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Autor: Prof. Ricardo Calasans Colaborador: Prof. Ricardo Bianco Ergonomia SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Professor conteudista: Ricardo Calasans Professor adjunto dos cursos de Engenharia, Arquitetura e Biomedicina da Universidade Paulista – UNIP. Coordenador do curso de Tecnologia de Segurança do Trabalho e do curso de pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho da UNIP. Diretor da Associação Brasileira dos Profissionais de Medicina e Segurança do Trabalho e Meio Ambiente – Abraphiset. Formado em Engenharia de Produção Mecânica pela Universidade Metodista de Piracicaba − Unimep. Pós- graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho e em TI pela UNIP. Bacharel em Direito e Médico Veterinário pela UNIP. Atualmente é líder das disciplinas Gestão Laboratorial e Controle de Qualidade do curso de Biomedicina e Prevenção de Riscos na pós-graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho, bem como da elaboração dos conteúdos e gravação dos vídeos da UNIP Interativa e do material didático pedagógico da referida instituição. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C143i Calasans, Ricardo. Ergonomia. / Ricardo Calasans. – São Paulo: Editora Sol, 2014. 108 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-062/14, ISSN 1517-9230. 1. Ergonomia. 2. Antropometria. 3. Ginástica laboral. I.Título. CDU 331.827 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Carla Moro Lucas Ricardi SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Sumário Ergonomia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 HISTÓRICO ........................................................................................................................................................ 11 2 CONCEITOS E EVOLUÇÃO ............................................................................................................................ 15 Unidade II 3 A ERGONOMIA E A EMPRESA ................................................................................................................... 21 4 A QUALIDADE E A ERGONOMIA ............................................................................................................... 26 4.1 Qualidade ............................................................................................................................................... 26 4.2 Ergonomia .............................................................................................................................................. 30 4.3 Ergodesign ............................................................................................................................................. 43 4.4 Conceituação de produtos e de postos de trabalho .............................................................. 44 4.5 Conceituação de usabilidade ......................................................................................................... 46 Unidade III 5 ANTROPOMETRIA ........................................................................................................................................... 50 5.1 Medidas ................................................................................................................................................... 50 5.2 Antropometria dinâmica .................................................................................................................. 59 6 FUNDAMENTOS DA FISIOLOGIA E METABOLISMO ............................................................................ 63 6.1 Função neuromuscular ..................................................................................................................... 63 6.2 Sistema muscular ................................................................................................................................ 66 6.3 Fisiologia muscular ............................................................................................................................. 71 6.4 Metabolismo ......................................................................................................................................... 73 Unidade IV 7 BIOMECÂNICA OCUPACIONAL ................................................................................................................. 79 7.1 Manuseio de cargas ........................................................................................................................... 80 7.2 NR 17 − Ergonomia ........................................................................................................................... 88 8 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA GINÁSTICA LABORAL ............................................................................... 89 7 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 APRESENTAÇÃO Este livro-texto foi elaborado buscando abordar alguns dos principais pontos sobre Ergonomia de forma que o aluno possa compreender a abrangência do tema e sua importância na prevenção de acidentes e doenças do trabalho. No artigo Doenças do Trabalho: Exclusão, Segregação e Relações de Gênero, Celso Amorim Salim (2003) explica: [...] a ascensão dos casos de LER/Dort nos anos 90, além de facultar índices já caracterizados como epidêmicos, indica, sem dúvida, a sua maior proeminência entre todas as doenças ocupacionais atendidas pelo Nusat/ INSS-MG. Aliás, essas doenças não foram apenas crescentes em diagnósticos, como também se tornaram campeãs absolutas na distribuição dos benefícios acidentários por espécie diagnosticada. A evolução acelerada dos dispositivos eletrônicos, a mudança nos hábitos e costumes da sociedade moderna, o aumento do nível de estresse nos grandes centros urbanos e a concorrência globalizada que aumenta a pressão no trabalho são alguns dos fatores que contribuem para um quadro sério e complexo nas relações do empregado e suas atividades e posto de trabalho. Com uma abordagem na história e evolução da Ergonomia, o aluno poderá se situar no tempo e no espaço, compreendendoas fases e transformações pelas quais a Ergonomia passou e como ela vem sendo mais uma ferramenta importante para buscar melhorar a qualidade de vida do trabalhador, a qualidade no ambiente de trabalho e também a qualidade no serviço prestado ou no produto fabricado. Como resultado da aplicação da Ergonomia nos ambientes de trabalho, visando a uma harmonia entre o trabalhador, seu posto de trabalho e seus ferramentais, a empresa atinge maior eficiência em seus processos produtivos e, assim, conquista uma maior competitividade no mercado. Os graves problemas sociais, associados aos gastos milionários decorrentes dos acidentes de trabalho, fizeram com que o Brasil tivesse uma grande preocupação com os fatores ergonômicos nos postos de trabalho. Entretanto, a maior parte das empresas possui uma visão reativa e não proativa. Desta forma, ainda se tem muito a evoluir nesta questão e sem dúvida esse é um mercado que precisa de profissionais com bons conhecimentos sobre o assunto. Também não se pode esquecer o quanto a Ergonomia é importante fora dos ambientes de trabalho, contribuindo para uma melhor qualidade de vida no dia a dia, por meio de produtos e projetos que se preocupam com deficientes físicos, idosos, crianças, pessoas em geral, tanto em suas residências como nas vias públicas, bem como na qualidade e desempenho dos produtos que adquirem. Não há dúvidas de que o estudo da Ergonomia contribuiu para que se tenha melhores formas de trabalhar, respeitando os limites do nosso corpo, compreendendo melhor a pressão e o estresse aplicado sobre ele e buscando a harmonia entre o homem e suas atividades em prol da sua saúde, física e mental. 8 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Após o estudo desta disciplina, sem dúvida o horizonte prevencionista terá se expandido ainda mais, contribuindo para preparar o futuro profissional que está se moldando a cada etapa do curso. Bons estudos! INTRODUÇÃO A Ergonomia é uma ciência que deve ser conhecida pelo profissional da área de Segurança no Trabalho, uma vez que tem uma importância muito grande na relação do homem com o seu posto de trabalho. Os conhecimentos necessários na área da Ergonomia são multidisciplinares, envolvendo áreas da saúde, exatas, humanas e jurídicas e exigindo do profissional, além do conhecimento, a sensibilidade necessária para a percepção dos fatores principais que existem na interface do homem e seu ambiente de trabalho e a sinergia entre eles. Pode-se entender um pouco melhor a Ergonomia buscando a origem desta palavra, que vem da concatenação de duas palavras gregas, sendo ergo e nomos. A primeira significa trabalho, e a segunda significa leis naturais, regras. Ou seja, relaciona a atividade laboral, o trabalho, com as leis da natureza, que envolvem as limitações do corpo humano e as influências, no trabalhador, do microambiente e do macroambiente de trabalho. Assim, algumas das definições de Ergonomia buscam exatamente abranger todos esses fatores, como a de Sergio Penna Kehl (apud MENEZES, 2000) que, em 1990, definiu Ergonomia da seguinte forma: A Ergonomia é a ciência que estuda as relações do homem com objetos, máquinas, ambiente, métodos e processos de produção, de forma que ela não se fixa apenas em um problema, mas sim em todos os problemas da relação homem − máquina – ambiente em situação de trabalho. Outra definição importante é a apresentada por Allan Wisner (1994), que coloca a Ergonomia como o: Conjunto de conhecimentos científicos relativos ao Homem necessários para conceber projetos de sistemas operacionais, envolvendo máquinas, equipamentos, ferramentas, postos e ambientes de trabalho, bem como estudar o desempenho do Homem no trabalho. Segundo Galafassi (1999, p. 65): “Ergonomia é o estudo dos problemas relativos ao trabalho, para a preservação de seu bem-estar físico e mental”. Podemos entender que é considerada uma ciência direcionada ao projeto de equipamentos, máquinas, tarefas e sistemas, com o intuito de minimizar problemas de segurança, saúde e conforto, melhorando, dessa forma, a eficiência no trabalho. De acordo com Gonçalves (2000, p. 393): Ergonomia pode ser entendida como a ciência que estuda a adaptação do trabalho ao homem no ambiente de trabalho, visando propiciar uma 9 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 solicitação adequada do trabalho, evitando o desgaste prematuro de suas potencialidades profissionais e objetivando alcançar a otimização do sistema de trabalho. A International Ergonomics Association – I.E.A. aprovou uma definição, em agosto de 2000, contida em Falzon (2007) conceituando a Ergonomia e suas especializações como: [...] uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global dos sistemas. Os profissionais que praticam a Ergonomia, os ergonomistas, contribuem para a planificação, concepção e avaliação de tarefas, empregos, produtos organizações, meios ambientes e sistemas, tendo em vista torná-los compatíveis com as necessidades, capacidades e limites das pessoas. Figura 1 – Relação da Ergonomia com as pessoas, harmonizando a interação entre elas e atendendo suas necessidades, habilidades e limitações Esta definição é adotada também pela Associação Brasileira de Ergonomia – Abergo, desde o XIII Congresso Brasileiro de Ergonomia, realizado em setembro de 2004, em Recife − PE. Com isso já se pode ter uma boa ideia da importância da Ergonomia como uma ferramenta poderosa para melhorar a qualidade de vida de um trabalhador em seu posto de trabalho, nas suas atividades laborais, nas ferramentas que utiliza em seus processos e no resultado da sua atividade, uma vez que todo esse conjunto de fatores irá refletir diretamente na qualidade e eficiência da produção, sempre preservando a sua integridade física e mental. 10 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 11 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 ERGONOMIA Unidade I 1 HISTÓRICO Nunca é demais lembrar que, para entender o presente e buscar prever o futuro, visando tomar decisões gerenciais com resultados positivos, é sempre necessário conhecer e compreender o passado. Com esse objetivo será apresentado agora um pouco do histórico da Ergonomia. Em uma análise mais simples, voltando à Pré-história, já se pode dizer que o homem, mesmo que intuitivamente, buscou aplicar técnicas de Ergonomia para melhorar seu conforto e a qualidade do que fazia: preparando com peles de animais vestimentas para lhe trazer conforto e proteção; adequando materiais que encontrava na natureza; criando uma cama que isolasse seu corpo do contato com o solo e também lhe proporcionasse mais qualidade para o seu descanso; desenvolvendo bancos rudimentares; preparando armas, com a utilização de pedras lascadas como pontas de lanças para aumentar a eficácia na sua caça; utilizando ossos de animais como tacapes e até mesmo como ferramentas, enfeites e adornos. A) Autralopithecus afarensis B) Homo erectus. C) Homo neanderthalensis Figura 2 – Homem da Pré-história Também podemos citar a adaptação de cavernas para conseguir proteção da chuva, frio e mesmo de ataque de animais, assim como a descoberta do fogo e a sua utilização não só para se aquecer como para preparar os alimentos. Nesses exemplos já se observa a produção de ferramentas para melhorar a eficiênciadas atividades, tendo um ganho na capacidade de “produção”. Assim, ao longo do desenvolvimento, o homem foi interagindo com o seu meio, fazendo mudanças e usando o que encontrava nele para ter ganhos na sua capacidade produtiva, no seu conforto e, consequentemente, na sua qualidade de vida. 12 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Unidade I O homem fabrica metodicamente as suas ferramentas Figura 3 No Império Romano já havia registros dos problemas de coluna que os carregadores de pedra sofriam e também em relação aos mineiros que sofriam de cólicas decorrentes da contaminação pelo chumbo, bem como da intoxicação pelo mercúrio. Durante a Idade Média, o homem passou a se interessar pelos fatores ambientais como calor, umidade, poeiras e agentes tóxicos que interferiam no estado de saúde. O sedentarismo já era observado no modo como afetava a saúde dos tabeliães (ROCHA, 2004). Até o século XV, pela tradição cristã, o homem ocupava o centro do universo, tendo sido criado como a imagem de Deus. Logo, seu corpo sempre foi objeto de respeito, sendo totalmente proibida, pela Igreja Católica, a dissecação de cadáveres para se estudar o corpo humano. A Ciência evoluía entre os pensadores e filósofos e a demonstração por Galileu de que a Terra não era mais o centro do universo gerou um intenso ceticismo de todos os pensadores, ficando óbvio que os nossos sentidos podiam nos enganar. Com isso, surgem dúvidas sobre os sentidos e a razão. Descartes então leva a dúvida ao extremo e, perdida a fé na tradição, decide-se que tudo tem que ser submetido a uma verificação. Na Idade Antiga, onde o trabalho era essencialmente artesanal e o artesão produzia bens em pequena escala para atender à demanda local, observou-se também a sua capacidade em criar ferramentas para seu ofício, adaptar na própria residência a sua oficina de trabalho e buscar por novos materiais e processos de fabricação para seus produtos. 13 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 ERGONOMIA Figura 4 – Artesões Houve então o desenvolvimento de engenhos mecânicos, com a finalidade de ajudar o homem no seu trabalho. O funcionamento do corpo humano começou a ser estudado do ponto de vista mecânico, sendo mais tarde comparado ao modelo de uma máquina a vapor, onde o homem seria um engenho mecânico transformador de energia. Descartes buscava explicar o homem como uma máquina animada por uma alma. Mais tarde, La Mettrie (1709−1751), que era um ateu convicto, empenhou muito esforço em explicar o homem sem o recurso da alma (GRISTELLI, 2009). Com a Revolução Industrial, sem dúvida um grande marco no desenvolvimento da humanidade, também se observou um grande salto nos conflitos da interface do homem com os equipamentos que estavam sendo criados, pois havia o objetivo único de aumentar a produção, sem se saber e se preocupar com a relação do trabalhador com o seu posto de trabalho. As primeiras indústrias começam a surgir com a produção seriada de média escala – tudo isso, em ambientes sujos, escuros e ruidosos. Logo, começaram a surgir os problemas operacionais, um constante número crescente de acidentes nos ambientes de trabalho e também diversas doenças ocupacionais. Outro agravante nas condições dos trabalhadores eram os salários baixos e as longas jornadas de trabalho de até 18 horas por dia; incluíam-se entre os trabalhadores mulheres e crianças expostas às mesmas condições precárias e não recebendo nenhum tipo de auxílio. Não eram raros os casos de castigos físicos dos patrões em uma época que ainda não existiam os direitos trabalhistas. 14 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Unidade I Figura 5 – Fábrica têxtil Por volta de 1914, com o início da Primeira Guerra Mundial, surge a necessidade de produção em grande escala de armamentos e todo material necessário para se abastecer o front de batalha, gerando uma sobrecarga de trabalho nos empregados, fadiga muscular e mais doenças ocupacionais. Surgem então os primeiros estudos sobre doenças ocupacionais com a participação de fisiologistas e psicólogos. Em 1939, inicia-se a Segunda Guerra Mundial, com situações que demandavam muitos investimentos para alcançar a vitória e muitos avanços científicos e tecnológicos. Na Ergonomia, não poderia ser diferente, pois aconteceram muitos acidentes no campo militar, erros, fadiga física, baixo desempenho e estresse dos soldados, além de se comprovar que muitos equipamentos e máquinas eram desconfortáveis e inadequados para a sua finalidade no campo de batalha. Com o objetivo de sanar esses problemas e melhorar o desempenho dos combatentes, a Ergonomia veio ajudar com os estudos antropométricos e biomecânicos nos projetos de design das aeronaves, submarinos, tanques, equipamentos de proteção individual, equipamentos diversos, radares, ferramentas etc. Surge a preocupação com o posto do operador do equipamento em questão e, desta forma, com sua eficiência e eficácia, tendo o objetivo de se diminuir erros, evitar acidentes, aperfeiçoar o seu desempenho, reduzir a sua fadiga e melhorar o seu conforto. Se o aluno imaginar, por exemplo, um posto dentro de uma aeronave de bombardeio, piloto, copiloto, operadores das armas etc., em um ambiente não pressurizado, baixa temperatura, pouco espaço para movimentar-se, em que seus ocupantes permaneciam horas até chegar a seus alvos, em posições incômodas, dificilmente poderia se esperar que eles tivessem uma boa resposta e desempenho na execução das suas funções no momento da batalha. O mesmo ocorria com um tripulante de um submarino ou ocupante de um tanque de guerra, operador de radar, artilharia etc. Isso se mostrou um fator de grande relevância para os resultados desses combatentes e a intervenção ergonômica mostrou-se um fator relevante para aperfeiçoar esses resultados. 15 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 ERGONOMIA Após o término da guerra, todos os desenvolvimentos e descobertas resultantes desses investimentos e estudos passaram a ser utilizados e aplicados nas indústrias e empresas que buscavam melhorar a sua produtividade, as condições de trabalho e a qualidade de vida dos seus empregados. A Ergonomia extrapolou o ambiente de trabalho, mostrando-se também de grande valor no projeto e desenvolvimento de novos produtos que fossem de fácil manuseio, eficientes e eficazes, mais confortáveis e seguros para seus consumidores. Houve muitos avanços nos veículos, mobiliários, máquinas e equipamentos dessa época, por exemplo. Nos Estados Unidos, a Ergonomia passou a ser aplicada nos sistemas de defesa para buscar mais confiabilidade e segurança nos voos espaciais, visando ao conforto dos astronautas para que desenvolvessem suas atividades com eficiência e eficácia, e na indústria, buscando aumentar a produtividade e maximixar os lucros. Em 12 de julho de 1949, em uma reunião de cientistas e pesquisadores, na Inglaterra, criou-se oficialmente o termo ”Ergonomia”. Oficialmente porque em 1857 foi utilizado em um artigo, publicado pelo polonês W. Jastrezebowski, intitulado Ensaio de Ergonomia ou Ciência do Trabalho Baseada nas leis Objetivas da Ciência da Natureza. Na década de 1970, o uso e aplicação de novas tecnologias resultaram em grandes mudanças nas relações e na organização do trabalho, surgindo então novas formas de gerenciamento. Como já vimos, o termo “Ergonomia” é derivado de duas palavras gregas (ergo, trabalho, e nomos, regras). Mas a palavra “trabalho”, na Grécia antiga, tinha um duplosentido, sendo ponos, que designava o trabalho escravo, oriundo de sofrimento, sem nenhuma criatividade e ergon, que significava o trabalho arte de criação, onde há satisfação e motivação. Desta forma, pode-se entender que o objetivo da Ergonomia passa a ser a transformação do trabalho ponos em ergon. Diferentemente do proposto por Descartes e La Mettrie no século XVII, constatou-se que o homem não é uma máquina, não é um dispositivo mecânico, não transforma energia como uma máquina a vapor, seu olho não é uma célula fotoelétrica, a sua memória não funciona como um dispositivo eletrônico, seus ouvidos não são apenas microfones ou amplificadores; há riscos aos quais ele está submetido na atividade laboral que não são análogos aos de um dispositivo técnico, apesar de serem utilizados termos análogos a estes, como envelhecimento, juntas, fadiga, desgaste, polias, bombas, válvulas, tubos etc. 2 CONCEITOS E EVOLUÇÃO Basicamente, podemos dizer que, na sua essência, a Ergonomia busca adaptar posto de trabalho, ferramentas e ambiente ao trabalhador, preservando a sua saúde e conseguindo, por meio de melhorias no ambiente de trabalho, aumentar a produtividade e a qualidade do que se produz. Podem-se encontrar basicamente duas correntes dentro da Ergonomia: • produtivista, que busca adaptar os meios de trabalho ao homem; 16 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Unidade I • higienista, que se interessa mais em conhecer os riscos da atividade laboral e eliminar as suas causas. No período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, procurava-se adaptar os meios de trabalho ao homem, como descrito anteriormente. O próprio usuário, desde a Pré-história, buscava sempre instrumentos que poderiam aperfeiçoar, potencializar e melhorar o desempenho do corpo humano. Na área da saúde, tanto os médicos quanto os higienistas estavam interessados nas consequências do trabalho sobre a saúde do homem. Já os engenheiros e os responsáveis em organizar os trabalhos queriam saber quanto trabalho mecânico se poderia esperar de um homem. Existiam dois grupos de pesquisadores: o primeiro formado por físicos e fisiologistas, preocupados em descobrir a forma de se medir o custo energético de uma determinada atividade laboral. O outro grupo, voltado à psicologia do trabalho, estudava as capacidades e aptidões cognitivas, motoras e sensoriais, na busca de um perfil profissiográfico certo para a atividade em estudo de forma a encontrar a pessoa certa para a condição existente. Os princípios criados por Henry Ford — a organização do trabalho em linhas de montagem, o ritmo de trabalho controlado pela velocidade da linha, o operário com posto de trabalho fixo e a larga escala de produção – mostraram-se importantes para o aumento da eficiência nas áreas de produção. Entretanto, uma série de problemas surgiu em decorrência desses princípios, como: • o trabalhador era submetido ao trabalho exaustivo até o ponto de fadiga para obter aumento da produtividade; • deixar o trabalhador fixo em uma determinada posição ao longo do tempo acabou por transformá-lo em um autômato; • com a sobrecarga funcional, os trabalhadores desenvolveram distúrbios osteomusculares, tão conhecidos hoje como distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho, DORT; • a estratégia de colocar o operador mais hábil no início da linha de montagem gerava correria e sobrecarga dos demais trabalhadores da linha, que precisavam se esforçar para alcançar o mesmo ritmo; • a impossibilidade de criar um modelo, ou método único, para todos trabalhadores, haja vista que cada um possui suas próprias características e habilidades, sendo todos diferentes entre si; • alienação do trabalhador (os engenheiros concentravam o método e a decisão sobre o trabalho); • as capacidades, habilidades e características físicas se tornaram fatores importantes na seleção dos empregados, provocando a exclusão social dos que não atingiam os requisitos quer por incapacidade ou mesmo pelo desgaste decorrente do tempo de trabalho ou da própria idade. 17 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 ERGONOMIA Com esse panorama, a Ergonomia surgiu buscando aproveitar o que havia de bom nos sistemas produtivos e, com a proposta de preservar a saúde do trabalhador, mudou o conceito até então existente de adaptar o homem ao posto de trabalho para o de adaptar o posto de trabalho ao homem. Podem-se elencar os vários fatores associados ao estudo da Ergonomia, sendo: • ambientais: iluminação, ruído, clima, vibrações, agentes químicos etc.; • postura e movimentos corporais: em pé, sentado, levantando cargas, puxando cargas, empurrando cargas etc.; • relações entre mostradores e controles (tarefas e cargos): tarefas interessantes e adequadas; • informação: captada pela audição, visão e demais sentidos. Consideram-se agentes ergonômicos as seguintes condições: Agentes econômicos Trabalhos em turnos diurno e noturno Levantamento e transporte manual de peso Monotonia e repetitividade Jornadas de trabalho prolongadas Esforço físico intenso Exigência de postura adequada Situação de stress físico e/ou psíquico Imposição de ritmos excessivos Controle rígido de produtividade Figura 6 Dessa maneira, o conjunto adequado desses fatores anteriormente abordados gera ambientes confortáveis, seguros e saudáveis no meio familiar e profissional. O estudo da Ergonomia está intimamente ligado a outras áreas científicas, tais como: fisiologia, psicologia, antropometria, eletrônica, desenho industrial, toxicologia, engenharia mecânica, biomecânica e informática. Por meio da contribuição de todas essas áreas, a Ergonomia desenvolveu métodos e técnicas específicas com o objetivo primordial de melhorar as condições de vida da população como um todo, tanto no que diz respeito ao cotidiano como ao ambiente de trabalho. De acordo com o Galafassi (1999), os agentes ergonômicos podem provocar distúrbios psicológicos e fisiológicos no trabalhador, atrapalhando não só sua produtividade como também sua segurança. 18 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Unidade I O foco principal da Ergonomia é o homem, para quem a busca pela minimização da insegurança, insalubridade, ineficiência e desconforto é constante. A Ergonomia difere de outras áreas de conhecimento pelo seu caráter interdisciplinar e pela sua natureza aplicada, pois se apoia em outras áreas do conhecimento humano, como podemos constatar: • Ergonomia de concepção: ligada diretamente ao projeto do posto de trabalho, do sistema de produção ou da máquina e à formação de pessoal e organização do trabalho; • Ergonomia e correção: ligada de forma restrita, modificando fatores do posto de trabalho, como o ruído e a iluminação, dentre outros. A Ergonomia possui um significado social, pois contribui para resolver um vasto número de dificuldades e problemas sociais dirigidos à segurança, à saúde, ao conforto e à eficiência. Inúmeras situações de trabalho e da vida no dia a dia são diretamente prejudiciais à saúde, por exemplo, as doenças do sistema músculo-esquelético (dores nas costas) e as doenças psicológicas (estresse, depressão entre outras). Dessa forma, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiram saúde ocupacional como sendo a promoção e a manutenção do bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores, a prevenção dos agravos à saúde causados pelas condições de trabalho e a adaptação do trabalho ao homem e de cada homem à suaatividade. Alguns conhecimentos em Ergonomia foram convertidos em normas oficiais, que serão estudados em módulos posteriores, dada sua relevância na redução de erros operacionais e na diminuição de acidentes. Não se pode esquecer que existe um princípio aplicado à Ergonomia que recomenda que os sistemas, tarefas e equipamentos devem ser projetados para o uso coletivo, apesar das diferenças individuais da população. Em casos especiais devem ser criados e implementados projetos específicos para essas pessoas. Resumo O conceito de Ergonomia tem origem nas palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras). Em outros países usa-se o termo human factors, que significa fatores humanos. Ergonomia ou fatores humanos é uma disciplina científica que estuda as interações do homem com outros elementos do sistema, fazendo aplicações da teoria, princípios e métodos de projeto, com o objetivo de melhorar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. O foco principal da Ergonomia é o homem, para quem a busca pela minimização da insegurança, insalubridade, ineficiência e desconforto é constante. 19 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 ERGONOMIA Exercícios Questão 1. Com o surgimento das linhas de montagem, como o idealizado por Henry Ford, houve evolução no dinamismo da produção. Contudo, com o ritmo de trabalho acelerado, os postos fixos de trabalho dos operários e a escala grande de produção, surgiu uma série de novos problemas. Leia as afirmativas a seguir: I – O ritmo de trabalho acelerado e a busca pelo aumento de produtividade por vezes submetiam o trabalhador a um ritmo extremamente exaustivo de trabalho, que piorava a qualidade de vida, além de aumentar o risco de desenvolver Dort. II – Ao se deixar o trabalhador fixo em uma determinada posição, ao longo do tempo, isso acabou exigindo que os trabalhadores realizassem sucessivas vezes o mesmo movimento. Essa intervenção é positiva, pois permite que o ambiente possa ser moldado às necessidades e características do trabalhador. Essa prática de repetição sistemática da tarefa laboral diminuiu a incidência de lesões associadas ao trabalho. III – Nessas linhas de montagem trabalhava-se com o conceito de adaptar o homem ao seu ambiente de trabalho. Isso é positivo, pois aumenta a produção e permite que o mesmo ambiente de trabalho sirva para trabalhadores com diferentes perfis e características antropométricas. Assinale a alternativa correta. A) As três afirmativas estão incorretas. B) A afirmativa I está correta e as afirmativas II e III estão incorretas. C) As afirmativas I e II estão corretas e a afirmativa III está incorreta. D) A afirmativa II está correta e as afirmativas I e III estão incorretas. E) As três afirmativas estão corretas. Resposta correta: alternativa B. Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: com a sobrecarga funcional maior, devido ao ritmo de trabalho acelerado e à busca pelo aumento de produtividade, os trabalhadores desenvolveram distúrbios osteomusculares, muito conhecidos hoje como Dort – distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho. 20 SE GT - R ev isã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 09 /1 4 Unidade I II – Afirmativa incorreta. Justificativa: a realização de uma tarefa que exige sucessivas vezes a realização do mesmo movimento não é positiva, pois aumenta o risco em desenvolver Dort. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: o conceito de adaptar o homem ao ambiente de trabalho não é a condição ideal, pois aumenta o risco de desenvolver lesões relacionadas ao trabalho. O ideal é adaptar o ambiente de trabalho às necessidades e exigências do homem. Questão 2. (CESGRANRIO 2010) O nascimento e a evolução da Ergonomia no mundo se devem ao fato de que, A) Em 1990, nos Estados Unidos, foram iniciadas as pesquisas na área da fisiologia do trabalho. B) Em 1915, nos Estados Unidos, foi criada a Comissão de Saúde dos Trabalhadores na Indústria de Munição. C) No final do século XIX, na Alemanha e na França, surge o movimento da administração científica. D) Na Inglaterra, na Primeira Guerra Mundial, fisiologistas e psicólogos contribuíram para o esforço de aumentar a produção de armamentos. E) Na Escandinávia, em Estocolmo e em Copenhagen, surgiu o laboratório de fadiga que se tornou célebre pelos estudos de fadiga muscular à aptidão física. Resolução desta questão na plataforma.
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