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Análise de comparação de Casa grande e senzala e Raízes do Brasil

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
 DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV
 DISCENTE: SUZIANE VERAS
	 DOCENTE: HÉLIDA CONCEIÇÃO
	 DISCIPLINA: HISTORIOGRAFIA DO BRASIL
	 SEMESTRE 2019.1
ANÁLISE COMPARATIVA 
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes : o cot idiano e as ideias de um moleiro perseguido
pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes : o cot idiano e as ideias de um moleiro perseguido
pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes : o cot idiano e as ideias de um moleiro perseguido
pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
FREIRE, Gilberto. Casa grande e senzala. São Paulo: Global editora. 1º edição digital, 2019.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das letras. 26º edição,1995.
Por ter um trabalho mais ensaístico, os autores Gilberto Freyre e Sérgio Buarque construíram cada um o seu modelo de interpretação da História do Brasil. É sob essa perspectiva que esse trabalho busca fazer uma análise comparativa das duas maiores obras desses autores. Tal análise compreende assimilar uma série de antecedentes sobre o imaginário da sociedade colonial brasileira e qual seria a validade desses modelos interpretativos para pensarmos a sociedade do Brasil hoje, tendo em vista todo o percurso dessa sociedade que foi colonial, escravista, fundada na grande propriedade de terra, na hierarquia social e exclusão social. Casa grande e senzala e Raízes do Brasil são duas referências indispensáveis para estudar o pensamento colonial no Brasil, a partir disso é montado um funil comparativo que coloca em foco a propulsão das duas obras.
Freyre e Holanda propõem uma historiografia que está inserida dentro da década de 30, pensando todo esse passado de trezentos anos de forma conjugada e densa, causando um certo impacto com a construção de novos modos de interpretação. No entanto, são obras de ventres diferentes, Gilberto Freyre apresenta um panorama totalmente diferente de Buarque de Holanda, ele inaugura um modelo de escrita com uma interpretação baseada na ciência e na eugenia para poder culturalizar as relações entre africanos, índios e portugueses no Brasil. Já Sérgio Buarque, trabalha com o modelo de interpretação weberiano. Mesmo tendo embasamentos distintos, essas obras estão intimamente ligadas pela mesma questão: O que é o Brasil e quem é seu povo? 
A premissa de Gilberto Freyre foi trazer e disseminar uma ideologia de democracia racial, sua principal contribuição está relacionada ao fato de que o autor não tinha o objetivo de contar a História Geral do Brasil a exemplo de Varnhagen. Freyre não parte de uma tese a priori, sua grande compreensão que foi capaz de tornar sua obra tão pertinente é o fato de que ele descobre algo chamado de História Social da família. É isso o que o autor revela em camadas, priorizando a vida íntima da sociedade colonial. Não é interesse de Gilberto Freyre falar sobre os fatos administrativos, econômicos ou políticos, a perspectiva dele se direciona para a história da família, a demografia, a forma como as pessoas se relacionam e a intimidade desse corpo social, o que eles comem, como dormem, como está organizada a casa e principalmente o patriarcado. 
Casa grande e senzala é uma obra que agrupa uma séria de contradições, pois o autor não está preocupado em comprovar uma tese, inclusive, Freyre se refere a obra sempre com a denominação “ensaio”, ou seja, ele não se prende a tese alguma. Os tipos de fonte onde ele vai buscar referências para construir esse panorama e mostrar os modos operantes e funcionamento da família patriarcal são de natureza literária, a exemplo das crônicas, relatos íntimos e orais, arquivos paroquiais, além de diários, cartas e fotos para compreender a vida cotidiana dessa sociedade. É através desse conjunto de fontes que o autor ergue um cenário complexo, contraditório, paradoxal, machista, sexualizado e muitas vezes desconcertantes da família colonial brasileira. 
Para o autor, tudo o que está velado, da porta da casa grande para dentro, é onde existe história, é o que precisa ser relatado. Gilberto Freire estreia a união da Antropologia com a História social do Brasil, por isso sua obra repercuti até hoje. Ele instala um novo método de se locomover entre as fontes, um método de leitura que até então não havia sido pensado ou visto no Brasil. Inclusive, Freyre dialoga com alguns pontos fixos que ele chama de contradições, seria um leque de contrastes que existem na obra. O primeiro contraste é o estudo do que existe entre a casa grande e a senzala, sendo o senhor o principal personagem da casa assim como o escravo é o da senzala. 
“Considerada de modo geral, a formação brasileira tem sido na verdade, (...) um processo de equilíbrio de antagonismo. Antagonismos de economia e de cultura. A europeia e a indígena. A europeia e a africana. A africana e a indígena. A economia agrária e a pastoril. A agrária e a mineira. O católico e o herege. O jesuíta e o fazendeiro. O bandeirante e o senhor de engenho. O paulista e o emboaba. O pernambucano e o mascate. O grande proprietário e o pária. O bacharel e o analfabeto, mas predominando sobre todos os antagonismos, o mais geral e mais profundo: o senhor e o escravo.” (FREYRE, 2019)
O autor monta um quebra cabeça a partir do ponto de vista de homens e mulheres do patriarcado e homens e mulheres da senzala. Sendo a casa grande o maior ícone dessa estrutura agrária, em contrapartida com a força de trabalho, os vadios e escravos que são os ícones da categoria subalterna, sendo esse o principal contraste da obra. 
A partir disso, os diversos pontos fixos na obra de Gilberto Freyre vão servir de atalhos, permitindo que ele transite entre uma margem e outra, não só na posição dos homens como das mulheres, dos brancos e negros, entre adultos e crianças, do litoral ao sertão. Tais pontos fixos são usados pelo autor para dizer que a cultura vai ser o elemento essencial na vida desses personagens historiográficos, mas, ao invés de trabalhar com uma idealização do escravo e do senhor, ele se baseia em casos concretos para mostrar justamente essa noção do cotidiano da população colonial. Segundo Freyre, a História da formação da sociedade brasileira é uma história baseada em contrastes, em contradições e pontos de tensões que só são percebidos porque o autor olha de dentro para fora nessa história do cotidiano. Essa é a grande proposta da obra, sobretudo na década de trinta, com o impulso para o estudo da história social, uma história das relações e dos prestígios. 
Mudando de cenário, e agora partindo da obra Raízes do Brasil, Sérgio Buarque vai pensar na crise estrutural, tendo como interesse maior na nossa trajetória administrativa e formação do caráter coletivo brasileiro. Quando Buarque de Holanda diz que a maior herança que a sociedade brasileira vai deixar para o futuro é o homem cordial, ele está tentando buscar dentro de todas as relações coloniais o que permanece, o que resiste.
 Outro detalhe da descrição de Sérgio Buarque a respeito dos traços desse homem cordial seria o personalismo. Nos levando a acreditar na necessidade dos mitos, no entanto, a excessiva atenção que damos a personalidade em resumo é o resultado de uma falta de ordenação social, a exemplo de não conseguirmos ter um pacto social por sermos uma sociedade tão caótica. A ausência dessa capacidade nos leva a ter conflitos pessoais, e fazendo um resgate histórico, em vários períodos é possível observar fenômenos históricos através de práticas sociais, religiosas e culturais que são moldadas a partir desse critério do personalismo que Sérgio Buarque conceitua. 
“A própria religião católica, que permite aos devotos tratarem os santos de maneira intimista converge para isso. A religiosidade que aqui “pegou” é a da superficialidade, menos atenta aos cultos e as cerimônias, e mais apegada ao colorido. Mais importante que a cerimônia é a festa quelhe acompanha.” (HOLANDA, 1995 p.149)
Ou seja, é essa característica do personalismo, desse individualismo que nos impede de fazer um contrato social que garanta a vontade coletiva. É por isso que o autor afirma ser esse o nosso legado para o futuro. Para além disso, a interpretação de Raízes do Brasil perpetua nos dias de hoje por que esse modelo de pensar a sociedade brasileira através do homem cordial pode ser observada a exemplo da ideia das relações privadas que até hoje comandam as relações públicas, gerando assim fenômenos como favoritismo, nepotismo, patrimonialismo, patriarcalismo, coronelismo entre outros mais. 
Outro aspecto da obra é o conceito de tipos ideais, Sérgio Buarque não está se referindo somente a personas, ao criar esse conceito ele está pensando em modelos de colonização, para além desse aspecto, é uma historiografia que está para separar mais do que incluir. Em resumo, essa transição do homem cordial que tem efeito nefasto no Brasil contemporâneo, é feita a partir de um recorte dentro do passado colonial. É essa a maior grandeza da obra, um discurso que continua se renovando e se validando até o presente momento.

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