se, ao longo do processo de ensino-aprendizagem, da realidade do estudante, de modo a não somente facilitar a compreensão no conteúdo, mas também permitir com que floresça, desta maneira, o interesse no conhecimento de novas linguagens e culturas. (SILVÉRIO, 2018, s/p). Sendo assim, buscamos em Wielewicki & Marins (2018) exemplos de uso do texto dramático em sala de aula e pudemos perceber que, a mesma sequência que ocorre com os outros tipos de textos, irá ocorrer com este tipo também. Isto é, o professor deve preparar uma sequência didática inicial para apresentar o trabalho com o livro, atividades que possam ser efetuadas durante a leitura e, por fim, exercícios de conclusão do processo, podendo este ser com a materialização da própria peça de teatro adaptada. A sequência didática apresentada pelo artigo traz como proposta o uso de literatura aliado a diversos recursos além do livro e a peça escolhida foi “A Megera Domada”. O recurso utilizado para dinamizar o trabalho com a obra foi a telenovela “O Cravo e a Rosa”. Em relação a esse dialogismo entre as obras, as autoras demonstram as questões que justificam o trabalho com elas questionando como a literatura na televisão pode despertar o interesse e a crítica dos alunos. A proposta foi, assim, aliar uma análise estrutural a uma análise crítica desta circulação. Ao abordar questões como o tema e a caracterização de personagens na peça e na telenovela (como o fato de Catarina, na telenovela, ser representada como a mulher que se metamorfoseou de “fera” a “favo de mel”), podemos promover questionamentos sobre, por exemplo, a readequação do gênero da peça, no meio escrito, para o meio e o público televisivo. Shakespeare na sala de aula pode tornar, dessa forma, o aluno um agente, na medida em que este trabalho permite desenvolver sua criticidade ao propor reflexões sobre questões feministas e de ordem social [...] (WIELEWICKI & MARINS, 2018, p. 89) Após essas reflexões, resta evidente que o trabalho com o texto dramático favorece o ensino de inglês no sentido de ser produzido em prosa e permitindo que o aluno encare a sua reprodução como uma prática na aquisição da língua. Além disso, a estratégia de solicitar uma possível encenação pode ainda trabalhar com a inibição dos alunos, fazendo com que desenvolvam aspectos de confiança e possuam mais segurança ao utilizar a língua inglesa quando necessário. Rodrigues (2015, p. 27) afirma que “A imaginação pode ser muito explorada ao se trabalhar dramas, teatros em aulas de LE, além de se trabalhar também a inibição dos alunos, desinibindo-os e estimulando- os.” SAIBA MAIS Como o estudo da literatura auxilia no aprendizado da língua inglesa? O uso do texto literário nas aulas de língua inglesa ainda é visto como algo “impossível”, ou “muito trabalhoso”, por alguns professores de língua estrangeira. Este é um assunto que sempre gera discussões entre professores, coordenadores e alunos. Não podemos deixar de mencionar que esse tema já foi, e ainda é, motivo de muitas pesquisas de campo que se tornaram dissertações e teses no meio acadêmico. A partir desta discussão, sempre vem a pergunta: “Qual a importância da literatura nas aulas de inglês?”, ou “o uso da literatura ajuda no aprendizado de uma segunda língua”? Primeiramente, devemos lembrar que não podemos pensar em uma língua, sem pensar na cultura e tudo que envolve esta nova língua. Assim como as comidas típicas, músicas, filmes e arte, a literatura é extremamente importante durante o processo de ensino e aprendizagem da segunda língua. Através da literatura estrangeira, alunos e professores têm a oportunidade de mergulhar diretamente na sociedade e na história do país falante da língua alvo. Juntamente com o conteúdo de cada livro, os estudantes têm a oportunidade de aprender vocabulário novo e expressões idiomáticas utilizadas em outras épocas. Na maioria das vezes, a linguagem presente nestes livros são bem complexas. Porém, cabe ao professor preparar seus alunos antes da leitura. É necessário que seja realizado o “pre-reading”, onde o professor possa apresentar informações sobre o autor, a sociedade em que ele vivia, a sua forma de escrever, temas presentes em suas obras, vocabulário e expressões, entre outros. Como resultado, o professor terá alunos mais envolvidos e interessados em suas aulas, o que facilitará a leitura da obra. A literatura também permite ao professor proporcionar aos seus alunos discussões sobre temas que ainda são discutidos nos dias atuais, tais como diferenças sociais, preconceitos, casamento, educação, religião, política, entre outros. Sendo assim, o professor que se propõe a trabalhar com o texto literário nas aulas de língua inglesa, seja o livro todo, trechos ou poemas, terá como resultado de seu trabalho, alunos com ponto de vista crítico e com grande conhecimento linguístico e cultural. Texto: Patrícia Gabriela Parizotto Setten, profª das disciplinas RWS e inglês do Colégio Piracicabano Disponível em: http://colegiometodista.g12.br/piracicabano/noticias/201ccomo-o-estudo-da-literatura- auxilia-no-aprendizado-da-lingua-inglesa-201d #SAIBA MAIS# REFLITA Getting students to work together on a mini – production of a play, or simply to read an extract from a play aloud in class, is an excellent way of creating cohesion and cooperation in group - Lazar (2005, p.138) #REFLITA# CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao fim desta unidade, caros estudantes. Esperamos que tenha sido uma experiência enriquecedora e que este convite à reflexão sobre o ensino de literatura nas aulas de inglês possa ter encontrado materialidade em suas expectativas quanto à unidade. Discutimos aqui, inicialmente, a importância do uso de literatura em aulas de Língua Inglesa, abandonando uma crença de que o livro literário seja complexo ou impossível de ser trabalhado em sala de aula. Percebemos que há diversos fatores positivos para o uso da literatura, sendo um deles o fato de que ela “irá inserir o aluno na cultura do outro país, de forma autêntica, a partir do momento que são utilizadas obras oriundas de países originalmente de língua inglesa, da mesma forma que na disciplina de literatura e língua portuguesa apoiam-se em obras de autores brasileiros,contribuindo não só para o aprendizado da língua, gramaticalmente, mas também fornecendo conhecimento histórico da cultura do país em diferentes épocas. (Silvério, 2018) Em seguida, refletimos sobre os diferentes tipos de gêneros literários e como podemos trabalhar com esses levando em consideração suas particularidades e as diferenças entre eles. O gênero inicial foi o épico, ou o texto narrativo, no qual os alunos podem ser apresentados desde muito cedo, nos anos iniciais e a prática permanecer até os anos finais do ensino médio. As estratégias de leitura, de trabalho e a inclusão de atividades que passem a perceber o aluno como agente são fundamentais para um trabalho eficaz com os livros, além de contar com a perspicácia da escolha de materiais que sejam atraentes e que possuam relação com o conhecimento de mundo dos alunos. É nesse sentido que “a aprendizagem deixa de ser compreendida, assim, como a aquisição de conhecimento, habilidades e competência (unilateralmente transmitida do professor em direção ao aluno), e passa a se reposicionar como um processo de engajamento com a “subjetificação” do ensino, ou seja, os participantes deste processo tornam-se sujeitos”. (WIELEWICKI & MARINS, 2018, p. 90) Já o gênero lírico talvez seja o mais utilizado em sala de aula devido sua curta extensão e também por apresentarem elementos como rimas, cadências e ritmo, o que dá maior dinâmica para as aulas de inglês. Quem nunca aprendeu inglês com música? Ou decorou alguns versos de uma poesia famosa para recitar em algum momento especial da escola? Essas atividades lúdicas podem parecer menos assertivas, porém se trabalhadas de maneira reflexiva e com o aluno sendo protagonista das ações podem se tornar um perfeito mote de aquisição linguística. O gênero dramático, este muitas vezes abandonado em sala de aula, pode ser importante fator para ensino de cultura, mas também para trabalhar com aspectos extralinguísticos como a inibição dos alunos, a falta de segurança na língua inglesa, a coletividade e a colaboração dos alunos, entre outros. Por isso, cabe a nós professores sermos conscientes do papel fundamental que exercemos em nossas aulas e conscientes de que a literatura também deve ser incluída em aulas de LE. Não somente ensinar gramática ou demais disciplinas precisamos preparar nossos alunos para a sociedade, e que ele assim esteja de forma crítica e habilidosa. Para Silvério (2018), “o papel dos professores de LE não é somente ensinar a língua – gramática, sintaxe e etc – mas poder também fazer com que a LE se integre com outras disciplinas, valorizando assim o aspecto inter e multidisciplinar, deixando a LE mais significativa para preparar o aluno a pensar criticamente e a se integrar em sociedade”. LEITURA COMPLEMENTAR Multiletramentos e Ensino de Literatura em Língua Inglesa na Formação do Professor em Um Curso EaD Vera Helena Gomes Wielewicki, Liliam Cristina Marins Resumo Este trabalho tem como objetivo principal apresentar e discutir uma proposta de Ensino de Literatura em Língua Inglesa, a partir da análise de um livro didático, elaborado em 2014 para um Curso de Letras-EaD, acrescido de comentários dos alunos postados na plataforma Moodle. O livro contempla os principais gêneros literários (poesia, conto, drama e romance) e exemplos de textos literários desses gêneros que têm sua circulação expandida para canções, adaptações/traduções, telenovelas e filmes. Além disso, há sugestões de atividades para o texto literário em sala de aula do Ensino Básico e questões para a reflexão crítica do professor de literatura de língua inglesa segundo a pedagogia dos multiletramentos. Embora não haja na grade curricular do ensino regular uma disciplina voltada para a literatura em língua inglesa, acreditamos que não podemos ignorar todo esse material na sala de aula de língua inglesa no contexto brasileiro, pois ele pode contribuir para o desenvolvimento crítico e criativo dos alunos. Esta discussão se justifica por possibilitar reflexões sobre o ensino de literatura via outros meios (além do livro escrito) em uma configuração de ensino superior que ainda está galgando degraus para transpor barreiras geográficas, políticas, culturais e sociais – como é o caso da Educação a Distância no Brasil. O aporte teórico deste estudo se fundamenta em teóricos dos multiletramentos (COPE, B; KALANTZIS, M., 2000), das multimodalidades (KRESS, 2000) e da educação a distância (MOORE, 2002). Palavras-chave: Ensino de literatura em língua inglesa; educação a distância; multiletramentos LIVRO • Título: Malala • Autor: Fiona Beddall • Editora: Richmond • Sinopse: Malala conta a história de uma menina paquistanesa cuja campanha pela educação das meninas de seu país a levou a ser atingida na cabeça pelo Talibã, quando ela tinha quinze anos. Após essa terrível provação, Malala usou sua popularidade internacional em uma campanha em prol da educação de meninas. Depois de falar nas Nações Unidas e fazer visitas humanitárias ao redor do mundo, ela tornou-se a mais jovem vencedora do Prêmio Nobel da Paz. FILME/VÍDEO • Título: O Cravo e a Rosa • Ano: 2000 • Sinopse: O romance entre o rude caipira Petruchio (Eduardo Moscovis) e a geniosa Catarina (Adriana Esteves) norteia a trama. Os dois vivem em mundos completamente diferentes, e suas vidas se cruzam por conta da dificuldade financeira de Petruchio. Catarina talvez seja a solução dos problemas do fazendeiro. REFERÊNCIA CARVALHO, I. F. de; BRÍGLIA, T. M. O texto dramático shakespeariano na aula de língua inglesa do ensino médio. Calidoscópio, 11(3), 306–319, 2013. Recuperado de http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/view/cld.2013.113.09. Acesso em 05 de maio de 2021. POLIDORIO,V. The use of Literature in the English Teaching. Cascavel, Pr: Coluna do Saber, 2004. RODRIGUES, R. G. Gênero textual e texto literário nas aulas de Língua Inglesa: Breve apontamento no contexto do Ensino Médio. International Congress of Critical Applied Linguistic. Brasília, Brasil – 19-21 Outubro 2015. ROSSINER, R. “Talking shop: H.G. Widdowson on literature and ELT.” ELT Journal 37.1, 30-35. 1983. SANTOS, Jacinta de Fátima; PAULUK, Ivete. Proposições para o ensino de língua estrangeira por meio de músicas. 2002. SELL, J. P. A. Why teach literature in the foreign language classroom? Encuentro. 2005. 86-93. SILVÉRIO, Moisés. Literatura em Língua Inglesa: Leitura e Análise Textual no Ensino Médio. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 07, Vol. 04, pp. 51-67, Julho de 2018. WIELEWICKI, V. H. G. & Marins, L. C. Multiletramentos e Ensino de Literatura em Língua Inglesa na Formação do Professor em um Curso EaD. Revista Línguas & Letras. 2018. UNIDADE III PRODUÇÃO ESCRITA Professora Mestre Sâmia Cardoso Professor Especialista Fabio Cardoso Plano de Estudo: ● Concepções de linguagem; ● Concepções de escrita; ● A perspectiva do ensino de língua inglesa por meio dos gêneros textuais. Objetivos de Aprendizagem: ● Entender as concepções de linguagem; ● Compreender as concepções de escrita; ● Estabelecer a importância dos gêneros textuais para o ensino de língua inglesa. INTRODUÇÃO Olá, caros estudantes, Nesta unidade temos como intuito apresentarmos a Produção Escrita. De antemão, quando se trata de escrita, precisamos compreender as concepções adotadas no ensino, portanto, primeiramente, descreveremos as principais três concepções de linguagem. Posteriormente, descreveremos as principais concepções de escrita, destacando que, embora sejam utilizadascomo base teórica para o nosso ensino de língua materna, estas concepções também norteiam o ensino de língua inglesa. Por isso, destacamos as principais características de cada um delas, bem como suas influências em sala de aula. Por fim, no que diz respeito propriamente à escrita, ressaltamos a importância dos gêneros textuais, estes precisam estar presentes nas aulas de língua inglesa, pois, conforme os documentos que regem o ensino, a escrita precisa ser trabalhada de maneira contextualizada, interativa, partindo de situações reais de produção, a fim de que os alunos tenham êxito em suas produções e entendam o real significado da escrita em sua vida. Bons estudos! 1 CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM https://image.shutterstock.com/z/stock-photo-preschool-children-play-on-speech-therapy- lesson-in-kindergarten-or-primary-school-1502478416.jpg Antes de abordarmos as concepções de linguagem, precisamos compreender que a linguagem é indissociável do ser humano, uma vez que nos constituímos como sujeitos na/pela linguagem. (BENVENISTE, 1995). Portanto, quando se trata do ensino de língua estrangeira ou materna, precisamos conhecer as concepções que poderão ser adotadas pelos professores e suas possíveis influências na sala de aula. Sendo assim, no que diz respeito às concepções que norteiam o ensino-aprendizagem de língua inglesa, adotamos três concepções de linguagem - expressão do pensamento, instrumento de comunicação e forma de interação (GERALDI, 1984 apud BORGES, 2016). A seguir, descreveremos essas três concepções. Concepção: linguagem como expressão do pensamento A concepção de linguagem como expressão do pensamento surgiu na década de 60, quando poucas pessoas tinham acesso à educação formal, e a escola era “uma prática que se preocupava com o ensino de conceitos básicos e normativos da gramática da língua materna, voltados para o domínio da metalinguagem”.(ZANINI, 1999, p. 81). Assim, o ensino era extremamente tradicional, já que a linguagem era voltada apenas a estrutura linguística. Segundo Travaglia (1996), para essa concepção, as pessoas não se expressam por bem porque não pensam. A expressão se constrói no interior da mente, sendo sua exteriorização apenas uma tradução. A enunciação é um ato monológico, individual, que não é afetado pelo outro https://image.shutterstock.com/z/stock-photo-preschool-children-play-on-speech-therapy-lesson-in-kindergarten-or-primary-school-1502478416.jpg https://image.shutterstock.com/z/stock-photo-preschool-children-play-on-speech-therapy-lesson-in-kindergarten-or-primary-school-1502478416.jpg nem pelas circunstâncias que constituem a situação social em que a enunciação acontece (TRAVAGLIA, 1996, p. 21). Sendo assim, na mente do indivíduo, primeiro há a enunciação e, depois, a linguagem. Possenti (1997) colabora com essa definição ao afirmar que, para essa concepção, a língua tem um fim em si mesma, ela é pautada na gramática normativa, “concebida como um manual com regras de bom uso da língua a serem seguidas por aqueles que querem se expressar adequadamente” (TRAVAGLIA, 2005, p. 24). Por isso, a língua é imutável, sem variação, uma vez que, para que haja variação, é preciso que haja reflexão do pensamento, algo que não ocorre nessa concepção. Portanto, a língua São todas aquelas gramáticas cujo conteúdo corresponde a um conjunto de regras que devem ser seguidas e, por isso, destinam-se a ensinar os sujeitos a falarem e a escreverem corretamente, sendo os transgressores de tais regras considerados grosseiros, caipiras, incapazes de aprender. (POSSENTI, 1997, p. 64). Para a língua ser considerada correta precisa ser estruturada a partir de regras normativas. Assim, os alunos precisam dominar a linguagem normatizada, “a língua é só a variedade dita padrão ou culta e que todas as outras formas de uso da língua, são desvios, erros, deformações, degenerações da língua”. (TRAVAGLIA. 2009, p. 24). Figura 1 - Esquema: características da concepção de linguagem como instrumento de comunicação Fonte: Os autores. Diante disso, cabe à escola ensinar a norma padrão através de exercícios que tenham o intuito de internalizar as regras linguísticas. Já os alunos precisam aprender de modo passivo os exercícios, aqueles que não conseguem resolver são considerados incapazes de aprender, uma vez que “o texto é visto como produto (lógico) do pensamento (representação mental) do autor, nada mais cabendo ao leitor/ouvinte senão “captar” essa representação mental, juntamente com as intenções (psicológicas) do produtor, exercendo, pois, um papel e essencialmente passivo” (KOCH, 2009, p; 14). .A partir disso,as habilidades da leitura e da escrita são testes de capacidades, assim os alunos que as realizam satisfatoriamente dominam as regras da gramática normativa, logo são indivíduos dotados de um pensamento lógico. Por fim, os professores são aqueles que têm todo o saber, conhece e domina todas as regras normativas da língua. Concepção: linguagem como instrumento de comunicação Essa concepção se fundamenta na teoria da comunicação, assim para que haja comunicação, é preciso que alguns elementos estejam em harmonia. Um dos elementos é a língua, isto é, o código, constituído por um conjunto de signos que se combinam entre si por meio de regras. O código, no caso a língua inglesa, é utilizado por um emissor para transmitir uma mensagem a um receptor. Mas, para que a comunicação aconteça de modo eficiente, o código precisa ser dominado pelos emissores (falantes) e receptores (ouvintes). (TRAVAGLIA, 1996, p. 22). Diante disso, a língua é utilizada para transmitir uma mensagem, uma informação, a partir de regras gramaticais que devem ser seguidas pelo falante – ouvinte para que se estabeleça a comunicação. Além disso, essa concepção também está relacionada à teoria estruturalista da linguagem, pois, além da língua ser um instrumento de comunicação utilizado para transmitir uma mensagem, também é desenvolvida a oralidade e a escrita. Figura 2 - Esquema: características da concepção de linguagem como instrumento de comunicação Fonte: Os autores. Conforme a imagem anterior, essa concepção se relaciona à gramática descritiva porque estuda/compreende a gramática a partir de um conjunto de observações a respeito de uma determinada variante. Portanto, tem como objetivo descrever as línguas variantes da línguas, de acordo com a língua em uso. Concepção: linguagem como interação Para essa concepção, a língua é viva, dinâmica. Um dos principais autores que fundamenta essa concepção de linguagem é Mikhail Bakhtin, pois compreende a linguagem como um processo de interação verbal e social entre indivíduos, os quais compartilham conhecimentos por meio de enunciados produzidos em um contexto social específico. Segundo Koch (2000, p. 09) essa concepção é Aquela que encara a linguagem como atividade, como forma de ação, ação individual finalisticamente orientada; como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes reações e/ou comportamentos, levando ao estabelecimento de vínculos e compromissos anteriormente inexistentes. Sendo assim, a língua deve ser utilizada como um instrumento de interação social, mas “isso não significa banir a gramática, ou seja, o conhecimento das normas que regem a língua materna. Significa oportunizar-lhes a aproximação com a modalidade padrão culta”. (ZANINI, 1999, p. 84). Para essa concepção, o ensino de língua inglesa precisa propiciar ao aluno conhecimento da gramática, mas, especialmente, o desenvolvimento da capacidade de refletir criticamente a respeito do mundo que está ao seu
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