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Artigo - A presença do Direito Consuetudinário nos Títulos de Crédito Atípicos ou Inominados

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A PRESENÇA DO DIREITO CONSUETUDINÁRIO NOS TÍTULOS DE CRÉDITO
Renata Rezende Ribeiro�
RESUMO
O presente artigo tem como finalidade analisar a presença, ou não, do chamado direito costumeiro no Direito Empresarial, mais especificamente no que diz respeito a títulos de crédito atípicos ou inominados. Dessa forma, a análise do presente artigo será capaz de contribuir para uma resposta adequada, uma vez que partirá de pressupostos basilares como a noção de títulos de crédito, até o enfrentamento da problemática em si. Iniciar-se-á com breve conceito de Direito Consuetudinário, posteriormente de títulos de crédito, apontando suas principais características, passando-se, após, a analisar o tema principal, título de crédito atípico ou inominado e demonstrando a incidência do direito costumeiro em suas relações.
Palavras-chave: Empresarial. Costumeiro. Atípico. Inominado.
INTRODUÇÃO
	
É cediço que a visão moderna de Direito foi criada por diversos costumes dos países que os instituíram. Em relação aos direitos dos comerciantes não foi diferente, haja vista que, antes que a matéria fosse legalmente regulamentada, esta foi dirigida através dos costumes daqueles que arriscavam a realização de empreendimentos, da mesma forma foram dirimidos os conflitos de interesses. Através dos hábitos dos comerciantes, a matéria se desenvolveu e evoluiu, a ponto de hoje a conhecermos como Direito Empresarial, onde estão regulamentadas as questões referentes às sociedades empresárias e títulos de crédito. O presente artigo, através de pesquisa bibliográfica, tratará, exclusivamente, da atual presença do direito consuetudinário em títulos de crédito, especialmente, no que diz respeito aos títulos de crédito atípicos ou inominados, uma vez que estes não foram regulamentados pelo Código Civil de 2002 e são regidos, unicamente, pelos costumes daqueles que os fazem.
I. O Direito Consuetudinário
Entende-se por direito consuetudinário, o sistema normativo decorrente dos costumes de determinada sociedade. São regras impostas, comumente, pelos conceitos morais e éticos da sociedade que os criam e não se encontram codificadas. Trata-se de verdadeiro comportamento social tido como correto aos olhos daquela sociedade. 
II. Títulos de Crédito
Aduz Albernaz que:
a modernização das práticas comerciais, impulsionadas pela figura do crédito, necessitou ainda de que a obrigação futura em troca de um valor ou mercadoria atual fosse exteriorizada em um documento – o título de crédito – com o escopo de incorporá-la e dar garantia ao credor. A par da multiplicação das atividades comerciais, o título surgiu como um mecanismo perfeito e eficaz da mobilização da riqueza e da circulação do crédito, influenciando todos os negócios jurídicos, principalmente os de natureza econômica. (Albernaz, Lister de Freitas. Títulos de crédito eletrônicos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 554, 12 jan. 2005)
Para Fábio Ulhoa Coelho: “título de crédito é um documento. Como documento, ele reporta um fato, ele diz que alguma coisa existe. Em outros termos, o título prova a existência de uma relação jurídica, especificamente duma relação de crédito” (Coelho, 2012, pg. 435).
Assim, provada a existência da relação de crédito (que será sempre fundada na confiança entre duas ou mais pessoas), torna-se exigível o seu adimplemento. 
Sabe-se que o título de crédito não é o único documento capaz de demonstrar direitos e obrigações, entretanto, este distingue-se dos demais em três aspectos:
Em primeiro lugar, ele se refere unicamente a relações creditícias. Não se documenta num título de crédito nenhuma outra obrigação, de dar, fazer ou não fazer. Apenas o crédito titularizados por um ou mais sujeitos, perante outro ou outros, consta de um instrumento cambial (...). A segunda diferença entre o título de crédito e muitos dos demais documentos representativos de obrigação está ligada à cobrança do crédito em juízo. Ele é definido pela lei processual como título executivo extrajudicial (CPC, art 585, I) (...). Em terceiro lugar, o título de crédito ostenta atributo de negociabilidade, ou seja, está sujeito a certa disciplina jurídica, que torna mais fácil a negociação do crédito, a negociação do direito nele mencionado. A fundamental diferença entre o regime cambiário e a disciplina dos demais documentos representativos de obrigação (que será chamada, aqui, de regime civil) é relacionada os preceitos que facilitam, ao credor, encontrar terceiros interessados em antecipar-lhe o valor da obrigação (ou parte deste), em troca da titularidade do crédito (Coelho, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial – Vol. 1. 2012. Ed. Saraiva. Pg. 435) 
Portanto, diante do regime jurídico que disciplina os títulos de crédito, a doutrina extrai três princípios, quais sejam: cartularidade, literalidade e autonomia das obrigações cambiais. 
O primeiro, diz respeito a quem detém a cártula, ou seja, o papel, o documento no qual foi lançado os atos cambiários que constituíram o crédito. Dessa forma, presume-se credor aquele tem, em seu poder, este documento. Coelho aponta como exemplo concreto da observância desse princípio, a necessidade de exibição do título de crédito original na instrução da petição inicial (Coelho, 2012, pg. 438).
Quanto à literalidade, entende-se que, somente produz efeito jurídico-cambial os atos lançados no próximo título de crédito, de modo que o devedor não poderá eximir-se da responsabilidade de quitar integralmente àquilo em que se obrigou, assim como não poderá o credor exigir direitos que não constem expressamente do título de crédito que detém.
Por fim, defendido por Coelho como o mais importante princípio regente dos títulos de crédito, a autonomia das obrigações cambiais consiste no fato de as obrigações serem autônomas, razão pela qual se diversas obrigações forem documentadas em um único título, a eventual invalidade de uma delas não atingirá as demais (Coelho, 2012, pg. 441).
Os artigos 887 a 903 do Código Civil apresentam algumas características dos títulos de crédito, prevendo o artigo 889 os seguintes requisitos “deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente”, deixando cristalino, porém, o artigo 903 que “salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código”, isto porque, o direito brasileiro adota o princípio da especialidade das leis, de modo que a lei especial afasta a incidência da lei genérica. Assim, a maioria dos títulos de crédito encontram-se previstos em leis especiais, como o cheque e a nota promissória, alguns títulos, no entanto, encontram-se sob a égide do Código Civil, esses embora não sejam assunto de leis específicas possuem previsão legal, diferentemente do título de crédito atípico ou inominado.
O princípio da legalidade ou tipicidade aduz que os títulos de crédito, para serem assim serem considerados, precisam ser “previamente definidos e disciplinados, afastando, desta forma, a ideia de criação de outros títulos cambiários, se não aqueles já estabelecidos pela legislação, obedecendo os requisitos de cada título para a própria emissão” (Rosa Jr., 2007, pg. 71), porém, o referido princípio encontra-se relativizado, ante a possibilidade de existência de títulos de crédito não previstos em legislação especial, conforme a redação dos artigos 887 e 903 do Código Civil (Netto, 2017). 
Ressalta Lister de Freitas Albernaz que
assim, o Código adotou o princípio da liberdade de criação e emissão de títulos atípicos ou inominados, resultantes da criatividade da praxe empresarial, com base no princípio da livre iniciativa, pedra angular da ordem econômica (Constituição de 1988, arts. 1º e 170), visando a atender às necessidades econômicas e jurídicas do futuro, tendo em vista a origem consuetudinária da atividade mercantil. (Títulos de crédito eletrônicos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 554,12 jan. 2005)
III. Títulos de Crédito Atípicos ou Inominados
Os títulos de crédito atípicos (ou inominados) foram inseridos na legislação brasileira pelo Código Civil de 2002, e são aqueles que, como aponta o doutrinador Fábio Ulhoa Coelho, “criados exclusivamente pela vontade das partes, independentemente de previsão legal” (Coelho, 2012, pg. 545). 
Segundo Coelho, existem elementos que indicariam ter sido a intenção de Mauro Brandão Lopes introduzir no direto positivo brasileiro dos títulos de crédito atípicos, inclusive, essa pretensão teria transparecido em diversos dispositivos do Código Reale (Coelho, 2012, pg. 545), dentre eles o reconhecimento de contratos atípicos.
Para Albernaz, o atual Código Civil ao definir os títulos de crédito, tinha como objetivo “restringir a sua aplicação aos títulos atípicos ou inominados, ou seja, títulos de crédito criados pela prática, sem lei específica, mas que se subordinam a alguns dos princípios reguladores dos títulos típicos ou nominados” (Albernaz. 2005).
A doutrina utiliza como argumento mais convincente para adoção dos títulos de crédito atípicos ou inominados o fato de que eles poderiam dinamizar os negócios, possibilitando a concretização das fontes materiais do Direito Empresarial. Entretanto, este posicionamento não é pacífico (Gusmão, 2013).
Os juristas que entendem ser juridicamente possível a adoção dos títulos de crédito atípicos argumentam que estes se encontrariam sujeitos ao regime jurídico dos artigos 887 a 926 do Código Civil, mas sem possuírem, contudo, a característica de título executivo extrajudicial.
Aponta Marlon Tomazette:
 É certo que os títulos atípicos, embora sejam títulos de crédito, não são títulos executivos, na medida em que a executividade pressupõe um reconhecimento legal específico. A tipicidade não atinge mais os títulos de crédito, mas atinge ainda os títulos executivos. (Curso de Direito Empresarial: títulos de crédito. v. 2. São Paulo: Saraiva, 2009. p.13-14).
De forma contrária, apontam alguns juristas, dentre eles Newton de Lucca, que o Código Reale deveria ter como escopo a subsidiariedade para as normas específicas dos títulos de crédito e não a regulamentação dos títulos de crédito atípicos ou inominados (Gusmão citando De Lucca, 2013).
O reconhecimento e adoção dessa modalidade de título de crédito, tendo em vista a inexistência de previsão legal, acabariam por demonstrar claramente o rompimento da “tradição do direito brasileiro de circunscrevê-los aos tipos especificamente previstos pela lei” (Coelho citando Boiteux, 2012 pg. 545), extinguindo-se, assim, o monopólio do Estado para a criação dos títulos de crédito e permitindo que essa função seja igualmente exercida por particulares como pleno exercício da autonomia privada. Diante disso, restaria evidenciada a presença do direito consuetudinário no que diz respeito aos títulos de crédito, haja vista o melhor exemplo de título de crédito atípico ou inominado citado pela doutrina, o “FICA”, brilhantemente conceituado por Marlon Tomazette:
Um exemplo de título atípico usado no país é o chamado FICA, ou vaca papel, que visa a instrumentalizar os direitos decorrentes do contrato de parceria pecuária. Neste contrato, o objeto é a cessão de animais para cria, recria, invernagem e engorda, mediante partilha proporcional dos riscos e dos frutos ou lucros havidos. O título (vaca-papel) representaria justamente o direito ao recebimento dos lucros e à devolução dos animais entregues” (Curso de Direito Empresarial: títulos de crédito. v. 2. São Paulo: Saraiva, 2009. p.13-14).
 CONCLUSÃO
Embora o direito brasileiro tivesse a tradição de circunscrever os títulos de crédito especificamente, como argumenta Boiteux, é cristalina a presença do direito consuetudinário no que diz respeito aos títulos de crédito atípicos ou inominados, uma vez que o “FICA”, exemplo apontado por Tomazette, não possui qualquer previsão legal, sendo regulamentado unicamente pela vontade das partes, suas cláusulas, termos, compromissos e condições, de modo que seria impossível dizer que o direito consuetudinário não possui incidência nos títulos de crédito.
À vista disso, resta evidenciado que mesmo sem previsão legal, os títulos de crédito atípicos ou inominados são utilizados nos negócios brasileiros, especialmente nos interiores, onde há maior quantidade de pequenos pecuaristas que utilizam-se do chamado “FICA” como forma de protegerem-se e regulamentarem a realização de seus negócios.
Portanto, vê-se que assim como em diversas matérias, os costumes continuam a regularem relações de crédito, que, baseadas na confiança do credor para com o devedor, acaba por preencher todos os requisitos necessários ao título de crédito para que assim seja legalmente considerado, contudo, não podem ser considerados como títulos executivos, conforme argumentado por Marlon Tomazette, em razão da ausência previsão legal específica.
Referências Bibliográficas
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2012.
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: títulos de credito. Vol. 2 – 4 ed. São Paulo: Atlas, 2013.
GUSMÃO, Giovanny Domingues. Títulos de Crédito Típicos e Atípicos. 2013. < disponível em odireitoempresarial.blogspot.com/2013/11/titulos-de-credito-tipicos-e-atipicos.html> Acesso em 04 de junho de 2018.
NETTO, João Maurício de Souza. (Im)Possibilidade de Executar os Títulos de Crédito Inominados (ou atípicos) no Direito Processual Civil Brasileiro. 2017 <disponível em: https://jus.com.br/artigos/56602/im-possibilidade-de-executar-os-titulos-de-credito-inominados-ou-atipicos-no-direito-processual-civil-brasileiro> Acesso em 01 de junho de 2018.
ROSA JR., Luiz Emygdio Franco da. Títulos de Crédito de acordo com o Novo Código Civil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007.
ALBERNAZ, Lister de Freitas. Títulos de crédito eletrônicos. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 10, n. 554, 12 jan. 2005. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/6075>. Acesso em: 7 jun. 2018.
BOITEUX, Fernando Netto. Títulos de Crédito: (em conformidade com o novo Código Civil). São Paulo: Dialética, 2002.
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. In: www.planalto.gov.br.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. In: www.planalto.gov.br.
� Acadêmica do 7º Semestre do Curso de Bacharelado em Direito – UNEMAT, e-mail: renatareribeiro@hotmail.com.

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