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FICHAMENTO DO LIVRO ‘SOBRE O AUTORITARISMO BRASILEIRO’ - LILIA MORITZ SCHWARCZ
Francisco Adílio de Sousa
R.A: 8478736
SÃO PAULO/2019
Schwarcz, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. 1º Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
INTRODUÇÃO
A autora inicia sua obra com uma frase marcante e enfatizando, "História não é bula de remédio" (p. 11), assim, a História não deve ser somente pensada a partir da velha ideia de 'Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro.' 
Pretendendo dar uma visão geral sobre vários temas que ajudam a explicar a perpetuidade de práticas autoritárias no Brasil, a antropóloga, historiadora e biógrafa Lilia Moritz Schwarcz desmistifica as mitologias nacionais, que envolvem o país ser acolhedor e tolerante.
Uma breve síntese sobre o processo de formação de um história oficial brasileira que mantém uma série de mitos fundadores, mitologias, teses de senso comum, os quais servem para escamotear a desigualdade e práticas autoritárias no interior da sociedade brasileira. Formada por quase metade dos africanos escravizados no período de monarquia, o Brasil teve sua independência um pouco tardia e consequentemente se tornou um país "(...) jovem em matéria de vida institucional regular." (p.12). Em termos institucionais, a independência trouxe um objetivo claro dentre outros, o de " (...) inventar uma nova história para o Brasil, uma vez que a nossa era, ainda, basicamente portuguesa." (p.13).
"Tratava-se de inventar uma nova história do e para o Brasil" ( p. 13).
"Nem por isso o Império abriu mão de selecionar um projeto que fazia as pazes com o passado e com o presente do Brasil, e que, em lugar de introduzir dados históricos, que mostrariam a crueldade do cotidiano vigente no país, apresentou um nação cuja "felicidade" era medida pela capacidade de vincular diversas nações e culturas, acomodando-as de forma unívoca (homegeneizando-as) (p. 15). Além desse aspecto o IHGB, fundado em 1838 tratou em seu primeiro concurso, dar voz ao início da ideia de três raças formadoras da nação, claro, sempre e mais preponderante os colonos brancos europeus. A tese da "democracia racial" teve seu ponto de partida a partir da fala de Karl von Martius e "(...) vários autores repetiriam, com pequenas variações, o mesmo argumento. Sílvio Romero (1882), Oliveira Viana (1932), Artur Ramos (1932) e Gilberto Freyre (1933)." (p. 16). " A metáfora das três raças definiria, por um largo tempo, a essência e a plataforma do que significava fazer uma história do e para o Brasil." (p. 19).
"Toda nação constrói para si alguns mitos básicos, que têm, em seu conjunto, a capacidade de produzir nos cidadãos o sentimento de pertencer a uma comunidade única, a qual permaneceria para sempre inalterada (...) O certo é que, quando viram mitologia, esses discursos perdem sua capacidade crítica para serem lidos apenas de uma maneira." (p. 20). 
"Criar um passado mítico, perdido no tempo, repleto de harmonia, mas também construído na base da naturalização de estruturas de mando e obediência. (...) Esse tipo de modelo funciona como argamassa para as várias ' teorias do senso comum'.
1º O Brasil é um país harmônico e pacífico;
2º O brasileiro é avesso à uma hierarquia em suas relações sociais;
3º Não há um práticas frequentes de ódio racial de religião e gênero no Brasil;
4º Nossa natureza é esplêndida e maravilhosa que nos proporciona morar num 'paraíso'.
Schwarcz desconstrói três das premissas ou pressupostos que rodeiam o dia a dia do brasileiro a partir de uma explicação com bases históricas: o Brasil não foi e não é pacífico em razão de ser um país que teve por séculos uma escravidão bárbara e horrenda. Também não há harmonia em um país em que é ainda campeão em desigualdade social, racial e gênero. Além da falsa fala da falta de hierarquia nas relações sociais dos brasileiros, já que advinda de uma colônia de exploração, o monopólio econômico e político que se instalou e se manteve até a Primeira República, a prática do mandonismo e da violência não deixou uma igualdade se estabelecer nas relações.
Mitos enunciados pela autora funcionam como exemplos para a formação de ideias autoritárias no país.
CAPÍTULO 1 - ESCRAVIDÃO E RACISMO
O autoritarismo não é um fenômeno contemporâneo. Tem suas raízes em um passado escravocrata, e é dessa premissa e característica que a autora faz suas explanações sobre a presença do autoritarismo travestido de várias outras formas. Durante mais de trezentos anos, a escravidão se espraiou no Brasil e foi bem mais do que um sistema econômico.
"Ela moldou condutas, definiu desigualdades sociais, fez de raça e cor marcadores de diferença fundamentais, ordenou etiquetas de mando e obediência, e criou uma sociedade condicionada pelo paternalismo e por uma hierarquia muito estrita." (p. 27).
"Um sistema como esse só poderia originar uma sociedade violenta e consolidar uma desigualdade estrutural no país." (p. 29).
"O sistema acabou tarde e de maneira conservadora. (...) também não previu nenhuma forma de integração das populações recém-libertas, inaugurando um período chamado de pós-emancipação (...). " (p. 30).
"Essas são histórias que ficam encravadas nas práticas, costumes e crenças sociais, produzindo novas formas de racismo e de estratificação. Os números da desigualdade tem cara e cor no Brasil". (p. 32). Inúmeros dados são apresentados para comprovar a intensa exclusão social e de homicídios de homens negros, principalmente de jovens, o que faz a autora comparar a um genocídio de negros e com guerras civís como da Síria e Afeganistão.
"E, se de um lado essa mescla (África e Brasil) gerou uma sociedade definida por ritmos, artes, aromas, culinárias, esportes misturados, de outro produziu uma nação que naturaliza a desigualdade racial, na figura de empregadas domésticas, dos trabalhadores manuais, da ausência de negros nos ambientes corporativos e empresariais, nos teatros, nas salas de concerto, nos clubes e nas áreas sociais." (p. 35).
Parte-se para uma explicação das iniciativas de grupos negros para conquistar igualdade e inclusão. Movimentos se organizaram e foram atuantes durantes vários governos, conquistando direitos importantes para uma maior igualdade.
"Na sequência de tais iniciativas, as cotas raciais entraram na realidade dos brasileiros e do ensino superior." (p. 37). "Dois outros importantes avanços na formação da 'imaginação' dos brasileiros --- reconhecimento de Zumbi dos Palmares como herói nacional, inaugurando uma nova descendência de protagonistas brasileiros negros --- alterada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, introduzindo no currículo oficial o ensino obrigatório de 'História e Cultura Afro-Brasileira e Africana'." (p. 38).
Ainda assim, mesmo com avanços sociais o racismo ainda persiste silenciosamente no seio da sociedade. Governos autoritários e com viés mascarador da realidade não tornam naturais as marginalizações de minorias que lutam por direitos. O desprezo por dados e informações sobre características da nossa sociedade faz parte de governos que não se importam em valorizar um igualdade e democracia plena, em que o racismo não terá força. O racismo ainda se faz presente, as vezes não como antigamente, mas como a autora cita, ‘perversamente no silêncio’. Um racismo que no dia a dia se apresenta em um senso comum, de naturalidade de hierarquia de mando e uma divisão de deveres, assim como, de direitos, estes muito mais negado aos negros. Uma discrimação racial é sentida em várias áreas.
CAPÍTULO 2 - MANDONISMO
"Estamos acostumados a desfazer da imensa desigualdade existente no país e a transformar, sem muita dificuldade, um cotidiano condicionado por grandes poderes centralizados nas figuras dos senhores de terra em provas derradeiras de um passado aristocrático" (p. 19 - Introdução).
"A metrópole portuguesa, na impossibilidade de povoar tão vasto território, optou por governar seu domínio americano delegando poderes a uma séries de colonos, que se transformaramem senhores de extensos domínios." (p. 41).
"Uma nobreza peculiar que espelhava a europeia. O que definia a nobreza no Brasil era o que ela não fazia: dedicar-se ao trabalho braçal, cuidar de um estabelecimento, atuar como artesão, arar a terra, carregar pesos, vender produtos (...)" (p. 44) 
Daí a formação de uma sociedade patriarcal. Cujo significado o historiador Sergio Buarque de Holanda em 1936 nos oferece como sendo uma "(...) organização compacta, única e intransferível onde prevalecem necessariamente as preferências fundadas em laços afetivos, que não podia deixar de marcar nossa sociedade, nossa vida pública, todas as nossa ativiadades. (...) A família patriarcal fornece, assim, o grande modelo por onde se hão de calcar, na vida política, as relações entre governantes e governados, entre monarcas e súditos. ( p. 96/100. Raízes do Brasil, 27a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.) Uma sociedade marcada portando por um espírito autoritário, na figura de um "mandão" e dono do poder político e principalmente, do poder da violência.
" Tal tipo de postura de mando não se alteraria demais na época de outra aristocracia da terra, agora localizada na Região Sudeste --- com base na cultura do café que predominou no Brasil desde a segunda metade do século XIX." (p. 46).
"A força e a influência de um senhor de terra podiam ser medidas a partir de sua renda, da quantidade de escravizados que possuía a partir de sua renda, da quantidade de escravizados, mas também por rituais que reforçavam o poder local." (p. 47).
Desigualdade de propriedades rurais, investimento, tecnologia e no gênero dos trabalhadores se verifica ainda hoje no país. Se perpetua o controle de boa parte da terra produtiva no Brasil por grandes nomes e famílias. Estes também se mantém um acúmulo de poder, haja vista as famílias mais conhecidas por estarem se candidatando a cargos políticos por décadas. Sarney, Gomes, Caiado, Bulhões, Calheiros entre tantas outras pode ser classificados como oligarquias em pleno governo democrático moderno.
"A manutenção das hierarquias é outra bandeira conservadora, mas que sempre teve o poder de continuar a eleger vários políticos espalhados pelas diversas instituições representativas nacionais." (p. 61).
A autora fala de uma continuidade de uma raíz autoritária, na figura do "pater familias: autoritário e severo diante daqueles que se rebelam; justo e 'próximo para quem o segue e compartilha das suas ideias." (p. 63). Um novo modelo ou fenômeno de líder carismático se criou a partir da difusão intensa das mídias sociais. Uma nova forma de fazer política e de governabilidade aparece atualmente em nomes que se aproveitam de problemas estruturais da sociedade para se tornarem "salvadores da pátria", se configurando, porém como um autoritário, que prega ódio e intolerância à minorias e a quem não pensa igualmente. O mandonismo, portanto, se perpetua em novas linguagens, travestidos, as vezes com diferentes propriedades, mas que mantém o autoritarismo ativo. 
CAPÍTULO 3 - PATRIMONIALISMO
Tipo de organização política em que as relações subordinativas são determinadas por dependência econômica e por sentimentos tradicionais de lealdade e respeito dos governados pelo governante, que exerce um poder formalmente arbitrário, assentado na sua autoridade pessoal. ( definição do dicionário Michaelis). O patrimonialismo serve para descrever a ideia do uso privado do bem comum ou das questões públicas. Conceito criado pelo sociólogo Max Weber para se referir a formas de dominação que se diferenciavam das características de um Estado moderno, racional e que não deveriam se tornar um braço usado pelo privado.
"Patrimonialismo passou a designar, então, a utilização de interesses pessoais destituídos de ética ou moral, por meio de mecanismos públicos." (p. 65/66).
“No caso brasileiro, não foram poucos os autores que lidaram com o conceito de patrimonialismo ao resumir práticas políticas reincidentes no país. --- no livro Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda chamou de ‘cordialidade’. (...) serve para definir a maneira como os brasileiros usam o afeto em vez de se aplicarem no exercício da razão.” (p. 66). “Raymundo Faoro, em Os donos do poder: Formação do patronato político brasileiro (1958), explorou o termo recuando ao contexto do século XVI. Investiu, pois, na análise de nossa formação colonial (...) aristocracia rural que personalizava a lei e as próprias instituições da terra, e não tinha prurido algum em governar seus domínios dos dividendos do próprio quintal. (...) Já Roberto DaMatta, em seu livro Carnavais, malandros e heróis, de 1979, propôs uma nova interpretação do Brasil a partir da famosa expressão: ‘Você sabe com que está falando?’, a frase lembraria a maneira como por aqui se aplica, e com rigor, a norma privada na manutenção da hierarquia social e das práticas nepotistas no interior do Estado.” (p. 67). 
“ O certo é que o conceito continua operante no Brasil, onde a prática política é ainda muito afeita à mistura entre afetos públicos e privados. Essa contaminação de esferas leva, por sua vez, ao fortalecimento dos pequenos e grandes poderes pessoais, ampliando as possibilidades de suas ações nas esferas do Estado. A persistência dos mandonismos locais acaba por produzir outra espécie de patrimonialismo, quando interesses privados passam a afetar diretamente a lógica pública.” (p. 68).
A autora continua uma explicação sobre o passado colonial brasileiro, citando autores como Caio Prado Junior que abordam um ‘nascimento’ do patrimonialismo em estudos políticos. Em Evolução política do Brasil e outros estudos, Schwarcz argumenta que o autor explicou que a interferência da Coroa Portuguesa na sua colônia americana era muito pequena, daí a autoridade também política naturalmente exercida pelos proprietários de terra, através das câmaras municipais. Além desses senhores de engenho, as autoridades portuguesas também mantinham práticas patrimonialistas, já que se mantinham de maneira muito próxima com os latifúndios, contanto que não aumentassem a intervenção pública. 
Durante o processo de evolução do Brasil de colônia para metrópole, com a vinda da família real em 1808, a política do patrimonialismo se inchou com uma enorme quantidade de funcionários e militares. “Ficou famosa, nesse sentido , a prática de utilizar as propriedades privadas existentes no Rio de Janeiro para acomodar os novos fidalgos da corte.” (p. 72). 
Após a Independência e com a formação de um Estado nacional é que se começou a constituição de instituições mais autônomas, não ligadas ao passado colonial português. Contudo, a prática do patrimonialismo se manteve vivíssima. Um estado que se via manipulado pelos interesses rurais e vice-versa. “Os senhores de terra acumulando as funções públicas, privadas e muitos títulos.” (p. 74). “Formalizava-se dessa maneira o nascimento de uma nobreza que surgia umbilicamente vinculada ao imperador, uma vez que apenas ele tinha o direito de conceder tal tipo de benesse (títulos, honras, ordens militares, e distinções em recompensa dos serviços feitos ao Estado). (p. 75). --- “Essa era, de fato, um modelo que privilegiava as mercês e dádivas pessoas com barganhas e indulgências públicas.” (p. 78).
“Com a chegada da República, o fortalecimento de setores urbanos, a diversificação dos grupos de reivindicação e o funcionamento mais regular das instituições públicas, esse tipo de expediente poderia até ser superado. --- práticas patrimonialistas continuaram a residir no seio do Estado.” (p. 80) “Durante a Primeira República expandiu-se o fenômeno conhecido como ‘voto de cabresto’. (p. 81). 
“Era difícil mostrar autonomia nessa terra de favor e dos constrangimentos privados e públicos (...) continuava forte o complicado jogo das relações pessoais, contraprestações e deveres: chave do personalismo e do próprio clientelismo.” (p. 82).
Após as Constituições de 1934 e de 1988 é que o uso privado da máquina pública seria limitado. O aumento do poder do governo federal, criação daJustiça do Trabalho e Eleitoral tornaram um natural uso privado das instituições públicas mais difíceis. 
“Ainda assim, o legado do poder privado sobrevive dentro da máquina governamental.” (p. 82). Inúmeras famílias se mantém em cargos políticos. Ascendência familiar e seu vínculo na política é mais comum do que pensamos ser. Uma prática do patrimonialismo que provem de continuidades do passado. Dinastias que se mantém no poder na base do dinheiro, poder e barganha. Cargos públicos são vistos por por essas famílias ‘oligárquicas’ como propriedade privada, sua ou de sua família.
“Essa é uma forma autoritária e personalista de lidar com o Estado, como se ele não passasse de uma generosa família, cujo guia é um grande pai, que detém o controle da lei, é bondoso com seus aliados, mas severo com seus oponentes, os quais são entendidos como ‘inimigos”.
CAPÍTULO 4 - CORRUPÇÃO
“O segundo principal adversário atende pelo nome de corrupção --- prática que degrada a confiança que temos uns nos outros e desagrega o espaço público, desviando recursos e direitos dos cidadãos.” (p. 88).
“O ‘corruptor’ é aquele que propõe uma ação ilegal para benefício próprio, de amigos ou familiares, e pratica o ato consciente de que está infringindo a lei. Já o ‘corrupto’ é aquele que aceita a execução ilegal em troca de dinheiro, presentes ou outros serviços que o beneficiem pessoalmente. A figura do ‘conivente’ é o sujeito que toma conhecimento do ato de corrupção mas nada faz no sentido de evitá-lo.” (p. 90).
A corrupção é um mal grave que tomando qual forma for, o estragos que ela leva se estendem para fora do espaço privado. O bem comum é utilizado para o benefício de um grupo pequeno enquanto uma população fica sem recursos para direitos básicos, como a saúde, segurança e educação. Explicando que práticas de corrompimento de moral e ética se manifestam em qualquer período histórico e sociedade, Schwarcz aborda os tempos do Brasil colônia.
“Corrupção, favorecimento ou patrimonialismo, o recado de Caminha oscila na sua definição mas com certeza indica o uso de vantagens privadas a partir de entrada privilegiada no espaço público.” (p. 91).
Uso indevido de recursos financeiros para um ‘bem’ público, enriquecimento ilícito, gratificação de pessoas de maneira incorreta ao prestar um serviço, o ‘jeitinho’ brasileiro, todos sinônimos para práticas corruptas que desde as primeiras tentativas de colonização do território do Novo Mundo, já acontecia aos montes. A autora lista algumas das ‘causas’ para a difusão da corrupção em terras brasileiras desde os tempos coloniais.
1º A distância da administração lusitana;
2º A colônia ter sido entendida como área de enriquecimento, conveniente para prosperidade de oportunidades;
3º O Brasil ter sido um país escravocrata, cujo ato tendia a ter características de uma diminuição da “dose de escrúpulo moral em relação ao outro”. O tráfico de escravos era feito diretamente entre proprietários e traficantes, sem a vigilância do Estado português.
4º E por último, a impunidade e a falta de mecanismos repressores de práticas corruptas e corruptivas. “O contrabando foi, de longe, a prática ilícita mais regular no Brasil colonial.” (p. 94).
Além destes fatos facilitadores para a prática, a circunstância do Brasil ter sido uma colônia de exploração ajuda a entender as formas que os primeiros brasileiros criavam para tentar trapacear a mínima inteferência da coroa portuguesa. 
Como de costume e bem explicado durante o livro todo, a prática, não apenas da corrupção, mas como de várias formas de autoritarismo, ganhou exemplares durante os períodos políticos que se sucederam, Império e República. Vale, porém um ressalvo, o termo “corrupção” não era comumente expresso ou usado, assim, entende-se que as práticas que, mesmo que com as características nocivas em qualquer período histórico, devem ser entendidas e contextualizadas a rigor de seu sistema político e seus costumes, práticas, rituais etc.
“A nossa moderna noção de corrupção está vinculada a um tipo de Estado cuja lógica advém da ideia de igualdade de direitos; modelo que não fazia parte das concepções de um governo que nunca abriu mão do Poder Moderador(...)” (p. 97).
“Durante o Império e também no decorrer da Primeira República (1889-1930) falava-se em corrupção referindo-se a governos e não a indivíduos.” (p. 103-104).
“Enfim, os exemplos são muitos e variados.	Não obstante, no seu conjunto, mostram como a prática é antiga e enraizada entre nós, mesmo que o termo carregue certa ambiguidade e fluidez. Trata-se sempre de casos de ‘transgressão à lei’, seja por parte da classe política, de seus representantes máximos ou de cidadãos.” (p. 114).
Há, contudo, a citação de casos de ruptura com a prática. Ao menos uma maior fiscalização e punição aos corruptos e corruptores. Vários casos estão e foram investigados principalmente pela Polícia Federal. Esquemas fraudulentos que contam com participação de empresas privadas, políticos e até governos inteiros envolvidos em corrupção (campanhas políticas).
“A corrupção se espalha quando há um ambiente a ela favorável, e é essa mentalidade que será preciso combater”. (p. 123). Trata-se de uma das formas que a autora cita para fatos desse tipo não ocorram.	Saídas são para Schwarcz não associadas a discursos que apenas prometem melhoras ou humilhação pública. O estado democrático e republicano precisa ser unido em prol de um combate à corrupção que não se relacione a um moralismo. “Sem planos de fato eficientes e comprometidos, acabam caindo, eles próprios, no canto da sereia da contravenção.” (p. 124).
CAPÍTULO 5 - DESIGUALDADE SOCIAL
No Brasil a desigualdade se faz presente em quase todas as instâncias. Econômica e de renda, racial, de gênero, de oportunidades e, principalmente social. Um país injusto devido a um passado que teve como primazia a escravidão, uma distribuição de terras muito desigual e práticas de corrupção e patrimonialistas. A concentração de riquezas, portanto, nas mãos de um grupo seleto da elite gerou uma sociedade muito desigual. 
Inúmeros são os fatores que causam esse abismo entre “ricos” e “pobres”, mas Schwarcz lista como o mais preponderante a educação. Daí, vem a explicação desse capítulo inteiro a partir dessa vertente.
“Educação nunca foi um direito de todos neste país de proporções continentais, passado escravocrata e estruturada em concentração de renda.” (p. 133).
“De outra parte, as crianças pobre, negras, escravizadas ou libertas, eram encaminhadas diretamente para o trabalho. Esses eram mundos desagregados e que previam inserções distintas para pobres, negros e mulheres.” (p. 136) Período de 1870.
“Mesmo considerando o êxito do Senai e do Senac, é forçoso reconhecer como, por meio deles, se deu a manutenção e fortalecimento do sistema dual de ensino(...)” (p. 139) Período de 1942-1946.
“Foram mobilizados muito mais recursos na construção da nova capital, Brasília, do que na educação, com um contingente enorme de crianças permanecendo fora da escola.” (p. 142).
“O Brasil sempre manteve a maior taxa de anafalbetismo dentre os países latino-americanos.” (p. 144).
“Avanços consideráveis nos últimos anos, quando os gastos públicos com educação relativamente foram bastante superiores às nossa médias históricas e mais semelhantes às médias de nações desenvolvidas. (...) Mesmo assim, é forçoso reconhecer que, após uma longa história de negligência com a educação, ainda sofremos com o anafalbetismo, a evasão escolar, e com a grande distorção idade-série que muitas vezes distancia as escolas da realidade dos jovens.” (p. 147).
“O déficit educacional é histórico e estrutural por aqui, e continua sendo um dos elementos que mais reproduzem e fazem crescer os gaps sociais no país.” (p. 150)
CAPÍTULO 6 - VIOLÊNCIA
De todas as forma de um autoritarismo presente e resistente no dia a dia da do povo brasileiro, a violência é a que mais sentimos presente. Denúncias de padrão de continuidade do ritmo da violência que ocorre no Brasil estão apresentadas pelo livrode Schwarcz. Taxas de homicídios terrivelmente altas, roubos, furtos estão no cotidiano do ambiente urbano. No campo não é diferente, sendo sensivelmente mais sinalizada o número elevado de assassinatos por lutas por propriedades. Lilia Schwarcz tece algumas críticas acerca de uma proposta para uma diminuição da violência atual, a facilitação do armamento para os civil. Critica a demagogia e o aparecimento de políticos que em momentos de crise, apenas apelam para o sentimento de insegurança da população e prometem respostas que não aparecem do dia para noite. Mais uma vez, o passado escravocrata serve para explicar os índices de violência no Brasil. Um verdadeiro aparelho montado com características muito opressoras e repressoras.
“O que esse tipo de argumento não avalia, porém, é que a escalada das armas, embora possa resolver problemas internos, pode provocar ainda mais violência.”. (p.156)
“O crescimento da criminalidade, letal ou não letal, tem gerado o aumento da sensação de impunidade entre os brasileiros que vivem nas cidades. Também explica, em parte, a guiada autoritária que o país vem conhecendo nestes últimos anos.” (p.160).
“O certo é que, ao longo da história nacional, os povos indígenas foram dizimados pela violência dos colonizadores brancos, expulsos de suas terras e mortos por moléstias que lhes eram estranhas, além de serem expostos a práticas que pretendiam impor sua invisibilidade.” (p. 162).
Invasões de terras indígenas, cheias de recursos naturais é algo normal e registrada em váris pesquisas. Levando, certamente a assassinatos de indígenas, uma indústria do agronegócio e mineração é marcada como a mais letal também para ativistas e defensores do meio ambiente.
“O tema anda particularmente presente nos últimos anos, em que políticos e setores do agronegócio põem em questão o direito dos indígenas a suas reservas e atualizam argumentos do passado.” (p. 169).
“Mesmo assim, e a despeito de tantos argumentos e proteções legais, a demarcação das terras indígenas continua sendo uma questão crônica no Brasil, particularmente aguda neste nosso momento de afetos e ódios polarizados. Problemas bastante semelhantes enfrentam os territórios de remanescente de quilombos, que remontam ao período colonial mas permanecem ainda muito distantes das políticas públicas, tornando-se alvo para todo tipo de conflito.” (p. 172).
“(...) quanto mais conservadores são os regimes políticos, maior é a tendência que tem de desconhecer as histórias das minorias nacionais, transformando-as em ‘estrangeiros em sua própria terra’ e assim anulando, sistematicamente, seus direitos.” (p. 173)
CAPÍTULO 7 - RAÇA E GÊNERO
Capítulo escrito para marcar outro sinônimo de hierarquia, está sinalizada a partir do uso de categorias de raça e gênero e que hoje em dia é utilizada para funções negativas e pejorativas, levando a preconceitos raciais, violência de todo tipo, mas principalmente ao feminicídio, homofobia e misoginia. Práticas inúmeras vezes silenciadas ao longo de nossa história, e atualmente, não é diferente, haja vista, o silenciamento de uma cultura do estupro. 
A discriminação racial é o primeiro dos aspectos abordado pela autora. Populações afro-brasileiras são vítimas de uma exclusão na sociedade. “Por exemplo, negros e negras sofrem com enormes disparidades salariais no mercado de trabalho.” (p. 175). Várias pesquisas indicam que a violência à população negra é muito mais sentida. Jovens negros vivem menos, estudam menos e são segregados naturalmente por uma sociedade feita por marcadores sociais. “A população jovem e negra foi, portanto, historicamente a mais dizimada.”( p. 177). Práticas sociais de exclusão que são naturalizadas pelo cotidiano da população. A autora nos explica que mesmo após o fim da escravidão, políticas públicas não foram criadas verdadeiramente para apagar uma perpetuação da exclusão social. Um falsa sensação ou definição da população como não sendo racista, o que acontece é um racismo mascarada ou ‘dissimulado’. “Cuja prática inclui o ato de delegar à polícia o papel de performar a discriminação.” (p. 178).
Feminicídio
“Mulheres correspondem a 89% das vítimas de violência sexual no Brasil.” (p. 184). Várias pesquisa confirma haver uma vergonhosa prevalência de violência contra mulheres, sendo que boa parte dos crimes ocorrem no ambiente doméstico e são amparados pela conivência familiar.” (p. 185).
“A violência de gênero representa, dessa maneira, não só uma relação de dominação e poder do homem como o esforço de submissão da mulher.” (p. 195)
“Continuam volumosas as subnotificações por parte das mulheres feridas e abusadas mas também por parte da família ou de amigos das vítimas, assim como muitos crimes permanecem encobertos e seu julgamento, postergado.” (p. 196)
“A misoginia se manifesta de muitas formas, que vão desde a exclusão social até a violência de gênero. (...) carrega até a atualidade, a certeza do privilégio masculino, a banalização da violência contra a mulher e a tentativa de objetificação sexual.” (p. 186). “A misoginia é, aliás, a principal responsável por grande parte dos feminicídios no Brasil (...) agressão física, moral e psicológica a mutilações, abuso sexual, tortura e perseguição.” (p. 197)
Violência contra pessoas LGBTTQ
“Outra maneira de aferir o preconceito e o processo de exclusivismos corrente é a inexistência de uma política pública específica para a verificação desse crime. (...) São poucos os dados públicos ou fontes confiáveis, tanto em âmbito nacional quanto estadual, sobre violência homofóbica. (...) Apenas essa evidência é um dado importante para a confirmação do silêncio que ronda a violência perpetrada contra esses grupos.” (p. 199)
“O que parece imperar, portanto, é um grande desdém para com as lutas e reivindicações do grupo LGBTTQ, que no momento não possui um espaço institucional determinado no governo federal.” (p. 204). “Educação, proteção, inclusão e autonomia são as únicas diretrizes que podem garantir que essas parcelas da população, e esses novos atores políticos, deixem de ser alvo de ataques e se transformem em cidadãos com direitos plenos.” (p. 205)
Assim, se mostra uma tremenda onda de violência que atinge primariamente as mulheres e pessoas do grupo lgbttq. Remontando-se a um passado patriarcalista e machista em certo sentido, um desequilíbrio de poderes é sentido ainda hoje. Normas, condutas e uma cultura construída em cima do ‘pater famílias’ e da submissão da mulher produziu uma sociedade brasileira que vê dia a dia a existência de números terríveis de assassinatos por misoginia e violência sexual, apontando até para uma ‘cultura do estupro’. Estereótipos e visões preconceituosas são fenômenos comuns na sociedade atual que alimentam uma violência contra as mulheres e pessoas lgbt. Papeis na família, trabalho, ou em qualquer outro espaço social não são totalmente igualitários em relação ao gênero, sempre o papel masculino se sobressaindo e sendo supervalorizado.
CAPÍTULO 8 - INTOLERÂNCIA
A sociedade ‘cordial’ apresentada e criticada por Sérgio Buarque de Holanda é a que se esconde em detrimento de uma inclusão, fora de hierarquias e de uma boa civilidade. A sociedade brasileira se mostra de uma maneira mas no fundo, apresenta caracteres de uma de oposição e intolerância a gêneros, religiosidade, raça, classe social etc. Nos declaramos pacíficos e democráticos por excelência, porém Schwarcz escreve que vivemos em uma ‘lógica de ódios e afetos’, indicando um novo elemento acerca da nossa definição, evitando a fala de sermos tolerantes, mas, agora, se definindo e criando novas realidades, as quais apresentam binários, cujo efeito é uma geração de desconfiança em qualquer grupo que pense o contrário.
Uma estrutura de narrativa nova, que tomou parte das redes sociais mas que encontra reflexo em palavras de ordem que disseminam teorias conspiratórias e a apresentação de inimigos em comum.
“Esse tipo de plataforma política, que joga mais pela divisão do que pelo consenso, que ‘explora o preconceito’ em vez delutar contra ele, acaba por amplificar e assanhar a intolerância social, a qual se pode caracterizar como uma atitude definida pela vontade de reconhecer ou respeitar diferenças de opiniões, crenças valores ou orientações sexuais.” (p 214). 
“A intolerância alastrou-se, do mesmo modo, por meio das redes sociais. (...) Esse conjunto de dados avaliza como pessoas que até então se sentiam de alguma maneira tolhidas para demonstrarem sua intolerância, agora parecem estar à vontade; autorizadas”. (p. 219)
Schwarcz analisa o crescimento da intolerância no Brasil a partir do aspecto educacional. Falta de uma educação de qualidade é um sinônimo para o aparecimento e a aceitação de que um governo mais autoritário e com soluções também autoritárias funcionam melhor para acabar com problemas políticos e econômicos. Assim como em todo o livro, Schwarcz apresenta opiniões sobre qual é um melhor caminho para uma resposta que vá contra um autoritarismo que vemos no Brasil. Neste capítulo, “Intolerância”, a autora investe valorizando a existência de uma país que seja mais inclusivo a partir de um investimento forte em educação ‘sólida, ampla e equânime’. Para acabar com as novas características que aparecem na sociedade, que são o ceticismo e a escolha de ‘inimigos em comum’ para culparmos crises econômicas e sociais, um investimento que transforme as pessoas mais leitoras, críticas e principalmente, capazes de dialogar sem aferir nenhum deboche ou intolerância.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“A história brasileira não tem como escapar a essas ambiguidades fundamentais: se ela é feita do encadeamento de eventos que se acumulam e evocam alterações substanciais, também anda repleta de seleções e lacunas, realces e invisibilidade, persistências e esquecimentos.” (p. 223). No capítulo final do livro, intitulado “Quando o fim é também o começo: nossos fantasmas do presente”, Schwarcz nos mostra a atualidade de questões que atravessaram o passado colonial. Sob a forma de novos governos, como o que está comparecendo na política atual brasileira, os temas abordados pela autora reaparece. As imagens do passado ainda persistem na atualidade. E é com o reaparecimento de governos que pautam suas políticas pelo exercício da ordem, de um certo populismo, de conservadorismo e que se tratando do uso da história, utilizam um passado “(...) para chamar de seu e fazem uso da história como instrumento de elevação.” (p. 229).
A democracia desenvolvida a muito custo ao longo de décadas, precisa ser valorizada, não apenas em épocas de eleição. Práticas democráticas não são sinônimos de políticas que recrudescem a liberdade muito frágil de populações minoritárias. Muito menos de políticas que utilizam de crises para apontarem defeitos e causas para a persistência de problemas e a solução serem a colocação de melhores figuras, já que o passado, criado e divulgado pelos mesmos foi mais glorioso. Lutas e conquistas não devem ser diminuídas, mas devem ser por uma população que defenda uma igualdade, vigiada e defendida para que não se percam. Um combate a desigualdade, intolerância, racismo entre tantas outras práticas autoritárias tem que ser desenvolvido regularmente, principalmente por um incentivo educacional. A sociedade promovem vários mitos que são falsos e escondem uma realidade farsante e perversa advinda desde a escravidão, mas que demonstra muito mais exclusão do que inclusão.

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