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1 Universidade Federal de Viçosa (UFV) Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas Departamento de Química e Engenharia Química (DEQ) ENQ 273 – Laboratório de Engenharia Química III NOMES: Isabella Cristina de Castro Júlia Gabriela Alves Nogueira Gonçalves Roni Júnior Simplício Marques Matrículas: 78147 83023 83034 TURMA: P03 PRÁTICA: Prática 04 – Doce de Leite. 1 INTRODUÇÃO O doce de leite, tradicional em muitos países da américa latina e muito consumido no Brasil, possui um processo de fabricação simples que varia entre métodos manuais caseiros e métodos industrializados em batelada. A principal etapa do processo consiste no aquecimento de leite e açúcar, podendo ou não conter aromatizantes e conservantes, a altas temperaturas até a mistura atingir a consistência e coloração desejada. As etapas consistem na padronização do leite a partir do controle da acidez e da quantidade de gordura, a adição de açúcar, o controle da concentração, cozimento e enlatamento. De forma geral o doce de leite fabricado industrialmente passa por um processo simples, no qual a evaporação da água ocorre por aplicação de calor na forma de vapor injetado em tanques abertos encamisados, os evaporadores, conforme Figura 1. Esse tipo de evaporador está entre os trocadores de calor mais simples e é o mais utilizado na fabricação deste produto (PERRONE, 2012). Figura 1.1 – Esquema de um evaporador. FONTE: PERRONE, 2012. 2 Para manter a qualidade do produto é necessário que as etapas do processo sejam bem conhecidas e controladas. O controle no processo de fabricação do doce de leite deve acontecer desde o início, desde a seleção do leite, verificação da pressão de trabalho do equipamento até o controle da temperatura. Os devidos cuidados durante todo o processo devem ser tomados para que as exigências de padronização e qualidade do produto final sejam atendidas, bem como se enquadrar nas regras da legislação e de segurança (PERRONI, 2012). Para garantir que as características finais do produto, que são avaliadas ao fim do cozimento, saiam como desejadas, é necessário que a concentração de sólidos solúveis esteja entre valores desejados de 62,5º Brix e 66,67° Brix, em temperatura pouco superior a 100°C. Valores de concentração acima do recomendado favorecem a cristalização da lactose, levando a um produto final indesejado. Além disso, o pH deve estar entre 5,9 e 6,1 (KRUG, 2007). Assim, para controlar a acidez utiliza-se bicarbonato de sódio a fim de evitar a formação de grumos (PERRONE, 2012). O primeiro passo na tecnologia de fabricação do doce de leite corresponde à mistura entre leite, açúcar e os demais ingredientes, o que vai formar uma calda a ser submetida à desidratação no evaporador. Esta calda é aquecida pela troca de calor com o vapor proveniente de uma caldeira, que circula na camisa de vapor, e a mistura permanece em constante movimento através do auxílio de agitadores mecânicos durante todo o processo de fabricação, impedindo que o produto queime ou se deposite na parede do equipamento. O tempo de cozimento é um fator determinante na concentração final e coloração do doce. (PERRONE, 2012; VIEIRA e JÚNIOR, 2004). A prática realizada teve como objetivo determinar-se a massa de vapor saturado necessária para o processo de fabricação do doce de leite no evaporador. 2 MATERIAIS E METODOLOGIA A prática de produção do doce de leite foi realizada no edifício do Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV. Para isto, fez-se necessário os seguintes materiais e reagentes: • 50,0 L de leite integral e padronizado; • 8,0 kg de açúcar cristal; • 30,0 g de bicarbonato de sódio; • Balança, refratômetro, termômetro, fita métrica, baldes; 3 • Evaporador do tipo tacho aberto operando com sistema de aquecimento a vapor. (Figura 2.1). Primeiramente os 50 L leite foram acondicionados em um balde. Adicionou-se os 30,0 g de bicarbonato de sódio ao leite e misturou-se o mesmo para homogeneização da mistura. A adição do bicarbonato de sódio ao leite faz-se necessário para a correção da acidez do mesmo, evitando-se assim, um possível azedamento do leite em seu processo de aquecimento. A temperatura inicial do leite, já com o bicarbonato de sódio, foi aferida utilizando um termômetro comum de álcool. Essa temperatura foi anotada. A adição de leite e açúcar no evaporador deve ser feita de maneira gradual, de forma a não se adicionar totalmente e de uma só vez o leite e o açúcar. Permitiu-se então a passagem de vapor saturado pela camisa de aquecimento do tacho do evaporador tomando-se o cuidado de recolher o condensado em um balde para posterior medida de seu volume. A pressão manométrica do vapor saturado também foi aferida em dois locais distintos: tanto na sala de produção do doce na linha de distribuição, quanto na saída da caldeira que fornece o vapor para a sede do laticínios. O teor de sólidos solúveis no leite é determinado pelo ºBrix com o uso de um equipamento denominado refratômetro. Esse teor foi monitorado, desde o início na mistura do leite antes de ir para o evaporador e no decorrer do processo de concentração do doce no evaporador. De acordo com a literatura, quando o “ponto ótimo” do ºBrix para o qual o doce está pronto é atingido, desliga-se o aquecimento do evaporador. O doce estando pronto faz-se a medida de sua massa através de baldes tarados e balança e a sua temperatura. Além disso, o volume de condensado recolhido da camisa de aquecimento do evaporador também foi determinada, assim como sua temperatura. 4 Figura 2.1 – Evaporador do tipo tacho aberto usado na prática. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Partindo de 50 litros de leite e 8 kg de açúcar, foram produzidos 19,37 kg de doce de leite em 70 minutos de processamento, atingindo um teor de sólidos solúveis igual a 66° Brix. As informações coletadas no processo estão apresentadas na Tabela 3.1. Tabela 3.1 – Informações experimentais obtidas no experimento. Item Verificado Valor e Unidade Temperatura inicial do leite 9°C Temperatura final do doce 86°C Pressão do vapor da caldeira 3,3 atm* Massa inicial do tacho 58 kg Massa produzida de doce 19,37 kg Massa de água evaporada 38,63 kg Raio do tacho 40 cm Brix inicial da mistura 11 °Brix Brix final do doce 66°Brix Tempo de processamento 70 min. Massa de vapor condensado 41,0 kg *Pressão média. A pressão do vapor da caldeira oscilava muito, por isso, o valor obtido de 3,3 atm foi a média das pressões manométricas aferidas. 5 3.1 Determinação da Massa de Vapor Utilizada A massa de vapor utilizada para o processo, é determinada por dois métodos. O primeiro envolve o coeficiente global de transferência de calor representado pela seguinte equação: q = U.A. ΔT = q vapor U.A. ΔT =S.λ Equação 1 Onde U é o coeficiente global de transferência de calor (W.m-2.K-1), A é a área de troca térmica (m2), ΔT é a diferença de temperatura entre a temperatura do vapor da caldeira e a temperatura de ebulição da água, S é a quantidade de vapor necessária para o processo (Kg/h) e λ é o calor latente a uma dada pressão (kJ/kg). Para a resolução deste método, o valor de U adotado é de 575 W/m2.K-1, foi determinado por FONTAN et al. (2006) em condições semelhantes a este experimento. A área de transferência de calor é considerada como um semi-esfera e a equação que a descreve é:A= 2.π.R2 Equação 2 Onde R é o raio do tacho (m2). A temperatura de ebulição da água é calculada somando a temperatura de saturação da água na pressão atmosférica com a elevação do ponto de ebulição, relacionada com o teor de sólidos solúveis, X: T= 100 + (1,78.X + 6,22.X) Equação 3 Para um teor de sólidos solúveis de 66 °Brix, o valor encontrado da temperatura de ebulição da água foi de 105,28°C. Os valores das propriedades termodinâmicas do vapor da caldeira foram encontrados nas tabelas de vapor saturado do Apêndice F do SMITH, VAN NESS e ABBOTT (2007) a partir da pressão absoluta do fluido. A Tabela 3.2 dispõe os valores encontrados através de interpolações. 6 Tabela 3.2 – Valores das propriedades do vapor saturado. Propriedade Valor e Unidade Temperatura do vapor 146,74 °C Hs (entalpia vapor saturado) 2741,5 kJ.kg-1 hs(entalpia líquido saturado ) 618,1 kJ.kg-1 λ (calor latente) 2123,4 kJ.kg-1 A equação 1 rearranjada é: 𝑆 = 𝑈 . 𝐴 .(𝑇𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟−𝑇𝑒𝑏𝑢𝑙𝑖çã𝑜) λ Equação 4 Substituindo os valores encontrados acima na equação 4, obtêm-se que a quantidade de vapor necessária para o processo é de 40,428 kg.h-1 ou 47 kg de vapor em 70 minutos de processamento. O segundo método envolve o balanço de energia do processo, resultando na equação: F.hf + S.λ = D.hd + V1.H1 Equação 5 Em que F é a massa da mistura de alimentação (kg), hf é a entalpia da mistura (kJ.kg-1), D é a massa de doce produzida (kg), hd é a entalpia do doce (kJ.kg -1), V1 é a massa de água evaporada no processo e H1 a entalpia relacionada a V1 (kJ.kg -1). A entalpia da mistura é calculada pela fórmula: hf = cpF.(TF – Tref ) Equação 6 Onde cpF é o calor específico da mistura. Esse valor é estimado através da fórmula do cp do leite que é relacionada com o teor de sólidos solúveis na mistura. Cp = 4,2 – 2,35.X Equação 7 A entalpia do doce também é obtida pelas fórmulas 6 e 7, mudando apenas os valores de temperatura final e teor de sólidos solúveis. A entalpia relacionada a massa de água evaporada foi obtida pelas tabelas de vapor, e seu valor encontrado foi de 2684,2 kJ.kg-1. As demais informações necessárias para o cálculo foram mencionadas nas Tabelas 3.1 e 3.2. 7 Assim substituindo os valores encontrados na equação 5, encontra-se que a massa de vapor necessária é de 50 kg. A Tabela 3.3 compara os resultados obtidos pelos dois métodos com o resultado experimental. Tabela 3.3 – Resultados calculados e obtido no experimento. Massa de vapor (kg) 1° Método 47 2° Método 50 Experimento 41 De acordo com os resultados obtidos, pode-se concluir que tanto o 1° método quanto o 2° método resultaram em valores próximos da massa de vapor obtida experimentalmente para a produção de doce de leite. Os desvios percentuais de cada método são: % (1°método) = | 47−41| 41 𝑥 100 = 14,6 % % (2°método) = | 50−41| 41 𝑥 100 = 22,0% Os métodos apresentaram desvios consideráveis se comparados com o valor experimental. Isso ocorre devido os erros do experimento. Durante o processo houve grandes perdas de vapor condensado, sendo esta a fonte de erro mais relevante do processo. . 4 CONCLUSÃO Com a prática foi possível conhecer o processo de fabricação do doce de leite em visita ao Departamento de Tecnologia de Alimentos da UFV. Nessa oportunidade pode- se estudar e analisar o funcionamento de um evaporador do tipo tacho para concentração do leite e produção do doce. Da mesma forma também foi observado vários aspectos correspondentes às etapas do processo. O evaporador utiliza vapor saturado fornecido da caldeira visitada em prática anterior, também inerente à disciplina de ENQ 273. Desse modo, a partir de propriedades 8 termofísicas do leite e do vapor, foi possível determinar que a massa de vapor saturado necessário para a produção da massa de 19,37 kg de doce, foi de 41 kg. Percebe-se que, pela utilização do método do coeficiente global de transferência de calor, a massa de vapor requerida para o processo de produção do doce de leite foi de 47 kg. Já para o método do balanço de energia, a massa de vapor requerida foi de 50 kg. Os desvios observados nestes valores decorrem do fato de ter havido perdas do condensado durante o procedimento experimental, mas satisfazem ao objetivo da prática. É de suma importância, para o engenheiro químico, o conhecimento de processos industriais que operam utilizando vapor de água saturado em seus processos térmicos. Além disso, a oportunidade de se conhecer na prática o funcionamento de um evaporador possibilitou o cálculo da massa de vapor necessário para a produção do doce de leite de maneira satisfatória. 5 REFERÊNCIAS Disponível em: <http://www.ital.sp.gov.br/tecnolat/arquivos/artigos/producao_de_doce_de_leite_tradici onal_light_e_diet.pdf> Acesso em 03 mai. 2019. FONTAN, R. C. J.; ZANIN, A.; CARVALHO, M. M.; COIMBRA, J. S. R.; MINIM, R. A.; CONDE, F. M. Determinação rápida do coeficiente global médio de transferência de calor na produção de doce de leite pastoso. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes., 61, 353, 2006. KLUG, T.B. Controle de Qualidade em Doces. Relatório final de estágio do curso de Química de alimentos, para obtenção do título de Bacharel em Química de alimentos. Pelotas, 2007. PERRONE, I.T; STEPHANI.R; NEVES,B.S; SÁ,J.F.O; CARVALHO, A.F. Atributos tecnológicos para produção do doce de leite. Revista Instituto Laticínio Cândido Tostes. Viçosa, 2012. SMITH, J. M.; VAN NESS, H. C. e ABBOTT, M. M. Introdução à Termodinâmica da Engenharia Química, 7a Ed., LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora, Rio de Janeiro, 2007. VIEIRA, L.C; JÚNIOR, J.B.L. Tecnologias de fabricação dos Doces de Leite Pastoso em Tabletes. Comunidade Técnico, p.1, Belém, 2004.