Buscar

AULA 01 (relaxamento prisão )

Prévia do material em texto

AULA 02 – PRÁTICA PENAL. 
PROFESSOR: LUCAS DORIA
RELAXAMENTO DA PRISÃO 
Flagrante é uma prisão que consiste na restrição da liberdade de alguém, independente de ordem judicial, possuindo natureza cautelar, desde que esse alguém esteja cometendo ou tenha acabado de cometer uma infração.
A expressão flagrante vem da expressão FLAGARE, que significa queimar, arder. É o que está acontecendo ou acabou de acontecer. 
Relaxamento da prisão tem como fundamento uma ilegalidade na prisão, quando os requisitos legais que devem ser obedecidos para uma prisão, não são obedecidos, ou seja, a prisão é feita em desconformidade com a lei.
		A prisão em flagrante é imediatamente relaxada quando se constata sua ilegalidade, nos termos do Art. 5º, LXV(65) da CF/88 “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”.
O relaxamento da prisão independe da gravidade do delito.
A prisão legal pode se tornar ilegal com o passar do tempo.
Além do relaxamento da prisão em flagrante, pode ocorrer o relaxamento da prisão preventiva, na situação prevista no tópico acima.
Depois da prisão ilegal ser relaxada, nada impede que existindo os fundamentos da preventiva, o juiz venha a decreta-la.
PREVISÃO LEGAL: Além da previsão constitucional acima mencionada, encontra-se no art. 310 do Código de Processo Penal, que diz: “Art. 310”.  Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 
     I - relaxar a prisão ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
        II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
        III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011). 
        Parágrafo único.  Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011). 
 
Cabimento: O relaxamento de prisão em flagrante é cabível quando o flagrante for realizado de maneira irregular, ou seja, em desconformidade com a lei.
Esses casos podem ser de vício material ou formal na ocasião da lavratura do Auto de Prisão em Flagrante (APF) ou quando houver excesso de prazo.
Vejamos alguns exemplos:
a) Vícios materiais: quando não há situação de flagrância (art. 302. CPP), seja pelo lapso de tempo entre a prática do crime e a prisão, apresentação espontânea do suposto autor do fato à polícia, flagrante preparado ou provocado, flagrante forjado.
Art. 302 - Considera-se em flagrante delito quem: 
I - está cometendo a infração penal; (flagrante propriamente dito).
II - acaba de cometê-la; (flagrante propriamente dito).
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; (Impróprio ou Quase Flagrante).
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. (Flagrante presumido)
Uma celeuma doutrinária surge quanto às expressões “logo após” e “logo depois”, Para Nestor Távora, o logo após compreende o tempo necessário para a autoridade tomar conhecimento do ato; chegar ao local da infração; e por fim, deflagrar a perseguição ao agente.
“Professor, e aquela história das 24 horas, é verdade que após 24 horas acaba o tempo do flagrante???” 
Hipóteses de flagrantes ilegais:
Apresentação espontânea 
Flagrante Preparado ou Provocado: Delito putativo por obra do agente provocador. O preso é instigado a cometer conduta ilícita. E o instigador ao mesmo tempo em que provoca toma providência.
Segundo Damásio de Jesus, ocorre quando alguém, de forma insidiosa, provoca o agente a praticar o crime, ao mesmo tempo em que adota providências para que o mesmo não venha a se consumar. 
Em relação a este tema, aplica-se a Súmula 145 do STF, que diz que não há crime quando a preparação do flagrante pela autoridade policial torna impossível a sua consumação. A jurisprudência entende que esta Súmula também se aplica no caso de o flagrante ter sido preparado pelo particular. Seria o caso de crime impossível por obra do agente provocador.
Como bem fala Nestor Távora:
"É um artifício onde verdadeira armadilha é maquinada no intuito de prender em flagrante aquele que cede à tentação e acaba praticando a infração."
Não confundir o flagrante preparado com o flagrante esperado.
Exemplo: "Determinado a reprimir o intenso narcotráfico realizado na região em que morava, um policial abordou um individuo que se encontrava em um bar e, fazendo-se passar por dependente de entorpecentes, indagou aquele individuo se ele não teria drogas pra vender. O indivíduo disse que, embora não fosse traficante e tivesse ali somente substância para seu uso próprio, poderia vender-lhe uma parte. 
Acertando o preço, o suposto viciado assim que recebeu a substância para uso, proferiu voz de prisão em flagrante delito, detendo o individuo. Está correta a voz de prisão? Não, pois se trata de flagrante preparado, logo deve ser imediatamente relaxado.
Flagrante Forjado: Irá ocorrer no caso, por exemplo, em que um policial, de forma leviana, coloca drogas no carro de alguém a fim de prende-lo em flagrante. O flagrante forjado não é válido. 
 Flagrante Esperado: Irá ocorrer na hipótese em que a polícia tendo conhecimento de que irá ocorrer um crime, espera que o mesmo aconteça e realiza a prisão em flagrante do agente que o praticou, não há preparação. É um flagrante válido
	
b) Vícios formais: vícios na lavratura do auto. Arts. 304 e 306 do CPP, exemplos: inversão na ordem dos depoimentos, ausência de assinatura do auto, falta ou excesso no prazo da emissão da nota de culpa, ausência do encaminhamento da cópia do auto de prisão em flagrante para a Defensoria Pública, nos moldes do art. 306, CPP.
Art. 304 - Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. 
§ 1º - Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.
§ 2º - A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade.
§ 3º - Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. 
Art. 306.  A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.      .
   § 1o  Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.        
 § 2o  No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.c) Quando o inquérito policial durar mais de 10 dias a contar da prisão em flagrante.
Art. 10.  O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
	
d) Quando do fato atípico;
Obs: Importante salientar que a gravidade do delito, ou a natureza do crime não impedem o relaxamento da prisão. Ex: José estuprou e matou uma grávida de 09 meses, 02 dias depois apresenta-se a delegacia de policia, não existe decreto de prisão preventiva, e o delegado prende José em flagrante delito. A prisão deve ser relaxada pois é ilegal.
	
Previsão legal:
Artigo 5°, LXV da CF, que diz: “a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária”. E art. 310 do CPP.
Qual prazo
A qualquer momento, enquanto o flagrante ilegal estiver sendo mantido.
A quem é dirigido
É endereçado ao juiz de primeira instância 
Quem é o legitimado
O preso submetido a prisão ilegal.
O que se deve pedir
Deve-se requerer o relaxamento da prisão em flagrante, com a expedição do alvará de justiça.
Processamento
Recebido o pedido de relaxamento da prisão em flagrante, o juiz decidirá sobre o pedido. Caso o juiz defira o pedido, o ministério Público pode interpor RESE. Caso negue o pedido cabe HC.
Caso prático
(OAB/SP – 105º Exame de Ordem) Na data de ontem, por volta das 22 horas, Romualdo encontrava-se no interior de sua residência, quando ouviu um barulho no quintal. Munido de um revólver, abriu a janela de sua casa e percebeu que uma pessoa, que não pôde identificar devido à escuridão, caminhava dentro dos limites de sua propriedade. Considerando tratar-se de um ladrão, desferiu três tiros que acabaram atingindo a vítima em região letal, causando sua morte. Ao sair do interior de sua residência, Romualdo constatou que havia matado um adolescente que lá havia entrado por motivos que fogem ao seu conhecimento. Imediatamente, Romualdo dirigiu-se à Delegacia de Polícia mais próxima, onde comunicou o ocorrido. O Delegado plantonista, após ouvir os fatos, prendeu-o em flagrante pelo crime de homicídio. Como advogado, elabore a medida cabível, visando a libertação de Romualdo.
Endereçamento
Preâmbulo
Dos fatos
Do direito
Pedido
Elaboração da resposta, conforme espelho da prova da OAB.
EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DO JÚRI DA COMARCA ____.
ROMUALDO, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de identidade n. ____, inscrito no CPF/MF sob o n. ____, residente e domiciliado no endereço, na comarca de ____, por seu advogado, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, requerer o RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE, com fulcro no artigo 5º, inciso LXV, da Constituição Federal, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas:
I. DOS FATOS
Na data de ____, por volta das 22h, o requerente encontrava-se em sua residência, localizada no endereço ____, quando, em determinado momento, ouviu um barulho em seu quintal.
Pensando trata-se de um ladrão, e temendo por sua vida, desferiu 03 (três) disparo de arma de fogo contra o invasor, que veio a falecer em consequência das lesões provocadas pelos projéteis.
Imediatamente, dirigiu-se à delegacia para comunicar os fatos, e, diante do relato, a autoridade policial o prendeu em flagrante.
II. DO DIREITO
Entretanto, a prisão deve ser imediatamente relaxada, pois ocorreu de forma ilegal.
De acordo com o artigo 302 do Código de Processo Penal, considera-se em flagrante delito quem:
a) está cometendo a infração penal;
b) acaba de cometê-la;
c) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
d) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
No caso em discussão, o requerente apresentou-se espontaneamente à autoridade policial, sem que tenha havido qualquer das hipóteses acima transcritas. É evidente, destarte, o seu interesse em esclarecer o ocorrido.
Como sabemos, a prisão em flagrante é a medida necessária para evitar a continuidade do ato delituoso, ou, caso já consumado, para que o suspeito não fuja, o que poderia causar imenso prejuízo à investigação do delito e posterior ação criminal.
Portanto, a prisão em flagrante do requerente é manifestamente ilegal, sendo imperioso o imediato relaxamento, nos termos do artigo 5º, LXV, da Constituição Federal.
III. DO PEDIDO
Diante do exposto, requer seja deferido este pedido de relaxamento da prisão em flagrante,  para que se expeça o respectivo alvará de soltura em favor do requerente, como medida de justiça.
Termos em que,
Pede deferimento.
Comarca, data.
Advogado,
OAB/____ n. ____.
Peça para ser elaborada em sala de aula.
Anderson Silva, alagoano, carpinteiro, casado, foi preso em flagrante delito ontem a noite, por volta das 21 horas, em frente a faculdade Mauricio de Nassau, quando roubou a mão armada um dos alunos desta instituição, levando seu Iphone 6 e sua carteira.
Ocorre que foi lavrado o Auto de prisão em Flagrante pela autoridade policial competente, e 39 horas após esta formalidade o preso Anderson Silva ainda não recebeu a nota de culpa.
A família do preso contratou você para assumir o caso, como advogado faça a peça cabível visando a soltura do mesmo.

Continue navegando