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1 RESUMO DA UNIDADE Harmonizar – para o ser humano – um ambiente de trabalho seguro, confortável e que proporcione um desempenho eficiente (conforme ilustrado abaixo) são os objetivos perseguidos pela ciência denominada Ergonomia. Alguns estudiosos falam em Ciência do Trabalho e outros avançam nesse conceito, falando em Ciência do Conforto. Etimologicamente, Ergonomia vem de duas palavras gregas: “Ergon” que significa Trabalho; e “Nomos” que significa Leis. Em 1960, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiu Ergonomia como sendo a “Aplicação das Ciências Biológicas conjuntamente com as Ciências da Engenharia para lograr o ótimo ajustamento do homem ao seu trabalho, e assegurar, simultaneamente, eficiência e bem-estar”. Podemos justificar o termo ‘Ciência do Conforto’ porque em tempos atuais, a Ergonomia busca adaptar o trabalho ao homem e não mais o contrário, ou seja, busca-se favorecer o homem em todo e qualquer ambiente de trabalho. Palavras-chave: Ergonomia, Ambiente de Trabalho e Interdisciplinaridade. INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS ERGONÔMICOS 2 SUMÁRIO RESUMO DA UNIDADE.........................................................................................................1 SUMÁRIO .................................................................................................................................2 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .........................................................................................4 CAPÍTULO 1 - ERGONOMIA: CONCEITO: ASPECTOS GERAIS DA ERGONOMIA E SEU CARÁTER TRANSDISCIPLINAR .................................................6 1.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DA ERGONOMIA ................................................6 1.2 OBJETIVOS MICRO E MACROERGONÔMICOS ........................................... 12 1.3 O PROFISSIONAL ERGONOMISTA.................................................................. 13 1.4 CARÁTER TRANSDISCIPLINAR DA ERGONOMIA ....................................... 15 1.5 ERGONOMIA: DISCIPLINA ÚTIL, PRÁTICA E APLICÁVEL ......................... 17 1.6 BENEFÍCIOS DA INTERFACE DE ATUAÇÃO DA ERGONOMIA ................ 18 1.7 DOMÍNIOS DE ESPECIALIZAÇÃO DA ERGONOMIA NA ATUALIDADE... 18 CAPÍTULO 1 – RECAPITULANDO .................................................................................. 21 QUESTÕES DE CONCURSOS ......................................................................................... 21 CAPÍTULO 2 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA .................................... 25 2.1 DA ANTIGUIDADE AO MUNDO MODERNO ................................................... 26 2.2 ERGONOMIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX.............................. 28 2.3 A ERGONOMIA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ..................................... 29 2.4 ERGONOMIA NA CONTEMPORANEIDADE ................................................... 31 2.5 A ERGONOMIA NO BRASIL - PARA REFLETIR............................................. 34 CAPÍTULO 2 – RECAPITULANDO .................................................................................. 39 QUESTÕES DE CONCURSOS ......................................................................................... 39 CAPÍTULO 3 - APLICAÇÕES DA ERGONOMIA ........................................................ 44 3.1 ERGONOMIA DE CONCEPÇÃO ........................................................................ 46 3.2 ERGONOMIA DE CORREÇÃO, DE ENQUADRAMENTO OU DE REMANEJAMENTO ............................................................................................................. 47 3.3 ERGONOMIA DE CONSCIENTIZAÇÃO ........................................................... 48 3.4 ERGONOMIA DE PARTICIPAÇÃO .................................................................... 48 3.5 ERGONOMIA APLICADA NA INDÚSTRIA ....................................................... 49 3.6 ERGONOMIA APLICADA NA AGRICULTURA, NA MINERAÇÃO E NA CONSTRUÇÃO CIVIL .......................................................................................................... 50 3 3.7 ERGONOMIA APLICADA NO SETOR DE SERVIÇOS .................................. 52 3.8 ERGONOMIA APLICADA NA VIDA DIÁRIA ..................................................... 53 3.9 ERGONOMIA CONTEMPLANDO AS MINORIAS POPULACIONAIS.......... 54 3.9.1 Enfoques de atuação da Ergonomia ................................................................... 55 CAPÍTULO 3 – RECAPITULANDO .................................................................................. 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 63 FECHANDO A UNIDADE ................................................................................................... 64 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 67 4 APRESENTAÇÃO DO MÓDULO O presente estudo tem por objetivo introduzi-los ao Conhecimento dos Aspectos que Envolvem os Processos Ergonômicos. Partindo do princípio de que a maior parte do tempo da vida das pessoas se passa no trabalho, seria ideal que pudéssemos transformar em algo prazeroso e saudável a execução do mesmo, ou seja, um lugar onde se possa sentir. Motivado realizando-o plenamente com alegria e satisfação. No entanto, essa realização só é possível com a premissa básica da Ergonomia: o trabalho deve adaptar-se ao homem e não o contrário (SILVA; LUCAS, 2009). Pois bem, ao longo desse primeiro módulo, veremos também a evolução histórica da Ergonomia, passaremos por conceitos, definições, objetivos, aplicações, benefícios e vantagens, dentre essas últimas, citamos de imediato a necessidade de tornar o ambiente de trabalho agradável, evitando as Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e as Doenças Osteomuscular Relativas ao Trabalho (DORT). A classificação dos estágios de evolução da LER segundo o Ministério da Previdência Social (1993): Grau I – a sensação presente de desconforto, a dor sem irradiação nítida de caráter leve que piora com a jornada de trabalho, mas que não interfere na produtividade e melhora com o repouso. Grau II – a dor é tolerável, mas aparece mais intermitentemente durante o trabalho. A dor é localizada com presença de formigamento, calor e leves distúrbios de sensibilidade. Grau III – a dor é mais persistente e forte com irradiação definitiva, pouco atenuada com o repouso com quadros dolorosos fora do trabalho. A redução de força muscular, com presença de edema frequente e recorrente, hipertrofia constante e presença quase sempre de alterações na sensibilidade. Redução da produtividade ou incapacidade de executar as atividades. Grau IV – é caracterizado por dor forte, continua e insuportável sendo acentuada aos movimentos. Há perda de força e do controle dos movimentos, o edema é preexistente podendo aparecer deformidades e atrofias. Apresenta 5 incapacidade de realizar tarefas tanto no ambiente de trabalho ou fora dele alterando também o estado psicológico. As doenças ocupacionais decorrentes do que chamaremos “Anormalidades no ambiente de trabalho” serão contempladas a contento ao longo do curso. Também falaremos das disciplinas afins, considerando tratar-se de uma Ciência Interdisciplinar, que envolve médicos, enfermeiros do trabalho, fisioterapeutas e outros, contando ainda com um pouco de Sociologia e Psicologia Industrial, além de Antropologia do Trabalho. Lembramos que no trabalho, precisamos nos preocupar com os aspectos físicos, organizacionais e comportamentais, por isso dedicamos módulos específicos em relação a cada uma dessas modalidades em praticada a Ergonomia e por ser uma ciência aplicada, em vários momentos nos encontraremos com métodos e técnicasutilizados pela Ergonomia. Por consequente, daremos ênfase às ferramentas para Gestão Ergonômica, a saber: a Análise Ergonômica do Trabalho (AET – referida na Norma Regulamentadora NR-17); o Laudo Ergonômico-Perícia; o Gerenciamento de Queixas; a Ginástica Laboral e os Programas de Qualidade de Vida essas duas últimas ficarão para o módulo intitulado “Tópicos Avançados em Ergonomia”, juntamente com alguns estudos de casos e projetos específicos. 6 CAPÍTULO 1 - ERGONOMIA: CONCEITO: ASPECTOS GERAIS DA ERGONOMIA E SEU CARÁTER TRANSDISCIPLINAR 1.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DA ERGONOMIA O trabalho é definido por Davies e Shackleton (1977) como uma atividade instrumental executada por seres humanos, cujo objetivo é preservar e manter a vida, e que é encaminhada para uma alteração planejada de certas características do meio ambiente do ser humano. Para iniciarmos nossos estudos, faz-se necessário defender que existe uma diferença entre conceito e definição tomando a lição de Arrabal (2013): Na definição, tenta-se dizer o que algo é a partir da determinação da singularidade do objeto, ou seja, busca-se descrever aquilo que o objeto investigado tem de específico e distinto em relação aos demais. Uma Definição descreve a qualidade, característica ou substância sem a qual o objeto deixa de ser o que “é”, em qualquer circunstância. De certa forma, trata-se de uma caracterização endógena e pretensamente universal do objeto pesquisado (ARRABAL, 2013 n.p. -pp-). Segundo Dul e Weerdmeester (2004), o termo Ergonomia se dá pela junção das palavras gregas “Ergos”, que significa Trabalho, e “Normos” que pode ser traduzida como Leis, “Normas”, “Regras” ou Regulamento, podendo ser conceituada como uma ciência que regulariza o trabalho, fazendo com que este fique de acordo com as necessidades do ser humano que o desempenha. Hoje em dia, esta ciência tem como objetivo desenvolver e aplicar normas e regras para contribuir com a organização do trabalho, estudando todas as particularidades da atividade humana e para que isso seja realizado, várias outras ciências são aplicadas. O Conceito também é uma tentativa de delimitação, porém, neste caso há um esforço em estabelecer “o ponto de vista” por meio do qual o objeto é reconhecido. Busca-se determinar um “contexto” para delinear o objeto. Ou seja, no conceito, algo “é” a partir de um determinado meio físico, social ou teórico. Ao estabelecer um conceito, o pesquisador descreve o objeto em razão e a partir de um entre inúmeros cenários contextuais possíveis. Trata-se de uma caracterização exógena do objeto, 7 válida apenas diante da singularidade do universo pesquisado (ARRABAL, 2013 n.p). Referente às suas definições a Ergonomia é a ciência do trabalho: das pessoas que fazem isso e das maneiras como isso é feito; a ferramentas e equipamentos que utilizam os locais onde trabalham e os aspectos psicossociais à situação de trabalho (PHEASANT, 2003, p. 4). O termo Ergonomia foi utilizado pela primeira vez, em 1857, pelo polonês W. Jastrzebowski, que publicou um "Ensaio de ergonomia ou ciência do trabalho baseada nas leis objetivas da ciência da natureza". Para Couto (2007) define-se ergonomia como o conjunto de ciências e tecnologias de forma que ajuste e adapte o ser humano ao seu ambiente de trabalho de maneira produtiva, agradável e segura. A Ergonomia tem uma atuação bastante ampla, abrangendo as atividades de: a) Planejamento e projeto, que ocorrem antes do trabalho a ser realizado; b) Monitoramento, avaliação e correção, que ocorrem durante a execução desse trabalho; c) Análises posteriores das consequências do trabalho. Tudo isso é necessário para que o trabalho possa atingir os resultados desejados (IIDA, GUIMARÃES, 2018). A Ergonomia é conhecimento e ação; o conhecimento é científico e se esforça para chegar a modelos explicativos gerais; a ação visa melhor adaptar o trabalho aos trabalhadores (CAZAMIAN, 1973 apud ANDREA, 2016). Objetivos Gerais da Ergonomia Segundo Thibodeau (1995), a ergonomia contribui no projeto e modificação nos ambientes de trabalho maximizando a produção, enquanto aponta as melhores condições de saúde e bem-estar para os que atuam nesses ambientes. Para isso, não se restringe a analisar a interação entre o operador e o produto/equipamento, a atividade e o ambiente laborais, mas também engloba o contexto organizacional, psicossocial e político de um sistema. 8 Figura 1 – O Sedentarismo e a Ergonomia Fonte: SILVA (2010) Tabela 1 – Ergonomia – a Capacidade Humana e seus Limites A Ergonomia precisa considerar as capacidades humanas e seus limites: A Ergonomia tem que analisar as exigências das tarefas e os diferentes fatores que influenciam as relações: Homem x trabalho Capacidade física; Força muscular; Dimensões corporais; Possibilidades de interpretação das informações pelo aparelho sensorial (visão, audição); Capacidade de tratamento das informações em termos de rapidez e de complexidade. As características materiais do trabalho: apresentação espacial e temporal; Peso dos instrumentos; Forças a exercer; Disposição dos comandos; Dimensões dos diferentes elementos constituintes do posto e do sistema. Fonte: SILVA (2010) Barbosa Filho (2010) define os objetivos da Ergonomia como um estudo de conhecimentos Antropométricos e Neurossensoriais, de modo que proporcione condições em um ambiente de trabalho que sejam pertinentes ao homem, resultando positivamente no aumento de sua produtividade através de ambientes de trabalho saudáveis e seguros, que exijam um menor desgaste dos trabalhadores e alcance um maior resultado. 9 Figura 2 - Exemplo Prático de Antropometria na Postura Sentada. Fonte: IIDA 2005 apud SEMINOVA, 1979. O Brasil não possui uma normatização de tabelas da ABNT com medidas antropométricas de referências, sendo assim utiliza os fundamentos das seguintes referências: Estudo Nacional de Despesa Familiar (1977): medidas de peso, altura e perímetro braquial, em duas regiões, RJ e PR, SC e RS. Iida e Wierzbicki (1973): 17 variáveis de 257 homens e 320 mulheres da linha de montagem de produtos eletrônicos da Philips (SP). Ferreira (1988): 3.100 trabalhadores, somente homens adultos, ocupados na produção de uma empresa do RJ. A Ergonomia se preocupa em garantir que o projeto do produto, do equipamento, dos sistemas, entre outros complemente as forças e as habilidades. Postura: é a atitude que a pessoa assume, utilizando a menor quantidade de esforço muscular e ao mesmo tempo protegendo as estruturas de suporte contra traumas. A postura é o aspecto mais influenciado pela cadeira e mobiliário corporativo. O assento e o mobiliário estão em contato físico direto com o corpo, e irão favorecer o aspecto postural. 10 A ilustração abaixo mostra os fatores estudados pela Ergonomia, os quais influenciam no desempenho do sistema produtivo, procurando reduzir as consequências nocivas sobre o trabalhador. O principal objetivo da Ergonomia é colaborar para satisfazer as necessidades humanas dentro do ambiente de trabalho, gerar saúde e bem-estar. Para que isso aconteça é necessário realizar um estudo cuidadoso do trabalho com o propósito de identificar fatores inconciliáveis no ambiente de trabalho e suas consequências para os indivíduos. Depois de fazer uma análise cautelosa eliminam-se prejuízos e elementos agressores que possam trazer perdas em qualquer função fundamental na vida do trabalhador (ALEXANDRE, 1998, p. 85). Tendo em vista que existe uma preocupação da Ciência Ergonômica em dois aspectos muito importantes é a produtividade relacionada a outros feitos da organização e o outro está ligado a pessoas, com total preocupação em sua abrangência como: saúde, satisfação como trabalho entre outros. O tema saúde envolve uma série de cuidados, uma vez que esse assunto vem se evoluindo com o passar dos anos, transformando a visão paliativa ou preventiva a uma visão construtiva, se preocupando com a saúde física e cognitiva do trabalhador (FALZON, 2007, p. 04). Em seus estudos, a Ergonomia procura reduzir a fadiga, estresse, erros e acidentes, proporcionando saúde, segurança, satisfação aos trabalhadores, durante a sua interação com esse sistema produtivo. A eficiência virá como consequência. Em geral, não se aceita colocar a eficiência como objetivo principal da Ergonomia, porque ela, isoladamente, poderia justificar a adoção de prática que levem ao aumento dos riscos, além do sacrifício e do sofrimento dos trabalhadores. Isso seria inaceitável, porque a Ergonomia visa: preservar a saúde e segurança; satisfação; eficiência e produtividade dos trabalhadores (IIDA, GUIMARÃES, 2018). 11 Figura 3 – Ergonomia. Fonte: IIDA; GUIMARÃES (2018, p. 5). Vejamos cada um desses pontos: Saúde e Segurança: a saúde e a segurança do trabalhador são preservadas quando as exigências do trabalho e do ambiente estiverem dentro das capacidades e limitações desse trabalhador, sem ultrapassar certos limites fisiológicos e cognitivos, de modo a evitar as situações de estresse, fadiga, riscos de acidentes e de doenças ocupacionais em longo prazo. Satisfação: a satisfação é o resultado do atendimento das necessidades e expectativas do trabalhador, produzindo uma sensação de bem-estar e conforto. Isso envolve também facilidade de aprendizagem, crescimentos pessoal/profissional do trabalhador, ambientes físico/social saudável e uma remuneração justa. A satisfação depende também de outros fatores, como salários, carreiras, reconhecimentos, promoções, organização do trabalho, relacionamentos com a chefia, com os colegas de trabalho e com a família. 12 Eficiência e Produtividade: a eficiência e produtividade medem os resultados obtidos, em comparação com os recursos empregados e uso do tempo. Elas resultam de um bom planejamento, organização do trabalho, da tecnologia e do conhecimento disponível para os trabalhadores, bem como da sua capacitação, de forma a proporcionar- lhes saúde, segurança e satisfação. A produtividade deve ser colocada dentro de certos limites, pois o seu aumento indiscriminado pode implicar em prejuízos à saúde, segurança e satisfação. Por exemplo, quando se aumenta a velocidade de uma máquina, aumenta-se a eficiência, mas há também uma probabilidade maior de ocorrer acidentes e prejuízos pela qualidade inferior da produção. Na produção industrial, há casos em que se consegue aumentar a eficiência sem comprometer a segurança e a qualidade, mas isso exige investimentos em tecnologia, organização do trabalho e treinamento dos trabalhadores, a fim de eliminar os fatores de risco. Do contrário, os custos adicionais podem tornar-se maiores que os lucros adicionais, o que não justifica o aumento da produtividade. Minorias Populacionais: há uma crescente preocupação da Ergonomia em atender às necessidades específicas de certas minorias populacionais, como os idosos, obesos, crianças e pessoas com deficiência (LIDA; GUIMARÃES, 2018). 1.2 OBJETIVOS MICRO E MACROERGONÔMICOS Em 1998, Silva já ponderava que a Macroergonomia era apontada como um possível agente catalisador nas transformações organizacionais, fornecendo elementos determinantes para a condução do processo de mudança e elaboração de intervenções. De forma simples, pode-se resumir esta contribuição na afirmativa de que, se os indivíduos em sua complexa rede de interações internas e externas interfaces com o ambiente, tecnologia e estrutura organizacional satisfazem seus vários estágios de necessidades, a tendência é de que o sistema organizacional como um todo tenha um comportamento mais harmônico. 13 1.3 O PROFISSIONAL ERGONOMISTA Uma vez explicado que a Ergonomia atua de maneira transdisciplinar, podemos falar um pouco sobre a atuação desse profissional ao longo de sua vida profissional, que vem sendo muito solicitado pelas empresas para atender diversas demandas como as normas legais vigentes e avaliações mais bem elaboradas. O Ergonomista tem como função melhorar o ambiente de trabalho, com fins na eficiência e produtividade. Para atender as demandas elencadas, esse profissional preciso de uma formação sólida e conhecimentos das mais diversas áreas como vimos anteriormente: Possuir conhecimento prévio de formação acadêmica de nível superior dos sistemas humanos para poder interpretar e planejar melhorias ergonômicas que protejam o ser humano no seu ambiente de trabalho. Conhecer de anatomia humana, biomecânica (que analisa o movimento do corpo humano), ferramentas ergonômicas, medidas antropométricas, fisioterapia, antropometria, psicologia, doenças de trabalho, riscos ambientais, tudo isso, como base para poder elaborar a Análise Ergonômica do Trabalho com o mínimo de sucesso. Em outras palavras, a prática ergonômica caracteriza-se por metodologias que integram ferramentas de várias origens. Esse conjunto de métodos trabalha com conhecimentos diferenciados – Administração; Psicologia; Fisiologia; Biomecânica; Antropometria; Engenharia; Medicina entre outros -, e constitui-se em dois eventos básicos: análise ergonômica e intervenção ergonômica. Fialho e Neri (1995) explicam os três momentos da análise ergonômica: Análise da Demanda – refere-se à definição do problema a ser analisado e começa com a negociação com os atores envolvidos. Análise da Tarefa – refere-se a parte explicitada sobre aquilo que o trabalhador deve realizar e as condições técnicas dessa realização. 14 Análise das Atividades – corresponde aquilo que efetivamente o trabalhador realiza para executar a tarefa, ou seja, a análise do desempenho do homem no trabalho. A Análise Ergonômica consiste na identificação das condições técnicas, organizacionais e humanas, bem como a avaliação dos efeitos do trabalho sobre o operador e o sistema produtivo. A Intervenção Ergonômica acontece por ocasião da concepção e correção de postos de trabalho, produtos e serviço, seguida da higiene e segurança no trabalho, atingindo a formação profissional. Percebe-se que há uma interconexão entre teoria e prática, e não se pode configurar uma dissociação desse processo, pois o experimento organizacional depende do aporte acadêmico, e vice- versa (PEREIRA et al., 1998). Passos Resumida das Profissões: Elaborar um Programa de Ergonomia, que consiste no levantamento dos riscos ergonômicos e na concepção do programa de Ergonomia; Conscientizar os funcionários, o que se dá através de treinamentos e palestras acerca dos riscos ergonômicos e sua prevenção; Promover o aperfeiçoamento do Programa de Ergonomia, que se dá através da correção e aperfeiçoamento do programa de ergonomia aplicado no ambiente de trabalho. Vale frisar que o Ministério do Trabalho, através da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), divulgou a Norma Técnica (NT) N.º 287-2016, trazendo esclarecimentos a respeito do Profissional Capacitado para realizar a Análise Ergonômica do Trabalho, segundo a Norma Regulamentadora NR17, e para ministrar treinamentos em ergonomia. Ou seja, o profissional é aquele que tem as habilidades necessárias e que possui especialização, formação na área de Ergonomia, inclusive que o elaborador pode responder por uma AET mal elaborada. Então que fiquem atentos aos seus direitos, deveres e responsabilidades! 15 1.4 CARÁTER TRANSDISCIPLINAR DA ERGONOMIA A Ergonomia é uma disciplina de caráter multidisciplinar que fundamenta seu estudo em várias áreas científicas e utiliza este conhecimento para atingir sua finalidade que é adaptar o trabalho ao serhumano. Figura 4 - Multidisciplinaridade da Ergonomia Fonte: SCARPIM (2010) Diversas áreas do conhecimento são utilizadas, como por exemplo: da Organização do Trabalho, da Medicina, Fisiologia e Psicologia do Trabalho; da Psicologia Cognitiva; da Psicologia da Percepção Visual; da Sociologia; da Antropologia e Antropometria; da Teoria da Informação; das Engenharias de Produção, Industrial, de Segurança, de Sistemas e outras; da Arquitetura e Urbanismo; do Design do Produto, Gráfico, Moda, Ambiente, “Light", “Sound” e outros; da Comunicação Social; e de tecnologias diversas, como da Informática, Cibernética, Telemática, Robótica e outras, além de Normas Nacionais e Internacionais (ABNT, ISO, SAP, DIN, entre outras) (FILHO, 2010). Filho (2010), p. 45-46 elenca as seguintes características: 16 A Multidisciplinaridade: refere-se um conjunto de disciplinas que trata, simultaneamente, de uma dada questão, sem que os profissionais implicados estabeleçam efetivas trocas entre si. Portanto, cada especialista emprega sua metodologia, com base em suas hipóteses e teorias, e o objeto em questão é visto sob múltiplos pontos de vista, numa justaposição de conhecimentos. A Interdisciplinaridade: o prefixo Inter, por si só, marca a presença de uma ação recíproca de um elemento sobre o outro e vice-versa. Em uma equipe interdisciplinar, há possibilidade de troca de instrumentos, técnicas, metodologia e esquemas conceituais entre as disciplinas. Dessa forma, trata-se de um diálogo que leva ao enriquecimento e transformação das disciplinas envolvidas. Interdisciplinaridade implica na interação de diferentes disciplinas científicas sob a coordenação de uma delas. A Transdisciplinaridade: esta abordagem busca resolver um problema do mundo real com base na experiência acadêmica e não acadêmica, articulando os conhecimentos a fim de propor soluções para o problema. Ou seja, transcende o âmbito de cada disciplina e surge por meio de uma articulação que possibilita o surgimento de uma nova visão da natureza e da realidade. Abaixo elencamos algumas das disciplinas que constituem a ciência ergonômica e suas contribuições: a) A Antropometria e a Biomecânica oferecem informações sobre as dimensões e os movimentos do corpo humano. b) A Anatomia e a Fisiologia Aplicada contribuem com dados sobre a estrutura e o funcionamento do corpo humano. c) A Psicologia colabora com os dados sobre os parâmetros do comportamento humano. d) A Higiene Industrial, a Física, a Estatística e outras cooperam com conhecimentos e estudos completos do sistema homem-máquina-ambiente de trabalho, visando a uma melhor adequação do trabalho ao homem. e) A Medicina do Trabalho. Para Vieira (2000) as doenças ocupacionais são definidas como aquelas que: [...] ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa, provocando lesão corporal, perturbação funcional ou doenças, que cause a morte ou perda, ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (p. 276). Assim: Os Médicos do trabalho podem ajudar na identificação de locais que possam vir a provocar acidentes ou doenças ocupacionais e podem realizar acompanhamento de saúde nos trabalhadores. 17 Os Analistas do trabalho ajudam no estudo dos métodos, tempos e postos de trabalho. Os Psicólogos, geralmente envolvidos em seleção e treinamento de pessoal, podem ajudar também na implantação de novos métodos. Os Engenheiros podem ajudar nos aspectos técnicos modificando as máquinas e os ambientes de trabalho. Os Desenhistas Industriais podem ajudar na adaptação de máquinas e equipamentos, projetos de postos de trabalho e sistemas de comunicações. Os profissionais da Educação Física podem ajudar com técnicas e exercícios de compensação em atividades de trabalho, assim como programas de aptidão física (MERINO 2011). Fechando um pouco o leque de relações da Ergonomia apreciem a ilustração abaixo. Figura 5 - Ergonomia Fonte: VIDAL E MÁSCULO (2011, p. 27). 1.5 ERGONOMIA: DISCIPLINA ÚTIL, PRÁTICA E APLICÁVEL Como disciplina prática, a Ergonomia busca encaminhar soluções sempre adequadas aos usuários, operadores e à realidade das empresas e organizações onde as intervenções ergonômicas tem lugar. Ela até pode limitar a produção de um 18 laudo, de um parecer, de uma avaliação se essa for à demanda feita à Ergonomia, no entanto, na atualidade ela se faz presente através de projetos que levem a mudanças necessárias e significativas. 1.6 BENEFÍCIOS DA INTERFACE DE ATUAÇÃO DA ERGONOMIA A Ergonomia vai permitir que exista interfaces adequadas, as quais atenderão de forma conjunta, integrada e coerente aos critérios de conforto, eficiência e segurança. Com isso, será possível trabalhar corretamente: Sem as dores lombares no uso de modernos computadores em confortáveis escritórios. Executando as operações de manuseio de tecidos num ambiente condizente, sem intoxicações e sem perda de material. Encontrando os pedidos de peças, livros, itens eletrônicos, enfim, realizando operações de estoque numa forma eficiente e menos estressante, garantindo a qualidade de atendimento. Organizando a logística de entregas de forma adequada e preparando o motorista, o cliente e as rotas para evitar problemas reais do caos urbano (MÁSCULO; VIDAL, 2011). 1.7 DOMÍNIOS DE ESPECIALIZAÇÃO DA ERGONOMIA NA ATUALIDADE A associação internacional de Ergonomia divide a ergonomia em três ramos de especialização, visando permitir ao homem uma melhor condição de trabalho, saúde, satisfação, segurança e eficiência no desempenho das atividades. São eles: Ergonomia Física: A Ergonomia Física busca melhorar a relação do homem com a máquina, equipamentos, móveis e objetos de trabalho, assim, suas ações objetivam avaliar se a cadeira proporciona postura adequada, avaliar a vibração de determinados instrumentos, avalia também a movimentação adequada no levantamento e manipulação de objetos, etc. Além de avaliar, a ergonomia física se objetiva em orientar e conscientizar para que a saúde física seja preservada. 19 A importância da modalidade reside na contribuição decisiva em relação a problemas constatados nos sistemas de trabalho. Essa particularização coloca como exigência, em geral, reconfigurações do posto de trabalho que irão implicar em mudanças na tecnologia física que muitas vezes podem ser tornar inviáveis do posto de vista financeiro. (Cf. DUL; WEERDMEESTER, 2001). No quadro abaixo temos algumas formas de manifestação que promovem desconforto no trabalho a serem trabalhadas pela Ergonomia Figura 6 - Pressão que o Corpo sofre nas Diferentes Posições e Posturas Fonte: COUTO (1995). Tabela 2 – Manifestações de Desconforto Tipo de desconforto Forma de manifestação Climático Condições do tempo, da temperatura e da circulação do ar. Visual Condições da visão, como irritação e falta de descanso. Sonoro Níveis de ruído, de música e de voz. Corporal Situação dos músculos e articulações. Auditivo Ruídos do ambiente e velocidade do vento. 20 Olfativo Odores e sua intensidade. Respiratório Níveis de poluição e umidade do ar. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Quando o ser humano se encontra na posição sentada, a primeira alteração que ocorre é o aumento na pressão dos discos intervertebrais da coluna lombar, cerca de 50%, o que gera uma tendência à degeneração dos mesmos. “Esse aumento se deve à eliminação do amortecimento de pressões dado pelo arco dos pés e pelos tecidos moles dos membros inferiores”. (COUTO, 1995, p. 74). Ergonomia Cognitiva: Este dá uma atenção maior aos processos mentais, com a percepção, memória, modo de pensar e resposta motora, fazendo uma interação entre pessoas e outros elementos que compõe o sistema. Prioriza a carga mental, tomadade decisão, interação homem-máquina, estresse e treinamento. Ergonomia Organizacional: Trata da otimização dos sistemas sócios técnicos, ou seja, que incluem pessoas como partes inerentes do sistema e suas estruturas organizacionais, de processos e políticas. Os pontos relevantes nesse tipo de ergonomia são: as comunicações, o trabalho realizado em grupo, os projetos participativos, o trabalho cooperativo, a organização em rede, a cultura organizacional, a organização temporal do trabalho e a gestão da qualidade. 21 CAPÍTULO 1 – RECAPITULANDO QUESTÕES DE CONCURSOS Questão 1 Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRT Prova: Psicologia Nível: Superior Um projeto Ergonômico de uma empresa deve levar em conta parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho: a. Aos processos de prevenção de doenças infectocontagiosas. b. Aos programas de medicina do trabalho. c. Às necessidades sociais dos trabalhadores. d. Aos programas motivacionais implantados. e. Às características psicofisiológicas dos trabalhadores. Questão 2 Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRT Prova: Psicologia Nível: Superior A abordagem que procura fazer aproximações da Ergonomia ao estudo das exigências afetivas das tarefas aponta que a Ergonomia dá fundamental contribuição para que os trabalhadores possam desenvolver e expressar afetos positivos e para explicar: a. O processo de amor pelo trabalho. b. Porque eles reivindicam. c. O que ocorre quando eles apresentam baixa confiança. d. Quando e porque eles sofrem. e. Tudo o que eles necessitam para darem resultados. Questão 3 Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRT Prova: Psicologia Nível: Superior A Ergonomia estuda: a. A dimensão simbólica do que é compartilhado e construído socialmente, demonstrando as implicações de quem influencia e é influenciado nos diversos contextos culturais e antropológicos da empresa. 22 b. O homem como parte integrante e responsável pela preservação do ecossistema e dos insumos da natureza, bem como ator do desenvolvimento sustentável. c. As condições de trabalho ligadas à pessoa e fundamenta-se na medicina, na psicologia, na motricidade e na tecnologia industrial, visando ao conforto e ao desempenho nas diversas posições de trabalho. d. A consciência de que os bens são finitos e de que a distribuição de bens, recursos e serviços deve envolver de forma equitativa a responsabilidade e os direitos da sociedade. e. A capacidade de mobilizar recursos para atingir resultados em ambiente cada vez mais complexo, mutável e competitivo. Questão 4 Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRT Prova: Psicologia Nível: Superior É campo de ação da Ergonomia: I. As escalas métricas e a jornada de trabalho; II. O meio ambiente físico (ruído, iluminação, vibrações, ambiente térmico); III. As características materiais do trabalho. É correto o que consta em: a. I e III, apenas. b. I, II e III. c. II e III, apenas. d. I, apenas. e. II, apenas. Questão 5 Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRT Prova: Psicologia Nível: Superior Os Estudos Ergonômicos apresentam tanto descrições dos motivos dos conflitos vividos pelos trabalhadores quantas recomendações e orientações práticas para transformar as situações de trabalho para que correspondam às possibilidades e às capacidades dos: 23 a. Fornecedores. b. Inspetores. c. Trabalhadores. d. Agregados. e. Peritos. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE A Ergonomia (Ergonomics), também chamada de fatores humanos (Human Factors), é o estudo da adaptação do trabalho ao ser humano. Nesse sentido, cite o campo de atuação da Ergonomia. TREINO INÉDITO Assinale a alternativa que indica o principal objetivo que existe acerca do estudo da adaptação do trabalho ao ser humano. a. Saúde laboral. b. Saúde relativa. c. Saúde autônoma. d. Saúde peculiar. e. NDA. NA MÍDIA O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ERGONOMIA Falar de Ergonomia ainda é muito complexo para muitas pessoas e empresas. A falta de conhecimento sobre o assunto implica em baixa produtividade, afastamento da empresa e complicações para a saúde do trabalhador LER/DORT. Entenda o que é Ergonomia, onde e porque devemos saber mais sobre este assunto. Fonte: Reliza Data: Sem data Leia na íntegra em: https://www.reliza.com.br/o-que-voce-precisa-saber-sobre- ergonomia/ 24 NA PRÁTICA No artigo abaixo se mostrou um estudo realizado em uma grande empresa de materiais de construção da Grande Florianópolis e teve por objetivo, analisar do ponto de vista da Ergonomia, o Ambiente de Trabalho e as Atividades Desenvolvidas pelo Auxiliar do Almoxarifado. Este tipo de ambiente quando não há um cuidado voltado ao desempenho das atividades, pode trazer alguns problemas de saúde para o funcionário bem como, uma produtividade abaixo do potencial da equipe interna e dos envolvidos no processo. Para verificar a situação real do ambiente e compará-la com a literatura, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa com abordagem de estudo de caso. Para tal, foram realizadas visitas in loco, aplicação de questionários, entrevistas, medições dos fatores ambientais e observações da rotina de trabalho. Os resultados mostraram que as condições ambientais influenciam no trabalhador do setor. Por fim, elaboraram-se sugestões com orientações baseadas na NR17, com o intuito de melhorar a rotina de trabalho e a satisfação dos funcionários do setor. Fonte: http://www.revistas.udesc.br/index.php/dapesquisa/article/download/7452/5268 PARA SABER MAIS: Filme sobre o assunto: A Face Perversa do Trabalho Peça de teatro: Doutores da Prevenção Acesse os links: https://youtu.be/1I9tGvHx1Hg https://youtu.be/a5pXLcGkvjY 25 CAPÍTULO 2 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ERGONOMIA De imediato, justificamos que, para além de algumas narrativas anedóticas e breves relatos históricos, é importante que as ciências sejam introduzidas aos seus estudiosos e aplicadores de maneira profunda, isto porque as diferentes áreas do conhecimento vão adquirindo, ao longo de sua evolução, características muito peculiares. As formas de interpretar o mundo, com uma linguagem própria e com diferentes técnicas de investigação vão construindo as diversas especialidades. Essa evolução das diversas ciências, cada uma a seu ritmo, nos mostra que elas caminham com acertos e erros, o que decerto não inviabiliza sua credibilidade, simplesmente mostra que existem limites e obstáculos a serem ultrapassados no seu processo de construção, fazendo teorias e modelos ser revistos e retificados quando necessário. Figura 7: Combate essa Evolução Fonte: WACHOWICZ (2016) Como diz Gurgel (2017), a ciência é parte da sociedade, influenciando e sendo influenciada por ela. Contextos e necessidades externas à ciência influenciam seu desenvolvimento, deixando com maior clareza a marca de seu período histórico. Por outro lado, não apenas produtos da ciência afetam e transformam as sociedades, como muitas de suas ideias alimentam novas mentalidades e estimulam diferentes tipos de criação. 26 Pois bem, veremos nos tópicos abaixo como a Ergonomia se fez, e que seus avanços científicos e tecnológicos resultaram em produtos e maneiras de agir que integram a vida da maioria das pessoas na atualidade. 2.1 DA ANTIGUIDADE AO MUNDO MODERNO Ergos (trabalho) e Nomos (normas) formam a palavra que designa a ciência responsável por estudar as condições de trabalho. Ainda que o nascimento da Ergonomia tenha oficialmente ocorrido no século XX, considera-se que, desde a pré- história, os homens buscam técnicas para adaptar o trabalho às condições humanas e não o contrário. Moraes e Mont’Alvão (2000) afirmam que desde as civilizações antigas o homem se preocupa em adequar a formadas pegas dos instrumentos a forma da mão humana buscando aperfeiçoar as ferramentas, instrumentos e utensílios que utiliza em suas atividades cotidianas de modo a proporcionar mais conforto na utilização. De tempos ‘mui’ remotos trazemos Leonardo Da Vinci com sua curiosidade científica acerca do homem e seu entorno. Em seus estudos e projetos, as máquinas e suas funções se ajustavam ao homem, facilitando a execução de diversas ações. De acordo com Martins (2008 apud Lima et al., 2010), o corpo humano é o ponto de partida para o projeto de produto. Dessa forma, os estudos minuciosos de Leonardo acerca da anatomia humana, principalmente seu estudo sobre “O Homem Vitruviano”, são precursores essenciais do estudo da Antropometria e da Ergonomia. O médico italiano Bernardino Ramazzini (1633-1714) foi o primeiro a escrever sobre doenças e lesões relacionadas ao trabalho, em sua publicação de 1700 "De Morbis Artificum" (Doenças ocupacionais). Ramazzini foi discriminado por seus colegas médicos por visitar os locais de trabalho de seus pacientes a fim de identificar as causas de seus problemas. Os estudos dos médicos e higienistas ganharam espaço e contribuíram para minimizar as doenças provenientes do trabalho. Entre os inúmeros abnegados e idealistas que contribuíram para melhorar a qualidade de vida dos homens do passado, destaca-se o médico francês Philibert Patissier. Ele recomenda aos 27 ourives levantar a cabeça de vez em quando e olhar para o infinito como modo de evitar a fadiga visual. Também preconiza proteção nos moinhos e concebe máquinas para diminuir o esforço físico, como as máquinas de lavar, e vai além, realizando as primeiras estatísticas sobre mortalidade e morbidade da população operária (SCARPIM et al., 2010). Atribui-se ao cientista polonês, Wojciech Jarstembowsky a primeira definição de Ergonomia, em 1857, época da Revolução Industrial na Europa. Esta primeira definição estabelecia que: A Ergonomia como uma ciência do trabalho requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação (JASTRZEBOWSKI, 1857). Principalmente, durante a Revolução Industrial, ocorrida a partir do século XVIII, que a necessidade de adaptar as atividades ocupacionais às necessidades humanas se tornou um problema maior com a existência das primeiras fábricas que não ofereciam condições de salubridade aos trabalhadores (IIDA, 2005). Figura 8: Revolução Industrial. Fonte: WACHOWICZ (2016) No final do século XVIII o trabalho era bastante desgastante com jornadas excessivas, trabalhadores expostos a condições insalubres, mortes e trabalho semiescravo. Tal situação era devido ao contexto socioeconômico da época, onde as indústrias europeia e americana estavam se adequando e buscando elevar a 28 produção em frente a escassez de mão de obra qualificada e no limite da matéria prima (ABRAHÃO, 2009). 2.2 ERGONOMIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX Na primeira metade do século passado apresenta-se com dois movimentos diferentes: produtividade e satisfação do trabalhador. A origem e evolução da ergonomia são consequência das transformações socioeconômicas e, sobretudo, tecnológicas que ocorreram no mundo do trabalho a partir da segunda metade do século passado. Da produção artesanal, passando pela automação à robótica, a relação do homem com seu trabalho tem sofrido mudanças estruturais profundas. De acordo com Iida (2005, p. 05) “Ao contrário de muitas outras ciências cujas origens se perdem no tempo e no espaço, a ergonomia tem uma data oficial de nascimento: 12 de julho de 1949. Nesse dia, reuniu-se, pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em discutir e formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência”. O século XX foi demarcado pelo modelo fordista e taylorista na forma de organização e produção das mercadorias. Consistia na organização do processo produtivo de massas de produtos homogêneos, operando através de grandes linhas de montagem. Ou seja, o fordismo agrega ao processo produtivo a noção de produção em série. De outro lado, o controle do tempo e dos movimentos dos operários no processo produtivo são resultados das ideias e estudos de Taylor (OLIVEIRA, 2005). A Ergonomia com seu paradigma mecânico/termodinâmico do ser humano foi o desaguar de atividades milenares a partir de diversas disciplinas científicas, como mostra o quadro abaixo: Principais disciplinas formadoras do pensamento Ergonômico Clássico: 29 Tabelas 3 – Formadoras do Pensamento Ergonômico Clássico Disciplinas formadoras Autores Filosofia (cognição). Platão, Aristóteles Medicina. Ramazzini, Villermé, Tissot. Físico-química. Lavoisier, Coulomb. Fisiologia do Trabalho. Amar, Chaveau, Marey. Engenharia do Produto. Da Vinci, Vauban, Jacquart. Organização. Taylor Gilbreth, Ford. Fonte: VIDAL (2001, p. 9). 2.3 A ERGONOMIA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Quando a 2ª Guerra Mundial eclodiu, houve a necessidade de adaptar os instrumentos bélicos, para que o operador ficasse menos tenso, reduzindo, assim, o nível de tensão e de risco de acidentes. Depois da guerra, surge na Inglaterra o Ergonomics Research Society, uma sociedade de pesquisadores preocupados em estudar o ambiente laboral, o que contribui para a difusão da ergonomia em todo o mundo, colocando em prática, todo o conhecimento adquirido durante as duas guerras, melhorando, desta forma a produtividade e as condições de vida da população, particularmente, os trabalhadores (IIDA, 1998). Esclarece Abrantes (2011) que, em 1945 após a segunda guerra mundial, a produção passou a exigir uma interação cognitiva entre homem-máquina principalmente com o uso de painéis e mostradores, onde o trabalhador passa a visualizar um dado ou valor numa determinada velocidade e tem que tomar uma decisão, após o cérebro efetuar o processamento da informação. Nasce nesse momento a ergonomia cognitiva, representada pelo médico suíço Etienne Grandjean (1914-1991) e o engenheiro alemão Karl H. E. Kroemer nascido em 1933. Em 1949, um engenheiro inglês chamado Murrel, criou na Inglaterra, na Universidade de Oxford, a primeira Sociedade Nacional de Ergonomia, a 30 Ergonomics Research Society. Em 1959, foi organizada a Associação Internacional de Ergonomia, em Estocolmo. Já em 1959, a recomendação n.º 112, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) dedicava-se aos serviços de saúde ocupacional, com as seguintes finalidades: Proteger o trabalhador contra qualquer risco à sua saúde e que decorra do trabalho ou das condições em que ele é cumprido; Concorrer para o ajustamento físico e mental do trabalhador a suas atividades na empresa, através da adaptação do trabalho ao ser humano e pela colocação deste em setor que atenda às suas aptidões; Contribuir para o estabelecimento e manutenção do mais alto grau possível de bem-estar físico e mental dos trabalhadores. No ano de 1960, foi difundida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) a definição do estudo da ergonomia como sendo a "Aplicação das ciências biológicas conjuntamente com as ciências da engenharia para lograr o ótimo ajustamento do homem ao seu trabalho, e assegurar, simultaneamente, eficiência e bem-estar" (MIRANDA, 1980). O World Health Organization (1997) define a qualidade de vida como percepção do indivíduo de sua posição na vida, dentro dos contextos culturais e de valores nos quais vive, e também no que diz respeito aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Podemos dizer então que a qualidade de vida em relação ao trabalho também é capaz de ser definida desta forma, porém mediante a percepção do indivíduo de sua posição no ambiente de trabalho Vieira e Hanashiro (1996, apud Blattman;Borges, 1998, p. 49) colocam a qualidade de vida no trabalho como a: [...] melhoria nas condições de trabalho, com extensão a todas as funções de qualquer natureza e nível hierárquico, nas variações comportamentais, ambientais e organizacionais que venham, juntamente com políticas de Recursos Humanos condizentes, humanizar o emprego, de forma a obter-se um resultado satisfatório, tanto para o empregado como para a organização. Um profissional que atua em um ambiente que atende suas distintas necessidades, provavelmente trabalha mais motivado, é mais participativo e, consequentemente, irá trazer benefícios para a empresa e também para si própria. 31 Para Conte (2003, apud Silva; Lucas, 2009, p. 388) “A meta principal do programa de QVT é a conciliação dos interesses dos indivíduos e das organizações, ou seja, ao melhorar a satisfação do trabalhador, melhora-se a produtividade da empresa”. Tabela 4 – Consequencias Diretas sobre o Resultado da Produção A qualidade de vida do homem no trabalho tem sido a tônica dos nossos estudos em Ergonomia até o momento e assim o será até o final do curso, portanto, frisaremos sempre que as influências das más condições de trabalho terão consequências diretas sobre o resultado da produção. Estas podem ser categorizadas em três diferentes níveis: A) Sobre o Homem: fadiga, envelhecimento, acidentes, doenças ocupacionais. B) Sobre a Produção: baixa de produtividade, da qualidade e da competitividade. C) Sobre o Plano Econômico: custos das más condições de trabalho para a empresa e para o país. Todas essas consequências podem ser evitadas, na medida em que estas condicionantes sejam evidenciadas e tratadas de forma sistemática, tentando reduzi- las, minimizá-las e caso for possível, eliminá-las. Fonte: MERINO (2011). 2.4 ERGONOMIA NA CONTEMPORANEIDADE No mundo do trabalho contemporâneo, complexo e heterogêneo, a automação e a nova organização produtiva estabeleceram novas formas de execução do trabalho, inclusive há um novo conceito, distinto da relação empregatícia ou mesmo de um emprego “flexível”, nos contratos de trabalho se adaptando ao contexto atual (OLIVEIRA, 2005). Os tempos modernos chamaram a Biometria, a Bioquímica, a Biomecânica, a Psicologia Social, a Sociologia e outras ciências a darem suas importantes contribuições para a Ergonomia, ou seja, elas davam bases científicas necessárias, mas exigências técnicas, econômicas e mesmo a pressão social dos trabalhadores somam-se na atualidade para que a Ergonomia tenha atenção para todo um contexto interdisciplinar que lhe exigido para atender as demandas. 32 Um exemplo de exigência técnica seria a concepção de máquinas complexas e sua utilização em situações extremas que exigem muito mais atuação do homem. Quanto às exigências econômicas, é evidente que o desenvolvimento dos meios técnicos de produção se faz acompanhar de um aumento da complexidade das máquinas. Essas precisam trabalhar mais e por mais tempo. Ao mesmo tempo é imputado ao trabalhador encargos decorrentes da má utilização ou incidente em sua manobra que os setores financeiros não permitem. Por fim, submetidos a condições de trabalho que põem em risco sua saúde, a um ritmo acelerado de produção, à fragmentação das tarefas, à agressão do meio ambiente ruído, poeira, vibrações, a alterações periódicas dos horários de trabalho, entre outros, os trabalhadores não toleram a diferença entre os imensos esforços exigidos por uma industrialização sempre mais aperfeiçoada e as raríssimas ações realizadas para mudar as condições de trabalho, salvo quando se trata de aumentar a produção. A noção de melhoria das condições de trabalho aparece muito cedo na história do movimento operário; mas, frequentemente, ela só se traduz em reivindicações de medidas de proteção limitação da jornada de trabalho, proteção contra o ruído, que são mais fáceis de serem alcançadas e generalizadas. Entretanto, a resistência para suportar condições de trabalho penosas aumenta nos países industrializados como se verifica pelo apelo à mão de obra estrangeira e por sua significativa presença em empregos nos quais as condições de trabalho é severo, trabalho em cadeia, construção civil, entre outros. Esses três tipos de pressão impulsionaram o desenvolvimento de pesquisas sobre o desempenho do homem em atividade, particularmente em atividade profissional, levando a que se reunissem os conhecimentos já adquiridos a fim de torná-los úteis à organização e à concepção dos meios de trabalho, sem, contudo, provocar aplicações idênticas, na prática. A utilização de conhecimentos ergonômicos liga-se aos objetivos das empresas, das populações que as compõem e da sociedade a que pertencem. Tais conhecimentos servem tanto para aumentar a eficácia de um sistema de produção como para diminuir a carga de trabalho do operador. Mas esses objetivos muitas vezes são contraditórios, constatando-se frequentemente que a melhoria de um posto de trabalho feita a partir de dados ergonômicos não se faz acompanhar 33 simultaneamente por uma atenuação da carga de trabalho para o operário: um dispositivo mais aperfeiçoado no comando de uma máquina fará com que um mesmo operador conduza duas delas; o rendimento aumenta, mas também aumenta simultaneamente o trabalho do operário. A Ergonomia se aplica dentro de um determinado quadro político. Assim, não se constitui num fator de melhoria das condições de trabalho. Na maioria dos casos, foi através de pressões sociais, feitas principalmente pelos sindicatos e pelos operários, que as mudanças mais significativas foram alcançadas (CASTRO, 2017, p.7-8). Cameron e Corkindale (1994) distinguem três fases históricas dos estudos e pesquisas relacionados as trabalho: Adaptação do homem a máquina: os estudos se concentram sobre a máquina, procurando formar e selecionar os operadores de acordo com as exigências dela. Erro humano, que pode levar a acidentes e a custos econômicos: surge a consciência de que os estudos devem concentrar-se no homem, a fim de respeitar e conhecer seus limites. Sistema homem – máquina: as investigações se reconduzem aos sistemas determinados pelo homem e pela máquina, buscando sua mútua adaptação e operacionalidade. De acordo com Hendrick (1993 apud Vidal, 2001; Corrêa; Boletti, 2015), a evolução da Ergonomia pós Segunda Guerra Mundial pode ser organizada em quatro fases, segundo a tecnologia enfocada, detalhada no quadro abaixo. Tabela 5 - Fases da Ergonomia 1ª Fase: Ergonomia de Hardware ou Tradicional Teve início durante a 2ª Guerra Mundial e concentrava-se no estudo das características físicas do ser humano (capacidades e limites), primeiramente na área militar e, em seguida, na área civil, com ênfase nas questões fisiológicas e biomecânicas do ambiente de trabalho e na interação dos sistemas homem- máquina. 2ª Fase: Ergonomia do Meio Ambiente Trata das questões ambientais naturais e artificiais (ruído, vibrações, temperatura, iluminação, aerodispersoides) que interferem no trabalho. Fortaleceu-se em 34 função do interesse em compreender melhor a relação do ser humano com o meio ambiente, atualmente muito em voga em função do conceito de sustentabilidade. 3ª Fase: Ergonomia de Software ou Cognitiva Trata do processamento de informações, que eclodiu com o advento da informática a partir da década de 1980. Essa modalidade é focada na interface da interação entre o homem e a máquina, que deixa de ser como na fase tradicional (antropométrica, biomecânica e fisiológica): o operador não manuseia mais o produto, mas comanda uma máquina que opera sobre o produto. A tecnologia da informação passa a ser uma extensão do cérebro e as interfaces para a operação devem levar em conta fatores cognitivos para facilitar o comando.4ª fase: Macroergonomia Visão mais ampla da Ergonomia, que não mais se restringe ao operador e sua interação com a máquina, atividade e ambiente, mas também engloba o contexto organizacional, psicossocial e político de um sistema. Diferencia-se das anteriores por priorizar o processo participativo envolvendo administração de recursos, trabalho em equipe, jornada e projeto de trabalho, cooperação e rompimento de paradigmas, o que garante intervenções ergonômicas com melhores resultados, reduzindo o índice de erros e gerando maior aceitação e colaboração por parte dos envolvidos. Fonte: CORRÊA; BOLETTI (2015, p.7). 2.5 A ERGONOMIA NO BRASIL - PARA REFLETIR A Ergonomia no Brasil viveu seu momento de destaque a partir da década de 1980, quando vários pesquisadores brasileiros retornaram da França, após desenvolverem mestrado e doutorado, sob a orientação do professor Alain Wisner ou do professor Maurice de Montmollin, e ingressaram em universidades de vários Estados Brasileiros, criando ou contribuindo para a realização de cursos de especialização em Ergonomia. Sem dúvida, esse fato contribuiu para a divulgação 35 da Ergonomia no país, bem como para despertar o interesse de pesquisadores que se envolveram com essa área de pesquisa na formação de novos ergonomistas. Já os congressos de Ergonomia têm contribuído significativamente para fazer a divulgação das pesquisas já desenvolvidas e em desenvolvimento pelos grupos de pesquisa e estudiosos da área, especialmente aquelas realizadas em programas de pós-graduação. Todavia, os autores ressaltam que o primeiro congresso de Ergonomia ocorreu em setembro de 1974 – 1º Seminário Brasileiro de Ergonomia – e foi considerado um marco para a história da Ergonomia Brasileira. O tema certificação que vem sendo um dos pilares dos sistemas de gestão nas empresas brasileiras e mundiais tem tido alguma expressão no campo da ergonomia e dos fatores humanos de forma explicita ou implícita. Em agosto de 1983 ocorreu a criação da Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), que passou a organizar congressos, uma forma de divulgar as pesquisas e de estabelecer um debate crítico sobre a produção científica entre pesquisadores nacionais e internacionais. O Sistema de Certificação do Ergonomista Brasileiro (SisCEB) foi originalmente aprovado na Assembleia Geral Ordinária da ABERGO, realizada durante o ABERGO 2002 - XII Congresso Brasileiro de Ergonomia, ocorrido na cidade de Recife, Pernambuco, no dia 4 setembro de 2002. Em seguida, foi homologado e complementado no 1º. Fórum de Certificação do Ergonomista Brasileiro, ocorrido na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais, em 24 de outubro de 2003. Em agosto de 2000, segundo Campos (2019) a Associação Internacional de Ergonomia a (IEA) (www.iea.cc) adotou a definição oficial apresentada a seguir: A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema. (n.p.) Sobre o nível de difusão dos conhecimentos de Ergonomia, Iida e Guimarães (2018) explicam que a Associação Internacional de Ergonomia considera cinco níveis de difusão dos conhecimentos científicos e tecnológicos, em círculos cada vez mais abrangentes. 36 Nível 1 - o conhecimento é dominado apenas por um número restrito de pesquisadores e professores. Nível 2 - o conhecimento é aperfeiçoado através de conhecimento prévio adquirido através da culturalidade. Nível 3 - o conhecimento é dominado por estudantes universitários em geral. Nível 4 - o conhecimento é dominado por empresários, políticos e outras pessoas da sociedade, que tomam decisões de interesse geral. Nível 5 - o conhecimento é incorporado ao processo produtivo e passa a ser “consumido” pela população em geral. Verifica-se que até o Nível 3, os conhecimentos circulam no âmbito restrito de pesquisadores e estudantes. A partir do Nível 4, passam ao domínio mais amplo dos não especialistas da área. A partir disso, os conhecimentos passam a gerar benefícios sociais e econômicos. No último Nível, costuma-se dizer que o conhecimento chegou às “prateleiras dos supermercados”, ou seja, foi incorporado aos produtos e serviços disponíveis no mercado. Os tempos que decorrem entre esses níveis podem ser muito diversos. No século XVIII, decorreram cerca de oitenta anos entre a invenção e a aplicação do alto-forno e das baterias elétricas. Já o telégrafo e rádio, inventados no século XIX, encontraram aplicações após quarenta anos. No século XX, para invenções como a televisão e a penicilina, esses tempos foram reduzidos para vinte anos. Para o nylon e o transistor, cerca de dez anos. Atualmente, algumas invenções encontram aplicações quase imediatas. Contudo, para um conjunto de conhecimentos interdisciplinares como a Ergonomia, o tempo necessário para difundir-se na sociedade pode ser maior. No Brasil, pode-se considerar que já foram ultrapassados os Níveis 1 a 3, descritos anteriormente, e se caminha para os Níveis 4 e 5, pois alguns conhecimentos de Ergonomia já foram incorporados em legislações e normas técnicas. A Norma Regulamentadora n.º 17 - Ergonomia, inserida na Portaria MTb/GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978, com as alterações da Portaria nº. 3.751, de 23 de novembro de 1990, do Ministério do Trabalho e da Previdência Social, foi o primeiro passo para a difusão da disciplina no Nível 4. 37 Conforme estabelece o Item 17.1, da NR-17, o principal objetivo é de estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Para isso, cabem às empresas realizarem a análise ergonômica do trabalho, abordando, no mínimo, as condições do local de atuação. FIQUE ATENTO Conhecida comumente como estudo científico da relação entre o homem e seus ambientes de trabalho, a Ergonomia tem alguns objetivos básicos que são: possibilitar o conforto ao indivíduo e proporcionar a prevenção de acidentes e do aparecimento de patologias específicas para determinado tipo de trabalho. Leia mais em: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI241198,71043- Importancia+da+Ergonomia A NR-17 é de extrema relevância, eis que algumas doenças de trabalho são desenvolvidas a partir da exposição ao risco ergonômico que muitos trabalhadores estão sujeitos, como por exemplo: Lesão por Esforço Repetitivo (LER); trabalhos realizados em pé durante toda a jornada; levantamentos de cargas; monotonia, fadiga, dentre outros. Vale ressalta que essa Norma Regulamentadora possui caráter legal que permite punir empresas que não adequem os postos de trabalho de modo a manter a segurança dos seus colaboradores, o não cumprimento dos artigos cumpridos nessa norma variam de advertências à suspensão das atividades em casos mais graves. Dessa forma, é fundamental aplicar medidas corretivas para cumprir a lei, uma vez que o aumento da produtividade é superior em ambientes ergonomicamente adaptados. https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI241198,71043-Importancia+da+Ergonomia https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI241198,71043-Importancia+da+Ergonomia 38 Figura 9 – Postura Correta ao sentar em Frente ao Computador Fonte: WACHOWICZ (2016) A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem realizado esforços para gerar normas sobre produtos e processos, incorporando os conhecimentos em Ergonomia. Para Refletir: A qualidade de vida do ser humano quer no trabalho, no lazer, na sociedade de maneira geral, está bem deteriorada na atualidade, seja porque os recursos naturais estãocada vez mais escassos, seja porque a tensão nos centros urbanos está em níveis bem altos, então, todos temos que modificarmos nossos comportamentos, nossas relações com o trabalho, com a máquina, com as tecnologias, com nossos pares. A Ergonomia pode contribuir para solucionar um grande número de problemas sociais relacionados com a saúde, segurança, conforto e eficácia. A Ergonomia pode contribuir para a prevenção de erros, quando estes partem do ser humano em sua relação com as máquinas, melhorando o desempenho (MERINO 2011). 39 CAPÍTULO 2 – RECAPITULANDO QUESTÕES DE CONCURSOS Questão 1 Ano: 2013 Banca: FCC Órgão: TRT Prova: Psicologia Nível: Superior Estudos mostram que no Brasil o grupo das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) persistiu ocupando o primeiro plano das atenções em saúde do trabalhador, que continuam voltadas para disfunções e incapacidades que atingem membros superiores, ombro e pescoço. Uma vertente acredita que para uma abordagem ergonômica se torne eficaz é essencial que sejam consideradas as características da organização do trabalho e os aspectos psicossociais e enfatiza-se uma ergonomia participativa, envolvendo uma equipe multidisciplinar, sendo que os esforços preventivos devem caminhar no sentido de uma detecção: a. Biossocial. b. Completa. c. Simbólica. d. Perfeita. e. Precoce. Questão 2 Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: TJ Prova: Engenharia Mecânica Nível: Superior A Ergonomia, aliada ao movimento de Gestão de Qualidade, é uma base para a melhoria contínua dos processos produtivos. Porém, diferentemente da qualidade, que é uma exigência de mercado (Normas ISO), a Ergonomia tem, no Brasil, exigência de lei, pela Norma Regulamentadora 17 (NR-17), do Ministério do Trabalho e Emprego. Assim sendo, qualquer ergonomista tem como função: a. Atuar na área de saúde como médico do trabalho no âmbito da empresa. b. Avaliar tarefas e postos de trabalho de modo a buscar adaptar ao trabalhador. c. Projetar e executar projetos de produtos sob a ótica ergonômica. d. Integrar obrigatoriamente a CIPA da empresa da qual fazem parte. 40 e. Estabelecer os padrões de higiene necessários ao desenvolvimento das atividades na empresa. Questão 3 Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: TJ Prova: Engenharia Mecânica Nível: Superior Para fins de Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), definido em resolução própria do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), os projetos de adequação ergonômica, dentro das atribuições profissionais dos arquitetos e urbanistas, serão representados no Sistema de Informação e Comunicação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (SICCAU) como: a. Arquitetura de interiores. b. Conforto ambiental. c. Instalação e equipamentos referentes à arquitetura. d. Urbanismo e desenho urbano. e. Arquitetura paisagística. Questão 4 Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: TJ Prova: Engenharia Mecânica Nível: Superior Os Riscos Ocupacionais classificados em: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes estão presentes nos ambientes de trabalho. Eles são regulamentados no Brasil pela Portaria N.º 25, de 29 de dezembro de 1994, do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE) (Anexo IV – NR5- CIPA). Sobre os Riscos Ocupacionais, assinale a alternativa correta. a. Riscos Ocupacionais Físicos compreendem o esforço físico intenso, monotonia e repetitividade. b. Riscos Ocupacionais Ergonômicos são representados pelas vibrações, radiações ionizantes e não ionizantes e eletricidade. c. Riscos Ocupacionais Químicos são representados pela probabilidade de incêndio e explosão. d. Riscos Ocupacionais Biológicos são representados pelas bactérias, vírus, protozoários. 41 e. Riscos Ocupacionais de Acidentes são representados por animais peçonhentos, fungos e parasitas. Questão 5 Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: TJ Prova: Engenharia Mecânica Nível: Superior Segurança do Trabalho pode ser entendida como os conjuntos de medidas que são adotadas visando minimizar os acidentes de trabalho, doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador. Marque V para as verdadeiras e F para as falsas e assinale a alternativa correta. (___) Higiene e Medicina do Trabalho, Prevenção e Controle de Riscos em Máquinas, Equipamentos e Instalações, Psicologia na Engenharia de Segurança, Comunicação e Treinamento, Administração aplicada à Engenharia de Segurança, O Ambiente e as Doenças do Trabalho, Higiene do Trabalho, Metodologia de Pesquisa, Legislação, Normas Técnicas, Responsabilidade Civil e Criminal, Perícias, Proteção do Meio Ambiente, Ergonomia são disciplinas estudadas pela Segurança do Trabalho. (____) Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), que tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar incompatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. (____) A Segurança do Trabalho é definida por Normas e Leis. No Brasil, a Legislação de Segurança do Trabalho compõe-se de Normas Regulamentadoras, Leis Complementares, como Portarias e Decretos e também as Convenções do Ministério do Trabalho, ratificadas pelo Brasil. (____) Acidente de Trabalho é aquele que acontece no exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional podendo causar morte, perda ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. (____) O Acidente de Trabalho deve-se principalmente a duas causas: ato inseguro, praticado pelo homem, que está contra as normas de segurança e condição insegura, quando o ambiente de trabalho oferece perigo e ou risco ao trabalhador. 42 a. V – F – F – V – V. b. F – F – V – V – V. c. V – F – F – V – V. d. V – V – V – V – F. e. V – F – F – F – V. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Os tempos modernos chamaram a Biometria, a Bioquímica, a Biomecânica, a Psicologia Social, a Sociologia e outras ciências a darem suas importantes contribuições para a Ergonomia, ou seja, elas davam bases científicas necessárias, mas exigências técnicas, econômicas e mesmo a pressão social dos trabalhadores somam-se na atualidade para que a Ergonomia tenha atenção para todo um contexto interdisciplinar que lhe exigido para atender as demandas. Nesse sentido, explique a importância da Ergonomia no ambiente de trabalho. TREINO INÉDITO Assunto: História da Ergonomia O estudo da Ergonomia remonta aos precedentes do século XVIII. Nesse sentido, assinale a alternativa que indica o período em que pesquisadores de várias universidades brasileiras passaram a introduzir a Ergonomia como objetivo de estudo de várias áreas do conhecimento. a. 1970. b. 2010. c. 2019. d. 1950. e. NDA. 43 NA MÍDIA OS ESTUDOS DE LEONARDO DA VINCI E SUA AÇÃO PRECURSORA NA ERGONOMIA O estudo da Ergonomia é fascinante e carrega consigo o poder de desvendar uma série de informações ainda pouca exploradas, entre elas destaca-se a investigação dos precursores dessa ciência, portanto estabelecer que ela seja uma ciência nova conduz a uma afirmação equivocada. No entanto, sua origem oficial é estabelecida quando da oficialização pelo engenheiro inglês Kenneth Frank Hywel Murrell da Primeira Sociedade de Ergonomia do Mundo, a Ergonomic Research Society, no ano de 1949. SILVA, JCP., and PASCHOARELLI, LC., orgs. A evolução histórica da Ergonomia no mundo e seus pioneiros [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 103 p. ISBN 978-85-7983-120-1. Available from SciELO Books. NA PRÁTICA A Ergonomia é a área que se aprofunda na relação entre o homem moderno e as atividades operacionais que ele executa. Essa ciência busca promover a perfeita integração entre as condições de trabalhoao contemplar as limitações físicas e psicológicas do indivíduo e do sistema produtivo. O objetivo da Ergonomia é aumentar a eficiência organizacional e a saúde, segurança e conforto do funcionário. Para isso, avalia questões como: A postura dos trabalhadores ao executar suas funções rotineiras. Os movimentos corporais realizados pelos funcionários durante suas atividades. Os fatores físico-ambientais que envolvem o trabalho. Os equipamentos utilizados durante a operação. Fonte: https://nucleohealthcare.com.br/blog/2019/05/01/quais-sao-os-tipos-de- ergonomia-confira/ PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: Amor sem Escalas Peça de teatro: Mexa-se 2 Acesse os links: https://youtu.be/akiSNL9H6FA https://youtu.be/VRSp49DJ73k 44 CAPÍTULO 3 - APLICAÇÕES DA ERGONOMIA O campo de intervenção da Ergonomia é amplo, podendo ser classificado de acordo com a abordagem, a perspectiva e a finalidade, ou ainda o âmbito e contexto da intervenção. Abaixo a classificação de Vidal (2001 p 28): Tabela 6 – Classificação da Ergonomia Segundo a abordagem: Ergonomia de Produto Ergonomia de Produção Segundo a perspectiva Ergonomia de Concepção Ergonomia de Intervenção Segundo a finalidade Ergonomia de Correção Ergonomia de Enquadramento Ergonomia de Remanejamento Ergonomia de Modernização Fonte: VIDAL (2001 p 28). No que respeita ao âmbito da intervenção, Rebelo (2017) diferencia em Ergonomia de Produção e Ergonomia do Produto. A Ergonomia do Produto é uma disciplina que disponibiliza metodologias que permitem guiar as escolhas estratégicas do desenvolvimento de um produto, numa perspectiva de Design Total. Situando-se assim numa área de estudos que abrange o conceito do produto, o projeto, o processo de produção, a comercialização, a utilização, acabando na reciclagem do produto. Normalmente está associada à concepção e deve surgir logo nas fases iniciais do desenvolvimento de um produto. Processo é uma série lógica de transações que transforma entradas em resultados ou saídas (Andersen, 1999). Segundo Jeston (2008) a ideia do trabalho ser visto através de processos é nova, datando a época de Frederick Taylor na virada do último século. Através da análise do processo, é possível propor um gerenciamento, no sentido de oferecer melhorias, mediante um prévio mapeamento. Referente à Ergonomia da Produção, está vocacionada para o estudo e adaptação das condições de trabalho às necessidades, caraterísticas e limitações dos trabalhadores, em termos organizacionais, físicos e ambientais. Geralmente, está associada à correção de problemas que ocorrem em sistemas de trabalho existentes. 45 Figura 10 – Funcionário de Montadora Utilizando EXOESQUELETO EM LINHA DE PRODUÇÃO Fonte: VIDAL (2001 p 28). Seja qual for o âmbito, a intervenção ergonômica nos desenvolve mais variados contextos, tais como: doméstico, industrial, hospitalar, escolar, agrícola, transportes e meio urbano. Dependendo do contexto e do âmbito de intervenção, existem aspectos fundamentais que a Ergonomia utiliza para estruturar a sua intervenção, que são: As consequências para o sistema – traduzem na produtividade, nomeadamente no nível da quantidade e qualidade do produto final, ou erros que possam comprometer a segurança do sistema. As consequências para o utilizador ou trabalhador – em termos de fadiga, problemas físicos, psicológicos ou sociais, decorrentes de condições inadequadas de interação (REBELO 2017, p.17-8). O envolvimento ambiental – abrange a temperatura, o ruído, a iluminação, as vibrações, os gases, as poeiras, os vapores e outros, que estão presentes no momento da interação. O envolvimento comunicacional e/ou informacional – referente às informações apresentadas, comunicações existentes dentro do sistema, e consequências no decurso do processamento e tomada de decisão. 46 O envolvimento emocional – inclui as reações emocionais das pessoas antes, durante e após a interação, procurando compreender as situações que estão na origem de experiências de utilização positivas; O envolvimento físico – engloba as dimensões dos espaços, as caraterísticas, por exemplo, das máquinas, ferramentas, eletrodomésticos, veículos automóveis. O envolvimento organizacional – integram aspectos relacionados com horários, turnos de trabalho, equipes de trabalho, ritmos de trabalho, autonomia e responsabilização dos trabalhadores. O homem – nas suas caraterísticas físicas, cognitivas, sociais e na influência do sexo, idade, competências e motivação na interação com o meio. Os modos operatórios – traduzem nas estratégias colocadas em jogo pelo homem no decorrer da interação com os elementos do sistema. 3.1 ERGONOMIA DE CONCEPÇÃO A Ergonomia de Concepção refere-se à aplicação que se faz durante o projeto do produto, da máquina, ambiente ou sistema. As decisões são tomadas com fundamento nas situações hipotéticas sobre um sistema que ainda não existe. O nível dessas decisões pode ser melhorado, buscando-se informações em situações semelhantes que já existam ou construindo-se modelos tridimensionais de postos de trabalho em madeira ou papelão, ou usando-se softwares de modelos virtuais, nos quais as situações de trabalho podem ser simuladas a custos relativamente baixos (IIDA; GUIMARÃES, 2018). Da união dos Conceitos de Design e da Ergonomia surgiu o Ergo Design, que de acordo com Mont’Alvão (2007), é uma abordagem sem barreiras, interativa e interdisciplinar, que garante uma transformação direta de dados ergonômicos no processo de projeto e estimula a suave interação da “teoria na prática”. Segundo Mendonça e Almeida Jr. (2007), o desenvolvimento de produtos, que atendem às questões ergonômicas necessita, do envolvimento de profissionais de diversas áreas de conhecimento para garantir um embasamento técnico-científico que excede a visão do designer de produto. 47 Figura 11 – Projetos de Concepção Ergonômica Fonte: WACHOWICZ (2016) 3.2 ERGONOMIA DE CORREÇÃO, DE ENQUADRAMENTO OU DE REMANEJAMENTO A Ergonomia de Correção é aplicada em situações reais, já existentes, para resolver problemas que se refletem na segurança, fadiga excessiva, doenças do trabalhador ou quantidade e qualidade da produção. Atuar na correção é mais fácil do que na concepção porque já se sabe quais são os problemas a resolver. Há casos também como o recall de produtos defeituosos, que podem envolver custos elevados e prejuízos à reputação da empresa. Seguindo a classificação de Vidal (2001), podemos sintetizar as finalidades de ação da ergonomia, a saber: Ergonomia de Correção: busca minimizar ou corrigir as rotinas de trabalho, adequando aos conceitos básicos de conforto, bem-estar e de saúde. Ergonomia de Enquadramento: visa implementar um padrão a ser seguido, estabelecido internamente por estratégia de uma empresa ou imposta pela legislação ou sindicato. Ergonomia de Remanejamento: realiza mudanças para aperfeiçoar processos, matéria-prima, logística e até mesmo pessoas. Aproveita as mudanças para corrigir erros antigos. Ergonomia de Modernização: altera os processos de forma abrangente e profunda, envolvendo modernização de equipamentos (softwares e 48 hardwares) e melhoria da qualidade, capacitando e especializando a mão de obra. 3.3 ERGONOMIA DE CONSCIENTIZAÇÃO A Conscientização geralmente é feita por meio de cursos de treinamento e frequentes reciclagens, ensinando o trabalhador a operar de forma segura, reconhecendo os fatores de risco que podem surgir a qualquer momento no ambiente de trabalho. Nesse caso, ele deve saber qual deve ser a providência a ser tornada numa situação de emergência. Por exemplo, desligar a máquina e chamar a equipe de manutenção ou sair correndo. Essa conscientização dos trabalhadores nem sempre
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