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AULA 3 DIDÁTICA DO ENSINO E AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EM LÍNGUA ESTRANGEIRA Profª Edna Marta 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja novamente muito bem-vindo a mais uma aula do nosso curso. Hoje vamos tratar do tema avaliação em língua estrangeira. Quando você lê o termo avaliação, qual é a primeira ideia que surge para você? Avaliar faz parte do processo de ser humano, pois somos avaliados desde o momento em que nascemos por todos os que estão ao nosso redor. Somos avaliados por nossa aparência, nosso modo de nos vestir e agir no mundo. Pensando como professores de línguas estrangeiras, pensamos nas provas que aplicamos aos nossos alunos ou nos trabalhos que solicitamos, mas você já parou para pensar se essas provas e esses trabalhos realmente refletem a aprendizagem de nossos alunos? Você acha que sua forma de avaliação realmente mede aquilo que foi ensinado durante suas aulas? Qual professor nunca criou uma expectativa com relação a uma avaliação e o resultado se mostrou bem diverso do esperado? Avaliar não é um processo simples, e essas questões devem sempre permear nossa prática docente. Portanto, hoje, para tratarmos da avaliação em língua estrangeira, começaremos com um breve histórico da história da avaliação e o ensino de língua estrangeira. Também vamos discutir sobre como avaliar competências e habilidades dos aprendizes de línguas estrangeiras e, consequentemente, estudaremos algumas formas de avaliar. Na sequência, abordaremos o tema critérios de avaliação e as características de alguns tipos de questões utilizadas. Por fim, discutiremos sobre as tendências atuais no âmbito da avaliação. Tudo pronto? Vamos começar, então! CONTEXTUALIZANDO Quando pensamos na aprendizagem de línguas estrangeiras, podemos supor que tudo pode ter começado a partir do contato entre povos de língua diferentes. Os primeiros registros históricos a respeito do ensino de língua estrangeira datam de 3000 a.C. até por volta de 2350 a.C., quando da conquista dos sumérios pelos acadianos, uma vez que adotaram seu sistema de escrita. Entre os romanos, também havia o interesse pela aprendizagem de línguas estrangeiras, pois seu império incluía diferentes povos conquistados. Foi nesse contexto que os romanos se dedicaram ao estudo da língua grega, especialmente em função de todo o legado cultural daquele povo. Já com relação à avaliação, o 3 primeiro registro que temos data de 1897, e seu objetivo era observar a relação entre o rendimento em ortografia e o tempo de treinamento gasto para realizar a tarefa. Nesse período, houve apontamentos no sentido de que atividades descontextualizadas eram insatisfatórias para a avaliação. Como vimos em aulas anteriores, ao longo da história, foram desenvolvidos vários métodos e abordagens para ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras. Cada método e abordagem, dadas suas especificidades, demanda um tipo de avaliação específico. Vejamos como era no Método da Tradução e Gramática (MTG): por tratar da língua como código, estrutura, as avaliações privilegiavam exercícios de regras gramaticais, ditados e traduções. Havia um controle extremamente rígido e, ao aluno, era proibido errar. Como reação ao MTG, surgiu, na sequência, o Método Direto (MD), que já privilegiava o desenvolvimento da oralidade. Com isso, a avaliação passou a apresentar uma variedade de atividades: além das atividades de compreensão de textos e exercícios de gramática e com substituições e reemprego de formas gramaticais, também havia correção fonética e conversação. Nesta última, perguntas e respostas eram feitas a partir de um modelo a ser reproduzido pelo aluno, sendo essa a única interação existente nesse método. Até então, o foco do ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras recaía no professor, uma vez que todo o processo era controlado por ele. Isso só começou a ser alterado com o Método Audiolingual (MA), e, consequentemente, ocorreram mudanças na forma de avaliar. Havia a preocupação de que os alunos não cometessem erros, e, portanto, o aluno era exposto a uma série de modelos ou exemplos com estruturas prontas e que ele deveria seguir. Nesse período, surge o laboratório de língua como carro-chefe para que o aluno pudesse repetir, oralmente, as estruturas apresentadas durante a aula. Assim, havia memorização de estruturas para que fossem utilizadas de forma automatizada, com total controle por parte do professor do comportamento linguístico do seu aluno. Tais procedimentos, repetitivos e monótonos, desestimulavam os alunos, uma vez que havia muita dificuldade em aplicar, de forma espontânea, a língua estrangeira. Foi nesse panorama que surgiu a Abordagem Comunicativa (AC), no final da década de 1970 e início da década de 1980. O foco dessa abordagem passou a ser a competência oral dos aprendizes, de modo que se tornassem aptos a utilizar a língua estrangeira nas mais diversas situações. Aqui, a gramática não era mais a ênfase do ensino, mas sim percebida como um instrumento da comunicação. Com isso, as atividades tornaram-se práticas ou simulações de 4 comunicação oral e essencialmente interativas. Na AC, o importante é desenvolver as habilidades comunicativas do aluno em situações diversas. As regras de funcionamento da língua são aprendidas por meio da reflexão e elaboração de hipóteses por parte do aluno, e, nesse processo, o aluno passa a ter um papel fundamental no seu próprio processo de aprendizagem. Sendo assim, as atividades com base na AC valorizam os trabalhos em grupo e a comunicação entre os alunos, dramatizações e leitura silenciosa e global de textos autênticos. A ênfase na AC é no aprender, e não mais na memorização de estruturas e vocabulário. Tal abordagem exige uma mudança de paradigmas, inclusive na forma de avaliar. Devemos ressaltar que AC atingiu seu auge nos anos de 1980 e, de lá para cá, nenhum outro método ganhou tanta força como esse. Entretanto, a partir da década de 1990, pesquisadores como Prahbu (1990), Allwright (1991) e Kumaravadivelu (2003, 2006, 2012) passaram a questionar o uso de métodos e abordagens no ensino de língua estrangeiras, pois entendiam que a rigidez imposta por tais métodos e abordagens não valorizavam professores, alunos e seus contextos de aprendizagem. A desconstrução do conceito de método faz surgir a ideia do pós-método, conforme vimos em aulas anteriores, que possibilita ao professor fazer suas próprias escolhas metodológicas, de acordo com a necessidade do seu contexto de ensino e aprendizagem. Sendo assim, conhecer os diferentes métodos e abordagens de ensino de língua estrangeira é de fundamental importância para que nós, professores, em tempos de pós-método, saibamos como avaliar nossos alunos, de acordo com os objetivos que os alunos pretendem alcançar. Se o objetivo é a aprendizagem de uma língua estrangeira, devemos informar nossos alunos que o conteúdo apresentado será, de fato, utilizado em determinada situação ou contexto. Com isso, oferecemos subsídios para que eles mesmos acompanhem seu desenvolvimento. Não se trata, porém, de mera apreensão de conteúdo, mas sim avaliar a habilidade dos alunos em raciocinar sobre o que aprendeu e de que forma ele vai aplicar o conteúdo apresentado. Isso amplia o conceito de avaliação, como algo processual, do dia a dia, e não somente para o “dia da prova”. Valer- se somente da atribuição de notas para avaliar o aluno é minimizar a importância do processo de ensino-aprendizagem como um todo. Há de se considerar, por outro lado, a especificidade de um contexto e os objetivos que se pretende alcançar em uma avaliação. A avaliação pode sercomprometida se não houver um ambiente adequado ou se não houver o número 5 de alunos desejado. Por isso, não devemos nos ater a uma única forma de avaliar. Devemos levar em conta que o aluno precisa ser exposto a situações avaliativas diferenciadas, por meio das quais ele possa desenvolver sua trajetória de aprendizagem. Uma vez que tenhamos decidido sobre como avaliar nossos alunos, cabe, então, a seguinte pergunta: o que pretendemos atingir com esse tipo de avaliação? É a habilidade de leitura? O raciocínio lógico? A comunicação? Tais objetivos precisam ser muito claros, pois é a partir do resultado da avaliação proposta que não somente acompanhamos o desenvolvimento dos nossos alunos, mas também (re)direcionamos a nossa prática pedagógica. Saiba mais Assista ao vídeo do Charlie Brown e a turma do Snoopy Vida escolar!! e reflita sobre a seguinte questão: o que pretendo avaliar? (Trecho escolhido: de 2’20’’ até 3’13’’). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=auq_3eL87C8>. Acesso em: 19 dez. 2017. TEMA 1 – AVALIANDO AS COMPETÊNCIAS E AS HABILIDADES EM LE A partir do que estudamos com a AC, pudemos perceber que tal abordagem tem seu foco no desenvolvimento da competência comunicativa do aprendiz de língua estrangeira. Apesar de essa abordagem datar da década de 1980, o pressuposto teórico apresentado por Hymes com relação à competência comunicativa foi de fundamental importância para a transformação nas formas de ensinar e aprender línguas. Ser competente, nesse sentido, é dizer que o aluno é capaz de usar diferentes enunciados da língua em situações reais de comunicação. Além da competência linguística, do conhecimento da estrutura da língua, o aprendiz deve estar apto também ao uso da língua em situações específicas que levem em consideração outros aspectos, tais como os de ordem social e cultural. Em outras palavras, a competência comunicativa agrega as competências discursiva, sociolinguística e estratégica. Isso demanda dos professores de línguas estrangeiras uma reflexão sobre as questões que se tornam mais importantes quando tratamos da avaliação dos nossos alunos. Esse novo olhar sobre como ensinamos e aprendemos uma língua estrangeira também teve seus reflexos na Lei das Diretrizes e Bases da Educação (LDB) em 1996. Tal documento questiona a aplicação de um único método como forma de propiciar o ensino de língua estrangeira, pois, de acordo com esse 6 documento, o ensino deveria estar pautado no pluralismo tanto de ideias quanto de concepções pedagógicas, além de um currículo com caráter mais flexível. Vale ressaltar que a LDB não exime o professor do ensino de conteúdos gramaticais, mas agrega ao ensino de línguas estrangeiras outras questões igualmente importantes, tais como o enriquecimento cultural e linguístico que permite ao aluno o acesso às mais diversas informações. Com isso, espera-se também contribuir para a formação cidadã desse aluno. Outro documento oficial que expressa a mesma perspectiva em relação ao ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras é o das Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Este documento trata do ensino de língua estrangeira a partir de uma perspectiva que contempla as questões relacionadas à cultura, ao sujeito e à identidade, ou seja, percebe o ensino e a aprendizagem de línguas estrangeiras não somente com propósitos comunicativos, mas também como maneiras de atribuir sentidos, independente de qual seja o grau de proficiência atingido. Com isso, pretende-se que o aprendiz faça uso de língua estrangeira, tanto oralmente quanto na escrita, para compreender que significados são construídos social e historicamente e podem sofrer mudanças na prática social. Também se espera que o aprendiz se torne consciente e compreenda a existência da diversidade cultural e linguística. Este documento aponta para a ideia de superar a proposta de ensino meramente linguístico e trata as aulas de línguas estrangeiras como o espaço no qual alunos e professores compartilhem suas visões de mundo, propiciando o desenvolvimento de consciência crítica do papel das línguas na sociedade. Portanto, devemos refletir sobre como integrar tais competências nas relações de ensino e aprendizagem vivenciadas em nossas práticas pedagógicas em se tratando de como avaliar nossos alunos. Nesse sentido, é necessário que haja uma diversidade de instrumentos avaliativos e que sejam compatíveis com a flexibilização e a diferenciação que a gestão curricular demanda. Saiba mais Assista aos vídeos a seguir: O papel da avaliação na aprendizagem. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NyV47Ty3JzA>. Acesso em: 19 dez. 2017. Avaliação da aprendizagem. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=cAund5N33UY>. Acesso em: 19 dez. 2017. 7 TEMA 2 – ALGUMAS FORMAS DE AVALIAR – A LEITURA, A ESCRITA E A PRODUÇÃO ORAL Tendo em vista o que discutimos até agora, você deve estar pensando: como devo, então, avaliar meus alunos? Ao elaborar seu instrumento avaliativo, tenha em mente qual é o objetivo da aprendizagem. Isso servirá de norte para definir o que você espera que o seu aluno alcance. É a partir do resultado da avaliação que temos um panorama de como está o processo de ensino e aprendizagem e se será necessária alguma mudança ou não nas práticas pedagógicas do professor. Para tanto, a avaliação deve ser elaborada em consonância com o que foi abordado em aula, de modo a permitir que o aluno possa se expressar por meio do conhecimento assimilado. 2.1 A leitura como instrumento de avaliação Um dos elementos que salta aos olhos, quando tratamos de avaliação em língua estrangeira, diz respeito ao uso da habilidade de leitura como sendo seu principal instrumento. Esta habilidade, inclusive, ganha destaque nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Estrangeira. Nesse documento, está contida a ideia de que a habilidade da leitura atende tanto às necessidades da educação formal quanto ao uso da língua em seu contexto social imediato. A interpretação de textos é uma técnica de avaliação em línguas estrangeiras das mais utilizadas, tanto em exames nacionais quanto em provas de vestibulares. Essa primazia em relação à leitura pode ser interpretada como a habilidade que tem a possibilidade de suplantar as dificuldades impostas ao ensino de línguas estrangeiras no ensino regular (tais como a falta de estrutura para aplicação de avaliações orais, por exemplo, ou a inexistência de falantes mais proficientes da língua-alvo). A leitura acaba sendo, portanto, a habilidade mais relevante no ensino de línguas estrangeiras. É importante ressaltar que o favorecimento de avaliações que privilegiem a leitura não exclui a integração com outras habilidades, caso haja essa possibilidade. Entende-se a leitura como oportunidade para que os alunos possam atribuir significados, a partir de uma construção social negociada pelos participantes discursivos, uma vez que cada um faz uso da linguagem a partir de suas visões de mundo. Sendo assim, a compreensão dada a um texto é entendida aqui também como uma prática social entre autor e leitor. O que torna a leitura e a 8 compreensão de um texto atividades atraentes vem justamente em decorrência das possibilidades de pontos de vista diferenciados que podem partir tanto do professor quanto do próprio aluno. Como instrumento avaliativo, por exemplo, pode-se propor aos alunos a leitura de textos com uma subsequente apresentação sobre suas percepções a partir do texto lido e contrapô-las às ideias dos demais alunos durante a aula. Assim, agrega-se à leitura oportunidades deexpressão oral e de raciocínio lógico por meio de interações com os demais colegas da turma. Devemos ter em mente que a sala de aula deve propiciar momentos nos quais os alunos possam tanto falar quanto serem ouvidos. Esse é o local no qual o aluno pode contar com o apoio e a orientação do professor com relação ao uso adequado da língua. Atividades que envolvam leitura em língua estrangeira devem levar em consideração o nível de proficiência linguística dos alunos que vão realizá-las. É de fundamental importância que o nível de dificuldade esteja próximo ao nível em que o aluno poderá realizá-las com eficiência e sem perder a motivação. Com isso, o aluno deve ter seu foco de atenção na ideia principal do texto, evitando ao máximo a prática constante da tradução. Mesmo com todas as discussões em torno do desenvolvimento da competência comunicativa, há escolas de línguas estrangeiras que ainda priorizam o ensino formal da língua-alvo, cujo foco são o ensino e a aprendizagem da norma culta e da gramática normativa. Tal abordagem acaba por deixar à parte as oportunidades de prática das outras habilidades, como ler, escrever, falar ou entender. Sabemos que salas de aula com um número muito grande de alunos tornam-se um impedimento para uma avaliação adequada, que contemple todas as habilidades. O importante, nesses casos, é que, independentemente da realidade com a qual temos que lidar, a aprendizagem precisa ser significativa para o aluno. Aqui, reforça-se a ideia de o contexto ser condizente com a prática do professor, e, dadas as dificuldades encontradas no dia a dia da sala de aula, a gramática acaba por ser priorizada em função da facilidade em avaliá-la. 2.2 A escrita e a produção oral Cada uma dessas duas habilidades apresenta características específicas: enquanto o texto escrito está restrito ao espaço que ocupa (como uma folha de papel, por exemplo), o texto oral (como o diálogo) se produz no tempo (Cherem, 2006). Foucambert (2001) aponta também para as diferenças entre a escrita e a 9 oralidade. Em uma produção oral, os diálogos, as interações entre os interlocutores estão à mercê das suas reações e são passíveis de adaptações. Já na escrita, cada um de seus elementos só tem um sentido se compreendido dentro da estrutura na qual foi organizado. A interação em um texto escrito diz respeito à uma busca por um ponto de vista, além de haver um distanciamento entre autor e leitor. Ao pensarmos em uma avaliação que faça uso tanto da escrita quanto de uma produção oral de forma integrada, o professor pode lançar mão de recursos imagéticos, tais como uma foto de um quadro, uma pessoa, uma paisagem, e solicitar aos alunos a descrição do que veem ou sentem ao olhar para a imagem. Há, nesse processo, a possibilidade de uma construção de novos sentidos e significados a partir de conteúdos já estudados, sem a mera decodificação de um texto escrito. Observa-se aqui uma inversão, no sentido de habilitar e encorajar o aluno em sua construção de um texto oral para, num segundo momento, torná-lo confiante o suficiente na construção de um texto escrito. Tal experiência pode ser a base para as futuras experiências dos aprendizes. Saiba mais Leia o material Quadro europeu comum de referência para as línguas – aprendizagem, ensino, avaliação, publicado pelo governo português em 2001, e saiba mais sobre o tema. Disponível em: <http://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Basico/Documentos/quadro_europeu _comum_referencia.pdf>. Acesso em: 19 dez. 2017. Veja também a tabela do Quadro Comum Europeu de Referência para Línguas (CEFR). Disponível em: <https://www.britishcouncil.org.br/quadro- comum-europeu-de-referencia-para-linguas-cefr>. Acesso em: 13 nov. 2017. Assista ao vídeo sobre o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas da Universidade de Cambridge (em inglês). Disponível em: <http://www.cambridgeenglish.org/br/exams/cefr/>. Acesso em: 19 dez. 2017. TEMA 3 – CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO Demonstrar competência ao fazer uso de uma língua estrangeira não se trata somente de usar, de forma correta, os componentes linguísticos, tais como a sintaxe e a fonologia. Hymes, o proponente da competência comunicativa, discorre sobre a importância de o falante saber também lançar mão de seus conhecimentos sobre as regras de uso de discurso em uma determinada 10 comunidade. Em outras palavras, trata-se de saber quando falar ou não; com quem falar; onde e de que maneira falar. Como, então, estabelecer os critérios de avaliação de aprendizagem de línguas? Importa, em primeiro lugar, saber qual metodologia ou abordagem foi utilizada e, a partir daí, pensar sobre os critérios. O processo avaliativo da aprendizagem de línguas estrangeiras deve verificar, a priori, se houve ou não uma aprendizagem significativa de fato. Especialmente em relação à pronúncia e à oralidade, o cuidado deve ser no sentido de evitar que o aluno internalize erros que levará consigo e que podem comprometer atos comunicativos futuros. No caso deste tipo de avaliação, é papel do professor fazer com o aluno sinta-se confiante o suficiente a ponto de acreditar que pode realizar determinada tarefa, por meio de provocações orais, mas sem constrangimentos ou cobranças. Não podemos ignorar o fato de que há alunos mais introvertidos, que temem a exposição perante outros. Nesse sentido, trabalhos em grupo podem ser favorecidos, uma vez que as discussões de determinado tema são compartilhadas entre pares. Por trás de uma articulação adequada de palavras em língua estrangeira, há uma sensação de poder e segurança, mas que não pode ser confundida com eloquência, que demanda um longo período de prática. Porém, quando avaliamos, devemos estar atentos ao fato de que não podemos inibir a iniciativa do aluno, mas motivá-lo à produção. A motivação, no âmbito da avaliação, é um elemento essencial para a aprendizagem de língua estrangeira e, por isso, a avaliação deve ser, ao mesmo tempo, desafiadora e motivadora. O momento avaliativo é aquele no qual conhecemos o potencial dos nossos alunos, assim como seus interesses, limites e competências. Saiba mais Assista ao vídeo Língua estrangeira: como trabalhar com os diferentes níveis da turma na aula de Inglês? Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GfO9UxIQuj8>. Acesso em: 19 dez. 2017. TEMA 4 – TIPOS DE QUESTÕES – ALGUMAS CARACTERÍSTICAS Por ser um instrumento de verificação e para que seja realmente eficiente, a avaliação deve ter, como norte, princípios de validade, confiabilidade e objetividade. Vamos analisar do que tratam cada um desses princípios. 11 O primeiro princípio é o da validade. Ele trata de relacionar a avaliação ao conteúdo programático, ao que foi apresentado em sala de aula. Já o princípio da confiabilidade diz respeito a uma elaboração adequada dos enunciados das questões, de modo que não haja ambiguidade. Com isso, evita-se instaurar, entre os alunos, inseguranças quanto à resposta a ser dada. Por fim, temos o princípio da objetividade, cuja ideia é organizar uma avaliação que seja transparente e criteriosa, de modo que as correções sejam bem fundamentadas. Assim, avaliar cada uma das habilidades (escrita, leitura, compreensão oral e auditiva) pressupõe o uso de atividades que contemplem léxico, gramática, ortografia e pragmática. Além de haver um leque de atividades que contemple as habilidades, devemos também estar atentos ao tipo de questões apresentadas aos nossos alunos e que podem ser categorizadas em relação ao seu grau de abertura: abertas, semiabertas ou fechadas. O primeiro tipo, a questão aberta, permite ao alunoformular sua própria resposta; no segundo, a semiaberta, é permitido ao aluno formular suas repostas, mas dentro de um contexto explícito, apresentado no enunciado da questão; por último, temos as do tipo fechado, no qual são apresentadas ao aluno diversas respostas, e ele deverá escolher uma delas. Como utilizar cada um desses tipos de questão em uma avaliação de língua estrangeira? Uma questão do tipo aberta pode ser utilizada em uma avaliação oral (como em avaliações nos quais são feitas perguntas pelo professor e o aluno responde ou, então, na encenação de um diálogo entre os alunos) e escrita (como na produção de uma redação). Apesar de parecer muito simples a sua elaboração, questões do tipo aberta devem ser muito claras em sua proposta, de modo a não causarem confusão e insegurança no aluno, uma vez que o aluno poderá criar e se expor para responder. Em questões como essa, o foco deve recair sobre o nível linguístico do aluno e do conteúdo apresentado em aula. Além disso, devemos ter o cuidado de não ofender os princípios da validade e da objetividade. Da mesma forma, ao corrigir uma questão aberta, devemos nos ater aos critérios estabelecidos na elaboração e que foram informados aos alunos. Tais procedimentos devem ser aplicados tanto em avaliações orais quanto escritas. Uma questão semiaberta pode solicitar o preenchimento de frases ou lacunas, o que limita as respostas do aluno, e são indicadas quando queremos avaliar competências gramaticais e lexicais. Um exemplo clássico de questão semiaberta são os cloze-tests. O cloze-test é composto por um texto com lacunas, não importando qual seja a classe gramatical da palavra. O aluno é solicitado a 12 escrever uma palavra ou expressão na lacuna, de modo a completar o texto e dar um sentido adequado a ele. A dificuldade de um cloze-test aumenta proporcionalmente ao número de lacunas existentes, pois dificulta a compreensão do texto. Por último, as do tipo fechada, como as de múltipla escolha, limitam totalmente a resposta dada pelo aluno. Tais questões podem avaliar as habilidades comunicativas, uma vez que exigem do aluno a resposta correta. Um exemplo seriam as atividades de compreensão auditiva, nas quais os alunos, ao escutarem um áudio, como um diálogo, devem escolher a resposta correta entre um número limitado de alternativas. Apesar de exigir mais do professor para a sua elaboração, é mais fácil no momento da correção. Assim, podemos observar que não há um tipo correto para determinada habilidade a ser avaliada. Cabe ao professor escolher as questões mais adequadas para o objetivo de aprendizagem que sua avaliação pretende verificar. Devemos ter em mente que o intuito que norteia esse trabalho é o de alcançar o objetivo da aprendizagem. Saiba mais Leia o artigo A avaliação deve orientar a aprendizagem, do site Nova Escola. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/356/a-avaliacao- deve-orientar-a-aprendizagem>. Acesso em: 19 dez. 2017. TEMA 5 – TENDÊNCIAS ATUAIS EM AVALIAÇÃO Desde o advento e a disseminação das tecnologias digitais, pesquisadores têm apontado para a necessidade de discutirmos outras epistemologias que ampliassem e potencializassem os estudos socioconstrutivistas na mediação do saber. Tal percepção reverbera em todas as áreas do conhecimento, incluindo-se aí também os estudos da área da linguagem. As tecnologias digitais trouxeram mudanças na nossa relação com a linguagem, uma vez que estão carregadas de novas multissemioses ou multimodalidades mais diversas e igualmente mais complexas do que o texto escrito. Esse novo contexto digital e tecnológico fez emergir os estudos dos multiletramentos, termo esse cunhado pelo New London Group em 1996. Esse grupo reuniu teóricos que trataram do tema do letramento sob a ótica do multilinguismo, do multiculturalismo e da multimodalidade como uma alternativa aos estudos de letramento mais tradicionais, calcados no texto escrito e que já 13 não eram percebidos mais como suficientes para dar conta das novas práticas sociais oriundas do contexto digital. As tecnologias digitais propiciaram o uso de uma multiplicidade de recursos semióticos que nos fizeram refletir com o nosso entendimento a respeito do que é linguagem, do que é texto, escrita e autoria e de que forma tais questões impactam o que se ensina e como se avalia em contextos educacionais. Ao texto escrito, podem agora ser agregados recursos visuais, sonoros, espaciais e gestuais que demandam uma concepção de língua que vai muito além do entendimento de língua como código, somente. Por outro lado, também não podemos pensar em tais recursos semióticos e multimodais como meras ilustrações do texto escrito, pois desempenham um papel de atribuição de significados na composição dos novos gêneros discursivos que surgem do contexto digital. Os novos gêneros digitais funcionam, em seus processos de significação, a partir de uma perspectiva de colaboração, compartilhamento e colaboração que, nesse sentido, demanda uma revisitação às teorias de linguagem. Como dar conta das diversas semioses presentes nesses gêneros e qual é o impacto tanto no ensino quanto na avaliação de línguas estrangeiras? Uma vez que tais gêneros não estão limitados ao uso do texto escrito, nossas escolhas pedagógicas e avaliativas devem considerar outros saberes não restritos à língua somente como código. Nossos alunos são, nos dias de hoje, participantes ativos dos novos usos da linguagem e altamente facilitados pelo meio digital. Isso demanda que nossa prática pedagógica seja adequada a essa realidade, o que implica dar condições para desenvolverem suas habilidades no desempenho de tarefas multimodais. Em outras palavras, o ensino de línguas não deve estar limitado ao texto impresso somente, mas deve também prever o uso das multimodalidades e semioses tão presentes no contexto digital. Nesse sentido, a avaliação da aprendizagem de línguas muda seu foco; o que se torna relevante agora não é o ‘certo’ ou ‘errado’ em termos de uso do código linguístico, mas validar a multiplicidade de sentidos em um texto e o uso real e contextualizado da língua. Dessa forma, a prova escrita, como instrumento avaliativo tradicional no âmbito do ensino e aprendizagem de línguas, passa a conviver com outras formas de avaliações de caráter mais processual e menos centralizador, tais como portfólios e projetos e que valorizam a colaboração, o compartilhamento e a experimentação. Em outras palavras, o coletivo ganha lugar de destaque. A legitimação dos recursos 14 multimodais, repletos de multissemioses dentro do espaço escolar, é a saída para a educação linguística do século XXI. Saiba mais Leia o artigo Avaliação da aprendizagem de línguas e os multiletramentos, da profª dra. Ana Paula Duboc. Disponível em: <http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/eae/article/view/3628>. Acesso em: 19 dez. 2017. FINALIZANDO Nesta aula, discutimos sobre a importância da avaliação em nossas vidas e no processo educativo. Revimos os métodos, as abordagens e os tipos de avaliações mais utilizadas em cada uma delas e também estudamos um pouco sobre a história da avaliação. Pudemos perceber o quão importante é que o professor conheça o método ou a abordagem para identificar qual é o tipo de avaliação mais apropriada ao objetivo de aprendizagem que pretende alcançar. Além dessas questões, também foram apresentados documentos oficiais, tais como a Lei de Diretrizes e Bases, Parâmetros Curriculares Nacionais e o Diretrizes Curriculares da Educação Básica e como a avaliação é entendida em tais documentos. Especialmenteneste último, conhecemos um pouco do Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas, que é usado como norte para a classificação da proficiência linguística dos indivíduos. Vimos como os instrumentos avaliativos devem ser flexíveis e diferenciados, de modo a integrar as competências linguísticas e comunicativas. Nesse sentido, discutimos sobre cada uma das habilidades como instrumento avaliativo. Também foram apresentadas algumas orientações sobre como organizar os critérios de avaliação, levando-se em consideração o tipo do aluno que será avaliado, se é mais ou menos introvertido, uma vez que isso pode influenciar a avaliação da oralidade desse aluno. Nesse sentido, discutimos sobre os tipos de questões utilizadas em instrumentos de avaliação e que podem ser aplicadas de acordo com o que se pretende avaliar. Por fim, falamos um pouco sobre as tendências atuais em termos de avaliação em língua estrangeira e de que forma a pedagogia dos multiletramentos pode nos auxiliar no contexto digital do século XXI. 15 REFERÊNCIAS ALLWRIGHT, D. The Death of Method. CRILE Working Paper, Lancaster, n.10, 1991. CHEREM, L. Escrita e oralidade: duas progressões paralelas para um desenvolvimento comum. 2006. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/revistax/article/viewFile/5443/5224>. Acesso em: 19 dez. 2017. FOUCAMBERT, J. A leitura em questão. Tradução de Bruno Charles Magne. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1994. KUMARAVADIVELU, B. Language Teacher Education for a Global Society. New York: Routledge, 2012. ______. Understanding Language Teaching: From Method to Postmethod. Mahwah, NJ: Routledge, 2006. ______. Beyond Methods: Macrostrategies for Language Teaching. New Haven, CT: Yale University Press, 2003. MOROSOV, I.; MARTINEZ, J. R. A didática do ensino e a avaliação da aprendizagem em língua estrangeira. Curitiba: Ibpex, 2008. PRABHU, N.S. There is no best method-why? TESOL Quarterly, Malden, v. 24, n. 2, p. 161-72, 1990.
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