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TRAUMA TORÁCICO Leonardo Oliveira Moura INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES • O politraumatismo é atualmente a maior causa de óbitos em pacientes até a quarta década de vida. Estima-se que nos Estados Unidos 25% das mortes devidas a politrauma estejam diretamente associadas ao traumatismo torácico. Menos de 10% dos traumatismos fechados do tórax e apenas 15% a 30% das lesões penetrantes exigem toracotomia para tratamento • O trauma torácico pode ser causado por traumas contusos (acidentes automobilísticos, quedas e impactos em geral), penetrantes (lesões por arma de fogo ou arma branca) ou pela associação dos anteriores (por exemplo, acidente automobilístico com contusão e lesão penetrante associadas) • O trauma de tórax pode ser classificado quanto ao mecanismo de trauma (contuso ou penetrante) ou ainda em fechado ou aberto INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES • O atendimento das principais lesões torácicas acontece durante as avaliações primária e/ou secundária, dependendo da sua potencial gravidade. • Lesões torácicas – Divisão segundo ATLS® • Lesões com risco iminente de vida (devem ser diagnosticadas e prontamente tratadas no exame primário) - Obstrução da via aérea - Pneumotórax hipertensivo - Pneumotórax aberto - Tórax instável - Hemotórax maciço - Tamponamento cardíaco INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES • Lesões com potencial risco de vida (devem ser suspeitadas e investigadas/tratadas no exame secundário) - Pneumotórax simples - Hemotórax - Contusão pulmonar - Laceração traqueobrônquica - Traumatismo contuso do coração - Ruptura traumática de aorta - Ruptura traumática de diafragma - Ferimentos transfixantes do mediastino FRATURA DO ESTERNO • Decorrente da compressão ântero-posterior do tórax, pode estar associada à contusão cardíaca (acidentes automobilísticos) • Diagnóstico - Dor intensa na parede anterior do tórax - Deformidade transversal do esterno à inspeção “sinal do degrau” - Crepitação grosseira à palpação da região esternal - Radiografia de tórax em perfil ou incidência própria para esterno • Conduta - Sedação da dor - Investigação de contusão cardíaca associada - Fixação cirúrgica da fratura quando houver grande deformidade transversal ou dor intensa Hemotórax • É a presença de sangue na cavidade pleural resultante de lesões do parênquima pulmonar, vasos da parede torácica ou grandes vasos como aorta, artéria subclávia, artéria pulmonar ou mesmo do coração • Apesar de na maioria dos doentes a presença do hemotórax não significar uma lesão extremamente grave, todo doente traumatizado com derrame pleural supostamente hemorrágico, deve ser encarado e acompanhado como um doente potencialmente de risco • Diagnóstico - Choque hipovolêmico na dependência do volume retido ou da intensidade da lesão - Dispnéia decorrente da compressão do pulmão - Propedêutica de derrame pleural Hemotórax • Diagnóstico - Radiografia de tórax revelando linha de derrame ou apenas velamento difuso do hemitórax quando a radiografia é realizada com o doente deitado - Toracocentese realizada nos espaços intercostais inferiores e posteriores confirma o diagnóstico • Conduta - Drenagem pleural - Toracotomia Hemotórax Pneumotórax • É a presença de ar na cavidade pleural, podendo levar à compressão do parênquima pulmonar e insuficiência respiratória. Nas contusões, dois mecanismos podem ser responsáveis pela lesão pulmonar com extravasamento de ar para a pleura, uma laceração do pulmão pela compressão aguda do tórax ou uma espícula óssea, de uma costela fraturada, perfurando o pulmão. Se houver fístula de parênquima pulmonar com mecanismo valvulado o pneumotórax pode se tornar hipertensivo • Diagnóstico - Dispnéia - Abaulamento do hemitórax afetado (mais nítido em crianças) - Hipertimpanismo à percussão - Ausência ou diminuição do murmúrio vesicular Pneumotórax • Diagnóstico - Nos casos de pneumotórax hipertensivo, aparecem sinais de choque com pressão venosa alta ( estase jugular) - Radiografia de tórax revela a linha de pleura visceral afastada do gradeado costal. Julgamos importante lembrar que quando o paciente estiver com condição clínica desfavorável (principalmente se com sinais de pneumotórax hipertensivo), deve-se instituir a terapêutica sem os exames radiológicos, apenas com os dados do exame físico • Conduta - Drenagem pleural sob selo d’água no 6o ou 7o espaço intercostal na linha axilar média com dreno tubular multiperfurado - Fibrobroncoscopia e toracotomia Pneumotórax Pneumotórax hipertensivo RUPTURA TRAQUEOBRÔNQUICA • A ruptura traqueobrônquica pode ser dividida em lesões de traquéia cervical e de traquéia torácica ou brônquios principais. • Traquéia cervical • O mecanismo mais freqüente é o trauma direto com contusão traqueal e ruptura, também a hiperextensão do pescoço nos impactos frontais pode lesar esta região. • Diagnóstico - Sinais externos de trauma cervical (escoriações e hematomas no pescoço) - Cornagem ou voz rouca - Crepitação dos anéis traqueais à palpação cervical - Enfisema subcutâneo cervical - Broncoscopia confirma o diagnóstico RUPTURA TRAQUEOBRÔNQUICA • Conduta - Emergência: restabelecer a perviabilidade das viasaéreas com intubação traqueal ou traqueostomia, fazendo a cânula ultrapassar o local de ruptura - Após a recuperação da ventilação: abordagem cirúrgica com sutura da lesão ou dependendo do grau de destruição traqueal ressecção segmentar e anastomose término-terminal RUPTURA TRAQUEOBRÔNQUICA • Traquéia torácica ou brônquios principais • Pode resultar de compressão ântero-posterior violenta do tórax ou de desaceleração súbita. O local mais comum de lesão é na carina ou no brônquio principal direito. • Diagnóstico - História do trauma com possível desaceleração súbita - Desconforto respiratório - Escarro com sangue ou mais raramente hemoptise moderada - Enfisema subcutâneo grande e logo disseminado - Radiografia de tórax com presença de pneumomediastino, pneumotórax ou atelectasia total do pulmão - Grande perda de ar pelo dreno após a drenagem pleural sob selo d’água (pode não haver, caso a lesão esteja bloqueada pela pleura) - Fibrobroncoscopia confirma o diagnóstico e o local da lesão RUPTURA TRAQUEOBRÔNQUICA • Conduta - Emergência: Se houver insuficiência respiratória ou perda aérea intensa pelo dreno pleural, realizar intubação seletiva contralateral - Após a recuperação da ventilação - toracotomia rapidamente para sutura da lesão, broncoplastia ou traqueoplastia RUPTURA TRAUMÁTICA DA AORTA • Ocorre em acidentes envolvendo altas velocidades ou quedas de grandes alturas, em que há o mecanismo de desaceleração súbita • Aproximadamente 90% das vítimas de ruptura de aorta morrem no local do acidente, apenas 10% chegam vivas ao hospital e, destas, 50% falecem nas primeiras 2h após a admissão. A ruptura incide mais na região do istmo aórtico, ou seja, logo após a emergência da artéria subclávia esquerda e ocasiona enorme hemotórax • Os sobreviventes se mantem vivos por um período, pois, há formação de grande hematoma periaórtico, tamponado temporariamente pela pleura mediastinal e pulmão • Diagnóstico - História do trauma (desaceleração súbita) - Sinais de grande hemotórax esquerdo e choque nos casos de ruptura para a cavidade pleural RUPTURA TRAUMÁTICA DA AORTA • Diagnóstico - Radiografia de tórax na incidência frontal mostra alargamento mediastinal superior - Tomografia torácica mostra hematoma periaórtico e pode indicar extravasamento de contraste - Aortografia define o diagnóstico e esclarece o local da lesão, devendo ser realizada imediatamente após a suspeita diagnóstica • Conduta - Sempre cirúrgica - Toracotomia póstero-lateral esquerda, nos casos de lesão no local mais freqüente, que é o ístmo aórtico - Controle operatório proximal e distal à lesão - Identificação do local da ruptura e correção da lesão por sutura direta ou com interposição de prótese vascular SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO • A contusão pulmonar tem como sua manifestação mais temida a síndrome do desconforto respiratório e muitas vezes está associada a contusões torácicas graves tipo afundamento torácico . As alterações são dependentes principalmente do edema intersticial inflamatório pós traumático, assim os sintomas clínicos podem não se manifestar inicialmente, às vezes após 12 a 24 horas. • Diagnóstico - História de trauma violento de tórax - Dispnéia progressiva com início mais tardio - Gasometria revelando hipóxia progressiva - Radiografia de tórax revelando inicialmente infiltrado alveolar difuso e mais tarde confluente com zonas de condensação Obs. NÃO devemos aguardar alterações radiográficas para iniciarmos a terapêutica SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO • Conduta - Restrição hídrica, após a estabilização do possível choque hipovolêmico por outra causa - Diuréticos - Antibióticos para as possíveis infecções secundárias - Fisioterapia respiratória com sedação eficiente da dor - Ventilação mecânica nos casos mais graves FRATURAS MÚLTIPLAS DE COSTELAS • Também chamado de afundamento torácico. Estão associadas aos traumatismos mais graves do tórax e frequentemente também de outros órgãos • Define-se como fraturas múltiplas a fratura de dois ou mais arcos costais em mais de um local diferente, determinando perda da rigidez de parte ou de todo o envoltório ósseo torácico, fazendo com que essa parte do tórax possa se movimentar de uma maneira diferente do restante (movimento paradoxal do tórax) • Atualmente já foi provado que o grande problema não é o movimento paradoxal e sim a contusão pulmonar consequente ao trauma torácico grave FRATURAS MÚLTIPLAS DE COSTELAS • Diagnóstico - Movimento paradoxal do tórax - Crepitação nos arcos costais à respiração com intensa dor - Radiografia de tórax mostra os arcos fraturados (múltiplas soluções de continuidade), podendo-se ver a sua mudança de posição, da área flácida, conforme a radiografia for inspirada ou expirada - Tomografia do tórax, apesar de não ser imprescindível para o diagnóstico, quando o paciente tiver condições pode ser realizada , revelando com detalhes a presença de intercorrências pleurais, laceração pulmonar e pneumomediastino. É útil na avaliação da extensão do dano parenquimatoso pulmonar, fornecendo dados prognósticos quanto ao aparecimento de insuficiência respiratória FRATURAS MÚLTIPLAS DE COSTELAS • Conduta- Sedação eficiente da dor - Pode-se colocar peso de aproximadamente um quilo sobre a região afetada e fixá-lo com tiras de esparadrapo, sendo um método apenas paliativo - Tratar as complicações pleurais quando presentes (pneumotórax ou hemotórax) - Intubação traqueal e ventilação mecânica - Fixação cirúrgica da parede torácica FRATURA SIMPLES DE COSTELA • É a mais comum das lesões ósseas da parede torácica, podendo ocorrer isoladamente ou associada a pneumotórax ou hemotórax. Lembramos que as fraturas dos últimos arcos costais podem se associar a lesão de fígado ou baço e a lesão dos primeiros arcos se associa a traumas graves com possíveis lesões vasculares. Uma particularidade do trauma pediátrico é que as crianças apresentam muito menos fraturas costais pela maior elasticidade dos ossos • Diagnóstico - Dor e possível crepitação à palpação - Radiografia de tórax mostrando solução de continuidade na costela Obs. Lembramos que a porção anterior e cartilaginosa pode apresentar lesão não visível na radiografia FRATURA SIMPLES DE COSTELA • Conduta - Na fratura simples, não complicada, indicamos a sedação eficaz da dor com analgésicos. Se insuficiente, faz-se anestesia local no foco de fratura ou nos espaços intercostais adjacentes na porção mais posterior do tórax - Medidas como enfaixamento torácico devem ser evitadas por serem pouco eficientes e por restringirem a mobilização torácica, dificultando a fisioterapia e predispondo a infecções pulmonares TAMPONAMENTO CARDÍACO • Presença de líquido na cavidade pericárdica comprimindo as câmaras cardíacas, promovendo restrição diastólica e colapso circulatório. Nas contusões, a sua origem pode ser a ruptura cardíaca ou a lesão de vasos sangüíneos cardíacos ou pericárdicos • Diagnóstico - Trauma sobre a região torácica anterior - Fácies pletórica - Estase jugular e hipotensão arterial - Bulhas cardíacas abafadas - Pulso paradoxal de Kussmaul - Eletrocardiograma com complexos de baixa voltagem - Radiografia de tórax com aumento de área cardíaca (freqüentemente não é um grande aumento) - Ecocardiograma revelando derrame pericárdico e sinais indiretos de tamponamento TAMPONAMENTO CARDÍACO Obs.: Lembramos que o diagnóstico de tamponamento é basicamente clínico e os exames subsidiários apenas comprovam a presença de derrame pericárdico • Conduta - Punção pericárdica pela via subxifóidea para confirmar o diagnóstico - Após a confirmação diagnóstica, procede-se à drenagem pericárdica também por via subxifóidea sob anestesia local ou geral - Toracotomia de emergência nas contusões torácicas FERIDA SOPRANTE (pneumotórax aberto) • Situação em que há perda de substância na parede torácica comunicando o meio externo e a cavidade pleural. Ocorre pneumotórax imediato, balanço do mediastino e ar pêndulo, podendo levar à instabilidade súbita da mecânica respiratória • Diagnóstico - Apenas pela inspeção, observando-se a lesão na parede torácica e ouvindo-se o ruído do ar entrando e saindo pelo orifício torácico • Conduta - Oclusão imediata do orifício na parede do tórax, transformando o pneumotórax aberto em fechado. A seguir procede-se à drenagem pleural por outra via que não o ferimento HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA TRAUMÁTICA • Decorrente de traumatismos fechados com compressão torácica ou abdominal, ou traumatismos abertos conseqüentes a ferimentos toracoabdominais. Na contusão, observa-se mais frequentemente a hérnia diafragmática à esquerda com insinuasão do fundo gástrico e alças intestinais pela ruptura. Quando ocorre à direita associa-se a outros traumas mais graves como ruptura hepática ou de átrio direito e raramente o paciente sobrevive. • A ruptura diafragmática pode passar despercebida na fase aguda, quando é tamponada pelo omento, manifestando-se mais tarde por estrangulamento de vísceras ocas através do orifício herniário, ou mesmo como achado radiográfico em radiografias realizadas às vezes anos após um trauma HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA TRAUMÁTICA • Diagnóstico - Pode haver presença de ruídos hidroaéreos no tórax - Radiografia de tórax pode mostrar imagem gasosa na base do hemitórax esquerdo ou apenas velamento não característico nesta região. Freqüentemente confunde-se com pneumotórax, cúpula elevada ou derrame pleural. Na dúvida deve ser ministrado contraste baritado ou passada sonda nasogástrica e documentando-se radiograficamente a presença do estômago no tórax • Conduta - É sempre necessária a sutura do diafragma, mesmo nos ferimentos pequenos FERIMENTOS DO ESÔFAGO TORÁCICO • O esôfago torácico pode ser traumatizado por dois mecanismos: na maioria das vezes iatrogênica pela passagem de sondas enterais ou instrumentos para dilatação ou cauterização de varizes e, menos frequente, nos ferimentos externos torácicos • Na maior parte da vezes, a lesão do esôfago é “silenciosa” na sua fase inicial demonstrando muito poucos sintomas. Assim, não devemos aguardar os sintomas para o diagnóstico do ferimento do esôfago torácico, pois quando os sintomas, já tardios aparecem, manifestam-se por mediastinite, possivelmente acompanhada de empiema pleural. Quadro infeccioso grave, de difícil controle e solução. • Conforme a progressão da infecção, iremos decidir sobre o tratamento definitivo: fechamento da fístula esofágica ou esofagectomia com reconstrução futura FERIMENTOS DO ESÔFAGO TORÁCICO • Diagnóstico - Ferimento transfixante latero-lateral do mediastino - Dor após manipulação no lúmen do esôfago (por sondas, cateteres, etc.)- Em todo ferimento transfixante do mediastino é obrigatório se descartar lesão de esôfago: radiografia contrastada do esôfago, de preferência com contraste não baritado e esofagoscopia para o diagnóstico precoce da lesão esofágica • Conduta - Na fase aguda: toracotomia - Na fase tardia, com mediastinite, deve-se instituir a antibióticoterapia e realizar-se uma toracotomia para desbridamento amplo da região lesada e drenagem, para em um segundo tempo realizar-se o tratamento definitivo FERIMENTOS CARDÍACOS • São lesões muito graves que colocam agudamente em risco a vida do paciente através de dois mecanismos: choque hemorrágico ou tamponamento cardíaco • Diagnóstico - Ferimento em região torácica anterior ou na “zona perigosa de Ziedler” - Choque com sinais de tamponamento cardíaco - Choque hemorrágico grave • Conduta - Na presença de dúvida quanto ao tamponamento pode-se realizar a punção, apenas para o diagnóstico. Quando há choque hipovolêmico grave, com presença de ferimento em região suspeita, deve-se realizar a toracotomia de emergência
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