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Efeitos da Paternidade Socioafetiva no Ordenamento Jurídico Brasileiro

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EFEITOS JURÍDICOS DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
SILVA, Alessandra Hellen Ferreira[1: Artigo apresentada à Banca Examinadora do curso de graduação em Direito do Centro Universitário – UNIFIPMoc, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação da Profª. Ana Paula de Souza Reis Assis.]
Discente do Centro Universitário UNIFIMoc
RESUMO
Introdução: As relações envolvendo um homem e uma mulher que não provinham do casamento eram consideradas imorais. Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e do Código Civil de 2002, o Direito de Família sofreu modificações, a fim de harmonizar e sedimentar o processo de recepção da realidade social. Diante da multiplicidade de espécies de famílias brasileiras, surge a proposta de aprofundamento na temática da paternidade socioafetiva. Objetivo: analisar quais são os efeitos jurídicos da paternidade socioafetiva sob o ordenamento jurídico brasileiro, levando em consideração a evolução histórica e conceitual de família. Metodologia: Para o desenvolvimento do trabalho utilizou-se a pesquisa bibliográfica, tendo como principais fontes artigos científicos, doutrinas, disposições legais e outros meios que propiciam a abordagem conceitual do tema. Resultados: Na seção 1 foi realizada uma explanação acerca de conceitos que envolvem a família, suas modificações ao longo do tempo. Na seção 2 foi explorada a questão da filiação, sendo que essa é caracterizada como fruto de relação matrimonializada ou não, além de mencionar os direitos e deveres nas relações entre pais e filhos. Já na seção 3 é dado um enfoque a questão da paternidade socioafetiva, que demonstra que o vínculo paterno-filial, seja por laços biológicos ou afetivos, enseja efeitos jurídicos, como a obrigação de prestar alimentos, a regulamentação da guarda, direitos à visita, a sucessão e ao nome. Considerações finais: Este estudo possibilitou uma visão mais ampla acerca dos efeitos jurídicos na filiação, sendo que por meio de uma abordagem histórica, percebe-se que a sociedade passou por modificações e, consequentemente, o Direito de Família. A família não é determinada apenas pela consanguinidade, mas também por laços de afetividade e cumpre o proposto da CRFB/1988, que ordena o tratamento igualitário, independentemente do tipo de filiação. 
Palavras-chave: Afetividade. Dinamismo. Direito de Família. 
INTRODUÇÃO
	A família originou-se das necessidades humanas, sendo que os vínculos afetivos tratam-se de uma marca contemporânea da convivência de seus membros. Essa instituição antes era determinada apenas por laços de consanguinidade. Dentre os fatores que contribuíram para essas mudanças estão às questões econômicas e sociais. Diante desses novos arranjos familiares, surge assim, o desafio da atualização do ordenamento jurídico brasileiro, a fim de contemplar essas novas demandas. 
	Nesse contexto surge a proposta de aprofundamento na temática da paternidade socioafetiva, já que se trata de uma realidade, na qual o Direito de Família está inserida. O objetivo desta pesquisa foi analisar quais são os efeitos jurídicos da paternidade socioafetiva sob o ordenamento jurídico brasileiro, levando em consideração a evolução histórica e conceitual de família.
A paternidade socioafetiva produz os mesmos efeitos do parentesco natural, uma vez que não há distinção entre a filiação socioafetiva e a filiação natural, sendo que, no ordenamento jurídico brasileiro ambas as filiações possuem os mesmos direitos e deveres perante a família e a sociedade.
Para realização deste trabalho utilizou-se de pesquisa exploratória qualitativa, a partir do método dedutivo, com coleta de dados por meio de pesquisa bibliográfica e documental.
A abordagem do tema será realizado por meio da subdivisões em seções, sendo que na primeira seção apresentará as modificações da família, ao longo da história. Na segunda, as noções de filiação e já na terceira, a paternidade socioafetiva e seus efeitos jurídicos, na sociedade brasileira. 
	 
A FAMÍLIA
O conceito, a compreensão e a extensão da família, entre os mais diversos organismos sociais e jurídicos foram os que mais sofreram alterações ao longo dos tempos. No decorrer das primeiras civilizações mais importantes como os hindus, egípcios, gregos e romanos, o conceito de família foi de uma entidade ampla e hierarquizada (VENOSA, 2016).
Nas relações familiares em regra prevaleceu o patriarcado, cuja autoridade era exercida pelo ascendente mais idoso do sexo masculino. Sobre esse modelo de família Lisboa (2002, p. 29) comenta que “o patriarcado foi exercido, em diversos períodos da história e em várias partes do mundo, mediante a poligamia, que paulatinamente foi decaindo, sendo substituída pela sociedade da monogamia.”. 
No direito romano, bem como no grego existiam duas concepções sobre família e casamento, sendo elas: a do dever cívico e da formação da prole. Nas civilizações clássicas, a relação entre homem e mulher era vista como um dever cívico, tendo como finalidade a procriação, cujos novos integrantes eram destinados a servir os exércitos de seus respectivos países durante a juventude, motivo pela qual a prole masculina era mais esperada. 
Na Idade Antiga, a família fundava-se no poder paterno, derivada do culto familiar. Acerca disso, menciona Venosa (2016, p.4) que “os membros da família antiga eram unidos por um vínculo mais poderoso que o nascimento: a religião doméstica e o culto aos antepassados. Esse culto era dirigido pelo pater.”.
Com o fim do Império Romano e o início do Cristianismo, houve uma sucessiva alteração no significado de família. Enquanto a família pagã romana era entidade política e religiosa, a cristã consolidou-se na herança do modelo patriarcal, sendo considerada a célula básica da Igreja, e por consequência do Estado (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011). 
No que tange à família medieval, Venosa (2016, p.4) explica que: “O Cristianismo condenou as uniões livres e instituiu o casamento como sacramento, pondo em relevo a comunhão espiritual entre os nubentes, cercando-a de solenidades perante a autoridade religiosa.”.
Na modernidade a partir da Revolução Industrial, a inserção da mulher no mercado de trabalho a concepção de família iniciou um novo processo de transformação. 
Com a grande demanda de mão de obra e o aumento da pobreza, o núcleo familiar teve que migrar para as cidades e as mulheres se viram obrigadas a ingressar no mercado de trabalho deixando o homem de ser a única fonte de subsistência da família. Outro aspecto importante para o novo conceito de família foi a diminuição do número de filhos ao mesmo tempo em que houve a aproximação dos seus integrantes dando início à valorização do vínculo afetivo (GAGLIANO E PAMPLONA FILHO, 2011).
Nesse contexto, a partir do século XX, como comentam Gagliano e Pamplona Filho (2011, p.51) influenciaram o conceito contemporâneo de família e outras transformações sociais:
A revolução sexual, o movimento feminista, a disseminação do divórcio como uma alternativa moralmente válida, a valorização da tutela da infância, juventude e terceira idade, a mudança de papeis nos lares, a supremacia da dignidade sobre os valores pecuniários, o reconhecimento do amor como elo mais importante da formação de um lar.
No Brasil, esse processo de modificação no conceito de família pode ser observado a partir do contexto desse instituto adotado pelo CC/16 até se chegar à concepção atual, inserida pelo CRFB e a regulamentação pelo Código Civil de 2002. 
Nesse sentido o Código Civil de 1916 (CC/1916) determinava em seu artigo 229 que o principal efeito do casamento era a criação da família legitima, uma vez que a família concebida fora do casamento era considerada ilegítima. Outrossim, tais normativos faziam restrições ao concubinato (GONÇALVES, 2018).
Até então a mulher era considerada pessoa relativamente incapaz para a prática de atos e negócios jurídicos, incumbindo a chefiada sociedade conjugal ao varão, que era auxiliado por sua esposa, concepção alterada pela Lei 4.121, de 27 de agosto de 1962 (Estatuto da Mulher Casada), pela qual a mulher deixou de ser considerada incapacitada.
A quebra paradigmática na transformação do conceito de família veio com o advento da proclamação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CRFB/1988.
Seguindo a sistemática constitucional, Código Civil de 2002 (CC/2002) trouxe alterações com o objetivo de preservar a harmonia familiar e os valores culturais, concedendo à família contemporânea um tratamento mais apropriado à realidade social. 
Sobre o conceito atual de família, Farias e Rosenvald (2018) afirmam que esta é um evento humano em que a sociedade se funde, sendo compostas por relações abertas, plurais, complexas e globalizadas. 
Completa Mujalli, (2006, p.59) que: 
Chegamos a um regime, na sociedade conjugal, igualitário entre homem e mulher a nosso ver, o mais justo, concebido por toda a legislação dos povos cultos, em que tanto um como o outro são protagonistas, responsáveis por esta nobre e sagrada instituição, a família.
A tutela da família encontra sua base em princípios. O primeiro deles é a dignidade da pessoa humana, presente na sociedade contemporânea e inserida na CRFB/1988, como pilar da República brasileira. A dignidade humana estabelece um valor inerente à pessoa, tanto no aspecto moral, como espiritual. Além disso, manifesta-se de formas diferentes em cada indivíduo, mas sempre com o intuito de respeito da própria vida e dos demais indivíduos que compõem a sociedade.
O princípio da dignidade da pessoa humana é base do direito das famílias, pois este se encontra intimamente ligado aos direitos humanos. Portanto o objetivo desse princípio neste ramo direito é impedir que haja distinção entre os vários tipos de família e por consequência os diversos modelos de filiação, uma vez que todos possuem igualdades de direitos. Outrossim, esse princípio, ao ser elencado constitucional, colocou fim a inúmeras discriminações presentes no antigo CC/1916 (MORAES, 2009).
Outro princípio a ser mencionado é o da afetividade. Ainda que não esteja positivado no texto constitucional, pode ser considerado um princípio jurídico, pois o seu conceito foi criado a partir de uma interpretação sistemática da CRFB/1988. Elucida Pereira (2016, p. 66) que esse princípio “é uma das grandes conquistas advindas da família contemporânea, receptáculo de reciprocidade de sentimentos e responsabilidades”. 
Explica Calderón (2013, p. 10) que: “o princípio da afetividade não possui um sentido rígido ou definitivo, pois será sempre apurado em uma situação concreta específica, embora seja possível pormenorizar seus contornos e aspectos centrais.”.
Como princípio norteador da família, há, do mesmo modo, a solidariedade, que tem como base o artigo 3˚, inciso I, da CRFB/1988. Em relação a esse princípio, Dias (2016, p. 51), explica que: 
Esse princípio, que tem origem nos vínculos afetivos, dispõe de acentuado conteúdo ético, pois contém em suas entranhas o próprio significado da expressão solidariedade, que compreende a fraternidade e a reciprocidade. A pessoa só existe enquanto coexiste.
Há por outro lado, no CC/2002, o princípio da igualdade jurídica, que se subdivide em: a igualdade dos cônjuges e companheiros e a igualdade de todos os filhos. A efetivação desse princípio, no primeiro caso, está disposta nos artigos 5º, inciso I e o 226, §5˚ da CRFB/1988 e o artigo 1511 do Código Civil de 2002. Consoante a CRFB/1988, homens e mulheres são iguais perante a lei, o que repercute nas relações familiares. 
Outro princípio aplicado à família é a função social, tendo em vista que as relações familiares devem ser analisadas de acordo com cada contexto social e as diferenças regionais de cada uma (TARTUCE, 2016).
Destarte, Gagliano e Pamplona Filho (2011, p. 97) explicam que,
Numa perspectiva constitucional, a funcionalização social da família significa o respeito ao seu caráter eudemonista, enquanto ambiência para a realização do projeto de vida e de felicidade de seus membros, respeitando-se, como isso, a dimensão existencial de cada um.
Em respeito a esse princípio, as pessoas que compõem o núcleo familiar, em especial os pais, devem proporcionar às crianças e aos adolescentes o acesso aos meios de promoção moral, material e espiritual (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011).
Na família contemporânea, as crianças e os adolescentes passaram a ter mais direitos perante a sociedade e à família, tais como a proteção integral e o melhor interesse. No que tange ao princípio da proteção integral, este encontra-se disposto na CRFB/1988, em seu artigo 227, e vem determinar que a tutela e a aplicação dos direitos das crianças e adolescentes possui prioridade em face da sociedade.
No que diz respeito ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, Baroni, Cabral e Carvalho (2015) esclarecem que:
[...] prima de maneira absoluta para que seja assegurado a eles o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Além disso, Lobô (2010, p. 69-70) explica que, nesse caso,
A criança – incluído o adolescente, segundo a Convenção Internacional dos Direitos da Criança – deve ter seus interesses tratados com prioridade, pelo Estado, pela sociedade e pela família, tanto na elaboração quanto na aplicação dos direitos que lhe digam respeito, notadamente nas relações familiares como pessoa em desenvolvimento e dotada de dignidade.
Nesse sentido, tal princípio tem como base a CRFB/1988, em seu artigo 227, e o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 4º, devendo ser reconhecido como pilar fundamental do Direito de Família (PEREIRA, 2016).
Na família contemporânea, esses são os princípios fundamentais das relações entre as pessoas que compõem o núcleo familiar. E mais detidamente orientam os pais sobre a condução da criação de seus filhos e no exercício do poder familiar.
O poder familiar nas palavras de Gonçalves (2016, p. 408) “é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais no tocante à pessoa e aos bens dos filhos menores”. Acrescenta Diniz (2011, p. 589-590) que o poder familiar:
1) Constitui um múnus público, [...], sendo o poder familiar um direito-função e um poder dever [...]; 2) É irrenunciável, pois os pais não podem abrir mão dele; 3) É inalienável ou indisponível, no sentido de que não pode ser transferido pelos pais a outrem, a titulo gratuito ou oneroso, [...]; 4) É imprescritível, já que dele não decaem os genitores pelo simples fato de deixarem de exercê-lo, [...]; 5) É incompatível com a tutela, não se pode, portanto nomear tutor ao menor, cujo pai ou mãe não foi suspenso ou destituído do poder familiar; 6) Conserva, ainda, a natureza de uma relação de autoridade, por haver vínculo de subordinação entre pais e filhos [...].
A respeito dos deveres dos pais perante os filhos, o CC/2002 em seu artigo 1.634 com a nova redação da Lei nº. 13.058/2014, estabelece que compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores,
I- dirigir-lhes a criação e educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município; VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição (BRASIL, 2002).Por ser um múnus público, mencionado poder deve ser exercido em beneficio dos filhos menores não emancipados. Cabe, assim, ao Estado o direito de fiscalizar se os deveres decorrentes do poder familiar estão sendo cumpridos. Caso o comportamento de um ou de ambos prejudique o filho, o Estado poderá suspender ou, até mesmo, excluir o poder familiar, objetivando preservar os interesses das crianças e dos adolescentes (DIAS, 2016). 
Observou-se que a família, sua história e seu conceito evoluíram ao longo do tempo, surgindo novas modalidades e, com estas, outras formas de proteção por meio de princípios. Além disso, a família, como conjunto de pessoas que convivem afetivamente, é conduzida pelos pais, por meio de seu poder familiar em relação aos filhos.
Relacionado ao poder familiar está à concepção de filiação, uma vez que o exercício do referido poder recairá na pessoa do filho. Daí compreender as suas modalidades e seus efeitos, considerando a perspectiva constitucional.
FILIAÇÃO
	Filiação é o estado conferido ao filho que, fruto de relação matrimonializada ou não, lhe garante todos os direitos inerentes às relações de parentesco, inclusive o reconhecimento da paternidade, sendo comprovada por certidão do termo de nascimento registrado conforme estabelecido pelo Código Civil (PINHO, 2008). 
Percebe-se, ao longo da história, modificações no ordenamento jurídico brasileiro acerca dessa temática, principalmente, com o advento da CRFB/88 (artigo 227, § 6˚) e o Código Civil, sendo que no artigo 1.596 do CC/02 foi consagrado que o “parentesco é natural ou civil, conforme resulte na consanguinidade ou outra origem” (BRASIL, 2002). Atualmente não há mais em que se falar em família legítima ou ilegítima ou qualquer outra expressão que vem estabelecer tratamento diferente entre os membros da família, especialmente o que concerne aos filhos. 
	 A principiológia aplicada à família, prevista pelo CRFB/88, amplia o conceito de filiação, compreendendo-a com uma relação jurídica resultante do parentesco por consanguinidade ou por outra origem, instituída entre ascendentes e descendentes em primeiro grau trata-se de uma relação jurídica entre pais e filhos (TARTUCE, 2016). Nessa perspectiva, compreende-se, juridicamente, filiação como todas as relações entre pais e filhos que atribui reciprocamente direitos e deveres, desde sua constituição, modificação e extinção. Para Pinho (2008) a filiação pode ser de origem biológica (procriação) ou não biológica, sendo essa última subdividida em por substituição, socioafetiva e adotiva. Nesta seção será explorada a perspectiva da filiação socioafetiva. 
	A filiação socioafetiva, como o próprio nome sugere, refere-se ao vínculo afetivo entre filhos e pais, adquirido através dos sentimentos cultivados nas relações de convivência. Essa nova concepção vem sendo reconhecida nas decisões judiciais, a exemplo de sua utilização para concessão de guarda de menores, baseado preponderante em vínculo afetivo (MADALENO, 2018).
	A ampliação da concepção de família e da noção de filiação, longo do tempo no Direito Brasileiro, possibilitou também modificações nas suas modalidades. Anterior a CRFB/88 havia a necessidade da preservação do núcleo familiar, ou mais propriamente dito o patrimônio familiar, no qual admitia até mesmo a discriminação de filhos. Esses descentes eram classificados como: legítimos, ilegítimos e legitimados. Os legítimos eram aqueles provenientes do laço matrimonial; ilegítimos ou naturais, aqueles que nasciam de pessoas não ligadas pelo matrimônio e os legitimados trata-se do filho reconhecido pelo pai ou mãe. Cabe ressaltar que, o direito de reivindicar em juízo o direito a filiação (filhos legitimados) cabia somente aos seus genitores. Tal classificação tinha como critério a circunstância da prole ter sido gerada fora ou dentro da relação conjugal, essa identificação poderia conceder ou subtrair não só o direito a sobrevivência, mas também a sua identidade (DIAS, 2016).
	O Código Civil de 1916 em seu artigo 358 na sua redação original dispunha acerca do que foi supracitado que “os filhos incestuosos e os adulterinos não podem ser reconhecidos”. Com a abnegação do filho ilegítimo, o genitor era excluído dos direitos do mesmo. Tal legislação trouxe ainda em seu artigo 338 que, só eram considerados filhos exclusivamente o ser nascido em 180 dias após o casamento entre homem e mulher, ou 300 dias após o fim desse relacionamento.
	Nesse contexto histórico, cabe mencionar o Decreto Lei 4.737/42 e a Lei 883/49, pelo qual os filhos tidos fora do casamento poderiam ser reconhecidos e registrados como ilegítimos, desde que houvesse a dissolução do casamento de seu genitor. Todavia a investigação de paternidade tramitava em segredo de justiça, cujo intuito único era a busca por alimentos. Os direitos adquiridos pelo filho eram de título de amparo social e a direito a metade da herança, na qual viesse receber o filho legítimo ou legitimado (DIAS, 2016).
	A classificação legal discriminatória quanto aos filhos ilegítimos, constante no Código Civil de 1916, perdurou por cerca de 60 anos no país e teve seu fim com a promulgação da Constituição de 1988 (CRFB/88). A CRFB/88 em seu artigo 227, § 6˚ proíbe qualquer ato ou tratamento discriminatório quanto à filiação, pois todos os filhos são iguais, com os mesmos direitos e qualificações, independentemente da origem. Todavia o artigo 1.597 do Código Civil de 2002 ainda traz presunções acerca da paternidade, sendo eles: 
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
	De acordo com Tartuce (2016) mesmo que a prática dos incisos do comando legal supracitado tenha perdido a relevância eles ainda serão aplicáveis em casos específicos, em particular os que envolvem casamento.
	O CCB/02 dispõe do artigo 1.607 ao artigo 1.617 as regras relativas ao reconhecimento dos filhos. O artigo 1.607 estabelece que o filho havido fora do casamento possa ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente, de forma voluntária ou judicial, independendo de dissolução da sociedade conjugal. É a dignidade da pessoa humana que permite e determina que seja destinado tratamento igualitário aos filhos, independentemente de sua origem, se advêm ou não do casamento.
	Ao tratar de filiação é necessário falar sobre o atual critério de reconhecimento antes de adentrar na posse do estado de filho. A primeira legislação que tratou do reconhecimento foi a Lei 8.560/92 (Lei da Investigação de Paternidade), contudo atualmente tal tema possui respaldo no CC/02 nos artigos 1.607 a 1.617. 
	Para Tartuce (2016, p. 438) é interessante de imediato apontar que o reconhecimento dos filhos pode ocorrer de duas formas: 
a) Reconhecimento voluntário ou perfilhação – nas situações descritas no art. 1.609 do CC.
b) Reconhecimento judicial ou forçado – nas hipóteses em que não há o reconhecimento voluntário, o mesmo devendo ocorre de forma coativa, por meio da ação investigatória [...].
	Enquanto para Dias (2016), reconhecimento dos filhos ocorre de acordo com sua origem podendo ser biológica (decorrente de vínculo consanguíneo) e registral (decorrente do registro de nascimento, da escritura pública, escrito particular, testamento e declaração), ou de acordo com o tipo de reprodução assistida que se divide em: homóloga (não há necessidade da autorização do marido), heteróloga (quando a concordância do marido em relação ao procedimento) e a gestação por substituição (decorre do fato de outrapessoa ter o filho por você, mais conhecida como barriga de aluguel).
	Atualmente com o novo conceito de família o princípio da afetividade criou uma nova expressão, posse do estado de filho que tem como base os vínculos afetivos. Não há que se falar que tal posse advém do nascimento, mas sim da afetividade. O ordenamento jurídico brasileiro não contempla de modo expresso essa noção de posse do estado de filho ou mais conhecido como filiação afetiva.
	Gagliano e Pamplona Filho (2016) relatam acerca do tema que a posse do estado de filho nada mais é que a exteriorização da convivência familiar e da afetividade fazendo com que haja reconhecimento da filiação, ou seja, a prevalência do vínculo afetivo em relação ao biológico.
	Sobre essa modalidade de filiação, Rodrigues (2002) menciona que:
[...] aquela situação de fato que estabelece entre pretenso pai e o investigante, capaz de revelar tal parentesco. O primeiro chama o segundo de filho, e este, de pai àquele. O investigado mantém o menor, paga por suas roupas e por sua educação, trata-o com carinho com que habitualmente um pai trata um filho. Enfim, o comportamento tanto de um como de outro, aos olhos dos vizinhos, dos amigos, e de todos em geral, parece revelar que efetivamente se trata de pai e filho. 
	Para o reconhecimento da posse do estado de filho as doutrinas se atenta em três aspectos principais sendo eles: a) tractus – quando o filho é tratado como tal, criado educado e apresentado como filho pelo pai e pela mãe; b) nominatio – usa o nome da família e assim se apresenta; c) reputatio – é conhecido pela opinião pública como pertencente à família de seus pais. 
	Seguindo essa perspectiva de reconhecimento da filiação socioafetiva, a jurisprudências vem acatando essas novas concepções pautadas na afetividade. Exemplo disso, é a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, em sede de ação cível, deferiu o acréscimo do nome da mãe socioafetiva na certidão de nascimento, sem a retirada da mãe biológica, sendo que essa morreu três dias após o parto. Para maior elucidação, segue a jurisprudência da emenda do acórdão:
“EMENTA: MATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Preservação da Maternidade Biológica. Respeito à memória da mãe biológica, falecida em decorrência do parto, e de sua família. Enteado criado como filho desde dois anos de idade. Filiação socioafetiva que tem amparo no art. 1.593 do Código Civil e decorre da posse do estado de filho, fruto de longa e estável convivência, aliado ao afeto e considerações mútuos, e sua manifestação pública, de forma a não deixar dúvida, a quem não conhece, de que se trata de parentes - A formação da família moderna não-consanguínea tem sua base na afetividade e nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. Recurso provido.” (SÃO PAULO, 2012).
	Kirch e Copatti (2013) afirmam que essa multiparentabilidade além de mudanças no cotidiano acarreta também efeitos jurídicos, pois além da filiação biológica constará também a inclusão do(s) pai(s) socioafetivo(s). Esse efeito é determinado pelo artigo 54, itens 7º e 8º da Lei 6.015/73 – Lei de Registros Públicos, no qual afirma que deverão constar os nomes e prenomes dos pais e dos avós maternos e paternos. Desse modo, no registro de nascimento constará como pais os nomes dos pais biológicos, do pai ou mãe socioafetivo(a), bem como os avós de todos os ascendentes. 
	Portanto, a filiação atualmente não é só aquela biológica advinda do nascimento, ela também se deriva do vínculo afetivo, em que os membros da família são tratados igualmente e que mesmo não possuindo o mesmo sangue detêm a posse do estado de filho e é zelado como tal. O reconhecimento dessa modalidade de filiação acarreta consequências jurídicas que serão abordados na próxima seção. 
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA
	O paradigma da socioafetividade surgiu com a valorização do afeto no seio familiar, o que ocorreu principalmente com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Até então, o critério biológico da filiação, fundado na certeza científica dos testes de DNA, era predominante, constituindo-se no chamado biologismo. Nos dias atuais, não há maneira de compreender a família sem a presença do elemento afetivo, fio condutor dos desdobramentos familiares. A busca pela felicidade, dentro do contexto atual do Direito de Família, torna-se o principal intento da convivência familiar. 
	Há que salientar, no entanto, que se trata de um princípio implícito. A paternidade socioafetiva está ligada ao exercício do poder familiar em decorrência da afetividade, sendo assim, a partir de então surge o termo paternidade socioafetiva que consiste na convivência, no valor de “cuidar”, além do afeto mútuo e recíproco entre quem assume o papel de pai e quem assume o papel de filho. O tempo de convivência é um aspecto indispensável para caracterização e reconhecimento dessa forma de paternidade, embora não haja predefinição. 
Nesse sentido manifesta Cassettari (2017, p.33):
Por conta disso, outro elemento indispensável é o tempo de convivência. A convivência é o que faz nascer o carinho, o afeto e a cumplicidade nas relações humanas, motivo pelo qual há que se ter a prova de que o afeto existe com algum tempo de convivência.
	Uma vez que a socioafetividade não é expressamente prevista, embora possa ser fundamentada no artigo 1.593 do código civil: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou de outra origem”.
	Farias e Rosenvald (2018) corroboram essa ideia, sendo que para que se configure a paternidade socioafetiva deve-se comprovar a convivência firmemente estabelecida, pública e respeitosa. Além disso, não é necessário que o afeto esteja presente no momento que se discuti o estabelecimento da paternidade, bastando que este tenha existido durante a convivência, e que tenha havido o vínculo entre pai e filho. 
	A paternidade socioafetiva, para Tomaszewski e Leitão (2005), pode advir de uma gama de hipóteses, entre elas: a adoção judicial; filho de criação; a adoção à brasileira; o reconhecimento de filho; a reprodução humana assistida e a presunção pater is est.
	De acordo Amorim (2000):
O reconhecimento de paternidade é um direito natural imanente à vida. Assim, a paternidade é fato de maior importância para todo indivíduo, não podendo ser declarada ou desconstituída sem justa causa, isto é, sem uma razão relevante. Na verdade, é o reconhecimento que estabelece juridicamente o parentesco entre a mãe e o pai ilegítimos e o seu filho. Esse fato é espontâneo ou forçado, o qual cria uma relação de parentesco, gerando uma série de consequências na esfera do direito. Antes do reconhecimento válido não há qualquer parentesco. A partir dele será proclamada a filiação, cujos efeitos fluirão da lei. O Reconhecimento é judicial ou voluntário.
	O estabelecimento do vínculo paterno-filial, seja por laços biológicos ou afetivos, enseja efeitos jurídicos, dentre os quais cita-se a obrigação de prestar alimentos, a regulamentação da guarda, direitos à visita, a sucessão e ao nome. 
	Segundo Mariana Zomer de Albernaz Muniz (2011, p. 447):
O dever de alimentar é devido em razão da relação de parentesco entre o alimentante e alimentando, baseado na obrigação moral e ética existente entre eles. Em que pese o encargo alimentar possa dar uma ideia de incentivo à ociosidade, este benefício será concedido unicamente quando os indícios, no caso de pedido provisório, ou as comprovações apresentadas sejam hábeis para demonstrar a necessidade de quem os pede. Entretanto, há de se verificar que, sendo menor de idade, a necessidade dos alimentos é presumida em decorrência natural da impossibilidade fisiológica de geração de recursos próprios para a sua subsistência, que a criança e o adolescente, em geral, manifesta, enquanto não se encontra formada ou preparada.
	O poder familiar decorre do estado de filiação, independente da natureza desta, ou seja, além dos pais possuírem a autoridade sobre os filhos, possuem paralelamente obrigações e deverespara com eles. Assim, de acordo com a CRFB/88 a criação e a educação dos filhos competem ao pai e à mãe, em igualdade de condições. A relação de poder familiar se baseia entre pais e filhos, independentemente de alteração na relação de união dos pais. O que pode ser alterado é a guarda, que pode ser exercida de maneira unilateral por um deles ou pode ser compartilhada, entretanto o poder familiar continua sendo de ambos.
	No que concerne ao direito de visitas cabe àquele que não detém a guarda. É o que dispõe o CC/02 em seu artigo 1589:
O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam os filhos, poderá visitá-los e têlos em sua companhia, segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e educação. Parágrafo único. O direito de visita estende-se a qualquer dos avós, a critério do juiz, observados os interesses da criança ou do adolescente (BRASIL, 2002). 
	Busca-se com o direito de visitas a continuação dos laços de afetividade existentes entre pais e filhos, tendo como objetivo principal o desenvolvimento do menor, garantindo ao filho um desenvolvimento pleno e completo, sem prejuízo da falta de convivência com o pai ou a mãe.
	Antes de adentrar no direito sucessório, decorrente da paternidade socioafetiva, cabe compreender o que é sucessão. Em sentido amplo é o ato pelo qual uma pessoa toma o lugar de outra; investindo-se a qualquer título, no todo ou em parte, nos direitos que lhe competiam. Já em sentido restrito, sucessão é tão somente a transferência da herança ou legado, por morte de alguém, ao herdeiro ou legatário, tanto por força de lei como em virtude de testamento (VENOSA, 2010). 
	Considerando o preceito constitucional de não poder haver tratamento desigual entre os filhos com vínculo socioafetivo serão considerados herdeiros necessários, ocupando seu lugar na ordem de vocação hereditária, conforme o artigo 1829 do CC/02:
A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais (BRASIL, 2002). 
	
	Corrobora esse entendimento a decisão do desembargador José Ataíde Siqueira Trindade, proferido em sede de apelação cível de nº 70023383979:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA C/C PETIÇÃO HERANÇA. DECLARAÇÃO PARA FIM EXCLUSIVO AO DIREITO SUCESSÓRIO. DESCABIMENTO. Se a família afetiva transcende os mares do sangue, se a verdadeira filiação só pode vingar no terreno da afetividade, se a autêntica paternidade/ maternidade não se funda na verdade biológica, mas sim na verdade afetiva, a ponto de o direito atual autorizar que se dê prevalência à filiação socioafetiva, esta só pode ser reconhecida na integralidade, com todos os seus efeitos, e não somente no tocante ao direito sucessório. Se o pedido do autor de ver reconhecida a filiação socioafetiva relativamente à falecida madrasta tem fim exclusivamente patrimonial, visando unicamente se habilitar no inventário dela, sem que seja reconhecido como filho e sem qualquer alteração nos seus registros civis, descabida é a pretensão. Apelação desprovida (Apelação Cível Nº 70023383979, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Ataíde Siqueira Trindade. Julgado em 24/04/2008).
	Quanto ao direito ao nome, o CC/02 preceitua em seu artigo 1.604 que para obter registro do filho, o declarante não precisa provar a origem biológica, pois o registro produz uma presunção de filiação quase absoluta, tanto que apenas pode ser invalidado caso se prove erro ou falsidade. Cabendo ao pai somente o direito de contestar a paternidade, se provar que esta não se constituiu por não ter sido o genitor biológico ou por não ter existido estado de filiação consolidado. 
	Levando em consideração o direito ao nome na paternidade socioafetiva, Welter (2009) afirma que o ser humano é reflexo da condição e dignidade humana. Ademais, é feito menção a teoria tridimensional do direito de família, no qual o ser humano pode ter direito aos três mundos, sendo eles: genético, afetivo e ontológico. 
	Em relação a essa temática, o Superior Tribunal de Justiça entende que:
A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com todas as suas consequências patrimoniais e extrapatrimoniais (Recurso Extraordinário SP - 898.060, p. 19).
	A paternidade socioafetiva ao ser exposta ao registro se torna irrevogável, sendo que o sujeito ao assumir a responsabilidade de criar um filho afetivo estabelece laço paterno-filial por vontade própria, não sendo oportuno que este vínculo seja eliminado por mero capricho, o que seria enorme injustiça ao filho. 
	Nesse mesmo sentido, o relator Luiz Carlos Freyesleben proferiu a apelação cível de nº 2008.005142-7, acerca do pedido de homologação de anulação de registro civil para exclusão da paternidade:
CIVIL. FAMÍLIA. PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO VISANDO À ANULAÇÃO DE REGISTRO CIVIL PARA EXCLUSÃO DA PATERNIDADE. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. DIREITO INDISPONÍVEL. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. INTELIGÊNCIA DO ART. 267, VI, DO CPC. O estado de filiação é direito indisponível, não se submetendo à transação pelas partes. É juridicamente impossível o pedido de homologação de acordo visando à anulação do registro civil para exclusão da PATERNIDADE, ainda que exista exame de DNA dando conta da inexistência de vínculo biológico entre as partes (Apelação Cível n. 2008.005142-7, de São Miguel do Oeste Relator: Luiz Carlos Freyesleben Órgão Julgador: Segunda Câmara de Direito Civil. Data: 05/10/2009).
	Assim, após esse reconhecimento espontâneo não será possível renunciar à paternidade, não podendo essa ser desfeita, tornando dessa maneira, um vínculo paterno-filial indestrutível.
	Por meio deste estudo acerca da paternidade socioafetiva e seus efeitos no ordenamento jurídico, entende-se que essa relação possui força e valor semelhante à paternidade biológica, nos dias atuais, sem que haja distinção de direitos e, ou deveres que cabem aos pais e filhos. A paternidade socioafetiva vem ao encontro das demandas da sociedade e cumpre o proposto pela CRFB/88, na qual ordena tratamento igualitário, independentemente do tipo de filiação. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A paternidade, além de produzir efeitos no âmbito pessoal (uso do nome) e social (status de filho), produz efeitos nas relações econômicas e patrimoniais, gerando reflexos no direito das obrigações, como a prestação e pleiteio dos alimentos, nos termos do artigo 229 da CRFB/1988. Nesse sentido, não há distinção entre os tipos de paternidade, de modo que a paternidade socioafetiva é baseada no atual paradigma de paternidade, não sendo, nem mesmo, uma nova espécie desta (que se divide em biológica e não biológica).
	Portanto, este estudo, realizado por meio de busca de artigos científicos, doutrinas, disposições legais e outros meios, possibilitou ter uma visão mais ampla acerca dos efeitos jurídicos na filiação. Diante de uma abordagem histórica, percebe-se que a sociedade passou por modificações e, assim, foi preciso adaptações no Direito de Família. A partir da CRFB/1988 e CC/2002, a família não é determinada apenas pela consanguinidade, mas também por laços de afetividade. A paternidade socioafetiva exprime a multiplicidade e dinamismo das sociedades, no qual o Direito está inserido, além de cumprir o proposto na CRFB/1988, que ordena o tratamento igualitário, independentemente do tipo de filiação. 
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