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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO Coordenação Pedagógica – IPEMIG DISCIPLINA O MEIO AMBIENTE E OS RECURSOS NATURAIS SUMÁRIO 1 O MEIO AMBIENTE E OS RECURSOS NATURAIS ......................................... 03 1.1 RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS ......................................................... 14 2 BASES EPISTEMOLÓGICAS DA HISTÓRIA AMBIENTAL ............................... 16 3 INSTRUMENTOS E CONCEITOS DE POLÍTICA E GESTÃO AMBIENTAL .......................................................................................................... 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ................. 33 1. O MEIO AMBIENTE E OS RECURSOS NATURAIS De acordo com Rebouças (s/d, s/p) o termo “meio ambiente” é considerado pelo pensamento geral como sinônimo de natureza, local a ser apreciado, respeitado e preservado. Porém é necessário um ponto de vista mais profundo no termo, estabelecer a noção no ser humano de pertencimento ao meio ambiente, no qual possui vínculos naturais para a sua sobrevivência. Por meio da natureza, reencontramos nossas origens e identidade cultural e biológica, uma espécie de diversidade “biocultural”. Outra definição sobre o termo “meio ambiente” o coloca no significado de recursos, de gerador de matéria-prima e energia. Nesta segunda definição, a educação ambiental trabalha a noção de consumo responsável e solidária, na defesa do acesso às matérias-primas do meio ambiente de forma comum para todos. Na terceira concepção da palavra, quando falamos em “meio ambiente” no seu curso de problemáticas e questões, surgem as pesquisas e as ações em prol das soluções sobre as perdas e destruições que desfavorecem o equilíbrio natural de um determinado meio. “Meio ambiente” no sentido de ecossistema é um conjunto de realidades ambientais, considerando a diversidade do lugar e a sua complexidade. O “meio ambiente” como lugar onde se vive é referente à vida cotidiana: casa, escola, e trabalho. O “meio ambiente” como biosfera surge para explicar a interdependência das realidades socioambientais em todo mundo, a Terra é a matriz de toda vida. O termo “meio ambiente” também pode designar um território de uso humano e de demais espécies. Toda pesquisa e educação ambiental deve considerar todos os significados sobre o termo “meio ambiente”. (REBOUÇAS, s/d, s/p) - Biosfera: Bios vem do grego “vida”. A biosfera se estende um pouco acima e um pouco abaixo da superfície do planeta é uma película de terra firme, água, energia e ar que envolve o planeta Terra. É o habitat viável de todas as espécies de seres vivos. - Ecologia: é o estudo do lugar onde se vive, com ênfase sobre a totalidade ou padrão de relações entre os organismos e o seu ambiente. Deriva do grego oikos = casa e logos = estudo, ou seja, o estudo do meio ambiente onde vivemos e a sua relação e interação com todos os seres vivos. - Impacto ambiental: qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam a saúde, a segurança e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais. - El Niño: é um fenômeno meteorológico natural que se repete de 2 a 7 anos, em média, e decorre do aumento anormal da temperatura do Oceano Pacífico, atingindo mais intensamente o Peru. A costa peruana é caracterizada por águas muito frias. Como a substituição das águas normalmente frias por quentes costuma ocorrer logo após o Natal, esse fenômeno meteorológico passou a ser chamado de El Niño (o Menino Jesus, em espanhol). Há registros de sua ocorrência desde a época do descobrimento da América. O aquecimento das águas superficiais do Pacífico interfere no regime de ventos e, portanto, no deslocamento das nuvens e no regime das chuvas, gerando alterações significativas do clima em todo o planeta. Grandes secas na Índia, no Nordeste do Brasil, na Austrália, Indonésia e África podem ser decorrentes do fenômeno, assim como algumas enchentes no Sul e Sudeste do Brasil, Peru, Equador e no Meio Oeste dos Estados Unidos. Em algumas áreas observam-se temperaturas mais elevadas que o normal (como é o caso das regiões central e Sudeste do Brasil, durante o inverno), enquanto em outras ocorrem frio e neve em excesso. Especificamente no Brasil, o El Niño provoca chuvas intensas no Sul e secas mais severas no Norte e Nordeste. O Estado de São Paulo está localizado numa zona de transição. Aqui o El Niño provoca chuvas ligeiramente acima do normal, mas também provoca uma melhor distribuição de chuvas em alguns meses (setembro, novembro, abril e maio). Isso significa que o fenômeno pode apresentar aspectos negativos, como a maior possibilidade de ocorrência de inundações, mas também pode ser benéfico, desde que se esteja convenientemente preparado para enfrentá-lo. Assim, a melhor distribuição de chuvas pode beneficiar a agricultura. Do ponto de vista hidrológico, o El Niño aumenta a chance de ocorrência de vazões mais elevadas em rios do Estado de São Paulo. Isso pode provocar enchentes e inundações, mas ao mesmo tempo, também com o aumento da vazão dos rios melhorando as condições de geração de energia e abastecimento de água. (...) (REBOUÇAS, s/d, s/p) - Unidades de conservação: Ainda de acordo com Rebouças (s/d, s/p) são as porções do território nacional, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais de relevante valor de domínio público ou propriedade privada, legalmente instituídas pelo poder público com os objetivos e limites definidos, sob regimes especiais de administração, às quais se aplicam garantias adequadas de proteção. - Floresta: entidade biológica formada por um conjunto complexo de formas vegetais interdependentes, que se dispõe em camadas, e cujo elemento dominante é a árvore. - Flora silvestre: é o conjunto de vegetais naturais de uma região ou país. Vegetais nativos do lugar. - Flora exótica: é o conjunto de vegetais não nativos de uma região, que foram adaptados ao local ou importados. - Mata Atlântica: formação vegetal com grande riqueza de espécies, geralmente apresentando três estratos: superior com espécies arbóreas de altura entre 15 a 40 metros; intermediário com alta densidade de espécies, constituído por arbustos, arboretos e árvores de pequeno porte, entre 3 e 10 metros; e um terceiro, composto por grande variedade de ervas rasteiras, cipós, trepadeiras, além de palmeiras e samambaias. A Mata Atlântica abriga grande variedade de espécies da fauna brasileira, como: onça, sagui de tufo preto, paca, cotia, tucano de bico verde, caxinguelê, mono-carvoeiro, entre outras. Essa vegetação atualmente recobre principalmente o litoral e Serra do Mar, estendendo-se para o interior do Estado, onde adquire características típicas de clima mais seco com perda de folhas, floração e frutificação em períodos bem determinados. Entre a formação vegetal da Mata Atlântica encontra-se o pau-jacarré, bromélia, palmeira, guapuruvú e a embaúba. Hoje, só existem 3% da mata atlântica e se extinguirá em pouco tempo, enquanto a fauna e flora agoniza sua morte. (...) - Mangue: formação típica de litoral, sob a ação direta das marés, com solos limosos de regiões estuárias. Constitui-se de único estrato de porte arbóreo e diversidade muito restrita. Neste ambiente salobro desenvolvem-se espécies adaptadas à essas condições, ora dominado por gramíneas o que lhe confere uma fisionomia herbácea; ora dominadopor espécies arbóreas. O mangue abriga grande variedade de espécies da fauna brasileira, como tapicuru, guará, crustáceos, sapos, insetos, garça, entre outros. O mangue, devido ao acúmulo de material orgânico, característica importante desse ambiente, garante alimento e proteção para a reprodução de inúmeras espécies marinhas e terrestres. - Área de proteção ambiental: são destinadas à proteção ambiental, visando assegurar o bem-estar das populações humanas e a conservação ou melhoria das condições ecológicas locais. - Reservas biológicas: são áreas delimitadas com a finalidade de preservação e proteção integral da fauna e flora, para fins científicos e educativos, onde é proibida qualquer forma de exploração dos seus recursos naturais. - Estações ecológicas: são áreas representativas de ecossistemas brasileiros, destinados à realização de pesquisas básicas e aplicadas de ecologia; à proteção do ambiente natural e ao desenvolvimento da educação conservacionista. Nessas áreas não há exploração do turismo. - Parques: são áreas geográficas extensas e delimitadas, dotadas de atributos naturais excepcionais, objeto de preservação permanente, submetidas à condição de inalienabilidade e indisponibilidade em seu todo. Destinam-se a fins científicos, culturais, educativos e recreativos. São criadas e administradas pelo Governo Federal, pelos Governos Estaduais e Municipais, visando principalmente a preservação dos ecossistemas naturais englobados contra quaisquer alterações que os desvirtuem. (REBOUÇAS, s/d, s/p) - Áreas de preservação permanente: pelo Art. 2º da lei 4771/65, consideram-se de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: De 30 (trinta) metros para os cursos d’água de menos de 10 (dez) metros de largura; De 50 (cinquenta) metros para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; De 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; De 200 (duzentos) metros para os cursos d’água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; De 500 (quinhentos) metros para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; artificiais; Ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais; Nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados olhos d’água, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura; No topo de morros, montes, montanhas e serras; Nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive; Nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; Nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; Em altitudes superiores a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação; e pelo Art. 3º, consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: A atenuar a erosão das terras; A fixar as dunas; A formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; A auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares; A proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; A asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; A manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; A assegurar condições de bem-estar público. - Poluição: degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) Afetem desfavoravelmente a biota; d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. (REBOUÇAS, s/d, s/p) - Recursos naturais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera, a fauna e a flora. - Campo: formação com apenas um andar de cobertura vegetal, constituída principalmente de leguminosas, gramíneas e ciperáceas de pequeno porte, inexistindo praticamente, formas arbustivas. - Campo sujo: formação com apenas um andar de cobertura vegetal, constituída principalmente de leguminosas, gramíneas e ciperáceas de pequeno porte, inexistindo praticamente, formas arbustivas. - Cerrado ou capoeira: formação vegetal constituída de dois andares, o primeiro de vegetação rasteira e o segundo de arbustos e formas arbóreas que raramente ultrapassam 6 metros de altura. Há o domínio de formas arbustivas. As espécies vegetais mais comuns no cerrado são o faveiro, a copaíba, o angico preto, o barbatimão e a lixeira. O cerrado é riquíssimo em espécies animais devido ao seu grande número de nichos ecológicos. Abriga algumas espécies ameaçadas de extinção como o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra, o tatu-bola, o veado campeiro, o lobo-guará, a onça pintada, a ema e a perdiz. As áreas de cerrado são alvo constante de expansão agrícola pela facilidade de mecanização do terreno. Além disso, apresentam características que as tornam muito suscetíveis ao fogo. - Cerradão ou capoeirão: formação vegetal constituída de 3 andares; o primeiro apresenta espécimes rasteiras ou de pequeno porte; o segundo apresenta arbustos e pequenas formas arbóreas, constituindo o sub-bosque; e o terceiro apresenta formas arbóreas de 5 a 20 metros de altura, com predominância de madeiras duras. - Restinga: a vegetação de restinga é aquela que podemos encontrar ao longo das praias e das planícies costeiras. Sua fisionomia variada está diretamente relacionada ao solo arenoso onde ela se encontra. (REBOUÇAS, s/d, s/p) - Habitats costeiros: Conforme Rebouças (s/d, s/p) estão em sério perigo em quase toda costa brasileira. A Petrobrás, assim como centenas de navios derramam milhares de litros de óleo no mar, as praias mais poluídas com petróleo é a do Rio Grande do Sul, são raros os habitats costeiros protegidos no Brasil, uma quantidade imensa já foram extintas outras milhares já entram na lista devido a: pesca predatória, esgoto a céu aberto, excesso de urina dos humanos, por falta de educação ambiental e infraestrutura estão dizimando os corais que é o berço de todos os peixes marinhos. - Vegetação de praias e dunas: localiza-se próxima ao mar sobre areia seca, onde se encontra vegetação rasteira e alguns arbustos. - Vegetação sobre cordões: seguindo em direção a serra, nas partes mais altas das ondulações dos cordões encontram-se moitas e arbustos com ramos retorcidos. - Floresta baixa de restinga: localiza-se mais para o interior e a vegetação é mais alta, com arbustos e arvoretas, presença de bromélias, trepadeiras e orquídeas. - Floresta de alta restinga: com árvores mais altas (10 a 15 metros) e com copas que se tocam. - Brejo de restinga: permanentemente inundado, sua vegetação é herbácea. - Floresta paludosa: menos fechada, inundada com predominância de caixeta ou guanandi. - Floresta paludosa sobre solo turfoso: também menos fechada e inundada, mas em seu substrato encontra-se grande quantidade de matéria orgânica. - Transição restinga encosta: é uma vegetação densa com árvores de cerca de 18 mde altura e onde encontramos com frequência o palmito e animais de grande porte como macacos bugios e onças. Características: Depende mais do solo do que do clima; As diferentes situações de drenagem condicionam a formação do mosaico da restinga; Ocorre interligação florística entre as formações da encosta e da restinga e interações de fluxo dos nutrientes entre a restinga e o manguezal; A vegetação de restinga impede que a areia invada o manguezal estabilizando-o; Caracteriza a vegetação de restinga a capacidade de suportar altas temperaturas e salinidade, de dessecação e de sobrevivência com pouca disposição de nutrientes; A grande quantidade de bromélias nas restingas equilibra o sistema, por sua capacidade de reter água e nutrientes; Podem ocorrer os seguintes contatos: floresta de encosta manguezal- restinga; floresta de encosta restinga/manguezal; Existem formações na restinga que não possuem processo sucessional: são pioneiras de primeira ocupação: Praias e dunas, entre cordões arenosos, brejos e floresta paludosa (arbórea aberta, caxeta/guanandi). - Áreas naturais tombadas: são áreas ou monumentos naturais, cuja conservação é de interesse público, seja pelo seu valor histórico, ambiental, arqueológico, geológico, turístico ou paisagístico. Podem ser instituídas em terras públicas ou particulares e, uma vez inscritas no Livro do Tombo, essas áreas passam a ter restrições quanto ao uso, de modo a garantir a conservação de suas características originais. - Área de proteção ambiental: respeitados os princípios constitucionais que regem o exercício do direito de propriedade, o poder executivo poderá criar Áreas de Proteção Ambiental, estabelecendo normas que limitem ou proíbam a implantação ou o desenvolvimento de atividades que afetem as características ambientais dessas áreas, sua condições ecológicas ou ainda que ameacem extinguir as espécies da biota regional. Nesse sentido, a APA é uma Unidade de Conservação que visa a proteção da vida silvestre e a manutenção de bancos genéticos, bem como dos demais recursos naturais, através da adequação e orientação das atividades humanas na área, promovendo a melhoria da qualidade de vida da população. Trata-se de uma forma de conservação que disciplina o uso e a ocupação do solo, através do zoneamento, procedimentos de controle e fiscalização, programas de educação e extensão ambiental, cujo encaminhamento se dá em articulação com os órgãos do poder executivo, com as universidades, os municípios envolvidos e as comunidades locais. A implantação das APAs federais é de competência do IBAMA, das estaduais compete à Secretaria do Meio Ambiente respectiva. (REBOUÇAS, s/d, s/p) - Áreas de relevante interesse ecológico: para Rebouças (s/d, s/p) a criação de uma ARIE tem como finalidade a proteção de uma área natural de grande valor ecológico e extensão relativamente pequena (sempre inferior a 5.000 hectares), regulamentando e disciplinando a utilização de seus recursos ambientais. - Áreas sobre proteção especial: são áreas ou bens assim definidos pelas autoridades competentes, em terras de domínio público ou privado, cuja conservação é considerada prioritária para a manutenção da qualidade do meio ambiente, do equilíbrio e da preservação da biota nativa. Podem ser definidas por resolução da autoridade ambiental federal, estadual ou municipal. Essa mesma autoridade é responsável pela coordenação das ações necessárias à sua implantação e conservação. As ASPES se caracterizam como uma primeira medida de proteção de áreas ou bens que após estudos mais aprofundados podem ser incluídos em outras categorias de conservação mais restritivas. - Reservas florestais: esta categoria de manejo é transitória. Geralmente são áreas extensas, não habitadas, de difícil acesso e ainda em estado natural. Seus recursos naturais não se encontram suficientemente identificados e avaliados a ponto de permitir que sejam manejadas. Busca-se então, através da criação das reservas, proteger seus recursos para uso futuro e impedir ou reter qualquer atividade que ameace sua integridade, até que as áreas sejam melhor conhecidas e então estabelecidos objetivos de manejo permanente como, por exemplo, transformá-las em Estação Ecológica, Parques Estaduais ou Reservas Biológicas. Enquanto isso não ocorre, as Reservas Florestais permanecem protegidas pela legislação estadual e administradas pelo Instituto Florestal. - Reservas legais averbadas: o art. 16 do Código Florestal estatui que as florestas de domínio privado, não sujeitas ao regime de utilização limitada (art. 10) e ressalvadas as de preservação permanente, previstas nos art. 2º e 3º do Código, são susceptíveis de exploração, com as restrições discriminadas nas alíneas do dispositivo, permitindo-se a derrubada ou o desflorestamento, desde que respeitado o limite mínimo de 20% ou 50%, conforme o caso, da área da propriedade com cobertura arbórea localizada, a critério da autoridade competente, ou ainda, com observância de normas técnicas de condução e manejo pelo poder público, tudo conforme a região e a natureza da formação florestal (nativas, primitivas ou regeneradas). A legislação complementar institui ainda, a obrigação da averbação em cartório às margens da matrícula, bem como a demarcação da área perimetral com picadas de 3 metros de largura e piquetes a cada 30 metros. Nos loteamentos especificamente, deverá ser agrupada. - Piracema: é a época em que os cardumes se deslocam rio acima, rumo às nascentes, para reprodução. Pescar na época da Piracema significa interromper a procriação dos peixes, o que pode comprometer a manutenção dos cardumes e mesmo acarretar no desaparecimento de algumas espécies de peixe. Normalmente o defeso ocorre de novembro a janeiro podendo variar em cada região. - Erosão: é o fenômeno de degradação e decomposição das rochas ou as modificações sofridas pelo solo devido a variações de temperatura e, principalmente à ação da água e do vento, é chamado de erosão. A erosão também pode ser induzida pela ação humana que acelera esse processo por meio de: Culturas não adaptadas às características das terras; Queimadas; Desmatamento; Mineração; Compactação do solo pelo mau uso de máquinas; Plantio feito de forma incorreta; Ocupação irregular e não planejada de morros; e Pisoteio excessivo do gado em pastagens. - Tipos de Erosão: a) Laminar: arraste de uma camada muito fina e uniforme do solo, sendo a forma mais perigosa de erosão, uma vez que não percebida logo no início, faz-se notar somente quando atinge um grau muito elevado, após descobrir as raízes das plantas. b) Sulcos: formação de valas ou sulcos no terreno, sendo facilmente percebida. Em estágios mais avançados favorece o aparecimento de voçorocas. c) Voçorocas ou Boçorocas: aparecem geralmente nos terrenos arenosos e porosos. Em estágios avançados são de difícil recuperação. d) Erosão por Água e Vento. e) Pluvial (ação das chuvas). f) Fluvial (ação dos rios). g) Marinha (ação do mar). h) Glacial (ação do gelo). i) Eólica (ação do vento). - Técnicas para Controle da Erosão e Conservação do Solo: a) Marcar as curvas em nível: diminui os efeitos de declividade do terreno. As culturas não devem ser implantadas morro abaixo. b) Terraceamento: construção de obstáculos seguindo as curvas em nível ou não, para reduzir a velocidade das águas que escorrem pelo terreno. c) Capina Alternada: evita que o terreno fique completamente limpo não sendo aconselhável na época da seca deixar o mato sobre o solo, devidoà concorrência com a plantação na absorção da água. d) Adubação Verde: consiste no plantio de leguminosas nas entrelinhas de culturas perenes ou em terrenos que irão receber culturas anuais, visando proteger o solo, acumular matéria orgânica e reter a umidade. e) Calagem: incorporação de calcário no solo para melhorar a absorção de nutrientes e agregação das partículas do solo, promovendo melhor infiltração da água. - Problemas Causados pela Erosão: a) Perda de solo pelo arraste de partícula, acarretando queda na produtividade; b) Assoreamento dos cursos d'água (nascentes, córregos e rios); c) Contaminação nas águas por agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes químicos) que são arrastados com partículas do solo; d) Desmoronamento de encostas e taludes (degraus com inclinação determinada para conter a encosta) ou abertura de valetas. (REBOUÇAS, s/d, s/p) 1.1 RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS Para Rebouças (2010, s/p) o recurso natural renovável é aquele pode ser reposto depois de extraído pelas atividades antrópicas. A reposição pode ocorrer de tempos em tempos. Dentre os recursos naturais renováveis podemos citar a energia eólica (ventos), a energia solar (radiação solar), ondas do mar, hidroeletricidade, biomassa e energia geotérmica. A reposição dos recursos utilizados pode ser feita pelo homem ou naturalmente, pelo próprio ambiente. Por outro lado, os recursos naturais não renováveis são aqueles que findam após intensa exploração realizada pelas atividades do homem, requerendo muito tempo para se regenerar. Todo recurso natural deve e pode ser gerido de uma maneira sustentável no objetivo de garantir a sua reposição e regeneração no meio ambiente. Em situações de intensa exploração desses recursos, mesmo sendo renováveis, há o risco de ocorrer a exaustão decorrente de um desequilíbrio ecológico. Além dos exemplos citados no início do texto, os recursos naturais renováveis abrangem organismos vivos, como por exemplo, os peixes e as plantas, e numa visão mais abrangente as águas e o ar. Em tempos de poluição e aquecimento global, a intensa exploração desses recursos tem gerado a extinção de várias espécies e, consequentemente, a perda da biodiversidade. Quando falamos em peixes, muitas espécies ainda não consumidas pelo mercado graças à investimentos em piscicultura, pois a extinção ou a baixa oferta do pescado no mar é um dos exemplos da exaustão de recursos naturais renováveis. A pesca industrial e artesanal deve seguir determinadas normas de sustentabilidade que respeite o ciclo reprodutivo das espécies e o meio aquático, para que não haja perdas ambientais, biológicas e econômicas. Em curto prazo é mais lucrativo explorar intensamente um determinado recurso, mas em longo prazo, uma exploração que não respeita os limites de regeneração das espécies gerará perdas da biodiversidade e carências sociais e econômicas às atividades de exploração e extração de recursos. Os recursos naturais renováveis permanecem disponíveis desde que se respeite o meio, as condições biológicas, os ciclos reprodutivos para sua disposição no meio ambiente. Quando pensamos nesses recursos presente entre a flora e fauna, por exemplo, consideramos que cada indivíduo de cada espécie pode se regenerar, ou seja, se reproduzir a partir do código genético de seus ascendentes. As práticas de extração econômica devem ser racionais, planejas e sustentáveis. A implementação da sustentabilidade nesses recursos deve ocorrer por meio de um manejo adequado que mitiga os excessos das ações nocivas mercadológicas. Não extrair tais recursos em excesso ou desnecessariamente também é uma das principais opções possíveis pela reciclagem de matéria-prima. A reciclagem é aconselhável para os renováveis e não renováveis. (REBOUÇAS, 2010, s/p) 2. BASES EPISTEMOLÓGICAS DA HISTÓRIA AMBIENTAL Para Pádua (2010, s/p) a História Ambiental, como campo historiográfico consciente de si mesmo e crescentemente institucionalizado na academia de diferentes países, começou a estruturar-se no início da década de 1970. A primeira sociedade científica voltada para esse tipo de investigação, a American Society for Environmental History, foi criada em 1977. A publicação de análises substantivamente histórico-ambientais, no entanto, algo bem diferente da simples proposição de influências naturais na história humana, já vinha se delineando desde a primeira metade do século XX e, em certa medida, desde o século XIX. Para refletir sobre a gênese e evolução desse campo de conhecimento, é preciso levar em conta fatores sociológicos e epistemológicos. O primeiro curso universitário de maior repercussão com o título de História ambiental foi ministrado em 1972, na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, pelo historiador cultural Roderick Nash, que em 1967 havia publicado o livro Wilderness and the American Mind, um clássico sobre a presença da imagem de vida selvagem na construção das ideias sobre identidade nacional norte- americana. Ao explicar a concepção do curso, apresentado como indicador de uma nova fronteira no ensino da História, o autor deixou explícito que estava também “respondendo aos clamores por responsabilidade ambiental que atingiram um crescendo nos primeiros meses daquele ano.” (NASH, 1972) Ou seja, a “Voz das ruas” teve importância na formalização da história ambiental. Um fator sociológico que pode ser inferido de vários outros depoimentos. É verdade que muitos historiadores ambientais se sentem desconfortáveis com a presença desse tipo de influência externa ao contexto propriamente acadêmico. Ou simplesmente a rejeitam. Ela sugeriria uma politização da pesquisa, ajudando a promover uma confusão espúria entre história ambiental e ambientalismo. Mas tal postura vai de encontro às teorizações frequentemente repetidas, por Lucien Febvre e tantos outros, sobre o fato de o historiador não estar isolado do seu tempo e sempre mirar o passado com as perguntas do presente. Mesmo considerando os cuidados necessários na separação entre ciência e política, até onde elas possam ser separadas. Ao comentar o desenvolvimento recente da história ambiental, Peter Burke (2009, p. 349) lembrou que a história monetária também foi estimulada pela crise inflacionária dos anos 1920, assim como a história demográfica pelo baby boom do pós-Segunda Guerra. De toda forma, é bastante evidente que o debate público vem desafiando os historiadores ambientais, de forma direta ou indireta, mesmo quando aparentemente negado. Em 1974, na apresentação do número especial sobre História e Ambiente da revista Annales, o editor Emmanuel Le Roy Ladurie (1974, p. 537) fez questão de afirmar que não estava cedendo “aos imperativos de uma moda”, pois “desde longo tempo” a revista havia escolhido “se interessar pelos problemas de uma história ecológica”. Ao afirmar a proposta de se ocupar do ambiente para “isolar os verdadeiros problemas e recusar as facilidades de um discurso vulgarizador”, no entanto, ficava evidente o contraponto com o debate público e a presença subjacente dos “problemas ambientais”. (PÁDUA, 2010, s/p) Conforme Pádua (2010, s/p) a emergência de um “ambientalismo complexo e multissetorial” a partir da década de 1970, dotado de alto perfil na cena pública global, representou um dos fenômenos sociológicos mais significativos da história contemporânea. Ele pode ser considerado como um movimento histórico, mais do que um movimento social, que repercutiu em diferentes campos do saber. (VIOLA, LEIS, 1991, p. 24) A ideia de “ecologia” rompeu os muros da academia para inspirar o estabelecimento de comportamentossociais, ações coletivas e políticas públicas em diferentes níveis de articulação, do local ao global. Mais ainda, ela penetrou significativamente nas estruturas educacionais, nos meios de comunicação de massa, no imaginário coletivo e nos diversos aspectos da arte e da cultura. O avanço da chamada globalização, com o crescimento qualitativo e quantitativo da produção científico-tecnológica e da velocidade dos meios de comunicação, catalisou uma explosão de temas da vida e do ambiente na agenda política. A discussão ambiental se tornou ao mesmo tempo criadora e criatura do processo de globalização. A própria imagem da globalidade planetária, em grande parte, é uma construção simbólica desse campo cultural complexo. A pesquisa histórica vem revelando que a preocupação intelectual com os problemas “ambientais” esteve presente, ao menos no mundo de expressão europeia, desde o final do século XVIII, ocupando um lugar relevante no processo de construção do pensamento moderno (Raumolin, 1984, Grove, 1995, Pádua, 2002). A grande novidade das últimas décadas esteve na difusão desse tipo de debate para uma parcela muito mais ampla da esfera pública. Os saberes acadêmicos foram desafiados e estimulados por tal movimento. Não é por acaso que nas últimas décadas organizaram-se iniciativas de ensino e pesquisa em economia ecológica, direito ambiental, engenharia ambiental, sociologia ambiental etc. Estabeleceu-se um movimento de mão dupla, em que as produções científicas influenciaram e foram influenciadas pelas ações públicas. A cena política, porém, não é suficiente para explicar a emergência de um enfoque ambiental na pesquisa histórica. Os historiadores ambientais foram também desafiados por movimentos internos ao mundo do conhecimento, especialmente por importantes mudanças epistemológicas consolidadas no século XX, mas que já estavam em gestação nos séculos anteriores, em relação ao entendimento do mundo natural e de seu lugar na vida humana. Três mudanças merecem particular atenção: 1) A ideia de que a ação humana pode produzir um impacto relevante sobre o mundo natural, inclusive ao ponto de provocar sua degradação; 2) A revolução nos marcos cronológicos de compreensão do mundo; 3) A visão de natureza como uma história, como um processo de construção e reconstrução ao longo do tempo. O que caracteriza a discussão ambiental na cultura contemporânea não é a forte atenção para o tema da natureza. Ela sempre foi uma categoria central do pensamento humano, ao menos na cultura ocidental, desde a Antiguidade (não entrarei aqui na interessante discussão sobre a universalidade ou não do conceito de “natureza”). De maneira geral, na medida em que as sociedades humanas se territorializaram - construindo seus ambientes a partir de interações com espaços concretos de um planeta que possui grande diversidade de formas geológicas e biológicas -, emergiram incontáveis exemplos de práticas materiais e percepções culturais referidas ao mundo natural. A produção de um entendimento sobre esse mundo tornou-se um componente básico da própria existência social. Clarence Glacken (1967), em seu monumental estudo sobre a história das concepções intelectuais sobre a natureza no mundo ocidental, da Antiguidade clássica ao século XVIII, constatou que virtualmente todos os pensadores foram obrigados a enfrentar o tema, tendo por base três grandes indagações: É a natureza, tal qual ela se apresenta na Terra, dotada de sentido e propósito? Possui essa natureza, especialmente o lugar onde cada sociedade habita, uma influência sobre a vida humana? Foi a realidade da Terra, em sua condição primordial, modificada pela ação histórica do homem? Os resultados da investigação de Glacken deixam claro que as duas primeiras perguntas dominaram amplamente a reflexão filosófica e científica até o século XVIII. Tratava-se de entender como a natureza influenciava a história humana e não o contrário. Algumas elaborações sobre a terceira pergunta apareceram no que se refere aos melhoramentos da paisagem a partir das artes e do trabalho. Mas o tema da capacidade da ação humana para degradar, ou mesmo destruir, o mundo natural é essencialmente moderno. (GLACKEN, 1967, apud PÁDUA, 2010, s/p) A modernidade da questão ambiental, de acordo com Pádua (2010, s/p) da ideia de que a relação com o ambiente natural coloca um problema radical e inescapável para a continuidade da vida humana - deve ser entendida em sentido amplo. Ela não está relacionada apenas com as consequências da grande transformação urbano-industrial que ganhou uma escala sem precedentes a partir dos séculos XIX e XX, mas também com uma série de outros processos macro- históricos que lhe são anteriores e que com ela se relacionam (dentro do jogo de continuidades e descontinuidades que caracteriza os processos históricos). É o caso da expansão colonial europeia e da incorporação de vastas regiões do planeta, uma grande variedade de territórios e ecossistemas, a uma economia-mundo sob sua dominância. E também da institucionalização da ciência como um modo privilegiado de entendimento do mundo, com pretensão de universalidade e capacidade para estabelecer redes planetárias de investigação e troca de informações. A proposta de comparar regiões, produções naturais, economias e culturas - de constituir um saber geográfico planetário - é fundamental para entender a emergência de uma preocupação com os riscos da ação humana. A própria ideia de colapso, de destruição do futuro, começa a aparecer nesse contexto. (PÁDUA, 2002). As observações empíricas das consequências de uma ação humana devastadora, seja na Europa, seja no mundo de expansão colonial, começaram a produzir denúncias contra o desflorestamento, a erosão dos solos, a sedimentação dos rios etc. As pesquisas de Richard Grove (1995) demonstraram que os assentamentos europeus no mundo tropical, incluindo o período posterior às independências, se tornaram um espaço privilegiado para esse tipo de preocupação, na medida em que a rápida transformação das áreas florestais em monoculturas e minas geravam modificações ambientais “à flor da terra”, por assim dizer. Mas tais observações empíricas não se tornariam tão “evidentes” sem modificações no plano da percepção e do conhecimento. A ciência iluminista começava a falar em “sistemas naturais” interdependentes, na importância de cada espécie para a manutenção do todo natural, na relevância das florestas para a conservação da umidade e da saúde do território. Um texto publicado em 1760, pelo naturalista sueco Lineu, em conjunto com H. Wilcke, afirmava que “a partir do que nós sabemos, é possível julgar quão importante é cada uma das disposições da natureza, de forma que (...) se uma única função importante faltasse no mundo animal, nós poderíamos temer o maior desastre no universo.” (LINNÉ, 1972, p. 118) Tais construções científicas se somaram ao nascimento da sensibilidade pré- romântica e romântica, que estimulou uma nova valorização do mundo natural a partir da estética do sublime. (PÁDUA, 2005) Não se trata, por certo, de traçar uma linha direta entre a crítica ambiental que começava a aparecer nos séculos XVIII e XIX, utilizando categorias e vocabulários próprios da época, e o fenômeno do ambientalismo contemporâneo. Não é o caso de buscar “precursores”. Mas sim de analisar um movimento histórico mais amplo e difuso: a construção da sensibilidade ecológica no universo da modernidade. De toda forma, o ponto fundamental, no contexto do presente artigo, é observar como naquele caldo de cultura, aqui apresentado de forma muito breve, começaram a aparecer reflexões históricassobre as consequências ambientais do agir humano. Tais reflexões, aliás, vão ter uma presença mais marcante nos ensaios de naturalistas e pensadores políticos do que nos trabalhos das primeiras academias de história, muito voltados para a trajetória de grandes personagens e Estados Nacionais. Um marco frequentemente mencionado foi o livro Man and nature or physical geography as modified by human action do diplomata norte-americano George Perkins Marsh (1965), publicado em 1864. Esse trabalho, bastante concentrado no contexto europeu e mediterrânico, procurava passar em revista as transformações provocadas pela ação humana, desde a Antiguidade, na flora e na fauna, nas florestas, nas águas e nas areias, tendo como eixo central a denúncia da destruição. Nas palavras sugestivas do autor, estávamos “quebrando o piso, as vigas, as portas e as janelas do nosso lugar de moradia.” (MARSCH, 1965, p. 52, apud Pádua, 2010, s/p) Para Pádua (2010, s/p) é possível encontrar exemplos interessantes desse tipo de percepção no contexto cultural brasileiro, mesmo em momentos anteriores ao de Marsh. José Bonifácio de Andrada e Silva (1991, p. 172), por exemplo, ao escrever em 1815 sobre o problema da perda de bosques em Portugal, adotou uma perspectiva histórica ampla para afirmar que todos os que conhecem por estudo a grande influência dos bosques e arvoredos na economia geral da natureza sabem que os países que perderam suas matas estão quase de todo estéreis e sem gente. Assim sucedeu a Síria, Fenícia, Palestina, Chipre, e outras terras, e vai sucedendo ao nosso Portugal. A visão de que a forte aridez e desertificação de algumas regiões do Oriente Médio foi, ao menos em grande parte, produzida pela ação humana na longa duração vem sendo corroborada por pesquisas recentes no campo da história ambiental. Algo semelhante pode ser dito do território da Líbia, antigo fornecedor de grãos para Roma. O avanço do deserto foi impulsionado por práticas agrícolas destrutivas. (HUGHES, 1981) É interessante observar que mais tarde, já de volta ao Brasil e no contexto pós-independência, José Bonifácio de A. e Silva (1973, p. 103) retomou a leitura histórica dos problemas ambientais ao defender que a continuidade de uma agricultura escravista e tecnologicamente rudimentar acabaria por transformar “o nosso belo Brasil”, em “menos de dois séculos”, nos “paramos e desertos áridos da Líbia.” O ponto essencial, portanto, não estava na mera constatação de exemplos históricos relativamente distantes, mas sim na possibilidade de sua replicação onde quer que se adotem padrões semelhantes de uso destrutivo da terra. Um raciocínio parecido, para buscar outro exemplo, será feito, em 1860, pelo jurista cearense Tomás Pompeu de Sousa Brasil. (1860) Ao discutir o problema das secas na região, ele adotou o mesmo enfoque histórico de grande amplitude: a história aí está apresentando tristes documentos da verdade desta lei eterna, de que o país mais fértil, abundante e rico pode ser convertido em charneca estéril e solidão inabitável se a imprudência humana o desguarnecer das matas que fazem a condição da sua uberdade e a benignidade do seu clima. Era o caso, entre vários exemplos por ele citados, da destruição das matas do Atlas, na Berbéria, que “arruinaram a África do Norte, antigamente o celeiro da Itália.” O mesmo se dava no contexto da história local, pois se compulsassem os documentos que existem sobre o estado físico do Brasil no tempo de sua descoberta, no século XVI, e nas diversas épocas da sua história, e até pela simples comparação das porções do seu território aplicado à cultura do açúcar com as que se desenvolveu a do algodão, poder-se-ia provar a influência que exerce a ação do homem sobre o clima das terras que habita, e demonstrar a verdade deste princípio enunciado há quarenta anos por Fourier, que a atmosfera é um campo suscetível de cultura. (BRASIL, 1860, p. 64-88, apud PÁDUA, 2010, s/p) Conforme Pádua (2010, s/p) não é o caso de afirmar que esses autores estavam praticando uma historiografia “ambiental”. Mas uma percepção histórica sobre processos de mudança ambiental, produzidos por uma interação entre fatores humanos e naturais, estava sendo claramente delineada. Muitos outros exemplos poderiam ser buscados, dentro e fora do Brasil. Variações relacionadas com a mudança epistemológica mais ampla que foi mencionada antes: o juízo de que a ação humana pode interferir no meio natural, até mesmo provocando desastres. Um juízo que, obviamente, continuou se difundindo nos séculos seguintes, atingindo uma presença inédita no tempo presente. A história ambiental emergente no final do século XX, no entanto, é bem mais complexa do que um inventário diacrônico dos males infringidos pelos seres humanos ao planeta. Ela incorpora outras transformações teóricas que merecem ser discutidas com destaque, até mesmo por desconstruírem a imagem fortemente dualista presente na frase anterior. (...) O aparecimento da história ambiental consciente de si mesma está ligado a uma ausência da dimensão biofísica em boa parte da historiografia contemporânea. Ainda existe, de fato, uma presença muito forte do enfoque que já foi chamado de “flutuante”, no sentido de a humanidade flutuar acima do planeta, como se os seres humanos não fossem animais mamíferos e primatas, seres que respiram e que precisam cotidianamente se alimentar de elementos minerais e biológicos existentes na Terra. Como se não fossem, em verdade, seres que, mais do que estabelecer “contatos” pontuais, vivem por meio do mundo natural, dependendo dos fluxos de matéria e energia que garantem a reprodução da atmosfera, da hidrosfera, da biosfera, e assim por diante. Mesmo que, na sutil observação de Alfred Crosby (1995, p. 1177), a presença dos humanos nos ecossistemas ocorra na maior parte das vezes de maneira “distraída”. O reconhecimento desse fato, contudo, seria simplório e vulgar se não reconhecesse também as outras dimensões do fenômeno humano, incluindo a realidade de que o ser humano histórico está tão inescapavelmente imerso na cultura e na linguagem quanto na ecosfera terrestre. Em um texto de 1944, comentando o livro Les bases biologiques de la géographie humaine, de Maximilien Sorre, Fernand Braudel (1992, p. 144-151) discutiu o exercício fascinante de pensar o homem em sua simples materialidade animal, em sua condição de “homeotermo de pele nua”, em seu lado elementar de ser biológico, sensível ao quente, ao vento, ao frio, à seca, à insolação, à insuficiente pressão das altitudes, ocupado incessantemente em procurar e em assegurar sua alimentação, obrigado a defender-se enfim, sobretudo hoje em que se tornou consciente do perigo, contra as doenças que o seguem por toda parte. Um tipo ideal que nos desafia, por apresentar um aspecto fundamental e tantas vezes esquecido, voluntária ou involuntariamente, da realidade humana. Mas um aspecto que não é suficiente, que não conta a história completa. Pois o ser humano, visto dessa maneira, é uma abstração que ignora “o homem na sua complexidade - em toda a espessura de sua história, em toda a sua coesão social.” BRAUDEL (1992, p. 144-151, apud PÁDUA, 2010, s/p) O grande desafio teórico, no contexto da contemporaneidade, é pensar o ser humano na totalidade tensa e complexa de suas dimensões biológica e sociocultural. Um desafio mantido na obscuridade pela dominância do enfoque flutuante na historiografia. Se bem que tal dominância, até pelo fato de a historiografia não ser um bloco homogêneo, não deve ser exagerada. Alguns historiadores foram capazes de produzir, ao longo do século XX, mesmo no Brasil, análisesque incorporaram os fatores biofísicos no coração da análise histórica e que hoje estão sendo recuperadas na genealogia da história ambiental. (PÁDUA, 2010, s/p) 3. INSTRUMENTOS E CONCEITOS DE POLÍTICA E GESTÃO AMBIENTAL Conforme Magrini (2001, p. 1) a concepção dos chamados longos ciclos econômicos de Kondratieff tem sido retomada por diversos economistas (ver Freeman, 1989, Dosi, 1982, Gerelli, 1995) para evidenciar as mudanças estruturais que marcaram as “ondas” evolutivas da sociedade. Historicamente, a partir do momento em que as atividades produtivas do homem adquiriram uma forma organizada, o crescimento da atividade econômica esteve sempre associado a um aumento no uso dos recursos. Isto se aplica tanto para a sociedade agrícola como para a sociedade industrial. A revolução industrial, entretanto, introduziu uma aceleração deste processo instaurando um modelo cada vez mais complexo do ponto de vista tecnológico e organizacional calcado no uso maciço de recursos materiais (carvão, ferro, petróleo, etc.). Na sociedade industrial o crescimento econômico esteve sempre acompanhado por um crescimento equivalente no consumo de recursos materiais, em particular energéticos. Desde os anos 50, porém, inicia-se uma redução da importância dos fatores materiais e dos semitrabalhados, acompanhada por um crescimento concomitante de fatores imateriais. (AMATO, BIDELLO, 1998) É a partir dos anos 70, no entanto, que começa a configurar-se de forma mais efetiva o processo típico da sociedade pós-industrial, calcado em mudanças tecnológicas e organizacionais: uso crescente das tecnologias da informação, advento de materiais e produtos novos ou com melhoria de desempenho, produção just in time, etc. Entra-se, portanto, na era da “desmaterialização” na qual, devido principalmente às mudanças tecnológicas, manifesta-se uma cisão entre o crescimento do PIB e o consumo de recursos materiais por unidade de produto. Passa-se do modo industrial, ou taylorístico, de produção para o modo “científico” no qual domina o conhecimento e a automação. A própria ciência torna-se um fator de produção. (GERELLI, 1997) As transformações tecnológicas baseadas na microeletrônica, na informática e na biotecnologia/novos materiais permitem a produção de bens com menor conteúdo de recursos materiais e maior conteúdo de informação/conhecimento. O setor terciário torna-se gradualmente prevalente em relação ao industrial na composição do PIB. Discute-se sobre: flexibilização do trabalho, tempo livre, desemprego; transnacionalização das estruturas de poder (reforçadas pela posse/fluxo de informação/conhecimento) e crescente esvaziamento da ação do Estado Nacional; melhoria (redução do trafego e dos problemas ambientais correlatos, resgate das relações familiares e de vizinhança) ou perda (isolamento, stress) da qualidade de vida urbana; reforço do processo de exclusão e acentuação das diferenças entre ricos e pobres; melhorias ambientais decorrentes do processo de desmaterialização (redução do uso de recursos materiais e energéticos, redução da poluição) e/ou aumento dos riscos ambientais decorrentes do “descontrole” das novas tecnologias, dentre outras questões de caráter econômico, social e político. Não cabe no presente trabalho alongar esta análise, mas sim evidenciar que este novo contexto tem implicações profundas em campo ambiental exigindo uma indagação sobre o encaminhamento a ser dado aos instrumentos de política e gestão ambiental. (MAGRINI, 2001, p. 2) - A evolução da política ambiental no contexto internacional: Para Magrini (2001, p. 2) é possível identificar quatro eventos que marcaram de forma direta a trajetória da Política Ambiental no mundo: a promulgação da Política Ambiental Americana, em 1969 (NEPA), a realização da Conferência das Nações Unidas em Estocolmo, em 1972, o trabalho realizado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que resultou na publicação do relatório Nosso Futuro Comum em 1987 e, finalmente, a realização da Conferência das Nações Unidas no Rio de Janeiro, em 1992. Outros eventos também marcaram de forma indireta os rumos desta política: a publicação do relatório do MIT Os Limites do Crescimento, em 1972 e os dois choques do petróleo, ocorridos respectivamente em 1973 e 1979. Cabe também mencionar a importância, no período, da crescente mobilização da sociedade civil em torno da problemática ambiental que, aliada à intensa produção intelectual voltada para o questionamento do modelo de desenvolvimento perseguido pelas nações, moldaram a conformação da política ambiental nos últimos trinta anos. A partir destes eventos configuraram-se concepções, modalidades e instrumentos de política ambiental diferenciados no tempo. Evidentemente esta evolução não se revelou de forma homogênea e contemporânea em todos os países. No entanto, é possível identificar um fio indutor que veio moldando estas políticas de forma semelhante. Assim, os eventos do final da década de 60 e início da década de 70 desencadearam um processo de estruturação institucional e de formulação de políticas ambientais nos diferentes países. Estas políticas caracterizaram-se durante toda a década de 70, por uma ótica essencialmente corretiva centrada de forma predominante na introdução de mecanismos de controle da poluição. A década seguinte foi marcada fundamentalmente pelos dois choques do petróleo que evidenciaram de forma flagrante a vulnerabilidade das nações frente à escassez de recursos naturais. Nos anos 80 as políticas ambientais dos países direcionaram-se para um enfoque de tipo preventivo. Data deste período, em quase todos os países do mundo ocidental, a introdução da Avaliação de Impacto Ambiental como instrumento de prevenção e de auxilio à decisão. (MAGRINI, 2001, p. 3) Nas décadas de 70 e 80, de acordo com Magrini (2001, p. 3) a gestão ambiental foi essencialmente praticada pelo Estado através da aplicação dos chamados “instrumentos de comando e controle”, dentro de um encaminhamento de política ambiental essencialmente centralizada. Durante estas décadas a política e a gestão ambiental foram marcadas por fortes conflitos, conflitos entre interesses públicos e privados, conflitos de competências dentro do próprio Estado, conflitos entre empresas, Estado e sociedade civil. O conceito de desenvolvimento sustentável introduzido em 1987 pelo Relatório das Nações Unidas denominado, muito apropriadamente, Nosso Futuro Comum, veio com o intuito de promover uma espécie de “conciliação” entre as partes em conflito. Apesar do muito desgaste que este termo já sofreu, é indiscutível que ele esteve na base das transformações observadas na década de 90 e que, até hoje, vem moldando a orientação buscada pelas políticas ambientais dos diferentes países. A Conferência das Nações Unidas ocorrida em 1992 no Rio de Janeiro (ECO 92) teve um papel catalisador na disseminação desse conceito. Neste contexto, os anos 90 viram o surgimento progressivo de novos atores em campo ambiental: o avanço de atitudes proativas das empresas que começaram a vislumbrar, através da introdução de mecanismos de gestão ambiental, oportunidades de mercado, num primeiro momento, e barreiras à entrada, num segundo; o avanço da chamada eco diplomacia e da realização de convenções internacionais sobre problemas ambientais globais, com fortes repercussões diplomáticas, políticas e econômicas sobre os diferentes países. o avanço da atuação das administrações locais, movido pelo resgate da dimensão local em resposta ao processo de globalização em curso; o avanço de uma sensibilização ambiental difusapor toda a sociedade com o consequente crescimento de demandas e mobilização por parte desta. Este período caracterizou-se pelo desenvolvimento de instrumentos da chamada Gestão Ambiental Privada, ou das empresas, dentre os quais destacam-se os desenvolvidos no âmbito da série de normas ISO 14.000: Sistema de Gestão Ambiental, Auditoria Ambiental e Avaliação de Desempenho Ambiental, relacionados à gestão ambiental de sitos ou organizações; Ciclo de Vida, Rotulagem e Aspectos Ambientais em Padrões, relacionados à gestão ambiental de produtos. O TC 207, comitê da ISO encarregado da elaboração das normas, foi criado em 1993 e inspirou-se na norma inglesa BS 7750 e na ISO 9000 para conduzir a discussão sobre as normas de Sistema de Gestão Ambiental e de Auditoria Ambiental. A confecção das normas incorporou também as experiências preexistentes Sobre normativas relacionadas a selos verdes e os princípios do Programa de Atuação Responsável instituído pela indústria química canadense e americana na década de 80 e implementado pelas associações da indústria química dos diferentes países. O trabalho desenvolvido pela ISO em campo ambiental representa um marco importante na medida em que consiste na primeira iniciativa de gestão ambiental voluntária por parte das empresas de caráter efetivamente mundial, ou seja não restrito a setores ou países. Embora se discuta muito hoje a eficácia deste mecanismo do ponto de vista ambiental e as efetivas motivações que levaram as empresas à adoção do mesmo, é importante assinalar que esta iniciativa influenciou os próprios rumos da política ambiental contribuindo para a construção do conceito de gestão ambiental dentro do setor público. É na década de 90, de fato, que as políticas públicas de meio ambiente, passaram a incorporar este conceito em sua acepção mais gerencial, em detrimento de uma visão mais restrita, anterior, que enfocava a gestão como simples “manejo ambiental”. (MAGRINI, 2001, p. 4) Assim, para Magrini (2001, p. 4) no âmbito da Gestão Ambiental Pública, observa-se no período, principalmente em países europeus, a busca de novos instrumentos de gestão, seja através da introdução de instrumentos econômicos, seja através da implementação de instrumentos de comando e controle menos punitivos. Embora até o final da década a questão do uso de instrumentos econômicos tenha ficado mais no âmbito de discussões teóricas e de algumas aplicações localizadas, a introdução de mecanismos legais menos punitivos ganhou espaço na Europa com a promulgação de dois regulamentos da Comunidade Europeia, um sobre selo ambiental (Ecolabel) – Regulamento CEE 880/92 e outro sobre sistema de gestão ambiental e auditoria ambiental (Ecoaudit) Regulamento CEE 1836/93. Ao estabelecerem, antes mesmo das normas ISO, sistemas voluntários de adesão a instrumentos de gestão ambiental, estes regulamentos introduzem uma nova forma do legislar em campo ambiental e espelham as diretrizes do Quarto e Quinto Programas de Ação da CEE endereçadas para o maior uso de instrumentos de mercado na preservação do meio ambiente. Neste novo quadro dos anos 90, (novos atores, novos instrumentos) ganha espaço a negociação e a necessidade de se buscar uma efetiva “conciliação” entre as partes. Na década atual, ancoradas no conceito de “desenvolvimento sustentável”, as políticas ambientais de quase todos os países parecem endereçar-se para a busca de um enfoque integrador: integrar o desenvolvimento com o uso sustentável dos recursos, integrar os instrumentos de comando e controle tradicionalmente aplicados ao meio ambiente com instrumentos econômicos, integrar os agentes públicos e privados na gestão do meio ambiente, integrar a dinâmica da problemática ambiental local com a global. Tal enfoque só pode ser perseguido se forem incorporados ao planejamento e à gestão ambiental os conceitos de Planejamento e Gestão Cooperativos. (ver HEALEY, 1997, FORESTER, 1999, DE JONGH, 1999, MEPPEM, 2000) A formação de parcerias, a criação e aplicação de instrumentos compartilhados de gestão, a implementação de ações conjuntas de preservação ambiental, constituem as formas mais viáveis de encaminhamento destas políticas. Estas perspectivas parecem confirmar-se não só por um percurso evolutivo interno à política ambiental, mas também por uma dinâmica mais ampla de retração do Estado de todas as atividades econômicas e um concomitante crescimento das forças de mercado num contexto econômico e financeiro globalizado e fortemente interligado. Rediscutir o papel do Estado, das organizações e da sociedade e suas formas de articulação constituem o grande desafio da gestão ambiental na atualidade. (MAGRINI, 2001, p. 4) - A política e a gestão ambiental no Brasil: Nesse âmbito Magrini (2001, p. 5) aponta que a evolução da política e da gestão ambiental no Brasil se deu de forma relativamente consoante com o quadro internacional. Evidentemente este processo foi marcado por especificidades econômicas, políticas e culturais, além de fatores de pressão externos, cuja análise não cabe no presente trabalho, e que fizeram com que as diferentes fases observadas a nível internacional se apresentassem por vezes defasadas e por vezes sobrepostas no caso brasileiro. As próprias configurações desiguais do desenvolvimento brasileiro, que faz com que convivam ao interior do país, estruturam tipicamente pré-industriais ao lado de industriais e de pós-industriais, imprimem a esta evolução uma configuração diferenciada. Assim, a década de 70 também representou para o Brasil uma fase de estruturação em campo ambiental principalmente do ponto de vista institucional. Datam deste período a criação a nível federal da SEMA, Secretaria de Meio Ambiente e de alguns órgãos estaduais como a FEEMA. Embora alguns estados tenham implementado neste período instrumentos de gestão ambiental e embora a própria federação já possuísse algumas normativas anteriores, como o Código de Águas de 1934, a Lei de Proteção de Florestas de 1965, a Lei de Proteção da Fauna de 1967, dentre outras, uma política ambiental efetiva e orgânica só foi implantada no Brasil em 1981 com a Lei 6938 que instituiu a Política e o Sistema Nacional do Meio Ambiente. Os principais instrumentos que constam desta lei são até hoje aplicados no Brasil e são: Padrões de Qualidade Ambiental; Zoneamento Ambiental (posteriormente denominado Zoneamento Ecológico econômico); Avaliação de Impactos Ambientais; Licenciamento e revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; Sistema Nacional de Informações Ambientais; Sistema de Unidades de Conservação. Desde sua promulgação, a política ambiental brasileira vem atuando tanto no plano corretivo como preventivo. (MAGRINI, 2001, p. 5) Para a autora datam igualmente da década de 80 as regulamentações relativas ao estabelecimento de padrões de qualidade da água e de efluentes e sobre o Programa de Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE (Resoluções CONAMA 020/86 e 018/86 respectivamente) e a relativa à Avaliação de Impacto Ambiental (Resolução CONAMA 001/86). Por outro lado, somente em 1997 foi promulgada a regulamentação federal sobre Licenciamento Ambiental (Resolução CONAMA 237/97) enquanto continuaram sendo elaboradas no período normas para controle de emissões gasosas e ruído dentro de uma ótica de política claramente corretiva. Adicionalmente, o Brasil incorporou no início da década de 90 um novo instrumento que vinha sendo discutido na Europa, a Auditoria Ambiental. Quase que contemporaneamente, diversos Estados, Municípios e também a União discutiram projetos de lei sobre a introdução deste novo instrumento. A concepçãobrasileira do mesmo, no entanto, seguia o modelo inicial do Regulamento da CEE que consistia num tradicional instrumento de comando e controle, ou seja, tinha um caráter essencialmente compulsório e não incorporava a adoção conjunta de um Sistema de Gestão Ambiental. Este processo acabou não progredindo resultando no arquivamento do projeto de lei federal e na suspensão de alguns projetos estaduais e municipais. O Estado do Rio de Janeiro, no entanto, foi um dos estados que regulamentaram este novo instrumento (Lei 1898/91 e Decreto 2147A/95). Do ponto de vista institucional, desde a promulgação da Lei 6938/81, foram essencialmente mantidas as atribuições a nível federal, estadual e municipal, tendo sido modificadas, através de leis e decretos, algumas figuras da estrutura original, dentre as quais se destacam: a SEMA foi absorvida em 1989, juntamente com SUDEPE, IBDF e SUDHEVEA formando o IBAMA; em 1989 foi criado o Comitê do Fundo Nacional do Meio Ambiente; o Ministério do Meio Ambiente foi criado em 1992 e sua denominação e composição foram modificadas diversas vezes nestes anos. A Constituição de 1988 veio reforçar a política ambiental brasileira, além de atribuir aos municípios maior autonomia em campo ambiental. Vê-se desde então um crescimento do envolvimento municipal em questões ambientais sem que, no entanto a lei federal tenha sido modificada no sentido de redefinir competências. A gravidade desta situação ficou latente quando em 1997 foi promulgada a Resolução 237 dando atribuições específicas aos municípios para o licenciamento de projetos com implicações ambientais locais. Como resultado a resolução foi taxada de inconstitucional e, ao mesmo tempo, desencadeou-se um processo de elaboração de projetos de lei sobre licenciamento por parte de muitos municípios. Se por um lado é incontestável a pertinência da atuação municipal em campo ambiental, por outro, se não se proceder a uma premente revisão do Sistema Nacional de Meio Ambiente, poderá agravar-se a sobreposição de competências entre as diferentes figuras institucionais. Não só para modificar as atribuições dos municípios torna-se necessária a revisão da lei quadro ambiental brasileira, mas principalmente para incorporar os novos conceitos e instrumentos que tem permeado hoje a evolução da gestão ambiental a nível internacional. Neste sentido, o Brasil ainda encontra-se bastante distanciado de uma visão efetivamente integradora da gestão ambiental. Isto não significa que estas novas tendências não tenham sido absolutamente implementadas no caso brasileiro. Recentemente é possível identificar, tanto ao nível federal como estadual, a adoção de alguns novos mecanismos legais e institucionais que se direcionam, mesmo que de forma ainda incipiente, para a negociação e/ou a formação de parcerias. Dentro da lógica que tem regido a política ambiental brasileira, no entanto, estes convivem com igualmente novos mecanismos que se inserem nas modalidades mais tradicionais da gestão ambiental do tipo comando e controle. É o caso, por exemplo, da Lei 9605, conhecida como Lei de Crimes Ambientais que, promulgada em 1998, possui um profundo caráter punitivo. (MAGRINI, 2001, p. 5) Com relação à negociação, uma iniciativa recente que tem dado bons resultados no Estado do Rio de Janeiro é a realização de Termos de Compromisso Ambiental (TCAs) entre o órgão ambiental e as empresas. Este instrumento surgiu com a Medida Provisória 194924/ 00 relacionada à Lei Federal 9605/98 anteriormente mencionada e teve como intuito permitir a adequação das empresas às exigências legais. (SCHEEFFER, 2001) Embora tenha sido originado por um instrumento clássico de comando e controle, o TCA tem fomentado a negociação entre as partes. Outro mecanismo menos recente que introduziu a negociação, sempre entre empresas e setor público, data da década de 80 e vem sendo praticado tanto ao nível federal como estadual. Trata-se da Avaliação de Impacto Ambiental e do mecanismo correlato de Audiência Pública. Não cabe aqui discutir a eficácia destes mecanismos (Magrini, 1989), mas é importante assinalar que apesar destas iniciativas já estarem em curso não existe ainda na prática da gestão ambiental no Brasil uma efetiva “cultura” que reconheça explicitamente o conflito e implemente a negociação de forma mais estruturada. O emprego de técnicas e/ou procedimentos para o tratamento destas questões precisa ser fomentado e alargado (BREDARIOL, MAGRINI, 1997, apud MAGRINI, 2001, p. 7). Em termos de formação de parcerias, existem no Estado do Rio de Janeiro os mecanismos denominados PROCON ar e PROCON água que consistem em programas de autocontrole implementados pelas empresas e acompanhados pelo órgão ambiental. Outro instrumento, o Sistema de Manifesto de Resíduos Industriais e a Bolsa de Resíduos, também constitui uma forma de “compartilhamento” com a iniciativa privada de atividades que estariam normalmente apenas a cargo do órgão ambiental. Mesmo que estes mecanismos tenham sido implementados em sua maioria no final da década de 80 com o claro intuito de minimizar custos e “aliviar” a carga de controle da FEEMA, hoje, num novo contexto, precisam ser potencializados e dinamizados vindos a constituir-se em parcerias efetivas. Finalmente, a nível federal, a recente criação da lei de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Lei 9433/97), que ainda encontra-se em fase de regulamentação, pode vir a constituir um grande avanço na prática da negociação e da formação de parcerias. Efetivamente, ao eleger a bacia hidrográfica como unidade de gestão, este novo sistema faz intervir, na gestão da mesma, diferentes esferas do poder público (Estados, Municípios, União), além de envolver os diversos usuários da bacia, através da representação nos chamados Comitês de Bacia. A lei também introduz novos instrumentos de gestão buscando integrar os aspectos qualitativos e quantitativos relativos ao gerenciamento da água que seguramente necessitarão da prática da negociação e da formação de parcerias. O gerenciamento de recursos hídricos no Brasil pode, portanto vir a constituir-se no primeiro exemplo significativo de gestão ambiental cooperativa podendo servir como modelo para a reformulação do próprio Sistema Nacional de Meio Ambiente. (MAGRINI, 2001, p. 8) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS UTILIZADAS E CONSULTADAS ARISTÓTELES. Física I e II. Campinas: Unicamp, 2002. BECKER, Bertha, et al. (Orgs.). Geografia e meio-ambiente no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995. BECKER, Bertha. A geografia e o resgate da geopolítica. In: Revista Brasileira de Geografia. 1988. Rio de Janeiro. N. especial, t. 2, p. 99-125. BRASIL, T. P. de S. A necessidade da conservação das matas e da arboricultura. Fortaleza, 1860. BRAUDEL, Fernand. Há uma geografia do individuo biológico? 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AVALIAÇÃO 1) Significa recursos, gerador de matéria-prima e energia. a) Sociedade. b) Floresta. c) Meio ambiente. d) Cultura. 2) São áreas delimitadas com a finalidade de preservação e proteção integral da fauna e flora, para fins científicos e educativos, onde é proibida qualquer forma de exploração dos seus recursos naturais: a) Reservas Biológicas. b) Estações Ecológicas. c) Parques. d) Nenhuma das alternativas. 3) Formação com apenas um andar de cobertura vegetal, constituída principalmente de leguminosas, gramíneas e ciperáceas de pequeno porte, inexistindo praticamente, formas arbustivas: a) Cerradão. b) Campo sujo. c) Campo. d) Restinga. 4) O primeiro curso universitário de maior repercussão com o título de História ambiental foi ministrado na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, pelo historiador cultural Roderick Nash, no ano de: a) 1960. b) 1980. c) 1952. d) 1972. 5 - É considerado o palco das realizações humanas. a) Território. b) Lugar. c) Espaço geográfico. d) Cidade. 6) Transição restinga encosta: é uma vegetação densa com árvores de cerca de 18 m de altura e onde encontramos com frequência o palmito e animais de grande porte como macacos bugios e onças. Tem como características, EXCETO: a) Depende mais do solo do que do clima; b) Ocorre interligação florística entre as formações da encosta e da restinga e interações de fluxo dos nutrientes entre a restinga e o manguezal; c) Localiza-se próxima ao mar sobre areia seca, onde se encontra vegetação rasteira e alguns arbustos. d) As diferentes situações de drenagem condicionam a formação do mosaico da restinga; 7) Nas décadas de 70 e 80, de acordo com Magrini (2001, p. 3) a gestão ambiental foi essencialmente praticada pelo Estado através da aplicação dos chamados: a) “instrumentos de comando e controle” b) “estratégias de comando e direção” c) “instrumentos de comando e estratégias” d) n.r.a 8) Dentre as alternativas abaixo, sobre os problemas causados pela erosão, assinale a alternativa incorreta: a) Perda de solo pelo arraste de partícula, acarretando queda na produtividade; b) Assoreamento dos cursos d'água (nascentes, córregos e rios); c) Contaminação nas águas por agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes químicos) que são arrastados com partículas do solo; d) Culturas não adaptadas às características das terras; 9-Complete as sentenças abaixo, e assinale a alternativa correta: A pesquisa histórica vem revelando que a preocupação intelectual com os problemas “ ” esteve presente, ao menos no mundo de expressão europeia, desde o final do século , ocupando um lugar relevante no processo de construção do pensamento moderno (Raumolin, 1984, Grove, 1995, Pádua, 2002). A grande novidade das últimas décadas esteve na difusão desse tipo de debate para uma parcela muito mais ampla da esfera . a) Ambientais; XVIII; pública b) Mundiais; XVI; particular c) Ambientais; XV; pública d) n.r.a 10 Leia atentamente as afirmativas abaixo e assinale a opção correta: I- Em termos de formação de parcerias, existem no Estado do Rio de Janeiro os mecanismos denominados PROCON ar e PROCON água que consistem em programas de autocontrole implementados pelas empresas e acompanhados pelo órgão ambiental. II- O Sistema de Manifesto de Resíduos Industriais e a Bolsa de Resíduos, também constitui uma forma de “compartilhamento” com a iniciativa privada de atividades que estariam normalmente apenas a cargo do órgão ambiental. III- A nível federal, a recente criação da lei de Gerenciamento de Recursos Hídricos constitui uma forma de “compartilhamento” com a iniciativa privada de atividades que estariam normalmente apenas a cargo do órgão ambiental. (Lei 9433/97), que ainda encontra-se em fase de regulamentação, pode vir a constituir um grande avanço na prática da negociação e da formação de parcerias. a) Estão corretas as afirmativas I e II b) Estão corretas as afirmativas I e III c) Estão corretas as afirmativas II e III d) Todas as afirmativas estão corretas