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Fonte: http://www.futai.com.br HISTÓRIA DA MECÂNICA DOS SOLOS NO BRASIL É importante que as gerações mais novas saibam como as bases da geotecnia foram estabelecidas no Brasil. O texto apresentado a seguir é um resumo escrito pelo prof. Carlos de Sousa Pinto para o Núcleo Regional de São Paulo em 2006. O texto original do qual o prof. Carlos Pinto se baseou foi: “História da Mecânica dos Solos no Brasil”, escrita pelo Eng. A.D. Ferraz Nápoles Neto, sócio emérito e ex-presidente da ABMS. O trabalho original encontra-se nos Anais do IV Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, Vol. II Tomo I, pp. 169-215, Guanabara, 1970. 1 - Pré-história � Por milênios o homem vem construindo sobre e com os materiais da crosta da Terra. Ao edificar obras comuns e incomuns, entre estas algumas grandiosas outras colossais, deve ter encontrado toda a sorte de problemas para apóia-las ou fundá-las. Na medida em que bem ou mal as foi solucionando, foi também ganhando experiência que, transmitida de construtor a construtor, de arquiteto a arquiteto, foi se acumulando e se aperfeiçoando, e acabou por se consolidar, sob a forma de conhecimentos empíricos, algumas vezes acompanhados por umas tantas teorias, precárias ou mesmo fantasiosas. E desta maneira, as construções em terra e rocha alcançaram o século XX, em flagrante contraste com as obras à base de outros materiais, ou mesmo as obras hidráulicas, que desde meados do século anterior já vinham sendo objeto de tratamento científico. � No Brasil, nas grandes obras portuárias e ferroviárias, especialmente túneis, na segunda metade do século XIX e início do século XX, e o início da era dos arranha- céus, na década de 1920, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o tratamento de problemas de solos e rochas era totalmente baseado na experiência transmitida. � Nos problemas de fundações, o procedimento tradicional consistia em eleger-se uma "taxa de trabalho" para o terreno existente, a partir de informações de obras anteriores. Quando a fundação direta não era possível, ou nos casos de dúvida, recorria-se a estacas, cujas capacidades eram estimadas por meio de fórmulas dinâmicas. � O reconhecimento do terreno era feito ou diretamente, por meio de escavações, trincheiras e poços, em geral de profundidade limitada, ou por meio de sondas elementares, como a agulha ou "barra-mina" e o trado, também alcançando pequenas profundidades. Sondagens mais profundas, em obras muito importantes, eram sondagens geológicas e não geotécnicas, por equipamentos que os construtores chamavam de "sondagem de mineiro". � O empirismo dominante se revelava até na terminologia dos terrenos, onde nomes como saibros, piçarra, taguá, tabatinga, moledo, etc., faziam parte do vocabulário do construtor. � As obras geotécnicas mais importantes no período foram: • Fundações de obras marítimas e de pontes com caixões cravados sob ar comprimido, em obras portuárias no Rio de Janeiro, que, embora maiores e mais complexos, precederam os tubulões pneumáticos. • Perfurações em rocha e alteração de rocha, por Paulo de Frontin, na duplicação de linha da E. F. Central do Brasil, onde, em 1913 e 1914, 2 km de túnel foram abertos em 17 meses ao lado da linha anterior, cuja construção consumira 7 anos (1858-1875). • A construção da ferrovia Mairinque-Santos (1927-1937) com uma impressionante seqüência de 31 túneis e 31 pontes e viadutos, permitiu a descida da Serra do Mar com linha dupla de simples aderência. • A construção de túneis urbanos inteiramente em terra, como os túneis da avenida 9 de julho em São Paulo (1936-38), onde foram usados, pela primeira vez no Brasil em obras deste gênero, o ar comprimido e uma adaptação do método do escudo. • A construção de estradas e barragens de terra pela então Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), no Nordeste. As barragens de terra compactada eram de seção homogênea e com filtro vertical, como as que viriam a ser preconizadas por Terzaghi, anos mais tarde, no projeto da barragem e do dique do Vigário, no Rio de Janeiro. Os filtros verticais de areia, ligados ao filtro de pé de jusante, ficavam, todavia, por trás de um septo ou cortina de concreto armado. • Duas obras rodoviárias memoráveis para a época: a primeira São Paulo- Santos, o chamado "Caminho do mar", pioneira em 1926, no Brasil e na América do Sul em pavimento de concreto ao longo de seus 8 quilômetros de serra, e a primeira Rio – São Paulo, em 19928, com 501 quilômetros de comprimento. Foto da Ferrovia Mairinque-Santos (Fonte : http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0102t.htm) 2 – Estudos pioneiros no Brasil � O primeiro trabalho publicado no Brasil sobre assuntos geotécnicos foi o do eng. Domingos José da Silva Cunha, no 1o número da Revista Brasileira de Engenharia, em outubro de 1920 intitulado "Experimentação dos terrenos para o estudo de fundações". Trata da importância da experimentação, do efeito da profundidade na capacidade de carga, da importância e do efeito da umidade, da natureza do terreno, da forma e do tamanho da superfície de carga. � Notável contribuição à geotécnica foi dada pelo eng. Alberto Ortenblad, na sua tese de doutorado pela Universidade de Harvard, em 1926, tendo ele freqüentado o primeiro curso ministrado por Terzaghi, no M.I.T. A tese de Ortenblad, intitulada “Mathematical Theory of the Process of Consolidation of Mud Deposits”, representou uma importante contribuição para o desenvolvimento da teoria do adensamento, como reconhecido por Terzaghi e Fröhlich no trabalho que corporificou a teoria do adensamento:”Theorie der Satzung von Tonschichten”, publicado em 1936. � Já em 1925, em trabalhos publicados nas revistas O Brasil Técnico e Revista Brasileira de Engenharia, Emídio de Morais Vieira, embora com tratamento diferente e independente do de Terzaghi, chegou a conclusões semelhantes sobre o papel da variável tempo nos fenômenos de deformação dos solos, tendo feito uso destes estudos no projeto de estabilidade de um aterro de acesso à nova ponte das Laranjeiras, em Santa Catarina. Foi, segundo Felipe dos Santos Reis, a primeira obra projetada no Brasil com apoio na Mecânica dos Solos. � Desta época são dois trabalhos publicados em forma de livros: "Sobre a Mecânica dos Solos", tese de livre-docência da Cadeira de Materiais de Construção da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, por Victor Ribeiro Lauzinger, em 1930, e "Fundações comuns em concreto armado", de Antonio Alves de Noronha, em 1932. � Os primeiros estudos sistemáticos tiveram lugar em São Paulo, no Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, cujos passos mais marcantes foram: • Em 1934, forma-se o IPT a partir do Laboratório de Ensaios de Materiais da Escola Politécnica, existente desde 1899; nele se criou uma Seção de Exame de Estruturas; • O eng. Telêmaco van Langendonck estagiou em laboratórios de Zurique e Viena, em 1935, e, ao retornar, organizou a Seção de Estruturas e Fundações. Primeiros estudos são publicados e passam a ser realizadas provas de carga modernas, diretas e sobre estacas; • O eng. Odair Grillo freqüentou, em 1936, um curso de Mecânica dos Solos, na Universidade de Harvard, atendendo a convite do prof. Arthur Casagrande ao IPT. Ao seu regresso é criada a seção de Mecânica dos Solos; • Em 1937, instala-se a seção de Geologia e Petrografia, que, desde seu início, dedicou-se a trabalhos de geologia aplicada à engenharia civil, incluindo serviços de geofísica (levantamento do embasamento cristalino para dragagem e canalização do rio Tietê), levantamento geológico da cidade de São Paulo, geologia aplicada ao traçado da primeira Adutora de Ribeirão das Lages, no Rio de Janeiro. Desta seção separou-se, em 1939, a Seção de Geologia Aplicada, com Milton Vargas eErnesto Pichler, seção esta que, posteriormente, se anexou à Seção de Solos e Fundações. ● Paralelamente, no Rio de Janeiro, a Divisão de Geologia e Sondagens da Prefeitura do então Distrito Federal fazia sondagens geológicas, em caráter sistemático, organizando um cadastro do subsolo do Rio e iniciando um levantamento do subsolo do centro da cidade. ● Em 1936, realiza-se o I Congresso Internacional de Mecânica dos Solos, na cidade de Boston, cujos Proceedings continham "mais conhecimentos de Mecânica dos Solos e suas aplicações do que em tudo que se publicara por mais de meio século, de 1850 ao fim da I Grande Guerra", como disse Terzaghi na ocasião. Este fato e uma série de livros textos que se seguiram não podiam deixar de produzir, como de fato produziram, uma marcante influência e um surto de desenvolvimento da nova especialidade. E no Brasil houve uma resposta quase que imediata. 3 – Primeiros laboratórios geotécnicos � Odair Grillo, ao criar a Seção de Mecânica dos Solos no IPT de São Paulo, montou o primeiro laboratório geotécnico do Brasil, em 1938. Passaram a ser feitos ensaios típicos de solos, os físicos e os mecânicos, e sondagens de reconhecimento do solo, bem como a extração de amostras indeformadas para ensaios. Houve um grande interesse em todo o País. � O segundo laboratório foi organizado por Mario Brandi Pereira, que viera estagiar no IPT, na então Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (IFOCS), em Curama, Paraíba. Vários outros laboratórios foram sendo criados, a seguir: Em 1941, o do DER de São Paulo; em 1942, o do INT – Instituto Nacional de Tecnologia, o da Estacas Franki, e o da Escola Técnica do Exército, estes três últimos no estado do Rio de Janeiro; em 1943, o do Ministério da Aeronáutica, o do Departamento Autônimo de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul e o da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos. Logo a seguir, vários outros: o do ITERS - Instituto Tecnológico do Rio Grande do Sul, o do ITEP – Instituto Tecnológico de Pernambuco, o da Universidade do Paraná, o do ITI – Instituto de Tecnologia de Minas Gerais. Em pouco tempo existiam laboratórios geotécnicos em muitos departamentos de estradas de rodagem e em escolas de engenharia. 4 – Primeiros cursos de Mecânica dos Solos � A divulgação da nova especialidade se iniciou por meio de cursos organizados para grupos de organizações, como os cursos para engenheiros rodoviários de estado de São Paulo, organizados pelo IPT e o DER-SP, em 1940 e 1941. Em 1942, Milton Vargas lecionou um curso, no IPT, para engenheiros e estagiários do Instituto. Em 1943, a companhia Estacas Franki Ltda. instituiu, no Rio e em São Paulo, bolsas de estudos de Mecânica dos Solos, para os quais Costa Nunes organizou e dirigiu um curso da especialidade. O curso, com aulas e trabalhos práticos despertou tanto interesse que a patrocinadora aceitou alunos adicionais, como ouvintes. � Em 1943-44, Odair Grillo realizou no Instituto de Engenharia de São Paulo um curso de 50 preleções e aulas práticas . Para se aquilatar o interesse despertado, basta dizer que nele se inscreveram 149 engenheiros. � O primeiro curso regular e autônomo da especialidade, fazendo parte do elenco de disciplinas universitárias, com duração de um ano, foi iniciado na Escola Politécnica de São Paulo e foi lecionado, deste ano até 1951, por Odair Grillo. Em seguida, a Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie organizou o seu, confiado a Raymundo d´Araújo Costa. Ainda em 1942, Grillo ministrou um curso de 30 aulas teóricas e mais as aulas práticas na Escola Técnica do Exército, no Rio de Janeiro, que foi assistido, no primeiro ano, por j50 alunos civis e 15 militares. � Estes cursos pioneiros foram rapidamente seguidos de outros nas diversas universidades nacionais, sendo comum o assunto ser tratado como parte de outras disciplinas, regidas por professores que se interessaram pela Mecânica dos Solos. Assim era o tema tratado nas diversas escolas: • Na Escola Nacional de Engenharia do Rio de Janeiro: disciplina de Materiais de Construção, com o prof. Rufino de Almeida Pizzaro; • Na Escola de Engenharia da Universidade do Paraná: disciplina de Estabilidade das Construções, com o prof. Samuel Chamecki; • Na Escola de Engenharia do Rio Grande do Sul: disciplina de Materiais de Construção, com o prof. Eládio Petrucci; • Na Escola de Engenharia de Minas Gerais: disciplina de Pontes e Grandes Estrutura, com o prof. Sílvio Barbosa; • Na Escola de Engenharia de Pernambuco: disciplina de Construções, com o prof. Pelópidas Silveira; • Na Escola Politécnica da Bahia; disciplina de Materiais de Construção, com o prof. Hernani Sávio Sobral. Com o tempo, a Mecânica dos Solos passou a ser disciplina independente e se tornou uma disciplina obrigatório dos cursos de Engenharia Civil. 5 - Consolidação da Mecânica dos Solos no Brasil Após as intensas atividades pelos pioneiros da Mecânica dos Solos no Brasil, descritas no três números anteriores deste Boletim, a geotecnia brasileira estava preparada para seus contactos com a comunidade internacional. Três fatos marcam esta atuação, no período de 1947 a 1949: as visitas de Terzaghi e de Casagrande, e a participação no II Congresso Internacional de Roterdã. Trabalhos de Terzaghi no Brasil Karl von Terzaghi (Praga, 2 de outubro de 1883 — Winchester, Massachusetts, Estados Unidos, 25 de outubro de 1963) foi um engenheiro austríaco reconhecido como o pai da Mecânica dos solos e da Engenharia Geotécnica. Desde o começo de sua carreira dedicou todos os seus esforços visando buscar um método racional que resolvesse os problemas relacionados com a engenharia de solos e fundações. A Coroação de seus esforços se deu em 1925 com a publicação de Erdbaumechanik, considerada hoje como o ponto de partida da mecânica dos solos como novo ramo da ciência na engenharia. De 1925 a 1929 trabalhou no Instituto Tecnológico de Massachusetts, onde iniciou o primeiro programa Norte americano sobre mecânica dos solos e com isso fez com que esta ciência se convertesse em uma matéria importante na Engenharia Civil. Em 1938 passou para a Universidade de Harvard onde desenvolveu e lecionou seu curso sobre geologia aplicada à engenharia, aposentando- se com professor em 1953 com 70 anos de idade. Nacionalizou-se Norte Americano em 1943 Seu livro Soil Mechanics in Engineering Practice, escrito em parceria com Ralph B. Peck, é de consulta obrigatória para os profissionais da engenharia geotécnica. Ele é considerado um dos melhores engenheiros civis do século XX. Terzaghi veio ao Brasil, pela primeira vez, em abril de 1947, trazido pela Light que, na ocasião, enfrentava série ameaça à sua usina de Cubatão pela instabilidade sob a forma de rastejo de um talude da Serra do Mar formado por material detrítico. Terzaghi solucionou o problema através de um engenhoso sistema de drenagem de toda a massa instável. Para chegar a esta solução estudou a geologia de nossa cadeia sul-atlântica, suas rochas e os produtos de suas alterações, entrando em contacto com os nossos solos residuais. Relatos deste trabalho foram apresentados à comunidade internacional. Ainda no mesmo ano, em outubro, Terzaghi retornou ao Brasil. Trazido pelo IPT como consultor para os problemas geotécnicos do metrô de São Paulo, que a Prefeitura estudava na ocasião. Deste trabalho, baseado nos conhecimentos adquiridos pelos técnicos nacionais com os túneis da nove de julho e Maringuinho, Terzaghi apresentou relatório recomendando ensaios e observações em um trecho experimental. O metrô de São Paulo, entretanto, como sabemos, só foi retomado 20 anos depois. Durante esta estadia no Brasil, Terzaghi lecionou na Escola Politécnica de São Paulo, um curso de Geologia Aplicada, assistidopor cerca de 300 pessoas, no qual tratou de assuntos especiais como intemperismo e alteração de rochas, geologia dos escorregamentos de terra, geologia e hidráulica de fundações permeáveis de barragens e geologia de túneis. Terzaghi voltou a ter contacto com os solos residuais brasileiros em mais cinco viagens ao Brasil de 1948 a 1951, todas a serviço do Grupo Light. Além de consultoria em estabilidade de encostas, o que notabilizou o seu trabalho nesta fase foram os projetos do dique e da barragem de Vigário, que introduziram no país as barragens de terra de secção homogênea, com filtro ou cortina vertical de areia. No III Congresso Internacional de Zurique, em 1953, Terzaghi em três ocasiões diferentes referiu-se a essas barragens e na sua conferência “Fifty Years of Subsoil Exploration” mencionou os processos de campo de investigação de solos residuais usados no Brasil, citando nominalmente o IPT. Já no II Congresso Internacional de Mecânica dos Solos, que contou com uma delegação de 11 brasileiros, que apresentaram 6 trabalhos, Terzaghi em seu discurso de abertura, referindo-se aos solos residuais brasileiros disse que os nossos técnicos estavam em condições de pesquisar e experimentar nas construções tal tipo de solo, em proveito da técnica universal. No discurso de encerramento, Terzaghi voltou a referir-se aos engenheiros brasileiros dizendo que lhes cabia a grande missão de investigar e descobrir as intrincadas propriedades dos solos residuais, que ocorriam no Brasil em escala muito maior do que em outros países onde se praticava a Mecânica dos Solos. Casagrande e os solos brasileiros Arthur Casagrande (Haidenschaft, 28 de Agosto de 1902 — Boston, 6 de Setembro de 1981) foi um engenheiro civil austro-estadunidense. Filho de portugueses, foi considerado um dos fundadores da engenharia geotécnica e o grande mentor da Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (antiga International Society for Soil Mechanics and Foundation Engineering atual International Society for Soil Mechanics and Geotechnical Engineering). O primeiro congresso internacional de Mecânica dos Solos ocorreu, por sua iniciativa, em Harvard,em 1936, com 206 participantes vindo de 20 países. À época poucos acreditavam na iniciativa de Casagrande pois não percebiam as necessidades do surgimento dessa nova área de conhecimento. Karl Terzaghi foi o primeiro Presidente da ISSMGE de 1936 a 1951. Casagrande criou o Sistema Unificado de classificação de solos (SUCS) na década de 1930 e, posteriormente, ele o adaptou para construção de aeroportos num esforço de guerra, quando deu um curso para as forças armadas norte-americanas que desejam um sistema simples, prático e de fácil uso para construção de aeroportos no seus esforços de guerra, por esse motivo esse sistema de classificação é também conhecido como sistema de aeroportos. Padronizou alguns ensaios de solos efetuados por Atterberg e para isso criou o aparelho para ensaio de determinação de limite de liquidez em solos que leva o seu nome. Efetuou estudos em praticamente todas as áreas da mecânica dos solos destacando-se classificação dos solos, percolação e liquefação do solo estudos de barragens e vários outros. Os solos moles existentes no nosso País, embora não tão típicos como os solos residuais, não deixavam de suscitar sérios problemas geotécnicos, quer no campo rodoviário, quer no das fundações. Já em 1942, cinco grandes tanques de óleo, construídos no porto de Santos, tinham os seus recalques observados e o estudo das fundações de um deles foi o tema do trabalho de Costa Nunes ao II Congresso Internacional. No campo rodoviário, o DER-SP iniciou em 1942 a construção da via Anchieta e o DNER em 1948 decidiu construir a chamada Variante Rio-Petrópolis. No Sul, os solos compressíveis da atual BR-101 eram estudados pelo ITERS. Nestas rodovias, ocorriam problemas de projeto dos aterros sobre solos moles, principalmente a estabilidade dos aterros de acesso a pontes e viadutos. O IPT de São Paulo acompanhava a evolução de tais problemas na região Sudeste. Milton Vargas, chefe da secção de Solos do IPT, apresentou, No II Simpósio de Solos do Rio de Janeiro, "A Teoria dos Drenos Verticais de Areia", e Pacheco Silva, do IPT, que vinha fazendo estudos geotécnicos e observações de campo em trechos experimentais na Variante Rio-Petrópolis, apresentou palestra sobre o assunto, que mereceu posterior trabalho publicado com medidas de recalques e sobre-pressões hidrostáticas nas fundações de aterros, incluindo trechos com drenos verticais. Este quadro técnico ensejou o convite a Arthur Casagrande para visitar o Brasil, onde atuou como consulto de pesquisas do IPT e consultor do DNER e do DER-SP para os problemas apontados. Casagrande veio em 1949, visitou várias obras, fez palestras no Rio de Janeiro e em São Paulo e fez reuniões com especialistas para debate de temas geotécnicos. Na parte de consultoria merece registro especial a referente às fundações da ponte do Casqueiro na Via Anchieta, tendo recomendado estacas metálicas devido à espessa camada de argila, e a aspectos especiais sobre os aterros de acesso. Na parte geral de pesquisas do IPT, deu orientação nas seguintes direções: 1) correlações estatísticas; 2) estudo da variação das propriedades geotécnicas com a profundidade; 3) estudos geológicos sobre a formação dos solos moles; 4) observação de recalques de aterros e estruturas, medidas de pressões neutras e estudo para deslocamento, por meio de explosivos, dos terrenos moles de fundação de aterros. Apesar de todos esses estudos e cuidados, inclusive do DNER no obra da Variante, parece que por ironia da sorte, cerca de um mês depois (setembro de 1949), ruiu a ponte sobre o rio Iguaçu na Baixada Fluminense. Seu tabuleiro caiu n’água quando uma fila de tubulões de apoio foi deslocada pelo empuxo em forma de "onda", de cerca de 12 m de solo mole. Este rompeu sob o peso de aterro de aproximação, por um desses desencontros, infelizmente ainda tão comuns, entre estudo e projeto de um lado e construção de outro lado. ___________________________ Referências Ferraz Nápoles A.D. (1970) Historia da Mecânica dos Solos no Brasil. IV Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações, Vol. II Tomo I, pp. 169-215, Guanabara, 1970. http://pt.wikipedia.org/
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