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A Filosofia de Kant

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Filosofia Moral de Kant
Todos fazemos distinção entre certo e errado, bem e mal, o que se deve fazer e o que não se deve fazer. São dessas questões que trata a filosofia moral. Kant,  um filósofo alemão que viveu no século XVIII, se dedicou a pensar essas questões e formulou respostas novas para essas perguntas antigas. O que Kant procurou fazer foi oferecer um fundamento para nossos julgamentos morais.
Para entender essa ideia de fundamento para juízos morais, considere o seguinte exemplo. Os esquimós, povo que vive no Alasca, têm o costume de praticar o infanticídio, ou seja, matar crianças logo que nascem, quando são indesejadas, o que acontece sobretudo com meninas. Trata-se de uma prática totalmente aceita e natural entre esse povo.
Qual nossa primeira reação ao saber que eles fazem isso com as crianças? Na maioria das vezes, julgamos essa ação dizendo que ela é errada, mesmo que ela seja aceita e praticada por todos os esquimós.
Porém, por que exatamente essa é uma ação errada? Que justificativa temos para dizer que os esquimós não deveriam fazer isso?
Para uma pessoa cristã, foi Deus quem definiu o que é certo e errado e, assim, o que devemos fazer é respeitar sua vontade. Tirar a vida de uma pessoa inocente viola a vontade divina e, portanto, é uma ação imoral. Afinal, está escrito nos dez mandamento “não matarás” e é exatamente isso que está sendo feito. Mas, caso a moralidade dependa da vontade divina, caso Deus não exista, tudo seria permitido.
Kant acreditava que não podemos estar certos de que Deus existe. Para ele, Deus era um ser que estava além da capacidade humana de conhecer. Talvez ele exista, talvez não, mas não temos como saber. Portanto, a moralidade não pode ser baseada nos mandamentos divinos e é necessário algo mais sólido para lhe servir de base.
Qual a resposta de Kant para esse problema? Há uma frase sua que afirma o seguinte
Duas coisas me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e frequentemente o pensamento delas se ocupa: o céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim.
Em outras palavras, Kant acreditava que existia uma lei moral dentro de cada pessoa. Todos os seres humanos são dotados de razão, capacidade de reflexão e pensamento, e em virtude disso, todos podemos conhecer essa lei moral, que o autor chama de imperativo categórico.
Portanto, a resposta de Kant para o problema do fundamento dos juízos morais está no chamado imperativo categórico.
Imperativo categórico de Kant
O imperativo categórico é uma das ideias mais importantes da filosofia moral de Kant, bastante complexa, mas compreensível se considerarmos vários exemplos.
É importante saber, antes de mais nada, que isso que Kant chama de imperativo categórico representa a regra fundamental que toda pessoa deveria respeitar para agir moralmente. Então, para o filósofo, se quisermos ser pessoas boas, devemos fazer aquilo que esse imperativo exige.
Kant divide o imperativo categórico em duas fórmulas: a fórmula da lei universal e a fórmula do fim em si. Vamos agora ver o que cada uma dessas fórmulas significam.
Fórmula da lei universal do imperativo categórico
Uma das fórmulas do imperativo categórico, conhecida por fórmula da lei universal, é a seguinte:
Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.
O que quer isto dizer? A ideia é que só devemos agir segundo máximas que possamos querer universalizar. Se não podemos querer que todos ajam segundo uma certa máxima, então ela não é universalizável e, por isso, devemos rejeitá-la. O imperativo categórico é, sem dúvida, um princípio muito abstrato. Para o clarificar, vejamos como funciona considerando dois exemplos apresentados por Kant.
Imaginemos uma pessoa que está com problemas financeiros e que decide pedir dinheiro emprestado. Ela sabe que não vai poder pagar, mas sabe também que, se não prometer pagar num certo prazo, não lhe emprestarão o dinheiro. Ainda assim, faz a promessa e recebe o dinheiro. Ela agiu segundo a máxima “Faz promessas com a intenção de cumprir”. Será esta máxima universalizável? Kant diz que não. Se todos fizessem promessas com a intenção de as não cumprirem, a própria prática de fazer promessas desapareceria, pois esta baseia-se na confiança entre as pessoas. É pura e simplesmente impossível todos fazerem promessas com a intenção de não cumprir. Por isso, não podemos querer que todos ajam segundo essa máxima – ela deve ser rejeitada.
Este exemplo mostra claramente que o imperativo categórico serve para testar máximas.
Uma máxima como “Faz promessas com a intenção de não cumprir” não passa no teste, pois não podemos querer que ela se torne lei universal. E, pensa Kant, sendo assim devemos manter sempre as promessas que fazemos.
Imaginemos agora uma pessoa rica que, embora possa fazer muito pelos outros sem se sacrificar consideravelmente, só se preocupa com o seu próprio bem-estar. Em toda a sua vida segue a máxima “Se recuse sempre a ajudar os outros”. Será esta máxima universalizável? Aqui a situação é um pouco diferente da anterior, pois Kant admite que seria possível todos agirem segundo essa máxima. Ainda assim, a verdade é que todos nós, ao longo de vida, precisamos que os outros nos ajudem, nem que seja ocasionalmente. Por isso, não queremos viver num mundo em que ninguém nos ajude quando precisamos. Logo, não podemos querer que todos se recusem sempre a ajudar os outros. A máxima “Se recuse sempre a ajudar os outros” não é universalizável, o que significa que é errado viver sem nos preocuparmos minimamente com o bem-estar dos outros – temos o dever de ajudar.
A fórmula do fim em si do imperativo categórico
Outra das fórmulas do imperativo categórico, conhecida por fórmula do fim em si, é a seguinte:
Age de tal maneira que uses a tua humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.
Kant afirma que é sempre errado instrumentalizar as pessoas, ou seja, usá-las como simples meios para atingir os nossos fins. As pessoas são agentes racionais, são seres dotados de autonomia, capazes de escolher livremente os seus objetivos. Para respeitar as pessoas, devemos tratá-las sempre como seres autônomos (como fins em si), e não como meros instrumentos que estejam ao serviço dos nossos planos.
Por exemplo, apontar uma pistola a uma pessoa para a roubar é tratá-la como um mero meio para obter dinheiro: é violar a sua autonomia, obrigá-la a fazer o que ela não quer. Em contraste, pedir ajuda a uma pessoa e respeitar a sua recusa de nos ajudar não viola a sua autonomia: neste caso, tratamo-la como um meio de nos ajudar, mas simultaneamente como um fim porque respeitamos a sua vontade.
Note-se que, segundo a fórmula do fim em si, não é errado tratar as pessoas como meios – é errado tratá-las como simples meios. Por exemplo, quando vamos um restaurante estamos tratando o cozinheiro como um meio para obter uma refeição, mas isso nada tem de errado. Desde que ele esteja trabalhando porque é essa sua vontade, o cozinheiro consentirá razoavelmente ser tratado dessa forma. Se beneficiar do seu trabalho não desrespeita a sua autonomia. Reduzir uma pessoa à condição de escravo, pelo contrário, é tratá-la como um simples meio, e isso é o que a fórmula do fim em si nos proíbe de fazer
Agir por dever e em conformidade com o dever
A ética deontológica de Kant continua a ser uma das alternativas principais ao utilitarismo. Este filósofo desenvolveu suas ideias em diversas obras, como a Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785).a
Uma das ideias principais de Kant é que, na avaliação moral das ações, interessa sobretudo determinar o motivo do agente, e não as consequências daquilo que ele faz. Por vezes fazemos o que está certo, mas pelos motivos errados, o que, segundo Kant, faz a nossa ação não ter qualquer valor moral. Um comerciante que não engana os seus clientes, por exemplo, procede corretamente, mas terá a sua conduta valor moral? Isso, pensaKant, depende daquilo que o leva a proceder assim. Se o comerciante não engana os seus clientes porque receia perdê-los, a sua conduta não tem valor moral, pois resulta de um desejo ou inclinação egoísta. Mas se, em vez disso, o comerciante procede assim apenas porque julga ter o dever de ser honesto, então a sua conduta tem valor moral.
Kant pensa que só tem valor moral as ações realizadas por dever. Estas se distinguem das ações que estão em mera conformidade com o dever, ou seja, das ações que, embora estejam de acordo com aquilo que devemos fazer, não são motivadas pelo sentido do dever. Kant inclui aqui não só as ações que são manifestamente motivadas pelo interesse pessoal, mas também todas as ações que resultam de sentimentos louváveis, como a compaixão. Vejamos, por exemplo, o que diz Kant sobre os que ajudam os outros por compaixão:
“Ser caridoso quando se pode sê-lo é um dever, e há além disso muitas almas de disposição tão compassiva que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta e podem alegrar-se com o contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo, porém, que neste caso uma tal ação, por conforme ao dever, por amável que ela seja, não tem contudo nenhum verdadeiro valor moral, mas vai emparelhar com outras inclinações, como o amor das honras, que, quando por feliz acaso coincidem com aquilo que é efectivamente de interesse geral e conforme ao dever, são consequentemente honrosas e merecem louvor e estímulo, mas não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda que tais acções se pratiquem, não por inclinação, mas por dever.”
Depois de afirmar, nesta passagem, que quem ajuda os outros por compaixão não está realizando um ato com valor moral, Kant contrasta os que procedem assim com alguém que, embora seja “por temperamento frio e indiferente às dores dos outros”, também ajuda quem precisa, mas só porque sabe que tem o dever de ajudar. Para Kant, só quem é exclusivamente motivado pelo dever quando ajuda os outros faz algo com valor moral.
Um conceito importante na ética kantiana é o de máxima. As pessoas agem segundo máximas – um comerciante que não engana os clientes pode agir segundo a máxima “Devemos ser honestos”, mas também pode agir segundo a máxima “Não enganes os outros se não quer perder clientes”. As máximas são assim as regras ou os princípios que nos indicam o motivo dos agentes.
Podemos então reformular a tese de Kant, dizendo que o valor moral de uma ação depende da máxima que lhe subjaz. Deste modo, só fazemos algo com valor moral quando agimos segundo máximas ditadas pelo nosso sentido do dever, como “Mantém as tuas promessas” ou “Ajuda quem precisa”.
Mas no que se baseia o nosso sentido do dever? Na razão, pensa Kant. Assim, quando agimos por dever estamos a agir racionalmente. Quando agimos por outros motivos – por inclinação, como diz Kant – estamos agindo em função de desejos não racionais, desejos esses que, como vimos, tiram todo o valor moral às nossas ações.
Texto retirado e adaptado do livro A arte de Pensar Filosofia 10° Ano, de Desiderio Murcho et. al
Utilitarismo
O utilitarismo é uma teoria em ética normativa que procura oferecer um princípio geral para definirmos o que é certo e o que é errado fazer. As discussões morais estão bastante presentes em nossa sociedade hoje assim como ao longo de toda a história. Algumas pessoas pensam que é correto punir um criminoso com a morte, outras discordam; algumas pensam que é correto deixar que uma pessoa em estado terminal morra se assim escolher, outras discordam; algumas pessoas pensam que é certo mentir em várias situações, outras discordam. Portanto, o desacordo moral é um fato presente na sociedade. Quem está certo? O que é o certo e o errado?
Os filósofos, desde Sócrates pelo menos, refletiram sobre a natureza do certo e do errado. E alguns deles propuseram teorias gerais para explicar o que é uma ação correta. Umas dessas teorias é o utilitarismo. Os dois principais filósofos associados a essa teoria são ingleses e viveram no século XIX: Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
Para compreendermos como o utilitarismo explica o que é certo e errado, como devemos agir, vamos considerar um caso de dilema moral. Pense no seguinte caso hipotético, o dilema do trem.
Você vê um trem desgovernado movendo-se em direção a cinco pessoas amarradas nos trilhos. Caso nada seja feito, elas serão mortas pelo trem. Mas você está de pé ao lado de uma alavanca que controla um interruptor. Se você puxar a alavanca, o trem será redirecionado para uma pista lateral e as cinco pessoas na pista principal serão salvas. No entanto, na pista lateral também há uma pessoa presa que acabará morrendo.
Qual é a coisa certa a fazer?
Deixar que as cinco pessoas moram?
Puxar a alavanca e matar uma pessoa?
Independente do que considere o mais correto a fazer, nesse momento vamos deixar nossas crenças pessoais de lado e analisar essa questão do ponto de vista do utilitarismo. Para o utilitarismo, fazer o certo é fazer aquilo que irá trazer a maior felicidade ou bem-estar. Os utilitaristas chamam essa regra básica de princípio de utilidade.
Então, para o utilitarismo, agir corretamente, em qualquer situação, significa respeitar o princípio de utilidade. Ou seja, fazer aquilo que traz mais felicidade para todos os afetados pela ação.
Sabendo disso, você já deve imaginar o que os utilitaristas teriam a dizer sobre o dilema do trem. Qual a ação traria mais bem-estar e felicidade para todos os envolvidos? Fazendo um cálculo simples, a sobrevivência das cinco pessoas ao invés de uma apenas gera claramente mais bem-estar e menos sofrimento. Assim, o certo a fazer nesse caso, para o utilitarista, seria puxar a alavanca e matar a pessoa que se encontrava sozinha nos trilhos para salvar as outras cinco.
Consequencialismo
Na ética normativa, geralmente o utilitarismo é descrito como uma teoria consequencialista. Para ele, a única coisa que devemos levar em consideração ao avaliarmos uma ação são suas consequências, se são benéficas ou prejudiciais, nada mais importa. Se voltarmos ao exemplo anterior, isso vai ficar claro.
Muitas pessoas diriam que é errado puxar a alavanca porque assim estariam matando uma pessoa, o que é errado. Caso contrário, mesmo cinco pessoas morrendo, não poderiam ser culpadas, já que não fizeram nada de errado, pois não mataram ninguém. A morte foi provocada por um trem desgovernado, não por sua ação.
Porém, para um utilitarista devemos julgar a ação (ou a falta de ação) por suas consequências, pelo seu resultado. Desse ponto de vista, o fato de não fazer nada é mais errado do que fazer algo que resulte na morte de uma pessoa.
Algumas críticas ao utilitarismo
O utilitarismo leva à violação de direitos básicos, como o direito à vida
Algumas críticas ao utilitarismo afirmam que ele conduz a ações claramente erradas, pois resultam na violação de direitos muito básicos, como o direito à vida e à integridade física.
Considere o seguinte exemplo.
A Sara é uma cirurgiã especializada na realização de transplantes. No hospital em que trabalha enfrenta uma terrível escassez de órgãos – cinco dos seus pacientes estão prestes a morrer devido a essa escassez. Onde ela poderá encontrar os órgãos necessários para salvá-los?
O Jorge está no hospital se recuperando de uma operação. A Sara sabe que o Jorge é uma pessoa solitária – ninguém vai sentir a sua falta. Tem então a ideia de matar o Jorge e usar os seus órgãos para realizar os transplantes, sem os quais os seus pacientes morrerão.
Não hesitamos em considerar a ideia da Sara abominável. Mas o que deverá pensar um utilitarista sobre essa ideia? Parece que tem de pensar que nada há de errado em matar o Jorge. Afinal, a opção de matá-lo permitirá salvar cinco pessoas que de outro modo morrerão – vistas as coisas de uma perspectiva imparcial, matá-lo e usar os seus órgãos promoverá mais o bem-estar do que não o matar e deixar os cinco pacientes morrer. Chegamos assim ao seguinteargumento: se o utilitarismo fosse verdadeiro, seria permissível (e até obrigatório) a Sara matar o Jorge, mas fazer tal coisa não parece nada correto. Portanto, o utilitarismo tem problemas.
Algumas pessoas chegaram à conclusão de que o utilitarismo deve estar errado já que permite e até mesmo exige esse tipo de ação.
Há coisas mais importantes que a felicidade ou bem-estar
Para o utilitarismo, a única coisa que importa é se as ações contribuem ou não para aumentar o bem-estar e a felicidade. A princípio essa parece ser uma ideia interessante, afinal, o que pode haver de mais importante do que a felicidade em nossas vidas?
Pensando nessa questão, um filósofo chamado Robert Nozick propôs um experimento mental para que pensamos sobre essa questão, sobre o que realmente importa na vida.
Imagine que os cientistas tenham inventado uma nova tecnologia incrível chamada Máquina de experiências. Funciona assim.
Você vai ao laboratório e se senta com a equipe responsável pelo experimento e fala com eles sobre tudo o que você sempre quis fazer na vida – descreve sua vida perfeita, a mais ideal, a mais prazerosa, a mais alegre e mais satisfatória possível. Então eles te induzem a um coma do qual você nunca mais sairá. Eles colocam seu corpo inconsciente em um tanque de líquido em uma sala escura e cobrem sua cabeça com eletrodos.
A imagem ilustra a vida na Máquina de Experiências de Nozick. A pessoa da imagem se encontra deitada com eletrodos na cabeça tendo a experiência de que está cavalgando.
Quando você está no tanque, a simulação começa. Você experimentará tudo o que você sempre sonhou, experimentará uma vida perfeita. Como você não terá memórias de entrar na máquina, não lhe restará qualquer indício de que suas experiências não são reais. Viverá como se tudo fosse a mais pura realidade.  Mas, na verdade, nada do que vive é real: você está flutuando em um barril de líquido em uma sala escura. Você nunca mais acordará para experimentar o mundo real ou interagirá com pessoas reais, mas não saberá disso e sentirá como se tudo o que estivesse experimentando fosse real.
A questão é: se a máquina da experiência estivesse disponível e houvesse uma garantia total de que funciona perfeitamente, você entraria nela?
A maior parte das pessoas certamente não trocaria a vida real, mesmo que repleta de sofrimento e com poucos momentos de felicidade, por uma vida fictícia. Nozick argumentou, através desse experimento mental, contra a ideia utilitarista de que devemos levar em conta apenas o bem-estar das pessoas afetadas por um determinado curso de ação.

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