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Lenharo demonstra que a historiografia tradicional tem o hábito de não caracterizar a sociedade brasileira de 1930 como uma sociedade possuidora de classes sociais, o que acarretou em análises políticas que desvinculavam o contexto do país dos fenômenos internacionais mais marcantes como a tendência fascista que influenciava todo o mundo capitalista. Segundo o autor, devido a isto, há um distanciamento das relações do governo do Estado Novo com o fascismo, o que ele se ocupará em aprofundar no decorrer de sua obra.
Segundo ele, o Brasil não possuía classes sociais consolidadas, coesas, mobilizadas, que dessem conta de contrapor, com um novo projeto político, os grupos dominantes. As classes historicamente revolucionárias, burguesia, proletariado e todas suas frações não possuíam em seu interior um projeto universalizante que as legitimassem dentro de uma luta por poder político. As classes médias urbanas caminhavam em uma relação de interdependência com as elites da época oferecendo ainda menores possibilidades de ruptura. Essas “ausências” levaram a uma supervalorização do Estado como sujeito histórico, sendo que sua função social interpenetra as mais variadas esferas da sociedade, surgindo como um agente capaz de trazer coesão e sentido as forças sociais incipientes.
A partir do Estado de compromisso e dos ideais modernizadores, o Estado assume ainda mais responsabilidades como provedor social. Dessa maneira, o Estado foi o responsável por guiar o país no sentido da modernidade, já que as classes sociais daquele período não apresentaram qualquer projeto para ser desenvolvido no Brasil naquele contexto. O caso representativo daquele momento são as reformas estruturais propostas por Juscelino Kubitschek em Belo Horizonte entre 1940 e 1945. O então prefeito da capital foi o responsável por empreender grandes obras de modernização da estrutura da cidade, o que fez com que os contornos das obras arquitetônicas sofressem grandes rupturas com as técnicas tradicionais. As inovações na arquitetura fizeram com que a cidade fosse percebida como pólo cosmopolita, enquadrando a cidade num contexto internacional.
Assim, o processo conduzido pelo Estado fez com que o “novo” fosse difundido no imaginário social a partir dessas novidades visíveis, palpáveis. 
Sob o discurso da ordem e do progresso, o Estado Novo irá se aproximar da ideologia fascista com suas investidas integralistas que visavam, através da força, coibir qualquer conflito ou tensão social, luta de classes etc. Medidas constitucionais foram tomadas para proibir a pratica das greves, limitar o campo de atuação dos sindicatos, para acalmar os ânimos das classes mais agitadas politicamente sob o discurso do integralismo que defendia a cooperação mutua das classes rumo ao progresso ao invés da luta de classes para a transformação e evolução da sociedade. Para isto, diversas instituições foram coagidas a agir junto ao Estado, assim como a família e a Igreja. Através destas, foi criada uma imagem do Estado que transparecesse à sociedade o retrato de uma família feliz e conformista em sua situação; que não existiam os privilégios de classe e sim uma conciliação de classes que se colaboraram positivamente entre si. É interessante notar que, para que este fim fosse alcançado, apelou-se até mesmo para a imagem de Jesus Cristo crucificado para que o trabalhador mirasse em seu exemplo e aceitasse sua condição social de submissão, pois que é “vontade” do Criador, o indivíduo “nascer operário, entre operários, trabalhando em meio às fadigas de sua árdua missão” (LENHARO).
A política trabalhista empreendida por Getúlio Vargas durante seu governo foi um aspecto marcante naquele momento. Como dito anteriormente, buscava-se coibir os conflitos e as tensões sociais. A tentativa de "controlar" a classe operária foi intensa, já que esta representava uma ameaça para o pleno funcionamento do setor produtivo do país. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) foi uma das formas que o Estado encontrou de minimizar as agitações operárias. Além disso, a organização sindical incorporada ao Estado também representou a tentativa de “golpear as formas livres de organização da classe operária.” .Ficava proibida a pluralidade sindical, além dos estrangeiros terem limitações hierárquicas, dificultando assim que idéias contrárias às do Estado provindas de outros países invadissem o seio da organização do operariado. De acordo com o autor, “qualquer concessão do Estado à classe trabalhadora vem acompanhada de uma contrapartida que lhe é fatal: significa sempre uma nova volta no parafuso da opressão e da dominação”.(LENHARO)
No entanto, as resistências a este tipo de dominação também podem ser percebidas no texto de Lenharo. O autor destaca a escassez de estudos que abordem o assunto, porém ressalta a dualidade diante deste fato. Muitos conclamavam Getúlio Vargas como o protetor dos trabalhadores; outros, porém, lutavam contra o fascismo e faziam reivindicações específicas, lutando por interesses dos mais diversos – como a liberdade de imprensa, a busca pela anistia aos presos e exilados políticos, etc. Lenharo acredita que o Estado encontrou forte resistência na imposição da centralização corporativa face às instâncias não institucionais de poder, ‘processos difusos, fragmentários e heterogêneos de organização e luta que emergem da própria classe, isto é, nos quais ela se determina propriamente como classe’. (LENHARO)
No decorrer de sua análise, Lenharo vai descrevendo outras formas e estratégias utilizadas nesse período afim de forjar um indivíduo despolitizado, disciplinado, trabalhador, produtivo e submisso. Para isto, recorreu-se também a Educação Física com sua pedagogia própria de caserna com um instrumento fortemente capaz de alienar o indivíduo, preparando-o para servir a pátria e a nação, além de servir como mão-de-obra forte, robusta, ágil e disciplinada para atender ao mercado de trabalho.
Quanto à propaganda do governo, esta foi promovida principalmente através do rádio. Esta ferramenta foi utilizada à farta pelo governo devido ao seu grande poder de penetração social, já que, se levarmos em consideração as condições sócio-econômicas dos brasileiros naquele período, o rádio foi um importante elemento cultural que foi incorporado à família brasileira devido a seu baixo custo e por ser uma ótima opção de lazer. Alcir Lenharo refere-se ao rádio como importante ferramenta política para o governo varguista devido às formas em que as notícias eram passadas.
O importante do rádio não era exatamente o que era passado e sim como era passado, permitindo a exploração de sensações e emoções propícias para o envolvimento político dos ouvintes. Efeitos sonoros de massa podia atingir e estimular a imaginação dos rádio-receptores, permitindo a integração, em variados tons entre emissor e ouvintes, para se atingir determinadas finalidades de participação política. Vargas, quando se referia ao rádio, apontava para a sua importância enquanto meio de educação cívica ao mesmo tempo que informador das diretrizes do governo e do alcance de suas medidas. (LENHARO)
Pelo rádio era difundida uma idéia de país homogêneo, criando-se assim quase que uma identidade nacional, ressaltando os aspectos positivos da sociedade brasileira na intenção de criar uma unidade social coesa. “Pelo rádio, o poder vasculha a intimidade de cada um, atomiza a condição política de cada cidadão para condensá-lo simbolicamente no coletivo da Nação.” (LENHARO)
Portanto, percebe-se que o rádio foi um grande aliado de Vargas, sendo um dos principais elementos formadores de opinião naquele período. Foi através dele que Vargas conseguiu "alienar" grande parte da população e alcançar apoio maciço dos brasileiros naquele período. Assim, grande parte do "sucesso" da política centralizadora e empreendedora do Estado Novo se deveu à difusão das idéias do governo varguista através do rádio.

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