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LEGISLAÇÃO E ÉTICA PROFISSIONAL VI

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Legislação e Ética 
Profissional
Dever e Consequências 
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Américo Soares da Silva 
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
5
Nesta unidade, o tema abordado será: Dever e Consequências.
O espaço filosófico é fértil na produção de diferentes abordagens sobre o mesmo tema, e 
assim também é com a ética. Dentre essas diferentes abordagens, destacamos a feita por 
Kant em torno da ideia do dever, com forte apelo à universalidade e ao rigor de princípio; e 
em complemento/oposição, a escola Utilitarista, originada na filosofia inglesa e articulada em 
torno do princípio de máxima felicidade a partir da avaliação das consequências das ações.
Para um bom aproveitamento e desenvolvimento de seus estudos, é necessário começar com 
o acesso ao Material Didático. É lá que você poderá encontrar o Texto Teórico, cujo 
conteúdo corresponde à base das atividades desta unidade. Leia-o com bastante atenção.
Você pode verificar se houve uma boa compreensão do tema ao responder as questões 
da Atividade de Sistematização. São questões sobre os principais aspectos 
abordados no texto.
O aprofundamento da discussão será obtido através dos Materiais Complementares, da 
Apresentação Narrada e da Videoaula.
Por fim, realize a Atividade de Aprofundamento da unidade; lá você encontrará dicas 
para aprimorar ainda mais seus conhecimentos sobre o tema Dever e Consequências.
• Inserção no pensamento ético de Kant.
• A noção de Boa Vontade.
• O conceito de Imperativo Categórico.
• Inserção no pensamento ético Utilitarista.
• O princípio de Máxima Felicidade.
• A busca pelo prazer e o afastamento da dor.
Dever e Consequências 
 · Dever e Consequências
 · Immanuel Kant e a Ética do Dever 
 · Utilitarismo e a Ética das Consequências
6
Unidade: Dever e Consequências 
Contextualização
“Podemos – devido a uma grande necessidade – fazer uma promessa sabendo que 
não iremos cumpri-la?” (Adaptado – Fundamentação de Metafísica dos Costumes. KANT, 
2007, p. 31.)
Thinkstock/Getty Images
Pense
• Quais as consequências desse tipo de conduta?
• Ela seria moralmente aceitável?
7
Dever e Consequências
Nosso itinerário nesta disciplina percorreu diferentes temas relevantes para discussão em 
torno dos temas que conectam cidadania e ética. 
Aprofundando-nos um pouco mais no pensamento filosófico, no que trata da moral, 
podemos recortar duas linhas de força que foram e ainda são muito importantes para a 
discussão sobre ética.
De um lado a questão do dever, entendendo que nesse aspecto, uma ação, por exemplo, 
pode ser realizada de diferentes maneiras, mas ela deve ser executada de determinada maneira, 
o que deixa de lado todas as outras. Por que esse determinado caminho (linha de ação) é 
melhor do que os outros? Qual o critério? Quando tratamos de uma deontologia (ciência dos 
deveres), temos princípios, e é somente sob esses princípios que uma ação pode ser julgada 
como boa ou ruim. Portanto, uma ética que se atenha a um princípio previamente estabelecido 
pode não se curvar diante de uma situação inesperada, mesmo que os resultados não sejam 
favoráveis ao agente. Esse tipo de ética em que o princípio vem em primeiro lugar é fortemente 
identificada com o pensamento kantiano – do qual falaremos mais adiante.
Outra linha de força pode ser vista ora como antagônica, ora como complementar – deixaremos 
para a sua própria reflexão assumir se ambas são ou não totalmente incompatíveis entre si 
quando se tratam das práticas cotidianas. Essa linha de força não teria um único autor, sendo 
mais como uma escola de pensamento, que tem o inglês Jeremy Bentham como seu fundador, 
mas que contou fortemente com a contribuição de outros pensadores, como o também inglês 
John Stuart Mill – sobre o qual falaremos adiante. Essencialmente, essa linha de pensamento 
avalia se uma ação é boa ou ruim com base nos resultados que essa possa produzir, ou seja, 
o critério, apesar de ser o de se buscar uma melhor ação possível, pode variar mais facilmente 
conforme a circunstância, tendo em vista os possíveis efeitos dessa ação. Como veremos, ambas 
as correntes têm seus méritos e seus aspectos problemáticos. Então comecemos!
Immanuel Kant e a Ética do Dever 
O filósofo Kant (1724-1804) é, sem dúvida, um dos pensadores mais importantes do século 
XVIII; talvez o mais importante. Em qualquer cenário, é um dos autores protagonistas nos curso 
de filosofia, visitado em diferentes disciplinas.
No campo da ética, articula de forma interessante a teoria em torno da questão do dever.
Para esse filósofo, nascido em Königsberg (antigo território prussiano), toda ação que se 
pretenda pautada pela ética, toda ação que seja legitimamente moral, é uma ação segundo o 
dever. Para começar a entender a ideia kantiana de dever, podemos começar pelo que ele não 
é, nesse caso, ação por interesse. Aqui não se trata de ideia de interesse no sentido “de estar 
voltado para algo”, mas a discussão é sobre a motivação da ação. Como nos lembram diferentes 
8
Unidade: Dever e Consequências 
autores (Conf. CHAUÍ, 2003), tomar determinada linha de ação para obter algum benefício 
(atender ao nosso interesse) pode ser visto como uma doutrina egoísta, ou melhor, uma linha 
de pensamento em que o critério para as minhas ações é o que essa ação pode resultar de bom 
para mim. Por exemplo, se auxilio um conhecido considerando que ele ficará “me devendo um 
favor”, estou guiando minha ação como uma espécie de investimento futuro; na verdade um 
“empréstimo de solidariedade” (não estamos nos referindo propriamente a dinheiro), o qual 
eu posso “resgatar” quando me for conveniente. Em alguns casos, o egoísta espera receber o 
“empréstimo da boa ação” acrescido de “juros”.
Para o pensamento kantiano, esse tipo de conduta não tem nada de ético, pois, afinal, o que 
deveria ser o motivo da ação é uma causa, a priori, puramente racional, nada que seja derivado 
dos desejos, cobiça, lucro, fama ou quaisquer outras motivações externas à razão. 
Como assim motivações puramente racionais?
O pensamento kantiano admite que somos pressionados pelas necessidades naturais (Idem, 
2003). O corpo humano tem necessidades que são físicas, biológicas e químicas, das quais não 
podemos escapar. Basta lembrar que todo ser humano precisa dormir! Não é uma necessidade 
que possa simplesmente ser posta de lado (sim, estudante, há casos de pessoas que sofrem de 
insônia, mas isso indica apenas que ela tem dificuldades para dormir, não é o mesmo que nunca 
dormir, até porque em casos assim o indivíduo adoece). O mesmo se estende ao ato de comer 
ou beber. No entanto, algumas necessidades são parcialmente suprimidas (optar por fazer uma 
refeição mais cedo ou mais tarde) e outros impulsos podem ser ou não contidos, dependendo 
da escolha do agente (em um momento de desagrado, dirigir ou não palavras ofensivas para a 
outra pessoa).
 Pessoa firmando um acordo Pessoa dormindo
Thinkstock/Getty Images
Não se trata apenas das necessidades internas; também recebemos toda uma série de 
estímulos externos, sociais, que podem induzir nossa vontade. Imagine, estudante, agir de 
uma maneira que faça com que as outras pessoas gostem de você. No entanto, você faria 
9
as mesmas coisas se soubesse de antemão que elas não lhe proporcionariam nenhuma 
popularidade? É essa a direção seguida por Kant no exame da moral. Para o filósofo de 
Königsberg, nossa vontade – que guia nossas ações - deve se identificar com aquilo que ele 
próprio definiu como boa vontade.
 
 Diálogo com o Autor
“A boa vontade não é boa por aquilo que promove ou realiza, pela aptidão para alcançar qualquer 
finalidade proposta, mas tão somente pelo querer, isto é, em si mesma, e, considerada em sim 
mesma, deve ser avaliada em um grau muito mais alto do que tudo o que por seu intermédio possa 
ser alcançado em proveito de qualquer inclinação, ou mesmo, se se quiser, da somade todas as 
inclinações.” (KANT, 2007, p. 23.)
Eis um ponto que merece bastante atenção: uma boa vontade só é boa pela sua forma de 
querer, um querer em si mesma. O que o filósofo estava tentando nos passar? Que esse 
“querer” deve seguir a si próprio e não influências, motivos, desejos ou outros estímulos externos. 
De onde vem um “querer em si mesmo”? Para Kant, o ser humano é dotado de vontade, 
mas atenção! Aqui é uma concepção da vontade que não corresponde à do senso comum, 
que muitas vezes equivale vontade com desejo, por exemplo: “o menino está com vontade 
(quer) de mais sorvete de chocolate” ou “a menina tem vontade (gostaria ou deseja) de uma 
boneca nova”. 
Segundo Kant, a “vontade é uma espécie de causalidade dos seres vivos, enquanto seres 
racionais” (KANT, 2007, p. 93). Em outras palavras, uma motivação derivada da razão, cuja 
liberdade seria uma propriedade da mesma (Idem).
Assim sendo, a fonte de uma boa vontade estaria em nossa vontade racional, que segundo 
Kant é universal. Essa universalidade diz respeito a todos os seres racionais. Agir por boa vontade 
também é agir segundo o dever (lei moral) formado pela nossa razão. 
Um ponto fundamental da ética kantiana é que ela não impõe conteúdos, não cria uma lista 
de coisas que são boas segundo a razão ou uma lista de coisas que não são. A estratégia de Kant 
está em permanecer na forma da razão, ou melhor, a racionalidade produz por coerência consigo 
mesma certo parâmetro, que por ser produzido racionalmente, é compatível com qualquer ser 
racional e, portanto, independente de cultura, época ou lugar - daí a universalidade do princípio.
Mas, afinal, qual o parâmetro? Qual a regra? Considerando-se que seria uma regra sem 
conteúdo!
Quando Aristóteles buscou o seu critério para uma ação boa, seguiu com a ideia de um 
“meio termo” entre os extremos; a virtude (ação boa) está longe do vício por excesso e longe 
do vício por ausência. 
A solução kantiana pode ser considerada até mais simples. O critério é a própria universalidade, 
via razão.
10
Unidade: Dever e Consequências 
Para uma ação ser moralmente válida, ela deve ser racional. E se ela (ação que se pretende 
moralmente válida) for realmente uma ação racional, será coerente com a atitude de qualquer 
ser racional; portanto será válida moralmente para todos os seres racionais. Mas esse, estudante, 
é o aspecto sutil da questão; a ação teria que ser possível de ser executada por todos não 
quando convém a cada um, mas por todos o tempo todo!
Esse é o critério! Confuso? Imagine a mentira. Podemos imaginá-la como uma ação que seja 
universal? Não se trata de tolerar este ou aquele mentiroso, que quando lhe convém mente para 
seu próximo (seja para obter lucro, seja para se sobressair socialmente etc.). A pergunta seria: 
poderíamos viver em uma sociedade em que todos mintam? O médico mente ao paciente, 
que mente ao advogado, que mente ao juiz, que mente ao réu, que mente à família, e assim 
infinitamente. A própria comunicação mínima necessária para o convívio e organização da 
sociedade se tornaria inviável. 
Mas antes do passo seguinte, ainda um ponto que deve incomodar o estudante atento: como 
uma regra pode não ter conteúdo? Como ela pode ter apenas forma? Ajuda se raciocinarmos 
forma enquanto fórmula, e nesse caso chegamos ao célebre imperativo categórico.
 
 Diálogo com o Autor
“O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: age apenas segundo uma máxima tal 
que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (KANT, 2007, p. 59.)
Partindo, então, da fórmula kantiana, o que temos é uma espécie de “teste de universalidade”, 
em que não está previamente estabelecido que esta ação em particular é boa ou ruim, mas 
devemos refletir sobre sua coerência racional, seguindo a ideia da universalidade. Se posso 
fazer com os outros e os outros também podem fazer comigo e entre eles, independentemente 
de circunstâncias que beneficiassem essa ou aquela pessoa, então essa é uma ação de 
acordo com a vontade racional, ou seja, atende a um imperativo da razão – portanto, um 
imperativo categórico, porque busca uma coerência universal e assume a forma de um dever. 
(Lembre que, como acabamos de mencionar, a mentira não atende a esse critério, porque 
não poderia ser elevada a um padrão de conduta corriqueiro, não poderia ser aceita como lei 
universal da razão). 
A ideia de uma lei universal, aplicada como sugere Kant, tem derivações interessantes 
apontadas pelo próprio filósofo, quando atentamos para a maneira como devemos tratar com os 
outros. Em palavras kantianas: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa 
como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente 
como meio.” (KANT, 2007, p. 69).
Ora, estudante, como a ideia é fazer ações que se tornem leis universais, sem dúvida utilizar as 
pessoas como meios para atingir outros fins não pode ser considerado um princípio eticamente 
válido. Você já deve ter ouvido a expressão “Aquela pessoa tem segundas intenções”. Esse é 
o caso que estamos examinando. Considerar “as outras pessoas como meios” significa tratá-
las como “pontes” para alcançar outros interesses, seja como o bajulador que elogia ou se 
11
mostra simpático a alguém em posição de poder (para obter vantagem futura), seja, como foi 
mencionado antes, como aquele que, em falsa solidariedade, auxilia o próximo com vistas a 
obter também alguma vantagem no futuro. 
Tanto em um caso como no outro não há um verdadeiro respeito pela dignidade da humanidade 
do outro indivíduo e, portanto, não poderiam ser elevados à condição de lei universal.
Por fim, chamamos atenção novamente para o tema da liberdade. Kant defende que para 
chegarmos ao imperativo categórico, a autonomia da vontade está pressuposta. O indivíduo 
apenas pode agir moralmente se sua vontade visar apenas à boa vontade. Se essa ação decorre 
de influências ou pressões externas, então ela não se portou autonomamente. Isso levanta uma 
questão interessante no pensamento kantiano, que o faz distinguir a ação segundo a lei moral e 
a ação segundo a lei do Estado (no sentido jurídico). 
Por se tratar de um princípio que depende rigorosamente da racionalidade, quando o 
indivíduo age conforme a lei, ele está sendo moralmente correto?
Para o filósofo de Königsberg, não necessariamente!
Um indivíduo pode agir de acordo com as leis de seu país e estar sendo moralmente correto, 
pois as leis do Estado convergem para os ditames da vontade racional do mesmo indivíduo, ou 
seja, ele na verdade está obedecendo a suas convicções racionais em primeiro lugar (autonomia). 
Já em outro caso, o sujeito obedece às leis do Estado sem se preocupar se está ou não atendendo 
a um parâmetro universal da razão; a preocupação com a conformidade legal acontece por receio 
das sanções que receberia caso não atue de acordo. Nessa situação, embora o cidadão não tenha 
cometido nenhuma ilegalidade (respeitou as leis de trânsito, pagou seus impostos, etc.), segundo 
o critério kantiano ele não foi ainda verdadeiramente ético, uma vez que só agiu corretamente por 
pressão da punição que poderia receber (ser multado ou preso, dependendo da violação). Nesse 
caso, diria Kant, prevaleceu o imperativo hipotético, em que o sujeito age de determinada maneira 
pensando em conseguir (ou evitar) determinada consequência. 
Esse último ponto nos leva a uma reflexão. A proposta kantiana é um desafio pelo seu rigor 
racional, ao ponto de não autorizar que a simples conformidade legal (em relação às leis do 
Estado) assegure se tratar de um ato de moralidade, e de exigir, para tanto, a conformidade com a 
lei moral em nós (que é agir segundo a vontade racional). Podemos imaginar que uma sociedade 
que de fato alcançasse o nível de exigência da ética kantiana seria muito menos problemática 
do que uma sociedade em que seus cidadãos somente cumprem suas leis mediante intensa 
fiscalização e vigilância do poder público. A ausênciade uma solidariedade social verdadeira, a 
existência apenas de uma colaboração forçada, não levaria a um cenário por demais opressivo? 
As leis sociais só seriam obedecidas pela deformação da vontade mediante pressão do Estado. 
Nesse clima opressivo, a manutenção da ordem e os próprios vínculos sociais ficariam à mercê 
do uso de força. Mas o que aconteceria quando todo esse aparato de vigilância falhasse? Em 
um exemplo mais simples: e se o guarda de trânsito não estiver presente (e não houver câmeras 
filmando), a sinalização de trânsito seria obedecida?
Se uma sociedade assumisse mais coletivamente (é provável que houvesse exceções e com elas 
crimes) os parâmetros da vontade racional, por acaso não tenderia que seus cidadãos cumprissem 
suas leis, por exemplo, de maneira mais espontânea? Com menor incidência de vigilância, não 
sobrariam mais recursos para aplicar em outros serviços públicos mais interessantes? Não seriam 
menores os casos de corrupção? Certamente é algo que merece reflexão.
12
Unidade: Dever e Consequências 
Utilitarismo e a Ética das Consequências
O Utilitarismo enquanto corrente de pensamento contou com a contribuição de diferentes 
autores - Jeremy Bentham (1748-1832), John Stuart Mill (1806-1873), Peter Singer, entre 
outros. Como opção didática, escolhemos nos ater mais ao texto Utilitarismo, de Stuart Mill, 
que desde já indicamos a você, estudante, como material para leitura.
Em linhas gerais, o utilitarismo corresponde a uma abordagem ética que muitas vezes também 
é chamado de consequencialismo. 
Assim como outras linhas de pensamento sobre o tema, o utilitarismo defende que a solução 
ao problema de “como devemos viver” passa pela busca da felicidade.
A maneira de se buscar essa felicidade lhe é peculiar; deve-se procurar agir de modo a que as 
ações de um determinado agente promovam diretamente, ou ajudem a promover indiretamente, 
esse resultado de maior felicidade.
Também aqui não se trata de uma solução simplesmente egoísta, que seria em realizar ações 
cujos resultados fossem bons para o agente. A discussão é mais complexa, pois o utilitarismo 
defende que se busque a felicidade em geral, o que passa a incluir os outros indivíduos, sendo 
ainda que os interesses dos outros devem ter o mesmo valor que os nossos. Pode-se dizer que “o 
utilitarista advoga uma estrita igualdade na consideração dos interesses.” (GALVÃO, 2005, p. 09).
 
 Diálogo com o Autor
“O credo que aceita a utilidade, ou o Princípio da Maior Felicidade, como fundamento da moralidade, 
defende que as ações estão certas na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na 
medida em que tendem a produzir o reverso da felicidade. Por felicidade, entende-se o prazer e a 
ausência de dor; por infelicidade, a dor e a privação do prazer.” (MILL, 2005, p. 48.)
Fique atento, estudante! Novamente nos deparamos com termos cujo significado filosófico 
vai além do uso no senso comum!
Observemos o próprio termo “utilitarismo”. A palavra pode induzir erroneamente à ideia 
de utilidade simplória, quase mecânica, tal como são úteis uma ferramenta, um sapato, etc., e 
parecer descolada da ideia de útil para questões mais intangíveis, como a felicidade. Por outro 
lado, termos como “prazer” e “dor” no senso comum podem ter um uso por demais restrito: o 
prazer como associado ao prazer sensual (oriundo dos sentidos), sendo ainda, em muitos casos, 
algo passageiro e muito facilmente condenado por moralismos tradicionais; já a dor, associada 
apenas com sofrimento físico mais imediato (dor de dente, dor devida a uma pancada sofrida, 
dor de barriga etc.).
13
Stuart Mill, em seu texto Utilitarismo, passa algumas linhas desfazendo esse tipo de confusão, 
a qual atrai críticas indevidas ao utilitarismo enquanto doutrina ética.
Um caminho que contribui para o entendimento da linha de pensamento do autor é 
considerar “prazer” e “dor” como termos que incluam “bem-estar” e “mal-estar” de uma forma 
mais ampla. Satisfação em alcançar uma meta profissional, por exemplo, entraria na categoria 
de “prazer”. Tristeza ou decepção podem ser incluídas na categoria utilitarista de “dor”.
O estudante atento já desconfia que o utilitarismo pode muito bem criar uma hierarquia de 
prazeres, em que uns são mais elevados do que outros. A desconfiança procede. Stuart Mill 
reconhece que o princípio de utilidade é compatível com a distinção entre tipos de prazeres. 
“Seria absurdo supor que, enquanto que na avaliação de todas as outras coisas se considera tanto 
a qualidade como a quantidade, a avaliação dos prazeres dependesse apenas da quantidade.” 
(MILL, 2005, p. 49.)
Quando se fala de uma teoria das consequências que privilegia a ação que produza o maior 
prazer possível não apenas para o agente, mas para a comunidade como um todo, um problema 
a ser considerado é: “como posso atingir esse máximo de prazer ou de felicidade?”. “Isso 
realmente é possível?”. No que se refere à possibilidade da felicidade, a réplica utilitarista é de 
que quando não for possível ampliar a felicidade, deve-se buscar evitar ou mitigar a infelicidade 
existente. Certamente um donativo dado em uma campanha de caridade não resolve de forma 
definitiva toda uma série de problemas sociais ligados à pobreza, porém seguindo o raciocínio 
dos utilitaristas, a ação auxilia ao menos a mitigar – ao mesmo que momentaneamente – a dor 
(situação de privação) na qual se encontra aquela pessoa ou grupo de pessoas, ou seja, para o 
utilitarismo a ação é moralmente válida. 
Há outro problema que costuma ser apresentado ao utilitarismo: o do cálculo das 
consequências. Jeremy Bentham falava mesmo em “cálculo para a felicidade”. O entendimento 
sóbrio e prático de Stuart Mill ironiza ao afirmar que um moralista cristão não precisa ler (ou 
reler) todo o antigo e o novo testamento a cada decisão que vá tomar (Conf. MILL, 2005). 
Para Stuart Mill, a cultura humana acumula uma longa sabedoria moral, a qual pode já servir 
de ponto de partida para qualquer um que queira agir corretamente em sociedade, não sendo 
necessário para cada caso do convívio em sociedade fazer uma “terra arrasada” e começar a 
questionar tudo do zero. 
Um exemplo lembrado pelo autor inglês é o princípio de “se cumprir aquilo que for 
prometido”. A sabedoria popular e o acúmulo de bons resultados com esse tipo de prática 
(resultados empíricos) ajudaram a construir a ideia de que cumprir as promessas seja algo sábio, 
bom, justo ou simplesmente o “certo a se fazer”. Ora, por que um utilitarista não faria uso dessa 
“sabedoria acumulada”? O espírito empírico de Stuart Mill leva a responder que sim, que essa 
é uma linha de ação moralmente correta, e quando analisada à luz dos parâmetros utilitaristas 
isso se confirma, pois pode-se imaginar o quão danoso seria para a sociedade instituir a prática 
contrária, ou seja, se as promessas jamais fossem cumpridas. 
O argumento de Mill é que não se faz necessário um imenso cálculo de consequências para cada 
decisão do cotidiano. Muitas vezes, seguir as leis e os costumes já parece atender às demandas 
éticas do homem comum. Na maioria dos casos, o alcance das ações de uma pessoa impacta 
mais fortemente sobre ela mesma e em seus entes queridos, e esse “cálculo” intuitivo não seria tão 
difícil de fazer. Mas, estejamos atentos, isso não priva o cidadão comum de ter responsabilidades 
14
Unidade: Dever e Consequências 
ou preocupações com questões que dizem respeito ao conjunto da comunidade. Se pensarmos 
em termos mais contemporâneos, a preocupação com o meio ambiente, por exemplo, é algo 
cada vez mais presente no cotidiano do cidadão comum e é algo cujo impacto é pensado para a 
comunidade, tanto agora quanto no futuro, nas próximas gerações.
O utilitarismo também nos lembra de que dependendo da posição de liderança junto à 
sociedade, as decisões de um indivíduo podem ter um alcance muito maior em termos de 
consequências. Aliás, esse é um ponto chave na distinção entre uma ética de tipo transcendental,como a ética kantiana, e uma ética de matriz consequencialista. Voltemos ao princípio de se 
cumprir uma promessa. Se tomarmos a lógica da ética do dever em Kant, cumprir a promessa 
atende aos requisitos do imperativo categórico e, portanto, é uma ação que deve ser elevada a 
lei universal. Nesse caso, é razoável que qualquer ser racional se veja obrigado por sua lei moral 
interior (racional) a cumprir sempre as suas promessas. Sempre existiria a possibilidade de não 
fazê-lo, mas tomando o sistema kantiano ao “pé da letra”, quebrar uma promessa sempre seria 
uma conduta imoral, incorreta.
 Paz Guerra
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hinkstock/G
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Agora, estudante, imaginemos o seguinte cenário: um líder de um país fez uma promessa, 
mas, devido à conjuntura, manter essa promessa desencadearia uma guerra sangrenta com a 
possibilidade da morte de milhares de pessoas. Ele deveria honrar a promessa, pelo simples 
princípio de que “o prometido deve ser cumprido” ou ele quebraria o prometido, tendo em vista 
as consequências da sua ação (evitar um aumento imenso na dor da comunidade)? Não é uma 
situação simples, mas a saída, se pensada a partir de parâmetros utilitaristas, é quase imediata: 
evita-se a guerra. O entendimento da maioria dos utilitaristas é que a situação justifica a ação; 
assim, a liderança em questão teria agido de forma correta. Mas se tomarmos parâmetros 
kantianos, a questão se complica. Talvez a liderança em questão tivesse que renunciar diante do 
paradoxo ao qual estaria presa (teria perdido a legitimidade moral por não cumprir o prometido), 
mesmo tendo realizado uma ação que salvasse muitas vidas. 
O paradoxo não atinge apenas o modelo de Kant, atinge também o utilitarismo. 
Imaginemos outra circunstância: um indivíduo cruel, que já foi condenado pela justiça com 
todas as provas possíveis de seus crimes (assassinatos), contando inclusive com a confissão dos 
15
mesmos. Poderia a comunidade exigir um apressamento da sua execução (caso fosse essa a sua 
penalidade) para que fosse aproveitado o máximo de órgãos para a doação? Com a variável 
que o prisioneiro não autorizou tal procedimento? Mas não seria de interesse público essa coleta 
de órgãos? Poderia se salvar e restituir a condição de membro produtivo da sociedade em pelo 
menos seis outros indivíduos honestos, com entes queridos, etc. Tomado o critério kantiano, a 
resposta seria negativa, seja por questões de dignidade humana, seja pelo respeito à autonomia 
do prisioneiro (pelo menos na questão de aceitar ou não fazer doação de órgãos). Já para 
o utilitarismo, se o princípio de máxima felicidade fosse aplicado de uma forma selvagem, 
o raciocínio de que o interesse da coletividade merece o sacrifício do indivíduo, o resultado 
poderia ser diferente. 
O que queremos mostrar é que seja pela linha do dever, seja pela linha da utilidade, ambos 
os modelos têm virtudes próprias e dificuldades quando submetidos a situações extremas.
Para o modelo do dever estabelecer exceções em regras universais, é sempre um embaraço, a 
menos que sejam seguidas de regras que estabeleçam qual é a exceção. Isso na prática cria um 
subconjunto de regras que também podem ser pressionadas de forma a se ampliar a exceção 
anterior, e daí novo embaraço.
O modelo das consequências pode sofrer com o excesso de flexibilidade. Em situações que 
coloquem os interesses de uma maioria em contraposição aos interesses de uma minoria, quais 
os limites éticos para a moralidade? Em alguns momentos a sociedade produz padrões que 
tendem a servir como limite. Quando o utilitarista recorre a esses padrões e os aceita como 
norma, está bem próximo de uma ética do dever. 
O ponto o qual precisamos deixar assinalado é que embora o modelo do dever ou o 
modelo das consequências pareça um se inspirar no outro, quando colocados em situações de 
encurralamento (o dever autorizar a exceção da regra e o consequencialista colocar uma regra 
limite a avaliar as consequências a partir dela), em ambos, assim como no modelo de uma ética 
da virtude nos moldes aristotélicos, sempre há um chamado: a razão.
A maioria das doutrinas éticas ligadas à filosofia coloca a razão como a ferramenta que 
irá julgar as nossas ações. Em nenhum momento esses modelos racionalistas vão validar ou 
condenar uma linha de ação unicamente com base numa tradição, ou em um critério religioso, 
por exemplo. O corrupto não é imoral porque roubar é pecado; ele é imoral porque desviar 
recursos públicos, subornar ou receber suborno é algo que não consegue ser elevado à condição 
de lei universal (pois ele obtém vantagem prejudicando terceiros). Também pelo mesmo motivo 
é imoral uma ação que diminui a felicidade geral e contribui para o aumento da infelicidade 
(basta pensarmos em todos os não beneficiados daqueles serviços públicos que deixam de 
existir por faltar dinheiro de impostos para implementá-los, exatamente porque o dinheiro fora 
roubado) e, finalmente, almejar recursos que não são de sua propriedade e que ferem as leis 
vigentes afastam o corrupto da conduta virtuosa e o afogam no vício da cobiça.
Dessa maneira, entendemos que a ética é uma disciplina viva. Muitas escolas de pensamento 
se debruçam sobre o tema, obtendo resultados diversos em muitos pontos e semelhantes em 
outros; o importante ao filósofo é estar sempre aberto à reflexão sobre o tema, de modo a 
contribuir para um debate sobre as constantes melhorias das formas de se viver e, por que não, 
quem sabe, abrir caminhos para a felicidade?
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Unidade: Dever e Consequências 
Material Complementar
A bibliografia complementar irá ajudá-lo(a) no aprofundamento dos seus estudos.
Sugerimos iniciar sua pesquisa de aprofundamento a partir dos “manuais mais gerias” e 
depois dedicar sua leitura aos textos específicos. Indicamos também a leitura de algumas obras 
clássicas, como Fundamentação de Metafísica dos Costumes, de Kant e Utilitarismo, de John 
Stuart Mill. Também recomendamos a leitura de perspectivas contemporâneas sobre o tema da 
ética, como A sociedade pós-moralista, de Gilles Lipovetsky.
 
 Importante
Importante também, estudante, é recorrer a um vocabulário filosófico. Essa abordagem facilita o 
movimento de investigação partindo dos textos mais introdutórios em direção aos mais complexos, o 
que permitirá ampliar a discussão principal da unidade, que envolve a temática em torno das ideias 
de Dever e de Consequências.
 
Indicação de Filme:
Para pensar a questão de uma ética que se cumpre apenas por meio das sanções, o 
dilema do “homem invisível”, sugerimos o filme:
O homem sem-sombra. Direção de Paul Verhoeven. Estados Unidos/Alemanha. 
2000 (Duração: 112 min.).
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Referências
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª edição. – São Paulo, SP: Editora Ática, 2003.
FRANKENA, Willian K. Ética. Tradução de Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. – 
Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1969.
GALVÃO, Pedro. Introdução. In: MILL, John Stuart. Utilitarismo. – Porto: Porto Editora, 2005.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo 
Quintela. – Lisboa: Edições 70, 2007.
MILL, John Stuart. Utilitarismo. Introdução, tradução e notas de Pedro Galvão. – Porto: 
Porto Editora, 2005.
REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 7ª 
edição – São Paulo, SP: Paulus, 2002.
BITTAR, Eduardo C.B; ALMEIDA, Guilherme Assis. Curso de Filosofia do Direito. 10ª 
edição. – São Paulo, SP: Editora Atlas, 2012.
GIANNETTI. Vícios privados, benefícios públicos?: a ética na riqueza das nações. – São 
Paulo, SP: Companhia das Letras, 2007.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo 
Quintela. – Lisboa: Edições 70, 2007.
LIPOVESTSKY, Gilles. A sociedade pós-moralista: o crepúsculo do dever e a ética indolor 
dos novos tempos democráticos. Tradução de Armando Braio Ara. – Barueri, SP: Manole, 2005.
MILL, John Stuart. Utilitarismo. Introdução, tradução e notas de Pedro Galvão. – Porto:Porto Editora, 2005.
REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 7ª 
edição – São Paulo, SP: Paulus, 2002.
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Unidade: Dever e Consequências 
Anotações

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